plan tamed

Upload: jairo-ferrari-f

Post on 05-Mar-2016

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Plantas medicinais

TRANSCRIPT

  • Cultivo e Utilizao de Ervas Medicinais

    Vanda Gorete S. Rodrigues1

    Introduo

    Os trabalhos de pesquisa com plantas medicinais,via de regra, originam medicamentos em menortempo, com custos muitas vezes inferior e,consequentemente, mais acessveis populao,que, em geral, encontra-se sem quaisquercondies financeiras de arcar com os custoselevados da aquisio de medicamentos quepossam ser utilizados como parte do atendimentodas necessidades primrias de sade, principalmenteporque na maioria das vezes as matrias-primasutilizadas na fabricao desses medicamentosso importadas. Por esses motivos ou pela deficncia da rede pblica de assistnciaprimria de sade, cerca de 80% da populao brasileira no tem acesso aosmedicamentos ditos essenciais.

    As plantas medicinais, que tm avaliadas a sua eficincia teraputica e a toxicologia ousegurana do uso, dentre outros aspectos, esto cientificamente aprovadas a serem utilizadaspela populao nas suas necessidades bsicas de sade, em funo da facilidade de acesso,do baixo custo e da compatibilidade cultural com as tradies populares. Uma vez que asplantas medicinais so classificadas como produtos naturais, a lei permite que sejamcomercializadas livremente, alm de poderem ser cultivadas por aqueles que disponham decondies mnimas necessrias. Com isto, facilitada a automedicao orientada nos casosconsiderados mais simples e corriqueiros de uma comunidade, o que reduz a procura pelosprofissionais de sade, facilitando e reduzindo ainda mais o custo do servio de sade pblica.

    O Trabalho com Plantas Medicinais que a Embrapa Rondnia Desenvolve

    O trabalho com plantas medicinais que a EmbrapaRondnia vem desenvolvendo, enfoca a questodo cultivo e a produo de mudas. O objetivo dotrabalho reunir de forma sistemtica, informaessobre plantas medicinais mais populares, incluindoas nativas e aclimatadas, visando o melhoraproveitamento e desenvolvimento de futuraspesquisas sobre produtos naturais dos trpicosmidos.

    As plantas foram selecionadas pela eficinciateraputica, verificadas na literatura cientfica e pela adaptabilidade do cultivo na regio.

    ____________1 Eng. Agrn., M.Sc., Embrapa Rondnia, Caixa Postal 406, CEP 78900-970, Porto Velho, RO. Fone: (69)222-0014,Telefax: (69)222-0409. E-mail: [email protected].

  • As espcies selecionadas so cultivadas em sementeiras e canteiros para formar umbanco de germoplasma com matrizes de mudas sadias e perfeitas, para seremoferecidas aos vrios segmentos da comunidade de Porto Velho e do Estado,interessados no cultivo das plantas medicinais.

    O trabalho oferece uma contribuio ao conhecimento e divulgao de nomespopulares e cientfico de 22 espcies de plantas medicinais amplamente usadas pelapopulao local. Alm de informaes sobre o melhor momento de fazer a colheita,como fazer a secagem e conservao, para que no percam as propriedadesmedicinais.

    Muitas plantas medicinais tm sido coletadas na mata ou nos ambientes naturais.Mas para que seja garantida sua preservao e o fornecimento, com quantidade e deforma constante, necessrio que sejam cultivadas.

    O cultivo de Horta Medicinal

    Local da horta medicinal

    O local a ser escolhido para implantao de umahorta medicinal dever ter:

    1) gua disponvel em abundncia e de boaqualidade.

    2) Distante de esgotos, fossas e chiqueiros.3) Ser ainda exposto ao sol, principalmente pela manh.4) Deve ser prximo da casa da pessoa encarregada de cuidar da horta.

    O solo

    O solo deve ser leve e frtil para que as razes tenham facilidade de penetrar e desenvolver.

    Quanto ao aspecto fsico do solo, pode ser melhorado, no seu preparo, incorporandono mesmo esterco e/ou composto orgnico, onde fornecer nutrientes que ajudaro areter a umidade.

    Certas espcies exigem solos midos como o caso do chpeu-de-couro, cana-de-macaco, etc.

    Outras j gostam de terrenos areno-argilosos, com umidade controlada. o caso decar, bardana, alecrim, etc.

    Preparo do solo

    Primeiramente faz-se uma limpeza geral da rea, e a seguir revolver o solo comenxado, p-reta ou arado (mecanizado ou trao animal).

  • Inicia-se a formao das sementeiras e canteiros, com as seguintes dimenses: 1 a1,2 metros de largura 0,2 metros de altura.

    Nas sementeiras, vale lembrar que a terra deve ser bem fofa, e as sementes podemser cobertas com areia bem fina ou terra peneirada.

    As covas que sero feitas para plantio de algumas espcies, devem ter 30 cm delargura x 30 cm de comprimento 30 de profundidade.

    Adubao

    Uma adubao equilibrada a chave para a obteno de plantas mais resistentes apragas e doenas tambm com maiores teores de frmacos, sem comprometer aproduo de massa verde.

    A aplicao do N (nitrognio) durante o perodo de pico de crescimento resulta emmelhor utilizao de N aplicado e consequentemente melhora o rendimento ou aprodutividade da espcie. A aplicao parcelada de N mais eficiente, pois muitopropenso a ser perdido no solo por diversos processos.

    Ex. plantas respondem bem a adubao nitrogenada: beladona, losna, alfavaca,alfazema, melissa, organo, arruda

    recomendvel realizar a fosfatagem com fosfatos naturais para corrigir a deficinciade fsforo tpica dos solos brasileiros.

    Para fazer a correo bsica do solo recomenda-se usar 150 g de clcareo/m2/canteiro.

    O esterco de bovino colocado na proporo de 6 a 10 litros/m2 de canteiro e esterco degalinha de 2 a 3 litros/m2 de canteiro, estes devendo estar totalmente curtidos.

    Podemos acrescentar 2 litros de humus/m2 de canteiro.

    Em covas deve-se colocar das dosagens recomendadas/m2 para cada canteiro.

    Nas sementeiras a adubao a mesma dos canteiros.

    Os Princpios Ativos

    As plantas sintetizam compostos qumicos a partir dos nutrientes da gua e da luzque recebem. Muitos desses compostos ou grupos deles podem provocar reaesnos organismos, esses so os princpios ativos. Algumas dessas substncias podemou no ser txicas, isto depende muito da dosagem em que venham a ser utilizadas.Assim, "Planta medicinal aquela que contm um ou mais de um princpio ativo quelhe confere atividade teraputica".

    Nem sempre os princpios ativos de uma planta so conhecidos, mas mesmo assimela pode apresentar atividade medicinal satisfatria e ser usada desde que noapresente efeito txico. Existem vrios grupos de princpios ativos, abordaremosapenas alguns de maior importncia no Quadro I.

  • Tabela 1. Caractersticas de alguns grupos de princpios ativos em plantas medicinais.

    Prncipio ativo Grau de propriedades medicinais e/ou txicas

    Alcalides

    Atuam no sistema nervoso central (calmante, sedativo,estimulante,anestsico, analgsicos). Alguns podem ser cancergenos e outrosantitumorais. Ex.: Cafena do caf e guaran, teobromina do cacau,pilocarpina do jaborandi, etc.

    Mucilagens Cicatrizante, antinflamatrio, laxativo, expectorante e antiespasmdico.Ex.: babosa e confrei.

    FlavonidesAntinflamatrio, fortalece os vasos capilares, antiesclertico, anti-dematoso, dilatador de coronrias, espasmoltico, antihepatotxico,colertico e antimicrobiano. Ex.: rutina (em arruda e favela).

    TaninosAdstringentes e antimicrobianos (antidiarrico). Precipitam protenas.

    Ex.: barbatimao e goiabeira.

    leos essenciaisBactericida, antivirtico, cicatrizante, analgsico, relaxante, expectorantee antiespasmdico. Ex.: mentol nas hortels, timol no tomilho e alecrimpimenta, ascaridol na erva-de-santa-maria, etc.

    Fonte: Martins (1992).

    Colheita e Processamento

    Determinao do ponto de colheita

    O primeiro aspecto a ser observado na produo de plantas medicinais de qualidade,alm da conduo das plantas, sem dvida a colheita no momento certo. As espciesmedicinais, no que se refere produo de substncias com atividade teraputica,apresentam alta variabilidade no tempo e espao. O ponto de colheita varia segundorgo da planta, estdio de desenvolvimento, poca do ano e hora do dia.

    A distribuio das substncias ativas, numa planta, pode ser bastante irregular,assim, alguns grupos de substncias localizam-se preferencialmente em rgosespecficos do vegetal.

    O estdio de desenvolvimento tambm muito importante para que se determine oponto de colheita, principalmente em plantas perenes e anuais de ciclo longo, onde amxima concentrao atingida a partir de certa idade e/ou fase dedesenvolvimento. Por exemplo, o jaborandi (Pilocarpus microphyllus) apresenta baixoteor de pilocarpina (alcalide) quando jovem. O alecrim (Rosmarinus officinalis)apresenta maior teor de leos essenciais aps a florao, sendo uma das exceesdentre as plantas medicinais de um modo geral.

    H uma grande variao na concentrao de princpios ativos durante o dia: osalcalides e leos essenciais concentram-se mais pela manh, os glicosdeos tarde.As razes devem ser colhidas logo pela manh. Tambm a poca do ano pareceexercer algum efeito nos teores de princpios ativos.

    As cascas so colhidas quando planta est completamente desenvolvida, ao fim davida anual ou antes da florao (nas perenes), nos arbustos as cascas so separadasno outono e, nas rvores, na primavera.

  • No caso de sementes recomenda-se esperar at o completo amadurecimento. Nocaso de frutos deiscentes (cujas sementes caem aps o amadurecimento), a colheitadeve ser antecipada.

    Os frutos carnosos com finalidade medicinal so coletados completamente maduros.Os frutos secos, como os aqunios, podem cair aps a secagem na planta, por issorecomenda-se antecipar a colheita, como ocorre com o funcho (Foeniculum vulgare).

    Deve-se salientar que a colheita das plantas em determinado ponto tem o intuito de obtero mximo teor de princpio ativo, no entanto, na maioria das vezes, nada impede que asplantas sejam colhidas antes ou depois do ponto de colheita para uso imediato. O maiorproblema da poca de colheita inadequada a reduo do valor teraputico e/oupredominncia de princpios txicos, como no confrei (Symphitum ssp.).

    Existem alguns aspectos prticos que deveremos levar em considerao, no processode colheita de algumas espcies. Na melissa cortamos seus ramos e no somentecolhemos suas folhas, desta forma conseguimos uma produo em torno de 3 t/ha dematria seca, em cortes, que so efetuados no vero e outono.

    Tabela 2. Recomendaes gerais de colheita.

    Parte colhida Ponto de colheitaQuando estiver floridaNo incio da floraoQuando madurosQuando a planta estiver adulta

    Casca e entrecascaFloresFrutos e sementesRazesTalos e folhas Antes do florescimento

    Fonte: Guia... (1990). Corra et al. (1991); Martins et al. (1992).

    Secagem

    O consumo de plantas medicinais frescas tende a garantir um ao mais eficaz dospoderes curativos nelas presentes, embora isso nem sempre seja possvel, o quetorna a secagem um mtodo de conservao eficaz quando bem conduzido.

    O Beneficiamento das Plantas Medicinais Engloba Vrios Processos

    O rgo vegetal, seja ele folhas, flor, raiz ou casca, quando recm-colhido apresentaelevando o teor de umidade e substratos, que concorre para que a ao enzimticaseja aumentada.

    A secagem, em virtude da evaporao de gua contida nas clulas e nos tecidos dasplantas, reduz o peso do material. Por essa razo promove aumento percentual deprincpios ativos em relao ao peso do material (Tabela 3).

  • Recomendaes Tcnicas para a Agropecuria de Rondnia - Manual do Produtor 6

    Tabela 3. Percentual de princpios ativos em relao ao peso de cada rgo da planta.

    rgo vegetal Reduo do peso - %Folhas 20 75Casca 40 65Gemas 62Lenho de rvore 30 70Razes 25 80Flores em geral 15 80Flor de camomila 66Flor de borragem 90

    Estas percentagens variam com a idade da planta e com as condies de umidade do meio.

    Cuidados que Antecedem a Secagem

    Procedimento bsico antes de submeter as plantas a secagem, para se conseguir umproduto de boa qualidade:

    1) No se recomenda lavar as plantas antes da secagem, exceto no caso dedeterminados rizomas e razes, que devem se lavados.

    2) Deve-se separar as plantas de espcies diferentes.3) As plantas colhidas e transportadas ao local de secagem, no devem receber raios

    solares diretamente.4) Antes de submeter as plantas secagem deve-se fazer a eliminao de elementos

    estranhos (terra, pedras, outras plantas, etc.) e partes que estejam em condiesindesejveis (sujas, descoloridas ou manchadas, danificadas).

    5) As plantas colhidas inteiras devem ter cada parte (folha, flor, caule, raiz, sementes,frutos) seca em separado e conservada depois em recipientes individuais.

    6) Quando as razes so volumosas podem ser cortadas em pedaos ou fatias parafacilitar a secagem.

    Para secar as folhas, a melhor maneira conserva-las com seus talos, pois istopreserva sua qualidade, previne danificaes e facilita o manuseio.