plano de manejo - icmbio

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PLANO DE MANEJO Reserva Particular do Patrimônio Natural Ambientalista Francy Nunes Portaria nº 075 de 22 de fevereiro de 2007, IBAMA. Proprietários: Francisco Pereira Nunes e Maria Otacy Almeida Nunes General Sampaio - CE 2011 PLANO DE MANEJO Reserva Particular do Patrimônio Natural Ambientalista Francy Nunes Portaria nº 075 de 22 de fevereiro de 2007, IBAMA Proprietários: Francisco Pereira Nunes e Maria Otacy Almeida Nunes General Sampaio - CE 2011

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  • PLANO DE MANEJOReserva Particular do Patrimnio Natural Ambientalista Francy Nunes

    Portaria n 075 de 22 de fevereiro de 2007, IBAMA.

    Proprietrios: Francisco Pereira Nunes e Maria Otacy Almeida Nunes

    General Sampaio - CE2011

    PLANO DE MANEJOReserva Particular do Patrimnio Natural Ambientalista Francy Nunes

    Portaria n 075 de 22 de fevereiro de 2007, IBAMA

    Proprietrios: Francisco Pereira Nunes e Maria Otacy Almeida Nunes

    General Sampaio - CE2011

  • ii

    Realizao:

    Apoio:

  • iii

    COORDENAO

    Rodrigo Castro Bilogo, Secretrio Executivo da Associao Caatinga.Daniele Ronqui Biloga, Coordenadora Tcnica da Associao Caatinga.Kelma Cludia Nunes Sociloga e Teloga, Presidente da AAFRAN-Associao Ambientalista Francy Nunes.

    PARCEIROS

    Associao Asa Branca dos Proprietrios de RPPN do Cear Universidade Federal do Cear - UFC Universidade Estadual do Cear - UECE Secretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente de General SampaioSecretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente de Tejuuoca

    EQUIPE TCNICA

    Geoprocessamento:

    Cristiano Alves da Silva Gegrafo, Especialista em Geoprocessamento Aplicado a Anlise Ambiental pela Universidade Estadual do Cear.Francisco Ilan de Queiroz Leite Gegrafo, graduado pela Universidade Estadual do Cear.

    Levantamento Botnico:

    Marcelo Oliveira Teles de Menezes Bilogo, Ms. em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universi-dade Estadual do Cear.Marcelo Freire Moro Bilogo, Ms. em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Estadual do Cear.Sarah Sued Gomes de Souza Bilogo, Ms. em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Estadual do Cear.

    Diagnstico das Comunidades do entorno:

    Francisco Eugnio de Oliveira Costa Engenheiro Agrnomo e Especialista em Desenvolvimento, Es-pao e Meio Ambiente pelo Instituto Educare.

    Levantamento da Herpetofauna:

    Paulo Cesar Mattos Dourado de Mesquita Ms. em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Estadual do Cear.

    Diva Maria Borges-Nojosa Dra. em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro / UFRJ, Ms. em Cincias Biolgicas (Zoologia) pela Universidade Federal da Paraba, UFPB, coordenadora do Ncleo Regional de Oiologia da Universidade Federal do Cear (NUROF-UFC) e pesquisadora na rea de Her-petologia, com nfase em Sistemtica, Zoogeograia e Ecologia.

    Estudos Limnolgicos:

    Aldeney Andrade Soares Filho Ms. em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Cear; pro-fessor do curso Cincias Biolgicas da Universidade Estadual do Cear nas disciplinas de Limnologia, Aquicultura e Bioestatstica.Thiago Dias Ferreira Bilogo, graduado pela Universidade Estadual do Cear.Manoel Paiva de Arajo Neto Bilogo, graduado pela Universidade Estadual do Cear. Rodrigo Leite Rodrigues Graduando do curso de Cincias Biolgicas da Universidade Estadual do Cear.

  • iv

    Levantamento da Avifauna:

    Weber Andrade de Giro e Silva Ms. em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco com nfase em ornitologia.Ciro Ginez Albano Bilogo, graduado pela Universidade Federal do Cear com larga experincia em ornitologia.

    Levantamento da Mastofauna e Quiropterofauna:

    Paulo Thieres Pinto de Brito Bilogo, graduado pela Universidade Federal do Cear, com larga ex-perincia em Mamferos do Cear e da Caatinga.

    Levantamento das Potencialidades para Uso Pblico:

    Daniela Gaspar Garcia de Matos Ms. em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cear, Especialista em Medioambiental con Herramientas SIG pela Environmental Systems Research Institute (Espanha).

    TEXTO

    Ana Carolina Leite Cordeiro Biloga e Mestra em Gesto Ambiental de Recursos HdricosDaniele Ronqui Biloga, graduanda pela Universidade Estadual de Londrina/PR, especialista em Educao Ambiental pela Universidade Estadual do Cear. Liana Mara Mendes de Sena Ms. em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cear, Especialista em Educao Ambiental pela Universidade Estadual do Cear. Suellen Galvo Moraes Especialista em Gesto Ambiental pela Universidade de Fortaleza, graduada em Turismo pela Faculdade Integrada do Cear.

    Projeto grico

    Rafael Salvador Publicitrio, Designer Grico.

  • v

    Apresentao

    O Estado do Cear dispe de remanescentes da Caatinga preservados, a maioria localizados em reas particulares, oferecendo boas oportunidades para a conservao. Uma destas reas a RPPN Ambientalista Francy Nunes localizada no municpio de General Sampaio. Ela abriga espcies raras e ameaadas de extino, colabora com a conservao da diversidade biolgica e com o Sistema Nacional de Unidades de Conservao, alm de preservar matas que oferecem importantes servios ambientais a toda a sociedade.

    O Plano de Manejo da RPPN Ambientalista Francy Nunes ora apresentado resultado do esforo conjunto de instituies parceiras, pesquisadores, tcnicos, sociedade civil e moradores do entorno da RPPN. A elaborao do PM foi possvel graas ao Convnio de n. 116/2006, celebrado entre a Associao Caatinga e o Fundo Nacional do Meio Ambiente para a execuo do projeto: Fortalecendo o Manejo da Biodiversidade atravs do Apoio e Capacitao na Realizao de Plano de Manejo da Reserva Particular do Patrimnio Natural RPPN Francy Nunes. Este documento atende Lei 9.985, de 18/07/2000 (SNUC), que estabelece as diretrizes para a preservao, conservao, manuteno, recuperao, restaurao, utilizao sustentvel, manejo e gesto das Unidades de Conservao e utilizou como referncia o Roteiro Metodolgico para elaborao de Planos de Manejo de RPPN do IBAMA, publicado em outubro de 2004.

    O Plano de Manejo norteia as aes de conservao, manejo e possibilidades de uso sustentvel da reserva. Nele, o proprietrio encontrar informaes fundamentais para orientar o planejamento da sua RPPN para cumprir seus objetivos de conservao e uso pblico. Nele esto descritos os atrativos e potenciais da Reserva, a existncia de espcies raras e ameaadas de extino, formas de ampliar e manter suas trilhas, proteo contra incndios lorestais, orientao para projetos de educao ambiental e turismo, recomendaes para a sustentabilidade da reserva, dentre outros aspectos.

    Para tanto, um diagnstico da reserva e do seu entorno foi realizado para melhor entender os processos que resultaram na situao atual da mesma e da regio. Tais levantamentos so de suma importncia para que se possa conhecer o passado, entender o presente e planejar o futuro. A partir deste diagnstico, da anlise da qualidade ambiental da reserva, disponibilidade de infraestrutura, atrativos e entorno, as comunidades do entorno num momento e atores estratgicos num outro momento, foram convidados, por meio de oicinas participativas, a conhecer os levantamentos realizados e a opinar sobre suas expectativas e o futuro da RPPN.

    Todas essas informaes nortearam o zoneamento da reserva, onde pores de sua rea foram delimitadas de acordo com suas caractersticas e potenciais de uso e prioridades de conservao in situ. Realizado o zoneamento, programas prioritrios para a RPPN foram deinidos em diferentes segmentos de atividades como forma de concentrar aes e recursos humanos e inanceiros para o bom manejo da rea. Todas as etapas contaram com a participao ativa do proprietrio da RPPN e seus familiares.

    Os programas so voltados a aes de proteo, pesquisa e monitoramento, visitao, administrao, comunicao e sustentabilidade econmica. Tudo para que a RPPN possa no apenas garantir a conservao dos recursos naturais como tambm relacionar-se bem com seu entorno.

    Mais do que um documento legal, o Plano de Manejo da RPPN Ambientalista Francy Nunes visa potencializar as aes de conservao e sustentabilidade da rea protegida, promover a divulgao da RPPN e apresentar oportunidades para a identiicao de novas parcerias para a RPPN. Ele visa oferecer ao pblico em geral, uma viso do plano de manejo, sintetizando as recomendaes e principais aes direcionadas a RPPN.

    Rodrigo CastroSecretrio ExecutivoAssociao Caatinga

  • vi

    Lista de Siglas e Abreviaes

    ADA Ato Declaratrio Ambiental

    APP rea de Preservao Permanente

    CCIR Certiicado de Cadastro do Imvel Rural

    CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

    CNRPPN Confederao Nacional das Reservas Particulares do Patrimnio Natural

    CPF Cadastro de Pessoa Fsica

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente

    FUNBIO Fundo Nacional do Meio Ambiente

    FUNCEME Fundao Cearense de Meteorologia

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IBGE Instituto Brasileiro de Geograia e Estatstica

    ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade

    IDACE Instituto do Desenvolvimento Agrrio do Cear

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    ITR Imposto Territorial Rural

    IUCN International Union for Conservation of Nature

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    ONG Organizao No Governamental

    PIB Produto Interno Bruto

    PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente

    PREVFOGO Sistema Nacional de Preveno e Combate aos Incndios Florestais

    PSF Programa de Sade da Famlia

    RPPN Reserva Particular do Patrimnio Natural

    SESA Secretaria Estadual de Sade

    SUDENE Superintendncia Para o Desenvolvimento do Nordeste

    UC Unidade de Conservao

  • vii

    Lista de Tabelas

    Tabela 1: Distncia e tempo aproximado de percurso entre a sede do Municpio de General Sampaio a capital do Estado e os principais centros urbanos do entorno da RPPN.Tabela 1 - Distncia e tempo aproximado de percurso entre a sede do Municpio de General Sampaio a capital do Estado e os principais centros urbanos do entorno da RPPN.

    14

    Tabela 2: Ficha resumo da RPPN Francy Nunes. 16

    Tabela 3: Quantidade de meses secos em General Sampaio segundo o critrio de Mohr, baseada nas mdias mensais de precipitao do Posto Pluviomtrico General Sampaio entre 1981 e 2007. FONTE: Funceme (2008).Tabela 2. Quantidade de meses secos em General Sampaio segundo o critrio de Mohr, baseada nas mdias mensais de precipitao do Posto Pluviomtrico General Sampaio entre 1981 e 2007. FONTE: Funceme (2008).

    18

    Tabela 4: Valores sobre a riqueza e abundncia da herpetofauna da Fazenda Natlia e RPPN Francy Nunes durante o perodo do maio/2007 a junho/2008.

    33

    Tabela 5: Avifauna ameaada na RPPN Francy Nunes. 35

    Tabela 6: principais potenciais recreativos, interpretativos e culturais identiicados na RPPN e propriedade. 44

    Tabela 7: indicadores sociais de Desenvolvimento. 55

    Tabela 8: Resumo do levantamento socioeconmico do Municpio General Sampaio. 57

    Tabela 9: Dados da vegetao nativa destruda. 59

    Tabela 10: Espceis da fauna e lora apontadas como raras ou extintas na regio. 59

    Tabela 11: prinicipais problemas ambientais e possveis solues apontadas pelas lideranas comunitrias para as comunidades.

    60

    Tabela 12: Resumo com as ameaas e oportunidades do ponto de vista ambiental, cultural e turstico de todas as comunidades.

    61

    Tabela 13: Zonas deinidas para a RPPN Ambientalista Francy Nunes. 66

  • viii

    Lista de Mapas

    Mapa 1: Principais vias de acesso para a RPPN Ambientalista Francy Nunes. 15

    Mapa 2: Clima da regio da RPPN Francy Nunes - Tropical Quente Semirido Brando e Tropical Quente Semiri-do com estao chuvosa iniciada nos meses de Janeiro a Abril.

    17

    Mapa 3: Geologia da regio da RPPN Ambientalista Francy Nunes. 19

    Mapa 4: Unidades de relevo da RPPN Ambientalista Francy Nunes. 20

    Mapa 5: Planialtimtria da RPPN Ambientalista Francy Nunes. Altitudes variam entre 250 a 400 m. 21

    Mapa 6: Tipos de solos na RPPN Francy Nunes. 22

    Mapa 7: Estgio sucessional na RPPN Francy Nunes. 29

    Mapa 8: Trajeto da trilha a partir da sede, futuro centro de visitantes, que conduz aos trs atrativos na RPPN: conjunto de Barrigudas (Ceiba glaziovii), Mirante do Bico Alto e Mirante de Pedra.

    45

    Mapa 9: Localizao da trilha que liga os principais atrativos da RPPN Ambientalista Francy Nunes. 46

    Mapa 10: Atrativos identiicados e atividades sugeridas. Tambm foram identiicadas ameas a essas atividades como sinais de fogo e extrao da vegetao.

    47

    Mapa 11: Localizao das comunidades do entorno da RPPN Francy Nunes. 59

    Mapa 12: Principais reas protegidas e matas remanescentes na regio e possibilidade de conectividade entre elas. 63

    Mapa 13: Mapeamento do projeto Avaliao e Aes Prioritrias para a Conservao da Biodiversidade do Bioma Caatinga PROBIO (2006), referente regio da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    64

    Mapa 14: Zoneamento da RPPN Ambienalista Francy Nunes. 67

  • ix

    Lista de Anexos

    Anexo 1: Mapa de Localizao e acesso 87

    Anexo 2: Mapa do Clima 88

    Anexo 3: Mapa da Geologia 89

    Anexo 4: Mapa da Geomorfologia 90

    Anexo 5: Mapa de Altitude 91

    Anexo 6: Mapa de Liminologia 92

    Anexo 7: Mapa dos Solos 93

    Anexo 8: Mapa de Hidrograia 94

    Anexo 9: Mapa de vegetao 95

    Anexo 10: Fitoisionomias 96

    Anexo 11: Conectividade 97

    Anexo 12: Indicadores Sociais 98

    Anexo 13: Comunidades 99

    Anexo 14: PROBIO 100

    Anexo 15: Mapa de Zoneamento 101

    Anexo 16: Lista de espcies da Flora inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes e seu entorno. 102

    Anexo 17: Lista de espcies da Herpetofauna inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes e seu entorno. 109

    Anexo 18: Lista de espcies da Avifauna inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes e seu entorno. 111

    Anexo 19: Lista de espcies da Mastofauna inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes e seu entorno. 115

    Lista de Figuras

    Figura 1: Localizao da RPPN nos municpios de General Sampaio, Tejuuoca e Apuiars, poro norte do Estado do Cear. Localizao da RPPN nos municpios de General Sampaio, Tejuuoca e Apuiars, poro norte do estado do Cear.

    14

    Figura 2: Riacho das Pedras, RPPN Francy Nunes, no inal do perodo chuvoso incio do seco. 23

    Figura 3: Pontos hdricos da RPPN Francy Nunes e de seu entorno. 23

    Figura 4: Olho dgua prximo a RPPN Francy Nunes no perodo chuvoso de 2007. 24

    Figura 5: Variao anual da vegetao na RPPN Ambientalista Francy Nunes. 24

    Figura 6: Inlorescncia de Pithecoseris pacourinoides (Asteraceae). 26

    Figura 7: Espcime de Cryptostegia grandilora no entorno da RPPN Ambientalista Francy Nunes. 27

    Figura 8: Flor de Senna unilora (esquerda) e fruto de Senna occidentalis (direita) espcies indicadoras da presena de gado.

    27

    Figura 9: esquerda, foto na estao seca com rvore cada e a clareira deixada pelo fogo no interior da reser-va. direita, extrao de madeira para produo de carvo no entorno imediato da reserva.

    30

    Figura 10: Gado bovino (esquerda) e caprino (direita) pastando no entorno oeste da RPPN Ambientalista Fran-cy Nunes.

    30

    Figura 11: Calanguinho de rabo azul (Micrablepharus maximiliani), esquerda. 31

    Figura 12: Falsa Coral (Oxyrhopus trigeminus), direita. 31

    Figura 13: Pleurodema diplolistris (foto: Renato Gaiga), esquerda. 32

    Figura 14: Briba brasiliana (foto: Renato Gaiga), direita. 32

    Figura 15: Hemidactylus agrius, esquerda. 32

    Figura 16: Lygodactylus klugei, direita. 32

    Figura 17: Tropidurus semitaeniatus (foto: Rich Hoyer). 32

    Figura 18: Lagarto (Tropidurus hispidus) esquerda, Sapo boi (Proceratophrys cristicep) ao centro e largatixta (Cnemidophorus ocellifer) direita espcies mais abundantes e frequentes encontradas na RPPN.

    33

    Figura 19: Jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca), esquerda. 34

    Figura 20: Pica-pau-ano-da-caatinga (Picumnus limae), direita. 34

  • x

    Figura 21: Bigodeiro (Sporophila lineola), esquerda. 35

    Figura 22: Campina (Paroaria dominicana), direita. 35

    Figura 23: Canco (Cyanocorax cyanopogon), esquerda. 36

    Figura 24: Corrupio (Icterus jamacaii), direita. 36

    Figura 25: Patarrona (Amazonetta brasiliensis), esquerda. 36

    Figura 26: Pai Lus (Neocrex erythrops), direita. 36

    Figura 27: Avoante (Zenaida auriculata), esquerda. 36

    Figura 28: Codorniz (Nothura boraquira), direita. 36

    Figura 29: Catita (Gracilinanus agilis), esquerda. 37

    Figura 30: Rabo-de-lpis (Monodelphis domestica), direita. 37

    Figura 31: Morcego (Mimon crenulatun). 38

    Figura 32: Raposa (Cerdocyon thou), esquerda. 38

    Figura 33: Caititu (Pecari tajacu), direita. 38

    Figura 34: Demarcao do incio do limite da RPPN pela equipe de georreferenciamento. 41

    Figura 35: esqueda, levantamento dos pontos georreferenciados para elababorao dos mapas. 41

    Figura 36: direita, sugesto de marco para delimitao da RPPN. 41

    Figura 37: esquerda, Santo e pequeno altar encontrado no Pico Alto. 42

    Figura 38: direita, inscries em rvore encontrada prximo ao limite entre as propriedades. 42

    Figura 39: Barrigudas encontradas na RPPN ao longo da trilha principal. 45

    Figura 40: Vista do Bico Alto, ponto mais alto da regio presente no interior da RPPN. 46

    Figura 41: Vista do mirante de pedra. 46

    Figura 42: esqueda, Casa de taipa. 48

    Figura 43: direita, Aude pequeno (Redeno). 48

    Figura 44: esquerda, antigo forno para produo de carvo. 48

    Figura 45: direita, Aude Grande (Monte Horebe). 48

    Figura 46: esquerda, Periquito do serto (Aratinga cactorum). 48

    Figura 47: direita, Galo da Campina (Paroaria dominicana). 48

    Figura 48: esquerda, Golinha (Sporophila albogularis). 49

    Figura 49: direita, Pica-pau-ano-do-nordeste (Picummus limae). 49

    Figura 50: esquerda, Vu de noiva. 49

    Figura 51: direita, restaurante no aude Boqueiro em Tejuuoca. 49

    Figura 52: esquerda, Aude. 49

    Figura 53: direita, Balnerio de General Sampaio. 49

    Figura 54: esquerda, Formao geolgica Cabea do ndio. 50

    Figura 55: direita, Frmao geolgica touro. 50

    Figura 56: Centro de Apoio ao visitante do Parque Ecolgico Furna dos Ossos. 50

    Figura 57: Cartazes da festa do bode que ocorre anualmente no minicpio. 51

    Figura 58: Incndio ocorrido em 2007. 58

    Figura 59: Curso de combate a incndios lorestais na RPPN e consequente montagem da brigada voluntria. 58

    Figura 60: esquerda, placa informando a existncia da RPPN com o nmero da portaria de criao. 53

    Figura 61: direita, placa educativa em rvore com informao da espcie vegetal. 53

    Figura 62: esquerda, placa educativa com mensagens bblicas. 53

    Figura 63: direita, placas informativas nas trilhas l. 53

    Figura 64: auditrio construdo no alpendre/varanda da sede da fazenda que serve como auditrio para rece-ber grupos de visitantes, ou alojamento para pesquisadores.

    54

  • xi

    Sumrio

    1. INTRODUO 13

    2. INFORMAES GERAIS 14

    2.1. Localizao 14

    2.2. Acesso 14

    2.3. Histria e Caractersticas do Imvel 15

    2.4. Ficha resumo da RPPN 16

    3. DIAGNSTICO 17

    3.1. Caracterizao da RPPN 17

    3.1.1. Clima 17

    3.1.2. Geologia e Geomorfologia 18

    3.1.3. Relevo 20

    3.1.4. Solos 21

    3.1.5. Hidrograia 22

    3.1.6. Vegetao 24

    3.1.7. Fauna 31

    3.1.8. Geoprocessamento 38

    3.1.9. Aspectos Histricos E Culturais 41

    3.1.10. Visitao 43

    3.1.11. Pesquisa e Monitoramento 51

    3.1.12. Ocorrncia de Fogo 51

    3.1.13. Atividades Desenvolvidas na RPPN e Sistema de Gesto e Pessoal 52

    3.1.14. Infraestrutura, Equipamentos e Servios 53

    3.1.15. Recursos Financeiros e Formas de Cooperao 54

    3.2. Caracterizao da Propriedade 54

    3.3. Caracterizao da rea de Entorno 55

    3.3.1. Demograia 55

    3.3.2. Indicadores Sociais 55

    3.3.3. Dados sobre o meio rural 56

    3.3.4. Dados Gerais sobre Economia e Servios 56

    3.3.5. Infraestrutura Hdrica, Viria, Eltrica, Bancria, de ATER e de Comunicaes 58

    3.3.6. Caracterizao das comunidades do entorno da RPPN 58

    3.4. Possibilidade de Conectividade 63

    3.5. Declarao de Signiicncia 63

    4. PLANEJAMENTO 65

    4.1. Objetivos do Plano de Manejo 65

    4.2. Normas Gerais da RPPN Ambientalista Francy Nunes 65

    4.3. Zoneamento 66

    4.3.1. Zona Silvestre (Zs) 67

    4.3.2. Zona de Transio (Zt) 68

    4.3.3. Zona de Proteo (Zp) 68

    4.3.4. Zona de Visitao (Zv) 68

    4.3.5. Zona de Recuperao (Zr) 69

    4.3.6. Administrao 69

    4.4. Programas de Manejo 69

  • xii

    4.4.1. Programa de Administrao 70

    4.4.2. Programa de Proteo e Fiscalizao 71

    4.4.3. Programa de Pesquisa e Monitoramento 73

    4.4.4. Programa de Visitao 75

    4.4.5. Programa de Sustentabilidade Econmica 77

    4.4.6. Programa de Comunicao 78

    4.5. Projetos Especicos 79

    4.6. CRONOGRAMA DE EXECUO E CUSTOS 80

    5. INFORMAES FINAIS 86

    5.1. Anexos 86

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 117

    7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 119

  • 13

    1. INTRODUO

    O Plano de Manejo era uma necessidade que desde 2004 a famlia Nunes vinha tentando apoio para realizar. Na poca, das 31 RPPN existentes nos estados do Cear, Piau e Maranho, a nica que possua plano de manejo era a Reserva Natural Serra das Almas em Crates/CE. Buscando ampliar o universo de RPPN munidas deste importante instrumento de planejamento e gesto, a diretoria da Confederao Nacional de RPPN-CNRPPN reuniu-se em Braslia com a Diretoria e a Coordenadoria da Carteira de Projetos em Gesto Integrada de reas Protegidas do Fundo Nacional de Meio Ambiente FNMA para que o FNMA apoiasse uma proposta integrada e de ao multiplicadora, envolvendo a CNRPPN e as associaes estaduais de RPPN para a elaborao de planos de manejo para RPPN pilotos com base no novo roteiro produzido. Neste contexto, foram apresentados ao FNMA projetos de abrangncia regional com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de planos de manejo pilotos em RPPN buscando dar representatividade s regies e aos biomas do pas.

    Na regio do Cear, Piau e Maranho, a Associao Caatinga (OSCIP, cadastrada no CNEA) em parceria com a Associao Asa Branca de proprietrios de reservas particulares, lanaram um edital para seleo da RPPN piloto que seria agraciada com o Plano de Manejo. O Comit de Seleo formado por membros da Asa Branca e da Diretoria da Confederao Nacional de RPPN elegeu a RPPN Ambientalista Francy Nunes no Cear, inserida no bioma Caatinga e de propriedade do Sr. Francisco Pereira Nunes, como piloto para a regio devido ao grande interesse do proprietrio e aos trabalhos de educao ambiental e desenvolvimento local sustentado desenvolvido pela RPPN em seu entorno.

    As atividades para a elaborao desse plano de manejo concentraram-se na realizao de levantamentos de caracterizao da lora, da fauna, do meio fsico e das potencialidades da RPPN e entorno para a visitao. Para o planejamento da unidade foram realizados diagnsticos participativos do entorno junto s comunidades e oicinas com moradores, lideranas locais, gestores municipais e outras organizaes atuantes na regio.

    Os objetivos da RPPN, seu zoneamento, programas e atividades foram deinidos com base nos estudos realizados na RPPN e entorno, em oicinas participativas com a famlia Nunes, com os pesquisadores e comunidades.

    Como resultado de todos os trabalhos, foram deinidos quatro principais objetivos para a RPPN Ambientalista Francy Nunes: 1. Efetivar a proteo e a conservao integral da rea, mantendo sua integridade e biodiversidade; 2. Incentivar a pesquisa cientiica na RPPN para ampliar o conhecimento sobre a caatinga e subsidiar o manejo da rea; 3. Realizar atividades de visitao turstica, recreativa e educacional com objetivo de sensibilizar a populao local para a conservao da caatinga , alm de contribuir para o desenvolvimento de iniciativas de ecoturismo na regio; 4. Estimular o desenvolvimento de atividades sustentveis nas comunidades e municpios vizinhos, contribuindo para a conservao da natureza local e para a melhoria da qualidade de vida das populaes.

    Com base na qualidade ambiental da unidade e de seus objetivos, foram deinidos o zoneamento e os programas da RPPN, que esto detalhados ao longo desse documento.

  • 14

    2. INFORMAES GERAIS

    2.1. Localizao

    A RPPN Ambientalista Francy Nunes est localizada entre os limites dos municpios de General Sampaio, Tejuuoca e Apuiars no estado do Cear, na Latitude 4o 03 10 e Longitude 39o 27 16, possuindo reas nesses trs municpios. Abrange uma rea de 128 km na regio norte do estado.

    Figura 1: Localizao da RPPN nos municpios de General Sampaio, Tejuuoca e Apuiars, poro norte do Estado do Cear. Localizao da RPPN nos municpios de General

    Sampaio, Tejuuoca e Apuiars, poro norte do estado do Cear.

    A tabela 1 apresenta as distncias e o tempo aproximado de percurso entre a sede do municpio de General Sampaio, a capital do estado e os principais centros urbanos do entorno da reserva.

    Tabela 1: Distncia e tempo aproximado de percurso entre a sede do Municpio de General Sampaio a capital do Estado e os principais centros urbanos do entorno da RPPN.

    Municpios Distncia entre Sedes (Km) Tempo Aproximado (min)

    General Sampaio Fortaleza 138 110General Sampaio Tejuuoca 16 14General Sampaio Apuiars 14 12

    2.2. Acesso

    O acesso a partir de Fortaleza pode ser feito atravs da BR-222, que leva a Sobral/So Lus do Curu, a partir de Croat o percurso segue pela CE 341 passando por Pentecoste, Apuiars e sede do municpio. So 132 km de distncia da capital, Fortaleza.

  • 15

    Mapa 1: Principais vias de acesso para a RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    A empresa de transporte rodovirio Guanabara, possui uma rota diria de Fortaleza para Tejuuoca, passando em frente ao porto de entrada da propriedade da RPPN, antes de entrar no municpio de Tejuuoca. O tempo estimado de viagem de Fortaleza a RPPN de 3 horas e meia. De transporte particular o tempo de viagem de cerca de 2 horas.

    2.3. Histria e Caractersticas do Imvel

    A propriedade Fazenda Natlia, onde est inserida a RPPN, foi adquirida pela famlia Nunes em 1985; o proprietrio anterior a utilizava para pecuria e venda de madeira, como tambm para uma pequena produo de carvo feita pelos moradores que cuidavam da propriedade. Em 1989, na Fazenda Santa rsula, contgua a Fazenda Natlia, foram desmatados 30 ha para a produo de gergelim e criado, de forma extensiva, 80 reses (gado) de corte e de leite e 400 cabeas de caprinos. Havia apenas 2 casas de taipa (pau-a-pique), uma utilizada pelos proprietrios e outra pelo morador, existentes ainda hoje.

    A idia de criao da RPPN nasceu depois da famlia idealizar um projeto com viso de futuro para a rea e para a regio. A famlia sonhava em transformar a rea em um empreendimento voltado para o turismo no convencional, mas vocacionado e pensava em desenvolvimento sustentvel para a regio, com a administrao pblica atuando com polticas voltadas para tal im. E desde ento, o modelo da RPPN Francy Nunes tem se tornado multiplicador, uma vez que General Sampaio tem hoje outras RPPNs a atual prefeitura vem fomentando esta viso dentro e fora do municpio.

    A RPPN Ambientalista Francy Nunes foi criada pelo prprio esforo dos proprietrios em 2000, na poca um caminho conhecido por poucos e sem apoio de organizaes que atuassem nessa rea.

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    A portaria de criao de N 54/2000 abrangendo uma rea de 200 ha dos 528 ha da Fazenda Natlia. No mesmo ano, a propriedade tambm conseguiu acesso a rede de energia eltrica, outra batalha que vinha travando para a regio. Ainda no ano de 2002, o Governo do Estado inaugura a CE-341 que une Fortaleza a Tejuuoca, favorecendo com asfalto o acesso a propriedade e a RPPN, uma solicitao tambm antiga da famlia. Em 2004, foi construda a casa sede na Fazenda Santa rsula e a casa do morador, responsvel pela segurana do local, ambas de alvenaria, para dar suporte a admnistrao da RPPN. Em 2005, o proprietrio construiu um aude de pequeno porte para abastecer a sede. Em 2006, parte da casa sede foi transformada em auditrio para receber visitantes.

    Para administrar a Reserva a famlia criou a Associao Ambientalista Francy Nunes (AAFRAN) que tem desenvolvido projetos de educao ambiental na regio do Vale do Curu, tendo realizado campanhas de conscincia ambiental, valorizao do Bioma Caatinga, curso de apicultura, distribuio de mudas para arborizao, formao de agentes de combate a incndios lorestais e de multiplicadores ambientais, levando o municpio e seu entorno a uma nova mentalidade de preservao e conservao do meio ambiente; tendo contribuido diretamente na implementao de novas polticas publicas local. Em parceria com a Associao Asa Branca e a Associao Caatinga, estimulou e multiplicou o modelo de conservao e preservao RPPN, no municpio, contribuindo para a criao de mais trs outras reservas na regio: a RPPN Elias Andrade (homologada em 2009), a RPPN Fazenda Cajazeiras (em processo de criao) e a RPPN Fazenda Sousa (em processo de criao).

    A RPPN Ambientalista Francy Nunes associada Associao Asa Branca de proprietrios de RPPN do Cear, Piau e Maranho desde a fundao em 2003, tendo ocupado assento no Conselho Fiscal da entidade nos anos de 2003 a 2005, de 2005 a 2007, como Conselheira iscal e na presidncia da instituio em 2009 a 2011.

    2.4. Ficha resumo da RPPN

    Tabela 2: Ficha resumo da RPPN Francy Nunes.

    Municpio General SampaioUF CENome do proprietrio Francisco Pereira NunesNome do representante Kelma Cludia Almeida Nunes RodriguesContato Kelma Cludia Almeida Nunes RodriguesEndereo Fazenda Natlia, localidade de Riacho das Pedras, Km 314

    Endereo para correspondnciaRua Vicente Lopes, 840/01 Cidade dos Funcionrios CEP.: 60822-100 Fortaleza-CE

    Telefone (85) 3472-3131 / (85) 9945-7258- (85) 88870462rea total da propriedade 528 harea da RPPN 200 haPrincipais municpios de acesso RPPN Tejuuoca e General SampaioMunicpios e estados abrangidos Tejuuoca, Apuiars e General Sampaio no Estado do Cear

    Coordenadas geogricas

    Latitude 0409,61; Longitude 392938,76; Limite ao Norte: Apuiars; Sul Canind e Paramoti; Leste Paramoti e Apuiars e Oeste Apuiars, Tejuuoca e Canind.

    Limites da RPPN

    Norte: Propriedade do Sr. Alberto Simo Vieira; Sul: Riacho das Pedras; Leste: Propriedade do Sr.Antnio Rodrigues Vieira;Oeste: Propriedade do Sr. Elias Viana Andrade.

    Data e nmero do ato legal da criao Portaria N 54/200 de 8 de setembro de 2000Bioma e/ou ecossistema Caatinga Arbustiva e Arbustiva Arbrea Distncia dos centros urbanos mais prximos

    Fortaleza (capital): 123 km, General Sampaio: 6 km, Tejuuoca: 10 km

    Via principal de chegada BR 222 e CE 341Atividades ocorrentes Visitao de escolas e projetos de educao ambiental

  • 17

    3. DIAGNSTICO

    3.1. Caracterizao da RPPN

    3.1.1. Clima

    O clima da regio o Tropical Quente Semirido Brando e Tropical Quente Semirido com estao chuvosa iniciada nos meses de Janeiro a Abril (Tabela 2) contando com uma precipitao mdia anual de 763 mm e temperatura mdia de 26 C a 28o C (IPECE, 2009).

    Mapa 2: Clima da regio da RPPN Francy Nunes - Tropical Quente Semirido Brando e Tropical Quente Semirido com estao chuvosa iniciada nos meses de Janeiro a Abril.

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    As chuvas no municpio de General Sampaio, Cear, assim como em outras localidades do Estado, se concentram no primeiro semestre do ano. Os maiores ndices ocorreram no perodo da quadra invernosa que vai de fevereiro a maio.

    Pluviometria - municpio de General Sampaio

    0,00

    50,00

    100,00

    150,00

    200,00

    250,00

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

    Vo

    lum

    e (

    mm

    )

    Grico 1: Precipitao mensal do municpio de General Sampaio, obtida atravs da mdia histrica (1981 a 2010) do posto pluviomtrico de General Sampaio. Fonte: Funceme, 2010. Precipitao mensal do municpio de General Sampaio, obtida atravs da mdia histrica (1981 a 2010) do posto pluviomtrico de General Sampaio. Fonte: Funceme, 2010

    O clima semirido tpico do semirido nordestino, apresentando adversidades climticas caracterizadas por irregularidades na distribuio interanual de precipitao que so, de um modo geral baixas, variando de 500 a 1.800 mm por ano, durando estaes chuvosas entre 3 a 5 meses (BEZERRA, 2004).

    Tabela 3: Quantidade de meses secos em General Sampaio segundo o critrio de Mohr, baseada nas mdias mensais de precipitao do Posto Pluviomtrico General Sampaio entre 1981 e 2007. FONTE: Funceme (2008).Tabela 2. Quantidade de meses secos em General Sampaio segundo o critrio de Mohr, baseada nas mdias mensais de precipitao do Posto

    Pluviomtrico General Sampaio entre 1981 e 2007. FONTE: Funceme (2008).

    Ms JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

    Precipitao 91,84 120,03 202,94 210,49 101,93 6,95 16,83 4,11 0,76 0,59 3,71 16,22

    Critrio mido mido mido mido mido mido Seco Seco Seco Seco Seco Seco

    3.1.2. Geologia e Geomorfologia

    A geologia da regio derivada de rochas do Complexo Nordestino, constituindo de paragnaisses, micaxistos e metacalcrios decorrente de eventos datados desde o perodo pr-Cambriano (RADAM BRASIL, 1981).

  • 19

    Mapa 3: Geologia da regio da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    Segundo o Altas do Cear (1977) o relevo do Estado baseado em uma estrutura geolgica bastante complexa, e comporta caractersticas dependentes da inluncia de um conjunto de fatores, entre eles podem-se destacar as condies geolgicas, ambientais, paleoclimticas e as dinmicas geomorfogenticas.

    Com relao a Geomorfologia, a regio da RPPN est inserida no domnio natural das Depresses Sertanejas Semiridas e Submidas (Anexo 4). Dentro deste domnio, possvel distinguir dois Sistemas Ambientais ou Compartimentos Geoambientais: Serto Centro-Ocidental e Serto Setentrional Pr-Litorneo.

    A Depresso Sertaneja compreende uma paisagem tpica do Semirido Nordestino, e cobre cerca de 70% do territrio cearense. Possui altimetria inferior a 400 m, embutida entre os Macios Residuais. caracterizada pela condio de semiaridez, relevo predominantemente suave-ondulado e a distribuio extensa da vegetao Caatinga (SOUZA, 2007). A plancie luvial representa um setor de diferenciao na Depresso Sertaneja, muito embora s haja escoamento luvial durante a estao chuvosa. Localizada na poro sudeste da propriedade, a plancie luvial representada pelo Riacho das Pedras.

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    Mapa 4: Unidades de relevo da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    3.1.3. Relevo

    A RPPN est dentro de cotas altimtricas que variam entre 250 m na poro norte da propriedade e 400 m no ponto mais alto, denominado como pico da Serra. Em direo ao Riacho das Pedras, a cota de 300 m de altitude.

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    Mapa 5: Planialtimtria da RPPN Ambientalista Francy Nunes. Altitudes variam entre 250 a 400m.

    3.1.4. Solos

    Em geral o solo da reserva bastante pedregoso (litlico), exceto em reas margeando o Riacho das Pedras, localizado fora da reserva, onde apesar de haverem muitas pedras soltas, o solo facilmente se revolve (Anexo 7 Mapa de solos). As classes de solo encontradas na RPPN so as seguintes:

    Luvissolos (bruno no clcicos) - solos rasos ou pouco profundos, de cores vermelhas ou avermelhadas, com textura argilosa e mdia. So solos frteis, porm com presena de pedregosidade e suscetibilidade eroso. Possuem boa capacidade para pecuria, lavoura de ciclo curto e pastagem, tendo limitaes pelo forte deicincia de gua (PEREIRA; SILVA, 2007).

    Neossolos Litlico (litlico eutrico) solos rasos, de textura arenosa ou mdia normalmente cascalhenta, com drenagem de moderada acentuada. comum possurem pedregosidade e/ou rochosidade na superfcie, sendo ainda encontrados em associaes com aloramento de rocha. Pode ter alta fertilidade natural, apresentando fortes limitaes ao uso agrcola, devido a suscetibilidade eroso,

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    pedregosidade, rochosidade, pouca profundidade, falta dgua e aos fatores declives das reas serranas gua (PEREIRA; SILVA, 2007). Abaixo tipos de solos que ocorrem na RPPN Ambientalista Francy Nunes:

    Mapa 6: Tipos de solos na RPPN Francy Nunes.

    3.1.5. Hidrograia

    A RPPN Francy Nunes est inserida na bacia do Curu (Anexo 8) localizada na poro noroeste do Estado do Cear, que possui uma rea total de 8.605 km e drena 15 municpios, totalizando uma populao de 353.345 habitantes, ou seja, aproximadamente 5% da populao total cearense (IBGE, 2001). Suas nascentes luviais esto localizadas na serra do Machado e atingem nveis altimtricos entre 700 a 800m (IPLANCE, 1989).

    O Curu, principal rio da bacia, possui um percurso de 195 km desde as nascentes at a foz, onde desgua no litoral oeste do Cear, entre os municpios de Paracuru e Paraipaba. Seus aluentes mais signiicativos so os que comportam as principais barragens da bacia: Frios, Caxitor e Tejuuoca, na margem esquerda, e Canind, Capito-Mor e Melancia, na margem direita.

    Os rios desta bacia dependem muito da regularidade das precipitaes pluviomtricas e caracterizada por rios intermitentes, pois, mesmo quando chove muito na estao chuvosa, o forte ndice de insolao produz a evaporao das guas com rapidez, deixando seco o leito dos rios e riachos.

    Devido a seu relevo acidentado e um solo com rpida absoro, a rea que delimita a RPPN no apresenta espelhos dgua expressivos, observou-se somente o leito de escorrimento das guas proveniente das chuvas. No entorno imediato da RPPN, dentro da propriedade, h trs corpos de gua: o Riacho das Pedras, um riacho intermitente com baixo luxo de gua, forma pequenos remansos de gua

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    parada no inal do perodo chuvoso que secam totalmente no perodo seco; um aude secundrio, mais antigo e inativado que quase chega a secar no perodo de estiagem e um aude principal construdo em 2005, que armazena grande quantidade de gua durante todo o ano, sendo a principal fonte hdrica disponvel tanto para a sede da propriedade, quanto para os animais no perodo seco (ANEXO 6).

    Figura 2: Riacho das Pedras, RPPN Francy Nunes, no inal do perodo chuvoso incio do seco.

    Figura 3: Pontos hdricos da RPPN Francy Nunes e de seu entorno.

    *Pontos hdricos da RPPN Francy Nunes e de seu entorno: Aude principal (pontos de coleta P 1 = S 4158.3 e WO 392919.60, P2 = S 4157.6 e WO 392918.50, P3 = S 4159.10 e WO 392919.21), Riacho das Pedras (P 4 = S 4 155.40 e WO 392931.80), Aude Secundrio (P5 =, S 4157.67 e WO 392946.26), Olho dgua extinto (P6 = S 4134.42 e WO 392917.93), Olho dgua remanescente (P7 = S 4123.71 e WO 392916.31).

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    Figura 4: Olho dgua prximo a RPPN Francy Nunes no perodo chuvoso de 2007.

    Todos os parmetros fsico-qumicos analisados (PH, salinidade, O2 dissolvido, CO2 dissolvido, amnia, nitritos, fosfatos, slica, condutividade, etc.) para as guas dos audes e riacho mostraram que essas fontes possuem boas condies de qualidade da gua para o desenvolvimento de organismos aquticos e os parmetros microbiolgicos (Coliformes Termotolerantes - Escherichia coli) esto dentro dos padres estabelecidos pela Resoluo CONAMA N 357/05, para as guas doces da Classe 2, bem como, pela Portaria 518/04 do Ministrio da Sade dos padres de potabilidade. As trs fontes analisadas apresentaram baixa diversidade planctnica, tanto ito quanto zooplanctnica, relexo da pouca lmina dgua do perodo de coleta.

    3.1.6. Vegetao

    A RPPN Ambientalista Francy Nunes apresenta lora e isionomia tpica de Caatinga. As plantas da Caatinga possuem estratgias variadas para suportar o dicit hdrico. A maioria das plantas arbustivas e arbreas perde ou elimina totalmente suas folhas, evitando a evapo-transpirao, enquanto que a maioria das herbceas morre (com ciclo de vida anual), deixando apenas um banco de sementes que germina com as primeiras chuvas de vero resultando em uma paisagem semirida, com rvores sem folhas e com bastante serrapilheira sob o solo.

    Figura 5: Variao anual da vegetao na RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    *Variao anual da vegetao na RPPN Ambientalista Francy Nunes. Acima, uma foto tirada no ms de maio, mostrando a exuberante vegetao de um dos serrotes protegidos pela RPPN; abaixo, uma foto da mesma paisagem tirada no ms de setembro, mostrando a vegetao j com poucas folhas.

    A estrutura da vegetao (densidade, estrutura vertical e diamtrica), varia pouco ao longo da RPPN, tendo sido encontradas reas tpicas de Savana Estpica sensu Veloso (1991) ou Caatinga sensu Figueiredo (1997) e formaes de maior porte, que embora se assemelhem Floresta Estacional Decidual sensu Veloso (1991) ou Mata Seca sensu Figueiredo (1997), possuam lora tpica de Caatinga,

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    sendo tambm consideradas como Savana Estpica.

    A sazonalidade pluviomtrica, com alternncia anual entre perodo seco e chuvoso, implica em adaptaes das espcies nativas sazonalidade climtica, envolvendo principalmente a caduciflia e ciclos de vida anuais, que conferem vegetao conspcuas alteraes ao longo do ano.

    Durante o perodo chuvoso, a vegetao apresenta-se bastante exuberante: o componente herbceo desenvolve-se rapidamente com as primeiras chuvas, preenchendo as clareiras e as margens das trilhas, atingindo at 2 m de altura, como no caso do bamburral (Hyptis suaveolens), sob insolao direta em reas de vegetao aberta; o componente arbustivo-arbreo encontra-se frondoso e a maioria das plantas (herbceas, arbustivas e arbreas) loresce durante esse perodo.

    Metodologia

    Para os estudos da vegetao foram percorridas duas longas trilhas no interior da RPPPN e realizadas parcelas para amostragem da vegetao onde foram armazenadas em sacos plsticos e posteriormente, prensadas para montagem de exsicatas. As amostras prensadas foram levadas ao Laboratrio de Fitogeograia da Universidade Federal do Cear, em Fortaleza, onde foram desidratadas em estufa. O material coletado foi montado em exsicatas, identiicado e tombado no Herbrio Prisco Bezerra (EAC) da Universidade Federal do Cear. Ao todo, foram coletadas 279 amostras de vegetais (rvores, arbustos, ervas e trepadeiras) com as quais foram registradas 177 espcies (herbceas, arbustivas, arbreas ou trepadeiras) pertencentes a 55 famlias (Anexo 16 ).

    Fisionomias e diversidade

    De um modo geral, a composio do componente herbceo incluiu camitos, geitos, teritos, hemicriptitos e lianas. O componente arbustivo-arbreo constitudo por nano e microfaneritos (altura entre 1 e 16 m) em geral, bastante ramiicados, com altura variando majoritariamente entre 3 e 5 m, com alguns indivduos de 8 ou 9 m (e.g. Myracrodruon cf. urundeuva - aroeira , Tabebuia sp.- pau darco, Ceiba glaziovii - barriguda), raramente excedendo 12 m.

    Em geral, as espcies inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes foram espcies freqentes e comuns em outros levantamentos feitos na Caatinga cearense (e.g. Mederios, 1995; Figueiredo et al., 2000) e tidas como tpicas para essa vegetao por obras de referncia cientica (Veloso et al., 1991; Leal et al., 2003).

    Essas espcies foram subdivididas de acordo com a freqncia e quantidade que foram encontradas na Reserva, a saber:

    Espcies comuns Foram consideradas espcies comuns aquelas que ocorreram em pelo menos 50% das parcelas de 100 m estudadas ou espcies que no atingiram os critrios mnimos para incluso no estudo itossociolgico, mas que foram amplamente observadas em vrias regies da RPPN (*), so elas:

    Alternanthera brasiliana (Amaranthaceae) - Cabea de velho Aspidosperma pyrifolium (Apocynaceae) Pereiro ou piti Auxemma oncocalyx (Boraginaceae) Pau-branco Bauhinia cf. cheilantha (Fabaceae) - Moror Caesalpinia bracteosa (Fabaceae) - Catingueira Cereus jamacaru (Cactaceae) - Mandacaru Cissus albida (Vitaceae) - Burdio Combretum leprosum (Combretaceae) - Mofumbo Capparis lexuosa (Brasicaceae) Feijo-bravo Helicteres heptandra (Malvaceae)

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    Ipomoea spp. (Convolvulaceae) - Trepadeira Justicia fragilis (Acanthaceae) Mimosa caesalpiniifolia (Fabaceae)- Sabi Streptostachys asperifolia (Poaceae) - Capim Tabebuia sp. (Bignoniaceae) - Pau darco Ziziphus joazeiro (Rhamnaceae)- Juazeiro Joo-Mole (Nyctaginaceae no identiicada)

    Duas espcies foram muito comuns durante o estudo: Bauhinia cf. cheilantha (moror) e Capparis lexuosa (feijo bravo), embora somente a ltima tenha ocorrido em todas as parcelas. Seis espcies foram comuns, com freqncia variando entre 50% e 60%: Auxemma oncocalyx (pau-branco), Combretum leprosum (mofumbo), Nyctaginaceae (espcie indeterminada), Tabebuia sp. (pau-darco), Croton blanchetianus (marmeleiro) e Mimosa caesalpiniifolia (sabi).

    Espcie mais abundantes foram C. lexuosa feijo-bravo (11,96%), seguida por A. oncocalyx - pau-branco (11,04%), Bauhinia sp. (8,59%), Bauhinia cf. cheilantha - moror (7,36%), M. caesalpiniifolia- sabi (7,06%) e C. blanchetianus - marmeleiro (6,75%). A abundncia das demais espcies decresce gradativamente de 4,29% a 0,31%. A forte expresso de A. oncocalyx - pau-branco, tanto em abundncia quanto em rea basal, comum no Cear, sendo sua dominncia tambm reportada por Figueiredo et al. (2000) para a Reserva da Serra das Almas (Crates).

    Espcies raras Consideradas as espcies que apresentaram baixa abundncia ou distribuio aparentemente restrita a habitats especicos de modo que foram encontradas em lugares especicos da reserva: Pilosocereus chrysostele (Cactaceae) - facheiro, Pithecoseris pacourinoides (Asteraceae) herbcea que ocorre em aloramento rochoso.

    Figura 6: Inlorescncia de Pithecoseris pacourinoides (Asteraceae).

    Espcies endmicas Espcie endmica aquela cuja distribuio restrita a determinado habitat ou regio geogrica um conceito relativo, que depende da escala em que se trabalha. Muitas espcies inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes so endmicas da Caatinga, porm de ampla distribuio no nordeste brasileiro, como Pithecoseris pacourinoides (Asteraceae). Nesta seo foram consideradas apenas as espcies endmicas do Cear: Auxemma oncocalyx (Boraginaceae) - pau-branco e Pilosocereus chrysostele (Cactaceae) facheiro.

    Espcies exticas So espcies que, geralmente por interveno humana, chegam a ecossistemas ou biomas dos quais no so nativas. No novo ambiente, algumas dessas espcies podem depender do homem para se reproduzir ou podem estabelecer populaes auto-suicientes, sem a necessidade da interveno humana (exticas estabelecidas). Foram encontradas 2 espcies exticas, estabelecidas durante o estudo: Calotropis procera (Apocynaceae) cime, algodo-de-seda ou lor de seda) e Cryptostegia grandilora (Apocynaceae) viuvinha-alegre, unha-do-diabo ou boca-de-leo, sendo esta considerada invasora.

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    Espcies invasoras Segundo o Programa Global de Espcies Invasoras GISP (Matthews, 2005), so espcies exticas que estabelecem populaes auto-sustentveis em regies das quais no so nativas e so capazes de avanar autonomamente sobre ecossistemas naturais ou degradados dessas regies, causando impactos sobre a biodiversidade Cryptostegia grandilora (Apocynaceae) viuvinha-alegre, unha-do-diabo ou boca-de-leo.

    Figura 7: Espcime de Cryptostegia grandilora no entorno da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    Espcies bioindicadoras So espcies cuja presena em determinado ambiente trs implicaes sobre seu estado ecolgico. As espcies bioindicadoras encontradas na RPPN Ambientalista Francy Nunes so, em geral, espcies pioneiras, que so abundantes ou dominantes em ambientes perturbados: a extica Calotropis procera (Apocynaceae) - cime, Croton blanchetianus (Euphorbiaceae) marmeleiro-preto, Senna unilora e Senna occidentalis (Fabaceae) mata-pasto.

    Figura 8: Flor de Senna unilora (esquerda) e fruto de Senna occidentalis (direita) espcies indicadoras da presena de gado.

    Espcies de importncia econmica Foram encontradas espcies de importncia econmica (madeira) na regio, embora no tenha sido registrado qualquer indcio de extrao de madeira para tais ins dentro da Reserva.

    Madeira nobre: Tabebuia spp. (Bignoniaceae) pau-darco, Myracrodruon cf. urundeuva (Anacardiaceae) - aroeira, Dalbergia cf. cearensis (Fabaceae) violete e Amburana cearensis (Fabaceae) - cumaru

    Lenha e carvo: Croton blanchetianus (Euphorbiaceae) marmeleiro-preto e vrias espcies do gnero Mimosa (Fabaceae)

    Espcies ameaadas de extino Espcies includas em listas oiciais de perigo ou ameaa de extino (IUCN, 2007 e MMA, 2008).

    Amburana cearensis (Fabaceae) cumaru Espcie de tronco caracterstico, com casca avermelhada, possui ampla distribuio geogrica (ocorrendo do norte do Brasil at a Argentina). Apesar de ser atualmente considerada pela IUCN (2007) como endangered (em perigo de extino), foi encontrada diversas vezes na RPPN Ambientalista Francy Nunes.

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    Mimosa caesalpiniifolia (Fabaceae) sabi Apesar de constar na lista da IUCN (2007) como vulnervel, uma espcie geralmente abundante na Caatinga, tendo inclusive sido enquadrada como uma das espcies mais comuns da RPPN Ambientalista Francy Nunes. (ver tpico espcies comuns).

    Myracrodruon cf. urundeuva (Anacardiaceae) aroeira Ocorre em vrios estados do Brasil e outros pases da Amrica do Sul. No nordeste, considerada como ameaada pelo Ministrio do Meio Ambiente (2008) somente para os estados do Maranho e Bahia; sendo tambm listada pela IUCN (2007) por haver dados insuicientes sobre suas populaes naturais. Apesar de sua identiicao ainda no ter sido conirmada pela falta de rgo reprodutivos durante as visitas RPPN, foi amplamente encontrada em vrias regies da reserva.

    Pilosocereus chrysostele (Cactaceae) facheiro Embora no esteja includa em nenhuma lista oicial de espcies ameaadas, essa espcie pouco conhecida no Cear. Os espcimes encontrados podem tratar-se de uma sub-espcie endmica do Cear (ver tpicos espcies raras e espcies endmicas). Como somente 3 indivduos vivos foram encontrados em toda RPPN e seu entorno, seu habitat parece ser restrito e a espcie pode estar ameaa de extino local. Contudo, so necessrios estudos populacionais com amostragem mais robusta para conirmar o estado dessa espcie na regio.

    Pilosocereus piauhyensis (Cactaceae) Espcie nativa do Piau, Cear e Rio Grande do Norte, foi listada pela IUCN (2007) como Near Threatened (Quase ameaada). Essa espcie no foi encontrada na RPPN nem em seu entorno (Fazenda Natlia), embora tenha sido encontrada na Fazenda Santa Glria (Municpio de General Sampaio, prxima Fazenda Natlia) e seja comum nas caatingas menos degradadas dos municpios de Caridade, Guaramiranga e adjacncias (M. O. T. Menezes, observao pessoal). Esta espcie, no tendo sido encontrada no interior da RPPN, pode ter sido localmente extinta da reserva e seu entorno imediato (uma amostragem mais abrangente necessria para conirmar essa situao).

    Pithecoseris pacourinoides (Asteraceae) Espcie tpica do Nordeste brasileiro (Mabberley, 2008), no listada em listas oiciais de perigo ou ameaa de extino. Contudo, sua distribuio parece ser restrita dentro da RPPN e sua populao, pouco abundante (ver tpico espcies raras), podendo estar em perigo de extino local. Assim como P. chrysostele, essa espcie necessita de mais estudos para conirmar sua situao como ameaada ou no no local.

    A lista completa de todas as espcies vegetais inventariadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes encontra-se no Anexo 16.

    Paisagem e Estagio Sucessional

    O estgio sucessional da RPPN varia entre mdio e avanado, apesar de serem encontradas espcies relacionadas a estdios iniciais e mesmo a reas antropizadas, como o caso das reas atingidas pelas queimadas e por cortes seletivos no passado.

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    Mapa 7: Estgio sucessional na RPPN Francy Nunes.

    Principais ameaas a lora da RPPN

    Durante o estudo foram constatadas 4 fontes de alterao ou degradao ambiental na RPPN e em seu entorno: o fogo (queimadas ou incndios lorestais), corte de rvores ou mesmo desmatamento, o pastoreio (gado caprino, ovino e bovino) e a bioinvaso. A seguir, uma sucinta descrio dos impactos e seus respectivos efeitos sobre a biodiversidade.

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    Figura 9: esquerda, foto na estao seca com rvore cada e a clareira deixada pelo fogo no interior da reserva. direita, extrao de madeira para produo de carvo no entorno

    imediato da reserva.

    Permanente risco de fogo e incndio lorestal presena de fogo, segundo relatos de um morador da regio, os incndios lorestais que ocorrem na rea so iniciados por caadores, que fazem fogueiras na mata e as abandonam ou perdem o controle do fogo, que se espalha pela regio. O fogo pode causar intensas perturbaes ecolgicas. Afeta principalmente plntulas, ervas e trepadeiras causando sua morte, e em situaes mais severas, pode chegar a derrubar rvores de grande porte, criando grandes clareiras.

    Corte de rvores/extrao de madeira rvores, arbustos e trepadeiras so cortados para abertura de trilhas, acampamentos (caadores), obteno de madeira, lenha, carvo e construo de cercas. Dentro da RPPN foi constatado somente o corte para abertura de trilhas e acampamentos (locais de pernoite) de caadores, mas as demais atividades foram constatadas no entorno.

    Presena de animais de criao A pecuria praticada nas fazendas do entorno da RPPN predominantemente extensiva: o gado solto e geralmente tem acesso todo o terreno de seu proprietrio. Em busca do pasto, o gado abre trilhas (tanto pela herbivoria quanto pelo pisoteio). medida que vai se locomovendo e se alimentando, promove a disperso de sementes epizoocricas e reduz a biomassa do estrato herbceo (ervas e plntulas). Essa perturbao altera a dinmica desse estrato em curto ou mdio prazo, podendo modiicar o padro itossociolgico natural das ervas; e altera a dinmica populacional de rvores e arbustos a mdio ou longo prazo (devido ao consumo de suas plntulas). Alm do gado a criao de caprivos soltos pastando nas matas tambm bastante forte na regio.

    Figura 10: Gado bovino (esquerda) e caprino (direita) pastando no entorno oeste da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    Presena de espcies exticas Foram registradas duas espcies exticas na RPPN Ambientalista Francy Nunes: Calotropis procera (cime, lor de seda, algodo de seda) e Cryptostegia grandilora

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    (boca de leo, viva alegre), ambas espcies estabelecidas no Nordeste do Brasil, com o diferencial que C. procera no invasora, desenvolvendo-se apenas em reas muito degradadas; enquanto que C. grandilora tornou-se invasora da caatinga (Souza & Lorenzi, 2008).

    3.1.7. Fauna

    Herpetofauna

    Metodologia

    Foi realizado um levantamento bibliogrico sobre a herpetofauna presente no Bioma Caatinga para o levantamento de dados secundrios. Infelizmente, so poucos os trabalhos de levantamento da herpetofauna das caatingas, praticamente restringindo-se ao levantamento geral apresentado por Rodrigues (2003) e aos dados levantados pelo Projeto Biodiversidade com reas nos estados do Cear (RPPN Serra das Almas) (Borges-Nojosa & Cascon, 2005), da Paraba (Parque Estadual Pedra da Boca) (Arzabe et al., 2005) e de Pernambuco (RPPNs Maurcio Dantas e Cantidiano Valgueiro) (Borges-Nojosa & Santos, 2005).

    A metodologia utilizada para o levantamento preliminar in locu da herpetofauna constou das seguintes atividades: Armadilhas de Queda (Pitfalls), Buscas Ativas, Transectos Visuais, Observaes e Informaes adicionais dos moradores locais.

    Resultados

    A amostra total realizada na RPPN foi composta por 407 espcimes observados, sendo 183 anfbios e 224 rpteis representando uma diversidade de 16 espcies de anfbios distribudas em sete famlias de duas ordens e 33 espcies de rpteis distribudas em sete famlias de lagartos (15 spp.) e quatro de serpentes (18 spp.) a listagem completa est no Anexo 17. Os dados em conjunto, abrangendo tanto anfbios como rpteis, so relevantes por mostrarem mais um levantamento para o Bioma Caatinga.

    A herpetofauna presente na Reserva Francy Nunes apresenta caractersticas tpicas de ambiente seco, correspondendo ao esperado para as reas de caatinga. A maioria das espcies de ampla distribuio, embora seja possvel registrar espcies endmicas do Bioma Caatinga, como o sapo Pleurodema diplolistris e os lagartos Briba brasiliana, Hemidactylus agrius, Lygodactylus klugei e Tropidurus semitaeniatus. No foram identiicadas espcies ameaadas de extino, nem casos de novos registros para o Estado do Cear.

    ESPCIES DA HERPETOFAUNA ENCONTRADAS NO LEVANTAMENTO

    Figura 11: Calanguinho de rabo azul (Micrablepharus maximiliani), esquerda.

    Figura 12: Falsa Coral (Oxyrhopus trigeminus), direita.

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    Figura 13: Pleurodema diplolistris (foto: Renato Gaiga), esquerda.

    Figura 14: Briba brasiliana (foto: Renato Gaiga), direita.

    Figura 15: Hemidactylus agrius, esquerda.

    Figura 16: Lygodactylus klugei, direita.

    Figura 17: Tropidurus semitaeniatus (foto: Rich Hoyer).

    Em toda a RPPN Francy Nunes, as espcies mais abundantes e freqentes foram os anfbios Proceratophrys cristiceps (72 exemplares) e Rhinella granulosa (35 exemplares), e os lagartos Tropidurus hispidus (72 exemplares) e Cnemidophorus ocellifer (64 exemplares). Entre as serpentes, Philodryas nattereri foi a mais abundante e freqente.

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    Figura 18: Lagarto (Tropidurus hispidus) esquerda, Sapo boi (Proceratophrys cristicep) ao centro e largatixta (Cnemidophorus ocellifer) direita espcies mais abundantes e

    frequentes encontradas na RPPN.

    Tabela 4: Valores sobre a riqueza e abundncia da herpetofauna da Fazenda Natlia e RPPN Francy Nunes durante o perodo do maio/2007 a junho/2008.

    Txon Diversidade / AbundnciaPontos

    1-Riacho 2-Morrinho 3-Cerca 4-Vale OutrosRiqueza (no. espcie)

    ANFBIOS 7 Famlias 16 spp 14 6 2 4 1LAGARTOS 7 Famlias 15 spp. 5 9 9 8 12SERPENTES 4 Famlias 18 spp. 4 1 3 2 13TOTAL (16 anfbios + 33 rpteis = 49) 23 16 14 14 26

    Abundncia (exemplares)ANFBIOS 183 exemplares 100 61 5 16 1LAGARTOS 198 exemplares 45 66 44 41 2SERPENTES 26 exemplares 4 1 4 3 14TOTAL (183 anfbios + 224 rpteis = 407) 149 128 53 60 4

    A riqueza da RPPN Francy Nunes observada foi razovel, mas quando comparada com outras reas anteriormente estudadas nos estados do Cear, Paraba e Pernambuco, apresenta nmeros superiores. Porm, preocupa a aparente ausncia de espcies tpicas das caatingas que no foram observadas, como os anuros Leptodactylus fuscus, Dendropsophus microcephalus e a serpente Helicops leopardinus, conhecida como cobra dgua ou jararaca dgua. Pelos dados atuais, no possvel saber se o esforo foi baixo ou a degradao ambiental seria a principal causa. Porm, indica-se que seja realizada a continuidade no levantamento da herpetofauna.

    Ameaas a Herpetofauna

    A rea que apresentou maior riqueza de espcies encontra-se no entorno imediato da reserva, porm fora da rea protegida pela RPPN, nas proximidades do Riacho das Pedras. Uma das aes de proteo que se deve priorizar, especialmente para a herpetofauna, considerar a ampliao da rea da reserva para incluir pelo menos algum trecho do Riacho no seu domnio, ou manter aes permanentes de conservao do riacho.

    Avifauna

    Metodologia

    A pesquisa foi realizada na propriedade onde se encontra a RPPN, no interior da RPPN, bem como em seu entorno. O levantamento foi baseado em registros visuais e auditivos, auxiliados pelo uso de binculos e emisso oportuna de sons de espcies de ocorrncia presumvel. Sempre que possvel, os

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    contatos com as aves foram documentados atravs de fotograias e gravaes de sons diagnsticos. Uma lista das espcies foi composta conforme a nomenclatura proposta pelo Comit Brasileiro de Registros Ornitolgicos (2007). Duas reas prximas foram satisfatoriamente inventariadas, a fazenda Cana, no municpio de Pentecostes, e a reserva Me da Lua, no municpio de Itapaj (ver Redies 2008). A comparao crtica das trs listagens indica que foram levantadas cerca de 90% das espcies de aves da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

    Resultados

    O bioma Caatinga tem cerca de 350 espcies de aves, excetuando-se a fauna das serras midas. Este total representa um quinto das espcies de aves brasileiras, todavia, a vegetao da caatinga no homognea, assim como sua avifauna respectiva. A microrregio do mdio Curu originalmente revestida de caatinga (com inluncia de matas secas associadas s serranias), onde se encontra a RPPN Ambientalista Francy Nunes, indicando com isso que h heterogeneidade das espcies encontradas.

    Foram identiicadas 124 espcies de aves na rea de estudo (Anexo 18), das quais 44 tiveram seu canto gravadas. Duas so consideradas ameaadas de extino, segundo o Ministrio do Meio Ambiente, 2003, sendo estas o jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca) e o pica-pau-ano-da-caatinga (Picumnus limae), cujos status respectivos so Vulnervel e Em Perigo.

    Figura 19: Jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca), esquerda.

    Figura 20: Pica-pau-ano-da-caatinga (Picumnus limae), direita.

    Uma das aves encontradas, o corujo (Pulsatrix perspicillata) no consta na lista de aves da caatinga (Pacheco 2004), devendo ocupar mais ambientes do que se conhece atualmente, sendo provvel que dependa da mata seca das serras para se manter na regio. Assim como o corujo, uma espcie de gavio (Buteo nitidus) comum em serras midas do Cear tambm ocorre fora delas prximo de serras secas (i.e. Pedra Branca, Olmos et al. 2005), entretanto, caso ocorra na depresso sertaneja, seria em densidade inferior.

    Um registro importante foi o do gavio (Accipiter bicolor), uma espcie lorestal, cujo nico e ltimo registro no Estado foi em 1926 por Snethlage. A ausncia de determinadas espcies aquticas (patos, galinhas-dgua, etc.) deve-se aos poucos ambientes lacustres, contudo, outras aves como o arapau-do-nordeste (Xiphocolaptes falcirostris), o canrio-da-terra (Sicalis lavela), o pintassilgo (Carduelis yarrellii) e o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) provavelmente sumiram devido degradao histrica da paisagem e ao trico de animais silvestres, dirigido especiicamente s trs ltimas delas. Outras espcies tm ausncia aparentemente natural, como o farinheiro (Myrmorchilus strigilatus), sendo comum em reas de caatinga na depresso sertaneja ao sul da rea de estudo.

    O jacu-verdadeiro a nica espcie da lista que foi includa a partir de entrevistas, considerando sua raridade e importncia. Outras aves de ocorrncia sugerida em entrevistas no foram includas

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    na listagem, como o urubu-rei (Sarcoramphus papa), o gavio-p-de-serra (Buteo melanoleucus) e o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), sendo este ltimo indicado para o municpio de Tejuuoca. 19 espcies foram encontradas apenas em 2007, enquanto outras 19 somente em 2008, contudo, isto no relete necessariamente uma associao aos perodos secos e chuvosos, e nesse sentido, pelo menos 15 espcies foram consideradas migratrias da regio.

    Ameaas a Avifauna

    Em relao s ameaas locais, 13 espcies estariam mais sujeitas caa e outras 11 ao trico de animais silvestres (tabela abaixo). Aproximadamente 36 aves encontradas na rea de estudo prestam relevantes servios de polinizao e disperso vegetal (funcionando como plantadores de mata), enquanto outras 65 controlam insetos.

    Tabela 5: Avifauna ameaada na RPPN Francy Nunes.

    Qde Espcie Nome local Nome em Portugus Ameaa

    13

    Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) nambu-p-encarnado inhambu-choror

    caa

    Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) nambu-p-roxo inhambu-chint

    Nothura boraquira (Spix, 1825) codorniz codorna-do-nordeste

    Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) patarrona p-vermelho

    Penelope jacucaca Spix, 1825 VU jacu-verdadeiro jacucaca

    Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) caro caro

    Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) trs-potes saracura-trs-potes

    Neocrex erythrops (Sclater, 1867) pai-lus turu-turu

    Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) galinha-dgua-azul frango-dgua-azul

    Cariama cristata (Linnaeus, 1766) sariema seriema

    Claravis pretiosa (Ferrari-Perez, 1886) rola-azul pararu-azul

    Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) avoante pomba-de-bando

    Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti juriti-pupu

    11

    Aratinga cactorum (Kuhl, 1820) periquito-do-serto periquito-da-caatinga

    trico

    Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) canco gralha-canc

    Turdus ruiventris Vieillot, 1818 sabi-gong sabi-laranjeira

    Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 sabi-bico-de-osso sabi-poca

    Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) bigodeiro bigodinho

    Sporophila albogularis (Spix, 1825) gola golinho

    Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) campina cardeal-do-nordeste

    Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823) bicudo azulo

    Procacicus solitarius (Vieillot, 1816) bom- irana-de-bico-branco

    Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) corrupio-preto encontro

    Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) corrupio corrupio

    AVES SUSCETVEIS AO TRFICO

    Figura 21: Bigodeiro (Sporophila lineola), esquerda.

    Figura 22: Campina (Paroaria dominicana), direita.

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    Figura 23: Canco (Cyanocorax cyanopogon), esquerda.

    Figura 24: Corrupio (Icterus jamacaii), direita.

    AVES SUSCETVEIS CAA

    Figura 25: Patarrona (Amazonetta brasiliensis), esquerda.

    Figura 26: Pai Lus (Neocrex erythrops), direita.

    Figura 27: Avoante (Zenaida auriculata), esquerda.

    Figura 28: Codorniz (Nothura boraquira), direita.

    Mastofauna

    Metodologia

    Para o levantamento da mastofauna da regio foram aplicados quatro mtodos complementares de amostragem: armadilhas do tipo gaiola; busca ativa; armadilha de interceptao e queda e entrevistas. Para o levantamento de morcegos foram utilizadas redes de neblina para captura, busca ativa e entrevistas. Tambm foram realizados registros de quatro espcies por carcaas ou peles antigas, devido a isto estas no foram contabilizadas nas estatsticas de diversidade de espcies.

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    O levantamento da fauna de mamferos na RPPN ocorreu em duas etapas: a primeira foi realizada no im do perodo chuvoso (maio de 2007) e a segunda campanha no perodo seco (julho de 2008). Para cada indivduo capturado, foi registrado um nmero de campo individual alm da data de captura, o ponto de amostragem onde foi capturado, as medidas biomtricas, aferida a massa, fase etria e sexo.

    Espcimes testemunhos coletados tiveram seu esqueleto, crnio e pele preservados e esto depositados na coleo Mastozoologica da Universidade Federal de Pernambuco, conforme licena do IBAMA 14832-1/2008. Alm disso, amostras de tecidos musculares e do fgado foram preservadas em lcool 70GL.

    Para a anlise da riqueza de espcies foram utilizados os ndices estimadores de riqueza Jackknife 1 e 2 ordem, ACE, ICE, CHAO1, CHAO2 e Boostrap (COLWELL, 2005). As espcies foram classiicadas seguindo a taxonomia de Wilson & Reeder (2005), com exceo das espcies de pequenos marsupiais que seguiram a nomenclatura sugerida por Voss et al. (2005).

    Resultados

    Foram identiicadas 40 espceis de mastofauna para a Reserva (Anexo 19), sendo trs consideradas ameaadas segundo MMA (2003), todas na categoria VULNERVEL, o gato maracaj-assu (Leopardus pardalis), a ona parda (Puma concolor) e o gato-do-mato (Leopardus tigrinus) tambm considerado ameaado na mesma categoria segundo a lista vermelha da IUCN (2008). O moc (Kerodon rupestris) a nica espcie considerada como endmica do Bioma Caatinga, porm apontada por moradores locais como extinta na regio. Nenhuma espcie registra considerada como de distribuio restrita.

    Um dado importante, foi o registro do morcego Mimon crenulatun, quirptero registrado apenas duas vezes para o bioma Caatinga (Mares et al. 1981; Vieira, 1942) e sendo, atravs desse levantamento, o primeiro registro para o Cear.

    Os resultados de abundncia de espcies mostram uma dominncia do morcego-vampiro e do cassaco, estas so espcies consideradas ruderais, ou seja, estas se beneiciam de alteraes ambientais causadas pela ao antrpica. O morcego-vampiro foi favorecido com a introduo de espcies exticas, como o gado que ao ser trazido para a regio provocou um forte aumento na populaes desta espcie. J o cassaco grande freqentador de reas degradadas com vegetao secundria. Estes resultados indicariam a rea como sendo em recuperao e dominada por espcies comuns em reas degradadas, porm a preesena do morcego M. crenulatum, espcies que tida como rara e indicadora de reas bem conservadas, indique que a rea possa estar em um estgio de recuperao intermedirio, o que possibilitou o aparecimento tanto de espcies ruderais como de espcies raras ou que a rea est em um nvel inicial de recuperao, porm abrigue ilhas de reas mais conservadas que esto disseminando espcies raras em seu entorno.

    Figura 29: Catita (Gracilinanus agilis), esquerda.

    Figura 30: Rabo-de-lpis (Monodelphis domestica), direita.

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    Figura 31: Morcego (Mimon crenulatun).

    Figura 32: Raposa (Cerdocyon thou), esquerda.

    Figura 33: Caititu (Pecari tajacu), direita.

    Ameaas

    Onze das espcies registradas na RPPN Francy Nunes (mais de 25% das espcies) tm como principal ameaa a caa, sendo que duas destas so tidas como extintas localmente por este motivo. Cinco espcies so freqentemente abatidas por moradores devido a conlitos com as atividades de agricultura, pecuria e avicultura, pois so predadores de cabras, galinhas ou se aproveitam das culturas vegetais para se alimentar. O restante sofre com a perda de habitat de acordo com seus diferentes nveis de exigncia ecolgica, por exemplo, o cassaco, adaptvel a quase todos os ambientes criados pelo homem, j o papa-mel (Eira barbara) tem maiores exigncias ecolgicas e precisa de um ambiente equilibrado para se perpetuar. Devido perda de habiat o papa-mel considerado extinto na regio.

    3.1.8. Geoprocessamento

    Metodologia

    Foram utilizadas diversas tcnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, para se chegar ao zoneamento da unidade, cuja base foi uma anlise integrada dos diversos fatores que compem a paisagem ode est inserida a RPPN.

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    A anlise multicritrio em ambiente SIG Sistema de Informao Geogrica -permitiu uma anlise integrada dos diversos fatores fsico, bitico e antrpico, abordando a regio como um sistema composto por mltiplas variveis que se relacionam entre si e com outros sistemas, sendo a metodologia dividida em trs etapas:

    1 Etapa: Elaborao do SIG Base - unio em ambiente SIG de todas as bases cartogricas da regio. As informaes foram adequadas para o Datum SAD69 e projeo UTM zona 24 sul e o SIG elaborado com base nas seguintes fontes:

    Sedes Municipais (Fonte: ATLAS CPRM, 2003); Localidades (Fonte: ATLAS CPRM, 2003); Sistema Rodovirio (Fonte: IPECE, 2008); Limite Municipal (Fonte: IPECE, 2008); Hidrograia Regional (Fonte: SRH, 2008); Clima (Fonte: FUNCEME) Geologia (Fonte: ATLAS CPRM, 2003); Solos (Fonte: IDACE, 1988); Indicadores Sociais (Fonte: IPECE, 2008); reas Prioritrias PROBIO (Fonte: MMA 2007); Imagem Orbital do Satlite Landsat-5 de 14/07/2006; (Fonte: INPE) Imagem Orbital do Satlite Ikonos de 02/09/2009 (Fonte: Adquirida pelo Projeto). Modelo Digital de Elevao MDE, elaborado atravs de topograia por radar (Shuttle Radar Topog-

    raphy Mission SRTM), projeto internacional liderado pela NASA/EUA.

    2 Etapa: Gerao dos Planos de Informao - Com as informaes no SIG, diversas tcnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento foram utilizadas para gerar treze Planos de Informao:

    1. Localizao e Acesso - utilizado como base o Atlas da CPRM do ano de 2003 e a malha viria mapeada pelo IPECE.

    2. Clima - elaborado a partir do mapeamento elaborado pela Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos FUNCEME.

    3. Geologia - elaborado a partir do mapeamento na escala de 1: 500.00 elaborada pela CPRM e publicado no Atlas Geolgico do Estado do Cear em 2003.

    4. Geomorfologia - interpretao do relevo com base em um MDE - Modelo Digital de Elevao, elaborado atravs de topograia por radar (Shuttle Radar Topography Mission SRTM), projeto internacional liderado pela NASA/EUA.

    5. Altitude - interpolao do MDE SRTM da NASA atravs de um TIN Triangular Irregular Network.

    6. Solos - utilizado o mapa do Zoneamento Agrcola do Estado do Cear (1988).

    7. Hidrograia - utilizada a extenso do software ArcGis 9.3 denominada de Arc Hydro Tools, que traa a drenagem de acordo com a topograia local, com base em um arquivo grid de elevao, foi utilizado o MDE SRTM da NASA para gerar a drenagem supericial com base no relevo com interpretao da imagem orbital do satlite Ikonos.

    8. Unidades Fitoecolgicas - recorte do mapeamento das itoisionomias mapeadas pela FUNCEME escalonadas de acordo com o estgio de regenerao obtido a partir do clculo de um ndice de vegetao, denominado NDVI, aplicado sobre uma imagem Landsat-5 de 14/07/2006.

    9. Vegetao - elaborado atravs da classiicao supervisionada da imagem orbital do satlite Ikonos de 02/09/2009 com base em amostras identiicadas em campo. O classiicador utilizado foi o Battacharya que o algoritmo disponvel no SPRING para classiicar regies de uma imagem segmentada.

    10. Conectividade - Realizado o clculo de um ndice de vegetao NDVI, sobre a imagem Landsat-5 de

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    14/07/2006 e sobre a imagem do satlite Ikonos de 02/09/2009.

    11. Indicadores Sociais - espacializao dos dados estatsticos de ndice de Desenvolvimento dos Municpios Cearenses disponibilizado pelo IPECE em 2006.

    12. Comunidades de Entorno - realizado o georreferenciamento in-loco com uso de um receptor GPS.

    13. reas Prioritrias do PROBIO - elaborado com base no Mapa de reas Prioritria do PROBIO aprovado pela deliberao do CONABIO N 46, de 20 de dezembro de 2006 e reconhecidas mediante Portaria MMA n 9, de 23 de janeiro de 2007.

    3 Etapa: Zoneamento - De posse das informaes geradas na etapa anterior foi possvel realizar uma anlise integrada destes fatores para gerar o zoneamento da unidade. Sendo este um instrumento voltado para o planejamento da reserva, proporcionando parmetros e referncias para uma reavaliao permanente do processo de planejamento.

    Resultados

    A partir dos estudos foram gerados 15 mapas que compem este plano de manejo:

    1. Acesso 2. Clima3. Geologia4. Geomorfologia 5. Altitude 6. Limnologia7. Solos 8. Hidrograia9. Cobertura vegetal 10. Vegetao 11. Indicadores Sociais12. Comunidades do entorno13. Possibilidade de Conectividade14. reas prioritrias do Probio15. Zoneamento

    Como a RPPN no possua demarcaes fsicas e o proprietrio no sabia informar os limites exatos no campo, foi necessrio fazer o georreferenciamento da rea, j que a escritura tambm no trazia os pontos georreferenciados, foram indicados no campo alguns dos limites da RPPN, para posterior insero de marcos pelo proprietario.

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    Figura 34: Demarcao do incio do limite da RPPN pela equipe de georreferenciamento.

    Figura 35: esqueda, levantamento dos pontos georreferenciados para elababorao dos mapas.

    Figura 36: direita, sugesto de marco para delimitao da RPPN.

    3.1.9. Aspectos Histricos E Culturais

    DA RPPN

    No foram identiicados na RPPN ou entorno imediato dos stios histricos, paleontolgicos e/ou arqueolgicos. Apenas foram identiicados dois locais na Reserva utilizados para prticas msticas e religiosas, sendo uma delas o Bico Alto que possui um pequeno altar com uma santa, onde as pessoas, especialmente os moradores da Fazenda Cana Verde, freqentam para rezas da religio catlica e outro um local demarcado com cerca e um cruciixo, representando um tmulo de um caador que morreu no interior da propriedade por um acidente com a arma. O corpo do caador no se encontra enterrado no local, porm os falimiares o visitam no dia dos inados para oraes.

    Como os proprietrios pertencem religio evanglica, onde no so aceitos santos e adorao de imagens, a presena do altar no Bico Alto representa uma atividade de conlito entre os propreitrios e os devotos vizinhos.

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    Figura 37: esquerda, Santo e pequeno altar encontrado no Pico Alto.

    Figura 38: direita, inscries em rvore encontrada prximo ao limite entre as propriedades.

    DO ENTORNO

    A RPPN est localizada nos limites de 3 municpios: General Sampaio, Tajuuoca e Apuiars. Esse fato representa uma grande oportunidade para a RPPN, pois poder envolver os 3 municpios na conservao da unidade, alm de seus aspectos histricos e peculiaridades para incrementar a visitao e o turismo na RPPN. Abaixo um breve histrico dos trs municpios:

    General Sampaio

    Localizado as margens do rio Curu, as terras de General Sampaio eram habitadas pelos ndios Apuiars. Com a colonizao via as semarias, na poca da implantao da pecuria, surge uma fazenda e um pequeno povoado, que at 1904 no passava de quatro casas, denominado Stio Bom Jesus, Arraial do Bom Jesus ou Boqueiro da Me Teresa. Com a grande seca que assolou o Cear em 1932, deu-se incio a construo da barragem do Aude General Sampaio. Esta obra atrai milhares de pessoas, logo formou-se um grande acampamento, ao mesmo tempo em que o DNOCS construa suas casas de alvernaria, dando um impulso urbano para o local, contudo as escavaes para a fundao do aude desencadearam uma epidemia que dizimou muitas pessoas, os trabalhadores encarregado pelos sepultamentos chegaram a deixar os corpos no caminho do cemitrio para enterrar no dia seguinte.

    O aude foi inaugurado em 1935, poca o maior aude do Cear. O nome do aude passa a ser tambm o da localidade. General Sampaio uma homenagem ao soldado cearense Antnio Sampaio, morto na guerra do Paraguai e patrono da infantaria do exrcito Nacional. Sua elevao categoria de distrito ocorreu segundo lei n 1.156, de 4 de dezembro de 1933. Sua elevao categoria de municpio ocorreu conforme Lei n 3.338, de 15 de setembro de 1956, tendo sido instalado a 1 de maro de 1957.

    No aude, hoje, so desenvolvidas atividades de criao de tilpia, h um balnerio e casas antigas da poca da construo do aude, onde moraram os engenheiros responspaveis pela obra, com potencial para o turismo local.

    Fonte: Site da Prefeitura se General Sampaio, IBGE e Wiikipdia

    Tejucuoca

    Na lngua Tupi-Guarani, Tejuuoca quer dizer morada de Tejo ou morada do Tejua. Uma espcie de lagarto muito comum na regio. Da, o nome de um dos municpios mais jovens do Cear.

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    Os moradores da Serra da Catarina que eles chamam Catirina em Tejuuoca a 155 quilmetros de Fortaleza, tem uma histria interessante para contar sobre a localidade dizem que, no comeo do sculo existia pelas bandas de Irauuba, um coronel chamado Pedro Barroso Valente. Quando Barroso queria eliminar um jaguno ou algum a pedido de amigos, enviava essa pessoa para a Serra da Catarina, com um bilhete no bolso ordenando sua morte. Como os jagunos no sabiam ler pensavam que se tratava de uma carta de recomendao para trabalhar. Aps o assassinato, o corpo era enterrado entre as grutas, da surgiu o nome de furna dos ossos.

    Lenda ou no, o certo que a serra da Catarina a 10 quilmetros da sede do municpio virou atrao para estudiosos, arquelogos e tambm local de romarias. Muitos vo pagar promessas em uma das cavernas, onde, h 45 anos foi colocada uma imagem de Nossa Senhora das Graas, e mais recente, foi feito um pequeno altar para Nossa Senhora Aparecida.

    Distrito criado com a denominao de Tejuuoca, por ato estadual de 19-08-1818, subordinado ao municpio de So Francisco. Em diviso administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de Tejuuoca, igura no municpio de So Francisco. A diviso territorial atual e datada de 17-I-1991, o municpio constitudo de 2 distritos: Tejuuoca e Caxitor.

    A agropecuria e o comrcio movimentam a economia da cidade. O Bode uma das principais criaes, onde h uma feira o Tejubode, inicialmente para comercializao dos animais e hoje uma grande atrao com shows, praa de alimentao, vendas de souveniers, que movimenta o turismo no municpio.

    Na parede do aude do boqueiro h um ponto onde a sada da gua controlada formando uma cachoeira e ao seu p um bar simples que vende tilpia frita, onde os moradores frequentam.

    Fonte: IBGE

    Apuiars

    Em suas relaes toponmicas, traduz-se por homenagem aos primitivos tapuias cujo signiicado etimolgico traduz-se pela decomposio do substantivo apu (raiz) e o predicativo iar (gosto de fruta), donde se obtm raiz que tem sabor de fruta. Possui dois distritos: Vila Soares e Canafstula, criados pelas Leis 6445 e 6446 de 21 de julho de 1963.

    O Municpio de Apuiars localizado na Mesorregio do Mdio Curu. Suas razes datam do Sculo XIX, com a denominao de Arraial do Jacu. Criou-se o distrito de Paz consoante Lei no. 1153, de 24 de novembro de 1864, j existindo na oportunidade considervel nmero de habitantes. Seus primitivos habitantes foram os ndios Apuiars, tapuias que habitavam a faixa de transio litornea ao longo do rio Curu e eram tidos como indomveis, infensos ao trato com os brancos e at mesmo como outras naes vizinhas.

    Em 1911, Arraial do Jacu igurava como distrito de Pentecoste na Diviso Administrativa do Brasil. Em 1946 ganhou a denominao atual, APUIARS (raiz com sabor de frutas). No dia 02 de fevereiro de 1946, passou a ser Parquia de So Sebastio pelo decreto N 32. Assinado por Dom Antnio de Almeida Lustosa e seu primeiro proco foi Antonio da Silveira Paixo.

    Na poca em que foi elevado a distrito o Arraial j possua a sua capela, tendo como patrono so Sebastio e como assistente religioso o Padre Manuel Ribeiro, sendo a mesma ilial da Matriz de Canind. O Paroquiato foi criado em 2 de Fevereiro de 1946, envolvendo as Freguesias de General Sampaio e Tejuuoca.

    Com a criao do Distrito de Pentecoste, em 1869, o Arraial do Jacu perdeu os seus privilgios distritais, vindo a recuper-los em menos de um ano aps o fato (Lei 1.330, de 10 de Outubro de 1870).

    Em 1956, com a Lei N 3.338, de 19 de maio, veio, juntamente com o distrito de General Sampaio, formar o Municpio deste mesmo nome, vindo a emancipar-se em seguida, com o nome atual, de acordo com a Lei no. 3.529, de 25 de janeiro de 1957, ocorrendo sua instalao a 1 de Maro do mesmo ano.

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    Fonte: Site Oicial da Prefeitura Municipal de Apuiars

    3.1.10. Visitao

    Em funo da topograia acidentada da rea da reserva e da distancia da sede da propriedade Reserva, 10 Km de caminhada por dentro da mata em terreno pedrogoso, a visitao a rea da Reserva no uma atividade realizada at o momento. Foram identiicadas apenas atividades de visitao e educao ambiental no entorno na reserva, nas imediaes da sede da propriedade. As atividades desenvolvidas at o presente momento foram voltadas para a educao ambiental da comunidade do entorno por meio de cursos de: multiplicadores Ambientais, Apicultura e Produo de Mudas. Alm disso, foram programadas e realizadas visitas de estudantes de colgios pblicos e concurso de fotograia de natureza.

    A visitao de escolas e outros grupos so realizados de forma espordica na propriedade, em uma trilha improvisada pelos prorpietrios chamada de trilha do forno que passa pelas estruturas antigas da propiedade (velho aude e casa de taipa) e mata em estado inicial de recuperao, culminando em um forno que era utilizado para a produo de carvo.

    Tabela 6: principais potenciais recreativos, interpretativos e culturais identiicados na RPPN e propriedade.

    Na rea da RPPN foram identiicados trs atrativos: o conjunto de Barrigudas (Ceiba glaziovii), o Mirante do Bico Alto e o Mirante de Pedra. H uma trilha que sai da sede da reserva e percorre o caminho que o gado fazia dentro da propriedade essa trilha foi extendida para os estudos do plano de manejo at o bico alto, tendo a extenso total de 10 km e culminando no ponto mais alto da unidade com 479 m de altitude, com uma vista privilegiada do vale do Curu. Ao longo dessa trilha, possvel observar grande parta da biodiversidade da reserva, passando por barrigudas e outras rvores de grande porte. A apartir do Bico Alto, o ponto mais elevado da RPPN, h uma outra trilha que liga o mirante do Bico Alto ao Mirante da Pedra.

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    Mapa 8: Trajeto da trilha a partir da sede, futuro centro de visitantes, que conduz aos trs atrativos na RPPN: conjunto de Barrigudas (Ceiba glaziovii), Mirante do Bico Alto e Mirante

    de Pedra.

    Figura 39: Barrigudas encontradas na RPPN ao longo da trilha principal.

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    Figura 40: Vista do Bico Alto, ponto mais alto da regio presente no interior da RPPN.

    Figura 41: Vista do mirante de pedra.

    Essas trilhas so na verdade uma picada aberta na mata de maneira improvisada, sem plenjamento de traado. No h nenhum tipo de sinalizao ou infraestrutura de segurana ou de apoio para futuras visitas e a mesma apresenta processos erosivos em diversos pontos ao longo do seu percurso, no sendo realizado nenhum tipo de monitoramento dos impactos.

    Mapa 9: Localizao da trilha que liga os principais atrativos da RPPN Ambientalista Francy Nunes.

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    Em virtude do difcil acesso a RPPN, a maior parte das oportunidades recreativas foi identiicada no entorno imediato, na fazenda Santa rsula onde est inserida a unidade. reas propcias prtica de esportes de aventura como rapel, tirolesa, falsa baiana, ponte de trs cordas, trekking, alm de corridas de orientao, acampamento e treinamentos empresariais.

    Mapa 10: Atrativos identiicados e atividades sugeridas. Tambm foram identiicadas ameas a essas atividades como sinais de fogo e extrao da vegetao.

    As oportunidades para atividades interpretativas e de educao ambiental foram identiicadas na fazenda Natlia nas proximidades da sede da propriedade como a antiga casa de taipa e o aude pequeno, elementos tpicos da regio que podem ser aproveitados para resgatar a cultura e a forma de vida do sertanejo. Outro importante elemento que poderia ser utilizado para atividades educativas um antigo forno, utilizado para a produo de carvo e agora abandonado. Alm desses, foram identiicados uma rea plana na propriedade prxima a estrada CE com diferentes espcies arbreas da caatinga de mdio porte onde poderia ser instalada uma trilha onde o visitante pudesse conhecer essas espceis e realizar atividades educativas.

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    Figura 42: esqueda, Casa de taipa.

    Figura 43: direita, Aude pequeno (Redeno).

    Figura 44: esquerda, antigo forno para produo de carvo.

    Figura 45: direita, Aude Grande (Monte Horebe).

    Outras potenciais atividades seria observao de aves, j que a abriga espceis endmicas como periquito do serto (Aratinga cactorum), golinha (Sporophila albogularis) e galo de campina (Paroaria dominicana) e ameaadas de extino como pica-pau-ano-do-nordeste (Picummus limae) apontados pelo levantamento da avefauna.

    Figura 46: esquerda, Periquito do serto (Aratinga cactorum).

    Figura 47: direita, Galo da Campina (Paroaria dominicana).

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    Figura 48: esquerda, Golinha (Sporophila albogularis).

    Figura 49: direita, Pica-pau-ano-do-nordeste (Picummus limae).

    POTENCIALIDADES DO ENTORNO

    No municpio de Tejuuoca, no aude do Boqueiro, h uma cascata formada pela vlvula de controle do escoamento da gua chamada de Vu da Noiva, um local bastante freqentado pelos moradores da regio. O lugar oferece um refrescante e agradvel banho, no entanto, conta com infra-estrutura muito precria de restaurante o qual no possui instalaes sanitrias.

    Figura 50: esquerda, Vu de noiva.

    Figura 51: direita, restaurante no aude Boqueiro em Tejuuoca.

    Figura 52: esquerda, Aude.

    Figura 53: direita, Balnerio de General Sampaio.

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    O municpio de Tejuuoca apresenta forte potencial turstico, especialmente no que se refere ao turismo Rural. Nele est localizado o Parque Ecolgico da Furna dos Ossos, um relevante atrativo, da regio, que abriga curiosas formaes rochosas como a cabea de um ndio que chega a 20m de altura e o touro que parece observar a movimentao nos vales da regio; alm disso, abriga um conjunto de grutas, que potencializa a prtica de atividades espeleolgicas no municpio. H ainda, no municpio, a festa do Tejubode, um grande evento anual que movimenta o municpio com intensa programao.

    Figura 54: esquerda, Formao geolgica Cabea do ndio.

    Figura 55: direita, Frmao geolgica touro.

    Figura 56: Centro de Apoio ao visitante do Parque Ecolgico Furna dos Ossos.

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    Figura 57: Cartazes da festa do bode que ocorre anualmente no minicpio.

    3.1.11. Pesquisa e Monitoramento

    At o incio dos levantamentos para a elaborao desse plano de manejo, no foram realizadas na rea nenhum estudo ou pesquisa cientica.

    As pesquisas realizadas na RPPN Ambientalista Francy Nunes tem o objetivo de subsidiar a elaborao do plano de manejo, bem como de divulgao cientiica de estudos na regio, como os realizados por:

    ALBANO, Ciro Ginez; SILVA, Weber Andrade de Giro. Aves da RPPN Ambientalis