poesia - a busca de identidades em paula tavares, conceição lima e odete semedo
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Literatura AfricanaTRANSCRIPT
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Universidade Federal de Juiz de Fora
Estudos Comparados de Literatura Africana
Aluna: Gabriella Nascimento de Lima
A busca de identidades em Paula Tavares, Conceição Lima e Odete Semedo
É possível observar, nas obras das poetas Paula Tavares, Conceição Lima e
Odete Semedo, a tentativa de construção de identidades – coletivas ou individuais. Essa
busca é representativa de povos que se libertam das amarras do colonialismo e buscam
as suas origens e de sua terra; mas, ao mesmo tempo, precisam aprender a lidar com as
heranças deixadas pelos colonizadores e pelos efeitos da modernidade e da
globalização, que tornam mais difícil a retomada de valores das tradições.
Os poemas do livro “Ritos de Passagem”, de Paula Tavares, exemplifica esse
embate entre a tradição e a modernidade. Há uma espécie de estranhamento entre as
culturas africanas e europeias, numa espécie de “tensão cultural”. Porém, além das
questões relativas à nação, a poesia da angolana busca resgatar a identidade feminina,
numa tentativa de autoafirmação da mulher como sujeito lírico e amoroso. Essa
afirmação é, sobretudo, individual: não há a coletivização do corpo e da sensualidade
feminina em forma de representação da terra, da pátria, etc.
No primeiro poema, “Cerimônia de Passagem”, a autora apresenta a mulher
como uma semeadora de vida, responsável pela fecundidade da humanidade e da terra.
Essa relação do feminino com a vida é central na obra, e retomada em outros poemas.
Em diversos momentos, o corpo feminino é comparado a frutas ou outros elementos da
natureza, em metáforas que remetem à ideia de “semear” e que buscam desmistificar a
sexualidade da mulher.
Já na obra de Conceição Lima percebe-se a representação de identidades plurais.
No poema “Canto Obscuro às Raízes”, a poeta fala sobre seu avô, cuja identidade não
se consegue estabelecer. Sabe-se apenas que ele era um trabalhador nas plantações de
chá, levado para São Tomé e Príncipe. Não sabe seu nome, então atribui-lhe um nome
genérico: Abessole. E ao longo do poema, cita o nome de quatro grandes rios africanos,
ressaltando que o avô pode ter vindo de qualquer um deles, mas jamais voltará, para
nenhum deles. Ou seja, por não ter nenhuma certeza sobre a identidade do avô, a autora
pode atribuir-lhe a origem que quiser.
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O avô do poema pode ser encarado como uma representação das origens do
próprio povo de São Tomé e Príncipe, de origens diversas e tradições que foram se
perdendo, mas que deram origem a um povo cuja cultura traz a marca da multiplicidade
de sua formação. É essa a identidade plural que Conceição Lima representa em seus
poemas.
Odete Semedo, de Guiné-Bissau, também tenta buscar uma identidade coletiva,
de seu país, através de seus poemas. No entanto, essa tentativa não é bem-sucedida. Seu
projeto de literatura é otimista, representando a própria ideia de liberdade da pátria. No
entanto, da mesma maneira que essa liberdade encontra alguns entraves para que se dê
por completo, a literatura vai deixando o otimismo de lado para se tornar, aos poucos,
ceticista. Esse ceticismo faz com que Semedo, ainda que ame sua pátria, consiga
reconhecer os seus problemas. Em seu livro “No fundo do canto”, encontramos poemas
que exaltam Guiné-Bissau e seu ideal utópico de país livre. No entanto, o processo de
libertação possui alguns reveses, entre eles os traidores da pátria, chamados pela autora,
no poema “O prenúncio encontrou a história”, de “filhos mal abençoados/portadores da
desgraça”.
Referências Bibliográficas:
LIMA, Conceição. A dolorosa raiz do micondó. São Paulo: Geração Editorial, 2012.
PEREIRA, Prisca Agustoni de A. A circularidade inacabada de Paula Tavares. In:
Caderno Cespuc de Pesquisa. Belo Horizonte, n.16, p. 73-96, set 2007.
SEMEDO, Odete. No fundo do canto. Belo Horizonte: Nandyala, 2007.
TAVARES, Ana Paula. Ritos de Passagem. Lisboa: Caminho, 2007.