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PLANO ESTRATÉGICO MUNICIPAL DA CULTURA PARA O CONCELHO DE LEIRIA (PEMCCL) Relatório Diagnóstico - SÍNTESE Junho de 2020

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PLANO ESTRATÉGICO MUNICIPAL DA CULTURA PARA O CONCELHO DE LEIRIA (PEMCCL)

Relatório Diagnóstico - SÍNTESE Junho de 2020

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DE LEIRIA

RELATÓRIO DIAGNÓSTICO - SÍNTESE

1. ANTECEDENTES DA ELABORAÇÃO DO PLANO ......................................................................... 1

2. CARATERIZAÇÃO DO SISTEMA CULTURAL E CRIATIVO DE LEIRIA ....................................... 1

3. CRUZAMENTOS E CONTAMINAÇÕES DA CULTURA COM OUTROS SETORES ..................... 4

4. LEIRIA E A “REGIÃO CULTURAL” ................................................................................................. 6

5. POLÍTICA CULTURAL LOCAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................... 7

6. ANÁLISE SWOT ................................................................................................................................ 9

ÍNDICE

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RELATÓRIO DIAGNÓSTICO - SÍNTESE

Técnicos Formação Funções

Elisa Pérez Babo

Administradora da Quaternaire Portugal

Economista

Coordenação geral

José Portugal

Consultor coordenador da Quaternaire Portugal

Antropólogo

Mariana Feijó

Consultora da Quaternaire Portugal

Antropóloga

Pedro Quintela

Consultor da Quaternaire Portugal

Sociólogo Cocoordenação

Consultores externos

Andreia Magalhães

Consultora fidelizada da Quaternaire Portugal

Geógrafa

Manuel António Pereira

Consultor da Quaternaire Portugal

Antropólogo

EQUIPA TÉCNICA

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1. ANTECEDENTES DA ELABORAÇÃO DO PLANO

A tomada de decisão que conduziu à elaboração do Plano Estratégico Municipal da Cultura para o Concelho de Leiria (PEMCCL) 2020-2030 enquadra-se, por um lado, na estratégia global de desenvolvimento que o Município tem vindo a preconizar ao longo dos últimos anos, em que a cultura tem sido crescentemente assumida como área de intervenção municipal estruturante, e, por outro lado, no processo em curso de preparação da candidatura de Leiria a cidade portuguesa Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2027.

Desde a década de 1990, tem-se assistido ao robustecimento de uma dinâmica cultural e artística no concelho de Leiria, em grande parte resultante de uma aposta política do Município nesta área, mas também, de um processo indiscutível de rejuvenescimento, profissionalização e projeção, local e nacional / internacional, do tecido associativo local, apoiado também no trabalho com as Juntas de Freguesia, e de um conjunto de outros agentes empresariais e institucionais, do setor cultural e artístico mas não apenas deste, que se têm mobilizado para o desenvolvimento deste setor, demonstrando sinais evidentes de opção por práticas cooperantes e colaborativas.

A decisão do Município de elaborar um plano estratégico é motivada pelo reconhecimento da necessidade de, por um lado, reforçar a coesão entre múltiplas iniciativas, agentes e áreas do sistema cultural local que têm vindo a afirmar-se no contexto do concelho de Leiria e, por outro lado, fortalecer as relações e interdependências com os municípios vizinhos, designadamente os 25 que se associaram a Leiria no âmbito da preparação da candidatura a CEC, em especial no quadro dos respetivos sistemas culturais e criativos.

Por outro lado, a existência de uma estratégia cultural para a cidade é um requisito para as candidaturas a CEC e, nessa medida, um plano estratégico como o que agora está em preparação para o Município constitui um elemento fundamental para uma boa avaliação de Leiria enquanto cidade candidata.

O diagnóstico que agora se apresenta encerra a primeira parte dos trabalhos do PEMCCL 2020-2030 e resulta da análise que a equipa da Quaternaire Portugal, encarregue da elaboração do Plano, realizou a partir da consulta e reflexão de um conjunto amplo de documentos e dados estatísticos e do contacto direto com alguns interlocutores-chave do setor cultural e artístico da cidade e da região. Este processo contou com o envolvimento de cerca de 50 entidades e individualidades, entre membros do Executivo Municipal, dirigentes e técnicos da autarquia, Executivos das Juntas de Freguesia, representantes do Núcleo Executivo e do Conselho Estratégico da Rede Cultura 2027 e ainda representantes de diversas entidades e projetos ligados ao setor cultural e criativo de Leiria.

2. CARATERIZAÇÃO DO SISTEMA CULTURAL E CRIATIVO DE LEIRIA

O diagnóstico realizado do sistema cultural e criativo de Leiria permite, em termos gerais, concluir que o concelho apresenta, atualmente, um tecido organizativo e institucional dentro do setor com dinâmicas e práticas artísticas e culturais de naturezas, densidades e ritmos muito variáveis, seja ao nível dos diversos segmentos de atividade, seja no espaço territorial municipal, com especial diferenciação entre a cidade e as restantes freguesias desse território.

A forte presença de agentes culturais e criativos de natureza privada sem fins lucrativos nos domínios da música, do teatro e da dança, que representam um segmento importante deste sistema no concelho de Leiria, favorece uma tessitura equilibrada do território municipal, condições de maior acessibilidade e fruição por parte dos diversos segmentos da população e constitui fator essencial de afirmação identitária nas comunidades locais.

Nestes três segmentos de produção artística coexistem no concelho estruturas profissionais e amadoras que, em número significativo, apostam no ensino e formação, formal e não formalizado e em diversos níveis. Esta multiplicidade de oferta de ensino e formação artística tem favorecido, por um lado, uma disseminação considerável de práticas artísticas na população e, por outro lado, percursos individuais de profissionalização dentro do sistema local ou no exterior. Efetivamente, Leiria possui várias estruturas que demonstram competências reconhecidas, localmente e no exterior, em matéria de educação e formação artística, nomeadamente, do Orfeão de Leiria – Conservatório de Artes (música e dança), da SAMP – Sociedade Artística

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Musical de Pousos (música), da Annarella Academia de Ballet e Dança (dança), da Leirena Teatro (teatro), da Te-Ato Companhia de Teatro (teatro) e do Nariz Teatro de Grupo (teatro).

A maturidade de diversos agentes nas áreas referidas, particularmente no caso da música, explica, por sua vez, a elevada capacidade de experimentação e inovação ao nível das práticas pedagógicas e educativas e da promoção de programas direcionados para públicos com características ou vulnerabilidades específicas, com reconhecimento nacional e internacional (Terapia da musica, Ópera na prisão, Paisagem sonora, etc.).

Ainda na esfera da música, Leiria tem mantido um crescimento sustentado de “novos criadores”, dentro de vários géneros musicais, particularmente relacionados com as dinâmicas juvenis e urbanas. A este forte envolvimento dos jovens leirienses em movimentos de expressão musical – criação de bandas e grupos de música com lugar apreciável no pop/rock e na música eletrónica – está associado o desenvolvimento local de um setor de edição discográfica e de produção musical, predominantemente alicerçado em pequenos estúdios e empresas.

O município detém hoje equipamentos culturais com programação regular de artes performativas, como são o Teatro José Lúcio da Silva, o Teatro Miguel Franco (localizado no Mercado de Sant'Ana – Centro Cultural) e o Cine Teatro de Monte Real. Estas estruturas figuram entre os principais ativos disponíveis para a programação municipal e o acolhimento de eventos culturais, nas áreas do teatro, dança e música, e constituem um fator decisivo na viabilização de diversas propostas artísticas através de uma oferta de recursos, logísticos e técnicos, fundamental para a criação, produção e exibição de espetáculos e performances ao vivo.

Para além da programação regular das diferentes estruturas, Leiria conta hoje com um importante conjunto de festivais e eventos, capaz de preencher todo o calendário anual, que beneficia dos apoios do Município e também das Juntas de Freguesia. Os espetáculos de música ao vivo – festivais, pequenos eventos e programação regular em espaços urbanos de encontro (bares, cafés, etc.) – constituem um significativo fator de afirmação de Leiria, estimulando a criação e práticas locais de sociabilidade e convivialidade, com grande enfoque nos segmentos juvenis.

Neste campo dos espetáculos ao vivo, alguns projetos de exibição e receção inovadores e muito específicos, noutros domínios das artes performativas (teatro e dança), contribuem para um processo de internacionalização de Leiria neste setor artístico. A cooperação entre os agentes, embora pontual, favorece efeitos de escala de programação, ou sinergias na diversidade de linguagens e abordagens artísticas. Assim, considera-se que Leiria dispõe hoje de uma oferta espetáculos e festivais relativamente rica, diversificada, dinâmica e com visibilidade e atratividade significativas e com potencial para uma evolução crescente, mobilizando designadamente tecnologias digitais.

Convém sublinhar que o património, o talento, as práticas e a atividade diversa e multifacetada no campo da criação, da edição, da disseminação / exibição e do ensino e investigação musical configuram a afirmação em Leiria de um hub musical que sustenta e distingue a sua participação, desde outubro de 2019, na Rede de Cidades Criativas da UNESCO no domínio da Música.

Paralelamente, tem-se assistido nos últimos anos à emergência em Leiria de novos agentes que se dedicam à disseminação das artes visuais e que apostam frequentemente no desenvolvimento e experimentação de projetos transdisciplinares. Esta dinâmica associa-se a uma crescente aposta municipal em matéria de divulgação e de apoio à criação artística, de que o Banco de Artes Galeria é um expoente máximo (exposições, residências, debates/ conferências, serviços educativos / formação). Por outro lado, apesar de relativamente débil, a iniciativa empresarial nas áreas do design, do audiovisual/ digital e da arquitetura dispõe de oportunidades crescentes no contexto do concelho relacionadas com o seu forte tecido industrial, mas também com o crescimento de outros setores culturais e criativos e com a oferta formativa (design e audiovisual) maioritariamente oferecida pelo Instituo Politécnico de Leiria. Acresce ainda, aos fatores que podem estimular o desenvolvimento dos setores referidos, um conjunto de apostas municipais em termos da preservação e valorização do património arquitetónico e urbanístico e das atividades de estudo, documentação e programação expositiva promovidas pelas estruturas museológicas municipais.

Uma outra área em que o Município assume um papel motor é a do cinema, valorizando o acervo disponível no m|i|mo – Museu da Imagem em Movimento enquanto recurso pedagógico e de promoção da cultura cinéfila, para

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além de estimular e complementar o interesse de algumas associações para a programação de festivais de cinema (essencialmente nos domínios das curtas-metragens e do cinema documental).

Leiria dispõe de valores patrimoniais reconhecidos, quer na sua particularidade – Abrigo do Lagar Velho - Lapedo, Sé de Leiria, Castelo de Leiria –, quer no seu conjunto e diversidade, que conferem ao território / cidade condições interessantes de diferenciação e inimitabilidade. A perceção e relação com os diversos ativos culturais (imóveis e móveis), com particular relevância nas áreas históricas da cidade mas também em alguns núcleos das freguesias e em elementos mais específicos da paisagem, tornam-se importante fator de germinação e qualificação de atividades produtoras de bens e serviços com valor simbólico e cultural.

A promoção de eventos culturais e festividades assume um papel decisivo na projeção de discursos culturais e narrativas artísticas, tradicionais ou inovadores, sobre o património do concelho e da cidade. Disto são exemplo, entre outros, os eventos da Feira Medieval, que decorre no Castelo de Leiria, da Feira de Maio e o Leiria Cidade Natal, que se realizam no centro histórico de Leiria. O património intangível, transmitido de geração em geração através de estruturas de base local e associativa, algumas centenárias, cumpre em Leiria distintos papéis, enquanto matéria essencial de identidade e sentido de pertença das comunidades, fator de desenvolvimento de competências e práticas artísticas e embrião de expressões artísticas contemporâneas.

A aposta da autarquia na consolidação de uma rede municipal de estruturas museológicas robustece um percurso de valorização de recursos patrimoniais significativos, na investigação, documentação, preservação e interpretação / divulgação, atraindo o reconhecimento nacional e internacional através de diversos prémios. Tal é o caso, designadamente, do Museu de Leiria, localizado no antigo Convento de Santo Agostinho, do CDIL - Centro de Diálogo Intercultural de Leiria, que se desdobra entre a Igreja da Misericórdia e a Casa dos Pintores, e do Centro de Interpretação Abrigo do Lagar Velho – Lapedo.

As dinâmicas das estruturas museológicas municipais são acompanhadas por uma oferta de estruturas interpretativas e museológicas de base privada, associativa e local que reforçam os fatores de identidade e pertença das populações, incluindo na preservação do património etnográfico, industrial e vernacular. Aqui se incluem, entre outros, o Museu da Fábrica de Cimentos Maceira Liz - SECIL, o Museu Escolar de Marrazes (que integra a RPM – Rede Portuguesa de Museus), o Museu Etnográfico do Freixial, o Museu do Casal de Monte Redondo ou a Casa-Museu João Soares (Fundação Mário Soares).

A promoção da leitura numa era de transição para o digital constitui uma outra importante aposta do Município, liderada pela Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira que, para além da multidiversidade de atividades de preservação, documentação e incentivo à leitura, anima um vasto conjunto de instituições parceiras da Rede Bibliotecas do Concelho de Leiria. Apesar de uma dinâmica reduzida do setor livreiro na edição e impressão, a cidade apresenta algum destaque pela animação do mercado do livro/livrarias, com projetos assumidamente culturais que denotam condições potencialmente positivas no consumo livreiro (ex. Livraria Arquivo).

Também a preservação, arquivo e documentação de espólios literários e outras coleções documentais constituem domínios de intervenção pública consolidados e que persistem como uma indiscutível aposta na promoção da leitura. Neste âmbito, sublinha-se a herança literária de Francisco Rodrigues Lobo e de Afonso Lopes Vieira, incluindo o seu espólio que se encontra depositado na Biblioteca Municipal, instituição que tem criado condições para a sua preservação e estudo. O Arquivo Municipal de Leiria desenvolve paralelamente uma importante atividade a este nível, encontrando-se já parcialmente digitalizado o seu acervo documental, permitindo desta forma as pesquisas e o acesso através de um domínio online.

Sublinham-se ainda os esforços públicos no apoio à criação literária, com a instituição recente do prémio municipal Afonso Lopes Vieira visando colmatar algumas debilidades nesta área de expressão artística.

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3. CRUZAMENTOS E CONTAMINAÇÕES DA CULTURA COM OUTROS SETORES

Um dos aspetos que atualmente caracteriza e diferencia a dinâmica cultural de Leiria, relativamente a outros territórios, prende-se com o facto de aqui existir uma disponibilidade e permeabilidade relativamente grandes, por parte de vários agentes e instituições culturais do concelho, a estabelecerem encontros, cruzamentos e contaminações regulares entre si e com outras áreas sectoriais, designadamente com aquelas que se relacionam com os domínios da saúde e bem-estar, desenvolvimento social, educação, ambiente, juventude, desporto, entre outros. A avaliação da qualidade destes projetos, bem como dos resultados alcançados, tem sido consensualmente apontada como muito positiva, sendo mesmo já objeto de reconhecimento e de referenciação por diferentes entidades, nacionais e internacionais.

Por outro lado, é relevante observar que muitos destes projetos de cruzamento têm vindo a ser concretizados graças ao apoio de um leque diversificado de entidades e programas, públicos e privados. Evidencia-se, assim, uma interessante e salutar capacidade de angariação e de diversificação das fontes de financiamento (PRO Leiria, Programa PARTIS/Fundação Calouste Gulbenkian, Programa Escolhas, Portugal Inovação Social, etc.), contrastando assim com o que tem vindo a ocorrer na atividade artística e cultural do concelho de Leiria, em que, como referido anteriormente, tendem ainda a ser predominantes os apoios públicos concedidos pela Câmara Municipal de Leiria.

Um dos domínios em que Leiria se tem vindo a destacar é o da utilização das artes performativas - especialmente a música, mas também a dança e o teatro - na abordagem terapêutica a públicos com necessidades específicas (idosos institucionalizados, doentes acamados, crianças e jovens portadores de deficiências físicas e/ou cognitivas). Presentemente, estão em curso vários projetos nesta área, desenvolvidos por diversas entidades artísticas e culturais de Leiria (SAMP, Biblioteca Municipal, Associação de Dança e Desenvolvimento Social de Leiria, Filarmónica do Arrabal, entre outras), em parceria com Juntas de Freguesia, com IPSS, com ONG, com o Hospital de Santo André / Centro Hospitalar de Leiria, com estabelecimentos de ensino do concelho, entre outros.

Também se destaca, por outro lado, o trabalho consistente e de qualidade que tem vindo a ser feito no concelho em prol da inclusão de comunidades e/ou segmentos da população desfavorecidos. Trata-se, novamente, de projetos de fomentam cruzamentos e contaminações com diferentes expressões e técnicas artísticas, desenvolvidos em parceria entre agentes e estruturas artísticas e culturais (SAMP, Biblioteca Municipal de Leiria, Orfeão de Leiria, Filarmónica do Arrabal, Colectivo TIL, Casota Collective, Projeto Uivo da Riscas Vadias, Flamingo Imbatível Associação, entre outras), organizações e estruturas com missão social (ex. InPulsar), Juntas de Freguesia, estabelecimentos de ensino e outras instituições do concelho.

Em Leiria, os cruzamentos, as articulações e as contaminações entre os setores da educação e o da cultura são vários e diversificados, o que evidencia uma leitura política que reconhece a importância deste diálogo, de resto muito claramente sinalizado na estratégia de intervenção proposta pelo Projeto Educativo Municipal (PEM) para o período 2018-2021. Com efeito, são muitos os projetos do PEM, dirigidos a alunos desde o Pré-Escolar ao Ensino Secundário, que exploram diferentes temáticas e linguagens artísticas (música, ópera, teatro, artes plásticas, fotografia, cinema e artes digitais). Destaque-se ainda a presença transversal, nos vários ciclos de ensino e aprendizagem, de projetos e atividades diversificadas associadas ao livro e à leitura, desenvolvidos sob a designação geral Vamos ler + Programa de Educação para a Leitura, e que acontecem regularmente, dentro e fora da sala de aula. Neste âmbito, merece evidentemente destaque a Rede de Bibliotecas Escolares, cujo trabalho e a rede de parceiros constituem elementos fundamentais no desenvolvimento desta linha de intervenção.

Também as preocupações de sensibilização e educação para as questões ambientais marcam, cada vez mais, presença em Leiria, acompanhando assim uma problemática que está no topo das preocupações e “agendas” políticas, económicas e sociais à escala nacional e global. A importância decisiva das gerações mais jovens nesta matéria justifica que quer o PEM 2018-2021, quer o PMAAC – Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas, dediquem a esta questão uma série de linhas de intervenção que convocam, frequentemente, agentes e instituições diretamente ligados à esfera do ambiente (com destaque para o papel do Centro de Interpretação Ambiental de Leiria), agentes e comunidades educativas, e ainda agentes e instituições ligados ao universo das artes e da cultura (ex. Leirena Teatro).

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Leiria possui hoje um forte tecido associativo, na área do desporto, como da cultura, assistindo-se com muita frequência a intervenções de associações desportivas em eventos culturais e vice-versa, reforçando assim os contactos e as contaminações recíprocas. É interessante destacar que, na fase da sua formação, muitas crianças e jovens do concelho frequentam, simultaneamente, atividades e modalidades artísticas e desportivas, tornando-se, assim, especialmente permeáveis a este tipo de cruzamentos, diálogos e contágios de cariz “multidisciplinar”. Refira-se ainda, a título de exemplo, o caso paradigmático da Feira Medieval de Leiria, que se realiza anualmente, ocupando diversos espaços do centro histórico da cidade durante quatro dias, e para o qual são mobilizados não só diversos agentes culturais e artísticos, nomeadamente associados à área das artes performativas, mas também desportistas locais ligados às modalidades de ginástica acrobática, do tiro com arco e flecha, entre outras, que participam ativamente neste grande evento de recriação histórica da época medieval.

Por outro lado, Leiria tem, desde o ano letivo 2019-2020, um projeto-piloto integrado no Programa UAARE - Unidades de Apoio ao Alto Rendimento Escolar, que visa ajudar os jovens atletas a conciliarem a preparação desportiva (que inclui a dança) com os bons resultados escolares.

No âmbito da candidatura de Leiria a Cidade Europeia do Desporto 2022, oficializada em fevereiro de 2020, o Município pretende aprofundar este diálogo e articulação entre as esferas do desporto e da cultura.

Por último, é fundamental abordar ainda projetos e iniciativas que, de algum modo, favorecem e estabelecem articulações, cruzamentos e interdependências entre agentes e instituições artísticas, culturais e criativas de Leiria e outras dinâmicas e iniciativas ligadas a outros setores económicos, com algum destaque para o turismo, designadamente nas modalidades de turismo cultural, short city breaks, turismo criativo, entre outras. Com efeito, são hoje inúmeros os estudos, artigos e relatórios técnico-científicos que reconhecem a importância do setor cultural e criativo nas economias contemporâneas e que apontam para a relevância das artes, cultura e património na criação de “atmosferas” urbanas específicas e por vezes únicas, reforçando a capacidade para se diferenciarem relativamente a outros locais (cidades e regiões), enriquecendo a oferta de determinados destinos turísticos – mas contribuindo igualmente para a atração e fixação de pessoas qualificadas e de empresas que, crescentemente, buscam este tipo de “amenidades urbanas”.

No entanto, e apesar da pujante dinâmica empresarial do concelho e região de Leiria, verifica-se que se mantém relativamente débil a relação estabelecida entre o tecido empresarial local e as dinâmicas culturais, raramente envolvendo-se de forma direta no apoio (sob a forma de patrocínio, mecenato cultural ou outro) a instituições artístico-culturais leirienses e/ou a atividades culturais e artísticas que aqui se realizam. Constitui, em todo o caso, um sinal muito positivo de abertura e de interesse a uma participação mais ativa, o envolvimento da NERLEI – Associação Empresarial da Região de Leiria no projeto da Rede Cultura 2027, participando nos Conselhos Geral e Estratégico, alimentando, por isso, uma legítima expectativa de gradual aproximação do tecido empresarial desta região às áreas artísticas, culturais e criativas.

Por outro lado, apesar do conjunto importante de projetos e infraestruturas especificamente dirigidos a fomentar e apoiar o empreendedorismo no concelho e na região de Leiria (Incubadora Dom Dinis, Startup Leiria, Grupo TICE), constata-se que nenhuma destas instituições tem vindo a manifestar ou atribuir um interesse particular a projetos associados ao Setor Cultural e Criativo, incluindo no campo empresarial, não existindo tão-pouco medidas ou incentivos que lhe sejam especificamente dirigidos.

Finalmente, assinale-se ainda a fraca articulação entre o tecido cultural e criativo local e a oferta turística de Leiria que, em geral, se mantém bastante escassa, condicionando assim a capacidade do concelho configurar uma oferta diferenciada e qualificada ao nível da experiência turística nesta região. Com efeito, não é fácil identificar operadores turísticos sedeados e/ou a operar em Leiria, o que reflete uma certa ausência de circuitos de visita e de outro tipo de atividades de animação turística. Não obstante, o programa de festivais e outros eventos culturais no espaço público, bem como a oferta rica - em diversidade e qualidade - de recursos artísticos, culturais e patrimoniais do concelho, para além de uma assinalável variedade de equipamentos urbanos vocacionados para a realização de práticas lúdicas e desportivas, não deixam de ser um importante fator de atratividade de visitantes e turistas à cidade e ao concelho de Leiria, que em muito pode ser melhorado e potenciado.

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4. LEIRIA E A “REGIÃO CULTURAL”

É reconhecido o papel central do Município e da cidade de Leiria enquanto polo de uma rede policêntrica abrangendo um território extenso e diverso. Este território pode corresponder a configurações, mais ou menos formalizadas, administrativa, religiosa e/ou politicamente, como sejam o distrito, a diocese ou a Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Leiria (abrangendo 10 municípios), mas também pode corresponder a outras estruturas supramunicipais, institucionalmente formalizadas ou não, cobrindo territórios mais ou menos vastos, e adquirindo como pano de fundo relações históricas, sociais, culturais, de partilha, cooperação e de estratégia comuns. Admitimos, pois, que a dimensão cultural possa, sem dúvida, vir a assumir-se como uma dimensão de configuração de todo este território que envolve e onde se inscreve Leiria enquanto polo de germinação e intensificação de relações, de confluências e de desafios, e que tenda a assumir-se como uma notável “região cultural” dentro do panorama nacional, europeu e internacional.

A RC2027, criada no âmbito da Candidatura de Leiria a CEC 2027, corresponde a uma dessas configurações, envolvendo todos os municípios da CIM da Região de Leiria e da CIM do Oeste e parte dos municípios que integram a CIM do Médio Tejo. Embora se trate de uma estrutura relativamente recente, já faz parte do referencial de muitos agentes locais e regionais, ligados ao SCC, bem como a outros setores, em grande parte associados a essa Rede.

Esta Rede constitui uma oportunidade para estruturar um sistema de trabalho intermunicipal colaborativo e fortemente participado, consolidando e afirmando uma “região cultural”, com dinâmicas próprias e que interrelacionam os múltiplos espaços que a integram, valorizando as suas especificidades e complementaridades e as sinergias e efeitos de escala que daí advêm. Atualmente, a RC2027 funciona em pleno, com o envolvimento efetivo dos 26 municípios, revelando ser muito mais do que uma simples marca institucional.

No quadro da CIM da Região de Leiria são já desenvolvidos vários projetos na área cultural, como seja o trabalho no âmbito das Redes Intermunicipais de Arquivos e de Bibliotecas, ou a iniciativa “À Descoberta da Região de Leiria - Educação para o Património” uma das sete atividades (todas de âmbito intermunicipal) desenvolvidas no quadro do Plano Inovador de Combate ao Insucesso Escolar (PICIIE).

Ao nível do sistema de ensino superior da região, destaca-se o Instituto Politécnico de Leiria, que desempenha um papel central no sistema científico e tecnológico e de ensino regional. O Politécnico de Leiria tem procurado fortalecer a sua ligação à comunidade, designadamente através da participação em redes e da criação de parceiras e/ou protocolos de cooperação com inúmeras entidades regionais, nacionais e internacionais. Ao nível local/regional, a iniciativa GES Região de Leiria, a participação na Incubadora D. Dinis, na Startup ou no grupo TICE do NERLEI são exemplos desse envolvimento. Por outro lado, tem-se registado um reforço da participação do IPL nas dinâmicas culturais da cidade de Leiria, marcando presença, por exemplo, no Conselho Estratégico da RC2027 e no Conselho Municipal da Cultura. Refira-se ainda o facto de as quatro bibliotecas do IPL estarem integradas no Plano de Atividades e Recursos da Rede de Bibliotecas do Município. Sublinhe-se ainda que foi atribuída ao Instituto Politécnico de Leiria, em 2018, a Cátedra UNESCO “Gestão das Artes e da Cultura, Cidades e Criatividade”.

Não obstante, esta aproximação ao setor cultural e criativo, mantem-se um desfasamento entre o plano formal e institucional, onde há, de facto, uma presença reiterada do Politécnico de Leiria, e o plano das práticas e das vivências de alunos e professores, ainda muito ausentes das dinâmicas culturais, particularmente em Leiria Neste sentido, a Candidatura de Leiria a CEC, e todos os processos em curso no âmbito da RC2027, constituem-se como oportunidades para o envolvimento desta comunidade educativa e científica nas dinâmicas e processos do setor cultural e criativo.

Este é um território onde a intervenção na cultura, no património, na educação e na ciência tem sido reconhecida pela UNESCO. Em Leiria e na região envolvente encontram-se três monumentos nacionais inscritos na Lista do Património Mundial, três cidades inseridas na Rede de Cidades Criativas (Leiria, na área da Música, Óbidos na área da Literatura e Caldas da Rainha, no domínio do Artesanato e Artes Populares) e duas Cátedras UNESCO cujo enfoque temático está orientado para esta área (“Gestão das Artes e da Cultura, Cidades e Criatividade”, no Politécnico de Leiria e "Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território", no Politécnico de Tomar). Refira-se ainda a presença de diversas Bibliotecas municipais associadas à Comissão Nacional da UNESCO, ampliando

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e reforçando a rede UNESCO neste território. Estamos perante um conjunto de elementos que, por um lado, envolvem e projetam toda a região e a sua comunidade, e, por outro, podem ser estrategicamente mobilizados para o processo de reflexão e construção que está a ser desenvolvido no quadro da RC2027, designadamente para a definição dos eixos e temas a explorar na CEC 2027.

Sendo reconhecido que o concelho e a cidade não se têm afirmado como destino turístico, é evidente que se enquadram numa região com potencial turístico a valorizar, designadamente associado a ativos e manifestações de natureza religiosa e ao Património Mundial. Os instrumentos de estratégia da cidade e da região, em termos de desenvolvimento global, seja na área do turismo, têm sublinhado esse potencial. Na sequência da crise pandémica de Covid-19 a predominância de procura proveniente do mercado nacional que caracteriza o mercado turístico de Leiria poderá ser uma oportunidade, uma aposta que o Município se encontra a preparar.

Por último, refira-se uma iniciativa demonstrativa da vontade e capacidade de coordenar e partilhar ações ao nível regional: o Plano de Ação do Gabinete Económico e Social da Região de Leiria para o relançamento económico e social da Região na sequência da crise pandémica. De notar que o Plano de Ação inclui três medidas especificamente no domínio cultural. Não obstante tratar-se de uma estrutura informal, revela-se uma iniciativa notável de reflexão conjunta e de proposta estratégica comum, envolvendo agentes de múltiplos setores e âmbitos no desenho do futuro coletivo da região e, nessa medida, contribuindo para robustecer a capacidade e identidade deste território regional.

5. POLÍTICA CULTURAL LOCAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Leiria aposta politicamente no setor cultural essencialmente na última década, procurando beneficiar de um progressivo crescimento das dinâmicas do tecido artístico e cultural local e do pulsar cultural da comunidade. Nesse sentido, o Município estrutura uma primeira fase essencialmente voltada para a programação cultural, no intuito de despertar nos agentes culturais e no stakeholders locais uma forte vontade de colaborar, de aumentar a capacidade de realização de atividades culturais, incluindo no espaço público e abertas a todos os segmentos da população. Combinando programas que integram diferentes linguagens e formas de expressão artística, cultural e recreativa, mais eruditas ou contemporâneas e mais tradicionais ou de expressão popular, o Município procurou, nessa primeira fase, alargar muito o leque de oferta cultural, envolvendo sempre que possível os agentes locais e o tecido associativo e abrindo espaços aos diversos segmentos da população. As oportunidades que foram dadas à diversidade, à diferença, às propostas oriundas de vários quadrantes e várias abordagens artísticas, contribuíram para ultrapassar algumas barreiras e favorecer a autoestima, dos próprios agentes culturais, mas sobretudo da população.

Este processo de abertura, partilha e colaboração criou as condições para que, numa segunda fase, o Município pudesse fazer progressivamente novas apostas, bem mais estruturadas, em termos de qualidade, profissionalização, diversidade e internacionalização. Aos passos dados pela estratégia política para esta segunda fase não foram de forma alguma alheios a capacidade de resposta que o tecido associativo e institucional do concelho, e até da região envolvente, demonstrou em termos de qualificação dos seus projetos, de profissionalização das suas estruturas, de fidelização dos seus públicos e de exposição e afirmação externa de alguns projetos e iniciativas. O Município redefiniu as suas prioridades políticas para o setor, reforçando a rede de equipamentos e estruturas físicas dedicadas à cultura, melhorando o tratamento dos espólios artísticos e arqueológicos, evoluindo paulatinamente para uma estrutura humana e organizativa mais competente, mais multidisciplinar e mais numerosa. É nessa extensa rede de equipamentos, concentrados na cidade, que se encontra ancorada a oferta cultural de iniciativa municipal.

Esta segunda fase da aposta política no setor foi dignificada por outras medidas que assentaram fundamentalmente na perceção das vantagens de abertura e de cooperação com terceiros, seja no contexto local ou à escala regional. Nesse âmbito, a CML lançou-se politicamente em dois processos dos quais se está hoje e se virá num futuro, próximo e mais longínquo, a retirar grandes dividendos, no sentido de um processo de desenvolvimento bem mais sustentado pelas dimensões identitárias, artísticas, do conhecimento e da ciência, ou seja, da cultura no sentido global. A oportunidade da nomeação em 2027 de CEC enceta, por volta de 2015, um trabalho político de grande significado, de agregação de outros 25 municípios vizinhos para, em conjunto e dentro

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de um modelo claramente diferenciador no contexto do país – inicialmente com a constituição da RC2027 e seguidamente com o processo em curso de uma Régie Cooperativa, não só construírem uma candidatura a essa distinção, mas fundamentalmente, estruturarem e fortalecerem culturalmente uma região. Por outro lado, afirmação da notabilidade e da capacidade partilhada de mobilizar a música como meio de expressão artística, de fruição cultural, de integração social e de criação de valor no contexto local sustentaram outra aposta política decisiva, que permite uma candidatura vencedora à Rede de Cidades Criativas da UNESCO no domínio da música. Qualquer uma destas frentes de estratégia e de política municipal da segunda metade da última década proporcionam à Câmara Municipal de Leiria condições extraordinárias para continuar e aprofundar uma estratégia municipal para a cultura decisiva no contexto de um processo de desenvolvimento competitivo, coeso e sustentável.

Num outro nível da política cultural municipal encontra-se uma “dimensão” de governança, que corresponde à abertura e mobilização da comunidade para a participação na política cultural local, através de um órgão consultivo da autarquia, o Conselho Municipal de Cultura. A sua composição abrangente, que decorreu da vontade de acolher a grande diversidade de atores locais, se tenha demonstrado extensa e de mais difícil operacionalidade. Nesse sentido, urge encontrar formas de funcionamento alternativas ao modelo plenário (ex. criando comissões ou grupos de trabalho) para que o Conselho Municipal de Cultura (re)conquiste o papel de interface permanente entre a autarquia e os demais agentes e a sua relevância enquanto órgão consultivo estratégico.

Esta dinâmica municipal da última década tem sido acompanhada por um reforço do investimento na área da cultura, num esforço para colocar o orçamento da cultura ao nível do que se verificava na região e no país. Ainda que em termos comparativos com outros municípios, mesmo ao nível nacional, o investimento de Leiria na área cultural não seja particularmente expressivo, esta área dispõe no presente de níveis de investimento público muito superiores aos verificados no passado.

A orgânica da CML integra o setor cultural na Divisão de Ação Cultural, Museus e Turismo, cuja estrutura de recursos, embora venha sendo reforçada, revela-se ainda relativamente frágil, com carências específicas, quantitativas e em termos de competências, em vários equipamentos municipais. Por outro lado, verificam-se ainda debilidades na ligação entre estruturas municipais no seio da própria Divisão que importa mitigar. O reforço desta articulação é fundamental para otimizar recursos, qualificar a oferta e maximizar o número de visitantes. O trabalho desenvolvido na área do livro e da leitura através da Rede de Bibliotecas do Concelho de Leiria constitui um exemplo de excelentes práticas enraizadas de trabalho em rede que pode ser replicada noutros domínios.

O Município dispõe de um instrumento de apoio ao tecido associativo, não exclusivo do domínio cultural. Trata-se do PRO Leiria, que registou, nos últimos anos, um incremento das verbas atribuídas ao setor cultural (que se dirigem em maior percentagem às iniciativas no âmbito da Música, englobando o ensino da música, as filarmónicas e a música coral). É reconhecida a necessidade de proceder a algumas alterações a este modelo de apoio aos agentes e às práticas culturais, ajustando critérios de seleção de modo a corrigir assimetrias em termos das disciplinas artísticas e de distribuição territorial, a valorizar a pertinência social para o território e a diversificar e qualificar a programação, contribuindo simultaneamente para o robustecimento e densificação do tecido cultural e, a partir daí, para mitigar a dependência (em muitos casos forte) de apoios e subvenções municipais.

No âmbito da RC2027, foi instituído um novo regulamento de apoio municipal dirigido especificamente a projetos culturais de cocriação e coprodução, envolvendo agentes do concelho de Leiria e de outros municípios do território da RC2027. Também neste caso a maioria dos projetos admitidos insere-se na área da música.

Por último refira-se que o Município tem procurado articular as políticas públicas locais orientadas para o fomento do setor cultural e criativo com alguns dos principais desafios decorrentes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Com efeito, as políticas, projetos e iniciativas culturais que o Município promove ou apoia, incluindo em ligação com outras áreas setoriais, refletem e articulam-se diretamente com 11 das 17 metas inscritas nos Objetivos Desenvolvimento Sustentável, dispostos na Matriz da Agenda Urbana 2030, desenhada pela Organização das Nações Unidas em 2015.

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6. ANÁLISE SWOT

Concluída a análise das principais dinâmicas e protagonistas associadas ao Sistema Cultural e Criativo de Leiria, bem como analisadas e identificadas as orientações estratégicas, prioridades e iniciativas de política pública mais relevantes no domínio das artes, cultura e criatividade, bem como os cruzamentos com outros setores que com ele se interrelacionam, importa sistematizar uma leitura global da situação do concelho, através da uma análise SWOT (do inglês strenghts, weaknesses, opportunities and threats), que permite uma interpretação dinâmica da articulação entre a avaliação interna (potencialidades e estrangulamentos) e externa (ameaças e oportunidades).

Potencialidades

• Tecido associativo local forte, dinâmico, rejuvenescido e disperso pelo território – especialmente nas áreas da música e do folclore /artes populares.

• Oferta diversificada e de qualidade de ensino artístico especializado (música e dança).

• Conjunto de ativos patrimoniais interessantes, de cariz tangível e intangível.

• Centro histórico reabilitado e espaços públicos verdes urbanos qualificados possibilitam a realização regular de eventos lúdico-culturais (escala variável, incluindo festivais).

• Espaços museológicos/interpretativos diversificados, sobretudo municipais, alguns recentemente renovados e que têm investido na investigação e interpretação das suas coleções, bem como na promoção de práticas culturais junto da população.

• Trabalho sistemático e de qualidade na esfera da mediação cultural.

• Presença de instituições e intervenientes reconhecidos, nacional e internacionalmente, pela sua experiência e know-how nos domínios da arte e terapia e da arte e inclusão.

• Reforço recente da aposta e investimento (político, social e financeiro) da autarquia no Setor Cultural e Criativo concelhio, a variados níveis.

• Integração de Leiria na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, no domínio da música.

• Contexto favorável, especialmente no domínio da música, para a emergência de um setor industrial.

• Sinais favoráveis à criação e incubação de projetos criativos na fronteira entre as artes e a tecnologia, associados à projeção e replicação de iniciativas empresariais (ou afins) bem-sucedidas no campo da música, audiovisual e outros.

• Presença do Politécnico de Leiria, com oferta de ensino, unidades de I&D e uma Cátedra UNESCO especializadas em áreas artísticas, culturais e criativas, ao qual se associa uma comunidade académica jovem, relativamente extensa e multicultural, com potencial de vir a reforçar e a diversificar as práticas culturais juvenis.

• Aposta municipal na educação, bem-sucedida em termos de combate ao abandono escolar precoce e ao insucesso escolar, e na qual se concede uma especial atenção às articulações e interdependências entre Educação e Cultura.

• Interseções regulares entre a cultura e outras áreas de intervenção municipal – saúde e bem-estar, desenvolvimento social, educação, desporto, ambiente – favorecem estratégias e instrumentos mais integrados de política pública.

• Hábitos de trabalho em rede, formal e informal, na área da cultura, que se concretizam em diferentes escalas e âmbitos territoriais.

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Estrangulamentos

• Nível de profissionalização reduzido do Setor Cultural e Criativo local (concentrado sobretudo no ensino artístico de música e dança), com reflexos na capacidade e autonomia de investimento e gestão das organizações.

• Grande dependência da generalidade dos agentes/entidades culturais e artísticos do concelho de fontes de financiamento municipais (PRO Leiria).

• Inadequação da estrutura técnica e orgânica do Município face às suas ambições em termos culturais.

• Debilidades na capacidade de trabalho em rede entre as diversas áreas do Setor Cultural e Criativo.

• Necessidade de reforçar o nível de articulação e de cooperação entre agentes culturais do concelho, incluindo entre estruturas municipais a afetar ao Setor Cultural e Criativo.

• Fraca participação do tecido empresarial na dinâmica cultural e artística de Leiria.

• Desequilíbrios na oferta cultural da cidade de Leiria versus restantes freguesias.

• Estratégia de fomento do empreendedorismo pouco orientada para apoiar o Setor Cultural e Criativo.

• Margem de progressão do Conselho Municipal de Cultural para assumir um papel mais interventivo e operacional.

Oportunidades

• Contexto favorável a um investimento concertado entre as esferas da Administração Central e Local nos domínios da cultura associado à determinação da nomeação de uma cidade portuguesa a Capital Europeia da Cultura em 2027.

• Reconhecimento político da necessidade de estruturar mais consistentemente as ligações entre Cultura e Educação, consubstanciada no Plano Nacional das Artes.

• Sensibilização e tomada de consciência dos stakeholders, locais e regionais, para a importância da cultura no quadro do desenvolvimento do concelho de Leiria.

• Conjugação de esforços políticos e capacidade de diálogo intermunicipal em torno de uma candidatura comum ao título de CEC em 2027.

• Tecido empresarial e industrial denso no concelho e na região, e oferta de formação superior nestas áreas (nomeadamente no Politécnico de Leiria), podem assumir uma dinâmica favorável de interação com o Setor Cultural e Criativo em diversos domínios.

• Notável presença nesta sub-região de bens inscritos na Lista de Património da Humanidade – UNESCO.

• Comunidade associada à diáspora, nomeadamente em França, com relevância económica e social, capaz de se mobilizar para se solidarizar com um projeto local e regional de grande notoriedade – como o da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultural em 2027.

• Próximo período de programação dos Fundos Estruturais 2020-2030 pode vir a abrir oportunidades de financiamento para a estratégia cultural de Leiria.

• Reconhecimento internacional das vantagens de posicionar a cultura enquanto “um quarto pilar do desenvolvimento sustentável” ou como “coração das políticas de desenvolvimento sustentável”.

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• Novo enfoque internacional na importância das “capabilities” culturais enquanto fator de desenvolvimento sustentável das cidades e elemento fundamental para uma cidadania plena, especialmente em momentos de crise e de incertezas como o que atualmente vivemos devido à pandemia COVID-19.

• Reforço e aceleração dos processos de digitalização, configurando hoje novas oportunidades de trabalho e formas de interação com diferentes públicos para a globalidade do Setor Cultural e Criativo.

• Crescente valorização dos espaços públicos, semipúblicos e privados das cidades que estão ao ar-livre, decorrente dos condicionalismos suscitados pela pandemia COVID-19, suscita igualmente novos desafios e oportunidades de trabalho para o Setor Cultural e Criativo.

Ameaças

• Debilidades na oferta turística de Leiria que se repercutem a diferentes níveis: reduzida oferta de alojamento, ausência de atividades de animação, fraca visibilidade/ reconhecimento do destino.

• Debilidades na oferta e cobertura de transportes coletivos dentro concelho e na ligação a concelhos vizinhos, constituem obstáculos aos consumos e fruição cultural.

• Insuficiente territorialização das políticas culturais, mantendo-se uma tendência para a concentração e centralização de recursos, de estruturas e de públicos.

• Impactos da crise pandémica, com reflexos a diversos níveis (alteração das prioridades políticas; retração económica, aumento das taxas de desemprego e precariedade laboral; limitações aos modelos de convivialidade/sociabilidade, etc.), genericamente desfavorável às práticas e consumos culturais.

• Acentuação e agravamento das vulnerabilidades das profissões artísticas e culturais com o impacto no mercado de trabalho, em resultado da crise pandémica.

• Retração de práticas de cooperação institucional, decorrentes das medidas de restrição à mobilidade de pessoas entre fronteiras e aos impactos da crise pandémica nos transportes aéreos.

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