poesia acerca de "palavras"
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Selecão de poemas alusivos ao tema "Palavras".TRANSCRIPT
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H Palavras que Nos Beijam
H palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperana, De imenso amor, de esperana louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mrmore distrado No papel abandonado) Palavras que nos transportam Aonde a noite mais forte, Ao silncio dos amantes Abraados contra a morte.
Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'
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De longe muito longe desde o incio
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a gua
E tudo emergiu porque ele disse
Com fria e raiva acuso o demagogo
Que se promove sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a
terra
Com Fria e Raiva
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
Com fria e raiva acuso o
demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois preciso saber que a
palavra sagrada
Que de longe muito longe um
povo a trouxe
E nela ps sua alma confiada
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Certas Palavras
Certas palavras no podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiana,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
l onde a polcia dos adultos
no adivinha nem alcana.
Entretanto so palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, actos
do viver que s os grandes se permitem
e a ns defendido por sentena
dos sculos.
E tudo proibido. Ento, falamos.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Boitempo'
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A Palavra Mgica
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro. Como desencant-la?
a senha da vida a senha do mundo.
Vou procur-la.
Vou procur-la a vida inteira no mundo todo.
Se tarda o encontro, se desanimo, procuro sempre. no a encontro,
no
Procuro sempre, e minha procura ficar sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera'
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Sobre a Palavra
Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece
Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama
Assim se morre dizias tu
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a
cintura
Na porosa fronteira do silncio
a mo ilumina a terra inacabada
Interminavelmente
Eugnio de Andrade, in "Vspera da gua"
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As palavras
So como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vm, cheias de memria.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as guas estremecem.
Nejnost
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas so de luz
e so a noite.
E mesmo plidas
verdes parasos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugnio de Andrade in O Corao do Dia
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A Palavra
J no quero dicionrios Marcolino
consultados em vo.
Quero s a palavra
que nunca estar neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivssemos
todos em comunho,
mudos,
saboreando-a.
Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixo Medida
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Palavras
Tocam-me
Como lbios,
Como beijos.
Pssaros, sedentes de ramos
E de sombra,
Pousam-me nos ombros.
A movimentos de asa,
Desenham-me ainda um corpo
-secreta arquitectura de gua,
Rasgada no vento
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Como escrevo No escrevo a minha poesia com palavras estudadas Se o fizesse outras palavras teriam de ser inventadas
Escrevo
Brincando com as ideias com as verdades e como muita imaginao
derramada
Ana Bela A. Pita Silva, in Mars Vivas
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Palavras
No gastemos
palavras inteis
Nenhum de ns
tem necessidade
de atras delas
se escudar
Empreguemos s
as palavras
que nos possam
acariciar
Mnica Carretero
Ana Bela A. Pita Silva, in Mars Vivas
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Primeira Palavra
Autor desconhecido
Aproxima o teu corao
e inclina o teu sangue
para que eu recolha
os teus inacessveis frutos
para que prove da tua agua
e repouse na tua fonte
Debrua o teu rosto
sobre a terra sem vestgio
para a anunciada visita
at que nos lbios humedea
a primeira palavra do teu
corpo
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As Palavras!
bom brincar com as palavras!
Construir frases coloridas de aromas e sons!
E, com as mesmas,
Desbravar horizontes infindos de iluso.
Horizontes que,
Mesmo se os alcanar
Nos fazem felizes,
Somente, porque nos permitido
Sonhar! Autor desconhecido
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O depois das Palavras
Ouo o depois das palavras
pelo teu olhar de dedos
tocando a janela
(Talvez te tenhas esquecido,
que apenas sem ti
sou algum distrado)
No precisas de me dizer
seja o que for,
acredito mais no teu rosto
do que na tua voz bombardeada,
onde tudo o que tens posto
so escombros
de um nada
Lus Ferreira Oliveira, in vento, cordas do violino verde
Conheo-te sem adjectivos
e s assim eu te conheo
s sempre mais do que qualquer
palavra:
(o indefinido que me define
a imaginao, que te grava
no meu corao)