piorou tudo para mim

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Piorou tudo para mim, a minha vida que eu tinha era no Recreio, igreja, trabalho, tudo. Depois que mudei fique sem igreja, o trânsito piorou, meus vizinhos todos foram morar longe. Aqueles vizinhos de porta não tem mais" Maria da Conceição Apolinário da Silva, que teve o imóvel derrubado na Vila Recreio II /Massacrar uma comunidade por conta de uns jogos de 27 dias eu acho uma injustiça muito grande. O desejo deles é de remover e o nosso desejo é de ficar" Altair Antunes Guimarães, presidente da associação de moradores da Vila Autódromo /Há gente que acha que jogos olímpicos e a Copa são só para rico e pobres não vão ganhar nada. Nós achamos que Copa e Olimpíadas são oportunidade para a cidade se transformar para melhor" SMH Michel Souza dos Santos perdeu sua casa e sua oficina em 2010 e até hoje não recebeu nenhum tipo de reparação da Prefeitura do Rio./“Tive que pegar empréstimo no banco e pagar o banco, porque pelo governo não veio nada. Além de não me dar nada tiraram o pouco que eu tinha. Me senti num lugar que não tinha lei”./“Era uma situação difícil por causa do confronto (entre policiais e traficantes) e havia dificuldade de acesso a serviços públicos, ninguém queria subir o morro. Agora não tem o poder bélico de antes e os serviços começam a chegar, apesar de ainda ser muito precário. A partir da militarização veio a cobiça das pessoas, as empresas, e agora querem tirar a gente daqui”, disse Vitor Lira./Seu Manoel Isidoro, que chegou à comunidade em setembro de 1953, falou da organização dos moradores que construiu boa parte da infra-estrutura do local, como uma caixa d’água comunitária e as ruas de acesso. Em 2013, ele completa 60 anos morando no pico. Vitor Lira é nascido e criado no Santa Marta e seus filhos são a quinta geração de sua família no alto do morro. “Já vivemos situações muito complicadas e não saímos, e não vai ser agora que isso vai acontecer. Ainda vamos ficar aqui por muitos anos”, finalizou./ Largo do Tanque: mais uma remoção sumária para as Olimpíadas do Rio de Janeiro/ Depois de 2012 ter sido um ano (eleitoral) relativamente calmo em relação às remoções no Rio de Janeiro, não demorou muito para que os tratores da Prefeitura voltassem a agir./ As denúncias feitas por organizações de direitos humanos , pelos principais jornais do mundo e as recomendações da ONU contra as remoções forçadas não parecem intimidar o poder público municipal, que se utiliza dos Jogos Olímpicos para executar toda e qualquer intervenção urbana de forma arbitrária e sem respeito aos moradores atingidos. No Largo do Tanque, em Jacarepaguá, as casas começaram a ser marcadas na semana anterior ao Carnaval e em 22 de fevereiro, das cerca de 50 famílias, menos de 10 resistiam. Centenas de pessoas despejadas em apenas três semanas. /Os relatos são assustadores: tortura psicológica, intimidação e baixíssimo valor das indenizações. A estratégia de negociação é perversa, com valores sendo reduzidos ao longo do tempo, para pressionar os moradores a aceitarem a primeira oferta, sempre abaixo do preço de mercado. As famílias denunciam que são ameaçadas pelo assessor da

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Piorou tudo para mim, a minha vida que eu tinha era no Recreio, igreja, trabalho, tudo. Depois que mudei fique sem igreja, o trnsito piorou, meus vizinhos todos foram morar longe. Aqueles vizinhos de porta no tem mais"Maria da Conceio Apolinrio da Silva, que teve o imvel derrubado na Vila Recreio II/Massacrar uma comunidade por conta de uns jogos de 27 dias eu acho uma injustia muito grande. O desejo deles de remover e o nosso desejo de ficar"Altair Antunes Guimares, presidente da associao de moradores da Vila Autdromo/H gente que acha que jogos olmpicos e a Copa so s para rico e pobres no vo ganhar nada. Ns achamos que Copa e Olimpadas so oportunidade para a cidade se transformar para melhor"SMHMichel Souza dos Santos perdeu sua casa e sua oficina em 2010 e at hoje no recebeu nenhum tipo de reparao da Prefeitura do Rio./Tive que pegar emprstimo no banco e pagar o banco, porque pelo governo no veio nada. Alm de no me dar nada tiraram o pouco que eu tinha. Me senti num lugar que no tinha lei./Era uma situao difcil por causa do confronto (entre policiais e traficantes) e havia dificuldade de acesso a servios pblicos, ningum queria subir o morro. Agora no tem o poder blico de antes e os servios comeam a chegar, apesar de ainda ser muito precrio. A partir da militarizao veio a cobia das pessoas, as empresas, e agora querem tirar a gente daqui, disse Vitor Lira./Seu Manoel Isidoro, que chegou comunidade em setembro de 1953, falou da organizao dos moradores que construiu boa parte da infra-estrutura do local, como uma caixa dgua comunitria e as ruas de acesso. Em 2013, ele completa 60 anos morando no pico. Vitor Lira nascido e criado no Santa Marta e seus filhos so a quinta gerao de sua famlia no alto do morro. J vivemos situaes muito complicadas e no samos, e no vai ser agora que isso vai acontecer. Ainda vamos ficar aqui por muitos anos, finalizou./ Largo do Tanque: mais uma remoo sumria para as Olimpadas do Rio deJaneiro/Depois de 2012 ter sido um ano (eleitoral) relativamente calmo em relao s remoes no Rio de Janeiro, no demorou muito para que os tratores da Prefeitura voltassem a agir./As denncias feitas por organizaes de direitos humanos,pelos principais jornais do mundoe asrecomendaes da ONU contra as remoes foradasno parecem intimidar o poder pblico municipal, que se utiliza dos Jogos Olmpicos para executar toda e qualquer interveno urbana de forma arbitrria e sem respeito aos moradores atingidos. No Largo do Tanque, em Jacarepagu, as casas comearam a ser marcadas na semana anterior ao Carnaval e em 22 de fevereiro, das cerca de 50 famlias, menos de 10 resistiam. Centenas de pessoas despejadas em apenas trs semanas./Os relatos so assustadores: tortura psicolgica, intimidao e baixssimo valor das indenizaes. A estratgia de negociao perversa, com valores sendo reduzidos ao longo do tempo, para pressionar os moradores a aceitarem a primeira oferta, sempre abaixo do preo de mercado. As famlias denunciam que so ameaadas pelo assessor da Prefeitura a no procurar a justia, porque estariam em situao ilegal e perderiam seus imveis sem qualquer reparao. Os moradores do Largo do Tanque, no entanto, esto no local h mais de cinco anos e mesmo assim a Prefeitura insiste em no reconhecer o direito constitucional posse da terra(caso fosse privada) e moradiade forma geral, pagando apenas pelas benfeitorias, o que no suficiente para adquirir uma nova habitao. As indenizaes no passam de R$ 30 mil e h relatos de famlias que tero que recomear a vida com apenas R$ 7 mil. Tambm no h registro pblico da ao e os moradores no esto recebendo nenhuma notificao ou comprovante oficial durante o processo de despejo./ No dia 22 de agosto de 2010, Eomar Freitas foi surpreendido por tcnicos da Prefeitura fazendo pixaes em sua casa e na de seus vizinhos, na comunidade Metr Mangueira, Zona Norte do Rio de Janeiro. A sigla SMH, que significa Secretaria Municipal de Habitao, era o anncio de que ele perderia a sua moradia. A favela fica prxima ao estdio do Maracan, e no projeto de urbanizao do entorno sua existncia foi ignorada. Hoje o local um cenrio de guerra e as famlias que ainda resistem convivem com toneladas de entulho e lixo//O Mangueira II, com apartamentos de 42m, j est finalizado e os moradores no entendem porque a mudana ainda no aconteceu. O outro prdio j est pronto e eles falam que burocracia da Caixa, disse Eomar. A sensao de insegurana j que a mudana para o Mangueira II deveria ter acontecido em maio. Cerca de 300 famlias ainda aguardam por uma soluo convivendo com os usurios de crack que ocuparam os escombros das casas destrudas.// Copa pode provocar despejo de 250 mil pessoas//