pollyanna de souza guedes soares
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EFEITO DA FREQUÊNCIA DE TREINAMENTO SOBRE A POTÊNCIA
ANAERÓBIA ALÁTICA DE JOGADORAS DE HANDEBOL
Pollyanna de Souza Guedes SoaresBolsista do Programa de Iniciação Científica do UNILESTE-MG 2001. Graduada em Educação Física pelo UNILESTE-MG.
Jacqueline de Paula ViveirosMestre em Ciências do esporte pela UFMG - UNILESTE-MG - Profa. CEFET-MG.
RESUMO
Um treinamento de três vezes por semana, por um período de 08 (oito) a 10 (dez) semanas,
em condições específicas de intensidade e duração, é o suficiente para garantir mudanças na
capacidade anaeróbia alática. Entretanto, não se sabe até que ponto, um aumento da
freqüência de treinamento pode resultar em ganhos adicionais. Para verificar o efeito da
freqüência de treinamento sobre a potência anaeróbia alática de jogadoras de handebol, 18
(dezoito) atletas do sexo feminino, categoria cadete, foram submetidas à duas condições
experimentais: 06 (seis) atletas participaram de um programa de treinamento com uma
freqüência de três vezes por semana (FREQ03 - PROGRAMA I) e 09 (nove) realizaram o
mesmo programa acrescido de duas sessões adicionais, ou seja, com uma freqüência de cinco
vezes por semana (FREQ05 - PROGRAMA II), por um período de 10 (dez) semanas.
Previamente a participação no programa de treinamento (PRÉ-TESTE) e na primeira semana
após o seu encerramento (PÓS-TESTE), as voluntárias foram submetidas a uma avaliação da
potência anaeróbia alática através do teste de “corrida de 50 metros” (MATSUDO,1987) e um
teste de “subida de escada”, no qual uma altura de 8 (oito) metros foi percorrida através da
subida de 20 (vinte) degraus na maior velocidade possível. Não houve diferença na potência
anaeróbia alática em relação aos grupos FREQ03 e FREQ05 identificada através do teste de
"corrida de 50m". Os programas de preparação física (PROGRAMA I e PROGRAMA II)
resultaram em melhoria na potência anaeróbia alática identificada através do teste "de subida
de escada" das jogadoras de handebol. Entretanto, treinar cinco vezes por semana não resultou
em ganhos adicionais na potência anaeróbia alática das jogadoras de handebol, quando
comparado com treinar três vezes por semana.
Palavras-chaves: Potência Anaeróbia Alática, Preparação Física, Freqüência de Treinamento.
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ABSTRACT
A three-times a week from eight to ten weeks under specific intensity and duration is enough
to garantee changes in the alathic anaerobic capacity. However, it is unknown the direct
conection between the increase of frequency and these extra gains. In order to check the
effects of the trainning program frequency on alathic anaerobic power, 18 female handball
players, cadet cathegory were invited to be part in this research. In data two groups were
formed and both had a ten-week trainning program the first one six ( 06 ) players took part in
a three times a week program (FREQ03 - PROGRAMA I) and the second one nine (9)
players did a fime times a week program (FREQ05 - PROGRAMA II). Therefore
the second group had two seccions a week added to its program, changing its
frequency. Apart from the trainning program research, all 18 volunteers
had to be under two physical avaluations. One before the beginning of the
research (pre-tex) and the the other, just one week after the program´s end. These physical
avaluations purpose was to observe the alathic anaerobic power in each playears. The
avaluation consisted in a 50 meters run (MATSUDO, 1987) and the climbing of a 8 meter
stari ( about 20 steps) as fast as they could. It could be concluded that there had been hanges
in thealathic anaerobic power in both groups (FREQ03 e FREQ05) in relation
to the running text. On the other hand, the physical preparation program (PROGRAMA I e
PROGRAMA II)) had shown the improvement on the alathic anaerobic power of the players
through the climbing text. Finally there had been proved that. The frequency within the
trainning program does not change alathic anaerobic power in the players. It means, a five
times a week program does not increase the alathic anaerobic power over a three
times a week program.
Key-words: Alathic Anaerobic Power, Physical Preparation, Trainning Program Frequency
INTRODUÇÃO
Todo movimento requer um suprimento contínuo de energia para que ocorra transferência de
energia no corpo. A energia é recolhida e conduzida através de um composto rico em energia
denominado trifosfato de adenosina – ATP - que está presente e armazenada no corpo em toda
e qualquer situação, seja em repouso ou em movimento (Mcardle, Katch & Katch, 1991). Os
músculos dispõem de três principais mecanismos de reposição de ATP, o metabolismo
anaeróbio alático, anaeróbio lático e o aeróbio. Durante a atividade física, estes sistemas
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contribuem com ATP, sendo que a participação de cada um, se dá em função da sua
intensidade e duração (Piovezan, 1985).
Esportes coletivos, de uma forma em geral, compreendem esforços de alta intensidade
realizados por períodos de curtíssima duração, compreendendo movimentos de natureza
anaeróbia que podem ser sustentados pelos jogadores ao longo dos 40 e 90 minutos de
duração de uma partida (Kokubun, E. & Daniel, J. F., 1992). O handebol é um esporte
coletivo de ações imediatas, que utiliza predominantemente o sistema anaeróbio alático de
transferência de energia ou sistema ATP-CP, fornecendo a energia imediata necessária às
reações características desse desporto. Um programa de preparação física eficiente contribuirá
com peso proporcional em relação aos sistemas energéticos específicos que participam da
atividade (Foss, M. L. & Keteyian, S. J., 2000).
Uma freqüência de treinamento eficiente é aquela que garante intervalos entre as sessões de
preparação física que não resultem em uma redução nas adaptações fisiológicas induzidas
pelo treinamento. Sabe-se que os efeitos de treinamento são transitórios e reversíveis.
Três sessões de treinamento por semana, por um período mínimo de 08 a 10 semanas, em
condições específicas de intensidade e duração, é suficiente para garantir mudanças
significativas nas capacidades físicas intervenientes do desporto. Para Mcardle, Katch &
Katch (1998), não se sabe até que ponto um aumento na freqüência de treinamento pode
resultar em ganhos adicionais na capacidade funcional, ou representar um investimento extra
de tempo não proveitoso, sendo que diferentes autores divergem quanto a importância dada a
este componente do exercício. Dessa forma, o estudo sobre o efeito da freqüência de
treinamento sobre a potência anaeróbia alática de jogadoras de handebol pode contribuir
como subsídio para a o planejamento de programas de preparação física, bem como para a
realização futura de estudos específicos, através da análise e discussão deste componente do
exercício físico.
REVISÃO DE LITERATURA
Bioenergética na atividade física e potência anaeróbia alática
Os mecanismos de transferência de energia ocorrem com a síntese e ressíntese das moléculas
de ATP, caracterizado como a única fonte imediata de energia para o desenvolvimento das
atividades físicas. Considerando que as moléculas de ATP estocadas são limitadas para suprir
os vários tipos de atividades a serem realizadas, o organismo necessita da contribuição dos
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sistemas anaeróbio e aeróbio de transferência de energia. A intensidade e duração da atividade
física é que determinará o sistema energético predominantemente solicitado durante a sua
realização (Dantas, 1998).
O sistema aeróbio ou oxidativo é também chamado de sistema de transferência de energia a
longo prazo, por estar associado à realização de atividades de longa duração a uma
intensidade leve a moderada permitindo ao organismo transportar e absorver todo o oxigênio
necessário para a produção de ATP exigida pela atividade.
O sistema anaeróbio lático ou glicolítico, ou sistema de transferência de energia a curto prazo,
é utilizado predominantemente em exercícios de alta intensidade e curta duração (máximo de
dois minutos).
O sistema anaeróbio alático, ou ATP-CP de transferência de energia fornece energia imediata,
e segundo Piovezan (1985), é um sistema de grande potência e de pequena capacidade para
produzir ATP. Em razão do pequeno número de reações neste sistema, e da rápida
disponibilidade dos substratos, é utilizado quando o organismo executa atividades de
curtíssima duração e grande intensidade, como corrida de 100 metros rasos, 25 metros na
natação e o saque durante uma partida de voleibol. os músculos necessitam de um aporte
rápido de energia.
Segundo Pini (1983), “o desempenho físico do ser humano é fracionado em variáveis de
performance, que serão fatores determinantes nas diversas modalidades que um atleta pode
atuar”. Uma análise da modalidade esportiva permite caracterizar as variáveis mais
importantes para orientar e elaborar os testes específicos a serem aplicados para a
fundamentação fisiológica e biomecânica do atleta (Pini, 1983).
A avaliação da capacidade anaeróbia pode ser determinada através de testes onde a velocidade
de utilização dos compostos fosforados e do glicogênio é limitada pelas reservas disponíveis,
que determinarão a potência anaeróbia utilizada (Pini, 1983).
A estimativa de produção de energia por esta via pode ser dada pelo tamanho do reservatório
intramuscular de ATP-CP, a velocidade de depleção do ATP-CP em resposta ao exercício de
intensidade máxima e curtíssima duração, o déficit de O2 e pela porção alática de captação
de oxigênio da recuperação (Mcardle, Katch & Katch, 1998). Um dos testes indicados para
mensuração desta potência, é o teste de WINGATE para cicloergômetro.
A estimativa de produção de energia anaeróbia alática, pode ainda ser determinado por testes
de desempenho que acarretam a ativação máxima desse sistema de energia, com duração de 5
a 10 segundos (Mcardle, Katch & Katch, 1998).
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Segundo Matsudo (1987), “a corrida de 50 metros é um dos métodos mais utilizados para
medir de maneira indireta a potência anaeróbia alática, pois os 50 metros é percorrido em
torno de 10 segundos , pico máximo do metabolismo ATP-CP” .
O teste de subida de escada é muito utilizado e consiste em medir a potência muscular de um
atleta em sua velocidade máxima, assim a potência é dada por medida do componente vertical
pela unidade de tempo. Pode ser apropriado para avaliar os mesmos indivíduos antes e depois
de um treinamento específico destinando a avaliar seu rendimento de potência em relação ao
sistema de energia imediata (Mcardle, Katch & Katch, 1998).
Nestes testes em geral, a potência pode ser assim computada, P = (F x d) t onde F é a força
gerada em quilogramas (Kg), d é a distância através da qual a força é movimentada em metros
e t é a duração do exercício, em minutos. Seu resultado pose ser dado em watt, Kgm.min-1 ou
Kgm.s-1 (Mcardle, Katch & Katch, 1998).
Um dos testes de subida de escada comumente utilizados é o Teste de Potência de Margaria
que consiste em o indivíduo subir correndo alguns lances de escada o mais rapidamente
possível. O indivíduo salta nove degraus, sendo três degraus por vez e um computador se solo
dispara o cronômetro no terceiro degrau e um segundo computador de solo interrompe no
nono degrau encerrando o teste.
A inter-relação entre os resultados encontrados nos testes, pode não ser alta pois: “o
desempenho humano é altamente específico para cada tarefa” (Mcardle, Katch & Katch,
1998). A necessidade de um componente neuromuscular e de perícia específicos para cada
teste específico também faz com que os escores sejam mais variáveis.
Dessa forma a avaliação é importante para a prescrição de uma programa de preparação física
constituindo-se em oferecer a melhora desejada das estruturas fisiológicas do organismo,
melhorando também a técnica nas próprias condições da atividade desportiva.
Preparação física e freqüência de treinamento
Segundo Dantas (1998), “a preparação física constitui-se pelos métodos e processos de treino,
utilizados de forma seqüencial em obediência aos princípios da periodização e que usam
levar o atleta ao ápice de sua forma física específica”.
Um programa de treinamento eficiente e sistematizado contribuirá com um peso proporcional
em relação aos sistemas energéticos específicos que participam da atividade. Durante um
exercício, quanto mais solicitado for determinado sistema energético, maior será o potencial
de aprimoramento das atividades que dependem desse sistema (Dantas, 1998).
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Freqüência e duração das sessões, tipo de treinamento, intensidade, duração e repetição da
atividade, são fatores imprescindíveis aos métodos de treinamento utilizados na preparação
física.
A manipulação desses fatores, por sua vez, depende da consideração dos princípios básicos do
treinamento que consistem em reconhecer a principal fonte energética utilizada na realização
de determinada atividade a partir dos princípios da sobrecarga, da especificidade, da
reversibilidade e da individualidade biológica, para construir um programa capaz de
desenvolver essa fonte energética em particular, mais que qualquer outra.
Com base em todos esses princípios fisiológicos, para que um indivíduo mantenha níveis
ideais de aptidão física e um bom condicionamento em um programa de preparação física,
deve-se levar em conta não apenas a intensidade e duração do exercício a se realizar como
também a freqüência ideal de treinamento, para produzir alterações metabólicas e funcionais
desejadas. Segundo Weineck (1999), a escolha adequada dos componentes da sobrecarga
adequada também será de grande importância na qualidade do treinamento e na obtenção de
um efeito especial qualquer.
A freqüência do treinamento refere-se ao numero de vezes em que um indivíduo se exercita
por semana. Dependendo da finalidade do programa, a freqüência semanal de exercícios
deverá ser aumentada gradativamente. Alguns estudos indicam que o ideal é exercitar-se 5 a 6
vezes por semana, e que somente 2 vezes por semana não poderá produzir modificações
significativas no metabolismo (Guedes & Guedes, 1998). Segundo Foss, M. L. & Keteyian, S.
J., (2000) a freqüência recomendada da preparação física com finalidade anaeróbica, é de 3 a
4 dias por semana com apenas uma sessão de treinamento por dia. Os atletas que desejam
desenvolver o sistema ATP-CP deverão focalizar o trabalho com piques repetidos com
duração de 25 segundo ou menos. Em estudos realizados por Atomi (1978), Fringer (1974) e
Kilbom (1971) citado por Piovezan (1985), em relação à freqüência de treinamento,
realizando-se treinamento de 2 ou 3 vezes por semana, observou-se que essa freqüência foi
suficiente para induzir alterações significativas em mulheres normais. Já Tubino (1979) e De
Hegedus (1976) recomendam quatro a cinco treinamentos semanais para trabalhar esta
variável. Em relação à duração, estudos com mulheres jovens sedentárias, com apenas 4
semanas de treinamento e de 5 sessões por semana observou-se melhorias na aptidão física
geral.
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Segundo Foss, M. L. & Keteyian, S. J., (2000) um programa de preparação física voltado para
o aprimoramento da capacidade anaeróbia geralmente desenvolve-se por um período de 8 a 10
semanas induzindo alterações fisiológicas significativas.
Segundo ACMS (1999) a freqüência de treinamento está relacionada com a intensidade e
duração dos exercícios. De acordo com a capacidade funcional e fatores limitantes do
desempenho de cada indivíduo a freqüência de treinamento pode variar de 2, 3 a 5 sessões
semanais independente dos exercícios realizados por sessão causando adaptações necessárias
ao metabolismo.
Desta forma, uma freqüência recomendada, baseia-se nas possibilidades do programa de
preparação física provocar adaptações fisiológicas que contribuam para um melhor
desempenho físico.
O efeito do treinamento anaeróbio pode ser decorrente de alterações morfológicas,
fisiológicas ou psicológicas crônicas (Foss, M. L. & Keteyian, S. J., 2000). As adaptações
metabólicas que acompanham o treinamento, exigem um alto nível de metabolismo que
produzem alterações específicas nos diferentes sistemas de transferência de energia.
Em decorrência do treinamento anaeróbio os músculos esqueléticos, resultantes do
treinamento anaeróbio, apresentam maiores capacidades do sistema ATP-CP e da glicose
anaeróbia em gerar ATP. Isso se dá com um aumento nos níveis de substratos anaeróbios em
repouso que indicam um aprimoramento da força muscular (com aumentos significativos de
ATP e CP, creatina livre e glicogênio).
Em decorrência dessas alterações, também há um aumento na quantidade e na atividade das
enzimas-chave que controlam a fase anaeróbia do fracionamento da glicose, bem como o
treinamento pode ocasionar aumentos significativos no tamanho das fibras musculares de
contração rápida (Mcardle, Katch & Katch, 1998).
Sob o ponto de vista enzimático, segundo Staudte (1973) e Thorstenson (1975) citado por
Piovezan (1985), o treinamento altera várias enzimas-chave do sistema ATP-CP, entre elas
ATPase, mioquinase e creatina-cinase. Para Thorstenson (1975) citado por Piovezan (1985)
após um treinamento de 8 a 10 semanas de corrida, há um aumento de 30% de ATPase, 20%
mioquinase e 36% de creatina-cinase. Dantas (1998) também cita que oito semanas de
treinamento induzem aumentos significativos das enzimas-chave. Karlsson (1972) citado por
Piovezan (1985), realizando um treinamento de longa distância, durante 7 semanas, com 3
dias por semana, verificou um aumento de 25% nas reservas musculares de ATP.
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Sobre o sistema ATP-CP, Hultman (1967) citado por Piovezan (1985) demonstrou que
concentrações musculares de ATP e CP nas mulheres são as mesmas dos homens, cerca de
4mM/Kg de músculo para ATP e 16mM/Kg de músculo para CP. Devido a uma menor massa
muscular esquelética total na mulher existe menos fosfagênio total disponível para ser usado
durante o exercício.
As alterações decorrentes da preparação física anaeróbia, em conjunto conduzem ao
aprimoramento da potência anaeróbia máxima incluindo não só a melhora das vias
energéticas solicitadas mas também o recrutamento de unidades motoras (Mcardle, Katch &
Katch, 1998).
Handebol e freqüência de treinamento
A duração dentro de uma sessão diária de treinamento varia de desporto para desporto, sendo
que para os desportos coletivos pode-se ter uma duração do período de treinamento de 8 (oito)
a 10 (dez) semanas. Para Slovik (1976) as sessões de treinamento no handebol são divididas
em quatro partes. A parte inicial com duração de 5% a 7% do tempo total da sessão do treino,
onde todo o processo metodológico será enfatizado; a parte preparatória com duração de 10%
a 15% do tempo de treino, nesta fase a preocupação será com a preparação do organismo do
jogador; a parte principal com duração de 65% a 75% do total da sessão que tem como
finalidade a essência do treino, desenvolvendo os fundamento técnico-tatico, físico e
psicológico; e a parte final com duração de 10% a 13% do tempo total de treino com
finalidade de criar condições para restaurar o funcionamento normal do organismo.
A freqüência de treino constitui o componente básico do processo de treino através do qual o
treinador cumpre os objetivos e tarefas do plano anual de treino, uma vez que, a qualidade e a
eficácia do mesmo produz efeito no desenvolvimento do rendimento desportivo.
Como descrito anteriormente segundo Foss, M. L. & Keteyian, S. J. (2000), a freqüência
recomendada de treinamento com finalidade de incorporar o treinamento anaeróbio no
esquema das atividades de diversos desportos coletivos, seria de três vezes a quatro dias por
semana, com apenas uma sessão de treino por dia.
A princípio, fica difícil estabelecer possibilidades de adaptações adicionais sobre as
capacidades energéticas decorrentes dos exercícios relacionadas à freqüência de treinamento.
Segundo Garcia (1990), no handebol para se determinar a freqüência de treinamento ideal, é
preciso se estabelecer características específicas da equipe, e os objetivos que desejam
alcançar durante o processo de treinamento, sendo obtidas sessões favoráveis para se
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aprimorar as capacidades físicas, bem como as capacidades fisiológicas envolvendo os
sistemas energéticos mais solicitados durante a realização das atividades. Para Greco (2000) o
handebol por ser um esporte coletivo que envolve força explosiva (ou potência), necessita de
um programa de treinamento bem sistematizado visando a melhoria da força muscular em
função do rendimento, com disso, recomenda-se uma freqüência de treinamento de três a
quatro vezes por semana com a carga podendo chegar até 90% da Fmáx para atletas em período
de competição podendo durar de oito a dez semanas.
O que se sabe , segundo Fox, Bowers & Foss (1991), é que freqüência de treinamento de três
vezes por semana durante um período de oito a dez semanas é o suficiente para garantir
mudanças na capacidade anaeróbia alática. Por outro lado, um programa de treinamento de
menos de duas vezes por semana, não produz alterações adequadas, seja na capacidade
aeróbia ou anaeróbia (Mcardle, Katch & Katch, 1991).
METODOLOGIA
Amostra
Participaram do estudo 18 (dezoito) indivíduos do sexo feminino, da categoria cadete, atletas
de handebol. A participação no estudo foi voluntária.
Materiais e métodos
Caracterização da amostra
Previamente à realização do estudo, as voluntárias foram submetidas à avaliação
antropométrica. A caracterização da amostra foi desenvolvida no Centro de Estudos em
Fisiologia do Exercício do Curso de Educação Física do Centro Universitário do Leste de
Minas Gerais – UNILESTE-MG.
Para as medidas do peso e altura corporal, foi utilizada uma balança, da marca Filizola, com
toesa acoplada, graduada em gramas e centímetros, respectivamente.
Para avaliação da composição corporal, foi utilizado o método de estimativa da gordura
corporal através das medidas de dobras cutâneas, segundo Pollock citado por Guedes (1998),
com a utilização de um plicômetro da marca Lange, graduado em milímetros.
Procedimento experimental
Para a participação no estudo, as voluntárias foram divididas em dois grupos, com 9 (nove)
voluntárias no grupo 01 (um) e 9 (nove) no grupo 02 (dois):
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grupo 01 – controle – FREQ03;
grupo 02 – experimental – FREQ05.
As voluntárias foram submetidas a avaliação da capacidade anaeróbia alática antes (PRÉ-
TESTE) e após (PÓS-TESTE) a realização do experimento.
Durante 10 (dez) semanas, o grupo controle (FREQ03) foi submetido às condições de
treinamento previamente estabelecidas pelo treinador responsável (PROGRAMA I), a uma
freqüência de 03 (três) sessões por semana. Neste mesmo período o grupo experimental
(FREQ05), foi submetido ao PROGRAMA I de treinamento e a 02 (duas) sessões adicionais
de treinamento a cada semana, também estabelecidas pelo treinador responsável
(PROGRAMA II).
Os programas de treinamento foram elaborados e ministrados sob a supervisão do professor,
treinador responsável pela equipe e colaborador, em ginásio poliesportivo de um Centro
Esportivo de Ipatinga, Minas Gerais.
Avaliação da capacidade anaeróbia alática
Para a avaliação da capacidade anaeróbia alática, as participantes do estudo foram submetidas
ao teste de: “corrida de 50 metros”, segundo MATSUDO (1987), bem como à determinação
da potência anaeróbia alática através de uma corrida lançada em uma escada, na qual uma
altura de 8 metros foi percorrida através da subida de 20 degraus na maior velocidade
possível. Os degraus possuíam 40cm de altura, por 80cm de largura e foram percorridos um a
um.
A potência desenvolvida na realização do teste de subida de escada de foi determinada a partir
da equação;
Para determinação do tempo gasto foi utilizado um cronômetro digital da marca Casio. Os
testes foram aplicados no Estádio de Futebol Epaminondas Mendes Brito (Ipatingão),
utilizando pista e arquibancada.
Análise estatística
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Onde:
P = potência (kgm.s-1)
F = peso (kg)
d = distância total percorrida em metros (m)
t = tempo gasto durante o percurso (s)
Para a análise dos dados foi utilizado o Teste t de Student, com um nível de significância de p
< 0, 05.
Cuidados éticos
Ao apresentarem-se como voluntárias, as atletas foram informadas quanto aos objetivos e aos
procedimentos metodológicos do estudo. Foi providenciado o consentimento por escrito de
cada voluntária com idade superior a 18 (dezoito) anos e dos pais ou responsáveis legais, no
caso das voluntárias com idade inferior.
O estudo se realizou com a autorização, por escrito do treinador responsável pela equipe
envolvida.
Todos os cuidados foram tomados no sentido de garantir a integridade física e mental de
todos os participantes, bem como para garantir o seu anonimato.
As voluntárias foram previamente informadas que a qualquer momento poderiam deixar de
participar do estudo, por livre escolha, sem qualquer constrangimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Objetivando uma maior compreensão deste estudo, os resultados serão apresentados e
discutidos simultaneamente em relação aos tratamentos empregados.
Inicialmente, na tentativa de melhor caracterizar a amostra utilizada, as variáveis idade,
estatura, peso corporal e gordura corporal total são apresentadas na TABELA 1.
TABELA 1 – Valores Médios das Características Antropométricas
Grupo
Experimental
Peso
(kg)
Altura
(cm)
Idade
(anos)
Gordura Corporal
(% do peso corporal)
FREQ03 57,4 6,98 163,5 2,88 15,67 0,52 19,0 1,77
FREQ05 59,2 9,79 163,2 4,21 15,78 0,44 19,3 1,41
Média desvio padrão das características da amostra. FRE03 representa o grupo controle que realizou treinamento 3 vezes por semana (n=6); FREQ05 representa o grupo experimental que realizou treinamento 5 vezes por semana (n=9).
A partir da TABELA 1, observou-se que os mesmos apresentam características bem
homogêneas em relação às variáveis altura, idade, peso e gordura corporal.
A TABELA 2 apresenta valores médios obtidos em relação a determinação da potência
anaeróbia alática através do teste corrida de 50m.
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TABELA 2 – Potência Anaeróbia Alática
Experimento Grupo Pré-teste Pós-teste
Corrida de 50m (s)
FREQ 03 8,74 0,60 8,49 0,60
FREQ 05 8,05 0,34 7,92 0,42
Média desvio padrão dos valores obtidos no teste corrida de 50m. FREQ03 representa o grupo controle que realizou treinamento 3 vezes por semana (n=6); FREQ05 representa o grupo experimental que realizou treinamento 5 vezes por semana (n=9). * Diferença entre e pós e pós para p ≤ 0,05.
Quanto à verificação da potência anaeróbia alática percebe-se que, os valores obtidos no pré e
pós-teste do grupo controle e experimental no teste corrida de 50m, não apresentaram
mudanças significativas nessa variável fisiológica.
A TABELA 3 apresenta valores médios obtidos em relação a determinação da potência
anaeróbia alática no teste subida de escada.
TABELA 3 – Potência Anaeróbia Alática
Experimento Grupo Pré-teste Pós teste
Subida de Escada
(kgm.s-1)
FREQ 03 59,81 10,02 65,79 12,26*
FREQ 05 73,37 16,79 79,90 16,64*Média desvio padrão dos valores obtidos no teste subida de escada. FREQ03 representa o grupo controle
que realizou treinamento 3 vezes por semana (n=6); FREQ05 representa o grupo experimental que realizou treinamento 5 vezes por semana (n=9). * Diferença entre e pós e pós para p ≤ 0,05.
Quanto à verificação da potência anaeróbia alática percebe-se que, os valores obtidos no pré e
pós-teste do grupo controle e experimental demonstram uma melhora em relação à potência
adquirida em resposta ao treinamento de dez semanas. Dessa forma, ambos os programas de
preparação física (Programa I e Programa II) resultaram em melhoria na potência anaeróbia
alática das jogadoras de handebol identificada através deste teste.
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Entretanto, treinar cinco vezes por semana não representou em ganhos adicionais na potência
anaeróbia alática das atletas, quando comparado com o programa de três vezes por semana.
Segundo Mcardle, Katch & Katch (1998), a inter-relação dos resultados encontrados em
diferentes testes pode não ser significativa, pois, o desempenho humano é altamente
específico para cada tarefa, embora os testes realizados sejam ambos indicados para a
avaliação da potência anaeróbia alática.
Embora tenha ocorrido uma melhora em relação à potência anaeróbia alática das atletas
identificadas no teste de subida de escada, representando, um indicador de maior eficiência do
metabolismo anaeróbio alático, estatisticamente não foi suficiente para a aceitação da hipótese
deste estudo de que treinar cinco vezes por semana melhora a potência anaeróbia alática, ou
seja, de acordo com os valores calculados no teste t ( tcalc =2,11; tcalc = 0,79), os mesmos são
superiores ao nível de significância previamente estabelecido (ttab, 0,05 = 2,16). Autores como
Tubino (1979) e De Hegedus (1976) recomendam quatro a cinco treinamentos semanais para
o aperfeiçoamento da capacidade anaeróbia alática, o que contraria em parte os achados deste
estudo (FREQ 03). De acordo com Guedes & Guedes (1998), exercitar-se de 5 a 6 vezes por
semana produzirá modificações significativas no metabolismo em geral, não só
especificamente da variável anaeróbia alática, e que somente duas vezes por semana não
produzirá alterações significativas. Mas para Atomi (1978), Fringer (1974) e Kilbon citado
por Piovezan (1985), uma freqüência de treinamento de duas e três vezes por semana foi o
suficiente para produzir alterações significativas em mulheres normais. Tais alterações foram
observadas por Satudte (1973) e Thorstenson (1975) citados por Piovezan (1985) após um
treinamento de corrida durante 8 a 10 semanas com conseqüente aumento das enzimas
ATPase (30%), mioquinase (20%) e creatina-cinase (36%), enzimas essa responsáveis pela
síntese e ressíntese das moléculas de ATP. Já Karlsson (1972) citado por Piovezan, realizando
treinamento de longa distância por sete semanas, verificou um aumento nas reservas
musculares de ATP.
No handebol, a freqüência de treinamento recomendada a fim de desenvolver essas variáveis
fisiológicas, segundo Garcia (1990), depende das características apresentadas pela equipe bem
como os objetivos que desejam alcançar. Para GRECO (2000) o handebol por ser um esporte
coletivo que envolve força explosiva (ou potência), necessita de um programa de treinamento
sistematizado visando a melhoria da força muscular em função do rendimento, com isso,
recomenda-se uma freqüência de treinamento de três a quatro vezes por semana com uma
intensidade podendo chegar a 90% da Fmáx para atletas em período de competição, podendo
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durar de oito a dez semanas. Fox, Bowers & Foss (1991) garantem que uma freqüência de
treinamento de três vezes por semana durante um período de oito a dez semanas
independente da modalidade praticada, é o suficiente para garantir mudanças significativas na
capacidade anaeróbia alática, o que justifica em parte a melhora do desempenho das atletas
participantes desse estudo.
Por outro lado, outro fator de provável influência sobre a eficiência dos testes pode estar
relacionado com a especificidade do teste em relação à modalidade esportiva, pois, segundo
Mcardle, Katch & Katch (1995), se a intensidade, duração e freqüência do exercício forem
mantidas constantes, seja qual for a modalidade de treinamento, alterações fisiológicas
induzidas pelo mesmo, podem variar consideravelmente dependendo da modalidade do teste,
e ainda cita como exemplo que, indivíduos treinados em uma bicicleta, mostra maiores
aprimoramentos quando testados na bicicleta do que na esteira. Para Greco (2000:112), a
avaliação mecânica do gesto desportivo oferece inúmeras informações para a condução do
processo ensino-aprendizagem tanto em relação à técnica quanto a táticas específicas. Dessa
forma, segundo Colares & Soares (1995) como o handebol desenvolve predominantemente o
fundamento de saltos e arremessos como bases atléticas da modalidade, é possível que o teste
de subida de escada tenha sido mais fidedigno em relação ao desempenho encontrado, uma
vez que, o teste assemelha-se mais ao gesto técnico predominantemente usado na modalidade.
Greco (2000) também diz que, testes dessa natureza solicitam do jogador uma capacidade
motora e gestual próxima da especificidade do jogo.
Como limitação do presente estudo em relação à amostragem, das 18 (dezoito) atletas que
iniciaram o treinamento, 03 (três) do grupo de controle (FREQ 03) não completaram o estudo,
por motivos pessoais, comprometendo em parte a análise dos resultados.
Poucos são os estudos realizados envolvendo essa variável fisiológica estudada,
principalmente em relação à modalidade em evidência, com isso recomenda-se que novos
estudos sejam realizados nesta, estudos semelhantes de treinamentos e de desportos diversos,
bem como utilizar-se dos mais diferentes esquemas de preparação, mantendo-se o tratamento
experimental dentro da estrutura e da realidade desportiva brasileira.
CONCLUSÃO
Na comparação dos resultados obtidos no pré e pós-teste entre FREQ03 e FREQ05,
constatou-se que não houve diferença na potência anaeróbia alática identificada através do
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teste "corrida de 50m". Os programas de preparação física (PROGRAMA I e PROGRAMA
II) resultaram em melhoria na potência anaeróbia alática das jogadoras de handebol
identificada apenas através do "Teste de subida de escada". Entretanto, treinar cinco vezes por
semana não resultou em ganhos adicionais na potência anaeróbia alática das jogadoras de
handebol, quando comparado com treinar três vezes por semana.
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