piketty_ regular o capitalismo através da fiscalidade

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Piketty: Regular o capitalismo através da fiscalidade? por Tony Andreani [*] e Rémy Herrera [**] Thomas Piketty publicou em 2013, com o êxito que se sabe, um espesso volume intitulado Le Capital au XXI e siècle (Éditions du Seuil, Paris). Um êxito merecido, pois este livre representa um esforço bastante raro entre os economistas para retraçar a história de um certo número de variáveis económicas, tais como a taxa de crescimento da economia (ou seja, do produto interno bruto, ou PIB) e a taxa de rendimento do "capital", assim como a das desigualdades, ao longo de três séculos (tendo mesmo uma retropolação tentada ate o ano zero), sempre estabelecendo comparações entre os principais países ricos do Norte (mas também, com menos dados, entre eles e os países emergentes). Um trabalho impressionante, conduzido com uma preocupação de clareza se de pedagogia que é preciso saudar. Um trabalho indiscutivelmente útil, onde o leitor encontrará uma mina de informações, que por vezes vão contra as ideias recebidas. A título indicativo, aprendese por exemplo que uma taxa de crescimento do PIB de 1%, que parece entretanto bem modesta, não é sustentável a longo prazo, pois corresponderia a uma multiplicação exorbitante deste indicador ao cabo de alguns séculos, o que faz reflectir [1] . Aprendese que os Estados Unidos foram durante muito tempo, e até o fim do século XIX, bem menos desigualitários que os países europeus, e que não queriam

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por Tony Andreani e Rémy Herrera

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  • 15/06/2015 Piketty:Regularocapitalismoatravsdafiscalidade?

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    Piketty:Regularocapitalismoatravsdafiscalidade?

    porTonyAndreani[*]eRmyHerrera[**]

    ThomasPikettypublicouem2013,comoxitoquesesabe,umespessovolumeintituladoLeCapital auXXI esicle (ditions du Seuil, Paris). Um xitomerecido, pois este livrerepresentaumesforobastanteraroentreoseconomistaspararetraarahistriadeumcertonmerodevariveiseconmicas,taiscomoataxadecrescimentodaeconomia(ouseja,doprodutointernobruto,ouPIB)eataxaderendimentodo"capital",assimcomoadasdesigualdades,aolongodetrssculos(tendomesmoumaretropolaotentadaateoanozero),sempreestabelecendocomparaesentreosprincipaispasesricosdoNorte(mas tambm, com menos dados, entre eles e os pases emergentes). Um trabalhoimpressionante, conduzido com uma preocupao de clareza se de pedagogia que precisosaudar.Umtrabalho indiscutivelmentetil,ondeo leitorencontrarumaminadeinformaes,queporvezesvocontraasideiasrecebidas.

    A ttulo indicativo,aprendeseporexemploqueumataxadecrescimentodoPIBde1%,quepareceentretantobemmodesta,nosustentvelalongoprazo,poiscorresponderiaa uma multiplicao exorbitante deste indicador ao cabo de alguns sculos, o que fazreflectir[1].AprendesequeosEstadosUnidosforamdurantemuitotempo,eatofimdosculo XIX, bem menos desigualitrios que os pases europeus, e que no queriam

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    parecersemuitoquantoaistoouqueamobilidadesocialalihojemaisfracadoquenaEuropa. Aprendese ainda que o capitalismo patrimonial nos nossos dias estaria maisdesenvolvido na Frana ou na Alemanha do que nos Estados Unidos. Descobresetambm, ao contrrio do que se teria pensado, que o patrimnio pblico em Frana,apesar da sua importncia aos olhos dos investidores, quase nulo (sendo as dvidaspblicasaproximadamentedomesmomontante),etc.

    Mas o livro no se contenta em compilar sries de dados estatsticos. Ele define umaproblemtica,enunciaumatesecentral,confrontaacomosfactos,expeumatendnciaparao sculoXXI e procura solues. Segundo o autor, sem uma regulao (fiscal), o"capitalismo" se ele no conduzir ao apocalipse, como se supe que Marx tenhapensado tornase entretanto incompatvel com a democracia, pois esta ltima antinmicacomaplutocraciaenopoderepousarsenosobreameritocracia.Antesdeentrarnopormenor,precisocomearporexporatesecentraldolivro.

    AcontradiofundamentaldocapitalismosegundoPiketty

    Podese muito brevemente resumir a tese de Piketty, feita reiteradamente na obra, daseguinte maneira: se o rendimento do capital superior taxa de crescimento daeconomia, este capital faz bola de neve, pois "os patrimnios vindos do passadorecapitalizamsemaisrapidamentequeoritmodaproduoedossalrios(...).Opassadodevoraofuturo"[2].

    Seriaprecisoprecisarpartidaque,paraoautor,ocapitalassimiladoquiloqueseriapreciso denominar os "bens de capital", englobando de facto tudo aquilo que produzdinheiro,portantonoapenasocapitaldedicadoproduomastambmoimobiliriodehabitao(quedeumvolumeaproximadamente igualaocapitalprodutivo),a terra,asobrasdearte,etc.Emconsequncia,o"rendimentodocapital"consideradonoselimitaunicamenteaolucrodaempresa.Retornaremosaestepontomaisadiante.Portanto,porescolha deliberada, Piketty retoma a noo de capital que se encontra na linguagemcorrente,mas ainda e sobretudo a concepo adoptada pelos economistas da correntedominante neoclssica de um capital visto como um activo qualquer, o qual seriaremuneradopelasuaprodutividademarginal(opreodaltimaunidadetildeumbem).O capital portanto o patrimnio.Quanto taxa de crescimento da economia, Pikettydecompenalogicamenteemcrescimentodapopulaoecrescimentodaproduopercapita,o que mais pertinente do que simplesmente o crescimento, pois isso leva emcontaaevoluodapopulaoofactordemogrficosendodemasiadofrequentementenegligenciado, quando as evolues das suas estruturas, bastante previsveis, tmconsequncias cruciais sobre a economia [3] . Verificarse assim que a taxa decrescimentodaeconomiaestadounidensenomaiselevadadoqueadamaiorpartedospaseseuropeussenoporqueademografiaalirelativamentemaisdinmica.

    Retornemos aqui "lei fundamental" do capitalismo, para acrescentar uma preciso: ovalordopatrimnio (em relaoao rendimentonacional) tantomaiselevadoquantoataxa de poupana for importante e a taxa de crescimento do PIB for fraca. E vejamoscomoesta"lei"declinaria.Seataxaderendimentodocapitalfosseinferioraocrescimentoda economia (por exemplo, um rendimento de 1% para um crescimento de 2%), isso"matariaomotordaacumulao"[4],poisoscapitalistasveriamseu lucrodiminuirsemcessarenoinvestiriammaisosuficiente.Seataxaderendimentodocapitalfosseigualtaxa de crescimento da economia, estes capitalistas deveriam investir todos os seusrendimentos(oquecorresponderiaaumapoupanade100%,reinvestidana totalidade)

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    paraqueoseucapitalprogridaaomesmoritmodaeconomiae,portanto,nadaconsumirafim de manter a sua posio social. Isto poderia acontecer se o capital j acumuladorepresentasseumamassa to considervel (2030anosde rendimentonacional) que jnoproporcionariagrandecoisa[5].Masoquequeimpediriaocapitaldeproporcionar2%aoinvsde5%?Serqueseriaofactodequeaprodutividademarginaldesteltimodiminuiriadevidosuasuperabundncia,comosustentaPiketty,ouantesofactodequeapartedotrabalhonocessariadesereduzir?Voltaremosaoassunto.

    AconclusodePikettyquea taxade rendimentodocapitaldevemanterseacimadataxadecrescimentodaeconomiaparaqueoscapitalistascontinuemainvestirsemcessardeconsumir.Haveriaportantoumvolumeptimodocapitalacumulado,talqueataxaderendimentofossesuficienteparafavorecerocrescimento?OproblemafundamentalparaPiketty parece sobretudo que reduzir a concentrao deste capital dispersandoo porumatributaoprogressivasobreorendimentoqueeleproporcionaeumimpostosobreafortuna, ampliando assim o campo dos investidores privados [6] , bem mais eficazsegundoeledoqueumpoderpblicoque teria,comonosistemasovitico,destrudooessencialdospatrimniosprivados.Estastributaesdeveriamtornardemasiadofracoorendimentodocapitalaps imposto,poisdesencorajariaos investidores. Istooquesechamaria"regularocapitalismo".

    Ora,deveseperguntaragoraseatesedePikettypermitedarcontadosmovimentosdocapital (sua taxa de rendimento e seu ritmo de acumulao em relao taxa decrescimento)eseassimserpossvelregularpostfestumocapitalismo.

    Ocapitalismoeasuahistria,segundoPiketty

    Pikettynospreveniulogonaintroduo:"Nomeinteressadenunciarasdesigualdadesouo capitalismo enquanto tal (...). O queme interessa tentar contribuir, modestamente,para determinar osmodos de organizao social, as instituies e as polticas pblicasmaisapropriadasquepermitamporemprtica realmenteeeficazmenteumasociedadejusta[7]".Masdequalcapitalismosetrata?Notamoscomefeitoqueadefiniodadadocapitalcomo"sinnimodepatrimnio"podeaplicarseano importaquesistemasocialpatrimonial,quersociedadedoAncienRgimeesuadetenoprivativadaterraentreasmosdaaristocraciaedaIgrejaqueraoutrasformasprivadasdepossedosmeiosdeproduo.Aregulao(peloimposto)valeriaomesmoparanoimportaqualsistemadepropriedadeprivada,oumesmopblica.Ditoisto,foiocapitalismoqueapartirdofimdosculoXIXdesenvolveuporsimesmoestaregulao.

    Mas o capitalismo experimentou uma segunda regulao poltica, que vai igualmenteactuarsobreaacumulaodoscapitais.Esta,comoseviu,um fenmeno "mecnico"implicando uma desigualdade crescente. Isto o efeito da divergncia entre a taxa derendimentodocapitaleataxadecrescimentodaeconomia.Elaaindaseriamaisforte,dizPiketty, se no existisse uma "fora de convergncia", a saber, a difuso dosconhecimentoseaelevaodasqualificaes,queactuamemfavordossalrios.aquiqueintervmaregulaopeloEstadosocial,poiselequeparaPikettyasseguramelhora promoo da educao. Entretanto esta fora de convergncia no suficiente paracompensar a dinmica dos patrimnios, reforada pela herana, ao contrrio do queacreditaram certos historiadoresmuito optimistas da economia, como Kuznets. A duplaregulao poltica, ao mesmo tempo fiscal e social, apenas moderou o ritmo daacumulaoeoagravamentodasdesigualdades.

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    Contudo, isto no explica a queda da riqueza patrimonial aps 1920 (poca em querepresentava seis a sete vezes o rendimento nacional). Foram grandes acidenteshistricosque,segundooautor,enfraqueceramaestepontoofenmenodaacumulao:asguerrasmundiais,as revolueseadescolonizaodestruramgrandesquantidadesde capitais, a poupana privada foi drenada pelos Estados em guerra e corroda pelainflao, finalmenteo "novocontextopolticodepropriedadeprivadae reguladadopsguerra" fezcairopreodosactivos [8] .Omovimentoa seguir retomouo seu curso, ariquezapatrimonialcrescendooutravezapartirde1950paraatingirhojeoscincoaseisanosderendimentonacional.

    Comosev,oautorevitasubestimarosfactoresinstitucionaisepolticos(elesereclamade uma economia poltica, contra o economismo dos economistas),mas estes factoresacabam de alguma maneira por modificar o mecanismo da acumulao. Ora, estemesmo mecanismo que preciso interrogar. O que que faz com que o capital seacumule,queapresenteumrendimentogeralmentesuperiortaxadecrescimentoecorteparasiafatiadoleonovaloracrescentado?Noraciocinandoapartirdaprodutividademarginaldosfactoresquesepodecompreenderisto,poisestaprodutividade,sebemqueseja calculvel, no independente do modo de propriedade destes factores e dacorrelaodeforaquedelaresulta(AdamSmith josabia).forosoaquireconhecerqueaanlisemarxistatemumpoderexplicativobemmaiorequeelaesclarecemelhorahistriacontemporneadocapitalismo.Eeisaquiporque.

    Oqueentoocapitaleasuadinmica?

    SePikettytivesselidoatentamenteOCapitaldeMarx(masserqueleu?),estanolheteria feitodizerqueocapitalpode "acumularsesem limites" [9] .Bempelocontrrio,ocapital v a sua taxa de lucro diminuir exactamente quando se acumula e isso trava aprpriaacumulao.a famosa leimarxianadabaixa tendencial da taxade lucro,quePiketty no ignora, mas que segundo ele repousaria sobre um erro: a taxa de lucrobaixariaefectivamenteseocapitalnofizessesenoaumentaremvolume,quando"ocrescimento permanente da produtividade e da populao que permite equilibrar oacrscimopermanentedenovasunidadesdecapital(...)Naausnciadistoocapitalistascavam efectivamente a sua prpria sepultura" [10] . Ora, no s Marx no ignora ocrescimentodaprodutividade como ainda sobre ela que fundamente grande parte dasuaanlise.Antesdeexplicar,convmnoentantorecuaraoprprioconceitodecapital.

    Sesequisercompreenderemprofundidadeadinmicadaeconomiacapitalistapreciso,seguindoMarx,pensarocapitalnocomoumamassadebensmassimcomotudooquepeotrabalhoemmovimento,tantonaindstriacomonosoutrossectores,equeproduziassimumariquezanova,umvaloracrescentado.Oinquilinodeumapartamentonocriavalor de uso novo nem portanto nenhum valor, ele no faz seno consumir um bem,pagandoumpreopelousodestebem.Oproprietriodeumaterranopodevalorizlasenoseatrabalhar,ouseeleutilizarumrendeiroparalheextorquirumarendaoupagarumsalrioaumoperrioagrcolaparacultivla(elesetornaentoumcapitalistaagrrio).Odetentordodinheironopodedeletirarumrendimentosenoseoemprestar (crditoouobrigao)aumempreendedorouopuserdisposiodesteltimo (subscriodeumaaco).Oproprietriodeumaobradeartenoamodificaporumtrabalhoqualquer,eleapenasaconsomeduranteoseuusoourevendeaemfunonomeadamentedasuararidade, sobre a qual pode especular. Portanto, todos estes bens no so capitaisprodutivos e, se proporcionam dinheiro, porque o valor foi produzido alhures, estasrendasnocorrespondemseno redistribuiodemaisvalias realizadasnaproduo

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    [11].Estaredistribuioocultada,poisaperequaodoslucrosentreosectorprodutivoeosdiversossectoresnoprodutivos,atravsdomovimentodomercadodecapitais,fazbaixarolucropurodaempresa.Emconsequncia,adinmicadocapitalismosituasenoprocessoprodutivo(debenseservios)esomentea.

    Ora,precisamenteporqueoprogressotcnicoaumentaaprodutividadedotrabalhonosentidoestrito(ouseja,paraumamesmaduraoeumamesmaintensidadedotrabalho)queocapitalvlogicamenteseulucrodiminuirnoporqueeleempreguemaismquinase um nmero de trabalhadores suplementares, mas porque ele diminui o trabalhonecessrioproduo(emtermosmarxianos,ocapitalconstanteaumentarelativamenteaocapitalvarivel)e,emconsequncia,elediminuionovovalorproduzidoeportantoseo salrio permanece constante a parte do lucro. Alm disso, a concorrncia entre oscapitalistas acelera esta substituio do trabalho pelo capital. Portanto a grande lei daacumulaocapitalistanosignificademodoalgumqueo capital tenderiaa cresceraoinfinito, como pretende a interpretao pikettyana de Marx, mas que este capital seconcentraentremosque so cadavezmenosnumerosas.Seelepareceacumularseglobalmente, isto acontece porque ele se apodera de novos sectores substituindo atoutrosmodosdeproduo(nomeadamentenaagriculturacamponesaenoartesanato)ouporqueexploranovossectoresateentoignorados.

    Tal , mais exactamente, segundo Marx, o "mecanismo" fundamental da economiapropriamentecapitalista.Estemecanismoestduplamenteocultado.Porumlado,porqueo capital, como "por mgica", parece engendrar por si mesmo seu rendimento (o quesustenta a economia neoclssica sem chegar a demonstrlo, nem mesmo a medir ocapital),quandodotrabalhoqueretirasuaenergia.Poroutrolado,porqueoexcedente(queMarxchamamaisvalia) redistribudopelomercadoentre todososbenscapitais,quersejamounoprodutivosderiquezareal.porqueeleestocultoqueMarxopesuaeconomia"esotrica"economia"exotrica",ouvulgar.

    Masestemecanismo, quedeveria conduzir baixa tendencial da taxade lucro,parecenoseverificarnaprtica,umavezqueataxaderendimentodocapital,parafalarcomoPiketty (e ignorandoaquiaconfusoqueele introduzentrecapitalebensdecapitaloupatrimnio)nodiminuiria,segundoele,nolongoprazo.aqueprecisoreencontraroconjuntodaanlisemarxiana,quenoselimitaaestemecanismo,oqualfunciona"como"umaleidanatureza.EvaiseverqueelapermiteexplicarbemmelhordoqueofazPikettya histria contempornea do capitalismo: a grande turbulncia (trou d'air) do capitalduranteamaiorpartedosculoXXeseuretornoemforoapartirdosanos1980.

    Compreenderoretornoemforadocapital

    O crescimento sempre foi fraco, diz Piketty apoiandose nos dados recolhidos, "fora deperodosexcepcionaisedefenmenosderecuperao(rattrapage)"[12].ApsosTrinta[anos]Gloriosos,ela reencontrouseu ritmonormal.Ora,poucoconvicentequeos5%desteperodoseexpliquemunicamentepelareconstruodopsguerraepelofactodeos pases europeus alcanarem os Estados Unidos. tambm um perodo em que ademografia dinmicaeemquea relaode fora favorvel ao trabalhopor razesligadasconjunturahistricaoquePiketty topouconega.Oquesepassaquantotaxa de rendimento do capital, que no se pode confundir com a taxa de lucro nossectores produtivos,mas que pode fornecer uma aproximao da sua evoluo? Ela elevada, emFrana e naGrBretanha (os dois casos pormenorizados no estudo), poralturasde1950, antesdedeclinar fortemente, depois tornar a subir poucoaps1980e

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    recairvinteanosmaistarde[13].Mas,comoocrescimentoenfraqueceu,ospatrimniosdesvaneceramsedenovoapesardesterendimentomdio.Oquesepassou?

    A taxadecrescimentoelevadaduranteosTrintaGloriososporqueaprodutividadedocapitalelevada:elapeemmovimentomuitocapital.Aanlisemarxistadesejariaaquiqueataxadelucrodiminusse,exactamenteporqueaprodutividadedotrabalhoforte:precisomenos trabalho para por emmovimento amesmaquantidade de capital, o quediminuiria a fonte damaisvalia.Como ento expliqar que a taxa de lucro seja elevadaduranteesteperodo,oqueparece invalidara leidabaixa tendencialda taxade lucro?Aquiintervm"acausaquecontrariaa lei" invocadaporMarx:ocapital tendeadiminuirem valor, no s porque ele experimenta um desgaste material e uma obsolescncia(rpidaseoprogressotcnicoseacelera),mastambmporqueaprodutividadeelevada,nomeadamente no sector de bens de equipamento, reduz a quantidade de capitalnecessrioproduo.aistoqueMarxdenomina"economiasdecapitalconstante".Aisto preciso acrescentar a forte intensidade do trabalho ligada ao taylorismo e aofordismoque,contrariamenteprodutividade,aumentaaquantidadedetrabalhoutilizadoeconsequentementeolucroseosalrionoacompanhar.

    Porqueataxadecrescimentodoprodutoeataxadelucrocaemapartirdemeadosdadcadade1970?Porcausadedoismovimentosdefundo.Oprimeiro,hojeemdiaestdemasiado esquecido, a crise domodelo tayloristafordiano: os trabalhadores suportamcadavezpiorotrabalhocomandadoeemmigalhaseestomenosmotivadospelabuscade uma melhoria de um nvel de vida que se elevou, da uma diminuio da suaprodutividade, que a "administrao participativa" tentar sem grande xito fazer subiroutravez.Osegundomovimentoqueoprogressotcnicoseenfraqueceu.Desdeento,a parte do trabalho no valor acrescentado diminui ao mesmo tempo que a suaprodutividade, se bem que a fonte do lucro se reduza. A "causa que contraria a lei" (aeconomiadecapital)noagemaiscomamesmaintensidade.

    Comoquea taxade lucro subiu fortementeapartir doprimeiro terodosanos1980,antes de descer ligeiramente e ento estabilizarse? Aqui, mais uma vez, uma anlisemarxistaparecepertinenteeelano temnadade"mecnico".muitoconscientementequeoscapitalistasiniciamumasriedepolticasparaaumentaraquantidadedetrabalhofornecido:aduraodo trabalhorecomeaaaumentar,assimcomosua intensidade, talcomo o demonstram muitos indicadores. Eles tambm realizam fortes economias decapital atravs dos mtodos do fluxo tenso (do tipo Kanban) e da qualidade total.Procuram combater a resistncia passiva dos trabalhadores pela "administraoparticipativa".Mastudo issonofuncionasenoquandoossalriossocontidos jaausteridade salarial. E os capitalistas a chegam tanto mais facilmente porque odesempregoestruturalelevado(aindauma"causa"invocadaporMarxparacontrariarabaixadataxadelucro:a"superpopulaorelativa",quepesasobreossalriosdaquelesque tm um emprego). Para impor esta austeridade salarial eles tm necessidade daajuda do Estado. Pemse ento em prtica as polticas neoliberais: flexibilizao domercado de trabalho contra as diversas regulamentaes existentes, percebidas comorigidezesaeliminar,diminuiodo"custodo trabalho"reduzindoos"encargossalariais",inclusive as contribuies sociais que so de facto salrio indirecto (reembolso dasdespesasdodoena, transfernciadesubsdiosdedesemprego...) oudiferido (pensesdereforma)[14].

    So estas polticas que prosseguem hoje, mesmo com um vigor acrescido. Pois amundializao pesou sobre os lucros das empresas, de modo que foi preciso agravar

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    novamenteapressosobreossalriospordeslocalizaese/ouaameaaeasefectuar.Alm disso, tambm, a hipertrofia do sector financeiro, impulsionada pela ascenso dosistema de crdito [15] e pela superacumulao de capital fictcio [16] , amputou aeconomiarealdeumapartedosseuslucros.

    Aanlisemarxista fornece,vseatravsdestebreveresumo,umaexplicaomais finadosmovimentosdocrescimentoedorendimentodocapital.Elareintroduzdirectamentealutadasclassesnestesmovimentos,namedidaemqueaspolticasadministrativassotudosalvofenmenos"mecnicos".Elaareintroduztambmindirectamente,poisaclassedominantetevedeinvestirnoEstadoparaenfraquecerasinstituiesdoEstadosocialeosmeiosderesistnciadosassalariados.

    Estaofensivaneoliberalnoestprestesainterromperse,poisamundializaonoestcontrolada (em particular numa Unio Europeia aberta a todos os ventos) e o sectorfinanceiropermanecemuitopoucoregulado.Masaindahoutrasrazes.Aprodutividadedo trabalho permanece mais fraca que na poca dos Trinta Gloriosos, o que trava ocrescimento e que faz com que o capital se acumule sem retornar o equivalente.Numerosos economistas interrogamse sobre o mistrio desta baixa da produtividade,conscientesdequearevoluodasnovastecnologiasda informaoedacomunicao(NTIC)noteverepercussestobenficaemtermosdecrescimentodoPIBquantoasrevolues tecnolgicas anteriores. Mesmo se se admitir que estas novas tecnologiasexigiromuitotempoparaproduzirseusefeitosfavorveis,provvelque,nosprximosanos, elas no aumentaro enormemente a produtividade do trabalho. Finalmente, oprprio modo de crescimento que est em crise, devido multiplicidade das suasexternalidadesnegativas.Eareconversodomododecrescimento,sebemqueexistamvontade polticos para bem conduzila, exigir montantes certamente considerveis decapital,oquetenderaorientarataxadelucroparaabaixaeimplicarporissopolticascadavezmaisagressivascontraotrabalho.

    Adificuldadeeoslimitesdeumarevoluofiscal

    OxitodolivrodePikettytemaver,nomeadamente,comaimplacvelcolocaoluzdodia da ascenso das desigualdades. Ela no tem como surpreender o economistamarxista:a tendncia longadocapitalismoMarxmostrouodeummodoqueningummaispodenegar,porum lado,acentralizaodocapital (emdetrimentodosoutrossistemasdeproduo)e,pelooutro,suaconcentrao(numnmerodemoscadavezmais reduzido). Certamente sociedades pr capitalistas tambm conheceramdesigualdades impressionantes,mascommeiosdecoeroqueerammuitomaisextraeconmicos (polticos). Alm disso, parece que as desigualdades de hoje so, emproporo, mais elevadas que naBelle poque,mas o nvel atingido actualmente porestas desigualdades sem precedente, porque doravante estendemse escalaplanetria.Assim,4,5milhesdepessoaspossuemcercade20%dopatrimniomundial.Maisespectacularainda:afortunados85miliardriosmaisricosdogloboigualqueladametadedahumanidadeoscercade3,5milmilhesdepessoasmaispobres.

    Remediar isso pela fiscalidade entretanto um caminho extremamente difcil, dada aconcorrnciafiscalquereinaentreosdiferentespases,nomeadamentecomepelovisdos parasos fiscais. A OCDE est consciente e insta seus membros a poremse deacordoparapraticarointercmbioautomticodeinformaessobreascontasfinanceirasdosindivduosparaactuarcontraaevasofiscal.Supondoquesecheguel,pordiversosmeios de retorso, para por na ordem os pases recalcitrantes, isso no impediria os

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    Estados de jogarem o dumping fiscal e as firmas multinacionais de praticarem aoptimizaofiscal,oquepermitiriaassimaosmaisafortunadoscontinuaremaenriquecerse, com toda a legalidade. Emesmo se a prpria optimizao fiscal fosse anulada, ospasescomfiscalidademaisbaixacontinuariamaenriquecerseusprpriosproprietrios.

    Tudo isto bemsabidoporPiketty, pois desejaria queo imposto sobrea fortuna fossemundialmaseledevelimitarsesuageneralizaoescalaregionale,nomeadamente,aonveleuropeu.Comoestaconcorrnciafiscalestinscritanostratadoseuropeus,seriaprecisoentorevloseobtersobreaquestooacordodos28pasesquecompemaUnio.Seriapossvelharmonizarafiscalidadesobreocapital(sobreseusrendimentosesobreopatrimnio)aomenosaonveldazonaeuro?Seriaprecisopreviamentequeosgovernos desta zona se pusessem de acordo. A menos que fosse institudo umParlamentodazonaeuro,ondeumamaioriadedeputadosadoptariaestaharmonizao,oqueapropostadePiketty.Istoseriaumapequena"revoluo",masquenoporiafimaodumping fiscal praticado pelos pases fora da zona euro e no resto domundo.O nicomeio de o combater seria retornar a uma espcie de proteccionismo, tarifando asimportaesde taisconcorrentes.Mas istoemsimesmoseriaumdos fundamentosdaactualUnioEuropeiaqueseriaabalado...

    sobretudoafiscalidadedosaltosrendimentosedopatrimnioquesedeparariacomaresistncia feroz dos seus detentores, considerando que fortes desigualdades sopropcias ao desenvolvimento e que no se poderia tocar na felicidade daqueles asdesfrutam [17] . Os mais altos dirigentes de firmas transnacionais persuademse eprocuram fazer acreditar que eles merecem seus altos salrios e sua fortuna pelaexcepcionalidadedosseustalentos,quefariamdelesosverdadeiroscriadoresderiqueza.Esta pretenso no s inverificvel (seria impossvel, reconhece o prprio Piketty,determinar sua "produtividade marginal" porque eles esto no seio das empresas emsituaes de excepo) como tambm infundada. Na realidade, o nico mrito que sepode atribuir a estes empresrios que to bem "venceram" terem tomadoresponsabilidadesgestionrias,emgeralcomdinheiroemprestado,eteremtidoodevidofaro,teremtalvezdescobertooportunidadesdemercadoumpoucoantesdosoutros.Poisos verdadeiros inovadores permanecem muito frequentemente na sombra. No foi BillGates que descobriu a informtica. Mas ser bem difcil fazer com que os muito ricosadmitamquenosogeniaisemesmoaosmenosricosquenomereceminteiramentesuas remuneraes.O imposto sobre os rendimentos, que subiu a nveis confiscatriossob a presidncia de F.D. Roosevelt (numa situao excepcional de crise gravssima,depoisdeguerramundial) teriaestavantagem.AsseguraPikettyqueeledesencorajariaosaltosdirigentesdesefazerconcedersalriosexorbitantes,umavezqueestesltimosseriam fortementepodados.Podeseduvidar: paraeles tambmquestodeprestgio.Quanto aos detentores de capitais (os investidores), eles podem sempre se gabar deterem feito as boas aplicaes, mas o mrito cabe mais frequentemente a agentesespecializados que eles pagam (abundantemente) para isto. Eles no se cremmenoslegtimos para receberem suas rendas. Uma outra medida permitindo reduzir asdesigualdades de fortuna seria tributar pesadamente a herana, o que limitaria aconcentraodospatrimnios.Elasedeparacontudocomresistnciasaindamaisfortesqueoimpostosobreorendimento,poistemavercomodesejodeseperpetuaratravsdosseusfilhos[18].

    Na realidade, o nico modo verdadeiramente eficaz de reduzir significativamente asdesigualdades agir sobre a repartio primria (antes de impostos) dos rendimentos.Diminuir os ganhos em salrios e outros benefcios (stock options, retraites chapeau ,

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    prmioschegada,etc)muitoprovavelmentenoquebrariaamotivaodosverdadeirosempreendedores,poisoqueosmoveemprimeirolugarogostodaacoedopoder.Aisso preciso acrescentar que no existe um verdadeiro "mercado" de dirigentes deempresas (tratase antes de um sistema de cooptaes), o qual faria carem suasremuneraes(Marxpensavaqueelesnestecasoseriampagospelovalordasuaforade trabalho). Mas fixar tectos para as remuneraes, como se pde fazer para osdirigentesdeempresaspblicas,ouinstituirumagrelhasalarial,comoocasonafunopblica,ouqualqueroutromtodo,soimpossveisemeconomiademercadocapitalistaondedominaapropriedadeprivada.Damesmaforma,poderse"regular"afinanatantoquanto se queira, mas no seria possvel, em economia "liberal", limitar antes dosimpostos os rendimentos dos investidores (dividendos, juros,maisvalias, ...). Para issoseriaprecisodefactomudardesistemaeconmico.

    Pikettynofazsenoumaalusomuitorpidanofimdasuaobra,quandofalaem"novasformasdepropriedadepartilhada, intermediria entre propriedadepblica e propriedadeprivada,queumadasgrandesapostasdofuturo"[19].Issopodesignificarumbocadode coisas: propriedade dos accionistas com poderes concedidos aos outros "stakeholders",novasformasdepropriedadepblica,cooperativas,etc.Eistoexactamenteofundodoproblema.

    Ademocracianoameritocracia

    EistonosconduzquestodademocraciaAmeritocracia[20]noseriasenoumanovaformadearistocracia,aopassoqueoidealdademocracia,seupontoomega,opoderdetodosos cidados, queno consiste s em se fazerem representar e dirigir pelosmaiscapazes,oupresumidoscomotais.

    Primeiroseriaprecisoqueestesltimospudessememergirfacilmentedopovo.Ora,comosesabe,estaselites tendema transmitirentresiasuaheranaculturale relacional,ouseja,a"reproduzirse".Sebemquea igualdadedasoportunidades,mesmonummundoem que a herana material tenha desaparecido ou tenha sido reduzida a pouca coisaatravsdepesadosdireitosdesucesso,impossvelderealizareistosejamquaisforemosesforosdaescola"republicana".Aqui,nosepodeesquecertopoucoaendogamiasocial.Tudoistofazcomqueas"elitescompetentes"tendamaviveremcrculofechadoea desligarse das preocupaes e das necessidades do povo. Notase muitoespecialmente nos pases do Norte, onde as elites mundializadas vivem nas grandesmetrpoles, com um squito de trabalhadores dos servios e de serviais da casa,perderamocontactocomosoperrios,osempregados,oscultivadoresemesmocomospequenos empresrios relegados periferia, a das pequenas e mdias cidades e dealdeiasdocampo[21].Seaselitesnodevessemmaisseuestatuto importnciadassuas riquezas financeiras, isso no alteraria profundamente esta fractura social. Se osquadrosno fossemmaisestes superquadrosda sociedadeactual deque falaPiketty,eles no permaneceriam menos ciumentos dos seus interesses e centrados sobre simesmos.

    Alm disso, no basta poder eleger regularmente, nem mesmo poder revogar, "bonsrepresentantes", que se tornariam, por intermdio do funcionamento dos partidos,profissionais dapoltica.Seria preciso aindaqueos eleitores tenhameles prprios umabagagem suficiente para indiclos com conhecimento de causa e para julgaradequadamenteassuasaces.Estedeveriaseropapeldaescolaedosmedia.Masodesenvolvimentodademocraciaeconmicaquemaispoderosamenteajudarianisto.

  • 15/06/2015 Piketty:Regularocapitalismoatravsdafiscalidade?

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    Finalmente,restaquecabeacadaumapreciarosefeitosdasescolhaspolticassobreasua vida concreta. Onde se reencontra ainda a questo da democracia directa. No evidentequetirarresponsveissorte,talcomoerapraticadopelosgregosantigos,sejaasoluo,devidobagagemdecompetnciastcnicasquenecessria.Emcontrapartida,os procedimentos referendrios, sob certas condies, e sobre os assuntos maisimportantesparaodevircolectivodoscidados,mostramsecertamentenecessrios.E,noquotidiano,osdademocraciaparticipativasoomeioparaqueoscidadospossamsempre ter a sua palavra a dizer. Estamos portanto bem longe da democraciameritocrtica.

    A obra de Piketty, que doravante ser tornar referncia pela riqueza dos seus dados,confirmanosoquejsesabia,massemtantapreciso,asaber,queocapitalismoproduzdesigualdadescumulativasequeelas acabampor ser completamente antinmicas comumfuncionamentorealdademocracia.Seuvalorempricoparecenosincontestvel,tantoqueera impossveldarcontademododesenvolvidoaqui.Masoseuvalorexplicativomuitolimitado.

    Umaquestosaberquala interacoentrea taxadecrescimentodaeconomiaeataxa de rendimento do capital. A taxa de crescimento depende do crescimento dapopulaoedaprodutividadedo trabalho.Ora,porum ladoaprodutividadedo trabalhonoactuasobreocrescimentosenonosectorprodutivo,naeconomiareal.E,pelooutrolado,aelevaodaprodutividadetendeafazerbaixarorendimentodocapital: foioquequisemos recordar seguindo Marx. Ser preciso ento, para elevla, no s fazereconomiasdecapitalmasainda,paraoscapitalistas,graasaopoderquelhesconfereapropriedade,conduziracesresolutasparaaomesmotempoaumentaraquantidadedetrabalho fornecida e travar os salrios. Piketty queria fazer uma economiapoltica,massuaeconomianofundopermanecemuitopoucopoltica,numsentidoamplodotermo.

    Umaoutraquestosaberoquequeligaataxadepoupanataxaderendimentodocapital,semsecontentaremdizerqueoprimeirodeterminaosegundo.Ora,obomnvelderendimentodocapitalaquelequefavoreceoinvestimento,masporumladoosricosconsomemumaboapartedosseus rendimentosemdespesassumpturiasao invsdeinvestir.E,poroutro lado,aomesmo tempo,elespoupammuitomaisqueosoutros,asclassesmdiasesobretudoasclassespopulares,oqueenfraqueceoconsumoeportantoocrescimento.Aindaaqui,aeconomiadePikettymuitopoucopoltica.Umasociedademuitodesigualitrianofavorvelaocrescimento(bomoumau,issooutraquesto).

    Asvariaesdataxadecrescimentodaeconomiadependemdefactores tecnolgicosede acontecimentos polticos, certamente, mas tambm da natureza do prprio sistemapoltico.OfortecrescimentodosTrintaGloriososnoest ligadoapenasaumprocessoderecuperao (rattrapage),mas tambmaumapolticaestatal voluntarista, tantomaiseficazquantooEstadotivernassuasmosalavancasdecomando.Podesesemdvidadizer a mesma coisa da China de hoje: se a sua taxa de crescimento e to elevada,superior quelas dos outros pases emergentes, e mais que a dos pases do Norte, porque o Estado quer isso com fora. Tambm aqui, decididamente, a economia dePiketty demasiadamente pouco poltica. Desde logo, a poltica fiscal preconizada porestenosarriscaseadepararse combloqueiospolticos comoaindadeixa intactaabasedeumsistema (osistemacapitalista)queproduz,atravsdopoderdedominaoconferidopelapropriedadeprivadadocapital,desigualdadesquetolhemconstantementeo crescimento (e o valor acrescentado a partilhar), que produz mesmo crescimento

  • 15/06/2015 Piketty:Regularocapitalismoatravsdafiscalidade?

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    negativo (se se deduz todos os custos das destruies sociais e ambientais) e que,finalmente,distorceademocraciaaoserviodospoderosos.

    Notas[1]Eisoquepoderiaconfortarospartidriosdatesedodecrescimento.Mastambmsetemodireitodepensarque,nasprximasdcadas,ocrescimento(noimportaqual,naturalmente)desejvelpararetiraramaiorpartedahumanidadedamisria,oquepossvelseforverdadeiroqueademografiamundialestemviasdeseestabilizar.[2]PikettyT.,LeCapitalauXXIesicle,ditionsduSeuil,p.942.[3]Cf.ibidem,p.127.[4]Ibidem,p.943.[5]Ibidem,p.925.[6]HouvenosculoXXumacertadisperso,comaconstituiodeumaclassemdiapatrimonial.Mas"elanoarrancousenoalgumasmigalhas:poucomaisdeumterodopatrimnionaEuropaeapenasumquartonosEstadosUnidos"(ibidem,p.411).[7]Ibidem,p.62.[8]Ibidem,p.233.[9]Ibidem,p.27.[10]Ibidem,p.362.[11]UmargumentobastantesemelhantefoidesenvolvidoporDavidHarveyemAfterthoughtsonPiketty'sCapital(ver:davidharvey.org),masdemaneiracircunstancial:"Odinheiro,aterra,oimobilirio,oslocaiseequipamentosquenosoutilizadosprodutivamentenosocapital.Seataxaderendimentodocapitalquefoipraticadaelevada,porqueumapartedocapitalretirousedacirculaoeseencontraafazergreve.Restringiraofertadecapitalparainvestimentosnovos(umfenmenosqueseobservaactualmente)asseguraumaltonvelderendimentosobreestecapitalqueestemcirculao".Haveriaaa"criaodeumararidadeartificial",quesubiriaataxadelucro,talcooofariaocapitalistaeconomizandocapitalconstante.Masoprocessofundamentalaquiodeslocamentodecapitaisparaosectorimprodutivo,quesimplesmenteobradomercadodebenscapitais.[12]Ibidem,p.125.[13]Ibidem,p.318.[14]Cf.oblogdeT.Andreani:"Uneexplicationmarxiste.Quelqueslmentsd'interprtationdelacrisedesconomiescapitalistesdveloppes"(1999).[15]Umahipertrofiaqueseexplicaempartepelabaixadaprocuradasclassespopularesaseguirdeflaosalarial,baixaquenopdesercontidasenoporumaexpansosempeiasdocrdito.[16]Ver:Herrera,R.(2015),LaMaladiedgnrativedel'conomie:le'noclassicisme',ditionsDelga,Paris.[17]surpreendentequePikettynofaarefernciaaumaobraimportante,apoiadasobreestatsticasslidas:Pourquoil'galitestmeilleurepourtous,deRichardWilkinsoneKatePicket(ditionsLesPetitsMatins,2013).Paratodosportanto,inclusiveparaosmaisricos,nomeadamenteemtermosdesadefsicaemental...[18]Estaoposioredistribuiofiscalatenuadanassociedadesigualitrias,comonaEscandinvia,eparticularmentenaDinamarcaondefortestaxastributriassoaceitescomocontrapartidadeummodelosocialmuitoprotector,tantomaisqueadeduo(prlvement)verificasenafonte.[19]Piketty,op.cit.p.945.[20]Etimologicamente:ogovernopelosmelhores.Ameritocraciacomoprincpiodejustiasocialcontestvel:almdeserimpossvelverificarapartedotalentoinvoluntrioeadoesforo,elarepousasobreacompetioentreosindivduosondeoxitodeunstambmofracassodosoutros.Masaquioproblemacolocadopoltico:serpreciso,paraasseguraraeficciadaacopblica,confilaaoscompetentes?[21]Cf.onotvelestudodeChristopheGuilluy,LaFrancepriphrique,Commentonasacrifilesclassespopulaires,ditionsFlammarion.2014.

    Vertambm:OcombateortodoxiaeoataquedesigualdadedoProf.Piketty,Charles

    AndrewsOCapitalnoSculoXXI,MichelGruselle

    [*]ProfessoremritodecinciaspolticasdaUniversidadedeParisVIII.[**]InvestigadordoCNRSemeconomia,Centred'conomiedelaSorbonne.

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