plano territorial de desenvolvimento sustentável (ptds)
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PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SISAL
ARTICULADOR ESTADUAL Ivan Fontes
ARTICULADOR TERRITORIAL
José Silva
REVISÃO GERAL DO PLANO Equipe do CODES
Ildes Ferreira Robson Andrade
BAHIA, 2010
Rua Pedro Manoel da Cunha, 61
CEP: 48.890-000 Valente – Bahia
[email protected] Fone: (75) 3263 2369
COMPOSIÇÃO DO COLEGIADO TERRITORIAL DO SISAL
PODER PÚBLICO
Instituição Representante
Prefeitura Municipal de Araci Francisco de Assis Lima
Prefeitura Municipal de Barrocas Maria Lucenir Mota Oliveira
Prefeitura Municipal de Biritinga Álvaro Pedreira Lopes
Prefeitura Municipal de Candeal Jotanedson Lima Pereira
Prefeitura Municipal de Cansanção Sergio Dias de Andrade
Prefeitura Municipal de Conceição do Coité Paulo Roberto Feitosa
Prefeitura Municipal de Ichu Jildinei Conceição Carneiro
Prefeitura Municipal de Itiúba Marilene Laranjeira da Silva
Prefeitura Municipal de Lamarão Emanuel Messias Correia Lima
Prefeitura Municipal de Monte Santo Ana Maria Campos de Oliveira
Prefeitura Municipal de Nordestina José Gonçalves do Nascimento
Prefeitura Municipal de Queimadas Valdir Fiamoncini
Prefeitura Municipal de Quijingue Romulo Ribeiro Campos
Prefeitura Municipal de Retirolândia Francisco de Oliveira Júnior
Prefeitura Municipal de Santa Luz Marcelo Nunes de Souza
Prefeitura Municipal de São Domingos Antônio José Rios Nery
Prefeitura Municipal de Serrinha Helena Barreto de Souza
Prefeitura Municipal de Teofilândia Jacó Cordeiro Ferreira
Prefeitura Municipal de Tucano Marcos Antonio Campus
Prefeitura Municipal de Valente Tânia Rios
BNB - Banco do Nordeste do Brasil José Carlos Luz de Oliveira
CAR – Companhia de Ação Regional Domingos Magalhães Neto
Diretoria Regional de Educação - DIREC 12 José Givaldo Oliveira de Jesus
Diretoria Regional de Saúde – 12ª DIRES Fernando Oliveira
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Weliton Neves Brandão
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA - Gerência Regional de Serrinha
Djair Brandão Maracajá
Universidade do Estado da Bahia – UNEB - Campus XIV Joselita Gabriel
SOCIEDADE CIVIL
Organização Representante
Agência de Desenvolvimento Solidário – ADS Bahia Claudionor Lima de Aquino
Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia - ARCO Sertão
Eleneide Alves Cordeiro
Angelim OSCIP Delfin Henrique Torres
Articulação das Entidades Urbanas de Valente e Região ARTAB José Dos Santos Matos
Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira - APAEB Valente
Jovanilton Neto da Silva
Associação de Rádios Comunitárias do Sisal - ABRAÇO Sisal Arlene Cristina Freire
Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Araci - APAEB Araci
Ramalho Cardoso dos Santos
Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Serrinha - APAEB Serrinha
Maria das Graças Souza da Silva
Central das Associações Comunitárias de Ocupação e Assentamentos do Semiárido Baiano - COASB
Anacleto Bitencourt da Costa
Centro de Apoio às Iniciativas Comunitárias do Semi-Árido da Bahia - CEAIC
Ezequiel dos Santos Santiago
Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização - COOBENCOL
Cosme Arisvaldo Leal do Nascimento
Cooperativa de Produção de Jovens da Região do Sisal - COOPERJOVENS
Janete Simões
Cooperativa dos Apicultores do Semiárido Baiano - COOPMEL Maria lídia Moreira
Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão - COOPERAFIS
Elione Alves de Souza
Federação das Cooperativas de Crédito de Apoio a Agricultura Familiar - FENASCOOB
Robson da Silva Sena
Fundação de Apoio ao desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira - FUNDAÇÃO APAEB
Maria Rita Alves Ferreira da Silva
Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semiárido da Bahia - FATRES
João Nilton Ferreira Santana
Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais - MMTR Marineide Dias dos Santos
Movimento de Organização Comunitária – MOC Vera Maria Oliveira Carneiro
Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semi-Árido – REFAISA
Nelson de Jesus Santos
Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal -SINTSEF
Antônio Pereira Lima Sobrinho
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Empresas de Fabricação, Montagem e Acabamento de Calçados - SINTRACAL
Ricardo dos Santos Tavares
Sistema Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa - SEBRAE
José Raimundo Carneiro
União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bahia - UNICAFES Bahia
Urbano Carvalho de Oliveira
CONSELHO DE ADMINSTRAÇÃO (2009-2010)
FUNÇÃO NOME ENTIDADE/INSTITUIÇÃO
Presidente Gilca da Silva Morais FATRES - Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região
Vice-Presidente Raydelson dos Santos Prefeitura Municipal de Serrinha
Conselheiro Jovanilton Neto da Silva
APAEB Valente - Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região
Sisaleira
Conselheiro Marineide Disas dos Santos MMTR - Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais
Conselheiro Vera Maria Oliveira Carneiro MOC – Movimento de Organização Comunitária
Conselheiro Alvaro Pedreira Prefeitura Municipal de Biritinga
Conselheiro Marilene Laranjeira da Silva Prefeitura Municipal de Itiuba
Conselheiro José Carlos Luz de Oliveira BNB – Banco do Nordeste DO Brasil
Secretário Executivo José da Silva Santos CODES – Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia
CONSELHO FISCAL
TITULAR
FUNÇÃO NOME ENTIDADE/INSTITUIÇÃO
Conselho Fiscal Jildiney Cenceição Carneiro Prefeitura Municipal de Ichu
Conselho Fiscal Mª das graças Souza da Silva APAEB Serrinha - Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Serrinha
Conselho Fiscal Eleneide Alves Cordeiro
UNICAFES - União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária da
Bahia
SUPLENTE
FUNÇÃO NOME ENTIDADE/INSTITUIÇÃO
Conselho Fiscal - suplente
Jotanedson Lima Pereira Prefeitura Municipal de Candeal
Conselho Fiscal - suplente
Djair Brandão Maracajá EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola
Conselho Fiscal - suplente
Ezequiel dos Santos Santiago CEAIC - Centro de Apoio às Iniciativas Comunitárias do Semi-Árido da Bahia
LISTA DE SIGLAS
ABCAR – Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural
ABRAÇO - Associação de Rádios Comunitárias do Sisal
ADS – Agência de Desenvolvimento Solidário
ANCAR – Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural da Bahia
ANCAR BA – Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural da Bahia
APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira
ARCO SERTÃO– Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia
ASA – Articulação do Semiárido
ASCOOB – Associação das Cooperativas de Crédito da Agricultura Familiar
ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural
ATES – Assessoria Técnica Social, Cultural e Ambiental
BNB – Banco do Nordeste do Brasil
CAT – Conhecer, Analisar e Transformar
CEIAC – Centro de Apoio às Iniciativas Comunitárias do Semi-Árido da Bahia
CERIS – Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais
CEREST – Centro de Referência da Saúde do Trabalhador
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviços
CET – Coordenação Estadual de Territórios
CODES SISAL – Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia.
CMDR – Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural
COOBENCOL – Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização
COOPERJOVENS – Cooperativa de Produção de Jovens da Região do Sisal
COOPERE – Cooperativa Valentense de Crédito Rural
CRA – Centro de Recursos Ambientais CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
CUT – Central Única dos Trabalhadores
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
DIRES – Diretoria Regional de Saúde
EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário
EES – Empreendimentos Econômicos Solidários
EFA – Escola Família Agrícola
EJA – Educação de Jovens e Adultos
EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
FATRES – Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal
FETAG – Federação dos Agricultores e Agricultoras do Estado da Bahia
FETRAF – Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
FUP – Federação Única dos Petroleiros
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Reforma Agrária
IPF – Instituto Paulo Freire
MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDS – Ministério Desenvolvimento Social
MEC – Ministério Educação
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MMTR – Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais
MOC – Movimento de Organização Comunitária
ONU – Organização das Nações Unidas
PACS – Programa Agente Comunitário de Saúde
PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PPI – Programa de Pactuação Integrada
PSF – Programa de Saúde da Família
P1MC – Programa 1 milhão de cisternas
REFAISA – Rede de Escola Família Agrícola do Semiárido
SAN – Segurança Alimentar e Nutricional
SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial
SEC – Secretaria de Educação
SECULT – Secretaria de Cultura do Estado
SEDES – Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza
SENAES/MTE – Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego
SETRE – Secretaria do Trabalho, Emprego e Renda
SEMARH – Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SIBRATER – Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural.
SICOOB – Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil
SIES – Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária
SRH – Superintendência de Recursos Hídricos
STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais
STRAF – Sindicato dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
LISTA DE QUADROS
Quadro I – Área e População (2009) dos Municípios do Território ....................................................................... 19
Quadro II - População Total dos Municípios: 1080, 1991, 2000 e 2009 ................................................................ 33
Quadro III - População Total, Urbana e Rural dos Municípios, 1991 ..................................................................... 34
Quadro IV – População dos Municípios por faixas de idade, 2000 ....................................................................... 35
Quadro V - Proporção de pessoas com 15 anos ou mais de idade com menos de 4 anos de estudo, e da população com 25 anos ou mais e 12 anos de estudo, 2000. ............................................................................... 36
Quadro VI - Media de anos de estudo da população de 10 anos ou mais de idade, por grupos de idade. .......... 37
Quadro VII –Número de matrículas no ensino fundamental, médio e na pré-escola, 2009. .............................. 38
Quadro VIII – Número de Unidades de Saúde e de Leitos para Internação, conforme redes pública e privada de serviços, 2006. ....................................................................................................................................................... 39
Quadro IX - Número de Equipes do PSF por Município, 2006 ............................................................................... 40
Quadro X - Esperança de Vida ao Nascer, por Município, em 2000. ..................................................................... 41
Quadro XI – Produto Interno Bruto (PIB) dos Municípios, total e por setores da economia e per capita. ........... 43
Quadro XII - Situação Fundiária dos Municípios do Território do Sisal: número de estabelecimentos agrícolas e área ocupada (ha). ................................................................................................................................................. 44
Quadro XIII - Nº de Estabelecimentos e Áreas Ocupadas por Arrendatários, Parceiros e Posseiros, 2006 .......... 44
Quadro XIV - Principais produtos agrícolas do território, 2006. ........................................................................... 45
Quadro XV – Produção Agrícola, 1980 (t) ............................................................................................................. 46
Quadro XVI – Presença da Pecuária, 2006. ........................................................................................................... 47
Quadro XVII – Finanças Públicas dos Municípios, 2008 ........................................................................................ 48
Quadro XVIII-A - Indicadores Sociais dos Municípios, 2000 .................................................................................. 49
Quadro XVIII-B - Indicadores Sociais dos Municípios, 2000 .................................................................................. 49
Quadro XIX - Índice do Desenvolvimento Humano 1991 a 2000. ......................................................................... 50
Quadro XX – Indicadores de Vulnerabilidade: Taxa de Alfabetização, Renda Per Capita, Índice de Desenvolvimento Humano, População com 25 anos ou mais e menos de 4 anos de estudo e Índice de Indigência, 2000. ................................................................................................................................................... 51
Quadro XXI - Número médio de moradores por domicílio, conforme rendimento mensal per capita em salários mínimos, 2000. ...................................................................................................................................................... 52
Quadro XXII - Proporção de pessoas que vivem com renda proveniente de transferência governamental, 1991 e 2000 (%) ................................................................................................................................................................. 53
Quadro XXIII - Proporção de pessoas ocupadas por grupos de idade, 2000 ......................................................... 53
Quadro XXIV - Indicadores de Pobreza e Desigualdade ........................................................................................ 54
Quadro XXV - Pessoas com Acesso a Bens e Serviços Básicos pela População dos Municípios, 2000 ................. 55
Quadro XXV – Dimensões do Desenvolvimento, Eixos e Programas. ................................................................... 59
Quadro XXVI - Eixos Temáticos e Programas, Conforme a Dimensão do Desenvolvimento ................................ 60
1. Dimensão Econômica ................................................................................................................................... 60
1.1. EIXO: FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR ....................................................................... 60
1.1.1. Programa: PROGRAMA DE FORTALECIMENTO DE CADEIAS PRODUTIVAS ................................ 60
1.1.1.1. Projeto: DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA PRODUTIVO DO SISAL ................................... 60
1.1.1.2. Projeto: DESENVOLVIMENTO DA OVINOCAPRINOCULTURA ............................................. 61
1.1.1.3. Projeto: DESENVOLVIMENTO DA APICULTURA ................................................................. 63
1.1.2. Programa: PROGRAMA DE APOIO ÀS ATIVIDADES NÃO-AGRÍCOLAS ......................................... 64
1.1.2.1. Projeto: FORTALECIMENTO DA PRODUÇÃO DE ARTESANATO DE SISAL ........................... 64
1.1.2.2. Projeto: EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO DE PEDRAS E OUTROS MINERAIS ...................... 65
1.1.3. Programa: ACESSO E PERMANÊNCIA NA TERRA ........................................................................ 67
1.1.3.1. Projeto: TERRA PRA MORAR E TRABALHAR ....................................................................... 67
1.2. EIXO: INFRA ESTRUTURA ..................................................................................................................... 69
1.2.1. Programa: SANEAMENTO BÁSICO .............................................................................................. 69
1.2.1.1. Projeto: Esgotamento Sanitário ......................................................................................... 69
1.2.2. Programa: ELETRIFICAÇÃO RURAL .............................................................................................. 70
1.2.2.1. Projeto: Luz para Todos e Todas ........................................................................................ 70
1.2.3. Programa: RODOVIAS ................................................................................................................. 71
1.2.3.1. Projeto: Conservação Rodoviária ....................................................................................... 71
1.2.4. Programa: MORADIA POPULAR E PRODUÇÃO ........................................................................... 72
1.2.4.1. Projeto: MORAR BEM ........................................................................................................ 72
2. Dimensão Sociocultural ............................................................................................................................... 73
2.1. EIXO: COMUNICAÇÃO ......................................................................................................................... 73
2.1.1. Programa: Desenvolvimento da comunicação social no território do sisal ............................... 73
2.1.1.1. Projeto: Fortalecimento das entidades de comunicação................................................... 73
2.1.2. Programa: Desenvolvimento de ações de comunicação dos movimentos populares ............... 76
2.1.2.1. Projeto: Fortalecimento do movimento social .................................................................. 76
2.2. EIXO: EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILDADE .................................................................................... 78
2.2.1. Programa: EDUCAÇÃO DO CAMPO INTEGRAL NO TERRITÓRIO DO SISAL .................................. 78
2.2.1.1. Projeto: FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............................................................................. 78
2.2.2. Programa: AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS DE CONVIVÊNCIA E COMPLEMENTARES À ESCOLA – EDUCAÇÃO INTEGRAL ..................................................................................................................... 81
2.2.2.1. Projeto: AMPLIAÇÃO DAS AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS ...................................................... 81
2.2.3. Programa: INCENTIVO À LEITURA CONTEXTUALIZADA, PRAZEROSA, CRÍTICA E CIDADÃ .......... 85
2.2.3.1. Projeto: ESPAÇOS DE LEITURA ........................................................................................... 85
2.2.4. Programa: ACESSO AO ENSINO SUPERIOR ................................................................................. 89
2.2.4.1. Projeto: PRÓ-UNIVERSIDADE DO SEMI-ÁRIDO .................................................................. 89
2.2.5. Programa: EDUCAÇÃO NO CAMPO ............................................................................................ 90
2.2.5.1. Projeto: MOVASISAL: TECENDO COM FIBRA, ALFABETIZAÇÃO E CIDADANIA ................... 90
2.2.6. Programa: PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM ÁREAS DE REFORMA AGRÁRIA .............................. 95
2.2.6.1. Projeto: QUALIFICAÇÃO EDUCACIONAL EM ASSENTAMENTOS ........................................ 95
2.2.7. Programa: EDUCAÇAO DE JOVENS E ADULTOS .......................................................................... 96
2.2.7.1. Projeto: Educação para a Solidariedade ............................................................................ 96
2.3. EIXO: SAÚDE ........................................................................................................................................ 98
2.3.1. Programa: Ampliação e Qualificação do atendimento a saúde ................................................. 98
2.3.1.1. Projeto: Mais Saúde ........................................................................................................... 98
2.4. EIXO: CULTURA .................................................................................................................................. 100
2.4.1. Programa: Desenvolvimento da Cultura Sertaneja .................................................................. 100
2.4.1.1. Projeto: Sistema Territorial de Cultura ............................................................................ 100
2.5. EIXO: GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA .......................................................................................... 101
2.5.1. Programa: Formação Profissional para a Geração de Renda ................................................... 101
2.5.1.1. Projeto: Vida Melhor ........................................................................................................ 101
3. Dimensão Ambiental.................................................................................................................................. 102
3.1. EIXO: MEIO AMBIENTE ...................................................................................................................... 102
3.1.1. Programa: EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................................... 102
3.1.1.1. Projeto: EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................... 102
3.1.2. Programa: COLETA, TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS ......... 104
3.1.2.1. Projeto: Aterra Território ................................................................................................. 104
3.1.3. Programa: COMBATE À DESERTIFICAÇÃO ................................................................................ 106
3.1.3.1. Projeto: RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ........................................................... 106
3.1.4. Programa: RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO ITAPICURU ........................................................ 109
3.1.4.1. Projeto: RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO ITAPICURU .................................................... 109
SUMÁRIO
Apresentação......................................................................................................................................................... 12
Homens e mulheres de fibra ................................................................................................................................. 14
Parte 1 – Aspectos Gerais ...................................................................................................................................... 19
Parte 2 - Questões Históricas, Geoespaciais, Ambientais e Socioeconômicas ...................................................... 21
1. O Semiárido .............................................................................................................................................. 21
2. Um Pouco de História .............................................................................................................................. 24
3. Aspectos Geográficos e Ambientais ......................................................................................................... 28
4. Aspectos Geoespaciais ............................................................................................................................. 30
5. Aspectos Demográficos e Socioeconômicos ............................................................................................ 33
5.1. População.............................................................................................................................................. 33
5.2. Educação .............................................................................................................................................. 36
5.3. Saúde .................................................................................................................................................... 39
5.4. Economia .............................................................................................................................................. 42
5.5. Vulnerabilidade Social ........................................................................................................................... 48
5.6. Acesso a Bens e Serviços Públicos ........................................................................................................ 55
Parte 3 – Metodologia e Gestão ............................................................................................................................ 56
Parte 4 – Planejamento Operacional ..................................................................................................................... 59
Dimensões do desenvolvimento: eixos aglutinadores e programas ........................................................... 59
Considerações Finais ........................................................................................................................................... 111
Referências .......................................................................................................................................................... 112
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Apresentação
O Território do Sisal está situado na Região Sisaleira, no semiárido do Estado da
Bahia, integrado por 20 municípios. Traz consigo uma história de organização dos
movimentos sociais e de articulação de ações visando à implantação de um processo de
desenvolvimento sustentável. Foi daí que partiu, em 1979, a primeira mobilização de
camponeses no Estado, pós 64, para reivindicar do governo do Estado medidas contra o
fisco, que castigava os agricultores no momento da comercialização dos seus produtos.
Dessa articulação nasceu a Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia
(APAEB), municipalizada alguns anos depois.
Em finais da década de 80 (século passado), surgiu o Movimento dos Mutilados do
Sisal: vítimas de acidente de trabalho no processo de desfibramento do sisal, na máquina
assassina conhecida como paraibana, perderam dedos, mãos e antebraços e reivindicavam o
direito ao amparo previdenciário, conquista que veio anos mais tarde. O Presidente Lula,
inclusive, em sua Caravana da Cidadania, pode conhecer de perto esse problema ao passar
pela região.
Nesse mesmo período, houve mobilização de oposição dos trabalhadores rurais, em
quase todos os municípios, em torno dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR),
controlados por políticos pertencentes às elites locais. Aos poucos, os trabalhadores foram
assumindo o controle dessas entidades em todos os lugares.
Após a promulgação da Constituição de 1988, a população de muitos municípios se
mobilizou durante a elaboração das Leis Orgânicas Municipais, conseguindo conquistas
importantes em muitos locais. Foi o Movimento Cidadania em Ação que resultou na luta por
transparência na administração pública em alguns municípios.
Na década de 90, deu-se a luta contra o trabalho infantil. Crianças a partir dos 7-8
anos de idade eram impedidas de frequentar a escola e submetidas a formas degradantes de
trabalho, especialmente no sisal e nas pedreiras. Em 1997, iniciam-se os preparativos para a
implantação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) nos municípios de
Valente, Conceição do Coité, Retirolândia, Riachão do Jacuípe e Santaluz, ampliado
posteriormente para todo Estado.
Essas mobilizações, além do sentido intrínseco, iam gerando outros resultados. Nasce
o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), que iniciou uma discussão sobre o
papel da mulher na sociedade, resultando nos atuais movimentos de gênero. Em 1996, cria-
13
se a Fundação de Apoio aos Trabalhadores da Região do Sisal (FATRES). Nasce a Cooperativa
de Artesanato Fibras do Sertão (COOPERAFIS) por mulheres artesãs. A discussão sobre
agricultura familiar já está presente e surgem as cooperativas de crédito para atuar no setor
creditício (Valente, Serrinha, Araci, Santaluz). Nascem, ainda, grupos de economia solidária,
alguns se transformam em cooperativas de produção. Funda-se Arco-Sertão e a União das
Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária passa a atuar na região. Entra em
pauta a discussão sobre políticas públicas: as lideranças populares rompem com a prática
vigente, onde as (poucas) obras públicas eram definidas apenas em épocas eleitorais pelos
chefes políticos, de acordo com seus interesses, iniciando-se um novo modelo (ainda em
construção) de definição de políticas públicas, onde as representações da sociedade civil têm
o destaque que merecem.
Toda essa atmosfera1 constitui um cabedal social, com grandes talentos emergentes
e uma experiência acumulada, que define o ambiente propício para a criação do Território
de Identidade do Sisal em 2003, reconhecido pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial
(SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em 2005. O Território do Sisal, hoje
Território da Cidadania, representado pelo Conselho Regional de Desenvolvimento Rural
Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES SISAL), não se propõe a ocupar o
espaço do poder público nem das organizações sociais, mas a constituir-se no instrumento
catalisador das potencialidades técnicas e políticas para implementação do desenvolvimento
sustentável no Território.
O presente Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável (PTDS) se constitui no
instrumento-guia para a implementação das ações nele contidas, fruto das discussões e
reflexões desenvolvidas pelo poder público e pela sociedade civil. Ele está organizado quatro
partes, com vários tópicos em cada uma delas.
Finalizando, queremos agradecer a todos os representantes da sociedade civil e do
poder público pela dedicação e empenho na construção desse processo de trabalho, ao
MOC, à ASCOOB, a todos os organismos governamentais do Estado da Bahia e federais que
apóiam decididamente esse trabalho, com destaque para a SDT/MDA, e os colaboradores
técnicos que nos ajudam, com seus conhecimentos, a compreender melhor nossa realidade.
Gilca da Silva Morais Presidente
1 O Movimento de Organização Comunitária (MOC) e a Pastoral Rural da Igreja Católica tiveram papel decisivo
a partir de meados da década de 70 (século XX) e contaram, por sua vez, com o apoio de muitas instituições nacionais (CESE, CERIS etc.) e internacionais.
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HOMENS E MULHERES DE FIBRA
No cenário de paisagens físicas e humanas bastante heterogêneas que caracterizam
o estado da Bahia, o Território do Sisal emerge com peculiaridades marcadamente distintas
das demais regiões que servem de berço para o multifacetado povo baiano.
É nele que a Bahia assume com maior nitidez a sua condição de estado- membro da
grande nação nordestina. Seja por suas características fisiográficas, no meio do sertão
semiárido, seja pela história e pelos costumes que forjaram a identidade de seus habitantes.
As imensas planícies iluminadas pelo sol, onde, por quilômetros e mais quilômetros,
se espalham as plantações de sisal, combinadas com caprinos, ovinos e bovinos e com a
caatinga. Elas foram palco de dois fenômenos históricos e sociais profundamente
emblemáticos do Nordeste brasileiro, e que até hoje habitam o imaginário do povo deste
lugar: o messianismo e o cangaço.
Foi por esta região que, na Bahia, incursionou o Capitão Virgulino Ferreira da Silva, o
legendário Lampião, e a Coluna Prestes cujos integrantes ficaram conhecidos pelos
sertanejos como “os revoltosos”, deixando um rastro de façanhas e medo que até hoje
pulsam na memória coletiva da população
Também foi por suas paisagens ásperas e pedregosas que peregrinou, no final do
século XIX, o beato Antônio Conselheiro, arregimentando seguidores para construir sua
utopia no povoado de Belo Monte, às margens do rio Vaza-Barris, que verteria leite em meio
a barrancas de cuscuz.
Todos, Conselheiro, Lampião e prestistas, são ícones sertanejos e nordestinos que,
independente de quaisquer controvérsias, funcionam, sem dúvida nenhuma, como
elementos de identificação cultural dos habitantes do Nordeste, e, por extensão, do
Território do Sisal.
O misticismo deste povo, que teve no sebastianismo de Antônio Conselheiro a sua
expressão mais profunda e radical, ainda permanece latente nos tempos atuais, o que pode
ser constatado nas peregrinações de fiéis ao santuário do Monte Santo, que se ergue,
majestoso, no coração do território sisaleiro, e que foi palco de uma das mais importantes
obras do cinema brasileiro, Deus e o Diabo na Terra do Sol, do renomado cineasta baiano
Glauber Rocha.
Outros elementos vão se reunindo no espaço e no tempo para forjar a personalidade
e a cultura do povo sisaleiro, conferindo-lhe características próprias que o distinguem dos
15
habitantes de outras regiões da Bahia, sem que isto lhe tire ou lhe diminua a legítima
condição de baiano, até porque, a singularidade dentro da pluralidade é a característica
principal da baianidade.
Mas aqui se configura a nordestinidade do baiano. A começar por suas paisagens,
pontilhadas por lajedos, carrascais e tabuleiros, onde vicejam mandacarus, caroás, facheiros,
macambiras e gravatás, tão bem descritas pelo grande clássico da literatura nacional, Os
Sertões, de Euclides da Cunha. E como parte indissociável desta paisagem, com ela própria
se confundindo, assoma a figura heróica do vaqueiro, com suas típicas vestimentas de couro
para permitir adentrar na caatinga.
É também nesta paisagem áspera e pedregosa onde, mais do que nas demais regiões
da Bahia, passeiam os bodes e os jumentos, os mais eloquentes representantes da autêntica
fauna do sertão nordestino e que tiveram papel determinante para assegurar as condições
mínimas de vida do sertanejo. Os primeiros se amontoando aos magotes nos currais de pau-
a-pique, ou se espalhando pela caatinga, onde se denunciam, praticamente invisíveis, pelo
tilintar dos chocalhos ou pelos berros esganiçados, enquanto retiram das cascas das árvores
e das folhas secas o sustento que lhes garante enfrentar as mais prolongadas das estiagens;
16
os segundos, retrato perfeito da humildade e resignação, acompanham sempre o homem do
campo na sua luta do cotidiano, a transportar as folhas do sisal colhidas nos “campos de
sisal”, ou simplesmente servindo de montaria para os deslocamentos dos sertanejos nas
suas convivências sociais.
Pois não só de trabalho vive o homem da terra do sisal. Mesmo com as privações do
dia-a-dia e o imenso sofrimento causado pelas condições estabelecidas, o sertanejo desta
região ainda encontra oportunidades para a festa e a alegria. E aí vêm as bandas de pífano,
aqui chamadas de calumbis, que percorrem os lugarejos animando festas juninas e
acontecimentos religiosos; os trovadores que animam, com sua voz e viola, as feiras-livres e
cerimoniais de destaque; os tocadores de pé-de-bode, pequena sanfona de oito baixos,
apropriada para os forrós realizados de improviso nas vendas e botecos das feiras-livres das
vilas e povoados, onde, depois de tomar umas lapadas de cachaça ao pé do balcão, mais leve
ou tipo poca-ôio, e antes de pegar o caminho de volta para casa, o sertanejo vai se refestelar
numa barraca coberta de lona, comendo sarapatel de porco ou uma buchada de bode, ou
até mesmo uma passarinha bem assada de boi. Ainda presentes, o reisado, comemoração da
visita dos Três Reis Magos ao Menino Jesus, cujo grupo de cantadores visita todos os
moradores de uma comunidade, de casa em casa, com acompanhamento do pandeiro e
cavaquinho.
Alegria também nas vaquejadas, normalmente promovidas por uma liderança
política; nas pegas de boi, promovidas em algum descampado de caatinga fechada onde fica
mais difícil para o vaqueiro agarrar à unha o barbatão; e nas corridas de argolinha,
praticadas em muitos lugares, ainda com a mesma poética de antigamente: uma disputa
entre o azul e o encarnado, cada um com sua torcida, e uma bela rainha de cada lado,
portando seus majestosos estandartes com símbolos armoriais.
Nos últimos tempos, esses elementos culturais, que sempre fizeram parte do
universo lúdico, laboral ou religioso do sertanejo, passaram a ser assimilados e introduzidos
nos grandes centros urbanos, seja por artistas ou intelectuais independentes, seja por
grupos que constituem a indústria da cultura e do entretenimento.
Muitos artistas buscaram inspiração na magia e no modo de vida dos habitantes do
Território do Sisal, ganhando recentemente um palco apropriado: a Casa da Cultura, em
Valente. Ainda no campo do áudio-visual, foi nas lendas da região que o artista plástico e
cineasta Chico Liberato buscou inspiração para elaborar o primeiro desenho-animado de
longa metragem nacional, o Boi Aruá, que conta a estória de um fazendeiro arrogante
17
vencido e humilhado pelo boi misterioso e mandingueiro. Premiado internacionalmente, o
Boi Aruá tem a participação de agricultores humildes de Monte Santo, que emprestaram
suas vozes a alguns dos personagens do filme.
Nas artes plásticas, temos Juraci Dórea, premiado na Bienal de Veneza com o Projeto
Terra, conjunto de esculturas feitas de couro instaladas solitariamente no meio da caatinga e
que parecem espantalhos dos maus agouros que prenunciam as periódicas tragédias das
estiagens. Também Sante Scaldaferri, que compôs uma obra singular, transplantando para
as telas as figuras dos ex-votos deixados por pagadores de promessa no santuário de Monte
Santo. Há ainda a fotografia mágica de Pierre Verger que na década de 50 documentou a
vida do catingueiro que ganhava a vida com a extração do caroá e do sisal.
No entretenimento, temos a Vaquejada de Serrinha, evento que integra o roteiro
nacional deste esporte genuinamente brasileiro, reunindo milhares de pessoas na maior
cidade da região sisaleira e movimentando grandes somas de dinheiro com a contratação de
bandas musicais que atraem multidões, embora muitas vezes destoando daquilo que se
podia esperar de uma autêntica festa rural.
Mas há também as manifestações musicais verdadeiramente sertanejas, e sem fins
comerciais. A mais expressiva é o Grupo da Quixabeira, composto por trabalhadores e
trabalhadoras rurais da própria região do sisal. Descoberto pelo musicólogo Bernard van der
Weid e incentivado pela APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidário da
Região Sisaleira, este grupo se apresenta regularmente em festas populares da região, já
gravou um disco e participa de eventos culturais em Salvador e no sul do país, difundindo os
cantos de trabalho, as chulas e os sambas rurais que eles próprios compõem nos raros
momentos de lazer ou durante a lida no campo.
Ainda na área musical, merece destaque o velho sanfoneiro da cidade de Euclides da
Cunha, Pedro Sertanejo, pai do músico Osvaldinho do Acordeon, que deixou um legado de
talento e compromisso com o autêntico forró nordestino. Há também o historiador,
compositor e cantor Fábio Paes, da cidade de Serrinha, que deu um tratamento sofisticado
às toadas e cantigas sertanejas; e Jurandir da Feira, também nascido em Serrinha, autor de
um rico repertório musical inspirado nos ritmos regionais, com músicas gravadas pelo
próprio Rei do Baião, Luís Gonzaga.
Isto sem falar nos inúmeros artistas anônimos que povoam este imenso território,
compondo, cantando, escrevendo, pintando, dançando, esculpindo, encenando, trançando
artesanato com as fibras do sisal, e que não contam com o devido reconhecimento da
18
opinião pública por nunca terem sido ungidos pelos controladores da mídia, ou por não
serem contemplados por políticas públicas que valorizem efetivamente as manifestações
artísticas de caráter popular.
Todos eles, famosos e desconhecidos, contribuem com o seu talento para fortalecer
a identidade cultural deste povo que habita o Território do Sisal. Os trabalhos desenvolvidos
por esses artistas servem de espelho para a alma desta gente, que cultiva um forte
sentimento de pertencimento ao lugar onde nasceu.
Qualquer iniciativa voltada para a territorialização de políticas públicas a serem
desenvolvidas pelos governantes não pode deixar de levar em conta esta fibra do sertanejo,
tão forte quanto a fibra do sisal. E, sobretudo, precisa resgatar, valorizar e propagar todos
esses elementos históricos e culturais mencionados, pois são eles que constituem a
argamassa a ser utilizada em qualquer projeto voltado para a união e desenvolvimento dos
diversos municípios que constituem o Território do Sisal.
19
Parte 1 – Aspectos Gerais
O Território do Sisal é constituído por 20 (vinte) municípios, habitado por 572.337
pessoas e uma extensão territorial de 20.154 km², o correspondente a 3,5% do Estado da
Bahia. Tem fácil acesso por rodovia, através da BR 116 e BR 324, e das BA 409 e BA 416. Na
cidade de Valente, sede do CODES, há um campo de pouso pavimentado para pequenas
aeronaves. Há emissoras de rádio AM nos municípios de Serrinha, Conceição do Coité e
Monte Santo, e FM em todos os municípios, destacando-se as Rádios Comunitárias de
Valente e Santaluz, devidamente autorizadas pelo Ministério das Comunicações. Todos os
municípios possuem telefonia fixa e móvel e recebem sinais de TV de todas as emissoras.
Conforme se pode observar no quadro seguinte, a densidade da população é de 28,4
habitantes/km².
Quadro I – Área e População (2009) dos Municípios do Território
Município Área – Km² População
2009¹
Araci 1.524 54.713
Barrocas 188 13.868
Biritinga 431 14.260
Candeal 455 9.050
Cansanção 1.320 34.093
C. do Coité 1.086 62.893
Ichu 128 6.148
Itiuba 1.731 36.960
Lamarão 356 12.995
Monte Santo 3.285 53.429
Nordestina 471 12.670
Queimadas 2.098 28.729
Quijingue 1.271 28.143
Retirolândia 204 11.798
Santaluz 1.597 35.416
São Domingos 265 9.730
Serrinha 268 73.859
Teofilândia 318 21.461
Tucano 2.801 29.827
Valente 357 22.295
TOTAL 20.154 572.337
Fonte: IBGE (WWW.ibge.gov.br) – (¹) Estimativas.
20
21
Parte 2 - Questões Históricas, Geoespaciais, Ambientais e Socioeconômicas
1. O Semiárido
O Brasil nasceu a partir do Nordeste. Foi aqui que os europeus desembarcaram,
oficialmente, em 1500. Entretanto, enquanto território com suas peculiaridades e palco
discussão de muitos problemas sociais, passou a existir somente a partir da década de 40,
século passado, com os primeiros ensaios de Celso Furtado, Milton Santos e outros. Antes, a
imagem que se tinha do Nordeste era aquela apresentada por Graciliano Ramos2 em Vidas
Secas: solos ressequidos, carcaças de animais, migrantes com suas trouxas sobre a cabeça
fugindo das secas. Éramos tratados como nortistas.
Em 1936, o governo federal demarca o então chamado polígono das secas, região de
extrema pobreza que envolve áreas dos nove Estados nordestinos e norte de Minas Gerais,
que mais tarde, com a SUDENE, viria, teoricamente, a ter atenção particular das ações na
região, cujos resultados são reconhecidos como pífios.
Na década de 50 e início dos anos 60, o debate sobre o Nordeste ganhou corpo,
tendo-se conseguido a criação da SUDENE em 1959. Em 1969, o Nordeste foi instituído3,
enquanto macrorregião. Nele está instituída a maior região semiárida do mundo, região esta
que também não existia oficialmente, só instituída em 1989 pela Lei 7827, definindo-a como
área de atuação da SUDENE, e ampliada pela Resolução 10929/94, que incorporou parte dos
territórios de Minas Gerais e Espírito Santo4, correspondendo a 12,6% do território
nacional5. No território baiano estão 45% do semiárido nordestino, área correspondente a
438,4 mil km² que equivale a 77,6% do Estado. Nele vive cerca de 6,5 milhões de pessoas,
46,4% da população estadual. Nessa área situam-se 2656 (63,5%) dos 417 municípios
baianos.
2 Graciliano Ramos nasceu em 1892 e morreu em 1953. Militante do Partido Comunista publicou, em 1938,
Vidas Secas. 3 O IBGE criou cinco macro-regiões: Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul, sendo a Região Nordeste a
terceira, em dimensão territorial, com área próxima à da Itália. 4 A área do semiárido brasileiro corresponde a 1.106.529 km², sendo que 974.752 km² estão no Nordeste,
107.344 em MG e 24.433 no ES. (Cf. Cáritas Brasileira - www.cliquesemiarido.org.br). 5 Do total de 5.561 municípios brasileiros, 1.133 (20,4%) estão na região semiárida.
6 Cf. Nascimento, 2008: 234.
22
Apesar de a Bahia ser um dos estados mais ricos do país (6ª economia), ainda se
iguala àqueles de piores indicadores sociais7. Mesmo abrigando 28% da população brasileira
(cerca de 53 milhões de pessoas), a contribuição da Região Nordeste na formação do
Produto Interno Bruto (PIB8) nacional é de apenas 13,1%, o que reflete a concentração de
investimentos noutras regiões (a relação PIB - população corresponde a 0,47), enquanto na
Região Sudeste estão 42,3% da população brasileira e sua participação no PIB nacional é de
56,5% (a relação PIB - População é de 1,3 – três vezes superior à encontrada no Nordeste).
Os longos períodos de seca que se repetem, de forma cíclica, em média a cada 12
anos, têm sido o grande vilão da situação de pobreza e de miséria em que se encontra
grande parte da população. O índice pluviométrico anual, além de baixo, é irregular, mais de
70% das chuvas se concentram num curto espaço de tempo, ficando a maior parte do ano
sem chover, o que inibe a atividade produtiva. Já nos períodos de estiagem prolongada, os
índices pluviométricos caem para 200 mm e 400 mm, inviabilizando quase que
completamente a atividade agropecuária. Nessas circunstâncias, fica praticamente
impossível a vida humana, gerando grandes fluxos migratórios da população, que busca a
sobrevivência noutras regiões9.
Desde os tempos da Monarquia, as condições climáticas do Nordeste são utilizadas
como responsáveis pela pobreza e pelo atraso da região, condição necessária para a
manutenção do domínio político nas mãos das elites. O semiárido nordestino possui a maior
concentração de açudes do mundo, com um volume de água estimado em 37 bilhões de
metros cúbicos; também possui a segunda maior reserva subterrânea, estimada em 135
bilhões de metros cúbicos, o que equivale a 35% a mais de todo volume de água que o rio
São Francisco despeja no mar anualmente10. Apesar de pouco, o volume de água
proveniente das chuvas corresponde 600 bilhões de m³, cinco vezes superior ao volume de
água do São Francisco11. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), a água é considerada
7 A publicação Bahia Análise & Dados, SEI, 2008, apresenta dados diferentes em sua pág. 232: área do
semiárido brasileiro 980.056,7 km², nordestino 876.466,7 km² (omite o Espírito Santo). A mesma publicação registra 252 Municípios como pertencentes ao semiárido baiano, abrangendo uma área correspondente a 390.549,4 km² que equivale a 45,5% do semiárido nordestino. 8 Dados do IBGE, 2007.
9 Os longos períodos de seca trazem consigo, além da falta de água, a falta de alimentos. A vegetação
desaparece e parte dos criatórios sucumbe. No passado, parte considerável da população recorria à caça abundante para vencer os momentos de crise, alternativa que já não existe nos dias atuais com a devastação da flora e da fauna. 10
FILHO, João Alves (Org.). Transposição do Rio São Francisco. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2008, p. 34; 11
RIBEIRO, Manoel Bonfim. A potencialidade do Semi-Árido Brasileiro. Rio de Janeiro: publicação independente, 2007, p. 16;
23
escassa quando a disponibilidade mínima chega a 1.000 m³ de água por pessoa, por ano. No
Nordeste, a menor disponibilidade está em Pernambuco, com 1.270 m³/pessoa/ano,
chegando a 2.279 m³ no Ceará e 9.185 m³ no Piauí12.
Fica evidenciado que o problema não está na falta de água, mas nas políticas de
utilização que foram implementadas ao longo do tempo. Os fatos estão à nossa mira.
Apenas como ilustração, cita-se o Açude de Cocorobó que começou a ser construído na
década de 1950 e inaugurado em 1967, cobrindo uma área de 2.395 ha, inclusive a Velha
Canudos e parte da sua memória. Aquele mar de água doce em nada contribuiu para reduzir
a pobreza e a exclusão social.
Mas o avanço do capitalismo impõe novas formas de utilização da água. Leis foram
criadas para regular a utilização da água no subsolo e nos mananciais superficiais. Os casos
de privatização da água tornam-se cada vez mais frequentes e de forma moderna,
apontando para a substituição do modelo tradicional de construção de represas e escavação
de poços em áreas particulares dos fazendeiros, coisa que o DNOCS fez muito bem durante
toda sua existência:
a Nestlé vem construindo um monopólio, domina quase 20% das vendas mundiais de água, e no Brasil é dona das marcas Aquarel, São Lourenço, Petrópolis, Perrier, San Pellegrino e Acqua Panna e mais recentemente, Santa Bárbara, além de ter sido proibida de explorar água em São Lourenço, Minas Gerais, em 2004. No planeta, o mercado de água privatizada é controlado por quatro empresas, três delas francesas, outra alemã, segundo dados do Le Monde Diplomatique de 2005: “Atualmente, as ‘Três Irmãs’ (Veolia, Ondeo e Saur) controlam 40% do mercado mundial da água privatizada em mais de 100 países. O único rival no setor, que ocupa a terceira posição mundial, é a RWE (gigante da energia na Alemanha) e sua filial britânica, Thames Water, que obteve êxito ao se instalar no mercado americano, via aquisição da líder nacional American Water Works
13.
O programa de construção de cisternas, reivindicada pelas organizações da sociedade
civil e executado pelo governo, é uma conquista importante: primeiro, por permitir maior
democratização do acesso à água; segundo, por reduzir (ainda não elimina) o uso político da
água; terceiro, por diminuir os riscos de flagelo e a migração em massa, provocados pela
sede e pela fome.
Embora necessária, a captação e armazenamento de água para uso doméstico
representam a cesta básica de alimentos do passado: a população está com fome e precisa
de comida; está com sede, precisa de água. É crucial, portanto, para a subsistência das
12
Luiza Teixeira de Lima Brito et alli. Potencialidades de Água da Chuva no Semiárido Brasileiro. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2007. (disponível em http://www.cpatsa.embrapa.br/kw_storage/keyword.2007 - acesso 12.07.2010) 13
http://oinstituto.org.br/p2p/ (acesso em 19.08.2010)
24
pessoas, mas não ajuda a combater a pobreza e a melhorar as condições de vida. É preciso
dar o segundo passo: água para produzir alimentos e para gerar riqueza, projetos de
irrigação para a agricultura familiar. Somente com a firme decisão de criar as condições para
tornar a agricultura familiar produtiva e competitiva num mercado cada vez mais dominado
pelas grandes corporações é que se começará, efetivamente, a substituir o atraso e a
pobreza por um verdadeiro processo de desenvolvimento sustentável.
2. Um Pouco de História
A história da Bahia, como de outros territórios, precisa ser conhecida não como um
mero apêndice de outros assuntos e com distorção dos fatos, mas pela importância
intrínseca: entender a dimensão territorial do regional e do local torna-se uma necessidade
de se entender no mundo confuso e veloz de nossos tempos, assim como a perspectiva
territorial e suas políticas que se articulam. A história da Bahia é, portanto alvo de estudos e
de abordagens mais diversas. Aqui buscaremos apresentar alguns elementos de como se
constituiu a região do sisal, onde está inserido o Território do Sisal, e quais as relações
histórico-culturais que antecederam o atual momento e contribuíram ou conflitaram para
essa história.
É neste contexto que os europeus viram seu olhar para o Brasil. O Recôncavo baiano
foi o palco da chegada dos primeiros portugueses em missão oficial14. Violentos como
sempre foram, os portugueses aqui chegaram com gosto de sangue expresso contra a
população nativa; as comunidades indígenas que não se submetiam às formas éticas, morais
e culturais de violência praticadas pelos portugueses, ou à escravização para o trabalho,
eram violentamente dizimadas. As primeiras vítimas foram os Tupinambás que dominavam
todo litoral brasileiro, inclusive o entorno da Baía de Todos os Santos; distribuídos em várias
etnias15, foram praticamente exterminados16. A partir de meados do século XVI,
intensificaram-se as medidas de ocupação do sertão. A pecuária extensiva foi um dos
14
Registros históricos indicam a presença de europeus no Continente antes de 1500. Em processo sobre os crimes do navio La Pélerino, o tribunal francês de Bayone faz referências à presença de portugueses na Ilha de Itamaracá (Ilha que Canta, em Tupy), desde 1491 e sugere que os franceses também estiveram por aqui. www.wikipedia.org/wiki/História. 15
Tamoios, Tupiniquins, Potiguaras, Temiminós, Tabajaras, Caetés, Amoipiras, Tupinaras, Aricobés, entre outros. 16
Historiadores registram que 5 milhões de tupinambás foram assassinados até 1565 http://www.midiaindependente.org/pt/blue/ (acesso 27.09.10). Há, ainda, dois núcleos de Tupinambás no sul da Bahia com 20 aldeias e menos de 4.000 índios.
25
instrumentos utilizados para ocupar o vasto espaço territorial, pela sua capacidade de
penetração pelo interior adentro e pelos baixos custos que representavam os criatórios
bovinos17. Essa foi a estratégia principal fincada no princípio latifundista18 que permitiu, já
no século seguinte à ocupação, a presença de populações em muitas localidades
interioranas, auxiliada, em algumas regiões, com a exploração da mineração.
Assim chegaram os colonizadores ao semi-árido baiano e nordestino: um espaço cuja
notoriedade deve-se muito às secas, estiagens, e, portanto, à carência de todas as formas,
sobretudo de recursos naturais, econômicos e sociais, o que, por toda vida, arrebatou a
auto-estima do sertanejo, lembrado sempre pelo alto grau de pobreza e de indigência e
utilizado, ao longo dos séculos, por setores políticos, como elemento para justifica sua
dominação. O Estado, longe de implementar políticas que pudessem compensar as
17
À medida que os portugueses conseguiam impor seu domínio sobre os indígenas, que recuavam para o interior, conseguiram ocupar o território (...) com seus criatórios de gado bovino, chegando à Região do São Francisco no Século XVIII (OLIVEIRA, 1987 : 24). 18
Em 1530 a Coroa instituiu o sistema de sesmarias que consistia em ceder, para pessoas da confiança do rei, grandes extensões territoriais para exploração.
26
deficiências naturais, alimentou toda uma história marcada pela cultura do assistencialismo
e do clientelismo – características nominais do estado de pobreza latente da região; os
representantes do Estado não apenas legitimaram toda a situação como esforçaram-se para
preservá-la ao longo dos tempos. Não há registro de qualquer medida de impacto voltada
para combater a pobreza, o atraso e a ignorância no Nordeste por parte de governantes.
Em todo semi-árido baiano (258 Municípios) desenvolveu-se, assim como nas outras
grandes regiões, uma pecuária extensiva e com base latifundiária. O sistema de Capitanias
Hereditárias e de Sesmarias implantado, ainda na primeira metade do século XVI, permitiu a
ocupação das terras pelos portugueses ou por outras pessoas da confiança deles, a exemplo
dos jesuítas19, sem nenhuma preocupação com o tamanho das áreas20, criando-se todo tipo
de obstáculo para o surgimento de atividades econômicas de base familiar.
A Região do Sisal passa por todos os feitos dos portugueses e seus sucessores. Em
finais do século XIX para inícios do século XX, introduziu-se aqui o cultivo do agave que
encontra as condições edafoclimáticas adequadas para o seu desenvolvimento. O agave
pouco se desenvolveu até finais de 1930, visto que havia um concorrente nativo
amplamente utilizado pelas populações nordestinas: o caroá.
19
No final do século XV os Jesuítas começaram a ser os maiores donos de propriedades territoriais (FREIRE, 1906 : 92). 20
Somente no século XVIII (1729) a Coroa regulamentou o assunto, estabelecendo que nenhuma sesmaria poderia ter mais do que três léguas por uma de largura (OLIVEIRA, op. cit, p. 22).
27
O sisal alcançou papel de destaque na Bahia, no período de 1938-42, quando o
governo Landulpho Alves passou a estimular o seu plantio como alternativa de sobrevivência
do sertanejo, aproveitando as condições favoráveis do mercado interno criadas pelos
obstáculos de importação de produtos similares por conta da Segunda Guerra Mundial.
Altamente resistente às secas, o sisal apóia-se especialmente na cultura minifundista,
em pequenas e médias propriedades de terra, cujo alicerce principal é a agricultura de
subsistência. Até finais da década de 40, a fibra do sisal é extraída manualmente, nos
conhecidos farrachos21. A fibra era utilizada para a confecção de cabrestos, cordas, cordéis,
sacarias etc. que passam a ocupar lugar de destaque no mercado interno como no externo,
naqueles casos possíveis, suplantando assim o caroá.
O processo artesanal de desfibramento do sisal, através do farracho, é substituído
pelo processo mecanizado através da “máquina paraibana”, ganhando força a partir da
década de 50 com a política de industrialização implantada no país.
A “máquina paraibana” modernizou de forma significativa o setor, e trouxe para a
região mudanças de destaque, alterando radicalmente as relações de trabalho. Antes, o
farracheiro desfibrava o seu próprio sisal ou de terceiros através da meia; a “paraibana”
criou a figura do “trabalhador do motor”22, estabelecendo uma relação patrão-empregado
até então desconhecida. Os primeiros motores, ainda na segunda metade da década de 40,
pertenciam a “gente rica”, fazendeiros e comerciantes. Com a “chegada” à região, da
legislação trabalhista, os proprietários de motores transferiram tal responsabilidade para os
agricultores familiares ou para os próprios trabalhadores, criando-se uma situação inusitada:
o dono do motor (“máquina paraibana”) era, em muitos casos, um trabalhador, mas tinha os
seus pares como empregados diante da lei. A outra modificação importante no processo de
desfibramento do sisal foi os altos índices de acidentes de trabalho, resultando, na maioria
das vezes, em mutilação dos trabalhadores23.
Os historiadores apontam que a Região do Sisal é marcada pelo mesmo tipo de
expansão político-econômica da região semiárida e do conjunto do nordeste: dos tempos
21
O farracho é um objeto construído com uma forquilha de madeira com duas lâminas de ferro, uma dela móvel: de um lado, uma pedra pendurada permite a pressão suficiente para “descascar” a folha do sisal e, do outro, um pedal feito de vara permite que o farracheiro movimente a lâmina para cima para introduzir a folha do sisal, puxando-a com a ajuda do cambito, também feito de vara. 22
O cortador, o palheiro, o desfibrador, o resideiro e a estendedeira. 23
Há uma espécie de pacto, ainda vigente nos dias atuais, que preconiza o seguinte: em casos de acidentes graves, com mutilação do trabalhador, o dono do motor, cuja situação econômica é similar a do trabalhador acidentado, não podendo arcar com os custos indenizatórios e transfere a propriedade do motor para o acidentado, já que a atividade não permite recolher contribuições previdenciárias.
28
coloniais herda-se a cultura latifundista, o assistencialismo e paternalismo com suas
configurações diversas, e uma forte visão místicoreligiosa de mundo, reforçada, já em
épocas mais recentes (período da República Velha), pelo coronelismo que constrói todo o
arcabouço político para sua consolidação, sustentado pelo medo e pelas incertezas da
população, resultando num sistema oligárquico poderoso cuja reminiscência perdura até os
dias atuais. Imprime-se, nas mentes dos sertanejos, toda uma concepção fatalista, levando-
os a atribuir a Deus as responsabilidades pelas desigualdades e pela exclusão social; se há
perda de colheitas, é fruto da vontade de Deus; se vem a seca, é castigo de Deus24. E isso
acabou sendo aceito e legitimado pela população até os dias atuais.
Na virada do período imperial para a República, as populações do semi-árido não
recebem as atenções dos governos. Ao contrário, intensificam-se os esforços em benefício
do Centro-Sul. O Nordeste, que ficou no topo da economia nacional por mais de três séculos,
começa a ficar para trás. Foi nesta região que se iniciou a industrialização (produção de
açúcar e indústria têxtil) que, por falta de apoio e incentivo, migrou para o Centro-Sul.
A história da região confunde-se com a produção econômica e as relações sociais.
Essa base relacionou-se de forma significativa com a herança portuguesa e indígena para
formar a visão de mundo própria do sertanejo. Em certo sentido, as manifestações culturais
da região moldam a história social de suas populações. Atualmente não se busca apenas
identificar os governantes e seus atos políticos, mas também a ciência histórica, na tentativa
de se aproximar mais da realidade dos fatos; busca-se compreender o processo histórico
como uma construção social, identificando e reconhecendo o papel exercido pelos sujeitos
coletivos das classes trabalhadoras.
3. Aspectos Geográficos e Ambientais
Ao longo dos anos e em estudos mais recentes, pesquisadores têm identificado a
complexa diversidade do semiárido, cuja biodiversidade do seu principal bioma – a caatinga–
continua desconhecida em muitos aspectos. A diversificação dos ecossistemas, marca das
características ambientais brasileiras, está também presente no semiárido, no ecossistema
da caatinga, ainda pouco conhecidos.
24
Há muitas histórias orais contadas pelos sertanejos em que foram pedir socorro aos dirigentes políticos (prefeitos etc.) em momentos críticos e eles respondiam que “deviam reclamar a São Pedro”, numa alusão de que não tinham responsabilidade frente às situações.
29
Esse ecossistema permite o aparecimento de plantas arbustivas e arbóreas, com uma
característica peculiar: as plantas, devido à sua formação e como medida de proteção à
desidratação, podem perder toda a sua folhagem durante um determinado período do ano,
sem que isso resulte em sua morte. O solo na maioria da região é raso e pobre em nutrientes
básicos, embora tenha um substancial valor em cálcio e potássio, o que permite às
vegetações e populações uma diversidade de vegetação como o algodoeiro de seda e o
caroá. Destacam-se ainda o umbuzeiro, a barriguda – de grande valor simbólico-cultural para
a região, o icó, a baraúna, o faveleiro, o pau ferro, o licuri, a camaratuba, a umburana e
diversas espécies de cactáceas como a palma, o xique-xique, o cabeça-de-frade e o
mandacaru. É essa complexa diversidade que garante a vida animal e humana numa região
em condições climáticas tão adversas. Quando a grande maioria das plantas caatingueiras
perde suas folhagens nos períodos de estiagens assegura a alimentação para dezenas de
espécies, de insetos a caprinos e ovinos; a palma, o mandacaru e tantas outras espécies se
constituem em ingredientes alimentares25 fundamentais para a sustentação dos animais na
região. O licurizeiro e o umbuzeiro tiveram – e ainda têm - papel de destaque na
alimentação humana e animal nos momentos de crise por se constituírem em fontes
nutritivas importantes para os animais e para os humanos.
Esse ecossistema permitiu que as populações da região pudessem suprir suas
necessidades de vestimenta, alimentação, medicamentos, energia e habitação, abastecendo
ainda as demandas do capital mercantil, sobretudo da indústria tradicional, como as fibras e
oleaginosas.
O capital mercantil vem aumentando suas ações na região, mostrando no último
quarto de século seu poder gerador de concentração de renda e devastador quanto ao meio
ambiente. Um exemplo da sua penetração de forma agressiva na região é a comercialização
do carvão, cuja extração de forma predatória constitui-se em única fonte de subsistência
para milhares de famílias sertanejas; o preço do carvão, pago pelo consumidor, chega a
quatro vezes o valor pago ao produtor, o que alimenta o processo acumulativo do capital. Há
muitos outros casos onde comerciantes faturam grandes cifras anuais intermediando a
comercialização dos produtos agropecuários: cereais, frutas, sisal, carne, leite etc.
O desequilíbrio provocado pela exploração predatória tem causado profundos
problemas às populações da região. O manejo e a conservação dos recursos ambientais
25
A EMPRABA identificou mais de trinta espécies naturais da caatinga com grandes potenciais alimentares para bovinos, caprinos e ovinos.
30
realizados de forma irresponsável, associados aos grandes períodos de escassez de água
aumentam as dificuldades para manter a vida na região.
Sabe-se que nos anos 80 as atividades do complexo gado-algodão-lavouras
alimentares e da mineração constituíram elementos básicos da estruturação do espaço
econômico do semiárido, que vigorou até o começo dos anos de 90, quando uma queda
brusca da economia algodoeira e da mineração forçou a quebra do complexo. As pragas,
bem como a oscilação e subsídios de outros países, causaram ou adiantaram o processo da
crise dessas culturas. O sisal, o ouro verde da década de 50 (século passado), entra em
colapso com o regime militar, que cortou relações comerciais com a então União República
Socialista Soviética (URSS), principal comprador.
Paralelo a esse processo, surge a agricultura familiar numa visão orgânica e zeladora
do meio ambiente. Essa perspectiva cresce, provocada especialmente pela iniciativa das
organizações da sociedade civil, buscando implementar tecnologias apropriadas de
convivência com o semi-árido. Já se contabilizam muitas experiências de base agroecológicas
empreendidas na região por agricultores familiares, que apontam para um futuro um pouco
mais promissor, construindo uma consciência ecológica na população e produzindo
alimentos de qualidade em bases sustentáveis. Está longe, entretanto, de frear o processo
de devastação da caatinga, indispensável para assegurar as condições de sobrevivência na
região. Se a caatinga for exterminada, muito provavelmente a agricultura familiar sucumbirá
com ela.
4. Aspectos Geoespaciais
Em todos os tempos, sob todas as facetas da vida, em todo o nordeste brasileiro, sob
todas as denominações, o semiárido sempre foi o cenário de uma realidade vista sob olhos
pesarosos que miram, à distância, para homens e mulheres que vivem quase em condição
subumanas, condenados ao atraso, à fome e à pobreza. Entretanto, os sertanejos, mais do
que simples homens, homens fortes, como disse Euclides da Cunha, sobrehumanos,
protagonistas de um processo social e político sem precedentes, começam a mudar essa
realidade em muitas das localidades desse imenso território que é a região semiárida no
Estado da Bahia com 8,5 km² de área em 258 Municípios, onde vivem quase sete milhões de
pessoas.
31
Novos olhares focados em direção a essa realidade fazem com que esses sertanejos
não sejam o que se desejam, olhos de complacência e pesar. Embora as condições climáticas
tenham sido, ao longo dos anos, um fator limitante das suas ações, circunscrevendo-os na
escassez de suas “vidas secas”, esses homens fortes vêm demonstrando, com suas atitudes
de perseverança, criatividade, resistência e, sobretudo, da certeza da superação que jorram
em abundância, que podem mudar os rumos da história da Região Sisaleira. E é através da
busca sagrada e digna pela sobrevivência nessa região tão inóspita, através das mais
variadas ações cotidianas, que tornam esses homens e mulheres, herdeiros naturais de uma
sina que, naturalmente, os legitima como protagonistas em busca de soluções locais para
melhoria de sua qualidade de vida.
Pensando e focando a Região Sisaleira com um olhar menos romântico e mais
realista, registram-se os primeiros exemplos, em toda história, em que as organizações da
sociedade civil e o poder público se juntam em uma mesma direção, aproveitando os
potenciais naturais - com seus limites - e culturais na busca da construção do bem-estar
coletivo.
Esse projeto se alimenta das possibilidades reais da junção de esforços dos
segmentos componentes do Estado, da sociedade civil e do poder público, apesar das
dificuldades e conflitos existentes, explícitos ou velados. Ainda, da já conhecida força
sertaneja, onde estão os diferentes saberes e experiências, dos pesquisadores, dos
dirigentes de ONG’s, das organizações comunitárias e das associações de classe, bem como
das representações políticas, empresariais, artísticas e o do poder público. Essa composição,
tendo um projeto comum como traço de união, permitirá, através da mistura frutífera entre
a formalidade das instituições públicas, da ciência e da tecnologia, das práticas inovadoras e
criativas das organizações sociais, um processo de construção do desenvolvimento
sustentável territorial capaz de assegurar a melhoria da qualidade de vida da população com
a preservação do ecossistema.
Os índices pluviométricos que normalmente variam entre 600 mm e 800 mm anuais
são periódicos e sem regularidade; muito frequentemente 70% das chuvas, nos anos
chuvosos, concentram-se em dois ou três meses. Quando esses índices caem para 200 mm e
400 mm, inviabilizam o armazenamento de água e praticamente toda atividade
agropecuária, constituindo os conhecidos períodos de seca que duram entre dois a cinco
anos. No Território do Sisal os recursos hídricos de superfície têm, como principais
representantes, o rio Itapicuru e pequenas represas construídas pelo poder público. O
32
substrato geológico cristalino, por outro lado, que ocupa uma vasta área, torna-se
responsável pelo teor de sais que, dissolvidos pelas águas de origem pluvial, incorpora-se às
águas superficiais e subterrâneas, fato que se agrava com a elevada evaporação da água no
solo, motivada pelas altas temperaturas existentes que, entre outros problemas, provoca
altos índices de evaporação da pouca água disponível26. Nessas condições, as águas tornam-
se salobras, de sabor desagradável ao paladar padrão, embora por falta de alternativas, seja
de uso obrigatório para boa parte da população nos momentos de crise.
Por outro lado, a Região Sisaleira apresenta uma vegetação diversificada que se
caracteriza por plantas com adaptações morfofisiológicas para resistirem a longos períodos
de seca. E, nesse aspecto, a agropecuária e a extração vegetal (sisal) assumem relevante
função social por ocupar a grande maioria da força de trabalho regional, caracterizando-se
pela predominância de culturas de subsistência.
A pecuarização bovina do semiárido surgiu e se estendeu a partir da disponibilidade
de grandes áreas de terra para a criação extensiva onde a riqueza da biodiversidade da
caatinga constituía-se em pastagens naturais, exigindo poucos investimentos em mão de
obra, constituindo-se numa alternativa para enfrentar as incertezas em relação à agricultura.
As políticas oficiais também se tornaram um forte incentivo à bovinocultura: em épocas mais
remotas, os (poucos) recursos disponibilizados para o crédito rural excluíam completamente
outras opções, a exemplo da caprinocultura ou ovinocultura, mantendo a exclusividade para
as atividades bovinas, embora a criação de caprinos e de ovinos fosse mais recomendada
por apresentar condições mais favoráveis de sobrevivência nos períodos de seca.
Apesar da carência de água e da adversidade climática, a biodiversidade da caatinga
se constitui num rico potencial para garantir a vida dos humanos na região; por um lado,
muitas plantas nativas, a exemplo do umbuzeiro, da cajazeira, do araticum, dentre tantas
outras e, de outro, a fauna diversificada, tudo se constituiu, ao longo da história, em
importante fonte de suplemento alimentar para a população. É da caatinga, também, que o
sertanejo se utiliza da vegetação nativa para produção de energia de e artefatos variados.
Práticas predatórias, entretanto, intensificadas nas últimas décadas - as queimadas, a caça
indiscriminada etc. - têm levado a uma permanente devastação, eliminando muitas espécies
26
Segundo trabalho publicado pelo Banco do Nordeste do Brasil sobre os índices de evaporação em várias localidades do Nordeste brasileiro, há casos de até 2.975 mm anuais (Rio Grande do Norte) e, para o Agreste de Jacobina, cujas características se aproximam da Região Sisaleira, os índices de evaporação anuais são da ordem de 1.379 mm GUIMARÃES, Duque. O Nordeste e as lavouras xerófilas. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2004, p.19.).
33
animais e vegetais que ajudaram a criar as condições de vida humana na região. E aí surgem,
como ocorre em outros subsistemas, conseqüências graves devido ao manejo inadequado
da região de maneira que a ausência de determinadas espécies vegetais implica,
inevitavelmente, na extinção de espécies animais e também compromete a própria vida
humana. Assim, a relação do sertanejo com a natureza é paradoxal: de um lado, suas
atitudes predatórias devastadoras, muitas vezes induzidos e orientados por políticas oficiais
e, de outro lado, suas posturas criativas e de resistência com estratégias de relacionamento
harmônico com a natureza que garantam a própria sobrevivência, principalmente nos
períodos de secas mais severas.
5. Aspectos Demográficos e Socioeconômicos
5.1. População
Em termos absolutos, a população do território cresceu apenas 37,2 no período de
1980 a 2009. Considerando o percentual médio de crescimento da população, em 2009 a
população deveria ser de 731.293, 75% a mais do que em 1980, o que se pode inferir que
houve uma perda de 313.354 pessoas, resultado da emigração. O período mais crítico teve
início em 1991, quando vários municípios apresentaram estagnação ou crescimento
populacional negativo, contabilizando-se um crescimento de apenas 4,4% na década,
mantendo-se em ritmo crescente na década seguinte, quando o crescimento de 2000 a 2009
foi de apenas 3,6%. A aceleração do processo migratório, a partir de 1980, muito
provavelmente está relacionada à crise do sisal que se estabeleceu a partir da década
anterior.
Quadro II - População Total dos Municípios: 1080, 1991, 2000 e 2009
Municípios População
1980 1991 2000 2009²
Araci 32.225 45.341 47.584 54.713
Barrocas¹ - - - 13.868
Biritinga 10.478 14.620 14.461 14.260
Candeal 10.772 10.728 10.121 9.050
Cansanção 24.421 30.903 31.947 34.093
Conceição do Coité 41.436 52.338 56.317 62.893
Ichu 5.283 8.586 5.593 6.148
Itiúba 30.549 34.403 35.543 36.960
34
Lamarão 9.350 10.275 9.523 12.995
Monte Santo 42.178 51.280 54.552 53.429
Nordestina (¹) 9.315 11.800 12.670
Queimadas 27.259 23.162 24.613 28.729
Quijingue 19.621 23.958 26.376 28.143
Retirolândia 10.402 11.300 10.891 11.798
Santaluz 23.119 30.634 30.955 35.416
São Domingos (¹) 10.681 8.526 9.730
Serrinha 57.467 76.013 83.206 73.859
Teofilândia 15.095 21.570 20.432 21.461
Tucano 36.493 46.618 50.948 29.827
Valente 21.791 17.425 19.145 22.295
Total 417.939 529.150 552.713 572.337
Fonte: IBGE, Censos Demográficos e Estimativas Populacionais, 2001. (¹) Municípios criados depois de 1980; (²) Estimativas.
A população urbana passou de 28,5% para 37% no período de 1991 a 2000. Deve-se
registrar, ainda, que parcela significativa da população considerada urbana vive das
atividades rurais. São famílias que residem em cidades ou sedes distritais27 mas mantêm
suas atividades econômicas diretamente vinculadas à agropecuária e que são tidas como
urbanas. Observa-se que Serrinha, com a maior população urbana no Território, já possuía,
em 1991, quase metade da sua população residindo na área urbana (49,9%), passando para
61,4% em 2000.
Quadro III - População Total, Urbana e Rural dos Municípios, 1991
Município
1991 2000
Urbana Rural Urbana Rural
Nº % Nº % Nº % Nº %
Araci 11.584 25,6 33.757 74,4 16.189 33,8 31.395 66.2
Biritinga 1.781 12,2 12.839 87,8 2.347 16,0 12.294 84,0
Barrocas - - - - - - - -
Candeal 2.541 23,7 8.187 74,3 3.417 33,8 6.704 66,2
Cansanção 6.926 22.4 23.977 77,3 9.221 28,9 22.726 71,1
Conceição do Coité 20.002 38,3 32.336 61,7 28.026 49,8 28.291 50,2
Ichu 3.124 36,4 5.462 65,6 2.663 47,6 2.930 52,4
Itiúba 7.068 20,5 27.335 79,5 8.864 24,9 26.679 75,1
Lamarão 1.221 14,8 8.754 85,2 1.928 20,2 7.595 79,8
Monte Santo 4.931 9,6 46.349 90,4 7.226 13,3 47.326 86,7
Nordestina. 1.370 14,7 7.945 85,3 2.875 24,4 8.925 75,6
Queimadas 8.431 36,4 19.773 63,6 9.783 39,7 14.830 60,3
Quijingue 3.389 14,2 20.569 85,8 4.892 18,5 21.484 81,5
27
A ONU recomenda, como critério para considerar uma área urbana, um aglomerado humano a partir de 20 mil habitantes, o que não é o nosso caso. Há cidades com menos de 5 mil habitantes e pequenas concentrações humanas cujas atividades econômicas são eminentemente rurais e que são consideradas urbana.
35
Retirolândia 3.882 34,4 6.418 65,6 5.474 50,5 5.417 49,7
Santaluz 12.704 41,5 17.930 58,5 17.966 58,0 12.989 42,0
São Domingos 3.442 32,3 7.239 67,7 3.711 43,5 4.815 66,5
Serrinha 37.854 49,8 38.159 50,2 45.943 55,2 37.263 44,8
Teofilândia 3.779 17,5 17.971 82,5 5.858 28,7 14.574 71,3
Tucano 10.131 21,7 36.487 78,3 18.597 36,5 32.351 63,5
Valente 6.438 36,9 10.987 63,1 9.511 49,6 9.634 50,4
TOTAL 150.598 28,5 365.423 71,5 204.491 37,0 348.222 63,0
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 e 2000.
Por faixas de idade, quase metade da população (47,4%) tinha, em 2000, menos de
20 anos e 63,5% tinham menos de 30 anos de idade, o que retrata uma população
eminentemente jovem. Entretanto, o segmento com 60 anos ou mais já passava de 10%.
Observa-se que 36% (mais de um terço, portanto) eram constituídos de crianças com menos
de 15 anos de idade, o que requer atenção especial dos poderes públicos.
Quadro IV – População dos Municípios por faixas de idade, 2000
Município Faixas de Idade (anos)
TOTAL Até -7 7 a -15 15 a -20 20 a -30 30 a -60
60 e mais
Araci 8.764 10.107 5.734 7.321 11.880 3.808 47.581
Barrocas 1.804 2.467 1.629 2.083 3.230 830 12.107
Biritinga 2.279 1.913 1.882 2.212 3.825 1.209 14.641
Candeal 1.347 1.731 1.284 1.785 2.824 870 9.017
Cansanção 5.373 6.197 3.757 4.833 8.608 3.197 31.947
C. do Coité 8.137 10.215 7.101 9.813 16.011 2.593 56.317
Ichu 775 987 690 915 1.613 613 5.593
Itiuba 5.861 7.167 4.198 5.410 9.289 3.618 35.543
Lamarão 1.334 1.784 1.236 1.766 2.357 1.046 11.988
Monte Santo 9.457 11.775 6.208 8.278 15.041 5.380 51.139
Nordestina 1.925 2.336 1.423 1.845 3.085 1.186 11.800
Queimadas 3.745 4.950 3.075 3.676 6.646 2.521 24.613
Quijingue 4.383 5.231 2.962 4.069 7.400 2.331 26.376
Retirolândia 1.422 1.885 1.494 1.858 3.220 1.012 10891
Santaluz 4.549 5.890 3.885 5.219 8.775 2.637 30.955
São Domingos 1.007 1.417 1.146 1.542 2.678 827 8.618
Serrinha 10.195 12.885 9.090 12.984 19.390 6.154 71.099
Teofilândia 3.411 4.389 2.576 3.349 5.260 1.448 20.432
Tucano 7.659 9.971 5.970 8.310 14.029 5.009 50.948
Valente 2.575 3.186 2.371 3.557 5.616 1.770 19.145
Total 86.002 102.483 67.711 90.825 150.777 48.059 545.857
% 16,7 19,3 11,4 16,1 26,4 10,1 100,0
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
36
5.2. Educação
Apesar do consenso sobre a importância da educação de uma comunidade para o seu
processo de desenvolvimento, a situação da educação no território é bastante crítica, fruto
do descaso dos governos por toda a história. O número de pessoas ainda tecnicamente
analfabetas (que não sabem ler nem escrever) e de analfabetos funcionais (os que lêem e
escrevem com dificuldade) é assustador. O quadro seguinte demonstra, de um lado, que
55% da população com 15 anos ou mais têm menos de 04 anos de estudo: são os
analfabetos funcionais. Essas pessoas, como aquelas completamente analfabetas, têm mais
dificuldade para desenvolver suas potencialidades e habilidades para empreender atividades
econômicas mais lucrativas, preservar o meio ambiente, associar-se com outras pessoas
para a busca de soluções coletivas etc. De outro lado, encontram-se os dados
correspondentes à população com mais de 25 anos e 12 anos de estudo (que corresponde,
de forma aproximada, a um curso superior de duração plena). Observe que no conjunto,
menos de 1% da população com mais de 25 anos tem doze anos de estudo, ficando a melhor
posição para o município de Valente que apresentou um índice quase três vezes superior à
média, ficando a pior posição para Monte Santo.
Quadro V - Proporção de pessoas com 15 anos ou mais de idade com menos de 4 anos de estudo, e da população com 25 anos ou mais e 12 anos de estudo, 2000.
Município População com menos de 4 anos
de estudo (%) População com 12 anos de
estudo (%)
Araci 69,4 0,37
Barrocas28
--- ---
Biritinga 65,4 0,53
Candeal 50,9 0,46
Cansanção 67,1 0,31
C. do Coité 54,1 1,58
Ichu 40,6 1,21
Itiuba 64,2 0,34
Lamarão 61,8 0,19
Monte Santo 74,3 0,0
Nordestina 64,3 0,15
Queimadas 59,3 0,30
Quijingue 72,4 0,47
Retirolândia 50,1 0,17
Santaluz 54,7 1,21
São Domingos 50,2 0,55
28
Município criado no ano 2000, desmembrado de Serrinha.
37
Serrinha 47,1 1,72
Teofilândia 60,7 1,37
Tucano 61,4 0,63
Valente 47,1 2,03
Total 58,7 0,72
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
A situação fica ainda mais evidente quando se observam os dados do quadro
seguinte que trata do número médio de anos de estudo por grupos de idade. Observe-se
que, para o segmento de 15 anos de idade ou mais, a média de anos de estudo é menos de
três anos. Como se trata de média, alguns podem ter mais de dez anos de estudo e outros
não terem nenhum.
Quadro VI - Media de anos de estudo da população de 10 anos ou mais de idade, por grupos de idade, 2000.
Município Total
Grupos de Idade
10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos ou mais
Araci 2,4 1,0 1,4 1,8 2,0 2,6 2,9
Barrocas --- --- --- --- --- --- ---
Biritinga 2,7 1,0 1,5 1,6 1,9 2,5 3,4
Candeal 3,7 2,0 2,6 2,9 3,5 3,8 4,1
Cansanção 2,5 1,1 1,6 1,9 2,6 3,1 3,4
C. do Coité 3,6 1,7 2,3 2,8 3,5 4,1 4,3
Ichu 4,6 1,7 2,8 3,2 3,6 4,2 5,5
Itiuba 2,7 1,1 1,7 1,9 2,5 2,7 3,3
Lamarão 2,7 0,9 1,2 1,7 1,9 2,6 2,6
Monte Santo 1,8 0,7 1,1 1,6 2,0 2,2 2,8
Nordestina 2,4 1,3 1,8 1,9 3,0 3,1 3,5
Queimadas 3,2 2,0 2,7 2,8 3,6 3,8 4,2
Quijingue 2,1 0,9 1,5 2,2 2,6 2,9 3,3
Retirolândia 3,9 2,2 2,6 3,2 3,9 4,2 5,0
Santaluz 3,5 1,9 2,2 3,1 3,5 4,0 4,5
São Domingos 3,9 1,9 2,6 3,7 4,5 4,5 5,1
Serrinha 4,2 1,4 2,0 2,6 3,2 3,5 3,8
Teofilândia 2,9 0,8 1,2 1,5 1,9 2,7 3,0
Tucano 2,9 1,2 1,8 2,5 2,6 3,4 3,5
Valente 4,1 1,8 2,3 3,5 4,0 4,4 5,0
Total 3,1 1,4 1,9 2,4 3,0 3,4 2,9
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
O quadro seguinte, com dados sobre matrículas escolares, apresenta situações
curiosas: a população de 7 a 15 anos incompletos, teoricamente o público do ensino
fundamental, correspondia, em 2000, a 102.483 pessoas. Se aplicada uma taxa média de
38
crescimento anual de 1,5%, ter-se-ia, em 2009, 118.903 crianças, mas há registro de
matrícula correspondente a 140.760, o que pode significar um número significativo de
pessoas com mais de 14 anos. Já em relação ao ensino médio, a situação é inversa. Em 2000,
a população de 15 a 20 anos incompletos correspondia a 67.711 pessoas. Aplicando-se a
mesma taxa de crescimento, ter-se-ia, em 2009, 76.276 pessoas, mas o número de
matrículas é de 24.862, o que pode significar que quase dois terços abandonaram a escola.
Aliás, essa hipótese ganha corpo quando se considera o número de matrículas no ensino
fundamental e no médio, este último representando apenas 17,7% do primeiro. Outra
curiosidade diz respeito ao número de matrículas na pré-escola: há municípios que a sua
relação com o número de matrículas no ensino fundamental é superior a 20% (em Candeal
corresponde a 24%), já em outros, é inferior a 10% (em Barrocas é de apenas 6%). A rede
privada de ensino é pouco expressiva, representa apenas 5,2% no conjunto, embora, em
municípios como Conceição do Coité e Serrinha, o ensino privado já ultrapasse a casa dos
11%.
Quadro VII –Número de matrículas no ensino fundamental, médio e na pré-escola, 2009.
Município
Ensino Fundamental Ensino Médio Pré-
Escola Total Rede
Pública Rede
Privada Total
Rede Pública
Rede Privada
Araci 14.345 13.988 537 1.890 1.784 106 2.079
Barrocas 3.955 3.955 --- 714 714 --- 239
Biritinga 3.962 3.877 85 561 498 63 918
Candeal 1.752 1.654 98 263 263 --- 423
Cansanção 8.677 8.387 290 1.454 1.363 91 1.251
C. do Coité 14.391 12.650 1.741 2.625 2.496 129 2.631
Ichu 1.092 1.033 59 302 302 --- 215
Itiuba 8.731 8.468 263 1.447 1.447 --- 813
Lamarão 1.593 1.564 29 385 273 112 253
Monte Santo 13.635 13.548 87 2.196 2.196 --- 1.271
Nordestina 3.198 3.174 24 832 793 39 569
Queimadas 5.358 5.127 231 1.236 1.207 29 1.020
Quijingue 6.330 6.330 --- 1.301 1.301 --- 1.061
Retirolândia 2.308 2.122 186 687 678 9 342
Santaluz 6.844 6.419 425 2.456 2.392 64 1.183
São Domingos 1.355 1.194 161 345 345 --- 287
Serrinha 17.266 15.228 1.998 2.832 2.589 243 2.907
Teofilândia 5.974 5.640 334 836 725 111 586
Tucano 15.585 11.044 541 1.522 1.411 111 1.841
Valente 4.409 4.031 378 978 931 47 757
Total 140.760 129.433 7.467 24.862 23.708 1.154 20.646
Fonte: WWW.ibge.gov.br – cidades@ (acesso 18.10.10)
39
5.3. Saúde
A infraestrutura de saúde é bastante precária no Território. Os centros de saúde
existentes limitam-se à prestação de serviços ambulatoriais; poucas são as unidades
equipadas para pequenas cirurgias. Todos os casos de média e alta complexidade são
transferidos para Feira de Santana e Salvador, o que aumentam os custos do tratamento e
os riscos de morte, considerando que não há nenhuma ambulância equipada com UTI
(Unidade de Tratamento Intensivo) para os casos emergenciais. Quanto ao número de leitos
para internação hospitalar, os Estados Unidos e vários países da Europa vêm reduzindo seu
número com a elevação da qualidade de vida da população. Um estudo realizado pelo
médico Ivomar Gomes Duarte29, em Estados norteamericanos, constatou que a
disponibilidade de leitos hospitalares era de 4,8 leitos para cada grupo de 1.000 habitantes,
mas parte considerável ficava ociosa, já que a necessidade era de apenas 2,9 leitos. No
Território, pelas precárias condições de vida da população, certamente que a necessidade
seria muito maior, entretanto, há apenas 02 leitos para cada grupo de 1.000 habitantes, com
o limite de que as internações são apenas para os casos simples (parto, pequenas cirurgias)
pela inexistência de pessoal qualificado e de equipamentos.
Como se pode observar, 80% das unidades de saúde e 47% dos leitos para internação
pertencem à rede pública e 20% dos centros de saúde e 53% dos leitos pertencem à rede
particular, embora, em sua maioria, esteja conveniada com o Sistema Único de Saúde.
É curioso observar que em Lamarão não há nenhum leito disponível, e em Conceição
do Coité e Serrinha os leitos existentes pertencem à rede privada de saúde.
Quadro VIII – Número de Unidades de Saúde e de Leitos para Internação, conforme redes pública e privada de serviços, 2006.
Município Unidades de Saúde Leitos para Internação
Total Rede
Pública Rede
Privada Total
Rede Pública
Rede privada
Araci 16 14 2 76 55 21
Barrocas 3 3 --- 31 31 ---
Biritinga 11 11 --- 14 14 ---
Candeal 7 6 1 9 9 ---
Cansanção 5 5 --- 40 40 ---
29
DUARTE, Ivomar Gomes. Leitos Hospitalares – algumas considerações. São Paulo: Revista de Administração em Saúde, v.2 nº 5, dez/1999.
40
C. do Coité 28 14 14 206 --- 206
Ichu 5 4 1 22 22 ---
Itiuba 8 6 2 92 92 ---
Lamarão 4 4 --- --- --- ---
Monte Santo 7 7 --- 52 52 ---
Nordestina 5 5 --- 21 21 ---
Queimadas 13 10 3 53 22 31
Quijingue 3 3 --- 28 28 ---
Retirolândia 10 10 --- 35 35 ---
Santaluz 22 19 3 87 35 52
São Domingos 6 5 1 20 20 ---
Serrinha 58 41 17 218 --- 218
Teofilândia 4 3 1 10 10 ---
Tucano 20 18 2 101 51 50
Valente 16 13 3 92 32 60
Total 251 201 50 1207 569 638
% 100 80,0 20,0 100 47,1 52,9
Fonte: WWW.ibge.gov.br – cidades@ (acesso 18.10.10)
O Programa de Saúde da Família (PSF) exerce importante função no atendimento
básico da população, possibilitando um maior acesso aos serviços de saúde e possibilidade
de encaminhando dos casos que merecem maior atenção para centros apropriados. Apesar
disso, e de ser um serviço que requer poucos investimentos e de custeio relativamente
barato, a sua abrangência é bastante limitada, carecendo de esforços para ampliação. Há
informações que esse quadro foi alterado em torno de 20% nos últimos quatro anos o que,
ainda assim, continua limitado.
Quadro IX - Número de Equipes do PSF por Município, 2006
Município Nº de equipes do PSF
Araci 08
Barrocas 05
Biritinga 04
Candeal 03
Cansanção 07
Conceição do Coité 13
Ichu 02
Itiúba 03
Lamarão 04
Monte Santo 02
Nordestina 04
Queimadas 05
Quinjingue 08
Retirolândia 04
Santaluz 04
41
São Domingos 03
Serrinha 10
Teofilândia 01
Tucano 12
Valente 02
Fonte: Secretarias Municipais de Saúde.
A infra-estrutura e a disponibilidade de serviços de saúde certamente são fatores que
influenciam diretamente o índice de longevidade da população. Conforme se pode observar
no quadro seguinte, a esperança de vida ao nascer era muito baixa em 2000, sendo que em
06 Municípios (31,6%) a esperança de vida fica abaixo dos 60 anos, e noutros 07 (36,7%) fica
abaixo de 62 anos.
Quadro X - Esperança de Vida ao Nascer, por Município, em 2000.
Município Expectativa de Vida ao Nascer
Araci 61,21
Barrocas --
Biritinga 61,21
Candeal 61,77
Cansanção 56,36
Conceição do Coité 58,16
Ichu 64,43
Itiúba 56,15
Lamarão 64,43
Monte Santo 60,19
Nordestina 56,36
Queimadas 60,22
Quinjingue 56,36
Retirolândia 58,29
Santaluz 63.43
São Domingos 60,88
Serrinha 64,79
Teofilândia 62,77
Tucano 60,34
Valente 64,39
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD/ONU, 2001.
As condições de saneamento são igualmente precárias. Segundo a Secretaria de
Planejamento do Estado30, apenas a cidade de Serrinha conta com rede de esgotamento
sanitário, porém, pelo que se conhece, com atendimento bastante limitado à população e
sem as devidas condições técnicas de tratamento. Os dejetos, em todos os municípios, são
30
WWW.seplan.ba.go.br
42
destinados ao meio ambiente, de forma in natura, contaminando os mananciais de
superfície e subterrâneos, solo e subsolo e do ar. O exemplo mais gritante que ilustra a
situação é o Tanque do Governo (Açude Itarandi) de Conceição do Coité. Construído na
década de 30 (século XX) para servir ao abastecimento de água da população, com a
chegada da água encanada na década de 80, a Prefeitura Municipal transformou aquele
reservatório num grande receptor de esgotos sanitários e outras sujeiras. Quando o ano é
chuvoso, o “açude” costuma transbordar, aumentando as proporções dos danos ambientais,
o que motivou uma ação pública promovida pelo Ministério Público em 2008 obrigando o
Município a construir uma estação de tratamento de esgoto, o que ainda não ocorreu.
A mesma situação é verificada em relação à coleta de resíduos sólidos. Além das
deficiências nos serviços de coleta, o material coletado é armazenado em lixões, sem a
adoção de procedimentos técnicos necessários, o que contribui de forma significativa para a
poluição do ar, do solo, subsolo e dos mananciais aqüíferos de superfície e subterrâneo.
5.4. Economia
O Produto Interno Bruto (PIB) do território tem dois terços da composição oriundos
do setor terciário, que inclui o comércio e serviços. Isso reflete a fragilidade da economia,
visto que os setores produtivos – geradores de riqueza – contribuem com menos de um
terço (agropecuário e industrial, 30,2% juntos). Apesar de a indústria aparecer com igual
participação do setor agropecuário, sabe-se que esses dados incorporam grandes distorções,
considerando que parte considerável das atividades agropecuárias está inserida no mercado
informal, sem estatísticas para alimentar o PIB de cada município. Não há dúvida de que a
agropecuária é o setor mais importante da economia no Território, representada pelo sisal -
principal atividade econômica -, pela mandioca, milho, feijão, castanha de caju e outras
culturas de menor importância, e pela pecuária, com destaque para os criatórios de bovinos,
ovinos e caprinos.
O PIB do setor industrial é alimentado também pela atividade mineradora,
destacando-se o ouro, pedras para construção, rocha ornamental, argila e quartzo, dentre
outros de menor importância. Observe-se que Teofilândia, por conta da atividade aurífera,
apresenta o maior PIB per capita, mais do dobro de muitos outros municípios e 3,6 vezes
superior ao de Lamarão. Apesar disso, as condições de pobreza da sua população é
praticamente a mesma dos demais municípios, o que permite concluir que os recursos
43
minerais, no atual modelo de extração, não contribuem para reduzir os níveis de pobreza da
população. No conjunto, a participação no PIB estadual é de apenas 1,7%, apesar de a
população do território corresponder a 3,5% da população do Estado, o que reflete a
condição de pobreza.
Quadro XI – Produto Interno Bruto (PIB) dos Municípios, total e por setores da economia e per capita, 2007.
Municípios
PIB total, por setores e per capita
% PIB Estadual¹
Total Agropecu-
ário Indústria Serviços
Impos-tos
Per capita
Araci 0,12 127187 15818 11939 94206 5408 2450
Barrocas 0,05 87795 2723 51625 31587 1829 6660
Biritinga 0,04 38795 2198 27047 6134 3599 2792
Candeal 0,02 21611 2255 2110 16611 682 2401
Cansanção 0,09 95007 20312 7824 62572 3900 2898
C. do Coité 0,24 245656 19390 42040 168006 18219 4071
Ichu 0,01 15426 1194 1454 12249 437 2764
Itiuba 0,08 98807 13612 17979 64840 2736 2764
Lamarão 0,02 21954 1778 2637 16986 554 1831
Monte Santo 0,13 129413 17966 12235 95021 4190 2477
Nordestina 0,03 30651 3052 2913 23488 1198 2518
Queimadas 0,07 71943 9376 6644 53015 2908 2646
Quijingue 0,07 97099 36466 6380 51902 2351 3587
Retirolândia 0,04 43322 7600 4929 28613 2180 3629
Santaluz 0,08 98507 12211 9925 71430 4941 2929
S. Domingos 0,03 31134 8766 2476 18826 1066 3531
Serrinha 0,28 294814 9940 43908 216955 24951 4130
Teofilândia 0,05 52222 49809 5724 40291 2227 2531
Tucano 0,14 149596 33453 12722 98303 5117 3069
Valente 0,08 87904 15543 13155 54334 487 4086
Total 1,67 1883477 283462 285666 1225369 88980 3,19
% - 100,0 15,0 15,2 65,1 4,7 -
Fonte: WWW.ibge.gov.br (cidades@) (¹) WWW.seplan.ba.gov.br
A terra é o principal meio de produção, seja pela sua utilização na agropecuária, seja
na atividade mineradora. Obedecendo à lógica do Estado e do país – e apesar de não se
registrar a presença de grandes latifúndios como noutras regiões – a concentração da
propriedade rural é uma evidência. Quase 80% dos estabelecimentos agrícolas têm até 20
hectares e ocupam menos de 18% da área utilizada, enquanto, no outro extremo, os
estabelecimentos com mais de 200 hectares correspondem a apenas 0,8% e ocupam 41% da
área. Predomina, em todo território, a agricultura familiar, praticada nos estabelecimentos
que têm até 100 hectares e correspondem 96% do total, ocupando uma área
correspondente a 47%.
44
Quadro XII - Situação Fundiária dos Municípios do Território do Sisal: número de estabelecimentos agrícolas e área ocupada (ha).
Município Até 20 ha 20 a -100 ha 100 a -200 ha 200 ha ou mais
Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área
Araci 4.819 24.405 808 31.385 78 10.846 45.300 45.300
Biritinga 2.474 9.788 265 11.428 38 5.338 17.001 17.001
Candeal 455 3329 205 9.205 40 5.513 19037 19037
Cansanção 5.518 21.023 605 23.268 55 7.643 44.034 44.034
C. do Coité 4.993 22.178 680 27.204 66 9.246 31.302 31.302
Ichu 848 4.114 129 4.538 9 1.132 11 5.942
Itiuba 2.618 16.141 1051 43.876 144 19551 105 47.769
Lamarão 1.478 6.457 119 5.272 18 2.637 13 5.564
Monte Santo 8.011 46.362 1.322 50.450 117 15.634 134 62.260
Nordestina 1.036 6.705 258 12.458 26 3.482 30 17.909
Queimadas 1.455 11.312 738 30.982 103 14.442 134 100.459
Quinjingue 3.983 21.209 785 30.255 78 10.619 60 28.844
Retirolândia 1.060 6.900 248 9.266 16 2.280 3 980
Santaluz 1.376 9.389 622 26.516 112 15.686 86 41.796
S. Domingos 526 4.197 253 10.608 25 3.497 20 6.368
Serrinha 5.493 18.279 459 18.002 44 6.020 33 12.309
Teofilândia 2.524 11.549 287 11.400 27 3.537 22 8.242
Tucano 4.275 25.107 1.159 47.278 140 19.503 106 66.472
Valente 817 5.404 261 11.208 28 3.831 26 10.235
TOTAL 47.462 242.986 10.254 414.599 1.146 157.800 1.030 571.823
% 79,2 17,6 17,1 29,8 1,9 11,4 0,8 41,2
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.
Quanto à situação de propriedade, 9,1% dos estabelecimentos são ocupados por
arrendatários, parceiros e posseiros, ocupando uma área correspondente a 1,9% da total.
Quadro XIII - Nº de Estabelecimentos e Áreas Ocupadas por Arrendatários, Parceiros e Posseiros, 2006
Municípios Arrendatários, Parceiros e Posseiros
Nº Estab. Área (ha)
Araci 555 2.852
Biritinga 289 1.755
Candeal 8 62
Cansanção 1.364 1.326
Conceição do Coité 721 4.611
Ichu 1 152
Itiuba 17 92
Lamarão 64 305
Monte Santo 177 398
Nordestina 6 15
Queimadas 111 350
45
Quinjingue 486 1.431
Retirolândia 469 4.887
Santa Luz 17 1.184
São Domingos 36 1.220
Serrinha 764 1.733
Teofilândia 186 430
Tucano 185 3.362
Valente 10 35
TOTAL 5.466 26.200
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.
Quadro XIV - Principais produtos agrícolas do território, 2006.
Município Batata
(t) Banana
(t) Mandioca
(t) Melanci
a (t) Feijão
(t) Milho
(t) Castanha
¹ (t) Sisal (t)
Araci --- --- 28220 --- 1950 1.950 18 9360
Barrocas 42 --- 2400 50 272 180 --- 4000
Biritinga 42 --- 840 --- 782 750 120 ---
Candeal --- --- 1620 --- 25 59 --- 29
Cansanção --- 170 34.200 1200 4605 5460 4 4000
C. Coité 39 --- 7.500 16 810 1350 --- 13380
Ichu --- --- 1800 --- 21 49 --- 34
Itiuba 08 68 11400 120 2387 1010 4 5580
Lamarão 15 --- 600 --- 154 150 12 ---
M. Santo --- 100 42000 --- 2184 2880 3 4250
Nordestina 18 --- 1260 5 120 75 --- 2400
Queimadas 45 --- 1750 42 240 150 --- 4400
Quijingue --- 130 31200 300 16400 19200 100 3200
Retirolândia 14 --- 1500 15 147 112 --- 4160
Santaluz 51 --- 1750 --- 220 176 --- 14830
S. Domingos 10 --- 1500 --- 95 75 --- 4420
Serrinha 30 --- 17760 --- 1512 2500 52 32
Teofilândia --- 48700 18850 --- 56 17 15 760
Tucano --- 110 31200 12000 10760 16200 520 280
Valente 30 --- 2800 10 175 125 --- 9900
TOTAL 344 49278 240150 13758 42915 52.468 848 85015
(¹) Castanha de Caju. Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.
Há outros produtos secundários: amendoim (Queimadas, Araci, Biritinga, Teofilândia
e Tucano); girassol (Araci, Cansanção, Monte Santo e Tucano); laranja (Biritinga, Itiuba,
Lamarão e Serrinha); melancia (Biritinga, Cansanção, Conceição do Coité, Itiuba, Nordestina,
Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Tucano e Valente), cana-de-açucar (Cansanção,
Lamarão, Monte Santo, Serrinha); mamona (Araci, Biritinga, Cansanção, Itiuba, Monte Santo,
Quigingue, Tucano); coco da baía (Cansanção, Itiuba, Monte Santo, Teofilândia, Tucano).
46
Apenas como ilustração, tomaram-se os quatro principais produtos dos municípios
em 1980 (26 anos atrás) que demonstra um crescimento importante na maioria dos
produtos: a produção de feijão em grão passou de 3 toneladas para quase 43; o milho, de
2,7 toneladas para 52,4; a mandioca, de 60 toneladas para 240; o sisal, entretanto,
estagnou-se nesse período, o que deve ser motivo de reflexão pelos atores do Território.
Quadro XV – Produção Agrícola, 1980 (t)
Município Feijão Milho Mandioca Sisal
Araci 187 77 5671 9960
Barrocas¹ --- --- --- ---
Biritinga 263 85 3045 10
Candeal 12 10 139 240
Cansanção 62 166 5048 1960
C. do Coité 65 65 6808 12896
Ichu 38 55 531 1235
Itiuba 490 530 4712 2241
Lamarão 31 1 4020 ---
M. Santo 549 933 8437 4849
Nordestina¹ --- --- --- ---
Queimadas 79 261 2841 6789
Quijingue 152 30 1977 3123
Retirolândia 6 10 1476 5773
Santaluz 8 88 1054 14365
S. Domingos¹ --- --- --- ---
Serrinha 487 153 8713 3964
Teofilândia 140 40 1838 2653
Tucano 326 116 2236 1787
Valente 21 44 1465 12299
TOTAL 2916 2664 60011 84144
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, Bahia, 1980 (¹) Municípios criados posteriormente.
O quadro seguinte retrata a situação da pecuária. É interessante observar que,
embora seja uma área típica de agricultura familiar, a criação de bovinos é bem superior a
de ovinos e quase duas vezes a de caprinos. Outra curiosidade é que o número de eqüinos
(cavalos), asininos e muares (burros e jumentos) é superior aos criatórios bovinos e ovinos
individualmente. Talvez uma explicação para isso esteja na presença do sisal, onde os
asininos e muares têm papel importante no processo de extração e transporte da fibra.
Os criatórios bovinos, caprinos e ovinos são relativamente expressivos frente aos
plantéis do Estado, correspondendo, respectivamente a 4,2%, 9,1% e 14%, o que demonstra
o potencial do território.
47
Quadro XVI – Presença da Pecuária, 2006.
Municípios
Número de Cabeças
Bovinos Equinos Asininos/ muares
Suinos Caprinos Ovinos Aves
Araci 22886 797 1333 9700 11812 16238 55045
Barrocas 6953 221 321 2612 1022 5297 11934
Biritinga 14946 842 160 3726 303 2130 25326
Candeal 10551 728 670 1752 629 4920 7980
Cansanção 34730 1070 5580 4070 39900 29553 36750
C. do Coité 28130 1780 10388 4250 2280 31620 44200
Ichu 6107 439 337 3328 433 2209 10906
Itiuba 32995 729 1099 11632 30632 17890 41592
Lamarão 6380 942 440 5152 42 2207 22073
Monte Santo 48400 1400 2116 13020 78600 101500 18700
Nordestina 9460 680 1270 2966 10900 14260 11500
Queimadas 59354 2180 2510 5460 22080 37020 34000
Quijingue 41122 780 1340 800 21000 52300 12000
Retirolândia 5865 550 475 1150 5900 11526 7000
Santaluz 38400 1215 1425 2138 22263 50160 17000
S. Domingos 10300 420 570 635 6240 13300 4400
Serrinha 21605 852 464 14767 799 3223 106147
Teofilândia 12336 587 668 7226 1676 6415 24182
Tucano 39905 608 838 2840 1900 2386 26000
Valente 10257 720 320 1240 8160 19500 12000
TOTAL 460682 17540 32324 98464 266571 423654 528735
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.
A seguir, dados das finanças públicas municipais. O que chama a atenção é a pouca
expressividade das receitas próprias, que são quase nulas em muitos municípios, o que
dificulta a execução de obras e serviços públicos. Do total dos recursos componentes do
orçamento executado, as receitas próprias correspondem a apenas 6,2%.
No conjunto, as receitas municipais são muito baixas, o que também alimenta o
círculo vicioso da pobreza. Apenas como ilustração, uma comparação com o município de
Camaçari cujas receitas municipais são consideradas altas. Conforme dados disponíveis no
IBGE, em 2008, a relação entre receitas municipais em Camaçari e população corresponde a
R$ 1,9 milhão por habitante, enquanto no Território do Sisal essa relação é de apenas R$ 703
mil, ou seja, 2,7 vezes menor. Em Itiuba, a receita municipal per capita é de R$ 646,00 e em
Lamarão, R$ 618,00.
48
Quadro XVII – Finanças Públicas dos Municípios, 2008
Município Receita Orçamentária Real Corrente Transferências Correntes
Executadas
Araci 40.081.631,37 37.203.320,02
Barrocas 14.488.255,66 13.741.570,07
Biritinga 14.760.227,57 14.085.070,51
Candeal s/d s/d
Cansanção 27.145.863,32 25.400.713,08
C. do Coité 41.491.033,32 39.548.301,54
Ichu 6.615.560,20 6.445.589,47
Itiuba 24.737.809,08 23.856.480,80
Lamarão 8.450.519,58 8.037.069,90
Monte Santo 41.415.391,00 39.314.727,00
Nordestina 13.708.058,01 13.319.206,85
Queimadas 20.196.827,67 19.723.213,62
Quijingue 24.942.843,03 23.481.815,80
Retirolândia 10.204.121,73 9.336.817,47
Santaluz s/d s/d
São Domingos 8.538.680,00 7.809.729,43
Serrinha 47.995.038,74 44.052.737,79
Teofilândia s/d s/d
Tucano 39.945.445,43 36.518.163,90
Valente 17.832.437,90 15.635.240,90
TOTAL 402.549.743,61 377.509.768,15
Fonte: www.ibge.gov.br – cidades@
5.5. Vulnerabilidade Social
Os dados aqui reunidos demonstram a situação de vulnerabilidade das famílias mais
pobres do território, o que evidencia que uma parcela significativa está em situação de
dificuldades e incertezas.
Os indicadores sociais, no geral, não indicam uma boa posição nos Municípios, exceto
em alguns casos isolados. Por exemplo: Araci apresenta uma posição privilegiada em relação
ao Índice de Infraestrutura (INF) e ao Índice de Educação (IDE), mas apresenta posições
desfavoráveis em relação a todos os demais indicadores. Ichu apresenta-se com boa posição
em relação ao Índice do Nível de Saúde (INS) e de Educação (IDE), mas apresenta dados
problemáticos em relação aos demais. Retirolândia ocupa uma posição relativamente
destacada apenas em relação à educação (INE). No conjunto, a melhor posição fica para
Serrinha. Para os demais Municípios, a pior situação em relação aos Índice de Infraestrutura
(INF), Índice do Nível de Educação (IDE) e Índice do Nivel de Saúde (INS) pertence aos
Municípios de Nordestina e Candeal. Já em relação aos Índices do Nível de Educação (INE) e
49
Índice de Serviço Básico (ISB), as piores situações pertencem a Lamarão, Monte Santo,
Nordestina e Quijingue. Já em relação ao Índice da Renda Média do Chefe de Família
(IRMCH) a situação é preocupante para todos os Municípios, menos São Domingos que
ocupa posição relativamente favorável. Os dados encontram-se nos quadros XVIII-A e XVIII-
B.
Quadro XVIII-A - Indicadores Sociais dos Municípios, 2000
Municípios INF IDE INS
Índice Classificação Índice Classificação Índice Classificação
Araci 4497,20 70º 4998,46 48º 4987,81 250º
Biritinga 4987,83 277º 4988,84 286º 4959,10 341º
Candeal 4986,27 352º 4987,89 373º 4978,02 281º
Cansanção 4993,48 92º 4992,44 109º 4970,80 311º
C. do Coité 4989,08 230º 4990,58 155º 4998,12 212º
Ichu 4988,58 262º 4988,79 290º 5053,94 50º
Itiuba 4992,36 106º 4992,15 116º 4981,76 268º
Lamarão 4988,31 271º 4988,10 356º 4978,27 280º
Monte Santo 4991,44 124º 4992,69 102º 4951,27 354º
Nordestina 4988,21 359º 4987,75 383º 4949,31 356º
Queimadas 4991,67 121º 4991,74 125º 4987,24 252º
Quijingue 4990,03 171º 4990,78 150º 4961,03 335º
Retirolândia 4986,99 303º 4989,48 227º 5014,36 146º
Santa Luz 4992,52 101º 4992,63 104º 5023,69 113º
São Domingos 4986,65 326º 4988,30 337º 5023,52 114º
Serrinha 5009,48 37º 5006,29 34º 5064,18 30º
Teofilândia 4987,95 275º 4990,86 147º 5003,88 193º
Tucano 4994,34 86º 4994,72 74º 5016,67 137º
Valente 4992,27 109º 4992,90 97º 5087,45 15º
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, ONU, 2000.
Quadro XVIII-B - Indicadores Sociais dos Municípios, 2000
Municípios
INE ISB IRMCH
Índice Classifi-cação
Índice Classifi-cação
Índice Classifi-cação
Araci 4995,98 190º 4949,48 283º 4943,89 377º
Biritinga 4974,72 268º 4917,82 339º 4993,74 160º
Candeal 4999,44 181º 4956,22 268º 4951,91 278º
Cansanção 4972,04 277º 4959,41 263º 4925,30 355º
Conceição do Coité 5089,32 33º 4993,85 186º 4982,33 182º
Ichu. 5136,22 13º 5009,93 157º 4950,01 283º
Itiuba 4952,24 332º 4951,10 281º 4978,53 195º
Lamarão 4918,97 388º 4921,94 330º 4917,70 367º
Monte Santo 4902,77 397º 4911,76 354º 4919,60 365º
Nordestina 4929,25 375º 4912,62 352º 4885,38 408º
Queimadas 4997,01 186º 4980,04 216º 4955,72 261º
50
Quijingue 4948,88 340º 4895,21 385º 4877,77 413º
Retirolândia. 5083,21 36º 4991,94 190º 4934,80 334º
Santa Luz 5014,46 141º 5013,98 151º 5010,85 121º
São Domingos 5028,72 108º 5035,82 120º 4963,32 240º
Serrinha 5108,90 23º 5059,38 89º 5067,88 59º
Teofilândia 5002,00 173º 4948,58 286º 5027,96 100º
Tucano 4958,31 321º 4995,24 180º 4969,02 224º
Valente 5047,64 72º 5059,17 91º 4978,53 192º
Fonte: Governo do Estado da Bahia / SEI/SEPLANTEC. Índices de desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos, Salvador, 2002.
Já em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio e com foco em
renda, longevidade e educação, registra-se um progresso significativo no período de 1991 a
2000, em todos os Municípios. Apesar disso, a maioria dos Municípios apresenta situação
que merece atenção. As melhores situações são de Ichu, Serrinha e Santaluz, ficando os
piores lugares para Quijingue, Monte Santo e Nordestina.
Quadro XIX - Índice do Desenvolvimento Humano 1991 a 2000.
Municípios IDHM IDHM-Renda
IDHM Longevidade
IDHM Educação
1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000
Araci 0,424 0,557 0,557 0,454 0,528 0,603 0,352 0,614
Biritinga 0,506 0,596 0,596 0,502 0,538 0,603 0,535 0,682
Candeal 0,530 0,610 0,610 0,487 0,565 0,630 0,591 0,714
Cansanção 0,469 0,538 0,538 0,446 0,441 0,523 0,481 0,646
C. do Coité 0,520 0,611 0,611 0,533 0,528 0,553 0,555 0,747
Ichu. 0,568 0,675 0,675 0,537 0,589 0,657 0,663 0,832
Itiuba 0,466 0,574 0,574 0,479 0,437 0,519 0,502 0,725
Lamarão 0,478 0,608 0,608 0,500 0,587 0,657 0,444 0,668
Monte Santo 0,410 0,534 0,534 0,417 0,493 0,587 0,318 0,598
Nordestina 0,419 0,550 0,550 0,453 0,441 0,523 0,428 0,675
Queimadas 0,470 0,613 0,613 0,506 0,484 0,587 0,495 0,746
Quijingue 0,377 0,526 0,526 0,442 0,441 0,523 0,306 0,614
Retirolândia. 0,518 0,625 0,625 0,549 0,528 0,555 0,592 0,770
Santa Luz 0,521 0,66 0,646 0,566 0,539 0,641 0,536 0,732
São Domingos 0,531 0,624 0,624 0,523 0,528 0,598 0,602 0,752
Serrinha 0,566 0,658 0,658 0,547 0,589 0,663 0,612 0,763
Teofilândia 0,498 0,607 0,607 0,516 0,589 0,630 0,437 0,676
Tucano 0,472 0,582 0,582 0,492 0,540 0,589 0,410 0,666
Valente 0,540 0,657 0,657 0,555 0,528 0,656 0,605 0,759
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD/ONU, 2000.
O quadro seguinte traz vários outros dados de indicadores de pobreza: o
analfabetismo entre os adultos atingia, em 2000, mais de um terço da população (35,4%), o
51
que se constitui num grande limite para o processo de desenvolvimento do território; a
renda per capita (que esconde a realidade dos mais pobres, já que engloba também os
segmentos de maior renda) era de R$ 80,7 – e em Monte Santo de apenas R$ 47,3 – e o
Índice de Desenvolvimento Humano inferior a 0,631. Era muito grave a situação da educação:
mais de dois terços da população tinham menos de quatro anos de estudo, o que pode ser
considerado analfabetismo funcional. Mais de um terço da população era considerada pobre
e, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano, mais da metade da população encontrava-
se em situação de indigência.
Quadro XX – Indicadores de Vulnerabilidade: Taxa de Alfabetização, Renda Per Capita, Índice de Desenvolvimento Humano, População com 25 anos ou mais e menos de 4 anos
de estudo e Índice de Indigência, 2000.
Municípios
Taxa de Alfabetizaç
ão de Adulto
Renda Per
Capita
IDH -Índice Desenv. Humano
Pop. com 25 anos ou
mais e menos de 4
anos de estudo-%
Incidência de
Pobreza¹ (%)
Índice de indigência
(%)
Araci 55,68 59,24 0,557 77,64 48,58 55,07
Barrocas --- --- --- --- --- ---
Biritinga 36,23 78,97 0,596 73,96 20,06 45,38
Conceição do Coité 72,13 94,90 0,611 63,87 35,10 49.88
Cansanção 60,29 56,30 0,538 78.89 44,72 66,49
Candeal 68,06 72,09 0,610 66,69 28,18 46,57
Ichu 79,59 97,43 0,675 52,90 18,35 47,12
Itiuba 68,25 68,60 0,574 75,61 36,29 63,27
Lamarão 35,10 78,01 0,608 73,49 26,37 43,33
Monte Santo 55,76 47,34 0,534 84,81 47,85 69,05
Nordestina 79,04 61,73 0,550 81,30 56,36 47,66
Queimadas 69,80 80,70 0,613 72,88 42,31 50,94
Quijingue 55,45 55,08 0,526 83,34 50,44 69,64
Retirolândia 71,85 104,81 0,625 65,00 33,94 61,38
São Domingos 74,75 89,52 0,624 66,09 47,71 38,18
Santaluz 67,82 116,12 0,646 66,90 46.18 52,70
Serrinha 75,62 103,10 0,658 56,41 34,72 44,50
Teofilândia 66,07 85,99 0,607 70,04 40,61 55,13
Tucano 61,03 74,35 0,582 71,76 48,33 54,34
Valente 74,45 108,47 0,657 60,21 31,87 55,13
Média/Território 64,57 80,67 0,599 66,47 36,41 50,83
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000; (¹) IBGE, Mapa das Desigualdades, 2003.
31
A leitura do índice de IDH é a seguinte: quanto mais próximo de 1,0, melhor; ao contrário, quanto mais distante, pior.
52
O quadro seguinte retrata o número médio de moradores conforme a renda per
capita. É interessante observar que as famílias mais numerosas são aquelas de menor renda:
os domicílios cujos moradores têm renda per capita de até 1/4 de salário mínimo são
habitados, em média, por 5,2 pessoas, o que vai reduzindo-se conforme o aumento da
renda, de forma que os domicílios cujos moradores têm renda per capita superior a três
salários mínimos têm, em média, 2,9 moradores (pouco mais da metade dos primeiros).
Quadro XXI - Número médio de moradores por domicílio, conforme rendimento mensal per capita em salários mínimos, 2000.
Município Total
Rendimento em Salário Mínimo
Até 1/4 De 1/4 a
1/2 De 1/4 a
1/2 De 1/4 a
1/2 De 2 a 3
Mais de 3
Araci 4,5 5,4 4,4 3,1 3,1 3,7 2,8
Barrocas --- --- --- --- --- --- ---
Biritinga 4,3 5,4 4,5 3,1 3,0 3,0 2,3
Candeal 4,2 5,4 4,3 3,0 3,1 3,0 2,5
Cansanção 4,3 5,1 4,1 2,7 3,0 3,1 3,0
C. do Coité 4,0 5,1 4,5 3,1 3,1 3,4 2,8
Ichu 4,1 4,8 4,7 3,4 3,3 3,2 3,4
Itiuba 4,2 5,1 4,1 3,2 3,4 2,9 2,2
Lamarão 4,9 5,6 5,8 4,1 4,0 4,0 2,5
Monte Santo 4,4 5,2 4,1 2,9 3,3 4,0 2,4
Nordestina 4,6 5,9 4,8 3,0 3,3 2,0 2,1
Queimadas 4,2 4,9 4,6 3,1 3,4 3,3 3,1
Quijingue 4,5 5,1 4,3 3,3 3,2 3,8 4,4
Retirolândia 3,8 4,6 4,2 3,2 2,6 2,4 3,0
Santaluz 4,2 5,2 4,5 3,3 3,5 3,1 3,2
São Domingos 3,7 4,5 4,1 3,3 2,9 1,9 3,5
Serrinha 4,2 5,3 4,6 3,3 3,5 3,6 2,8
Teofilândia 4,6 5,9 4,3 3,4 3,6 2,9 3,3
Tucano 4,2 5,1 4,5 3,1 3,2 3,7 2,1
Valente 3,7 4,5 4,0 3,2 3,0 3,4 2,9
Total 4,2 5,2 4,4 3,2 3,2 3,1 2,9
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000;
Apesar do avanço registrado no período de 1991 a 2000, quanto à renda proveniente
do trabalho, quase metade da renda gerada em 2000 era proveniente de outros meios,
apenas 51,5% eram oriundas do trabalho. Observe-se que 22,8% da renda já eram
provenientes de transferências governamentais, o que deve ter aumentado
substancialmente com a ampliação dos programas assistenciais implementados a partir de
2003.
53
Quadro XXII - Proporção de pessoas que vivem com renda proveniente de transferência governamental, 1991 e 2000 (%)
Municípios
Renda proveniente do trabalho
1991
Renda proveniente do trabalho
2000
% de pessoas com mais de 50% da renda proveniente de transferência
governamental
1991 2000
Araci 8,89 45,99 8,04 22,32
Barrocas --- --- --- ---
Biritinga 10,62 53.66 8,38 22,69
Candeal 12,21 53,09 9,33 22,69
Cansanção 13,56 38,76 11,72 27,12
Conceição do Coité 10,80 59,44 8,47 20,65
Ichu 11,86 66,94 9,06 27,79
Itiuba 13,07 42,74 11,79 22,49
Lamarão 14,15 58.61 14,89 20,90
Monte Santo 10,83 33,18 9,14 24,75
Nordestina 11,23 51,31 9,14 28,58
Queimadas 11,03 49,78 10,87 28,18
Quijingue 10,33 28,01 6,90 17,70
Retirolândia 10,18 57,82 7,79 25,89
Santa Luz 8,83 63,01 6,80 16,61
São Domingos 8,87 64,57 12,32 21,69
Serrinha 14,21 58,80 12,32 19,23
Teofilândia 10,19 43,18 8,30 24,29
Tucano 10,29 53,54 7,40 21,88
Valente 9,41 65,55 7,57 18,56
Total 11,1 51,5 9,5 22,8
FONTE: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD/ONU, 2001.
Apesar de os dados do quadro seguinte demonstrar que a proporção de pessoas que
tinham ocupação no período do censo era relativamente baixa, a informação mais relevante
refere-se à faixa de idade de 10 a 17 anos, ou seja, ao trabalho infantil: 22% das crianças
nessa faixa etária trabalhavam, no período do censo.
Quadro XXIII - Proporção de pessoas ocupadas por grupos de idade, 2000
Municípios 10 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 59 anos 60 anos ou mais
Araci 21,6 51,3 60,9 27,9
Barrocas --- --- --- ---
Biritiga 54,3 77,3 86,5 57,9
Candeal 12,6 40,9 60,1 26,6
Cansanção 15,5 40,7 47,1 15,0
C. do Coité 24,6 58,7 71,3 33,0
Ichu 15,1 53,1 70,5 25,5
Itiuba 27,9 51,6 59,9 27,5
Lamarão 45,8 75,6 77,8 46,2
Monte Santo 15,2 42,1 53,8 21,5
Nordestina 27,4 62,5 74,9 37,7
54
Queimadas 17,1 48,0 59,8 24,0
Quijingue 7,6 38,1 44,8 18,8
Retirolândia 18,3 54,5 70,5 24,6
Santaluz 15,9 53,0 61,7 19,4
São Domingos 18,6 65,7 69,2 25,6
Serrinha 29,6 55,5 65,6 30,9
Teofilândia 19,6 44,6 53,7 23,9
Tucano 13,3 46,0 58,2 18,6
Valente 15,9 57,9 70,3 31,1
Total 21,9 53,5 64,03 28,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
O quadro seguinte apresenta indicadores de pobreza e de desigualdade, o que
demonstra, também, a concentração da renda. Observe-se que apenas 19,5% da renda
gerada eram apropriadas por 60% da população, o que permite concluir que 80,5% da renda
ficavam com 40% da população, e nessas circunstâncias, 47% da população tinham renda
per capita inferior a R$ 35,7532. No outro extremo, a renda apropriada pelos 10% mais ricos,
o que se aproximava da metade do bolo: 45,3%.
Quadro XXIV - Indicadores de Pobreza e Desigualdade
Municípios
% da renda municipal apropriada pelos 60%
mais pobres
% da renda municipal
apropriada pelos 10% mais ricos
% da população com renda per capita
inferior a R$ 35,75
Araci 17,80 46,39 56,80
Barrocas --- --- ---
Biritinga 19,22 49,45 48,16
Candeal 22,93 37,91 43,67
Cansanção 14,49 50,79 59,61
Conceição do Coité 20,68 44,85 35,90
Ichu 24,78 37,43 32,35
Itiuba 13,48 50,75 57,10
Lamarão 27,13 35,35 78,01
Monte Santo 15,02 41,74 59,68
Nordestina 25,01 36,40 51,29
Queimadas 19,86 45,58 42,19
Quijingue 10,87 50,92 63,87
Retirolândia 19,12 52,41 34,89
Santa Luz 16,85 56,09 34,32
São Domingos 30,57 32,38 25,26
Serrinha 16,91 48,09 39,70
Teofilândia 14,46 54,85 48,96
Tucano 20,13 42,43 43,97
Valente 20,76 47,17 32,52
MÉDIA 19,5 45,3 46,8
FONTE: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD/ONU, 2001.
32
Aproximadamente US$ 18.50, à época.
55
5.6. Acesso a Bens e Serviços Públicos
Quanto ao acesso a bens e serviços, a situação é bastante contraditória. Em média,
29,9% vivem em domicílio com água encanada e banheiro, sendo o destaque para os
Municípios de Serrinha, Santa Luz e Ichu, embora em nenhum deles o percentual atinja
sequer metade da população. A pior situação é de Monte Santo, apenas 11,1%.
Quanto à disponibilidade de energia elétrica, 61,1% da população têm acesso ao
benefício, sendo que a melhor situação se encontra em Ichu, Valente e Retirolândia, e a pior
fica para Nordestina e Monte Santo. O índice dos que vivem em domicílio com energia
elétrica e possuem aparelho de TV aproxima-se da casa dos 50%, sendo que em Ichu
ultrapassa 70%. Apenas 35,6% dos que vivem em domicílio com energia elétrica possuem
geladeira, sendo as melhores posições ocupadas por Ichu, Serrinha e Valente. O percentual
de pessoas que vivem em domicílios com telefone corresponde, em média, a 4,0%, sendo
que em Serrinha o índice ultrapassa 8%.
Quadro XXV - Proporção de pessoas com Acesso a Bens e Serviços Básicos pela População dos Municípios, 2000
Municípios
Pessoas que vivem em
domicílio com água
encanada e banheiro (%)
Pessoas que vivem em domicílio
com energia elétrica (%)
Pessoas que vivem em
domicílio com energia elétrica e geladeira (%)
Pessoas que vivem em domicílio
com energia elétrica e TV
(%)
Pessoas que vivem em domicílio
com telefone (%)
Araci 23,77 51,65 24,26 40,79 2,42
Biritinga 27,84 54,10 27,00 38,87 1,56
Candeal 23,63 60,55 35,51 57,95 3,05
Cansanção 27,86 54,60 32,10 44,63 3,92
Conceição do Coité 23,90 72,63 45,44 60,99 3,74
Ichu 45,81 81,65 54,19 71,15 5,57
Itiuba 24,93 45,54 23,71 37,28 2,32
Lamarão 14,75 54,96 26,97 42,74 1,64
Monte Santo 11,84 39,50 17,12 26,49 1,73
Nordestina 21,02 34,16 19,09 26,57 1,53
Queimadas 33,53 57,54 37,79 50,52 2,34
Quijingue 20,99 40,71 21,32 28,37 2,24
Retirolândia 25,88 77,50 47,30 62,67 6,15
Santa Luz 42,25 74,24 45,11 61,92 7,96
São Domingos 38,45 72,06 43,37 58,19 2,31
Serrinha 48,95 79,03 52,86 69,31 8,10
Teofilândia 32,01 56,52 31,21 41,70 7,40
Tucano 38,25 62,61 39,46 54,22 5,42
Valente 43,09 81,21 51,80 66,47 5,79
MÉDIA 29,9 60,6 35,6 49,5 4,0
FONTE: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD/ONU, 2000
56
Parte 3 – Metodologia e Gestão
O processo de planejamento e gestão das políticas visando à promoção do
desenvolvimento sustentável do Território do Sisal, estimulados e coordenados pelo CODES
Sisal, resultou na elaboração participativa do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural
Sustentável – PTDS. Esse plano é um documento que sistematiza a experiência, o
conhecimento acumulado, as expectativas, sonhos, desejos e projetos coletivos das diversas
organizações que têm um papel ativo na promoção do desenvolvimento sustentável do
Território do Sisal.
Dentro dessa lógica de construção existem aspectos importantes e que precisam ser
revelados para responder a algumas demandas postas ao Território e pelo Território:
1) O Território começa a quebrar a cultura da ausência de planejamento – e o mais
importante: planejar com diversos segmentos, municípios, instituições, entidades,
etc.
2) O Território começa a quebrar a ausência de informações de interesse e consolida
um processo de construção de um diagnóstico participativo, histórico e atual de sua
57
realidade;
3) O Território quebra a ausência da prática de sistematização de dados e processos de
interesse do Território e inicia um exercício da sistematização das oficinas, debates,
troca de experiências e de seminários;
4) O Território quebra a prática de se pensar ou planejar a curto prazo e passa a assumir
a lógica de se construir e integrar políticas públicas, ao invés de projetos e
programas, apenas;
5) O Território, marcado pela exclusão social, mas também pela história de lutas dos
movimentos sindicais, associativista, cooperativista, organização das mulheres, entre
outros, quebra o pré-conceito do coronelismo estabelecido em toda a Região
Nordeste, e fortalece a construção e o fortalecimento de uma cidadania viva.
Assim sendo, este Plano representa um início de exercício que o Conselho Regional
de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia - CODES Sisal
pretende tornar uma prática cotidiana. Mais ainda, este Plano visa que as entidades e
instituições, principalmente aquelas que o compõem e que vivem e atuam no Território,
possam praticar o exercício de planejar, de forma participativa, as suas intervenções, de
modo que o Território esteja na pauta e na agenda estratégica de todas elas.
Este Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável é fruto de um processo
que o CODES Sisal atribui a todas as instituições governamentais e às entidades não-
governamentais, componentes desta Institucionalidade Territorial, bem como todas as
entidades parceiras33 que, por sua história, têm um compromisso que é a execução do
Plano.
Para elaboração do PTDS foi necessário ampliar as reflexões sobre a importância da
promoção de ações que pudessem resultar num desenvolvimento endógeno, dinâmico e de
caráter multidimensional. O Plano está dividido em quatro partes: a primeira, a
apresentação da Missão, Princípios, relação de entidades que participam do Codes do Sisal;
em seguida, o Diagnóstico do Território, contendo nesta parte a sua localização, aspectos
históricos, geográficos, ambientais e geoespaciais, informações sobre sua população, a
economia, indicadores sociais, a situação fundiária, as organizações sociais presentes, a
assistência técnica, informações sobre saúde, educação, economia solidária e cultura; a
terceira, os Eixos Prioritários de Desenvolvimento, traz um conjunto de programas e
33
Em anexo encontramos a relação dos participantes das oficinas de construção do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável.
58
projetos, com detalhamento sobre a abrangência das ações, impactos gerados, custos e
arranjos institucionais necessários para a consolidação das propostas; e por fim, a conclusão,
com considerações finais a respeito da importância do PTDS para o CODES Sisal e como
instrumento de interlocução com organizações e as instâncias governamentais.
Neste PTDS consolidado durante reunião preparatória do Seminário para o
Fortalecimento das Políticas Públicas no Território do Sisal, realizado no município de
Valente, em 22 de março de 2007, pode-se encontrar a priorização das principais demandas.
Assim como sua síntese na Figura 1, a seguir.
Com estas propostas, espera-se ampliar o diálogo com as diversas instituições
públicas, visando à concretização destas e de outras demandas que integram o PTDS da
região sisaleira.
59
Parte 4 – Planejamento Operacional
DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO: EIXOS AGLUTINADORES E PROGRAMAS
Nesta última parte estão descritas as principais dimensões do Desenvolvimento deste
PTDS, seus Eixos Aglutinadores, Programas e Projetos, conforme o quadro seguinte:
Quadro XXVI – Dimensões do Desenvolvimento, Eixos e Programas.
DIMENSÃO EIXOS PROGRAMAS
Econômica
Fortalecimento da agricultura familiar
- Desenvolvimento do sistema produtivo do sisal; - Desenvolvimento da ovinocaprinocultura; - Desenvolvimento da Apicultura; - Fortalecimento da produção artesanal de sisal; - Exploração e beneficiamento de pedras e outros
minerais; - Terra pra morar e trabalhar.
Infraestrutura
- Esgotamento sanitário - Eletrificação rural; - Conservação de Rodovias; - Morar Bem;
Sociocultural
Comunicação - Fortalecimento das entidades de
comunicação; - Fortalecimento dos movimentos sociais.
Educação para sustentabilidade
- Formação de Professores; - Ampliação das ações socioeducativas; - Espaços de Leitura; - Pró-Universidade do Semiárido; - MOVA-Sisal – tecendo com a fibra, alfabetização e
cidadania; - Qualificação educacional em assentamentos; - Educação para a solidariedade.
Saúde - Mais saúde
Cultura - Sistema Territorial de Cultura
Geração de Trabalho e Renda
- Vida Melhor
Ambiental Meio Ambiente
- Educação ambiental; - Aterra Território; - Recuperação de áreas degradadas; - Recuperação da Bacia do Itapicuru.
60
Quadro XXVII - Eixos Temáticos e Programas, Conforme a Dimensão do Desenvolvimento
1. Dimensão Econômica
1.1. EIXO: FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR
1.1.1. Programa: PROGRAMA DE FORTALECIMENTO DE CADEIAS PRODUTIVAS
1.1.1.1. Projeto: DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA PRODUTIVO DO SISAL
a) Diagnóstico Setorial:
O sisal é uma planta facilmente adaptável às condições edafoclimáticas do Território, constituindo-se num
grande suporte econômico para todos os Municípios. A fibra é extraída de forma permanente em todos os
períodos do ano e tem a capacidade de absorver grande quantidade de mão-de-obra (cada campo de sisal,
além dos familiares do produtor, absorve sete outras pessoas no processo de extração da fibra). O sisal é o
responsável pela permanência de milhares de pessoas no meio rural, mesmo em períodos cujas adversidades
são maiores. Apesar dessa importância econômica e social, o sistema produtivo do sisal vem recebendo pouco
incentivo governamental nos últimos 20 anos, o que o levou a uma grave crise: produto de qualidade inferior,
mão-de-obra desqualificada, preços baixos. Muitos produtores de sisal, nas últimas décadas, erradicaram suas
plantações e esses, hoje, enfrentam maiores dificuldades de sobrevivência do que aqueles que as mantiveram.
O quadro começa a mudar em meados da década passada quando a APAEB implantou uma fábrica de tapetes e
carpetes que, embora situada em Valente, absorve a fibra de diversos municípios do Território do Sisal e de
outros Territórios próximos. O funcionamento da fábrica permitiu um aumento significativo no preço da fibra
in natura: enquanto o preço da carne bovina aumentou entre 1996 (ano do início do funcionamento da fábrica)
e 2002 cerca de 120%, a ampliação do preço da fibra do sisal foi superior a 400%, beneficiando milhares de
produtores de toda região.
Por outro lado, o processo de venda da fibra in natura pelos produtores aos intermediários causa-lhes grandes
prejuízos, já que estes, em média, reduzem os preços em até 30%. Uma alternativa é a implantação de
pequenas centrais de beneficiamento, conhecidas como batedeiras de sisal, que possibilitem o tratamento
primário básico da fibra, adequando-a às exigências do mercado interno e externo em crescimento.
b) Localização:
14 municípios do Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Agricultores e agricultoras familiares e suas organizações produtivas envolvidas com processo de plantio,
beneficiamento e comercialização da produção de Sisal no Território.
d) Justificativa:
Além da extração da fibra, o sisal desponta com grandes potenciais para utilizar a mucilagem na produção de
ração animal, utilizar o rejeito da fibra (bucha) na produção de compósitos para a indústria automotiva e da
construção civil, a utilização do pendão e do bulbo para a fabricação de briquetes para a produção de
bioenergia e utilização do suco na produção de biofertilizantes e bioinseticidas.
e) Objetivos:
Desenvolver ações de pesquisa e desenvolvimento;
Garantir a oferta de assistência técnica;
61
Ampliar a oferta de crédito para o plantio, beneficiamento e comercialização do sisal e
Fortalecer os processos de comercialização.
Aproveitar integralmente o sisal para aumentar a sua capacidade de geração de renda.
f) Estratégias:
Realização de pesquisas que objetivem o controle de doenças e o desenvolvimento de plantas com
maior resistência e produtividade;
Realização de pesquisas para ampliar o uso dos sub-produtos do sisal, principalmente para o
desenvolvimento de ração animal;
Desenvolvimento de Pesquisa que produzam tecnologias apropriadas;
Garantir um processo de assistência técnica permanente e apropriada, visando a melhoria do processo
produtivo;
Implantação de Unidades de Beneficiamento de Sisal;
Linhas de crédito que garantam o processo produtivo bem como o beneficiamento e a
comercialização.
g) Arranjos Institucionais:
Com a constituição do Grupo de Trabalho Interministerial, criado por decreto Presidencial, formado por
diversas instituições públicas federais, com o objetivo de promover arranjos para o fortalecimento do sistema
produtivo do sisal, as ações previstas neste Projeto constituem-se nas atividades que serão empreendidas pelas
instituições integrante do Grupo de Trabalho.
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Aumento da produtividade do sisal;
Desenvolvimento e disponibilização de tecnologias apropriadas;
i) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com a cultura do sisal.
1.1.1.2. Projeto: DESENVOLVIMENTO DA OVINOCAPRINOCULTURA
a) Diagnóstico Setorial:
Dada à distribuição fundiária do Território do Sisal e às condições climáticas, a prática da caprinocultura e
ovinocultura tornaram-se bastante importantes para a composição da renda dos agricultores e agricultoras
familiares. O uso do sisal também se tornou um importante suporte alimentar, servindo ainda de pastagem nos
períodos de estiagem. Nas últimas décadas, a partir da atuação de entidades no Território, através de
programas e projetos de assistência técnica e extensão rural, a exemplo do MOC – Movimento de Organização
Comunitária que criou inclusive programas específicos, a exemplo de Fundos Rotativos para pequenos
empréstimos e assumiu o processo de ATER, o desenvolvimento da ovinocaprinocultura ganhou novos rumos,
constituindo-se como importante atividade econômica e de preservação do meio-ambiente. O
desenvolvimento da criação de caprinos e ovinos levou à busca do processo de verticalização da produção e
hoje temos o seguinte quadro:
a) Caprinocultura de Leite: por questões de ordem cultural, o leite caprino, apesar de superior ao leite bovino
em muitos aspectos, dificilmente é utilizado para o consumo diário pela população do Território. A partir de um
62
processo educativo, incluindo-se a capacitação dos produtores/as de leite é que a resistência ao uso do leite
caprino começou a se reduzir, embora seja ainda grande nos diversos municípios. A implantação de um
pequeno laticínio na cidade de Valente, pela APAEB, com capacidade para processar, atualmente 400 litros de
leite por dia, trouxe uma nova alternativa de renda. Essa experiência tem motivado o consumo e a busca de
implantação de outras agroindústrias para o beneficiamento e a comercialização do leite caprino.
b) Ovino-Caprinocultura de Corte: a grande maioria dos agricultores e agricultoras familiares, criadores de
ovinos e caprinos do Território dedica-se à produção de carne, atividade de pouca exigência técnica e com
tendências de crescimento. Assim, o Território começa a se despontar com perspectiva de tornar-se grande
fornecedora de carne caprina e ovina, inclusive pelos atrativos do mercado na atual conjuntura. Alguns fatores,
entretanto, são fortes entraves ao desenvolvimento da ovino-caprinocultura de corte, como, por exemplo, a
ausência de condições efetivas para um processo de comercialização de forma organizada, evitando a presença
dos intermediários.
c) Beneficiamento das peles: A implantação de um curtume pela APAEB tem influenciado fortemente na
valorização da pele caprina. Para atender às exigências do mercado, no entanto, vem se buscando estruturar o
curtume em funcionamento, além da implantação em outros em municípios.
b) Localização:
Municípios situados no Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Agricultores e agricultora familiares e suas organizações produtivas
d) Justificativa:
Importância cultural da ovinocaprinocultura para o território;
Importância socioeconômica da ovinocaprinocultura;
Necessidade de evolução do rebanho para garantir renda e segurança alimentar para os agricultores
familiares e população em geral;
Possibilidade de consórcio e de diversificação da produção da agricultura familiar do território.
e) Objetivos:
Estimular a produção e o beneficiamento do leite caprino como alternativa de renda dos agricultores e
agricultoras familiares do Território;
Fomentar a produção da ovinocaprinocultura e possibilitar o abate com técnicas adequadas e que
atenda a legislação vigente, aumentando a renda dos produtores;
Possibilitar a agregação de valor através do beneficiamento primário e da comercialização de peles
ovinas e caprinas;
Desenvolver um processo de pesquisa que possibilite a indicação de um tipo de ração animal;
Ampliar a oferta de caprinos e ovinos.
f) Estratégias:
Parcerias para desenvolver pesquisa para o desenvolvimento do rebanho;
Implantação de Unidades de Beneficiamento do leite, carne e pelo de caprinos e ovinos;
Eventos de formação e divulgação para melhoria da qualidade de produção, beneficiamento e
comercialização.
63
g) Arranjos Institucionais:
PARCERIAS COM CABRA FORTE, EBDA, MOC, FATRES, Secretarias municipais de agricultura; secretarias de
Agricultura do Estado da Bahia e de Combate a Pobreza, SETRAS, PETI, Cabra Escola, MDA (SAF-SDT);
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Organização dos produtores de leite caprino;
Ampliação do mercado consumidor de produtos caprinos;
Agregação de valor ao produto dos agricultores/as familiares;
Aumento da renda familiar dos agricultores/as familiares;
Aumento dos índices de produtividade da ovinocaprinocultura;
Melhoria no índice de consumo.
i) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com a ovinocaprinocultura.
1.1.1.3. Projeto: DESENVOLVIMENTO DA APICULTURA
a) Diagnóstico Setorial:
A apicultura vem se revelando como atividade geradora de renda complementar para as famílias dos
agricultores e agricultoras familiares do Território do Sisal em virtude de algumas características, como a
diversidade da caatinga, que oferece uma flora bastante variável que permite a produção de mel de boa
qualidade; e, a experiência, ainda que incipiente, de organizações de produtores na busca de construção de
agroindústrias para o beneficiamento. Igualmente aos produtos de origem caprina, o mel passa por um
processo de expansão do seu consumo. O grande número de projetos financiados pelo PRONAF e por outros
programas garante uma oferta considerável de produtos da colméia. O desafio, por exigências sanitárias e do
próprio mercado, é ampliar as estruturas de beneficiamento, garantindo, assim, uma maior agregação de valor.
b) Localização:
Municípios situados no Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Agricultores e agricultora familiares e suas organizações produtivas e apicultores/as;
d) Justificativa:
Capacidade produtiva da região;
Possibilidades de mercado consumidor;
Garantia de fornecimento de alimento para segurança alimentar;
Possibilidade de aumento de renda das famílias envolvidas.
e) Objetivos:
Implantar Unidade de Beneficiamento dos produtos da colméia;
Realizar eventos de formação para melhoria da qualidade de produção, beneficiamento e
comercialização;
Ampliar a diversificação dos produtos originados da colméia;
Ampliar a comercialização.
64
f) Estratégias:
Estabelecimento de parcerias e convênios com instituições de pesquisa para produção de tecnologia
apropriada para apicultura no território;
Parceiras com associações de apicultores; negociação com secretarias de agricultura e grupo gestor do
PETI para compra e fornecimento dos produtos para a alimentação escolar;
Divulgação dos produtos.
g) Arranjos Institucionais:
Associações Apícolas do território, CBARA FORTE, SETRTAS, PETI, ARC, ADS-CUT, ASCOOB, COGEFUR, MMTR,
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Ampliação da produção e beneficiamento de mel;
Aumento das Unidades de Beneficiamento da cadeia produtiva;
Ampliação da renda familiar;
Elevação no consumo do mel como alimento humano.
i) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com a apicultura.
1.1.2. Programa: PROGRAMA DE APOIO ÀS ATIVIDADES NÃO-AGRÍCOLAS
1.1.2.1. Projeto: FORTALECIMENTO DA PRODUÇÃO DE ARTESANATO DE SISAL
a) Diagnóstico Setorial:
A multidimensionalidade da Agricultura Familiar, ao tempo que traduz uma característica natural desse
segmento que está presente nos municípios rurais brasileiros, representa uma importante estratégia de
sobrevivência para a grande maioria das famílias de agricultores e agricultoras familiares deste País. Esta
multidimensionalidade pode, muito facilmente, ser identificada pelo desenvolvimento de atividades
consideradas não-agrícolas, assim caracterizadas em virtude de que, apesar de serem desenvolvidas no meio
rural, até mesmo dentro das propriedades rurais, não trazem em si relação direta com ação de plantio e
colheita.
b) Localização:
Municípios integrantes do Território do Sisal.
c) Público Prioritário:
Agricultores e agricultoras familiares que, de forma individual, em grupos ou empreendimentos econômicos
solidários, desenvolvem atividades de produção de peças artesanais, com a utilização da fibra do sisal.
d) Justificativa:
Dentre as inúmeras atividades não-agrícolas que são desenvolvidas nos municípios que compõe o Território do
Sisal, a produção de artesanato com fibra de sisal apresenta-se como uma importante atividade, que além da
renda gerada para as mulheres e homens e seus empreendimentos econômicos solidários, que estão
envolvidos no processo de produção e comercialização, representa um importante resgate da cultura do
Território.
e) Objetivos:
Garantir a oferta de recursos financeiros, investimentos e acompanhamento técnico aos empreendimentos
65
econômicos e solidários envolvidos no processo de produção de artesanato com fibras de sisal.
f) Estratégias:
Disponibilização de recursos financeiros para capital de giro
Acompanhamento técnico a grupos e empreendimentos
Consolidação de rede de produção e comercialização, através da integração de grupos, cooperativas e
associações;
Comercialização da produção.
g) Arranjos Institucionais:
Ministério do Desenvolvimento Agrário
Ministério do Trabalho e Emprego
SEBRAE, SDT/MDA, SEAGRI, Prefeituras municipais, UNEB, UEFS, UFBA
Instituto Mauá, SETRAS, PETI, APAEB, ADS-CUT, ARCO, MOC;
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Quantidade e qualidade da produção;
Volume de peças comercializadas;
Elevação da renda familiar.
i) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com o artesanato.
1.1.2.2. Projeto: EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO DE PEDRAS E OUTROS MINERAIS
a) Diagnóstico Setorial:
A multidimensionalidade da Agricultura Familiar, ao tempo que traduz uma característica natural desse
segmento que está presente nos municípios rurais brasileiros, representa uma importante estratégia de
sobrevivência para a grande maioria das famílias de agricultores e agricultoras familiares deste País. Esta
multidimensionalidade pode, muito facilmente, ser identificada pelo desenvolvimento de atividades
consideradas não-agrícolas, assim caracterizadas em virtude de que, apesar de serem desenvolvidas no meio
rural, até mesmo dentro das propriedades rurais, não trazem em si relação direta com ação de plantio e
colheita. No Território do Sisal podem-se identificar diversas iniciativas de atividades não-agrícolas sendo
desenvolvidas, muitas delas, sem o devido reconhecimento e apoio necessário, apesar de sua importância
econômica e do envolvimento de um número bastante significativo de famílias de agricultores e agricultoras.
Estas atividades não-agrícolas são, muitas das vezes, consideradas como atividades marginais, condenadas à
informalidade, o que impede que sejam desenvolvidas as ações necessárias para a estruturação de unidades
produtivas, valorização dos produtos e serviços, limitando, portanto, a ampliação da oferta e do consumo. Para
ilustrar a diversidade das atividades não-agrícolas que podem ser encontradas nos municípios que compõem o
Território do Sisal, pode-se citar a produção de artesanato de sisal, a extração de minério (em especial de
paralelepípedos), produção de peças artesanais em tecidos e outros materiais, prestação de serviços diversos,
entre outros.
b) Localização:
Municípios Santa Luz e Itiuba, integrantes do Território do Sisal.
66
c) Público Prioritário:
Agricultores e agricultoras familiares que, de forma individual, em grupos ou empreendimentos econômicos
solidários, desenvolvem atividades de extração e beneficiamento de pedras e outros minerais, com ênfase na
produção de pedras para pavimentação.
d) Justificativa:
A extração e beneficiamento de pedra nos municípios de Santa Luz configuram-se como importantes atividades
econômicas, envolvendo, aproximadamente, 1.200 (mil e duzentos) trabalhadores/as e sendo responsável por
quase 90% da produção no Território. Essa importante atividade produtiva não-agrícola apresenta diversos
problemas em seu processo produtivo. Um dos principais trata-se do envolvimento de mão-de-obra infantil,
problema esse que vem sendo enfrentado deste 1996, com a implantação do PETI – Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil. Quanto aos aspectos produtivos, há, ainda, problemas com as condições insalubres no
processo produtivo e, também, dificuldades no processo de comercialização. Para enfrentar alguns desses
problemas, muitos trabalhadores e trabalhadoras buscaram a organização para garantir o devido
enfrentamento das dificuldades na produção e na comercialização. Para isso, criaram o Sindicato dos
Trabalhadores da Pedra e a Cooperativa de Trabalhadores da Pedra. Essas instituições empreenderam, desde o
seu momento de criação, diversas ações visando à regulação de preço e da demanda, melhorias no processo
produtivo, questões ligadas à segurança no processo de beneficiamento e a luta pelas garantias previdenciárias
para os trabalhadores e trabalhadoras que desenvolvem a atividade.
e) Objetivos:
O Projeto de Apoio ao Processo de Extração e Beneficiamento de Pedras e outros Minerais pretende atender a
demandas dos trabalhadores e trabalhadoras e suas entidades, envolvidos no processo de beneficiamento e
comercialização de pedras para pavimentação, nos municípios de Santa Luz e Itiúba. O atendimento das
demandas pretende responder aos principais problemas no que se refere à produção e comercialização.
f) Estratégias:
Disponibilização de capital de giro;
Investimentos no processo produtivo e em equipamentos de segurança;
Fortalecimento de cooperativas dos trabalhadores/as da pedra.
g) Arranjos Institucionais:
Ministério Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Ministério do Trabalho e Emprego
Secretaria Estadual de Indústria e Comércio
Secretaria Estadual de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Volume de milheiros de pedra negociada;
Elevação da renda familiar;
Quantidade e qualidade de milheiros de pedra extraídas e negociadas.
i) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com a extração de minerais.
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1.1.3. Programa: ACESSO E PERMANÊNCIA NA TERRA
1.1.3.1. Projeto: TERRA PRA MORAR E TRABALHAR
a) Diagnóstico Setorial:
A estrutura fundiária do Território do Sisal obedece à mesma lógica da situação vigente no Estado da Bahia e
no país. Segundo dados do IBGE, embora não se registre aqui a presença de grandes latifúndios, os
estabelecimentos com área superior a 500 ha, que correspondem a apenas 0,5% do total, ocupam mais de um
quarto da área: 26,1%. No outro extremo, os estabelecimentos com menos de 20 ha que correspondem a
80,1% do total, ocupam somente 16,9% da área. Os micro-estabelecimentos com menos de 2 há correspondem
a mais de 1/4 dos estabelecimentos (27,15%) e ocupam a irrisória fatia de 1,4% da área. Há, ainda, 4.611
estabelecimentos que são ocupados por arrendatários, posseiros ou ocupantes.
Considerando-se uma família por cada estabelecimento ocupado por sem-terras (arrendatários, posseiros e
ocupantes) e uma família por estabelecimento com menos de 2 hectares, tem-se um total de 21.122 famílias
de agricultores e agricultoras familiares que podem ser consideradas sem terra e que deve ser público
prioritário para os programas de acesso à terra.
Ao levar-se em consideração que há, ainda, 24.930 estabelecimentos de 2 a 10 hectares e que são insuficientes
para permitir a reprodução familiar, tem-se uma forte demanda pela terra.
Por outro lado, os estabelecimentos com mais de 1.000 hectares ocupam 227.321 hectares da área total.
Somente estas terras seriam suficientes para agregar mais de 7.500 famílias, considerando-se uma média de 30
hectares para cada uma.
Mais de 60% das terras, no conjunto do Território, num total de 1.323.418 hectares, são consideradas
devolutas. Essas terras estão ocupadas por grandes, médios e pequenos proprietários e grande parte delas não
possui qualquer titulação. Dados ainda da UFBA, demonstram que 65% das famílias ligadas ao PETI não têm
terra. Logo, como superar a situação de famílias de baixa renda em programas sociais sem enfrentar tal
questão?
b) Localização:
Municípios integrantes do Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Agricultores e agricultoras familiares sem terra ou com terra insuficiente ao sustento e reprodução da família.
d) Justificativa:
Numa região de economia rural, a terra exerce papel fundamental como meio de produção. Democratizar o
acesso à terra, com políticas que permitam o acesso e a permanência na terra por agricultores e agricultoras
familiares sem terra ou com terra insuficiente é condição básica para a promoção do desenvolvimento
territorial sustentável. Deve-se levar em consideração que ainda é pujante o processo migratório no meio rural.
Com a saída dos seus moradores – especialmente os jovens – para os centros urbanos, ter-se-á futuramente,
grandes transtornos à situação da economia rural pela escassez de mão-de-obra, além dos problemas sociais.
Tudo isso, portanto, justifica a adoção de medidas que assegurem o acesso e a permanência na terra e, por
conseguinte, da permanência no meio rural pela população.
e) Metas:
Acesso à terra: assegurar os meios para o assentamento, através do Programas de Reforma Agrária e
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do Crédito Fundiário, de 3000 (três mil) famílias/jovens por ano.
Empreender medidas para a titulação das terras ocupadas pelos agricultores familiares, beneficiando,
anualmente, 5000 famílias.
Garantir linhas de crédito a ATER/ATES para as famílias e grupos assentados.
f) Objetivos:
Implementar medidas que assegurem o acesso e permanência na terra por famílias e jovens sem terra, ou
pouca terra, como condição para o combate à pobreza no meio rural e para a promoção do desenvolvimento
territorial sustentável.
g) Estratégias:
Mobilizar as organizações sociais e o poder público para o levantamento e cadastramento, em cada
Município do Território, das famílias e dos jovens rurais que podem ser beneficiados com as medidas de
acesso e permanência na terra e com a titulação das áreas já ocupadas;
Empreender processo de seleção, capacitação e organização das famílias e dos jovens cadastrados,
reduzindo-se assim os riscos e aumentando as possibilidades de êxito nos futuros assentamentos;
Buscar, junto às instâncias governamentais pertinentes, o apoio necessário para garantir o acesso e
permanência na terra pelos assentados (infra-estrutura, assistência técnica, crédito etc.);
Implantar, no Território, uma Unidade Técnica Territorial (UTT) para, em conjunto com a Unidade Técnica
Estadual (UTE) e a Unidade Técnica Nacional (UTN), e em parceria com as organizações sociais e o poder
público municipal, implementar as ações pertinentes ao Programa Nacional de Crédito Fundiário;
Estabelecer uma política de parcerias com Universidades, ONG’s, entidades dos agricultores familiares;
Implantar, no Território, um escritório do INCRA, como medida institucional para facilitar as ações da
reforma agrária na região;
Criar em cada Prefeitura Municipal uma unidade administrativa com a função de titulação das terras dos
agricultores familiares, para operacionalização em conjunto com a CDA e o INCRA, através da UTT e do
escritório do INCRA no Território.
h) Arranjos Institucionais:
Viabilização de medidas de acesso à terra através dos programas existentes. Discussão e negociação com a CDA
e INCRA.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Número de famílias com acesso à terra, por ano; e inclusive de retorno da vida urbana para o campo;
Número de famílias inseridas em ações de assistência técnica;
Número de famílias beneficiadas com o crédito; com observância na inadimplência, retorno
econômico;
Número de estabelecimentos regularizados através do processo de titulação.
j) Gestão:
Formação de um GT para cuidar especificamente das questões relacionadas à terra.
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1.2. EIXO: INFRA ESTRUTURA
1.2.1. Programa: SANEAMENTO BÁSICO
1.2.1.1. Projeto: Esgotamento Sanitário
a) Diagnóstico Setorial:
O saneamento básico, com coleta e tratamento do esgoto sanitário, é condição para a qualidade de vida. As
pequenas áreas atendidas com esgotamento sanitário restrigem-se a setores de maior renda cujos dejetos são
depositados em lagoas, açudes ou mesmo a céu aberto sem nenhum tratamento. A ampliação da rede de
esgotamento sanitário é condição para o nível adequado de saúde da população.
b) Localização:
Todos os 20 Municípios do Território
c) Público Prioritário:
População urbana dos municípios.
d) Justificativa:
São poucos os municípios que dispõem de instalações de esgoto sanitário e, mesmo assim, abrangem somente
setores de maior renda, não se constituindo num benefício para toda população. Além disso, os esgotos
coletados são destinados ao meio ambiente (especialmente lagoas, açudes etc.) sem qualquer tratamento, o
que termina agravando a questão sanitária nessas localidades pela concentração de resíduos.
Assim, a ampliação das redes de esgotamento sanitário precisa estar acompanhada das respectivas estações de
tratamento.
e) Objetivos:
Melhorar a situação de saúde da população;
Propiciar melhor qualidade de vida para a população urbana;
Preservar o meio ambiente.
f) Metas:
Beneficiar 50% das populações urbanas.
g) Estratégias:
Articulação das Secretarias de Saúde e de Infraestrutura de todo os municípios para buscarem, junto ao
governo do Estado e à EMBASA, a instalação/ampliação de redes de esgotamento sanitário
h) Arranjos Institucionais:
CODES, Secretarias de Saúde e Infraestrutura dos Municípios, governo do Estado/EMBASA.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Nº de pessoas beneficiadas;
Dimensão (metragem) da instalação/ampliação da rede de esgoto sanitário;
Nº de estações de tratamento implantadas
j) Gestão:
Formação de uma Comissão no Território para assumir as atividades relativas ao acesso à terra.
70
1.2.2. Programa: ELETRIFICAÇÃO RURAL
1.2.2.1. Projeto: Luz para Todos e Todas
a) Diagnóstico Setorial:
Os dados dos dois últimos censos (1991 e 2000) mostraram um intenso processo de urbanização em todos os
municípios, reduzindo-se significativamente o número de moradores de áreas rurais, cuja tendência, se
mantida, poderá trazer grandes conseqüências no futuro. A eletrificação rural é fundamental para gerar
qualidade de vida para a população, constituindo-se num importante fator de fixação da população no campo,
freando o processo emigratório. Estima-se que cerca de 30% da população rural não usufrui desse benefício.
b) Localização:
20 Municípios.
c) Público Prioritário:
Moradores da zona rural.
d) Justificativa:
A eletrificação, além de ser um bem básico gerador de qualidade de vida, é também um fator de produção.
Projetos de irrigação, de empreendimentos econômicos (empresariais e solidários) dependem da energia
elétrica para se viabilizarem. Além disso, é também um fator de fixação da população no meio rural, reduzindo
o ritmo do processo emigratório, sobretudo, dos jovens.
e) Objetivos:
Melhorar a qualidade de vida da população rural;
Contribuir para a permanência da população no meio rural;
Possibilitar a implementação de projetos de geração de renda.
f) Metas:
100% da população rural – os serviços devem ser universalizados para todos os moradores nos próximos três
anos
g) Estratégias:
Levantamento, nos municípios, das áreas ainda desprovidas de eletrificação;
Articulação das secretarias de infraestrutura (ou equivalente) para encaminhamento dos pleitos.
h) Arranjos Institucionais:
CODES – Prefeituras Municipais, através das secretarias de infraestrutura – Governo do Estado, através da
SEINFRA e SECOMP – Programa Luz para Todos.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
100% dos moradores da zona rural com energia elétrica;
Garantia da possibilidade de implantação de projetos de geração de renda.
j) Gestão:
Organizar uma Comissão de representantes da sociedade civil e das secretarias municipais de infraestrutura
para negoriar com a SEINFRA os projetos demandados no território.
71
1.2.3. Programa: RODOVIAS
1.2.3.1. Projeto: Conservação Rodoviária
a) Diagnóstico Setorial:
O transporte rodoviário é o único meio utilizado no Território, para o deslocamento de pessoas e para o
transporte de mercadorias. É preciso, portanto, manter em estado de boa conservação as rodovias federais BR
116 e BR 324, e as estaduais BA 409 e BA 416. Além disso, indispensável também a conservação das estradas
vicinais da responsabilidade dos municípios, estas, quase sempre, em situação precária, o que dificulta o
transporte de pessoas e de produtos.
b) Localização:
20 Municípios do Território.
c) Público Prioritário:
Toda a população se beneficia com a medida.
d) Justificativa:
A frágil economia do Território entra em colapso quando os meios de transporte não funcionam
adequadamente, e que dependem da conservação das rodovias, visto que não há outros meios de transporte
acessíveis à população. Logo, é de fundamental importância a manutenção do estado de conservação das
rodovias federais, estaduais e municipais.
e) Objetivos:
Garantir o fluxo regular de pessoas e de mercadorias;
Dinamizar a economia do Território;
Melhorar as condições de vida dos cidadãos
f) Metas:
Conservação plena das rodovias federais e estaduais;
Recuperar todas as rodovias vicinais da competência dos municípios.
Pavimentar as rodovias que ligam as sedes municipais aos distritos e povoados
g) Estratégias:
Realizar um levantamento das condições das rodovias em todos os municípios para fundamentar as
reivindicações junto aos órgãos competentes.
Articular todas as secretarias de infraestrutura (ou equivalente) para uma ação conjunta junto às
esferas governamentais.
h) Arranjos Institucionais:
Negociação com o DERBA, SEINFRA e DENIT.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Manter 100% das rodovias federais, estaduais e municipais em bom estado de conservação;
Permitir o fluxo regular de pessoas e mercadorias.
j) Gestão:
Formação de uma Comissão com representantes das Secretarias Municipais de infraestrutura ou equivalente.
72
1.2.4. Programa: MORADIA POPULAR E PRODUÇÃO
1.2.4.1. Projeto: MORAR BEM
a) Diagnóstico Setorial:
Os homens e mulheres são os únicos seres animais que precisam de uma moradia fixa dotada de boas
condições ambientais e de higiene, que possam oferecer conforto, harmonia familiar e condições saudáveis.
Apesar disso, estima-se que 50% das habitações rurais não oferecem as condições básicas ao bem-estar das
pessoas (instalações sanitárias, piso, reboco, pintura, áreas construída etc.), sendo que, no conjunto, 30% das
famílias ou não possuem moradia (habitam em locais cedidos ou alugados) ou em habitações em condições
altamente precárias.
b) Localização:
20 Municípios do Território.
c) Público Prioritário:
População considerada sem teto ou com habitações precárias.
d) Justificativa:
Necessidade de oferecer às famílias as condições básicas de habitação, indispensáveis ao bem-estar familiar e
social. A habitação precária interfere, inclusive, na convivência familiar, visto que não são poucos os casos em
que pais e filhos obrigam-se a ocupar o mesmo espaço, abdicando compulsoriamente da individualidade;
interfere, também, na própria educação dos filhos que não dispõem, sequer, de um espaço mínimo para
efetivação dos deveres escolares. As precárias condições habitacionais interferem, também, no desempenho
produtivo dos adultos que não possuem, nos momentos necessários, as condições de descanso e conforto.
e) Objetivos:
Oferecer condições adequadas de habitação;
Criar condições de harmonia e bem-estar familiar;
Contribuir para melhorar a capacidade produtiva dos(as) trabalhadores(as).
f) Metas:
Atender a todas as famílias sem teto ou com habitação precária para que tenham moradia que ofereça
conforto e segurança;
Oferecer aos Agricultores Familiares espaços adequados para a comercialização de sua produção.
g) Estratégias:
Articular as secretarias de ação social (ou equivalentes) para diagnosticar a situação de habitação em
cada município;
Negociar com os órgãos competentes projetos de habitação através do PSH, Viver Melhor, Minha Casa
Minha Vida etc.
h) Arranjos Institucionais:
Secretarias Municipais de Ação Social, Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano, Caixa Econômica
Federal, Fundação Nacional de Saúde.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Atender 100% das famílias rurais sem moradia;
Atender 50% das famílias rurais coma programas de melhorias habitacionais.
73
j) Gestão:
Criação de uma Comissão de Habitação Popular.
2. Dimensão Sociocultural
2.1. EIXO: COMUNICAÇÃO
2.1.1. Programa: Desenvolvimento da comunicação social no território do sisal
2.1.1.1. Projeto: Fortalecimento das entidades de comunicação
a) Diagnóstico Setorial:
Os meios de comunicação popular na região do sisal, graças à profunda capacidade de articulação da sociedade
civil, exercem um forte papel na articulação social. Porém, muitos são os desafios que precisam ser
enfrentados. Um dos grandes desafios é o acesso e a busca pela democratização dos meios de comunicação
existentes nessa região.
Um grande exemplo desse processo se encontra sob o signo das rádios comunitárias em 17 municípios, que
estão funcionando e têm se constituído num importante instrumento de comunicação e mobilização social. As
experiências existentes nesse campo mostram uma relação direta entre as rádios comunitárias e o
desenvolvimento das comunidades. É através das rádios comunitárias que, por exemplo, a população fica
sabendo dos investimentos ou falta de investimentos nos municípios. Com essas emissoras de baixa potência a
população tem um espaço aberto à sua participação na programação e na gestão, comunica-se, apresenta as
suas reivindicações e denúncias.
A dificuldade de acesso dos movimentos populares aos meios de comunicação regularizados impulsionou o
fortalecimento destas rádios comunitárias nas Regiões Sisaleira e Vale do Jacuípe. Entretanto, apesar de haver
emissoras com mais de oito anos de funcionamento e pedidos de regularização, elas ainda enfrentam uma
forte repressão por parte dos meios de comunicação de massa, do poder hegemônico local, da ANATEL
(Agência Nacional de Telecomunicações) e da Polícia Federal.
Elas são um dos principais instrumentos de mobilização popular e de divulgação de campanhas educativas,
principalmente na área dos direitos e deveres da infância e adolescência com programas produzidos e
apresentados, inclusive por crianças.
A partir de 2005 foi constituída a ABRAÇO Sisal (Associação de Rádio e TV Comunitária da Região do Sisal), que
por sua vez faz o acompanhamento das rádios comunitárias e em parceria com o MOC, apóia as emissoras com
capacitações técnicas, de conteúdo e orientações quanto à organização da entidade e documentação, e pauta
as rádios com informações sobre desenvolvimento territorial e convivência com o semi-árido. Além disso,
incentiva as emissoras a fomentarem discussões e articulações com os movimentos sociais para o
fortalecimento da comunicação regional democrática.
Além da dificuldade encontrada pelas rádios comunitárias e sua entidade representativa (ABRAÇO Sisal) na
divulgação das ações, o território sisaleiro demanda hoje um trabalho qualificado de comunicação,
principalmente uma comunicação que seja pautada pelos movimentos sociais.
Pensando em buscar alternativas para a qualificação das peças de comunicação no território do Sisal, foi
constituída no inicio de 2005 a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura. Em caráter experimental, a
Agência Mandacaru constituída por 09 jovens, atinge diretamente cerca de sete municípios: Retirolândia,
Valente, Conceição do Coité, Queimadas, Santa Luz, Riachão do Jacuípe e Araci. A Agência funciona no
74
município de Retirolândia para produção de notícias e materiais de comunicação voltados para temáticas de
promoção do desenvolvimento territorial sustentável no semi-rido da Bahia.
A cultura rural é um elemento central nos CDs, boletins e publicações produzidos pelo grupo, que busca
transformar os meios de comunicação em alternativas de visibilidade de práticas e debates sobre um sertão
viável. O grupo ainda presta assessoria de imprensa e de comunicação em eventos e para o movimento social
da região
b) Localização:
20 municípios do Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Através das ações realizadas pelas entidades regionais de comunicação, consegue-se atingir diretamente cerca
de 200 mil pessoas. É possível, com os meios de comunicação, levar informações de qualidade que contribua
de forma significante nas vidas das pessoas e divulgação das ações, além de projetar a imagem do território
como uma alternativa concreta de convivência com o semiárido. O público, ao qual o projeto se destina, é
muito diversificado, mas deverá focar, principalmente, os agricultores familiares que muitas vezes não têm
informações necessárias e de qualidade sobre os aspectos do território e para além dele.
d) Justificativa:
Apesar do Território do Sisal possuir muitas potencialidades e ser marcado pela luta dos movimentos sociais, a
dificuldade de acesso dos movimentos populares aos meios de comunicação é muito grande. Hoje é muito
forte o movimento das rádios comunitárias, mas as mesmas sofrem perseguições dia a dia e acabam se
enfraquecendo e deixando também a população sem nenhuma alternativa de meios que tragam informações
de qualidade e que, acima de tudo, valorizem o homem do campo. Mesmo sofrendo essas repreensões e a
burocracia do ministério das comunicações no andamento dos processos de outorga, diversas entidades
contribuem e implementam ações e discussões que valorizam e promovem o desenvolvimento do território.
Nesse contexto, a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura acredita que através da produção de peças de
comunicação e cultura e mobilização dos meios de comunicação popular pode-se fortalecer a identidade dos
agricultores e agricultores familiares do semiárido. O processo de gestão da Agência é feita pelos próprios
jovens, com orientação de um Conselho Político composto por representantes de entidades da região. Além
disso, a Agência é vista pelos seus membros como uma importante oportunidade de geração de renda para
eles próprios e para juventude.
e) Objetivos:
Fortalecer a comunicação social no território do sisal, buscando a democratização da comunicação;
Implantar tecnologias de comunicação que possibilitem a inclusão social e digital da população do
território.
Garantir a inserção do território nas discussões sobre digitalização de rádio e TV.
Divulgar junto às rádios filiadas à ABRAÇO Sisal, as experiências do Território a nível interno e externo.
Fortalecer a ABRAÇO Sisal para acompanhamento das rádios comunitárias.
Agência Mandacaru assumindo a produção constante de notícias do e para o Território Sisaleiro e
prestando serviços de comunicação às entidades do movimento social.
Buscar a integração entre todos os atores/meios de comunicação social do território.
75
Dar visibilidade às potencialidades econômicas, políticas, sociais, culturais e ambientais, contribuindo
para o desenvolvimento sustentável solidário do Território Sisaleiro.
f) Metas:
Desenvolver programas comunitários de comunicação em todos os Municípios do Território.
g) Estratégias:
Fortalecimento da ABRAÇO Sisal.
Aquisição de equipamentos de escritório e instalação do escritório permanente da ABRAÇO Sisal numa
sala cedida pelo CODES Sisal.
Implantação de 03 tele-centros nos municípios do território.
Capacitações para comunicadores comunitários sobre a digitalização de rádio e TV.
Garantir recursos para a articulação e acompanhamento das rádios comunitárias.
Contratação de um/a administrador/a e um/a técnico/a (20 horas semanais cada).
Aquisição de equipamentos para as rádios comunitárias filiadas à ABRAÇO Sisal.
Recursos para manutenção do espaço físico da ABRAÇO Sisal no período de dois anos;
Contratação da Agência Mandacaru como assessora de comunicação do CODES.
Produção de peças de comunicação para divulgação das ações do CODES no território do Sisal (Jornal
Impresso, Programas de rádio, construção e manutenção do site para a entidade, dentre outras
ações).
Rádio Educativa
Condicionar o apoio político e financeiro do CODES à rádio educativa de Valente caso haja garantia da
participação dos movimentos sociais no processo de gestão;
Aquisição de equipamento e custeio para o primeiro ano de funcionamento.
h) Arranjos Institucionais:
Polo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal), Movimento de Organização Comunitário
(MOC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Cultura (Pontos de Cultura), Conselho
Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES), Articulação no
Semiárido brasileiro (ASA), Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC) Associação das cooperativas
de apoio à economia familiar (ASCOOB), Órgãos públicos (Prefeituras municipais, poder legislativo, estaduais e
municipais), dentre outros.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Quantidade de comunicadores capacitados e dominando a digitalização da TV e do rádio;
05 telecentros implantados e em funcionamento nos municípios de Retirolândia, Valente, Serrinha,
Queimadas e Tucano (Marco Zero: 02);
Qualidade e quantidades dos programas de rádios e de boletins e matérias produzidas e veiculadas;
Quantidade de lideranças, dirigentes e profissionais da comunicação qualificados para assumir
processo de comunicação social;
Qualidade e quantidade de matérias de interesse do CODES veiculadas nos meios de comunicação a
nível local/regional/estadual e nacional;
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Impacto gerado através da produção das peças de comunicação;
Funcionamento da rádio educativa com gestão participativa das entidades do movimento social.
j) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com a comunicação social.
2.1.2. Programa: Desenvolvimento de ações de comunicação dos movimentos populares
2.1.2.1. Projeto: Fortalecimento do movimento social
a) Diagnóstico Setorial:
É um grande desafio trabalhar a comunicação numa região em que se evidencia a pouca visibilidade das ações
institucionais que promovem o desenvolvimento sustentável. A comunicação pode exercer um papel
importantíssimo no fortalecimento da imagem do semiárido, bem como na sensibilização e divulgação das
ações voltadas para o desenvolvimento e fortalecimento da Agricultura Familiar na região.
b) Localização:
20 municípios do Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Lideranças e dirigentes das seguintes entidades: Polo Sindical do Sisal, CEAIC, UAPAC, ARCO Sertão, MMTR
Regional, SICOOB-COOPERE, SICOOB-Itapicuru, Coopergama, Cooperjovens e Cooperafis. Através das ações de
comunicação desenvolvidas pelas entidades deve-se atingir um público de 200 mil pessoas.
d) Justificativa:
As entidades sociais assumem e contribuem de forma significante a gestão de um projeto de desenvolvimento
sustentável para a Região Sisaleira. No entanto, não possuem um planejamento de comunicação para divulgar
as suas ações e as suas potencialidades. Neste contexto, a comunicação assume um papel importante na
visibilidade das ações, no fortalecimento das instituições e na mobilização das comunidades e entidades locais
para participarem do processo. Com este propósito, as entidades regionais de comunicação (ABRAÇO Sisal e
Agência Mandacaru) identificam a necessidade de produzir estratégias de divulgação e comunicação que
apóiem o desenvolvimento dos movimentos sociais e contribuam para o fortalecimento da Agricultura
Familiar, em especial a ovinocaprinocultura e a apicultura. É importante destacar que a Agência Mandacaru de
Comunicação e Cultura é uma das entidades que podem suprir essa lacuna, pois já desenvolve ações de
comunicação social, por já possuir estúdios de produção em rádio e jornalismo e as rádios comunitárias se
configura como um instrumento estratégico de veiculação. A idéia é construir uma proposta de comunicação
que faça valer a informação acessível para todos/as e garanta que os projetos referenciais do semiárido
tenham espaço privilegiado nos meios de comunicação.
e) Objetivos:
Garantir a disseminação das informações sobre as potencialidades, experiências, ações e produtos
desenvolvidos pelos diferentes atores sociais, políticos e econômicos no Território Sisaleiro e até
mesmo fora dele.
Contribuir e apoiar a construção de planos de comunicação para as entidades do território.
Desenvolver ações de comunicação planejadas e acompanhadas sistematicamente, para que haja
visibilidade das ações dos movimentos populares do Território Sisaleiro da Bahia.
77
f) Metas:
Atender todos os Municípios do Território.
g) Estratégias:
Aplicação de um diagnóstico sobre a comunicação institucional de cada entidade (Marco Zero: 01).
Construção de planos de comunicação das entidades regionais do território e prestar apoio na sua
execução.
Fazer um trabalho de marketing institucional e territorial do CODES Sisal voltada para a imprensa de
regiões próximas, dando prioridade às rádios comunitárias filiadas a ABRAÇO Sisal na divulgação das
ações.
Contribuir como elo para fortalecer a integração entre os eixos do Plano de Desenvolvimento
Territorial.
Implementar a assessoria de comunicação do CODES Sisal voltada para os meios de comunicação
comunitários, educativos e comerciais, realizada pela Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura.
Busca de informações externas que digam respeito às ações do território para divulgá-las dentro do
Território Sisaleiro.
h) Arranjos Institucionais:
Polo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal), Movimento de Organização Comunitário
(MOC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Cultura (Pontos de Cultura), Conselho
Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES), Articulação no
Semiárido brasileiro (ASA), Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC) Associação das cooperativas
de apoio a economia familiar (ASCOOB), Órgãos públicos (Prefeituras municipais, poder legislativo, estaduais e
municipais), dentre outros.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
09 entidades da sociedade civil com Planejamento Estratégico em Comunicação concluído e em
execução.
(Marco Zero: 0)
20 programas de rádio institucionais de entidades da sociedade civil veiculados em rede de emissoras
filiadas à ABRAÇO-Sisal (Marco Zero:0)
08 sites institucionais de entidades da sociedade civil criados e atualizados pelo menos
bimestralmente. (Marco Zero: 03).
05 produtos de comunicação territorial produzidos e em circulação (programa de rádio, boletins,
jornais, sites, programa de TV) - (Marco Zero: 01)
15 entidades do movimento social contratando serviços de comunicação à Agência Mandacaru (Marco
Zero: 01)
Recursos arrecadados pela Agência Mandacaru para a prestação de serviços de comunicação a
entidades da sociedade civil
j) Gestão:
Criação de comissão gestora composta pelos diversos segmentos de interesse e que estejam envolvidos e
tenham compromissos com a comunicação social.
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2.2. EIXO: EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILDADE
2.2.1. Programa: EDUCAÇÃO DO CAMPO INTEGRAL NO TERRITÓRIO DO SISAL
2.2.1.1. Projeto: FORMAÇÃO DE PROFESSORES
a) Diagnóstico Setorial:
87% das escolas municipais dos 20 municípios do CODES-Sisal estão localizadas na área rural, no
entanto, a maioria dos municípios não tem um projeto político-pedagógico para educação do campo;
Dos 20 municípios do CODES, 07 tem um Projeto de formação de professores do campo (Projeto CAT -
Conhecer, Analisar e Transformar a realidade do campo), porém sem abranger todas as escolas, e 13
estão em processo de implantação;
80% da alimentação escolar não têm origem da agricultura familiar;
Os professores da zona rural têm menos anos de formação e de capacitação do que os da zona
urbana;
A maioria das escolas rurais possui apenas 01 sala de aula e estas são multiseriadas.
Secretarias de Educação sem Departamento de Educação do campo;
Apenas duas Escolas Família Agrícola no Território
b) Localização:
Território do Sisal – Bahia
c) Público Prioritário:
52 Coordenadores (Equipes Pedagógicas Municipais);
45.000 mil crianças;
1.500 professores;
15.000 famílias (indiretamente)
d) Justificativa:
Inserindo-se na perspectiva do Desenvolvimento Territorial Sustentável, a Educação do Campo deve caminhar
para a garantia de direitos, respeito às diferenças, valorização da cultura local, desenvolvimento de
potencialidades, fortalecimento da agricultura familiar e busca de soluções para os problemas encontrados.
Sabendo-se que as escolas que compõem o nosso território trabalham os mesmos conteúdos e metodologia da
área urbana, sem nenhuma adequação aos anseios e necessidades da população do campo, é urgente construir
projetos e políticas para que essas escolas se insiram à vida de seus alunos, na busca de melhoria de vida e
integração e interação escola e família.
Nesse sentido, busca-se dar continuidade às ações já desenvolvidas em alguns municípios com a escola regular
de municípios do semiárido da Bahia, Território do Sisal, com uma metodologia que valorize a realidade e a
cultura local e o trabalho agrícola. Estas ações vêm despertando um maior interesse nos alunos, participação
das famílias, comunidade e da sociedade civil organizada, mostrando, assim, como a escola pode contribuir
para o desenvolvimento Territorial sustentável.
Vê-se a necessidade da realização de ações que contribuam para o desenvolvimento do campo nas dimensões
de cultura, educação, saúde, esporte, lazer e geração de renda. Direitos ainda negligenciados à população do
campo. A educação pode, portanto, ser uma forte aliada nesse desenvolvimento se, conhecendo a realidade,
constrói conhecimentos úteis à qualidade de vida das pessoas, à solução de problemas, à valorização dos
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sujeitos do campo, da cultura, das formas de ser e produzir. Se as pesquisas demonstram que os direitos
básicos para o bom desenvolvimento das pessoas são, há muito, negligenciados à realidade do campo, na
educação encontra-se um quadro de precariedade deixado como herança de um processo econômico, social,
cultural e de políticas educacionais traçado em nosso país.
Um recente Estudo feito pelo UNICEF demonstra que mais de 350 mil crianças, entre 10 a 14 anos, não
frequentam a escola. No Semiárido brasileiro, os alunos demoram 11 anos para concluir o ensino fundamental;
mais de 390 mil adolescentes (10,15%) são analfabetos; mais de 317 mil crianças e adolescentes trabalham no
Semiárido; quase a metade delas (42%) não tem acesso à rede geral de água, poço ou nascente; em 38,47% das
casas de crianças e adolescentes não há rede geral, fosse séptica ou rudimentar.
Por isso, buscando mudar esses indicadores e contribuir com a melhoria de vida das pessoas e com o
desenvolvimento territorial sustentável, a educação precisa ser vista como prioridade, ter políticas voltadas
para a adequação à realidade onde está inserida, possuir formação específica para os professores que atuam
no campo, financiamento e estrutura adequadas, instrumentos de incentivo à leitura, criatividade, arte, a lazer
etc.
e) Objetivos:
Formar e capacitar 13 Equipes Pedagógicas de Educadores/as do Campo, com poder público e
sociedade civil, para que as mesmas capacitem todos os professores rurais dos seus municípios, numa
metodologia apropriada, que ajudem no fortalecimento da agricultura familiar e no desenvolvimento
territorial.
Capacitar professores/as rurais (de 1ª a 8ª) para atuarem nas escolas do campo com uma metodologia
apropriada, que valorize a cultura, o jeito de ser, de agir, de produzir e viver das populações do
campo, para construírem conhecimentos que contribuam com o desenvolvimento territorial;
Sensibilizar gestores públicos para implementação de políticas de educação do campo, cumprindo as
Diretrizes Operacionais para uma Educação do Campo, construindo os Planos Municipais de Educação
do Campo;
Criar Departamentos de Educação do Campo em todas as Secretarias de Educação dos 20 municípios;
Construção de cisternas, através do P1MC em todas as escolas do campo.
Currículo Escolar: associativismo, cooperativismo e sindicalismo
Calendário Escolar – período de colheita;
Capacitar professores dentro da Pedagogia da Alternância, para atuarem nas Escolas Família Agrícola.
f) Metas:
Capacitar três Equipes Pedagógicas (com 04 pessoas cada, total 52);
Capacitar 1.500 professores de 1ª a 8ª série da zona rural de 13 municípios do território do sisal (serão
capacitados pelas Equipes locais);
Construção de 06 Escolas Família Agrícola (04 de ensino fundamental e 02 de ensino médio);
Construir mais duas Escolas Família Agrícola no Território.
Ampliar a capacitação de equipe pedagógica para 20 municípios.
g) Estratégias:
Curso inicial sobre metodologia e princípios da Educação do Campo;
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Curso sobre Planejamento Pedagógico;
Seminários com poder público e sociedade civil sobre educação do campo;
Implantação de Escolas Famílias de ensino fundamental e ensino médio.
Parceria com a ASA e o Programa 1 Milhão de Cisternas para construção de cisternas nas escolas do
campo;
Formação de calendário escolar combinado com períodos agrícolas.
Discussão sobre o Currículo Escolar específico, verificando a realidade dos povos do campo e a
pedagogia da alternância.
h) Arranjos Institucionais:
O projeto de formação de professores – Projeto CAT – vem atuando desde 1994 na região, obtendo bons
resultados e reconhecimento em âmbito nacional. O Projeto é desenvolvimento pelo MOC em parceria com
Prefeituras e com a Universidade Estadual de Feira de Santana. Busca-se a parceria da UNEB para assim dar
continuidade a este processo, expandindo para todo o território. Parcerias:
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário/Secretaria de Desenvolvimento Territorial – recursos
para capacitações;
Prefeituras Municipais – Secretarias de Educação e de Agricultura – capacitações, recursos para
transportes dos educadores participarem dos cursos, ampliação e melhoria das instalações das escolas
do campo;
MOC – execução do processo de formação (realização dos cursos)
Sindicatos de Trabalhadores Rurais e associações (participação nos cursos e apoio, acompanhamento
do trabalho nas escolas do campo).
Universidades (cursos de formação na área de educação do campo para professores e representantes
de entidades da sociedade civil).
ASA – P1MC (construção de cisternas nas escolas do campo e capacitação de educadores sobre
gerenciamento de água)
REFAISA – Rede das Escolas Família Agrícola, no incentivo e apoio a criação de novas escolas no
Território do Sisal.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
De resultados:
Quantidade de professores capacitados na metodologia de educação do campo e aplicando a proposta
em sala de aula, envolvendo a comunidade.
Quantidade de Equipes Pedagógicas formadas e atuantes;
Quantidade de municípios assumindo a proposta de educação do campo.
Quantidade de alunos inseridos no processo;
De Impacto:
Diminuição da evasão e repetência escolar dos alunos das escolas do campo;
Redução do trabalho infantil, especialmente das crianças do campo;
Diminuição do êxodo rural;
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Elevação da auto-estima das crianças e famílias valorização da cultura local;
Escola produzindo conhecimentos para o desenvolvimento territorial, sustentável, etc.
Criação de Departamento de Educação do Campo nas Secretarias e Educação dos municípios;
Integração de políticas municipais (educação, agricultura, meio ambiente, esportes, assistência social);
Todas as escolas do campo com cisternas construídas e educadores capacitados para o gerenciamento
da água;
j) Gestão:
CODES – com avaliação, monitoramento, controle social
MOC - Realização dos cursos sobre princípios e metodologia da educação do campo, avaliação e
monitoramento do processo.
Prefeituras Municipais – Secretarias de Educação e de Agricultura;
Rede das Escolas Famílias Agrícolas – socialização da experiência com a pedagogia da alternância,
contribuindo na construção de outras escolas.
REFAISA – apoio no processo de implementação das EFAS.
2.2.2. Programa: AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS DE CONVIVÊNCIA E COMPLEMENTARES À ESCOLA – EDUCAÇÃO
INTEGRAL
2.2.2.1. Projeto: AMPLIAÇÃO DAS AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS
a) Diagnóstico Setorial:
Trabalho infantil existente na região, especificamente no sisal, nas pedreiras e na agricultura,
retirando as crianças da escola e interrompendo o seu processo de desenvolvimento cognitivo,
psicológico, físico, mental e crítico.
Existência do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e ações exitosas da Jornada
Ampliada na região, sendo referência nacional;
Aproximadamente 35 mil crianças e adolescentes retirados do trabalho na região.
b) Localização:
Território do Sisal – parte da região semiárida da Bahia
c) Público Prioritário:
31.959 crianças e adolescentes do Bolsa-Família e PETI;
1.065 educadores (monitores) do PETI;
30 Coordenadores Municipais da Jornada Ampliada do PETI;
Indiretamente: 18.170 famílias
d) Justificativa:
O trabalho infantil é uma das maiores violências para a vida da criança. Apesar de contrariar o Estatuto da
Criança e do Adolescente, na região sisaleira estes índices eram altíssimos. Graças às ações integradas do PETI,
esta realidade vem sendo modificada. Porém há muito que se fazer, pois o PETI não atende todas as crianças
que trabalham e não tem um caráter mais preventivo. Assim, as crianças pobres muitas vezes são obrigadas a
abandonar seus estudos e ajudar os pais no trabalho penoso para contribuir com a renda familiar. Com as
novas diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, novas demandas surgem para os municípios e para
educadores que desenvolvem ações socioeducativas.
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Os dados do UNICEF demonstram uma preocupante realidade: quase 5 milhões de crianças e adolescentes,
com idade entre 7 e 14 anos (18,8% da população da região) vivem no Semiárido. No Brasil 20,8 milhões estão
nesta faixa etária, representando 12,30% da população nacional.
Mais de 350 mil crianças e adolescentes, entre 10 e 14 anos, não frequentam a escola no Semiárido. Das
crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos que não frequentam a escola no Brasil, 23,8% estão na região.
Em 95% das cidades do Semiárido as crianças de 10 a 14 anos apresentam média de anos de estudo inferior ao
patamar brasileiro que é de 3,77 anos.
Outro dado importante revela a não freqüência à escola para crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Enquanto
a média brasileira é de 5,50, no Semiárido, passa para 7,19.
Segundo dados do IBGE, Censo 2000, os jovens urbanos com 18 anos têm um nível de escolarização 50% maior
do que os que moram no campo. No Nordeste, cerca de 36,28% de sua população é analfabeta e 84,1% das
crianças até 15 anos, do campo, estão com os estudos defasados. No meio rural a taxa de analfabetismo é três
vezes maior que no meio urbano.
Por que Educação Integral? A palavra integral significa inteiro, completo, total. Portanto, defender uma
educação integral, é defender uma educação completa, que pense o ser humano por inteiro, em todas as
dimensões, uma educação que seja integrada à realidade social dos sujeitos, que responda às demandas da
vida das pessoas. Não só em tempo, mas principalmente em qualidade, é rimar e unir Quantidade e qualidade.
O debate de educação integral está na ordem do dia no Brasil. A LDB – Lei de Diretrizes e Bases para Educação,
nos seus artigos 34 e 87, prevê o aumento progressivo da jornada escolar para a jornada em tempo integral.
Mas, no Brasil, por falta de investimentos, de integração de políticas, de criar condições, até mesmo
alternativas, vem prorrogando esta questão. Nos países mais desenvolvidos isto está em vigor há décadas.
Para se debater educação integral, primeiro é necessário debater a concepção de educação. Partimos da
concepção da educação popular, que atenda às demandas dos movimentos sociais, que tem um projeto maior
de transformação social, que busque soluções para problemas enfrentados na realidade, uma educação que
deve servir para o desenvolvimento das pessoas, da comunidade, do município, enfim do país. Não é possível
pensar uma educação de qualidade em apenas 04 horas de aula.
Por outro lado, pensar em educação integral, é pensar na igualdade dos direitos. Com agravamento da crise
econômica, cada vez mais os pobres não têm acesso a uma educação de qualidade e aos serviços públicos. Os
filhos das elites têm como pagar para isto: pagam clubes, cursos de informática, de línguas estrangeiras, de
esportes, têm condições de visitar diversos espaços, de viajar, de se relacionar em diversos ambientes. Aos
filhos dos pobres resta uma educação que não pensa em todas as dimensões, que permita o seu
desenvolvimento dos potenciais criativos e de cidadão.
Crianças e adolescentes até os 15 anos são pessoas em desenvolvimento. Quanto mais se investir e se inovar,
mais inteligentes e criativos serão no futuro. Temos uma educação hoje que não trabalha as diversas
dimensões humanas: cognitiva, afetiva, espiritual, física, artística, etc. Hoje a escola não busca desenvolver as
potencialidades e habilidades das crianças e adolescentes, com poucas exceções. A escola busca reproduzir
conhecimentos e aos alunos resta a memorização. Dessa forma, os alunos concluem o 2º grau sem saber ao
menos interpretar o que lêem, sem saber fazer a leitura do mundo que cercam, sem condições de se
relacionarem de forma mais interativa com o mundo, sem saber fazer uma redação de forma crítica e criativa.
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Portanto, não adianta aumentar o tempo desta escola que já se tem, com tantas dificuldades e deficiências. É
preciso pensar outra metodologia, uma outra forma de ensinar e aprender. Uma escola que esteja a serviço da
construção de uma nova sociedade, mais solidária, mais justa, mais humana. E para isto é preciso um tipo
novo/a de educador/a. Para esta escola, não serve qualquer um. Precisa ter um compromisso social com a
mudança, com o novo que pode surgir.
É preciso levar em consideração o processo de desenvolvimento da criança, sua espontaneidade, seu senso
crítico, etc. Defender uma educação integral em tempo e em conteúdo é defender a criança e adolescentes (do
0 aos 15 anos). Além disso, é dever do estado garantir o processo educativo, mesmo que seja em diversos
espaços. A legislação garante esta educação integral no ensino fundamental.
A experiência da Jornada Ampliada – Ações socioeducativas e de convivência - Na região do Sisal tem-se uma
rica experiência, um embrião de educação integral que é a Jornada Ampliada do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil - PETI, onde são desenvolvidas diversas atividades que buscam estimular a criatividade e
espontaneidade das crianças e adolescentes. Além disso, tem-se o Projeto Baú de Leitura que enriquece mais
ainda esta dimensão e poderia servir como instrumento muito importante deste processo.
Porém, ainda há duas escolas separadas: a regular e a Jornada Ampliada. Não há um planejamento comum, a
escola não é pensada no conjunto pela Secretaria de Educação. A jornada ampliada (educação integral) ainda
está pensada não enquanto um direito, mas enquanto uma “assistência social”, ainda está dentro da Secretaria
de Assistência Social, embora esta também deva co-participar deste processo.
No Brasil há uma lei (LDB) que garante isto. Existe ainda o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, que
defende a garantia a proteção e garantia dos direitos destes. Tem-se uma experiência prática de como fazer e
tem-se claro que a escola que existe hoje é incompleta, tanto em tempo, quanto em conteúdo, então, o que
resta fazer? É preciso garantir que este processo não seja interrompido. Garantir uma educação em tempo e
conteúdo integrados. Sabemos que para isto é necessário que se mude algumas estruturas e concepção de
gestão, buscar mais investimentos em educação, construir mais escolas, quadras de esportes, laboratórios,
investir mais em capacitação de professores, inovar, fazer seu projeto-político pedagógico de educação,
integrar secretarias: de educação, esportes, saúde, assistência social, meio-ambiente, cultura, etc.
Para dar continuidade a este processo já iniciado, carece de investir mais na formação de educadores
(Monitores do PETI) para que os mesmos tenham condições de dar sustentação e busquem integrar as políticas
educacionais nos municípios, não apenas com assistência social e educação integral, mas a educação como um
direito.
É neste sentido que este Plano irá seguir.
e) Objetivos:
Capacitar Monitores/Educadores de ações sócio-educativas e de convivência do PETI na metodologia
de educação integral para o campo, com atividades lúdicas, recreativas, arte, fortalecimento da
identidade local, gênero, raça, etnia e sexualidade, meio ambiente, na linha de desenvolvimento
territorial sustentável.
Contribuir no processo para que a Jornada Ampliada se coloque a serviço da construção do
conhecimento para o desenvolvimento da região;
Elaborar instrumentos pedagógicos para orientar o trabalho da Jornada Ampliada;
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Acompanhar/Monitorar e Avaliar os Coordenadores Municipais e o trabalho das ações socioducativas
(Jornada Ampliada) para que o mesmo se transforme em educação integral assumido pelos municípios
na região.
f) Metas:
Atendimento aos 20 Municípios.
g) Estratégias:
Busca-se aproveitar a experiência exitosa da jornada ampliada da região, para aos poucos ir inserindo-
a na dimensão de educação integral nos municípios.
Realização de Cursos, Encontros de Intercâmbios, Seminários com educadores e coordenadores de
ações socioeducativas e do PETI, buscando integrar e qualificar a Jornada Ampliada, para que a mesma
se insira no processo de desenvolvimento da região.
Realização de Seminários com Gestores Públicos, especialmente Secretários de Ação Social e de
Educação, sociedade civil, para debater educação integral de qualidade.
Articulação com as ações socioeducativas e do PETI
h) Arranjos Institucionais:
O trabalho já existe. Partir-se-á da realidade para ampliá-lo e qualificá-lo na dimensão de desenvolvimento
territorial. Os monitores do PETI atualmente são pagos pela SEDES. Os municípios se responsabilizam pelo
espaço para funcionamento da Jornada Ampliada e a gestão municipal. O governo federal, através do MDS,
repassa as bolsas para as famílias manterem as crianças na escola e fora do trabalho infantil. Assim, neste
Projeto o que se busca são os recursos para capacitação dos educadores e melhoria na qualidade da educação.
Para isto busca-se parceria:
MDA e MDS (recursos do Bolsa-Família e para capacitação de educadores)
Prefeituras Municipais – Secretarias de Educação e de Assistência Social – espaços para
funcionamento das ações socioeducativas e Jornada Ampliada.
MOC – Realização dos cursos de formação de educadores
Projeto Axé – Parceria no processo de formação dos educadores.
Governo do Estado – parceria com a SEDES (pagamento dos educadores)
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
De resultado:
Quantidade de Cursos e Encontros Realizados – listas de frequência
Quantidades de Crianças fora do trabalho infantil e frequentando as Jornadas Ampliadas e ações
socioeducativas.
Quantidade de municípios assumindo a proposta das ações socioeducativas e educação integral.
De Impacto:
Diminuição dos índices do trabalho infantil;
Diminuição da repetência e da evasão escolar;
Elevação da autoestima de crianças e adolescentes e revalorização da cultura local, através de
incentivo a atividades culturais e artísticas.
Diminuição da defasagem série-idade;
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Participação maior da família dos processos educativos.
j) Gestão:
CODES – avaliação, monitoramento, acompanhamento.
MOC – Cursos de Capacitações, avaliação e monitoramento do processo.
Prefeituras – espaços para funcionamento das ações sócio-educativas e Jornada Ampliada..
Governo do Estado – SEDES – pagamento educadores e supervisão.
Entidades da sociedade civil – controle social e participação nos cursos.
2.2.3. Programa: INCENTIVO À LEITURA CONTEXTUALIZADA, PRAZEROSA, CRÍTICA E CIDADÃ
2.2.3.1. Projeto: ESPAÇOS DE LEITURA
a) Diagnóstico Setorial:
Falta de Incentivo à leitura, falta de uma política pública de educação que invista numa metodologia
que valorize a leitura e a cultura.
Nas escolas do campo do território não têm bibliotecas. Nos municípios existem apenas 01 a 02
bibliotecas e estas estão localizadas na sede.
b) Localização:
Território do Sisal
c) Público Prioritário:
630 Educadores – Leitores que irão trabalhar no Projeto Baú de Leitura;
15.000 crianças e adolescentes;
25 Coordenadores municipais do projeto Baú de Leitura
11.000 famílias
d) Justificativa:
Foi constatado no diagnóstico que os municípios não têm políticas públicas de incentivo à leitura. Faltam
bibliotecas, falta de uma metodologia que trabalhe a leitura de forma contextualizada, prazerosa. O projeto
Baú de Leitura está implantado na região desde 1999, está presente em vários municípios, porém os mesmos
ainda não o assumiram como uma política pública de incentivo à leitura e melhoria da sua qualidade.
O acesso a livros no campo é praticamente nulo. Nas escolas do campo, não existiam bibliotecas, nem acesso a
livros, nem projetos de incentivo à leitura, com raras exceções. Dentro deste contexto, e para reverter esta
situação, criou-se o Projeto Baú de Leitura buscando despertar nos educadores o interesse pela leitura
dinâmica, prazerosa, sensibilizando-os para o “gostar de ler”. Ainda, o projeto objetivou que os educadores se
tornassem educadores leitores que promovessem a prática da leitura com seus alunos, com histórias infanto-
juvenis, como instrumento de conhecer a própria realidade, do município, da região, do país, de encantar-se e
distrair-se, desenvolver a imaginação, a criatividade, a linguagem e o processo de comunicação e reflexão.
O projeto também tem como objetivo, ajudar o aluno a fazer a relação texto e contexto, leitura de vida,
desenvolver a habilidade de ler como instrumento de construção da cidadania. Mas também, busca-se
transformá-lo em política pública de leitura.
Em relação especificamente à leitura, dados do Censo Escolar 2001, apontam que, na Bahia, de um total de 417
municípios, apenas 118 possuem bibliotecas, os que possuem, geralmente ficam no centro das cidades.
Segundo dados do Ministério da Cultura, 6,5 milhões de pessoas da população dizem não ter nenhuma
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condição de adquirir um livro e, de cada 10 não leitores, 07 têm baixo poder aquisitivo. Percebe-se assim, que
no país que apresenta índices baixos de leitura e raras iniciativas de projetos que a incentivem, a existência de
políticas de leitura vem responder a essa carência, garantindo às crianças beneficiadas o acesso a uma leitura
que contribua no desenvolvimento crítico e cidadão. Aliado a isto, os professores ensinam a ler da mesma
forma que aprenderam. A leitura na maioria das vezes, realizada de forma mecânica, apenas para decodificar,
aprender regras ortográficas, etc.
Negar o acesso à leitura é negar o direito ao conhecimento, à cidadania, a se expressar nas formas oral e
escrita. Desse modo, o Projeto Baú de Leitura busca contribuir como instrumento eficaz para a erradicação do
trabalho infantil, para o acesso ao conhecimento, à leitura, ao possibilitar a implementação de uma
metodologia de ensino e de leitura que envolva todos os atores do processo educacional: o poder público, os
docentes, os estudantes e a família.
O Baú de Leitura quer transformar esta realidade. Objetiva capacitar professores para gostar de ler e ensinar a
gostar da leitura. Trabalha com literatura infanto-juvenil, ao redor de temas, chamados de MOTES, que
simultaneamente tornem a leitura gostosa e possibilitem a reflexão de temas-eixos como: a identidade,
pessoal, étnica, comunitária. As relações das pessoas com a natureza (ecologia) e as relações com a sociedade
(políticas públicas, responsabilidade social e cidadã). Diante da inexistência de acervos, a capacitação vai
acompanhada de um Baú com quarenta e cinco títulos, sempre diferenciados, que "passeiam" pelas escolas, de
forma ambulante. Ao terminar a leitura em uma escola o Baú é repassado para outra.
O caráter inovador desta proposta é buscar trabalhar com crianças e adolescentes na prioridade dos seus
direitos, em especial, àquelas e àqueles egressos do trabalho infantil na zona rural sisaleira baiana. Através de
histórias específicas da literatura brasileira, crianças e adolescentes têm possibilidade de adquirir o gosto
duradouro pela leitura, fazer a própria leitura de mundo e assim revalorizarem sua história, sua identidade
étnica, de gênero, bem como a cultura de sua comunidade. Assim, o Baú de Leitura, não é apenas uma caixa
cheia de livros de estórias, mas vai além, uma metodologia de leitura, onde o processo de formação continuada
é essencial. As capacitações previstas como ações estratégicas desta proposta serão no sentido de
empoderamento dos grupos locais, tanto nas escolas públicas, como em outros espaços sociais na busca do
desenvolvimento sustentável e melhorias das suas condições de vida.
O processo de formação dos educadores perpassa por três etapas: a) sensibilização para a leitura prazerosa; b)
aprofundamento da metodologia e exercício de práticas leitoras e c)avaliação da prática e
estudos/aprofundamento de temáticas específicas. Este processo acontece através de encontros de formação
com os próprios educadores e com os Coordenadores Municipais do Projeto. Além disso, uma vez por mês os
educadores se reúnem nos Núcleos Municipais de Leitura, para avaliar suas práticas e planejar o trabalho.
Outro momento de formação, sistemática e processual, acontece com Coordenadores/as, espécie de rede
multiplicadora, onde se trabalha dentro de 03 eixos básicos/sistemáticos do Projeto, chamados de MOTE:
Identidade, Meio Ambiente e Relações Sociais, utilizando a metodologia do conhecer, analisar e transformar a
realidade, da seguinte forma:
Quadro avaliativo (conhecer): O primeiro momento de cada encontro se iniciava com a apresentação de um
quadro avaliativo do trabalho desenvolvido nos municípios/regiões, troca de experiências e debates. Cada
município apresenta seu trabalho: avanços e dificuldades. A experiência de um município serve de aprendizado
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para outro – a troca.
Aprofundamento da metodologia (analisar): após o momento avaliativo, é feita uma reflexão sobre os
resultados do trabalho e em seguida, o exercício dinâmico da leitura de livros infanto-juvenis voltados para os
três motes (identidade, meio ambiente e relações sociais); apresentações criativas desses livros e prática de
contar estórias; relação do livro com a realidade vivida em cada município; oficinas de fortalecimento da
leitura, de comunicação e identidade (etnia, gênero, cultural), Educação Biocêntrica (tendo a vida, as relações
entre as pessoas, o cuidado com o outro, com a natureza, buscando assim elevar e resgatar a criatividade,
afetividade a autoestima do/a coordenador/a, fortalecendo o trabalho nos municípios).
Encaminhamentos de ações (transformar) – A partir do que é avaliado e do aprofundamento da metodologia
em cada encontro, busca-se superar os impasses e avançar no processo.
e) Objetivos:
Contribuir para melhorar a qualidade da educação do campo, do Território do Sisal, através da
inserção sistemática de processos de leitura prazerosa, dinâmica, contextualizada e crítica, com
professores/as, monitores e alunos, buscando envolver a família e a comunidade, numa linha de
construção de políticas públicas de educação e de leitura;
Adquirir 630 Baús de Leitura, com 45 livros de estórias infanto-juvenis, material didático e de
consumo, para incentivar a leitura nas comunidades rurais;
Capacitar 630 educadores leitores em leitura dinâmica, contextualizada, prazerosa e crítica;
Acompanhar/Monitorar o trabalho pedagógico de 25 Coordenadores municipais do Projeto Baú de
Leitura, na dimensão de desenvolvimento territorial, leitura prazerosa e de temáticas que contribuam
para o fortalecimento da identidade e da cultura local;
Adquirir 10 Arcas das Letras para comunidades que não tem o Projeto Baú de Leitura
Implantar bibliotecas públicas nos municípios do Território e casas de leitura.
Implantar Centros Digitais de Cidadania nos municípios do Território.
f) Metas:
20 Municípios do Território.
g) Estratégias:
Adquirir e Implementar 630 Baús de Leitura para os municípios do Território
Realizar cursos de sensibilização (formação inicial) e de aprofundamento da metodologia com os
educadores que irão trabalhar com o Baú de Leitura nas escolas rurais.
Potencializar os Coordenadores Municipais para que os mesmos acompanhem o desenvolvimento do
Projeto em cada município. Isto acontecerá através de encontros de capacitação e avaliação da prática
com os Coordenadores;
Estudar e debater temáticas específicas do Projeto: etnia, cultura, gênero, geração, etc.
Seminários sobre incentivo à leitura com poder público e sociedade civil, enfocando a leitura como
instrumento de desenvolvimento sustentável, e incentivando o poder público para a construção de
bibliotecas públicas.
Adquirir 10 Arcas das Letras para comunidades onde não tem o projeto Baú de Leitura.
Mobilizar as entidades da sociedade civil nos projetos de implantação das bibliotecas municipais
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Estabelecer convênios e parcerias com organizações públicas e privadas para implantação dos
infocentros
h) Arranjos Institucionais:
O Projeto Baú de Leitura iniciou pelo MOC, com incentivo do UNICEF. Conta com o apoio das Prefeituras
Municipais e da SEDES. As Prefeituras assumem o transporte dos educadores para participarem de encontros
de formação, algumas compram Baús de Leituras com recursos do PETI. A SEDES faz os pagamentos dos
Monitores do PETI. Porém, neste Plano de trabalho, busca-se inserir o Baú de Leitura nas escolas rurais,
aquelas onde os professores irão ser capacitados na metodologia e princípios de educação do campo. O MOC
vem realizando o processo de capacitação, avaliação e monitoramento do Projeto Baú de Leitura.
Neste sentido, busca-se o apoio de:
CODES – incentivar as Prefeituras e Gestores Públicos para implementação de políticas públicas de
leitura. Controle Social, monitoramento das ações.
MDA, MDS e MEC – repasse de recursos para capacitação(MDA-MEC), pagamento da Bolsa Família
(MDS), incentivo à implementação de políticas de incentivo à leitura (MEC).
Prefeituras Municipais – Secretarias de Educação e de Cultura – construção e implementação de
políticas de incentivo à leitura (construção de casas de leitura, bibliotecas, assumir o Projeto Baú de
Leitura enquanto política pública de leitura);
MOC – divulgação, capacitação, monitoramento e avaliação do projeto.
SEDES – pagamento dos educadores do PETI, supervisão do PETI e do funcionamento do Baú de
Leitura.
Sociedade Civil organizada do território – controle social, participação nos eventos de capacitação, nas
apresentações das comunidades, incentivo à aquisição de bibliotecas, espaços de leitura e baú de
leitura.
UNEB – participação na formação dos educadores.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Resultado:
630 educadores capacitados para desenvolver uma leitura prazerosa e crítica;
25 Coordenadores Municipais capacitados em leitura dinâmica e planejamento do trabalho;
Encontros realizados – lista de presença;
De Impacto:
630 Baús de Leitura em funcionamento em 630 salas de aulas das escolas do campo;
Crianças e adolescentes adquirindo o gosto duradouro pela leitura, e a partir desta, fazendo a leitura
crítica do mundo, produzindo textos e intertextos, lendo para suas famílias, apresentando atividades
na comunidade;
Identidade cultural fortalecida e revalorizada;
Crianças e adolescentes produzindo atividades artísticas e culturais a partir dos livros do Baú de
Leitura;
Famílias e comunidades participando das ações do Projeto;
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j) Gestão:
CODES - captação de recursos, acompanhamento, avaliação e monitoramento.
MOC – execução dos cursos, avaliação e monitormaento.
Prefeituras – aquisição dos Baús de Leitura, acompanhamento no município, espaços para
funcionamento, liberação dos educadores para fazer cursos.
Entidades da sociedade civil organizada – acompanhar, fiscalizar, participar dos eventos.
UNEB – acompanhamento do processo, participação dos eventos do CODES.
2.2.4. Programa: ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
2.2.4.1. Projeto: PRÓ-UNIVERSIDADE DO SEMI-ÁRIDO
a) Diagnóstico Setorial:
Há duas Universidades Públicas presentes no Território, porém sem cursos específicos voltados para a
educação do campo (agronomia, educação do campo, etc.)
b) Localização:
Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Professores, educadores do campo, trabalhadores rurais, assentados, sem terra, agricultores familiares.
d) Justificativa:
O acesso ao ensino superior é fundamental para o processo de desenvolvimento. Historicamente no Brasil o
ensino superior foi negado às camadas mais pobres. Ter acesso ao conhecimento é um direito universal. Dados
do IBGE indicam que no campo, mais de 50% dos professores do ensino fundamental não têm curso superior.
As universidades não estão abertas para a realidade, para a comunidade e especificamente para a população
do campo. Segundo dados do IBGE, apenas 1,8% da população brasileira têm curso superior. Quando chega à
área rural este índice é quase zero.
No campo não se vive só de agricultura, mas se precisa de tecnologias alternativas, de agronomia, de saúde, de
comunicação, de educação, de engenharia, etc. Estes conhecimentos também são construídos pelas
universidades. Se a população do campo não tem acesso ao ensino superior, está se condenando o campo a
não se desenvolver. Portanto, abrir as portas das universidades é essencial para a construção de qualquer
desenvolvimento, principalmente o territorial sustentável.
e) Objetivos:
Criar novos cursos nas universidades e ampliar as que existem – AGROECOLOGIA, AGRONOMIA,
EDUCAÇÃO DO CAMPO, GEOLOGIA, COOPERATIVISMO E DIREITO (INCLUSÃO);
Consolidar o curso de Comunicação Social com Habilitação em Radialismo.
Possibilitar o acesso ao ensino superior para educadores, trabalhares do campo, etc.
Formar recursos humanos em temas: cooperativismo e associativismo
Implantar residências estudantis
f) Metas:
Implantação de dois novos cursos no Território.
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g) Arranjos Institucionais:
MEC - interiorização dos cursos superiores, abertura de vagas, incentivo à abertura de cursos.
MDA – incentivo à criação de cursos para educação do campo.
Secretarias Municipais e Estadual de Educação - criação de cursos superior em parceria no Território,
incentivo para que os educadores estudem.
UNEB – abertura de cursos para educação do campo.
INCRA – incentivo à criação de cursos e recursos para capacitação.
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Educadores, professores de escolas do campo, trabalhadores, realizando curso de nível superior em
universidades do Território.
Atores envolvidos nas demandas existentes de cooperativas, associações, sindicatos e movimentos
sociais
Qualificação dos setores produtivos na relação gestão e desenvolvimento
Qualificação/formação de comunicadores no Território
i) Gestão:
MEC – criação de universidades e cursos, discussão no CODES e integração com outros ministérios.
MDA – liberação de recursos para capacitação, monitoramento, discussão do eixo no CODES.
Secretaria Estadual de Educação – criação de cursos e universidades.
UNEB – abertura de novos cursos para educação do campo.
INCRA – incentivo a cursos, liberação de recursos para capacitação.
2.2.5. Programa: EDUCAÇÃO NO CAMPO
2.2.5.1. Projeto: MOVASISAL: TECENDO COM FIBRA, ALFABETIZAÇÃO E CIDADANIA
a) Diagnóstico Setorial:
Os 20 municípios que compõe o Territótio do Sisal têm a maioria da população no meio rural; e o índice de
não-alfabetizados neste meio é bastante alto. (ver quadro acima)
Não existe nos municípios, principalmente no meio rural, educadores qualificados para atuar na área de
alfabetização de jovens e adultos, a maioria dos professores que atuam no meio rural são oriundos da Cidade e
desenvolve uma educação totalmente descontextualizada.
Existe uma fragilidade das Organizações dos Agricultores Familiares e Movimentos Sociais Populares para
interferir nas Políticas Públicas, principalmente ligadas à educação;
A maioria absoluta dos Jovens e adultos alfabetizados no campo voltam à condição de não-alfabetizados
porque não têm possibilidade de continuar os estudos devido a falta de projetos de EJA no meio rural dos
municípios. Estes jovens e adultos - Agricultores(as) familiares, não alfabetizados, têm dificuldade de
incorporar novas tecnologias apropriadas às condições locias.
b) Localização:
O projeto será desenvolvido nos 20 municípios que compõe o Território do Sisal: Araci, Barrocas, Biritinga,
Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiuba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas,
Quinjingue, Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente;
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c) Público Prioritário:
Serão beneficiados, diretamente, 3.600 Jovens e Adultos de comunidades rurais de agricultores(as) familiares
dos 20 municípios do Território do Sisal e, indiretamente, todo o território do Sisal.
d) Justificativa:
Uma longa caminhada começa por um pequeno passo e esse primeiro passo é acreditar na educação de jovens
e adultos.
Algumas pesquisas realizadas por diferentes organizações apontam o impacto da alfabetização na vida dos
participantes dos programas da EJA (Banco Mundial - Oxenham, J. & Aoki, A., 2000):
Têm maior confiança e autonomia no interior de suas famílias e comunidades;
Estão mais à vontade que os não-alfabetizados quando levam e trazem seus filhos da escola e
monitoram o seu progresso;
Alteram suas práticas de saúde e de nutrição em benefício de suas famílias;
Aumentam sua produção e seus ganhos usando informações recebidas nos programas de
alfabetização ou acessando outras informações;
Participam mais efetivamente na comunidade e na política;
Mostram melhor compreensão das mensagens disseminadas pelo rádio e pela mídia impressa;
Desenvolvem novas e produtivas relações sociais através de seus grupos de aprendizagem;
Utilizam suas habilidades de alfabetização e as usam para expandir sua satisfação na vida diária.
Em 2002, pesquisa realizada pela Pastoral da Criança indicou a relevância da alfabetização das mães no
combate às causas de desnutrição infantil.
No Território do Sisal, o Projeto MOVA-Brasil vem atuando desde novembro de 2003. Vale ressaltar que, além
dos 900 educandos que concluíram e dos 700 em curso, alguns resultados concretos foram contabilizados, ou
seja, com o movimento que se constituiu a partir das discussões e ações dos educandos e educadores em cada
comunidade, movimento em busca de criar melhores condições de vida e transformação da realidade a partir
do que eles têm de mais concreto que é a Agricultura Familiar, conseguiu-se em todas as comunidades:
fortalecer as suas organizações representativas – associações, sindicatos e cooperativas. Com esse
fortalecimento conseguiu-se valer alguns de seus direitos através das políticas públicas: o acesso ao crédito
agrícola (PRONAF), captação de água potável (P1MC), agregação de valores à produção familiar através do
beneficiamento de frutas e fabricação de doces, resgate dos mutirões e da solidariedade local, valores que
estavam sendo perdidos, participação nas assembléias das câmaras de vereadores para interferir nas
discussões sobre políticas locais, participação e envolvimento nos espaços e fóruns que discutem a educação
no campo.
Portanto, associa-se o MOVA-Brasil no Território do Sisal ao empoderamento das Organizações dos
Agricultores Familiares e ao Movimento de Cidadania que atuam nesse Território. E, atualmente, o Projeto
MOVA-Brasil é o grande inspirador do Projeto MOVA-Sisal: tecendo com fibra alfabetização e cidadania.
e) Objetivos:
Desenvolver um processo de alfabetização que possibilite aos educandos(as) agricultores(as)
familiares uma leitura crítica da realidade na perspectiva de desenvolver uma consciência política,
reforçar a participação popular e a luta pelos direitos sociais do cidadão.
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Alfabetizar joves e adultos agricultores(as) familiares no território do Sisal;
Qualificar educadores populares e coordenadores locais para desenvolver o processo de alfabetização
no Território do Sisal;
Formar novas lideranças para atuar nas Organizações dos Agricultores Familiares e Movimentos
Sociais Populares no Território do Sisal e representar essas organizações nos Conselhos Municipais de
Educação e de Merenda Escolar;
Desenvolver um processo de articulação e parcerias com o Poder Público Local para garantir a
continuidade dos educandos egressos do MOVA na EJA – Educação de Jovens e Adultos, no Território
do Sisal.
f) Metas:
100% da população adulta alfabetizada.
g) Estratégias:
A perspectiva metodológica adotada neste projeto é fundamentada na teoria de Paulo Freire, a qual relaciona
a leitura da palavra à leitura do mundo. Nesse sentido, a ação pedagógica se desenvolve a partir do estudo da
realidade do educando, identificando-se as situações significativas presentes no contexto em que ele está
inserido. Desse estudo, emergem os temas geradores que orientam a escolha dos conteúdos a serem
problematizados no processo ensino-aprendizagem, para a compreensão dessa realidade e busca de
alternativas de intervenção social: Leitura do Mundo - Problematização - Ações de Intervenção.
Papel do Educador: o desenvolvimento desta proposta parte do pressuposto que o processo de ensino-
aprendizagem se constrói na relação dialógica entre educadores e educandos, mediada pelo conhecimento.
Nesse processo, os (as) educadores(as) assumem o papel de mediadores e, juntamente com os educandos,
criam as condições para a aprendizagem, valorizando seus saberes e auxiliando-os na proposição de ações de
intervenção na comunidade.
Visão sobre o educando jovem e adulto: os jovens e adultos são sujeitos na construção do conhecimento e
protagonistas de sua história. O MOVA-Sisal compreende a importância da dimensão coletiva para a
construção da cidadania e entende os educandos como seres capazes, criativos, propositivos. Nesse sentido, as
decisões tomadas no âmbito da comunidade em que vivem não podem prescindir de sua participação ativa.
A metodologia do Projeto compreenderá a seguinte dinâmica:
1. Assessoria à equipe pedagógica, administrativa e financeira do MOVA-Sisal:
Formação inicial em 24 horas e formação continuada em 06 encontros de 24 horas destinadas à Coordenação
do MOVA-Sisal. No desenvolvimento desses encontros, estão previstos estudos relacionados às especificidades
do Projeto MOVA-Sisal, planejamento, avaliação permanente, organização de encontros e eventos, elaboração
e produção de subsídios, proporcionando a sistematização das experiências vivenciadas com o objetivo de
aprimorar a ação desencadeada.
2. Formação Inicial aos Educadores e Coordenadores Locias do Projeto MOVA-Sisal:
Formação realizada pelo Coordenação Pedagógica do Projeto e acompanhada pela equipe pedagógica do IPF,
compreende um encotro de 05 dias, totalizando 40 horas de formação;
3. Formação Continuada aos Educadores e Coordenadores Locais do MOVA-Sisal:
Realizada pela Coordenação Pedagógica do Projeto, contando com a integração de profissionais de outras
93
ações. Esta formação compreenderá a 05 encontros de 16 horas mensais, totalizando 80 horas de formação.
4. Formação Continuada dos Coordenadores Locais:
Formação mensal de 08 horas realizada pela Coordenação Pedagógica do Projeto, totalizando 80 horas. Esses
encontros visam a elaboração e preparação de cursos de formação de Educadores e Coordenadores Locais,
acompanhamento da frequência dos educandos e educadores, elaboração de cronogramas e de relatórios das
atividades, prestação de contas.
5. Formação Permanente nos Núcleos:
Encontros de formação semanal com monitores organizados pelos Coordeandores Locais, com 04 horas,
perfazendo um total de 192 horas de formação. Nestes encontros são realizados sistematicamente o
planejamento, monitoramento, avaliação e replanejamento das atividade;
6. Formação de Novas Lideranças:
Encontros mensais de 08 horas, totalizando 80 horas, organizados pela Coordenação Pedagógica do Projeto e
Coordenadores Locais visando a qualificação de novas lideranças para atuação nos Conselhos Municipais de
Gestão.
Essas modalidades de Formação terão os seguintes objetivos e conteúdos:
Assegurar a concretização dos Princípios Político-Pedagógicos do Projeto MOVA-Sisal e a qualidade do
trabalho educativo realizado com as turmas;
Desenvolver conteúdos relativos à especificidade da EJA e ao processo ensino-aprendizagem;
Desenvolver temas geradores voltados à realidade local: Participação Cidadã, Economia Solidária,
Segurança Alimentar e Nutricional, Agricultura Familiar e Desenvolvimento Territorial Rural
Sustentável, entre outros;
Possibilitar a Educadores e Coordenadores Locais se apropriarem de instrumentos básicos para o
desenvolvimento de suas atividades no MOVA-Sisal;
Incentivar o registro pelos Educadores e Coordenadores Locais de suas atividades no sentido de fazer
desse registro uma ferramenta essencial para o conhecimento da prática e sua reformulação;
Organizar as turmas de alfabetização;
Mapear as entidades e/ou rede pública do território que disponham de espaço físico para
funcionamento das turmas;
Organizar os espaços com infraestrutura adequada para funcionamento das turmas;
Realizar proceso de Mobilização, Articulação e Formação de Lideranças Jovens;
Reunir-se com representantes da Sociadade Civil e Poder Público através do CODES;
Selecionar, contratar e formar Educadores e Coordenadores Locais;
Realizar a Formação Inicial e Continuada dos Educadores e Coordenadores Locais.
h) Arranjos Institucionais:
Através do IPF tem-se a contribuição do Projeto MOVA-Brasil, que constitui uma parceria Institucional entre
IPF, FUP – Federação Única dos Petroleiros e PETROBRÁS, que já desenvolvem neste Território um trabalho de
alfabetização e cidadania desde novembro de 2003, atualmente com 26 turmas, aproximadamente 700
educandos de 10 municípios (núcleos da FATRES e Molhar a Terra/Petrobrás).
Através do CODES teremos o envolvimento das Prefeituras Municipais e Secretarias Municipais de Educação
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que no primeiro momento contribuiriam cedendo espaços das escolas municipais para funcionamento das
turmas do MOVA-Sisal e posteriormente assumindo a demanda de educandos egressos da MOVA-Sisal
encaminhandos para inclusão no Sistema Educacional na EJA em cada município.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Número efetivo de encontros realizados e frequência;
Nível de participação demonstrado pelos participantes;
Desempenho dos participantes nas avaliações;
Qualidade dos materiais didáticos utilizados;
Acompanhamento e avaliação do trabalho desenvolvido pelos participantes.
Número de educandos alfabetizados;
Melhoria obtida nos níveis de renda, educação e saúde dos educandos (Jovens e adultos –
agricultores(as) familiares);
Formação dos Educadores e coordenadores locais ampliada;
Maior possibilidade de trabalho;
Educação de melhor qualidade;
Colaborar para mobilização das comunidades;
Representatividade nos Conselhos de Gestão ;
Ampliar o número de turma de EJA nos municípios do Território;
Facilidade para estabelecer convênios com Prefeituras municipais no Território;
Número de Núcleos, turmas organizadas e de educandos;
Número de participantes qualificados e envolvidos no processo de alfabetização;
Desempenho dos Educadores e Coordenadores Locais;
Número de lideranças jovens envolvidas nos Movimentos Sociais Populares e Conselhos Municipais;
Número de Prefeituras/Secretarias de Educação envolvidas no Projeto.
j) Gestão:
O Projeto MOVA-Sisal será desenvolvido numa parceria entre a FATRES – Fundação de Apoio aos Trabalhadores
Rurais e Agricultores Familiares do Semi-árido Baiano o IPF – Instituto Paulo Freire, e o CODES – Conselho
Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia e com apoio do
MDA/SDT – Ministério de Desenvolvimento Territórial e Secretaria de Desenvolvimento Territorial.
Cada parceiro terá sua função: a FATRES será executora do projeto, selecionando os profissionais e
contratando; o CODES será o articulador político do projeto, indicando demandas, educadores, coordenadores
locais e organizando a infraestrutura básica para montagem das salas; e o IPF será responsável pela dimensão
pedagógica do projeto, organizando o processo de Formação Inicial e Geral Continuada. Vale ressaltar que o
Projeto terá um Núcleo Gestor composto por um representante de cada parceiro – FATRES, CODES e IPF, a ser
definido posteriormente. O MDA/SDT será o parceiro financiador.
No Território e municípios onde serão desenvolvidas as ações do Projeto MOVA-Sisal, poderão ser
estabelecidas outras parcerias com entidades locais (associações, sindicatos, igrejas, ONG’s e movimentos
sociais populares) para garantir a concretização dos objetivos propostos. Estas parcerias podem se dar tanto
95
para o fornecimento do espaço físico e infraestrutura para formação e para as salas de aula, como para a
composição da equipe de Coordenadores, Educadores e turmas de alunos.
O Projeto, ao estabelecer uma relação de parceria nos locais onde será implantado, busca fortalecer as
comunidades, entidades e rede pública, para que possam multiplicar e continuar a metodologia.
2.2.6. Programa: PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM ÁREAS DE REFORMA AGRÁRIA
2.2.6.1. Projeto: QUALIFICAÇÃO EDUCACIONAL EM ASSENTAMENTOS
a) Diagnóstico Setorial:
Jovens e adultos sem ou com baixo nível de escolaridade, o que gera baixa produtividade, emigração e
desajuste social.
b) Localização:
Municípios: Santa Luz, Quijingue, Conceição do Coité, Tucano, Biritinga, Teofilândia, Araci, Itiúba, Monte Santo,
Queimadas e Cansanção.
c) Público Prioritário:
Acampados e assentados (agricultores e educadores das áreas)
d) Justificativa:
Historicamente o campo sofreu com a homogeneização da política educacional e fundiária que não
considerava seu contexto, seus sujeitos, suas necessidades e assim, não contribuíam efetivamente para o
desenvolvimento destes sujeitos dentro da sua própria realidade (acampados e assentados).
Os trabalhadores dos assentamentos, além de historicamente terem seus direitos à terra e à saúde negados,
também tiveram negados o direito elementar de educação. Muitos trabalhadores, inclusive jovens e crianças,
não tiveram a oportunidade de acesso e permanência à educação.
Agora se faz necessário desenvolver uma política pública de educação do campo que considere o sujeito e o
seu meio como protagonistas de uma nova história das práticas pedagógicas educativas dentro de uma
perspectiva humanística e de cuidado com o meio ambiente.
e) Objetivos:
Proporcionar formação aos trabalhadores acampados e assentados e elevar o nível de escolarização
dos jovens e adultos de áreas de Reforma Agrária desenvolvendo uma educação de classe,
contextualizada.
Contribuir para a formação de educadores em magistério, visando a consolidação de uma escola do
campo de qualidade, como garantia do direito à educação.
Desenvolver um processo de alfabetização que possibilite aos educandos(as) agricultores(as)
familiares uma leitura crítica da realidade na perspectiva de desenvolver uma consciência política,
reforçar a participação popular e a luta pelos direitos sociais do cidadão.
Alfabetizar joves e adultos agricultores(as) familiares dos assentamentos no território do Sisal;
Qualificar educadores populares e coordenadores locais para desenvolver o processo de alfabetização
no Território do Sisal;
Formar novas lideranças para atuar nas Organizações dos Agricultores Familiares e Movimentos
Sociais Populares no Território do Sisal e representar essas organizações nos Conselhos Municipais de
Educação e de Merenda Escolar;
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f) Metas:
Implantar medidas de melhoria do nível de ensino e de educação em 100% dos Municípios do Território.
g) Estratégias:
A ação pedagógica se desenvolve a partir do estudo da realidade do educando, identificando-se as situações
significativas presentes no contexto em que ele está inserido. Desse estudo, emergem os temas geradores que
orientam a escolha dos conteúdos a serem problematizados no processo ensino-aprendizagem para a
compreensão dessa realidade e busca de alternativas de intervenção social.
h) Arranjos Institucionais:
INCRA – mapeamento dos assentamentos, recursos para formação.
UNEB – Cursos de formação com a liberação de professores para isto.
MOVIMENTOS SOCIAIS, FATRES, MDA – no processo de discussão, acompanhamento e
monitoramento.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Quantidades de agricultores e assentados alfabetizados e cursando o ensino fundamental;
Quantidade de cursos implementados;
Quantidade de assentamentos com o PROGRAMA;
j) Gestão:
INCRA – liberação de recursos, elaboração de proposta, UNIVERSIDADES (execução dos cursos), MDA (recursos,
monitoramento, discussão no território) e CODES (acompanhamento, e monitoramento).
2.2.7. Programa: EDUCAÇAO DE JOVENS E ADULTOS
2.2.7.1. Projeto: Educação para a Solidariedade
a) Diagnóstico Setorial:
Líderes comunitários e empreendedores solidários sem a formação/escolaridade básica para atuar no
processo de autogestão dos empreendimentos e/ou organização;
Empreendimentos com dificuldades de sustentabilidade por conta da baixa escolaridade de seus
gestores;
Autoestima baixa dos trabalhadores/as líderes das organizações, sofrendo uma série de limitações na
gestão organizacional, sendo forçados a contratar que possam contribuir neste processo.
b) Localização:
Território do Sisal – Bahia
c) Público Prioritário:
Trabalhadores/as líderes de organizações sociais e empreendedores solidários.
d) Justificativa:
Quando se pensa em Desenvolvimento Territorial Sustentável, percebe-se a urgência da inserção do CODES na
questão da educação também no que se refere à baixa escolaridade dos/as gestores/as das organizações
sociais e dos empreendimentos solidários. Essa situação impossibilita uma melhor atuação no processo de
autogestão dos empreendimentos ou organizações, no sentido de otimizar recursos e gerar ações de impacto
na realidade local, ficando assim, dependentes de assessorias externas, quando há recursos suficientes para
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pagar serviços a terceiros. Além disto, sente-se a dificuldade de compreender e elaborar estratégias
necessárias para a definição de ações que permitam qualificar o trabalho para a geração de renda das famílias
envolvidas.
Assim, urge a necessidade de um curso de educação de jovens e adultos (integral/contextualizada) voltado
para o trabalho social com foco na economia solidária, utilizando os espaços das organizações e dos
empreendimentos como cenários pedagógicos importantes na condução do ato educativo. Esse curso deve ser
estudado e refletido de forma a propiciar uma ação política incisiva no processo ensino-aprendizagem a partir
de uma pedagogia libertadora e que promova de fato a inclusão destas pessoas no mundo da escola formal. A
aprendizagem adquirida na dinâmica das organizações sociais já conduz à formação de um capital
humano/social extremamente capaz de propor a interlocução entre sociedade civil e poder público, todavia,
entende-se que isto não basta, é preciso avançar em outros campos do conhecimento que a práxis não
consegue permear sem um estudo mais sistemático, criando uma sinergia entre o saber popular e saber
científico.
Pretende-se propiciar uma oportunidade de qualificação profissional para os/as trabalhadores/as de forma que
eles/as possam atuar de maneira mais consciente e criar mecanismos de luta capazes de influenciar nas
políticas públicas em defesa de um novo modelo de sociedade, alterando assim, a dinâmica das comunidades,
numa perspectiva de melhor a qualidade de vida destas pessoas que durante muito tempo estavam distantes
do processo educativo formal.
Importante salientar que a proposta deve estar de acordo com as exigências legais do MEC para facilitar o
processo de certificação dos educandos/as, ligada a uma instituição de ensino reconhecida no Estado.
e) Objetivos:
Potencializar o Desenvolvimento Local/Territorial Sustentável e Solidário a partir da Educação de
Jovens e Adultos (integral/contextualizada) para trabalhadores/as ou líderes de organizações sociais e
empreendedores (as) da Economia Solidária;
Conquistar a elevação da escolaridade dos/as educandos/as com o processo de certificação garantido;
Fomentar a economia solidária através de articulações com poderes locais e sociedade civil
organizada;
Capacitar formadores em economia solidária integrada à Educação de Jovens e Adultos;
Construir estratégias de gestão visando a consolidação da sustentabilidade política, econômica e social
das organizações e empreendimentos da Economia Solidária.
f) Metas:
Capacitar a equipe pedagógica – 01 gestor/a, 05 coordenadores/as e 20 educadores/as;
Atender 500 líderes ou empreendedores solidários.
g) Estratégias:
Formular e implementar um Projeto Político-Pedagógico, com os objetivos simultâneos de qualificar
para o trabalho e elevar o nível de escolaridade de trabalhadores (as) jovens e adultos, a partir de
princípios da Educação Integral que possibilite a qualificação de trabalhadores/as líderes e
empreendedores para a Gestão de Empreendimentos e organizações sociais;
Criar um programa de formação da equipe do projeto;
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Articular os diversos parceiros e usar a experiência das organizações como cenário pedagógico para
estudo.
h) Arranjos Institucionais:
Para o Programa EJA + formação em economia solidária entende-se que é necessário a parceria do Estado e
organizações sociais.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
De resultados:
01 gestor/a, 05 coordenadores/as e 20 educadores/as capacitados para a implantação da proposta;
Programa implementado nos 20 municípios enquanto política pública do Estado em parceria com as
organizações sociais, proporcionando criação de estratégias de geração de trabalho e renda para as
famílias envolvidas.
De Impacto:
70% dos trabalhadores/as líderes e empreendedores/as recebendo certificação da elevação da
escolaridade e atuando de forma organizada através da autogestão dos empreendimentos no
território.
Melhoria no processo de gestão das organizações e dos EES.
j) Gestão:
CODES, ADS-CUT, FATRES, Fundação APAEB e Estado.
2.3. EIXO: SAÚDE
2.3.1. Programa: Ampliação e Qualificação do atendimento a saúde
2.3.1.1. Projeto: Mais Saúde
a) Diagnóstico Setorial:
A infra-estrutura de saúde, nos municípios do Território do Sisal pode ser considerada crítica, com números de
médicos e de leitos hospitalares muito distantes das recomendações da Organização Mundial da Saúde – OMS.
Existe, ainda, a necessidade de médicos residentes nos municípios, em razão dos casos emergenciais em finais
de semana, noites e feriados; a ausência e insuficiência de especialistas; defasagem de profissionais de saúde
por cada grupo de 1000 pessoas e defasagem de leitos hospitalares para cada grupo de 100 pessoas, com
relação às exigências mínimas da Organização Mundial da Saúde – OMS – em vista da maior necessidade que o
Território apresenta, ou seja, Hospitais de Alta Complexidade na região.
b) Localização:
20 municípios do Território do Sisal
c) Público Prioritário:
Todos os moradores urbanos e rurais dos 20 Municípios.
d) Justificativa:
Os serviços de saúde, por conta de toda uma herança histórica, são muito precários, o que obriga a
manutenção de ambulâncias para o transporte de pacientes para centros como Feira de Santana e Salvador em
busca de atendimento, o que aumenta os riscos de óbito. Entendendo que o atendimento básico é prioritário,
já que, ao funcionar adequadamente, pode prevenir a população de casos mais graves de doença, é
fundamental ampliar a estrutura de serviços de saúde em todo os municípios.
99
e) Objetivos:
Construir e instalar unidades de saúde no Território do Sisal.
Valorizar e potencializar sistemas de saúde dos municípios do Território do Sisal.
Contribuir para a melhoria da saúde e qualidade de vida da população do Território do Sisal.
f) Metas:
Ampliar em 30% a estrutura física e de recursos humanos de saúde nos municípios.
g) Estratégias:
Instalação do Hospital da Mulher com UTI NEONATAL;
Instalação de hospitais regionais equipados;
Implantação de Hospital de Média Complexidade;
Implantação de UTI Móvel para os hospitais regionais e laboratórios;
Implantação do PSF em todos os municípios do Território;
Ampliação do PACS (Programa Agente Comunitário de Saúde) e formação dos Agentes;
Ampliação e fortalecimento do saneamento básico, da coleta seletiva do lixo, do esgotamento
sanitário e da vigilância sanitária;
Implantação do Programa de Capacitação de Parteiras;
Implantação da Farmácia Popular;
Implantação de Unidades de Zoonose.
h) Arranjos Institucionais:
Ministério da Saúde; FUNASA; Secretaria Estadual da Saúde; Dires 1ª, 2ª, 12ª e 28ª ; CEREST (Centro de
Referência da Saúde do Trabalhador); Prefeituras Municipais e Secretarias Municipais de Saúde.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
De Resultado:
Quantidade de atendimentos realizados no Programa de Pactuação Integrada, através de
procedimentos de alta, média e baixa complexidade;
Quantidade de procedimentos para a PPI (Programa de Pactuação Integrada) agendados e acumulados
em razão da defasagem no atendimento dos profissionais médicos especializados;
Quantidade de profissionais da saúde concursados e/ou contratados nos municípios do Território do
Sisal;
- Demanda da população com necessidade de atendimento médico.
De Impacto:
Regularização e melhoria da qualidade no atendimento médico à população do Território do Sisal
j) Gestão:
Prefeituras Municipais; Secretarias Municipais de Saúde; CODES – Sisal e Conselhos Municipais de Saúde.
100
2.4. EIXO: CULTURA
2.4.1. Programa: Desenvolvimento da Cultura Sertaneja
2.4.1.1. Projeto: Sistema Territorial de Cultura
a) Diagnóstico Setorial:
O Território do Sisal é rico em expressões culturais e em talentos que não recebem a atenção necessária dos
órgãos públicos e, por conta desse descaso, é inevitável a perda da memória e a emigração dos recursos
humanos para outras localidades.
Há artistas populares que atuam em diversas áreas, como a música, o teatro, a dança, a literatura, as artes
plásticas que precisam ser valorizados para dinamizar as atividades culturais e preservá-las através de
iniciativas museológicas e manutenção viva das atividades culturais.
b) Localização:
A escolha dos cinco Municípios que hospedarão os Centros Culturais será feita de forma participativa e
democrática.
c) Público Prioritário:
Toda a população, partindo-se dos grupos culturais urbanos e rurais já organizados e atuantes.
d) Justificativa:
O trabalho imaterial exerce papel fundamental nas sociedades modernas porque contribui decisivamente para
a “visão de mundo” das pessoas, para a relação com outras pessoas e com o meio ambiente, para a
modalidade de consumo etc. A cultura exerce um papel preponderante porque, além de tudo, tem a
capacidade de aglutinar pessoas, de desenvolver a solidariedade e a preservar a memória de um povo.
A cultura é fundamental e indispensável a qualquer iniciativa de desenvolvimento sustentável e será
desencadeada através da dinamização das iniciativas de expressão cultural nas diferentes modalidades, da
implantação de centros culturais com museus e salas de cinema, do incentivo à leitura através da implantação
de bibliotecas comunitárias.
e) Objetivos:
Valorizar e fortalecer a cultura sertaneja;
Preservar a memória cultural do território;
Valorizar os talentos culturais do sertão;
Contribuir para o desenvolvimento sustentável territorial através da cultura.
f) Metas:
Construir 05 (cinco) centros de integração cultural no Território com museus de pequeno porte;
Implantar um estúdio de gravação e edição;
Implantar bibliotecas comunitárias com salas de cinema em todos os municípios;
Realizar atividades culturais, nas várias modalidades, em todos os municípios;
Incorporar 100% dos artistas do território que estejam dispostos a integra-se ao sistema territorial de
cultura;
Criar uma página virtual no território hospedando os registros culturais por cada secretaria do
município.
101
g) Estratégias:
Articulação dos artistas do território para a elaboração de um “plano operacional” de cultura, com
atividades e metas;
Incorporar o poder público municipal nas atividades culturais do território.
h) Arranjos Institucionais:
Articulação do GT-Cultura com as organizações membros do CODES e com as Prefeituras Municipais para, com
o apoio da SECULT, SEC, MEC, SDT e Ministério da Cultura para implantar o “sistema Territorial de Cultura”.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Plano Operacional de Cultura definido e implantado;
Sistema Territorial de Cultura implantado;
Atividades culturais dinamizadas no Território;
Talentos culturais valorizados e atuantes.
j) Gestão:
Coordenação do GT-Territorial de Cultura.
2.5. EIXO: GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA
2.5.1. Programa: Formação Profissional para a Geração de Renda
2.5.1.1. Projeto: Vida Melhor
a) Diagnóstico Setorial:
Um dos gargalos que já atinge o território é a qualificação profissional. Via de regra, as pessoas aprendem uma
profissão – pedreiro, carpinteiro, mecânico, eletricista etc. – pelo próprio esforço e pelo exercício prático, sem
qualquer fundamentação de ordem teórica que traga maior consistência no exercício da profissão, inclusive
questões de segurança, de legislação etc.
b) Localização:
Todos os Municípios do Território.
c) Público Prioritário:
População mais pobre com prioridade para os jovens.
d) Justificativa:
A permanência das famílias no meio rural depende do desempenho de atividades não agrícolas, principalmente
nos períodos de estiagem prolongada. É preciso oferecer à população oportunidade de geração de renda
noutras atividades, para melhorar as condições socioeconômicas das famílias e permitir a sua permanência no
campo.
e) Objetivos:
Oferecer oportunidade de geração de renda fora da atividade agrícola;
Qualificar mão de obra para o exercício profissional das pessoas fora da agricultura;
Criar as condições de manutenção das famílias nos períodos de estiagem;
Contribuir para a permanência da população no meio rural.
f) Metas:
04 turmas por ano, com 120 pessoas, em cada Município.
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g) Estratégias:
Criar oportunidade de trabalho e renda em setores não agrícolas para o enfrentamento de períodos de crise, a
exemplo de estiagens prolongadas.
h) Arranjos Institucionais:
Negociação entre as Prefeituras Municipais, a SETRE e SEC-Educação Profissionalizante.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
2.400 pessoas por ano qualificadas profissionalmente;
Famílias com oportunidade de geração de renda em atividade não agrícola.
j) Gestão:
Formação de uma Comissão com representantes das prefeituras e da sociedade civil para a implementação do
projeto.
3. Dimensão Ambiental
3.1. EIXO: MEIO AMBIENTE
3.1.1. Programa: EDUCAÇÃO AMBIENTAL
3.1.1.1. Projeto: EDUCAÇÃO AMBIENTAL
a) Diagnóstico Setorial:
O Território não dispõe de uma política estratégica de educação ambiental que contemple as
condições da realidade;
Os currículos escolares e os planejamentos estratégicos das entidades, em seu conjunto, não abordam
o meio ambiente como estratégia política;
Há iniciativas de educação ambiental, ainda que ‘principiantes’, nas ações do PETI, do CAT e de
algumas ações das entidades da sociedade civil;
Não há recursos disponíveis nos orçamentos municipais para a implantação de um programa de
educação ambiental para o território;
Agenda 21 não implantada e sem funcionamento em 100% dos municípios do território.
b) Localização:
20 municípios do Território
c) Público Prioritário:
Embora o projeto tente chegar aos ‘quatro cantos’ do território, o público prioritário do projeto são os
professores/as da rede oficial, os monitores/as da Jornada Ampliada do PETI, as lideranças e dirigentes das
entidades populares, os/as comunicadores/as sociais da região (radialistas e jornalistas) e lideranças e
dirigentes políticos (secretários municipais e vereadores);
d) Justificativa:
Com a consolidação de um processo de formação voltado para a Educação Ambiental Territorial conseguir-se-á
uma população e gestores públicos sensibilizados e atuando na resolução e principalmente na prevenção dos
problemas ambientais. Vale ressaltar que a educação ambiental não será uma disciplina ou um curso de 20 ou
40 horas, mas um processo direto e transversal aliado ao processo educativo, produtivo, de lazer, etc.
e) Objetivos:
Sensibilizar e capacitar grupos estratégicos para educação ambiental do território;
103
Possibilitar espaço de debates, visitas em áreas de proteção ambiental e leituras sobre a questão ambiental
relacionando com a vida cotidiana da população do território do sisal;
f) Estratégias:
Realizar parcerias com Universidades (UNEB, UEFS, UFBA), ONG´s, entidades representativas do
movimento popular, prefeituras municipais, órgãos ambientais dos governos federal e estadual etc,
para compor equipe de planejamento, execução e monitoramento;
Realizar um diagnóstico sobre o que existe de experiência no campo da educação ambiental e
promover a troca de experiências;
Promover cursos de capacitação para professores da rede oficial sobre Educação Ambiental ;
Incentivar a realização de eventos públicos voltados à temática ambiental , envolvendo toda rede
escolar dos municípios;
Estimular as organizações sociais urbanas em torno da temática ambiental;
Promoção do entendimento com outros municípios;
Atualizar ou criar legislação apropriada para a realidade desejada a nível municipal, de forma
participativa, e sob a coordenação da comissão de meio ambiente das câmaras municipais de
vereadores, e do conselho municipal de meio ambiente (onde houver) ou equivalente e de grupos
ambientalistas;
Articulação com instituições e entidades de proteção ambiental (SEMARH, Comissões Municipais,
Comitê da Bacia do Itapicuru;
Apoiar a elaboração do Plano de Sustentabilidade Ambiental para o município;
Montar agenda de planejamento, execução do plano de educação ambiental do território;
Estimular e apoiar a implantação / implementação da Agenda 21 nos municípios.
g) Arranjos Institucionais:
Instituições e entidades: Universidades Estaduais (UNEB e UEFS), UFBA, Secretarias de educação ambiental do
Ministério do Meio Ambiente e do MEC, Comissão do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa da Bahia,
IBAMA, INCRA, Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, Secretarias Municipais de meio ambiente e de
agricultura ou equivalente, Consórcio das Bacias do Itapicuru e Jacuípe, Grupos Ambientalistas, TV e Rádios
comunitárias e comerciais, Polo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal), centrais de
Associações, associações de monitores do PETI e dos professores, Movimento de Organização Comunitário
(MOC), APAEB, FATRES, CREA e buscar parceiras com PROGRAMAS EXISTENTES.
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Números de profissionais, lideranças e dirigentes capacitados;
Volume de recursos destinados nos orçamentos municipais e estadual voltados para a questão
ambiental;
Número e qualidade de projetos e ações desenvolvidos na área ambiental territorial;
Plano Municipal de Sustentabilidade Ambiental elaborado e monitorada a sua execução;
Legislação ambiental atualizada e/ou criada;
Conteúdo curricular e prática pedagógica das escolas e das entidades educativas, referente ao meio
ambiente, no territorial;
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i) Gestão:
Será definida uma equipe para coordenar o processo de gestão em nível territorial, realizando
atividades de monitoramento por grupo específico (professores, gestores, etc.), bem como com todos
os grupos dentro de espaço próprio do CODES. Em nível municipal é preciso fortalecer as instâncias já
existentes, tais como: Agenda 21, CMDRS, Conselho municipal de meio ambiente, etc.
Será priorizado meios de comunicação para veicular informações, formação e prestação de contas
para o território, seja através de jornais escritos, falados, televisivos, bem como encontros,
seminários, conferências, etc.
3.1.2. Programa: COLETA, TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS
3.1.2.1. Projeto: Aterra Território
a) Diagnóstico Setorial:
Lixo e esgotos jogados a céu aberto e em terrenos residenciais, de comércios, escolas, próximos a
fonte de água, etc;
Inexistência de recursos disponíveis nos orçamentos municipais para a implantação de uma política de
coleta, tratamento e destinação dos resíduos;
Ausência de uma consciência ambiental por parte da população e de gestores públicos no que se
refere a trato com os resíduos;
Proliferação de doenças causadas pelo tratamento inadequado dos resíduos;
Órgãos públicos como prefeituras, câmaras, hospitais e projetos financiados com recursos públicos
destinando resíduos ao meio ambiente, de forma irresponsável e inconsequente.
b) Localização:
20 municípios de abrangência do CODES.
c) Público Prioritário:
Gestores públicos como: prefeitos, secretários municipais, vereadores, conselheiros do meio ambiente,
funcionários da limpeza pública, professores/monitores; comerciantes.
d) Justificativa:
O custo social, ambiental, econômico e político é muito alto, com a má destinação dos resíduos hoje praticada
no Território Sisal. Além disso, com o início da sensibilização e surgimento da consciência de gestão a partir de
um Território, as ações de superação desse quadro tornar-se-ão mais eficazes e muito menos onerosas, a partir
de consórcios, parceiras etc. Importante mencionar o fato de que a ação voltada para a boa coleta, tratamento
e destinação dos resíduos e dejetos trará beneficio de sustentabilidade ambiental, de saúde, de educação etc.
Essa política traz consigo duas ações de sustentabilidade quais sejam: ação combativa e , principalmente,
preventiva de doenças e problemas ambientais.
e) Objetivos:
Gestores públicos como: prefeitos, secretários municipais, vereadores, conselheiros do meio ambiente,
funcionários da limpeza pública, professores/monitores para a atenção efetiva com os dejetos e resíduos
sólidos.
105
f) Estratégias:
Elaboraçãode um Plano Ambiental do Município;
Criação e funcionamento dos Conselhos e Secretarias do meio ambiente;
Divulgação de Código de Postura do Municipal;
Elaboração de um Diagnóstico dos resíduos sólidos produzidos no território;
Levantamento georeferenciado dos aspectos geográficos e ambientais das áreas que possibilitem a
instalação de aterros;
Elaboração e implantação de um modelo de gerenciamento de resíduos apropriados à realidade local;
Instalação de consórcios para aterro sanitário;
Instalação de usinas de reciclagem (intermunicipal ou municipal);
Implantação de sistema de gerenciamento de Resíduos Sólidos, com coleta seletiva;
Implantação de um Programa de Educação Ambiental local voltado para trabalhar a comunidade sobre
o modelo de gerenciamento de coleta seletiva a ser implantado;
Apoio a criação e fortalecimento de entidades da economia solidária para o processo de reciclagem;
Formalização do Convênio entre Prefeitura e Estado – para efetivar o PEAN dos Agentes
Multiplicadores;
Capacitação de funcionários da limpeza pública;
Promoção de Programas de EDUAMB nas comunidades, escolas e com o comércio estimulando a
prática dos 3 R (reduzir, reciclar, reutilizar);
Implantação de estações de tratamento de esgoto nos municípios que não possuem;
Realização de parcerias com Universidades (UNEB, UEFS, UFBA), ONG´s, entidades representativas do
movimento popular, prefeituras municipais, órgãos ambientais dos governos federal e estadual etc.
para compor equipe de planejamento, execução e monitoramento.
g) Arranjos Institucionais:
Instituições e entidades: Universidades Estaduais (UNEB e UEFS), UFBA, Ministérios de Educação, de
Desenvolvimento Social, de Meio Ambiente, MDA, DNOCS, Comissão de educação e do Meio Ambiente da
Assembléia Legislativa da Bahia, IBAMA, Ministério Público, INCRA, Secretaria Estadual de Recursos Hídricos,
Secretarias Municipais de educação, de meio ambiente e de agricultura ou equivalente, Comissão de educação
das Câmaras de Vereadores, Consórcio das Bacias do Itapicuru e Jacuípe, Grupos Ambientalistas,
COOPERJOVEM, TV e Rádios comunitárias e comerciais, Polo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da
Região do Sisal), centrais de Associações, associações de monitores do PETI e dos professores, Movimento de
Organização Comunitário (MOC), grupos religiosos, grêmios estudantis, APAEB, CREA, e Programas existentes.
h) Indicadores de Resultado e Impacto:
Volume de recursos destinados nos orçamentos municipais e estadual voltados para a questão
ambiental;
Número de aterros sanitários implantados e gerenciados;
Metros quadrados de áreas pavimentadas e metro de esgotamento construído e construção de áreas
de destinação;
106
Conselhos de meio ambiente implantado e funcionado;
Programa municipal de meio ambiental elaborado de forma participada e implementado;
Números de profissionais, lideranças e dirigentes capacitados;
Conteúdo curricular e prática pedagógica das escolas e das entidades educativas, referente ao meio
ambiente, no Territorial.
i) Gestão:
No nível territorial criar-se-á uma comissão dentro do CODES para o gerenciamento das ações no
território e no nível municipal será gerido pela estrutura existente de gestão, podendo ser o Conselho
Municipal de Meio Ambiente, ou uma comissão provisória ou, ainda, a coordenação da Agenda 21.
Da mesma forma, criar-se-á canais de comunicação para veicular informações, formação e prestação
de contas para o território, seja através de jornais escritos, falados, televisivos, bem como encontros,
seminários, conferências, etc.
3.1.3. Programa: COMBATE À DESERTIFICAÇÃO
3.1.3.1. Projeto: RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
a) Diagnóstico Setorial:
Cresce, de forma acelerada, o fenômeno da desertificação no Território, com áreas de “desertificação
moderada” em diversas localidades, passíveis ainda de reversão caso sejam adotadas medidas tecnicamente
apropriadas.
b) Localização:
20 municípios de abrangência do CODES;
c) Público Prioritário:
Gestores públicos como: prefeitos, secretários municipais, vereadores, conselheiros do meio ambiente,
professores/monitores; grupos ambientalistas; organização de agricultores familiares e de associações de
moradores; comissões municipais e regionais da água;
d) Justificativa:
A degradação do ambiente, especialmente do solo, tem ocasionado uma significativa perda da capacidade
produtiva da terra. Ela acontece em função do manejo inadequado dos recursos ambientais, através de ações
como: desmatamento desordenado, queimadas, uso de agroquímicos, mecanização intensiva, em áreas áridas
e sub-úmidas secas, que apresentam uma taxa de evapotranspiração superior à taxa de precipitação. As
principais conseqüências da desertificação são a erosão do solo, com perda da área produtiva; a extinção da
flora e da fauna; a escassez de água; o aumento da temperatura. Tudo isso ocasionando o empobrecimento da
população local e, consequentemente, o êxodo. Mas há de se ponderar que o prejuízo não ocorre apenas pela
via econômica com a dificuldade para a produção, mas a desertificação traz consigo a morte do ambiente, o
desaparecimento de uma paisagem que motiva as pessoas a ocuparem seus espaços com prazer e dignidade. A
desertificação promove o deserto e a solidão dos ambientes. Mas existem grupos e políticas públicas
preocupadas com a situação e disposta a superar tal realidade. Embora não haja uma consciência política da
população e dos gestores públicos do Território Sisal em relação à desertificação, este território se destaca com
ações concretas do tipo: convivência com o semárido, programa “Um milhão de cisternas”, etc. Vale destacar
que, em comparação com os Territórios Sul ou o Oeste da Bahia, o Território Sisal se apresenta com uma certa
107
vantagem, no que diz respeito à desertificação, mas esse consolo não serve de motivação para cruzar os
braços.
e) Objetivos:
Gestores públicos como: prefeitos, secretários municipais, vereadores, conselheiros do meio ambiente,
funcionários da limpeza pública, professores/monitores, sindicato rural, trabalhadores rurais, comerciantes,
empresários e a comunidade em geral visando transformações de conceitos e práticas para que proporcionem
a preservação de elementos importantes na constituição da paisagem natural do território como: solo,
vegetação e recursos hídricos, agindo de forma preventiva contra o aparecimento do processo de
desertificação.
f) Metas:
Desenvolver o trabalho em todos os 20 Municípios.
g) Estratégias:
Apoio à Criação e funcionamento dos Conselhos e Secretarias do meio ambiente;
Programa de Educação Ambiental voltada para a prevenção e combate à desertificação;
Elaboração de um Plano Ambiental do território e do município;
Criação e funcionamento dos Conselhos e Secretarias do meio ambiente;
Atualização ou criação de legislação municipal adequada;
Instalação de estruturas territoriais de combate à desertificação;
Implantação/implementação de bacias e sistema de gerenciamento de bacias;
Apoio à criação e fortalecimento de entidades ambientalistas;
Formalização do Convênio entre Prefeitura e Estado – para efetivar o PEAN dos Agentes
Multiplicadores;
Realizar parcerias com Universidades (UNEB, UEFS, UFBA), ONG´s, entidades representativas do
movimento popular, prefeituras municipais, órgãos ambientais dos governos federal e estadual etc.
para compor equipe de planejamento, execução e monitoramento;
Formação de educadores ambientais, no território;
Implementação das Agendas 21 Locais;
Incorporar ao P1MC o P1 + 2, agregando ações educativas ambientais;
Conhecer para preservar – artesanatos, óleos medicinais;
Melhor orientação ao crédito voltado para fortalecer práticas antidesertificadoras;
Garantir ATER / ATES agroecológicas;
Valorização e incentivo às experiências exitosas, nesta área, praticadas no território e no semiárido;
Motivação de prática do raleamento, cobertura morta, adubação orgânica, construção de barragens
subterrâneas, cisternas, cerca viva; produção de feno, silagem, plantio de forrageiras adaptadas,
reinventando e fortalecendo práticas de convivência com o Semiárido;
Estimular a prática de tração animal;
Fortalecer a política de educação do campo a partir do que já existe;
Ações voltadas para a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN);
108
Implantar política habitacional rural;
Regularizar e ampliar a política de reforma agrária, com ações de regularização fundiária;
Organização da produção e comercialização;
Implementação de práticas do tipo Casa Brasil;
Valorização das organizações espontâneas;
Fortalecimento institucional (Re–organizar associações, cooperativas, sindicatos, grupos, movimentos,
etc.);
Repovoamento das plantas da caatinga;
Realização de pesquisas e transferências de tecnologias de manejo sustentável;
Articulação do CODES SISAL com outros espaço/instituições de preservação do meio-ambiente;
Articulação com ações do PETI
h) Arranjos Institucionais:
Instituições e entidades: Universidades Estaduais (UNEB e UEFS), UFBA, Ministérios de Educação, de
Desenvolvimento Social, de Meio Ambiente, MDA, DNOCS, Comissão de educação e do Meio Ambiente da
Assembléia Legislativa da Bahia, IBAMA, Ministério Público, Secretaria Estadual de Recursos Hídricos,
Secretarias Municipais de Educação, de Meio Ambiente e de Agricultura ou equivalentes, Comissão de Meio
Ambiente das Câmaras de Vereadores, Comitê das Bacias do Rio Itapicuru e Paraguassu, Grupos
Ambientalistas, TV e Rádios comunitárias e comerciais, Polo Sindical (Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da
Região do Sisal), centrais de Associações, associações de monitores do PETI e dos professores, Movimento de
Organização Comunitário (MOC), grêmios estudantis, APAEB, CREA, e P1MC, Água é Vida, PETI, Projeto agentes
de família, agentes de saúde, MCT, EMBRAPA, FAO.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Volume de recursos destinados nos orçamentos estadual e municipal voltados para a questão do
combate à desertificação;
Número de aterros sanitários implantados e gerenciados;
Metros quadrados de áreas pavimentadas e metro de esgotamento construído e construção de áreas
de destinação;
Conselhos de meio ambiente implantados e em funcionamento;
Programa municipal de meio ambiental elaborado de forma participada e implementado;
Números de profissionais, lideranças e dirigentes capacitados;
Conteúdo curricular e prática pedagógica das escolas e das entidades educativas, referente ao meio
ambiente, no Territorial.
j) Gestão:
No nível territorial criar-se-á uma comissão dentro do CODES para o gerenciamento das ações no
território e no nível municipal será gerido pela estrutura existente de gestão, podendo ser o Conselho
Municipal de Meio Ambiente, ou uma comissão provisória ou, ainda, a coordenação da Agenda 21.
Da mesma forma, criar-se-á condições e canais de comunicação para veicular informações, formação e
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prestação de contas para o território, seja através de jornais escritos, falados, televisivos, bem como
encontros, seminários, conferências, etc.
3.1.4. Programa: RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO ITAPICURU
3.1.4.1. Projeto: RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO ITAPICURU
a) Diagnóstico Setorial:
O rio Itapicuru foi atrativo para a população nativa antes da invasão européia no Século XVI, hospedando, no
seu entorno, diversas comunidades indígenas. No período colonial, continuou sendo motivo de atração para o
desenvolvimento da pecuária. Apesar da sua importância e de percorrer vários municípios do Território,
exercendo uma função estratégica, passa por um momento de degradação acelerada com a devastação das
suas matas ciliares.
b) Localização:
Municípios integrantes da Baía do Itapicuru.
c) Público Prioritário:
Gestores públicos como: prefeitos, secretários municipais, vereadores, conselheiros do meio ambiente,
professores/monitores; grupos ambientalistas; organização de agricultores familiares e de associações de
moradores; comissões municipais e regionais da água , população ribeirinha e pescadores;
d) Justificativa:
Promover a recuperação das matas ciliares do rio Itapicuru para assegurar a preservação desse importante
instrumento de viabilização da vida no sertão. A recuperação das matas ciliares poderá contribuir, de forma
decisiva, para reduzir o processo de assoreamento e desgaste do rio, como também contribuir para melhorar a
fauna local.
e) Objetivos:
Recuperar as matas ciliares do rio Itapicuru;
Frear o processo de degradação do rio Itapicuru, contribuindo para a sua recuperação;
Garantir as condições de sobrevivência da população da Bacia do Itapicuru.
f) Metas:
Recuperação de mata ciliar;
Retirada de curtumes implantados nas margens;
Campanhas de uso adequado do solo;
Tratamento dos efluentes domésticos e industriais;
Diagnosticar a real situação de degradação da área em que está localizada a Bacia do Rio Itapicuru;
Elaborar e implementar um plano de recuperação ambiental da bacia;
Implementar planos de desenvolvimento sustentável para as atividades econômicas desenvolvidas na
área da bacia do rio Itapicuru.
g) Estratégias:
Interagir com o Comitê de Bacias e com o projeto de combate à desertificação;
Mobilizar a comunidade local, especialmente as escolas, para inserir-se nos esforços de recuperação
das matas ciliares.
Mobilizar as populações ribeirinhas para participarem ativamente das atividades.
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h) Arranjos Institucionais:
SEMARH, CRA, SRH, MMA, MINISTÉRIO PÚBLICO, DNOCS, COMITÊS, PREFEITURAS, SOCIEDADE CIVIL e
USUÁRIOS.
i) Indicadores de Resultado e Impacto:
Melhorar as condições ambientais com a recuperação das matas ciliares e preservação do rio;
Melhorar as condições de vida das populações ribeirinhas.
j) Gestão:
Formar uma Comissão específica para coordenar o processo de recuperação das matas ciliares.
111
Considerações Finais
Esse Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável, fruto de um processo de
discussão e de reflexão das forças organizadas na sociedade civil e no setor público do
Território do Sisal deve ser compreendido como um instrumento efetivo para impulsionar o
desenvolvimento com sustentabilidade, gerando qualidade de vida. Ele se constitui, assim,
num guia importante, produzido fora das clausuras burocrática, mas de forma democrática e
coletiva, com a participação de todos e todas. Ele se constitui no primeiro passo de uma
caminhada histórica cujos destinos dependerão, exatamente, da manutenção do
compromisso de todos os segmentos envolvidos.
112
Referências
FREIRE, Felisbello. História Territorial do Brasil. Rio de Janeiro, Typ. Do Jornal do Comércio, de Rodrigues & C., 1906;
GUIMARÃES, Duque. O Nordeste e as lavouras xerófilas. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil, 2004.
IBGE. Censo Demográfico, 2000. Rio de Janeiro, 2001.
LIMA, Antonio Luiz de. Extensão Rural e Desenvolvimento da Agricultura Brasileira. UFV, Minas Gerais, 1987.
NASCIMENTO, Humberto Miranda. Criação e acumulação de capital social no semi-árido brasileiro – o caso de Valente/Bahia. Campinas, UNICAMP, 2003.
OLIVEIRA, Ildes Ferreira de. A Luta pela Autonomia e a Participação Política dos Camponeses; um estudo nas micro-regiões de Feira de Santana e Serrinha, no Estado da Bahia. Dissertação de Mestrado. Campina Grande, UFPb, 1987.
PLANO SAFRA TERRITORIAL DA REGIÃO SISALEIRA
PNUD/ONU. Atlas do Desenvolvimento Humano. Rio de Janeiro, 2001 (CD-Room).
SILVA, Álvaro Luis Vasconcelos et ali. APAEB: Uma História de Fibra, Luta e Subsistência. Valente, APAEB, 1993,