plano de trabalho

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2009 LITERATURA PORTUGUESA 11ºC Eb2,3/S do Cerco Plano de TRABALHO - Missão Possível ! AVEC Agrupamento Vertical de Escolas do Cerco Eb2,3/S do Cerco

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Plano de trabalho para o 3º período lectivo.

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Page 1: plano de trabalho

2009

LITERATURA PORTUGUESA 11ºC Eb2,3/S do Cerco

Plano de TRABALHO - Missão Possível ! AVEC – Agrupamento Vertical de Escolas do Cerco – Eb2,3/S do Cerco

Page 2: plano de trabalho

Literatura Portuguesa 11º

cercarte.blogspot.com Página 2

Conteúdos Progrmáricos a abordar no 3º período

▪ Texto Lírico * Fernando Pessoa: Ortónimo e heterónimos (cont.)

*Eugénio de Andrade, Sophia Mello Breyner. António Ramos Rosa , Carlos de Oliveira , David Mourão-Ferreira,

Ruy Belo, entre outros.

Aparição, de Vergílio Ferreira.

O Doido e a Morte, Raul Brandão

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

13 14 15 16 17 18 19

20

21 22

23 24

-

25 26

27

TESTE

28 29

Teste verificação de leitura APARIÇÂO

30

MEMORIAL

Do CONVENTO

1 2 3

4

5 6

7 8 9 10

11

12 13

14 15 16 17

18

19 20 21 22

TESTE

23 24

25 26 27 28 29 30 31

1 2 3 4 5

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Literatura Portuguesa 11º

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ORIENTAÇÕES DE ESTUDO E CALENDARIZAÇÃO

Tema Actividade Entrega

Lírica trovadoresca

Ficha 1 – Como vivo coitada, madre, por meu amigo

Ficha 3 – “Proençaes soen mui ben trobar”

20.4.09

24.4.09

Proposta de trabalho nº 3 (comentário) 20.4.09

Proposta de trabalho nº 4 (comentário) 24.4.09

Fernão Lopes Proposta de trabalho nº 5 (Prólogo) 29.4.09

Proposta de trabalho nº 6 (comentário) 4.5.09

Gil Vicente Proposta de trabalho nº 7 (comentário) 11.5.09

Camões Proposta de trabalho nº 8 (Como quando do mar tempestuoso)

15.5.09

Barroco Proposta de trabalho nº 9 (A uma ausência)

18.5.09

Pe. António Vieira

Proposta de trabalho nº 10 (Sermão da Sexagésima) 22.5.09

Bocage Proposta de trabalho nº 11 (Liberdade querida e suspirada)

25.5.09

RTP2 Aparição, Vergílio Ferreira (data a confirmar) Crítica ao programa

Memorial do Convento

Reflexão crítica sobre o espectáculo que será apresentado no Auditório da Junta de Freguesia de Campanha, pela Companhia dos Afectos. (30.4.09)

4.5.09

Fundação de Serralves

Data a confirmar

Filme: Um amor de Perdição

Reflexão crítica sobre o filme Um Amor de Perdição.

Relações intertextuais com a obra de Camilo Castelo

Branco) (data a confirmar)

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Literatura Portuguesa 11º

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Proposta de trabalho nº 1

Como vivo coitada, madre, por meu amigo, ca m’enviou mandado que se vai no ferido: e por el vivo coitada! Como vivo coitada, madre, por meu amado, ca m’enviou mandado que se vai no fossado: e por el vivo coitada! Ca m’enviou mandado que se vai no ferido, eu a Santa Cecília de coraçon o digo. e por el vivo coitada! Ca m’enviou mandado que se vai no fossado, eu a Santa Cecília de coraçon o falo: e por el vivo coitada! (Martim de Ginzo)

1. Classifica esta cantiga, tendo em conta o emissor. 2. Caracteriza a situação sentimental vivida pelo sujeito poético. 3. A quem revela o sujeito poético o seu estado de espírito ? 3.1 Com base no estudo de outras cantigas do mesmo tipo, mencione outros elementos que desempenhem a mesma função. 4. Descreve a estrutura externa da cantiga e procede à sua classificação formal. 5. Indica os valor semântico das palavras “amigo” , “madre” e “coitada” nesta cantiga e o uso vulgar que delas se fazem na actualidade. 6. Classifica esta cantiga, tendo em conta o sujeito de enunciação. 7. Indica o valor expressivo da pontuação utilizada no refrão da cantiga. 8. Refere a causa do desabafo do sujeito e o contexto histórico-social sugerido por esta cantiga.

Proposta de trabalho nº 2 COMENTÁRIO

“Os cantares de amigo não se distinguem dos de amor unicamente por aparecerem ali «elas» e aqui «eles» a falar, mas também por outras diferenças de forma e intenção”.Elabora um texto informativo-expositivo sobre a cantiga de amigo, realçando a concepção de amor e de mulher, os temas, as variedades, os ambientes e tudo mais que consideres pertinente.” (200 palavras)

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Proposta de trabalho nº 3

Proençaes soen mui ben trobar e dizen eles que é con amor; mais os que troban no tempo da frol e non en outro, sei eu ben que non an tan gran coita no seu coraçon qual m'eu por mha senhor vejo levar. Pero que troban e saben loar sas senhores o mais e o melhor que eles poden, soõ sabedor que os que troban quand'a frol sazon á, e non ante, se Deus mi perdon, non an tal coita qual eu ei sen par. Ca os que troban e que s'alegrar van eno tempo que ten a color a frol consigu', e, tanto que se for aquel tempo, logu'en trobar razon non an, non viven [en] qual perdiçon oj'eu vivo, que pois m'á-de matar. D.Dinis

1. D.Dinis estabelece um contraste entre o seu processo de compor cantigas e o dos poetas

provençais. Em que consiste esse contraste?

2. Essa atitude poética diferente reflecte-se na verdade /fingimento do amor expresso? Justifica.

3. O ideal “arte pela arte” está mais presente em D. Dinis ou nos poetas provençais?

4. Mostra, com base na cantiga, que se estabelece uma antítese entre o artificialismo poético e a emoção amorosa.

5. Mostra que o texto revela já intenções de artificialismo artístico, quer a nível morfo-sintáctico, quer a nível semântico, quer a nível fónico.

6. Demonstra que há, ao longo poema, um crescendo de emoção na expressão da coita de amor.

Proposta de trabalho nº 4

Comente a seguinte afirmação de Georges Duby: “ Festa e jogo, o amor cortês realiza a evasão para fora da ordem estabelecida e a inversão das relações naturais (...) No real da vida, o senhor domina inteiramente a esposa. No jogo amoroso, serve a dama, inclina-se perante os seus caprichos, submete-se às provas que ela decide impor-lhe. (200 palavras)

(Georges Duby in O Tempo das Catedrais)

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Literatura Portuguesa 11º

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Proposta de trabalho nº 5

CRÓNICA DE D. JOÃO I

PRÓLOGO Grande licença1 deu a afeição a muitos que tiveram cárrego2 d'ordenar histórias, mormente dos senhores em

cuja mercê e terra viviam e u foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito favoráveis no recontamento de seus feitos; e tal favoreza3 como esta nace de mundanal afeiçom, a qual nom é salvo conformidade4 dalguma cousa ao entendimento do homem. Assi que a terra em que os homens per longo costume e tempo foram criados gera uma tal conformidade antre o seu entendimento e ela que, avendo de julgar alguma sua cousa, assim em louvor como per contrário, nunca per eles é direitamente recontada; porque, louvando-a, dizem sempre mais daquelo que é; e, se doutro modo, nom escrevem suas perdas tam minguadamente como acontecerom.

Outra cousa geera ainda esta conformidade e natural inclinação, segundo sentença dalguns, dizendo que o pregoeiro da vida, que é a fame, recebendo refeiçom pera o corpo, o sangue e espritos gerados de taes viandas5 tem üa tal semelhança antre si que causa esta conformidade. Alguüs outros teveron que esto decia na semente, no tempo da geraçom; a qual despõe per tal guisa aquelo que dela é gerado, que lhe fica esta conformidade tam bem acerca da terra como de seus dívidos.

E assi parece que o sentiu Túlio, quando veio a dizer: «Nós não somos nados a nós mesmos, porque üa parte de nós tem a terra e outra os parentes.» E porém o juizo do homem, acena de tal terra ou pessoas, recontando seus feitos, sempre çopega6.

Esta mundanal afeiçom fez a alguüs estoriadores7 que os feitos de Castela com os de Portugal escreverom, posto que homeës de boa autoridade fossem, desviar da dereita estrada e correr per semideiros escusos8, por as mínguas das terras de que eram em certos passos claramente nom serem vistas; e especialmente no grande desvairo que o mui virtuoso Rei da boa memoria Dom Joam, cujo regimento e reinado se segue, ouve com o nobre e poderoso Rei Dom Joam de Castela, poendo parte de seus bons feitos fora do louvor que mereciam, e acrescentando em algumas outros da guisa que nom acontecerom, atrevendo-se a publicar isto em vida de taes que lhe forom companheiros, bem sabedores de todo o contrário.

Nós certamente levando outro modo, posta a de parte toda a afeiçom que por azo9 das ditas razões aver podiamos, nosso desejo foi em esta obra escrever verdade, sem outra mistura, leixando nos boõs acontecimentos todo fingido louvor, e nuamente mostrar ao povo quaisquer contrairas cousas, da guisa que aconteceram.

E se o Senhor Deus a nós outorgasse o que a alguüs escrevendo nom negou, convém a saber, em suas obras clara certidão da verdade, sem dúvida não somente mentir do que sabemos mas ainda errando, falso não queriamos dizer; como assim seja que outra cousa não é errar salvo cuidar que é verdade aquilo que é falso. E nós, engando per ignorancia de velhas escrituras e desvairados autores, bem podiamos ditando errar; porque, escrevendo homem do que não é certo, ou contará mais curto do que foi, ou falará mais largo do que deve; mas mentira em este volume é muito afastada da nossa vontade. Oh, com quanto cuidado e diligência vimos grandes volumes de livros de desvairadas linguagens e terras e isso mesmo públicas escrituras de muitos cartórios e outros lugares, nas quais, depois de longas vigílias e grandes trabalhos mais certidão aver non podemos da conteúdo em esta obra. E sendo achado em alguns livros o contrário do que ela fala, cuidai que nom sabedormente mas errando muito, disserom tais cousas.

Se outros per ventura em esta crónica buscam fremosura e novidade de palavras, e não a certidão das estorias, desprazer-lhe-á de nosso razoado10, muito ligeiro a eles d'ouvir e não sem gram trabalho a nós de ordenar. Mas nós, não curando de seu juizo, leixados os compostos e afeitados razoamentos, que muito deleitom aqueles que

1 ousadia

2 encargo

3 parcialidade

4 harmonia

5 alimento

6 falta

7 Pêro Lópes Ayala

8 atalhos

9 Por causa

10 discurso

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ouvem, ante poemos a simprez verdade que a afremosentada falsidade. Nem entendaes que certificamos cousa, salvo de muitos aprovada e per escrituras vestidas de fé; doutra guisa, ante nos calariamos que escrever cousas falsas.

Que lugar nos ficaria para a fremosura e afeitamento das palavras, pois todo nosso cuidado em isto dispenso não abasta para ordenar a nua verdade? Porém, apegando-nos a ela firme, os claros feitos, dignos de grande lembrança, do mui famoso Rei Dom Joan, sendo Mestre, de que guisa matou o conde Joam Fernández, e como o poboo de Lisboa o tomou primeiro por seu regedor e defensor, e depois outros alguüs do reino, e d'i em deante como reinou e em que tempo, breve e sãamente contados, poemos em praça na seguinte ordem.

Crónica de D. João I, Primeira Parte, Prólogo

1 – Fernão Lopes teve necessidade de expor no início da primeira parte da Crónica de El-Rei D. João I a sua concepção sobre o papel do historiador. Que erros aponta aos historiadores anteriores?

2 – Tais erros deveram-se, segundo ele, a três factores. Indica-os.

3 – Para que não lhe aconteça o mesmo, que processo se propõe utilizar?

4 – Refere o que diz sobre Pêro Lopes de Ayala, autor da crónica de El-Rei D. João de Castela.

5 – Ao mesmo tempo que nos pretende dar um exemplo de parcialidade, não estará também a ser vítima do seu grande patriotismo? Justifica.

6 – Comenta a frase «antepoemos a simples verdade, que a afrementosada falsidade.»

7 – Fernão Lopes não exclui a possibilidade de se enganar. Apesar disso , exige inteira credibilidade ao que escreve. Como justificas a aparente contradição?

8 – Embora afirmando que não se deverá procurar na sua crónica a «fremosura e novidade da palavra», o facto é que já no prólogo se registam recursos de grande expressividade. Indica três e mostra de que forma contribuem para a intensificação de sentidos.

9 – Conclui sobre a actualidade do conceito de história que esteve na base da elaboração deste prólogo.

Proposta de trabalho nº 6

Comente a seguinte afirmação de Alexandre Herculano:

"Fernão Lopes adivinhou os princípios da moderna história: a vida dos tempos de que escreveu transmitiu-a à posteridade, e não, como outros fizeram, somente um esqueleto de sucessos políticos e de nomes célebres. Nas crónicas de Fernão Lopes não há só história: há poesia e drama; há a Idade Média com sua fé, seu entusiasmo ou amor de glória."

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Proposta de trabalho nº 7

MINHA SENHORA DE QUÊ dona de quê se na paisagem onde se projectam pequenas asas deslumbrantes folhas nem eu me projectei se os versos apressados me nascem sempre urgentes: trabalhos de permeio refeições doendo a consciência inusitada dona de mim nem sou se sintaxes trocadas o mais das vezes nem minha intenção se sentidos diversos ocultados nem do oculto nascem (poética do Hades quem me dera!) Dona de nada senhora nem de mim: imitações de medo os meus infernos

(Ana Luísa Amaral)

O poema de Ana Luísa Amaral questiona o papel da mulher na actualidade – aquela a quem dói a

consciência – por não se conseguir dar resposta às várias solicitações (tarefas domésticas, profissão e o seu próprio prazer). Este poema dista cerca de 500 anos da Farsa de Inês Pereira, contudo, o desejo de ser “dona de si” e do seu tempo mantém-se. A partir dos dados fornecidos, elabora, um comentário ao poema. (extensão entre cento e cinquenta a duzentas palavras).

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Proposta de trabalho nº 8

Como quando do mar tempestuoso o marinheiro, lasso e trabalhado(1), d’um naufrágio cruel já salvo a nado, só ouvir falar nele o faz medroso; e jura que em que(2) veja bonançoso o violento mar, e sossegado não entre nele mais, mas vai forçado pelo muito interesse cobiçoso; assi, Senhora, eu, que da tormenta de vossa vista fujo, por(3) salvar-me, jurando de não mais em outra ver-me; minh’alma que de vós nunca se ausenta, dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me donde fugi tão perto de perder-me.

Luís de Camões (1) trabalhado: cansado dos trabalhos pesados (2) em que: ainda que (3) por: para

I 1. Neste texto estabelece-se uma relação de semelhança entre duas situações. 1.1. Delimite as duas partes lógicas do texto. 1.2. Indique e classifique morfologicamente os conectores que estabelecem a relação indicada. 1.3. Sintetize a contradição patente no comportamento do marinheiro. 1.4. Transcreva os segmentos textuais da segunda parte que correspondem aos seguintes elementos da primeira: 1.4.1. marinheiro lasso e trabalhado (v.2); 1.4.2. mar tempestuoso (v.1); 1.4.3. jura que […] não entre nele mais (vs. 5 a 7); 1.4.4. mas vai, forçado/pelo muito interesse (vs. 7 e 8); 1.5. Classifique a figura de estilo presente na expressão tormenta da vossa vista (vs. 9 e 10) e comente a sua expressividade. 2. A fraqueza confessada pelo sujeito poético é também uma forma de reforçar a confissão do amor. 2.1. Explique porquê. 2.2. Identifique o destinatário da confissão. 3. Faça a análise formal do soneto, indicando:

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3.1. a estrutura externa do texto; 3.2. a divisão das sílabas métricas do 1º verso; 3.3. o esquema rimático. Proposta de trabalho nº 9

A UMA AUSÊNCIA Sinto-me sem sentir todo abrasado No rigoroso fogo, que me sustenta, O mal, que me consome, me sustenta O bem, que me entretém, me dá cuidado: Ando sem me mover, falo calado, O que mais perto vejo, se me ausenta, E o que estou sem ver, mais me atormenta, Alegro-me de ver-me atormentado: Choro no mesmo ponto, em que me rio, No mor risco me anima a confiança, Do que menos se espera estou mais certo; Mas se de confiado desconfio, É porque entre receios da mudança Ando perdido em mim, como em deserto.

António Barbosa Bacelar, in Fénix Renascida

I 1. A realidade que o autor exprime é exterior a ele mesmo, objectiva ou, pelo contrário, é interior? Como justificas? 2. O ponto de vista acerca dessa realidade mostra um sujeito seguro de si, confiante, ou desorientado, confuso? Selecciona dois dados textuais para ilustrar a tua resposta. 3. Faz o levantamento de alguns verbos e de uma figura de estilo que melhor exprimem o estado do sujeito referido anteriormente. 4. Relê a parte final do soneto e transcreve o verso que melhor sintetiza esse estado do sujeito. 4.1. Explica por palavras tuas o sentido desse verbo. 5. O verbo "andar" aparece no 5.° e no 14.° versos. Ele é usado com o mesmo significado? Justifica. 6. Repara na forma verbal "ver-me" (v. 8). A posposição do pronome pessoal me deve-se a razões métricas ou gramaticais? Porquê?

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Proposta de trabalho nº 10

Sermão da Sexagésima

Per infamiam et bonam famam, diz S. Paulo: O pregador há-de saber pregar com fama e sem fama. Mais diz o Apóstolo: Há-de pregar com fama e com infâmia. Pregar o pregador para ser afamado, isso é mundo: mas infamado, e pregar o que convém, ainda que seja com descrédito de sua fama?, isso é ser pregador de Jesus Cristo. Pois o gostarem ou não gostarem os ouvintes! Oh, que advertência tão digna! Que médico há que repare no gosto do enfermo, quando trata de lhe dar saúde? Sarem e não gostem; salvem-se e amargue-lhes, que para isso somos médicos das almas. (…) A pregação que frutifica, a pregação que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que lhe dá pena. Quando o ouvinte a cada palavra do pregador treme; quando cada palavra do pregador é um torcedor para o coração do ouvinte; quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atónito, sem saber parte de si, então é a preparação qual convém, então se pode esperar que faça fruto: Et fructum afferunt in patientia. Enfim, para que os pregadores saibam como hão-de pregar e os ouvintes a quem hão-de ouvir, acabo com um exemplo do nosso Reino, e quase dos nossos tempos. Pregavam em Coimbra dois famosos pregadores, ambos bem conhecidos por seus escritos; não os nomeio, porque os hei-de desigualar. Altercou-se entre alguns doutores da Universidade qual dos dois fosse maior pregador; e como não há juízo sem inclinação, uns diziam este, outros, aquele. Mas um lente, que entre os mais tinha maior autoridade, concluiu desta maneira: «Entre dois sujeitos tão grandes não me atrevo a interpor juízo; só direi uma diferença, que sempre experimento: quando ouço um, saio do sermão muito contente do pregador; quando ouço outro, saio muito descontente de mim.» Com isto tenho acabado. Algum dia vos enganastes tanto comigo, que saíeis do sermão muito contentes do pregador; agora quisera eu desenganar-vos tanto, que saíreis muito descontentes de vós. Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim, todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si, descontentem-se embora de nós. Si hominibus placerem, Christus servus non essem, dizia o maior de todos os pregadores, S. Paulo: Se eu contentara aos homens, não seria servo de Deus. Oh, contentemos a Deus, e acabemos de não fazer caso dos homens! Advirtamos que nesta mesma Igreja há tribunas mais altas que as que vemos: Spectaculum facti sumus Deo, Angelis et hominibus. Acima das tribunas dos reis, estão as tribunas dos anjos, está a tribuna e o tribunal de Deus, que nos ouve e nos há-de julgar. Que conta há-de dar a Deus um pregador no Dia do Juízo? O ouvinte dirá: Não mo disseram. Mas o pregador? Vae mihi, quia tacui: Ai de mim, que não disse o que convinha! Não seja mais assim, por amor de Deus e de nós. Pe. António Vieira

1. Explica a analogia entre o pregador e o médico. 2. 3. Este excerto estrutura-se na antítese “contente” vs “descontente”. De acordo com Vieira, os ouvintes

devem sair do sermão “contentes” ou “descontentes”? Justifica. 3.1. O orador não se limita a desenvolver um raciocínio de forma conceptista. Apresenta um exemplo.

Faz um pequeno comentário ao exemplo exposto neste texto.

4. De acordo com o excerto, quais as consequências, para o Pregador e para os ouvintes, de um sermão mal orientado?

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5. Recorda tudo o que leste do Sermão da Sexagésima e mostra que este sermão tem objectivos que valem quer para o nível religioso, quer para o nível profano.

6. Aponta os recursos estilísticos que auxiliam na construção retórica deste texto.

Proposta de trabalho nº 11 Liberdade querida e suspirada, Que o Despotismo acérrimo condena; Liberdade, a meus olhos mais serena Que o sereno clarão da madrugada! Atende à minha voz, que geme e brada Por ver-te e por gozar-te a face amena! Liberdade gentil, desterra a pena Em que esta alma infeliz jaz sepultada! Vem, ó deusa imortal, vem, maravilha, Vem, ó consolação da Humanidade, Cujo semblante mais que os astros brilha! Vem! Solta-me o grilhão da adversidade! Dos Céus descende, pois dos Céus és filha, Mãe dos prazeres, doce Liberdade!

Bocage, Sonetos

1. A ânsia de liberdade, expressa no poema, surge em contraste com a vivência do sujeito lírico no momento da escrita.

1.1. Quais os elementos do discurso, a nível morfológico, que põem em evidência essa ânsia pro¬funda de liberdade? 1.2. Indica os sentimentos vividos pelo sujeito poético nesse momento. 1.3. Qual a causa desses sentimentos? 1.4. Selecciona as expressões que melhor os revelam

2. Divide o texto em partes.

3. Predominam neste soneto duas funções da linguagem. 3.1. Indica-as. 3.2. Refere as marcas do discurso que documentam cada uma dessas funções.

4. O poema situa-se na transição do Neoclassicismo para o Romantismo. 4.1. Que elementos presentes no texto revelam os movimentos literários referidos?