pobreza e direitos humanos: uma breve anÁlise da...
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Trabalho de Conclusão de Curso
POBREZA E DIREITOS HUMANOS: UMA BREVE ANÁLISE DA REALIDADE NO
MUNICÍPIO DE NAVIRAÍ/MS
Léia Cristina Agostini Ribeiro1
Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Araújo de Lima2
Resumo: O objetivo deste artigo foi analisar a relação entre pobreza e direitos humanos, no âmbito
escolar, procurando entender conceitos ainda pouco reconhecidos, e quais são os seus fatores
determinantes. Compreende-se aqui a pobreza como uma violação dos direitos humanos e
ausência de igualdade social. Ao realizar pesquisas semiestruturadas, foram apontados
mecanismos que garantam o exercício desses direitos, como as políticas sociais. Foi possível
verificar que a pobreza, como consequência ou causa de violações dos direitos humanos na
escola, sempre foi problemática para aqueles que procuraram entender o papel central da
mesma, onde abordaram, criticamente, as exigências de uma educação pautada nestes
direitos, sem uma análise da realidade.
Palavras-chave: Pobreza; Direitos humanos; Violação. Políticas Sociais; Educação
1. Introdução
Ao pensar em direitos humanos e relacioná-los com a pobreza, pensamos nas leis
que garantem esses direitos de maneira formal, mas, também, pensamos em mecanismos que
possam garantir que esses direitos realmente sejam respeitados, como, por exemplo, a
inclusão, nos currículos escolares, de uma disciplina voltada aos estudos dos direitos
humanos de todo cidadão, para que todos conheçam quais, de fato, são os seus direitos.
De acordo com o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
(BRASIL. 2009, p.33), que propõe a “inserção da educação em direitos humanos nas
diretrizes curriculares da educação básica”, esse seria um dos caminhos lógicos a se
percorrer, no sentido de conscientizar as pessoas a respeito dos seus direitos, refletindo suas
próprias condições de vida, exigindo sua apuração e reparação.
1 Léia Cristina Agostini Ribeiro, Graduada em Letras com habilitação em Espanhol, pela UNIP-Universidade
Paulista (2014). Discente do Curso de Especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. 2 Pedagoga. Doutora em Saúde Pública. Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Educação -
Área de Concentração: Educação Social e do Curso de Pedagogia da UFMS/Campus do Pantanal. Pesquisadora
do projeto EDUCAÇÃO, POBREZA E DESIGUALDADE SOCIAL: ALGUNS INDICADORES DO
CONTEXTO SUL-MATO-GROSSENSE – UFMS.
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Destaca-se também no mesmo Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos, a importância de programas sociais, como o Programa Bolsa Família, que está
reduzindo, embora muito sutilmente, a uma rápida discussão sobre a desigualdade social no
Brasil.
Foi de grande importância uma análise sobre os serviços que proporcionam
melhores condições de vida a nossa população mais carente, com foco na educação, uma das
ferramentas para, se não eliminar, pelo menos minimizar a pobreza em nossa sociedade.
Neste artigo, compreende-se a importância do estudo, na escola, como parte
representativa dos direitos humanos, pois, a maioria das pessoas menos favorecidas não tem
conhecimento sobre seus reais direitos, e, com isso, ficam à mercê de situações, muitas vezes,
degradantes, pela falta de conhecimento.
Observando-se mais a fundo a situação dos Direitos Humanos no espaço da pesquisa
de campo, onde se percebe que, muitas pessoas, baseados em seus princípios religiosos, não
conseguem interagir de forma atuante e conforme o preconizado pelos planos de educação
junto a seus colegas na escola, sejam profissionais da educação ou estudantes, pois, estariam
cometendo um “pecado”, ao participarem de uma atividade cultural, como a dança, por
exemplo, colocam outras em situações restritivas, impondo suas opiniões, crenças e culturas e
por vezes desestimulando processos educativos enriquecedores e que atendem as
determinações da legislação em vigor. De certa forma, estão lhes negando um direito, o qual
as deixa excluídas de um determinado grupo social.
Outra abordagem que mereceu destaque foi a representação social das pessoas sobre
a questão da marginalização do indivíduo, a partir de sua condição financeira.
Historicamente, o indivíduo segue os passos dos pais, em todos os sentidos.
Desta forma, se os pais não tiveram a oportunidade de estudar, devido a condição
financeira que os obrigava a ajudar em casa, da mesma maneira, os filhos não frequentarão a
escola, ou o farão por um curto espaço de tempo, deixando assim, comprometido seu acesso à
cultura, seus sonhos e desejos ficarão esquecidos. Tem-se em mente que, não será indo à
escola, estudando, que o indivíduo será bem sucedido financeiramente e, com isso, muitos
abandonaram a escola para trabalharem, aumentando assim, a pouca renda familiar, o que
gera mais pobreza, também intelectual, segundo nos mostra um estudo realizado em
Moçambique, o qual diz que “A pior pobreza é aquela que está na nossa cabeça: a pobreza
intelectual: Aqueles que não querem mudar de atitudes, de comportamentos, de
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mentalidades; Aqueles que não querem sacrificar-se”, disse o Presidente da República de
Moçambique, Sr. Armando Guebuza, em junho de 2014, em visitas ás províncias do país.
Neste sentido, procurou-se compreender e analisar algumas das perspectivas sobre
como o Programa Bolsa Família auxilia na manutenção das crianças e adolescentes nas salas
de aula, observando essa realidade em um determinado espaço, onde poucos tem acesso à
educação, um dos direitos básicos de todo ser humano. A pesquisa foi realizada no mês de
setembro de 2016, tomando como ponto de partida, a comunidade escolar da Escola
Municipal “Maria de Lourdes Aquino Sotana” no Município de Naviraí/MS, onde estudam
aproximadamente 800 alunos, distribuídos em 16 salas, do 1º ao 9º ano, do Ensino
Fundamental. Através de entrevistas semiestruturadas realizadas com dois alunos do 5ª ano
do Ensino Fundamental, (originalmente era para ser realizado com alunos do 6º ano), com
idade de 10 anos, e seus respectivos responsáveis (a princípio eram três, porém, houve uma
desistência), os quais preferiram não gravar as entrevistas, limitando-se a responder enquanto
eram feitas as devidas anotações. Os mesmos serão identificados neste artigo como
entrevistado 1 e entrevistado 2, o mesmo número identificando o seu responsável.
Procuramos compreender até que ponto eram respeitados os direitos individuais de cada
indivíduo, relacionando pobreza com direitos humanos.
Esta pesquisa qualitativa, descritiva, delineada de forma ainda inicial,
pretendeu demonstrar aos indivíduos que, de alguma forma, se preocupam com outros
indivíduos marginalizados em nossa sociedade, um pouco mais sobre a realidade dos
beneficiários do Programa Bolsa Família, no município de Naviraí, Mato Grosso do sul, com
o objetivo de apresentar até que ponto as condicionalidades desse programa de governo,
auxiliam ou bloqueiam a manutenção de nossas crianças e adolescentes na escola, bem como,
procurou-se compreender um pouco mais sobre os acompanhamentos realizados às
respectivas famílias, nos campos da saúde e da educação.
2. Método
Os métodos se caracterizam como o caminho feito pelo pesquisador no processo de
obtenção do objeto do estudo; são recursos básicos e fundamentais, para a ordenação do
pensamento em relação ao objeto, traçando os modos de procedimento.
Segundo Minayo,(2002, p.57), citado por Rocha, Daher e Sant’Anna (p. 4-5 )
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A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através
dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais.
Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se
insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores (...) Nesse
sentido, a entrevista, um termo bastante genérico, está sendo por nós
entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos. Num
primeiro nível, essa técnica se caracteriza por uma comunicação verbal que
reforça a importância da linguagem e do significado da fala. Já, num outro
nível, serve como um meio de coleta de informações sobre um determinado
tema científico.
Desta maneira, os métodos utilizados neste artigo, compreenderam a análise de
conteúdo, pesquisa bibliográfica em bases eletrônicas e impressas, onde foram selecionados
vários artigos relevantes, nos quais os principais assuntos encontrados foram a forma em que
pessoas pobres são tratadas perante a sociedade. Normalmente são excluídos de todas as
possibilidades de acesso a cultura, saúde e educação, fazendo-se necessário que estudos deste
tipo possam aparecer e serem discutidos para que seus direitos, como seres humanos possam
ser mais respeitados. Foram, também, realizadas entrevistadas do tipo semiestruturada, por
entender que esta modalidade permite maior liberdade, tanto ao entrevistado como ao
entrevistador, podendo este, colocar outros questionamentos que puderem surgir no decorrer
da mesma, segundo Eduardo José Manzini, no seu trabalho “Entrevista Semi-estruturada:
Análise de Objetivos e de Roteiros ( p.2 ), onde nos diz que “Os questionamentos dariam
frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes”.
Após a leitura de vários artigos e livros sobre a situação do Programa Bolsa Família
e também sobre metodologias utilizadas para coleta de dados, foi possível traçar uma linha de
pesquisa, norteando assim, o trabalho a campo. Neste trabalho, conforme dito anteriormente,
foram entrevistadas quatro pessoas, sendo duas crianças e seus respectivos responsáveis.
Inicialmente a pesquisa seria realizada com seis pessoas, porém, por motivos não
esclarecidos, duas (uma criança e seu responsável), desistiram de participar da atividade.
Sendo assim, foi dado prosseguimento com as que continuaram dispostas a colaborar.
As entrevistas aconteceram na escola, com os alunos, onde eles foram encaminhados
a uma sala isolada, por decisão dos mesmos. Desta forma, se sentiram menos constrangidos
ao responder as perguntas, o que favoreceu um diálogo aberto e sem reservas, criando um
clima de cumplicidade. E, logo após seguiu-se a entrevista com o os responsáveis dos
mesmos, em suas respectivas casas, onde foi possível observar um pouco mais da real
situação econômica e de moradia dessas famílias.
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3. ANÁLISES E DISCUSSÃO
Procedendo a entrevista, ao ser questionado sobre se tinha conhecimento das
condicionalidades do Programa Bolsa Família e se, no seu entendimento, tais
condicionalidades impostas para o recebimento do benefício, ajudava ou, ao contrário,
atrapalhava no seu desenvolvimento escolar e porquê? O entrevistado 1 respondeu:
ela ajuda no seu rendimento, porque, através da frequência obrigatória, a
pessoa responsável pela casa, recebe o benefício, o que ajuda muito em
casa, já que o mesmo mora com a avó, a irmã de 6 anos e uma prima de 15
e, os únicos rendimentos que a família possui é o benefício do Bolsa família
e uma pequena pensão que a vó recebe, mensalmente. (E-01)
Já o entrevistado 2 respondeu:
“tanto faz, já que de qualquer maneira, gosta de ir para a escola e isso não
se torna uma obrigação. Um incentivo, talvez, nunca uma obrigação”. (E-
02)
Porém, considerou importante pelo fato de outras pessoas não pensarem da mesma
forma e, nestes casos, faz-se necessário essa imposição. De outra forma, talvez não
frequentariam a escola e, ao frequentar, talvez adquiram gosto pelo estudo.
Faz-se necessário, de forma urgente, que sejam repensadas como são feitas as
políticas de correção das desigualdades.
Conforme nos mostra Miguel Arroyo:
Ignorar os coletivos vítimas das desigualdades e vê-los apenas como
destinatários das políticas termina empobrecendo a visão do Estado e as
análises de suas políticas e instituições. Só vendo o Estado, os governos, os
entes federados, os poderes, suas leis e diretrizes, como atores sociais e
políticos e ignorando o conjunto de atores e de forças, inclusive os coletivos
feitos desiguais, termina por produzir análises de políticas pobres,
repetitivas. Incapacitados de captar as tensões na sociedade, tornam as
análises incapazes de captar as tensões no Estado e nas suas políticas.
Tornam-se análises e propostas de políticas lineares, de cumprimento do
dever do Estado para a solução dos problemas da sociedade. (p. 1387)
Quando perguntado sobre se não existissem as condicionalidades, continuariam
frequentando a escola e por que o fariam? O entrevistado 1 respondeu que “sim”, que
continuaria frequentando a escola porque ele pretende, no futuro, ter um bom emprego para
poder sustentar a família com dignidade. Considera o estudo a única forma de mudar a
situação de vida de sua família e, neste momento, lembrou que a prima que mora com eles, de
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15 anos, está cursando o 5º ano, mesmo período que ele, com 10 anos. Disse que não
pretende seguir esse caminho de pobreza em que a família dele vive.
Da mesma forma, o entrevistado 2 também respondeu que continuaria frequentando
a escola, pois gosta muito de estudar e gosta muito dos professores. Este também lembrou
que tem um irmão de 18 anos que não demonstra nenhum interesse em estudar e que, devido
a muitas faltas na escola (do irmão), ano passado a família teve o benefício cancelado. O
mesmo não pretende seguir seus passos. Pretende fazer Educação Física, se não mudar de
ideia no decorrer dos anos.
Segundo opinião de nossos entrevistados, crescer profissionalmente significa ter
uma posição e interferir nos problemas do mundo de maneira eficiente e de forma crítica,
participando ativamente nas escolhas e soluções de problemas relacionados a sua família e ao
meio cultural, social e econômico.
Neste contexto, Paulo Freire acredita em:
Uma educação que possibilitasse ao homem a discussão corajosa de sua
problemática. De sua inserção nesta problemática. Que o advertisse dos
perigos de seu tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a
coragem de lutar, ao invés de ser levado e arrastado à perdição de seu
próprio “eu”, submetido às prescrições alheias. Educação que o colocasse
em diálogo constante com o outro. Que o predispusesse a constantes
revisões. À análise crítica de seus “achados”. A uma certa rebeldia, no
sentido mais humano da expressão. Que o identificasse com métodos e
processos científicos. (1967, p.97)
Ao ser questionado sobre o que estaria fazendo, se não existisse a condicionalidade
de frequentar a escola, o entrevistado 1 respondeu que “estaria em casa, ajudando nos
afazeres domésticos, assistindo televisão”. Como última opção, citou que, talvez, estivesse
lendo um livro.
Já o entrevistado 2 respondeu que, apesar de gostar muito de estudar, provavelmente
estaria em casa, assistindo televisão ou brincando com amigos, dando a entender que a
condicionalidade transforma, sim, a frequência escolar em uma obrigação.
Vale ressaltar aqui, a necessidade de escolarização para que o indivíduo possa se
sentir valorizado, entender dos seus direitos, saber dos seus deveres, fugindo, dessa forma, de
possíveis constrangimentos. A educação formal ajuda o ser humano a conseguir uma
autonomia que não seria possível de outra forma.
Como bem nos diz Pierre Bourdieu, em Meditações Pascalianas, referindo-se a
pessoa:
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ela somente se realiza por inteiro com a inclusão num campo erudito e,
sobretudo, num desses campos quase integralmente circunscritos ao
universo escolar, como por exemplo o campo filosófico e inúmeros campos
científicos, capazes de oferecer condições favoráveis a seu pleno
desenvolvimento. (p. 25)
A última pergunta realizada aos alunos foi se eles acham importante frequentar a
escola, se consideram que o estudo possa lhes trazer algum benefício, no sentido de melhores
condições de vida, no futuro e, se desejam continuar estudando, indicando planos para os
próximos anos. Neste ponto, o entrevistado 1, que já havia dito que pretende continuar
estudando para dar uma vida melhor a sua família, através de um bom emprego que o estudo
possa lhe conceder, respondeu novamente que considera muito importante o estudo e
pretende sim continuar estudando, até se formar em algo que ainda não pensou, devido a
pouca idade. Mas, que, só com o estudo vai conseguir atingir seus objetivos.
O entrevistado 2 respondeu que acha muito importante o estudo, considera que vai
ser bom para, no futuro ter uma profissão. Reforçou a convicção de se formar em educação
física e que, se possível, pretende dar aulas em alguma escola, como hoje faz seu professor de
educação física.
Segundo escreveu Anderson Barboza Otaviano, “Nas salas de aula ampliamos o
nosso mundo através de livros e conhecimentos adquiridos, através dos professores, viajamos
sem sair do lugar com as leituras e a internet, viajamos também na nossa imaginação”. Desta
forma, é possível afirmar que o estudo nos dá a possibilidade de adquirirmos conhecimento,
cultura e, com isso, traçarmos um caminho diferente para nossas vidas, podendo assim,
melhorar as condições financeiras e ajudar a melhorar a vida de nossas famílias.
Fazendo uma análise dos entrevistados, constatou-se, no caso do entrevistado 1, ser
uma pessoa extremamente educada, com uma postura e um equilíbrio emocional acima do
esperado para uma criança da sua idade. Demonstrou que, apesar da pouca idade e das
limitações financeiras vividas pela família, tem uma visão de vida completamente oposta a da
maioria das crianças da sua idade. Chamou a atenção o fato de vincular o estudo com um
possível “bom emprego”, no futuro, demonstrando, com isso, que realmente quer levar o
estudo a sério.
Já o entrevistado 2, apresentou-se um tanto nervoso, mascando chiclete. O tempo
todo mudava de posição na cadeira, mostrando um certo desconforto, apesar de ser alertado
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que, se quisesse poderia deixar de responder ás perguntas. Mas, no decorrer da conversa, foi
se soltando e a entrevista pode fluir de forma satisfatória.
A próxima etapa do trabalho foi entrevistar os responsáveis por esses alunos. As
entrevistas foram realizadas nas casas dos mesmos, por opção deles, pelo fato de não se
sentirem expostos e ficarem mais à vontade.
A primeira pergunta feita foi se o Programa Bolsa Família está ajudando a família a
ter melhores condições de vida e como isso está acontecendo?
O entrevistado 1, respondeu que ajuda, apesar de pouco. Considera que o valor
poderia ser melhorado e disse que, sempre conseguem comprar um chinelo, uma fruta,
quando falta outro recurso.
Já o entrevistado 2 respondeu que esse dinheiro possibilitou a instalação da internet
na casa já que, de outra forma, seria impossível. Também pontuou que acha o valor muito
baixo, que poderia melhorar, já que, como separada e responsável por dois filhos, um de 18
anos que ainda não trabalha e não tem interesse em estudar, a situação fica bastante
comprometida. E vai ficar mais difícil pois o filho que acabou de completar 18 anos, já não
terá direito ao benefício.
Ao serem questionados sobre se a família recebe periodicamente a visita de agentes
comunitários de saúde, para acompanhamento e prevenção de doenças e cada quanto tempo
isso ocorre, ambos os entrevistados responderam que não recebem esse acompanhamento.
O entrevistado 1 disse que não recebem a visita dos agentes comunitários para
acompanhamento, recebendo somente os convites para comparecerem ao local indicado, nos
dias que acontecem reuniões. Também disse que, a pesagem, que era mensal, agora é
realizada a cada três meses.
Já o entrevistado 2 disse que, até janeiro, esporadicamente recebia a visita de um
agente de saúde. Em janeiro mudou de casa e de bairro e, até a presente data (14/09/16), não
recebeu mais nenhuma visita. A pesagem, que antes era realizada mensalmente, passou a ser
semestral. O que recebe de vez em quando, é o convite para a reunião mensal, mas,
normalmente, precisa ir até lá (CRAS) para se informar da data da mesma.
Ao ser perguntado sobre se existe algum técnico da área da saúde que acompanha
para que as condicionalidades nesta área sejam cumpridas, ambos foram unânimes em
afirmar que não recebem nenhum técnico para este acompanhamento.
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O entrevistado 1 disse que nunca tomou conhecimento de deveria receber este tipo
de acompanhamento e acha bastante estranho o fato de pessoas beneficiárias do Bolsa
Família que perdem o benefício, pelo simples fato de terem conseguido levantar quatro
paredes para morar dentro. “Se ninguém acompanha, como sabem que não precisam mais do
benefício? ”, disse o entrevistado, indignado.
Por outro lado, o entrevistado 2 também disse desconhecer esse fato e acha
superimportante que alguém esteja fiscalizando pois, muitos não deveriam continuar
recebendo e recebem enquanto que outros, que tem grande necessidade, não recebem.
Referente ao questionamento sobre como é feito o acompanhamento da
condicionalidade, na área da educação, se, como responsável é chamado a escola para saber
sobre a vida escolar da criança ou adolescente periodicamente e a cada quanto tempo isso
acontece? E também foi perguntado se existe um técnico ou professor da escola que
acompanham para essas condicionalidades sejam cumpridas e de que forma, o entrevistado 1
respondeu que, cada poucos dias a coordenação solicita a presença dos responsáveis na
escola, para falar sobre a vida escolar da criança. Não existe uma pessoa específica que faça
esse trabalho, porém, sempre está a par dos acontecimentos, da vida escolar da criança.
Também informou que existe uma ficha de acompanhamento, onde, diariamente, é anotado o
que acontece com o aluno. Se faltar à escola, por exemplo, fica registrado nesta ficha a data e
o motivo da falta. Considera esse acompanhamento extremamente importante.
Sobre esse questionamento, o entrevistado 2, disse também ser chamado á escola
constantemente para acompanhar o desenvolvimento e aproveitamento escolar do filho,
respondendo aos questionamentos da direção e coordenação. Da mesma fora que o
entrevistado 1, também lembrou da existência da ficha de acompanhamento, onde são feitas
as anotações diárias, pertinentes a vida escolar do filho, considerando uma ferramenta
importante no apoio mútuo entre escola e família.
Algumas considerações importantes a fazer sobre a família e como vivem. No caso
do entrevistado 1, família extremamente humilde, mora em uma casa simples, de alvenaria,
porém, inacabada. A casa é própria e, segundo o entrevistado 1(responsável), o fato de ser
própria (a casa), é motivo de preocupação, pois, um conhecido próximo perdeu o benefício
quando conseguiu construir um barraco para morar. Porém, segundo o entrevistado, isso não
caracteriza que a pessoa já tenha adquirido estabilidade financeira, ele continua tendo muitas
dificuldades. Ou seja, tem receio de perder o benefício do Programa Bolsa Família, pelo fato
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de morar em casa própria. Foi constatado que a mobília da casa, além de ser poucas peças, é
velha e malconservada. Na sala, possuem um sofá bastante surrado, uma mesinha velha de
madeira, que ostenta uma pequena televisão, também bastante velha. Os demais cômodos,
não foi possível observar. O que sim, foi possível constatar é que existe bastante miséria e
necessidade. Isso ficou claro no momento que a menina de 6 anos pediu a sua vó algo de
comer e a vó respondeu que teria de esperar, ver se seu tio lhe traria algo para esse dia. Vale
ressaltar que a menina havia acabado de chegar da escola, por volta das 18:00 e não ficou
claro se eles teriam uma última refeição neste dia.
Já no referente ao entrevistado 2, foi observado que esta família possui um nível de
vida mais elevado. Vivem em uma boa casa de alvenaria (casa própria), bem-acabada
(precisando uns retoques na pintura). O entrevistado disse que ambos os filhos possuem
bicicletas novas e celular. Se considerarmos que possuem internet em casa, carro de boa
marca na garagem, máquina de lavar moderna e, alguns itens mais, observados na sala,
espaçosa e bem mobiliada, é possível arriscar dizer que não existe a necessidade do benefício
ao contrário do outro entrevistado.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste estudo, foi possível entender melhor a relação existente entre pobreza,
direitos humanos, ou a ausência deles, no âmbito escolar. Foi de grande importância perceber
o olhar das famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, sobre a eficácia ou não do
mesmo, onde conseguimos identificar os seus efeitos mais relevantes, avaliando os mesmos.
Identifica-se o real aumento no “poder de compra” dos beneficiários do programa, sendo que
este poder, em um dos casos mostrados, nada tem a ver com supérfluos e, sim, com as
necessidades mais básicas do ser humano, como, material escolar, água potável, entre outros.
Já no outro caso, foi constatado que o dinheiro do Programa Bolsa Família está fugindo do
seu objetivo principal, que seria o de, realmente ser utilizado para manter o aluno na escola e
não, como foi identificado, pagar a internet, que, apesar de ser importante, não deve ser a
prioridade da família.
Quando foi pensado em aprofundar os conhecimentos sobre Programa Bolsa
Família, ficou claro que estávamos nos referindo a pessoas de baixa renda. Desta forma,
parte-se do pressuposto que a essas famílias lhes falta o básico, o mínimo necessário para
uma vida digna. Conseguimos mostrar, com este estudo, que o Bolsa Família, em muitos
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casos, era, senão a única renda familiar, uma pequena contribuição para o incremento da
mesma e, que, mesmo que essa renda seja imprescindível para o sustento destas famílias
beneficiárias, é preciso melhorar a forma com que é feita essa distribuição e, principalmente,
os critérios para a distribuição deste benefício já que, muitas vezes, famílias extremamente
carentes não conseguem o referido benefício.
Como foi demonstrado através da pesquisa realizada, algumas famílias precisam
muito mais que outras do auxílio financeiro do governo. Enquanto umas utilizam o benefício
para pequenos “luxos”, para outras é primordial para a compra de itens básicos para o
sustento da família.
Ao conhecer a realidade do Programa Bolsa Família no Município de Naviraí/MS,
onde ficou claro, através das entrevistas realizadas, que falta um acompanhamento mais
rigoroso, com respeito as condicionalidades do programa. Conforme citado nas entrevistas, os
beneficiários não recebem acompanhamento adequado, referente à parte da saúde da família,
já que, raramente recebem a visita de um agente de saúde, para um acompanhamento e
prevenção de doenças. Foi possível perceber, em ambos os casos, que as crianças
entrevistadas, estão com um peso abaixo do ideal, uma delas, inclusive, apresenta sinais de
desnutrição. É preciso melhorar este acompanhamento, pois, de nada adianta a criança ser
obrigada a frequentar a escola, se apresenta problemas de saúde. Seu rendimento escolar, com
certeza, ficará comprometido.
Porém, é de extrema importância ressaltar aqui o trabalho realizado em relação ao
acompanhamento, na área da educação. Ficou claro, nas entrevistas realizadas e também em
conversas com a direção e coordenação da escola visitada, que, no tocante a educação, a
escola procura dar todo o suporte para esses alunos, através das fichas de acompanhamento,
conversas frequentes com os responsáveis por essas crianças, procurando sempre manter este
contato escola/família, muito importante nesses casos. Mas, mesmo assim, além deste
acompanhamento, faz-se necessário a presença de um técnico especializado, que mantenha
um contato mais próximo com essas famílias, reforçando a importância de se respeitar a
condicionalidade da frequência escolar, porém, também, fazendo um acompanhamento
“vocacional”, incentivando essas crianças a continuarem estudando, independente da
obrigatoriedade da frequência, como meio de obtenção do benefício. O resultado vai ser
muito melhor.
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Ambas as famílias entrevistadas citaram o fato de que, muitas vezes, neste
município, a obtenção do Programa Bolsa Família, foi vinculado a algum partido político,
que faz disso um programa eleitoreiro e que, na visão dos mesmos, isso não deveria
acontecer. Desta forma, é preciso mais rigidez na fiscalização para que o programa possa
atingir o seu principal objetivo, que é um programa assistencialista e não de “exploração
eleitoreira da pobreza”, como disse Reinaldo Azevedo, em seu blog, (out, 2014).
Com base nestas informações, foi possível entender um pouco mais a
mentalidade de uma grande parte da população, quando se refere ao Programa Bolsa Família
como uma fonte de votos. Os próprios beneficiários confirmam esse fato, deixando claro que
aqui, neste município, essa prática realmente existe.
Por esta perspectiva, é preciso salientar que a garantia dos direitos sociais que
deveriam ser efetivados pelo Estado, através das políticas sociais, como no caso o PBF, não
está cumprindo, na totalidade, seus objetivos, a partir do momento em que se torna moeda de
troca (compra de votos). Se, por um lado, o programa atingiu níveis de importância
significativos, servindo de exemplo inclusive, para outros países, por outro lado, ele deixa de
cumprir, em muitos casos, sua principal função, que é a de “programa assistencialista”, de
transferência de renda.
Para que o PBF atinja o ápice, cumprindo com seus objetivos, é preciso que ele seja
isento de corrupção e que atenda, única e exclusivamente, os interesses das classes mais
empobrecidas de nossa sociedade, independentemente de partido A, B ou C. Através de um
melhor acompanhamento da distribuição desses recursos, fazendo com que eles cheguem a
quem realmente necessite.
5. Referências
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