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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Letras Lucas Rodrigues Silva O GÊNERO COMENTÁRIO ON-LINE NA ESFERA JORNALÍSTICA: especificidades de seu funcionamento, construção identitária do comentador e emergência de representações sociais Belo Horizonte 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Letras

Lucas Rodrigues Silva

O GÊNERO COMENTÁRIO ON-LINE NA ESFERA JORNALÍSTICA: especificidades de seu funcionamento, construção identitária do

comentador e emergência de representações sociais

Belo Horizonte 2014

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Lucas Rodrigues Silva

O GÊNERO COMENTÁRIO ON-LINE NA ESFERA JORNALÍSTICA: especificidades de seu funcionamento, construção identitária do

comentador e emergência de representações sociais

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Linguística e Língua Portuguesa Linha de pesquisa: Enunciação e processos discursivos

Orientação: Prof. Dra. Juliana Alves Assis Belo Horizonte

2014

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Silva, Lucas Rodrigues

S586g O gênero comentário on-line na esfera jornalística: especificidades de seu

funcionamento, construção identitária do comentador e emergência de

representações sociais / Lucas Rodrigues Silva, Belo Horizonte, 2014.

140 f.: il.

Orientadora: Juliana Alves Assis

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Letras.

1. Representações sociais. 2. Mídia digital. 3. Jornalismo eletrônico. 4.

Jornalistas. 5. Análise do discurso narrativo. 6. Identidade. I. Assis, Juliana

Alves. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-

Graduação em Letras. III. Título.

CDU: 070.41

4

Lucas Rodrigues Silva

O GÊNERO COMENTÁRIO ON-LINE NA ESFERA JORNALÍSTICA: especificidades de seu funcionamento, construção identitária do

comentador e emergência de representações sociais

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras.

____________________________________________________________

Profa. Dra. Juliana Alves Assis (Orientadora) – PUC Minas

____________________________________________________________

Profa. Dra. Ada Magaly Matias Brasileiro – Faculdade Pitágoras

____________________________________________________________

Profa. Dra. Jane Quintiliano Guimarães – PUC MINAS

Belo Horizonte, 28 de março de 2014.

5

AGRADECIMENTOS

Aos professores do programa de pós-graduação em Letras da PUC

Minas, especialmente à professora Juliana Assis, por toda a sua dedicação e

compreensão ao longo do processo de construção desta pesquisa.

Aos professores Marco Antônio Oliveira e Milton do Nascimento, pelos

conselhos, correções e sugestões ministrados na disciplina de Métodos e

Técnicas.

Aos colegas com quem caminhei junto durante a graduação e após-

graduação, jornada que, apesar de todas as suas dificuldades e desafios,

constituiu-se muito proveitosa e de plena formação. Aqui, deixo meu

agradecimento especial à mestranda Mary Helen Sathler, com quem sempre

trabalhei em projetos e atividades do curso e sempre compartilhei dúvidas e

dificuldades.

À Fapemig, por ter viabilizado financeiramente meu mestrado em

Linguística, na PUC Minas.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para a viabilização e

realização deste estudo.

6

RESUMO

À luz de um quadro teórico de base sociointeracionista, nosso trabalho

investigativo está calcado na análise dos recursos linguísticos e textuais que

fundamentam a materialidade discursiva do gênero comentário on-line na

esfera do jornalismo digital, visando compreender suas condições de produção

e sua configuração linguístico-textual, tendo em vista, sobretudo, a construção

do ethos discursivo pelos comentadores. Interessa-nos, ainda, verificar a

manifestação e o funcionamento de representações sociais que emergem

desses textos e orientam a construção do ethos discursivo dos comentadores.

Foram analisados comentários referentes a dois artigos publicados no site da

revista “Istoé”, o que nos levou a verificar a heterogeneidade e dinamicidade

das ações dos sujeitos comentadores, fato que, consequentemente, engendra

representações tão diversas em um contexto circunscrito pelos limites do

gênero comentário on-line. Enfim, a análise dos dados propiciou-nos

compreender como ocorre o funcionamento desse gênero, possibilitador de

correspondência direta entre os comentadores em um segmento não linear e

independente de uma lógica cronológica, e como as representações sociais

emergem e como se reconfiguram ao longo dos discursos produzidos por

esses comentadores.

Palavras-chave: Comentário on-line. Ethos discursivo. Representações sociais.

7

ABSTRACT

In the light of a theoretical framework on a sociointeracionist basis, our

investigative work hinges by the analysis of linguistic and textual resources that

underlie discursive materiality of online gender review in the digital journalism

sphere, seeking to understand their production conditions and its linguistic-

textual configuration, considering, especially, the discursive ethos construction

by commentators. We are interested, still, in verifying the manifestation and the

operation of social representations that emerge from these texts and guide

the discursive ethos construction of the commentators. Commentaries for

two articles published in the "Istoé" magazine site were analyzed, which led us

to verify the heterogeneity and dynamics of the individual actions

by commentators, fact that consequently engenders such diverse

representations in a context circumscribed by the limits of the comment on-line

genre. Finally, the data analysis led us to understand the functioning of this

genre, enabler of direct correspondence between commentators in a non-linear

segment and independent of a chronological logic, and how social

representations emerge and how to reconfigure over the speeches produced by

these commentators.

Keywords: On-line commentary. Discursive ethos. Social representations.

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Funcionamento das RS............................................................. 28

FIGURA 2 – Configuração da RR e RU em processo interacional............. 29

FIGURA 3 – Descrição do colunista Paulo Moreira Leite............................ 57

FIGURA 4 – Campos de dados para preenchimento........................................ 59

FIGURA 5 – Visualização dos comentárioson-line..................................... 60

FIGURA 6 – Destaque para Demóstenes Torres.......................................... 71

FIGURA 7 – Destaque para Roberto Gurgel................................................. 72

FIGURA 8 – Movimento de divergência da RU............................................. 99

FIGURA 9 – Movimento de convergência da RU....................................... 102

9

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Constituições do núcleo central e do sistema periférico..... 23

QUADRO 2 – Configuração e ação das forças das RS............................... 84

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 11 2 UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E O ETHOS DISCURSIVO ................................................................................................... 18 2.1 Representações sociais........................................................................... 18 2.1.1 O processo de subjetivação nas RS.................................................... 27 2.2 O ethos discursivo.................................................................................... 30 2.3 O discurso polêmico................................................................................ 35 2.4 Princípios metodológicos........................................................................ 37

3 O GÊNERO COMENTÁRIO ON-LINE.......................................................... 40 3.1Gêneros...................................................................................................... 41 3.2 Dialogismo ............................................................................................... 44 3.3 Comentários on-line: o gênero propriamente dito................................ 47

4 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS........................................................... 55 4.1 Geração e coleta de dados...................................................................... 55

5 DA ANÁLISE DOS DADOS.......................................................................... 62 5.1 A constituição gênero comentário on-line............................................. 62 5.2 A emergência dos enunciadores textuais.............................................. 69 5.3 As representações sociais e o gênero comentário on-line................. 77

5.3.1 Da emergência das representações sociais...................................... 78

5.3.2 Emergência das RS nos comentários.................................................. 79

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 104

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 107

ANEXOS........................................................................................................ 111

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1 INTRODUÇÃO

Ao considerarmos os principais veículos de comunicação on-line –

jornais e revista –, deparamo-nos com um interessante gênero possibilitador de

interatividade entre esse veículo e os seus respectivos leitores: o comentário

on-line. Tratando-se, pois, de um fenômeno social, o comentário configura-se

como fonte de uma atividade intersubjetiva, na qual podemos flagrar a

emergência de variadas identidades, que, por meio da materialização

discursiva, manifestam diferentes representações sociais.

Sob essa perspectiva, podemos evidenciar que os comentários on-line

são produtos de um processo, de uma prática detentora de uma característica

singular, uma vez que assegura a manifestação da individualidade de cada

comentador. Tal processo determina a existência de, pelo menos, um segundo

sujeito, diante do qual o comentador pode encarnar-se, no interior de uma troca

intersubjetiva. As trocas entre as entidades institucionais e os comentadores

asseguram a existência semiótica dos comentários on-line, dos quais emergem

variadas representações sociais.

Nessa ótica, de maneira similar à constituição estrutural da carta, a

organização textual dos comentários mantém uma lógica híbrida, que, segundo

Diaz (2002), pode conter um vasto número de conteúdos e sujeitos. Dessa

forma, os comentários podem obedecer a poucos ou a muitos protocolos

formais, estando quase que organizados em torno de um projeto autoral (fato

que explica a heterogeneidade dos temas esboçados nesses textos) e tendo

como função primordial, na grande maioria das vezes, estabelecer o contato

entre pelo menos dois sujeitos, sem que para isso, siga uma linha cronológica,

já que a mídia virtual, em que o comentário on-line é construído, permite essa

maleabilidade de retomar e replicar comentários a qualquer momento.

Nessa medida, segundo as estratégias enunciativas nele adotadas, os

comentários on-line podem ser entendidos como um formato textual próprio

para a manifestação da legitimidade do sujeito, uma vez que se instaura a

instituição de crenças que engendram uma dada realidade embasada em

estratégias discursivas e, até mesmo, persuasivas.

Na internet, comparativamente aos jornais e revistas impressas, parece

haver menor controle sobre os comentários por parte da entidade institucional,

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representada pelo editor e/ou jornalista, os quais podem editar ou escolher os

comentários e cartas que são publicados nas versões impressas, e maior

“liberdade” do sujeito comentador, o leitor, que redige seus comentários

explicitando suas ideias e abordagens acerca do texto lido.

A partir dessa perspectiva, evidenciamos que os jornais, revistas e

demais meios de comunicação on-line nutrem o sistema de comentários dos

leitores, tendo em vista que esses comentários caracterizam uma atividade

semiótica interativa e muito eficiente, uma vez que, por meio tais textos, esses

veículos on-line podem manter um contato proximal com o seu público.

Justamente no interior desse quadro é que o presente trabalho se

insere, investigando os comentários on-line que se consolidam como uma

prática intersubjetiva, a qual se fundamenta em processos integrantes, que

consideram as relações interenunciativas entre a entidade institucional e os

leitores e os efeitos de autenticidade (portanto, singulares) presentes nos

comentários dos leitores.

Destarte, verificamos que as trocas entre as entidades institucionais e os

comentadores asseguram a existência semiótica dos comentários on-line, dos

quais emergem variadas representações sociais. Nessa medida, para o corpus

de nossa análise, recorremos a textos on-line, escritos por representantes da

revista “Istoé” – jornalistas, especificamente – e que possuem uma temática

mais polemizada, o que gera uma quantidade relevante de comentários on-line,

por parte dos leitores, em cujos textos se manifestam diferentes RS por meio

de diferentes mecanismos linguísticos. Para tanto, devemos salientar que o

motivo da escolha da revista “Istoé” ocorreu em função de esse veículo

apresentar orientações e opiniões relativamente definidas, as quais podem

recobrir e incitar a manifestação de diferentes identidades construídas diante

determinado texto publicado pelo veículo.

A partir dessa dimensão, podemos afirmar que a prática de leitura e

escrita, enquanto atividade cognitiva e interativa, é construída como um

processo por meio do qual se dá a produção de sentido; no interior dessa

atividade, as representações sociais exercem uma função primordial, uma vez

que materializam, no discurso, determinadas imagens imanentes ou

construídas ao longo da produção de sentido.

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Por meio da metodologia adotada nesta pesquisa, os mecanismos

linguísticos flagrados nos comentários on-line serão analisados em via da

materialidade discursiva do texto, considerando-se o seu processo enunciativo;

para isso, valer-nos-emos de abordagens teóricas que consideram a linguagem

enquanto atividade sociointerativa.

Assumimos que a recorrência aos comentários on-line pode ser vista

como um fenômeno relativamente novo – no interior de um processo

intersubjetivo e possuidor, até mesmo, de um caráter avaliativo por parte dos

leitores – e que, portanto, como não é objeto de maiores pesquisas, é

merecedor de um olhar investigativo. Dessa forma, a justificativa deste trabalho

advém do nosso interesse em investigar os comentários on-line e suas

representações, tentando estabelecer abordagens que norteiem o

entendimento sobre o fenômeno.

Para tanto, descrevemos, a seguir, uma relação de perguntas que

orientaram nossa pesquisa, em uma tentativa didática para nos mantermos no

interior dessas orientações, para que assim, tracemos, logo após, os objetivos

deste trabalho:

1. Como se dá o funcionamento e as especificidades formais dos

comentários on-line, tendo em vista os mecanismos e estratégias de

modalizações discursivas, inerentes à constituição do gênero?

2. Como se constrói a identidade discursiva do comentador?

3. Tendo em vista que as RS possuem, como componente basilar, um

subsistema que permite adaptações e integrações das experiências

diárias que geram RS individualizadas e, em função disso, suportam a

heterogeneidade do grupo, no interior de um movimento emergencial,

quais as RS sobre os temas das matérias jornalísticas emergem no

discurso dos comentadores on-line da revista “Istoé” e por meio de quais

recursos linguísticos essas RS se materializam?

4. Sabendo-se que as RS estão situadas em um núcleo central e um

sitema periférico – sendo queo núcleo central constitui-se de modo mais

estável e rígido, em função do sistema de valores partilhado pelos

integrantes de um grupo, e o sistema periférico é concebido de maneira

mais flexível, uma vez que a partilha de experiências e histórias

individuais, em um movimento de intersubjetividade, permite ancorar a

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representação na realidade do momento –, existem, de fato, RS que se

constituem de maneira hegemônica? Se sim, como se manifestam?

5. Ao considerar-se essa partilha de experiências individuais e, ainda,

tendo em vista que o estudo das RS permite a compreensão dos

processos que intervêm na relação entre indivíduo e sua realidade

imediata, levando-se em conta as especificidades do meio social e

ideológico, existe uma reconfiguração de RS ao longo dos comentários

on-line, isto é, as representações podem sofrer influência, uma das

outras, de modo a reconfigurar-se ao longo dos comentários on-line?

6. As RS emersas nos comentários dos leitores on-line são reflexos (ou

refletem na) da produção de sentido estabelecida durante a atividade de

leitura do texto digital?

Estabelecidas as perguntas motivadoras de nosso trabalho, assumimos

como hipótese inicial que as RS emergem no discurso dos comentadores on-

line e, juntamente com demais fenômenos, influenciam na produção de sentido

relativa à leitura da reportagem digital. A partir dessa hipótese, objetivaremos

identificar especificidades do funcionamento do gênero em foco verificando

quais são as RS nele emersas e através de quais recursos linguísticos

manifestam-se.

Pretendemos analisar os comentários dos leitores como objetos

semióticos, integrantes de uma prática que organiza uma forma de

comunicação diária, semanal ou mensal entre os sujeitos (editores, jornalistas,

veículos de comunicação e os próprios leitores), os quais se tornam parceiros

ao longo dessas publicações. Sendo assim, assumimos que essa interação

sedimenta-se sobre um forte regime de crenças e representações que

possibilita, à determinada publicação, estabelecer um diálogo com seus leitores

habituais, os quais estão acostumados a crer e aceitar (ou não crer e refutar)

seus valores e as formas identitárias que a publicação permite circular.

Assim sendo, no âmbito da internet, parece existir um domínio menor,

por parte do sujeito institucional – representado pelo jornalista e/ou editor –,

sobre os comentários on-line. Isso porque tal entidade institucional, que, nos

comentários e cartas publicados nas versões impressas, pode escolher e editar

tal material, nas versões digitais, não consegue controlar todos os comentários

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on-line, uma vez que há maior liberdade por parte do leitor/comentador, o qual

redige seus textos de forma “livre” 1, muitas das vezes, da ortografia oficial e

considerada “padrão”, especialmente nos comentários pontuais a artigos e

reportagens.

Ao considerarmos a natureza da atividade de interação, levando-se em

conta as especificidades constitutivas propiciadas pela tecnologia digital, e ao

assumirmos que as RS estão presentes no discurso digital dos

leitores/comentadores da revista “Istoé”, buscaremos identificar quais são as

RS que emergem nos comentários on-line, que estabelecem um diálogo entre

enunciador textual/leitores, leitores/entidade institucional e leitores/leitores, e

quais são os mecanismos linguísticos que revelam a manifestação dessas

representações.

Sob essa perspectiva, estabelecemos, como objetivo geral de nosso

trabalho, verificar quais as RS emergem nos comentários on-line analisados e

por meio de quais recursos linguísticos se materializam, verificando os

possíveis ethé engendrados no ato da enunciação e quais as implicações que

esse processo ocupa em relação às identidades dos sujeitos envolvidos na

construção dos comentários on-line. Objetivaremos, ainda, entender a

arquitetura e funcionamento desse gênero no ambiente digital.

Tendo em vista, pois, o objetivo geral de nossa pesquisa, traçamos os

seguintes objetivos específicos que orientarão todo o trabalho:

delimitar as estratégias de constituição dos sujeitos nos comentários,

levando em conta sua construção identitária, por meio da noção de

ethos discursivo.

1 Ao estabelecermos essa ideia de forma “livre”, devemos considerar que há limites para essa

liberdade, uma vez que os textos redigidos, de forma digital, devem se enquadrar no gênero

comentário on-line e, em função disso, não podem ser tão volúveis assim. Mas,como se trata

de um texto digital, o próprio gênero aceita os desvios da ortografia padrão, cometidos por

esses indivíduos escreventes. Essa questão do enquadramento do gênero comentário on-line

será discutida mais à frente, quando abordaremos a constituição e estruturação geral do

comentário.

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identificar quais são e como emergem, nos comentários on-line

examinados, as RS, levando em conta os diálogos entre enunciador

textual/leitores, leitores/entidade institucional e leitores/leitores;

verificar se as RS podem reconfigurar-se, ao longo dos comentários on-

line, pelo fato de sofrerem influência uma das outras;

identificar as características mais recorrentes na organização textual dos

comentários postados e que circulam no ambiente digital da revista

“Istoé”;

Traçados, pois, os objetivos de nosso estudo, para proceder a essa

proposta, organizamos nosso trabalho em quatro seções, representadas pelos

capítulos 2, 3, 4 e 5. No capítulo 2, fundamentamos um aporte teórico acerca

das dimensões das representações sociais e do ethos discursivo, conceitos tão

caros à nossa pesquisa e que orientarão a análise dos dados de nosso corpus.

De maneira similar, o capítulo 3 disserta sobre o gênero dos comentários

on-line, delineando como ocorre o seu processo de constituição e quais são os

recursos discursivos e modalizações epistêmicas utilizadas no interior desse

processo.

No quarto capítulo, traçamos as orientações metodológicas de nossa

pesquisa, adotando uma lógica qualitativa dos dados coletados para nosso

corpus. Nessa seção, portanto, delineamos o processo de geração dos dados,

descrevendo a composição estrutural e processual do material coletado,

objetivando entender a constituição do gênero comentário on-line.

No capítulo 5, procedemos a uma perspectiva analítica dos dados

coletados, percorrendo os conceitos orientadores da abordagem teórica

assumida, em uma empreitada para contemplar, em nosso corpus, o processo

de constituição do comentário on-line, tendo em vista os ethos discursivos e

modalizações envolvidas na construção desse gênero, e as representações

sociais que emergem desse processo.

No capítulo 6, efetuamos as considerações finais de nosso estudo, tendo

o quadro teórico e analítico, construído nos capítulos anteriores, como

embasamento para as reflexões e considerações adotadas. Nessa última

seção, portanto, traçamos ponderações finais concernentes às formas e

modalizações de construção do ethos discursivo presentes em cada

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comentário on-line e como tal processo influencia na emergência de

representações sociais. Em via dessas considerações, verificamos a

necessidade de se levar em conta o estudo das representações sociais sob

uma perspectiva sociointeracionista, tão considerado pelos trabalhos atuais do

campo da Linguística.

Em virtude disso, devemos destacar que as conclusões obtidas ao longo

desta pesquisa, sem grandes pretensões, pretendem abrir o diálogo para

demais áreas do conhecimento, para que, assim, possamos estabelecer uma

linha de estudos sobre esse “novo” fenômeno comunicacional.

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2 UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E O ETHOS

DISCURSIVO

Neste capítulo, construímos um quadro teórico que abarca as noções de

representações sociais e de ethos discursivo, conceitos que merecem

destaque no campo da Linguística e que são pilares para os estudos a que

propusemos nesta pesquisa.

2.1 Representações sociais

Os estudos sobre representações sociais (doravante, RS),

fundamentados no campo da Psicologia Social, são abalizados, principalmente,

pelo estudioso Serge Moscovici. O psicólogo social, ao introduzir a noção de

representação social, em sua obra “A psicanálise, sua imagem e seu público”,

demonstra a preocupação de não haver uma definição rígida e fechada para a

noção, afirmando que a realidade em torno das RS é de fácil apreensão, mas o

seu conceito não se constitui como tal. Diante disso, Moscovici propõe uma

tentativa de explicitação do tema.

Dessa forma, revisitando a história, Moscovici salienta que o precursor

do conceito de representação social foi Émile Durkheim, o qual fundamenta

reflexões sobre representações coletivas. Assim sendo, apesar de admitir o

pioneirismo de Durkheim, Moscovici (2012) questiona o sociólogo no que diz

respeito à distinção entre as regras regentes da vida individual –

representações individuais – e as regras regentes da vida coletiva –

representações coletivas –, já que, para Durkheim, as leis relativas aos

fenômenos individuais não são as mesmas relativas aos fenômenos coletivos.

Para Moscovici, as RS são uma passarela entre o individual e o coletivo, em

que a existência dessas duas realidades não devem ser vistas como

dicotômicas e estanques, mas, sim, em um movimento intersubjetivo, já que,

nascendo no sujeito (pessoa física ou grupo social), a representação estende-

se, de forma interindividual, para o saber comum de uma determinada

comunidade. Ocorrendo, então, por meio de interações sociais, as RS são

socialmente elaboradas e compartilhadas, fato que acentua o seu caráter

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dinâmico e intersubjetivo.

A partir de tal perspectiva, a definição de RS, em consonância com

Moscovici, é recuperada de outras definições sócia e psicologicamente

equivalentes. E, no interior desse processo, as noções de opinião e de imagem

são muito próximas às noções das RS, fato que pode gerar alguma confusão

teórica e metodológica, traduzindo, em função disso, a necessidade da

distinção entre todos esses conceitos.

Dessa forma, a opinião constitui-se, “por um lado, como uma fórmula

socialmente valorizada à qual um sujeito adere e, por outro lado, uma tomada

de posição sobre um problema controverso [discutido] da sociedade”

(MOSCOVICI, 2012, p. 43). E, justamente, em via dessa adesão individual a

uma determinada posição, a opinião manifesta-se de maneira pouco estável,

considerando pontos particulares, admitindo a formação dos estereótipos e das

atitudes, uma vez que seu caráter parcial é aceito por todos.

Ainda segundo o autor, a noção de opinião implica dois aspectos

principais: uma reação dos sujeitos em relação a um objeto que é dado como

acabado, externo e independente do ator social e de seus pontos de vista; e

uma união direta com o comportamento, em que o julgamento, isto é, a opinião,

recai sobre o objeto e concebe um anúncio da ação futura. Dessa forma, a

opinião, enquanto atitude, é vista somente ao lado da resposta e, enquanto

preparação de uma ação futura, é considerada comportamento em miniatura,

da qual se deduz o que o sujeito fará conforme aquilo que predica, aquilo que

diz.

Sob essa perspectiva, o conceito de imagem não se afasta muito

daquele de opinião; contudo, as noções recorrentes para a definição do termo

não são muito satisfatórias. Dessa forma, a imagem, que designa uma

organização mais complexa de opiniões ou avaliações, pode ser vista como um

reflexo interno da realidade externa, uma espécie de cópia construída no

pensamento de um objeto que se encontra fora dele, tornando-se uma

reprodução passiva de um dado imediato. Para Moscovici (2012), as imagens

constituem-se como “sensações mentais”, impressões que as pessoas ou

objetos deixam em nosso cérebro, mantendo avivados os traços do passado,

ocupando as lacunas da memória humana para proteger tais traços contra as

mudanças cerebrais e reforçando o sentimento de continuidade do ambiente e

20

das experiências individuais e coletivas. Dessa forma, podemos lembrar e

revivificar, na memória, os traços do passado em função da execução de uma

filtragem que resultam em informações adquiridas pelo indivíduo relativas à

satisfação que lhe é necessária. Tal fator aponta-nos como a imagem é

determinada pelos fins, tendo como função principal, a seleção daqueles

elementos que vêm do interior e, principalmente, do exterior.

Para Moscovici, entretanto, a noção de RS parte de outras premissas, já

que não existe um recorte entre o universo exterior e o do indivíduo, não sendo

o sujeito e o objeto totalmente heterogêneos. Portanto, não podemos descartar

nossa capacidade de representação, de criação de objetos, pois isso resultaria

na crença de que não existe relação entre o nosso depósito de imagens e

nossa capacidade de combinação, das quais podemos representar e criar

novos conceitos. Tal capacidade é responsável pelo fato de o sujeito constituir-

se de maneira simultânea, em que, conforme se organiza e aceita o real, situa-

se no plano social e material.

A partir de então, para Moscovici (2012), as RS não apresentam uma

relação de adesão de posições, uma vez que são mutáveis, em relação à sua

forma e ao seu conteúdo, de um sujeito ou grupo a outro em um mesmo

contexto de uma sociedade. De mesmo modo, a opinião, enquanto um

enunciado que se volta para um julgamento, para uma postura avaliativa, é

constituída de inúmeras RS, mas não, em si mesma, uma representação, a

qual possui como papel principal a concepção de conhecimentos práticos

acerca da realidade, a partir dos quais o indivíduo pode se orientar.

A partir dessa perspectiva, constatamos, apoiados em Wagner (2000),

que uma opinião compartilhada por um número de indivíduos não é o bastante

para que uma forma de conhecimento seja concebida como uma RS, apesar

de esta ser condição sine qua non para tal. Portanto, uma opinião não é

embasada em representações, mas pode evidenciar a manifestação de uma

RS.

Tendo em vista, então, essa dimensão, as RS podem ser consideradas

como um conhecimento prático socialmente elaborado e compartilhado, como

um grupo organizado de julgamentos e de informações que uma determinada

comunidade elabora em relação a dado objeto, o qual pode ser real ou

abstrato. Deve-se esclarecer, contudo, que essas representações não se

21

constituem como os próprios julgamentos ou atitudes, mas, sim, aquilo que se

constrói, no que se refere a conhecimentos práticos, durante a sua elaboração,

constituindo-se, portanto, como um amálgama de conhecimentos a partir dos

quais os indivíduos atuam na prática social.

Dessa forma, as RS existem porque, segundo Moscovici, devemos

preencher os vazios de conhecimento referente a um dado objeto, já que não

podemos ignorar um objeto de que não possuímos um conhecimento formado.

Para tanto, o sujeito deve situar-se em relação a esse objeto, o qual exercerá

vantagens (ou desvantagens) e interesses (ou desinteresses), atribuindo-lhe

uma característica de relevância, fato que direciona o grupo a uma

comunicação coletiva por meio da qual se engendram e se compartilham as

RS. Tal fator evidencia o caráter linguístico de uma representação, a qual

resulta de atividades discursivas partilhadas por indivíduos envolvidos em

práticas interacionais.

Assim sendo, para a elaboração dessa conceituação ante um objeto

desconhecido, dois mecanismos envolvidos no processo de pensamento,

embasados na memória e em conclusões passadas, são utilizados – a

objetivação e ancoragem. Desse modo, segundo Moscovici (2012), a

objetivação consiste de uma passarela sobre o plano cognitivo, permitindo ao

sujeito transpor-se de uma noção distante de seu objeto para um saber

embasado na experienciação com tal objeto. Dessa forma, a objetivação

relaciona uma adequação entre o indivíduo e o seu meio circundante,

constituindo-se, em função disso, como um reflexo da realidade em derredor,

em que é verificado como esse indivíduo escolhe informações mais pertinentes

para transformá-las em imagens significantes.

Já o processo de ancoragem possibilita que a RS seja inserida na

sociedade, agregando uma característica nova a uma característica antiga,

sendo, a partir de então, partilhada pelos sujeitos de uma mesma comunidade.

Desse modo, primeiramente, todos os elementos relativos à representação

serão interpretados segundo os conhecimentos prévios, para, somente então,

os saberes concebidos serem instrumentalizados pelos grupos sociais, fato que

permite a legitimação de determinados objetivos. Em via disso, Moscovici, ao

afirmar que os elementos de ancoragem são expressos na língua, no interior

de um quadro de referências, estabelece que os objetos sem nome são

22

estranhos e não existem e, por isso, o ato de ancorar faz-se necessário para

classificar e nomear esse dado objeto.

Nessa perspectiva, uma RS pode ser entendida como um conjunto

elaborado de informações, de opiniões, de crenças e de atitudes que formam

um sistema sociocognitivo. Tal sistema, em consonância com Abric (1992),

constitui-se de dois subsistemas interacionais – o sistema central (ou núcleo

central) e o sistema periférico – os quais não são dicotômicos, mas

sim,complementares, embora cada um possua um papel específico.

Sob essa ótica, o núcleo central possui uma determinação

fundamentalmente social – atrelada às condições sócio-históricas e ideológicas

– e é diretamente associado às normas e valores, fato que define os princípios

fundamentais das RS. Esse sistema central possui a função essencial de

assegurar a estabilidade e a coerência da RS, garantindo a sua manutenção no

tempo e, justamente em função disso, tal sistema evolui-se e se modifica de

maneira muito lenta. Dessa forma, ao determinar a significação e a

organização das representações, o núcleo central determinará a natureza das

ligações que associam os elementos das representações, constituindo-se como

“a base comum propriamente social e coletiva que define a homogeneidade de

um grupo, através dos comportamentos individualizados que podem parecer

contraditórios”. (ABRIC, 1992, p. 33).

Já o sistema periférico possui uma determinação mais individualizada e

contextualizada, estando associado às práticas individuais e ao contexto

imediato em que os sujeitos estão localizados. Dessa forma, esse sistema

permite adaptações, integrações das experiências cotidianas, engendrando,

em via disso, representações sociais individualizadas, fato que permite certa

heterogeneidade de comportamento e de conteúdo. Assim, o sistema periférico

constitui-se de modo mais flexível que o sistema central, protegendo este

último e permitindo a integração de informações e diferentes práticas. Contudo,

os elementos periféricos não se constituem como um componente menor da

representação, mas, contrariamente, são essenciais, haja vista que, ao se

associarem ao sistema central, permitem a ancoragem na realidade. Dessa

forma, ainda segundo Abric (1992), ao se constituir como flexível e instável, o

sistema periférico desempenha algumas funções fundamentais, como a função

de concretização, responsável pela integração dos elementos da situação em

23

que se concebe a representação; a função de regulação, responsável pela

adequação das RS às precisões de um contexto; e a função de defesa, que

protege o núcleo central de mudanças, fato que lhe atribui as possibilidades de

transformação das RS.

Assim sendo, Abric (1992) sintetiza, de maneira esquemática e

esclarecedora, o núcleo central e o sistema periférico no seguinte quadro:

Quadro 1 – Constituições do núcleo central e do sistema periférico

Núcleo Central Sistema Periférico

Ligado à memória coletiva e à história

do grupo

Permite a integração das experiências

e das histórias individuais

Consensual: define a homogeneidade

do grupo

Suporta a heterogeneidade do grupo

Estável, coerente e rígido Flexível, suporta contradições

Resiste à mudança Transforma-se

Pouco sensível ao contexto imediato Sensível ao contexto imediato

Gera a significação da representação

e determina sua organização

Permite a adaptação à realidade

concreta e a diferenciação do

conteúdo: protege o sistema central

Fonte: ABRIC, 1992, p. 34

Levando em conta o esquema acima, o autor ainda realiza algumas

observações acerca da existência desses dois sistemas representacionais:

É a existência deste duplo sistema que permite compreender uma das características básicas das representações, que pode parecer contraditória: elas são, simultaneamente, estáveis e móveis, rígidas e flexíveis. Estáveis e rígidas posto que determinadas por um núcleo central profundamente ancorado no sistema de valores partilhado pelos membros do grupo; móveis e flexíveis, posto que alimentando-se das experiências individuais, elas integram os dados do vivido e da situação específica, integram a evolução das relações e das práticas sociais nas quais se inserem os indivíduos ou os grupos. (ABRIC,1992, p.34).

24

Em consonância com o autor, toda transformação de uma representação

passa, em um primeiro momento, pela transformação dos elementos

periféricos, para, posteriormente, mudar o núcleo central.

A partir de todas essas conceituações, ater-nos-emos, neste trabalho, a

investigar quais RS emergem nos comentários on-line (em relação a um dado

artigo ou matéria jornalística) da revista Istoé, por meio de quais recursos

linguísticos essas RS se materializam nesses textos e se tais RS reconfiguram-

se no decorrer dos comentários referentes a uma mesma reportagem. Dessa

forma, no interior desse quadro, traçaremos as noções acerca de RS por meio

da materialização do discurso, componente tão caro aos estudos linguísticos.

Assim sendo, para Abric (1992), o marco zero da teoria das

representações sociais consiste na renúncia da distinção clássica e

behaviorista entre o sujeito e o objeto, já que, em consonância com Moscovici

(1969), não deve haver separação entre o universo externo e o universo interno

do indivíduo. Dessa forma, segundo Abric, o objeto está circunscrito em um

contexto ativo e idealizado pelo indivíduo ou comunidade, enquanto extensão

de seu comportamento, de suas atitudes e das normas às quais está

submetido.

E, justamente, tal abandono da dicotomia existente entre sujeito e objeto

atribui um novo status para a noção de realidade objetiva, a qual, segundo

Abric, não existe a priori, uma vez que toda realidade é representada e

reapropriada pelo indivíduo ou pelo grupo, reconstituída em sistema cognitivo e

integrada em seu sistema de valores, de acordo com sua história, contexto

ideológico e social que lhes circunda. Assim sendo, segundo o autor:

Toda representação é, portanto, uma forma de visão global e unitária de um objeto, mas também de um sujeito. Esta representação reestrutura a realidade para permitir a integração das características objetivas do objeto, das experiências anteriores do sujeito e do seu sistema de atitudes e de normas. Isto permite definir a representação como uma visão funcional do mundo, que, por sua vez, permite ao indivíduo ou ao grupo dar um sentido às suas condutas e compreender a realidade através de seu próprio sistema de referências; permitindo assim ao indivíduo de se adaptar e de encontrar um lugar nesta realidade. (ABRIC, 1997, p. 28).

Assim sendo, verificamos que a representação não se constitui como um

mero reflexo da realidade, mas como uma organização significante, a qual

25

depende de fatores como o contexto imediato da situação e de fatores mais

gerais, que superam a situação local, como o contexto social e ideológico, a

história e o posicionamento social do indivíduo, sistema de valores e

determinantes sociais.

Para Durkheim, as RS engendravam uma classe mais genérica dos

fenômenos sociais e psíquicos, abrangendo as noções de ciência, mito,

ideologia, etc., estabelecendo uma diferença entre o aspecto individual e o

aspecto social. Segundo o autor, o homem pensa por conceitos, pois, se assim

não o fosse, não poderia constituir-se como um ser social, já que estaria

minimizado somente ao aspecto da percepção individual. Segundo tal

perspectiva, observamos que não há uma relação de complementariedade

entre o ser individual e o ser coletivo, em que não há laços, isto é, uma

implicância de intersubjetividade entre o homem e o seu meio social.

Acrescidamente, na medida em que não tangencia as formas de organização

do pensamento, mesmo que eles sejam de natureza social, a noção de

representação deixa de ser clara.

Nessa medida, Moscovici insiste na distinção entre mito e RS. Em

consonância com o autor, o mito constitui, para o homem primitivo, uma ciência

plena, uma forma filosófica única e acabada, na qual estão contidas a prática e

as percepções da natureza das relações sociais. Destarte, o mito é

considerado, por nossa sociedade contemporânea, como uma forma primitiva e

arcaica de pensarmos e nos situarmos no mundo, sendo considerados normais

em nossa sociedade.

Considerando, então, essas noções, quando reiteramos a proposta de

Moscovici (2012), assumimos a seguinte perspectiva:

As representações sociais são entidades quase tangíveis; circulam, se cruzam e se cristalizam continuamente através da fala, do gesto, do encontro no universo cotidiano. A maioria das relações sociais efetuadas, objetos produzidos e consumidos, comunicações trocadas estão impregnadas delas. Como sabemos, correspondem, por um lado, à substância simbólica que entra na elaboração, e, por outro lado, à prática que produz tal substância, como a ciência ou os mitos correspondem a uma prática científica ou mítica. (MOSCOVICI, 2012, p. 39).

26

Segundo o autor, portanto, podemos considerar as RS como conjuntos

dinâmicos, possuindo, como estatuto, a produção de comportamentos e de

relações com o ambiente, ou seja, a ação que transforma, e não a reprodução

de comportamentos ou relações, como reação a estímulos externos. Assim

sendo, podemos considerar as RS como “sistemas que possuem uma lógica e

linguagem particular, uma estrutura de implicações influenciam tantos os

valores quantos os conceitos. Um estilo de discurso que lhes é próprio.”

(MOSCOVICI, 2012, p. 47). Através dessa perspectiva, constatamos que as RS

não podem ser consideradas como opiniões ou imagens sobre determinados

objetos, mas como teorias, como ciências (realizadas de maneira coletiva) que

objetivam a interpretação e a formação do real.

Para Abric (1997), o ponto inicial dos estudos das RS está contido no

abandono da distinção clássica entre sujeito e objeto, tão trabalhada pela visão

behaviorista. Segundo o autor, o objeto inscreve-se em um contexto ativo,

concebido pela pessoa (ou comunidade) como uma extensão de seu

comportamento e das normais referidas por ele.

Portanto, a renúncia da dicotomia entre sujeito e objeto estabelece um

novo regulamento no que concerne à realidade objetiva, determinada pelos

elementos objetivos da situação e do objeto. Assim sendo, em consonância

com Abric:

Não existe uma realidade objetiva a priori, mas sim que toda realidade é representada, quer dizer, reapropriada pelo indivíduo ou pelo grupo, reconstruída no seu sistema cognitivo, integrada no seu sistema de valores, dependente de sua história e do contexto social e ideológico que o cerca. (ABRIC, 1997, p. 27).

A linguagem ocupa posição sine que non na constituição do indivíduo e

das práticas que promovem as ações linguageiras, revelando-nos, em via

disso, que os discursos não se originam apenas de uma consciência individual,

mas, sim, de uma consciência coletiva, estabelecendo-se como o produto de

uma interação social. Localizado, então, no interior desse quadro

sociointeracionista, o discurso apresentará um caráter dialógico, sendo

possibilitador da constituição do sujeito (por meio da ação discursiva) e do

acesso aos elementos dessa construção. Destarte, podemos afirmar que a

27

constituição desse indivíduo enquanto sujeito agente ocorre por meio de ações

discursivas inseridas em práticas sociais, sendo que, através de tais atividades,

podemos flagrar as representações que emergem do lugar ocupado pelo

discurso.

2.1.1 O processo de subjetivação nas RS

Ao propormos o funcionamento das RS, o qual envolve o processo de

subjetivação, isto é, a interferência direta do sujeito na constituição de uma

representação, recorremos às perspectivações de Matencio; Ribeiro (2008).

Para tanto, as autoras apoiam-se em Py (2000, 2004) para desenvolver suas

proposições. O autor, ao investigar o funcionamento das RS no interior das

interações sociais, aponta para a existência das Representações de Referência

(doravante, RR), as quais compõem e ajustam o núcleo central, enquanto

relativamente estável, uma vez que essas RR organizariam um grupo de

elementos comuns a todos os participantes de determinado grupo social.

Segundo o autor, existem, ainda, as Representações de Uso (doravante, RU),

as quais estariam vinculadas ao sistema periféricos das RS, já que são

emergentes da ação individual do enunciador durante o momento de sua

enunciação.

Considerando, então, essas noções de RR e RU, as autoras assim

esclarecem esses elementos constituintes de uma representação:

Uma vez que as RR consistem na retomada e reafirmação de crenças, concepções e sentimentos calcados na memória coletiva contribuem para modelar e regular a interpretação das ações dos membros do grupo. Como as RU estão, por sua vez, mais diretamente vinculadas ao contexto pragmático são mais suscetíveis a instabilidades e a mudanças, quando comparadas às RR. Assim, apesar de serem, como seria de se esperar, influenciadas pelas RR, as RU ilustram os momentos em que os sujeitos expressam de forma mais evidente sua singularidade. (MATENCIO; RIBEIRO, 2008, p. 3).

28

Assim sendo, para melhor evidenciar esse sistema operacional das RS,

formado pelas RR e RU, Matencio; Ribeiro (2008) propuseram o seguinte

esquema:

Figura 1 – Funcionamento das RS

Fonte: MATENCIO; RIBEIRO, 2008, p. 3

Ao considerarmos o esquema acima, destacamos que RR e RU referem-

se, respectivamente, ao núcleo central e ao sistema periférico da

representação, sendo que, qualquer alteração que atinja a RS, deverá iniciar-

se, inexoravelmente, pela periferia, devendo agir sobre as RU. Além disso, o

impacto dos efeitos dessa mudança, decorrente da força resultante (FR, já que

se constitui como a somatória das forças F1 e F2), pode provocar alterações

irreparáveis na RR e, consequentemente, na RS.

Assim, as autoras esclarecem que a RU é ponto inicial de possíveis

transformações das RS, sendo que, em uma situação de interação qualquer, os

sujeitos pertencentes a determinada comunidade valem-se de certos recursos

linguísticos para efetuar sua enunciação, fato que recorre ao repertório de RS

circundantes ao grupo social em que esses indivíduos estão inscritos. Para

tanto, esses sujeitos podem recorrer a expressões formulaicas, que já possuem

uma estrutura pronta – forma de verbalização que se remete às RR, devido ao

seu caráter objetivo – ou recorrer a expressões que retratam caráter subjetivo

de cada enunciador, expressando suas experiências individuais – as quais se

F1 = Força das RR

(estabilização/ plano

estático/tendência a inércia)

F2= Força das RU

(desestabilização)/plano

dinâmico/tendência ao

movimento)

RU RU

RR F1

11

RU

RU

F2

29

referem às RU, em função de sua subjetividade. Devemos esclarecer, pois, que

a recorrência a uma dessas operações não elimina a recorrência à outra no

processo interativo, uma vez que sempre haverá co-existência de ambas as

operações.

Nessa medida, verificamos que a recorrência às RU ocorre quando o

indivíduo, ao se deparar com experiências já vivenciadas e retomadas por

membros do grupo a que pertence, e emersas pelas RR, procura atribuir valor

e sentido a elas por meio de sua experiência particular. Assim sendo, quando

as RU manifestam-se, estão estreitamente ligadas a uma subjetivação, fazendo

com que as alterações dos construtos identitários, orientadas por movimentos

de convergência ou divergência, em relação às RR, sejam fundamentais para

as mudanças no sistema periférico da RS. Tal fator pode afetar o núcleo central

dessa representação, podendo transformá-lo ou condicionar a perda de sua

centralidade, fazendo com que o núcleo central, representado pela RR, e os

elementos periféricos, representados pela RU, emparelhem-se em um mesmo

nível. Para tanto, baseado no modelo das autoras,construímos o esquema a

seguir para melhor elucidar todo esse processo:

Figura 2 – Configuração da RR e RU em processo interacional

Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de MATENCIO; RIBEIRO, 2008, p. 5

Assim sendo, as características constituintes das posições identitárias

RR

RU

RU

divergente

RU

convergente

eee

Representação Social

30

de determinado grupo social amparam-se em uma dinâmica que confere, ao

grupo, unidade, a qual é fundamental para os sujeitos possam sentir afinidade

e pertencimento a essa comunidade. Logo, as referências instituídas no interior

de determinado grupo social comportam-se como parâmetro para que um de

seus integrantes possa se colocar em posição de distinção dos demais –

divergência – ou se colocar junto aos demais – convergência. Tal unidade,

então, é constantemente reconfigurada diante das transformações dos traços

que a compõem, uma vez que a dimensão da identidade é produto da

dinamicidade das trocas sociais e das divergências inerentes aos indivíduos

inscritos nessa interação.

Assumindo, então, todas essas dimensões acerca das RS,

verificaremos, na próxima seção, como se dá a construção do ethos discursivo,

processo fundamental para o entendimento do funcionamento do gênero

comentário on-line, e como ocorrem as emergências das representações no

interior desse gênero.

2.2 O Ethos discursivo

A vertente mais contemporânea, voltada para os estudos da

argumentação, admite um sentido mais amplo para o ethos, evidenciando não

apenas o lugar de onde fala o sujeito, mas as representações de enunciador e

enunciatário produzidas pelos mecanismos linguísticos contidos no discurso.

O ethos constitui-se no/pelo discurso e desencadeia efeitos sobre o

próprio locutor, o que nos permite identificar as implicações que esse processo

ocupa em relação às identidades dos sujeitos.

Nessa medida, segundo Amossy (2005), a competência da palavra está

intrinsecamente relacionada à autoridade do locutor, autoridade essa

concebida por meio da posição social ocupada por esse locutor. Nessa medida,

considerando a eficácia do discurso e a autoridade daquele que o pronuncia,

Amossy afirma:

31

[...] o poder das palavras deriva da adequação entre a função social

do locutor e o seu discurso: o discurso não pode ter autoridade se

não for pronunciado pela pessoa legitimada a pronunciá-lo em uma

situação legítima, portanto, diante dos receptores legítimos.

(AMOSSY, 2005, p.120)

Então, levando em conta essa afirmação de Amossy, podemos

considerar que todas as formas de discurso que circulam em uma sociedade

são construídas dessa maneira, em que a eficácia de um argumento depende

do ajuste entre a função social do locutor e o seu discurso.

A eficácia de um discurso está centrada na habilitação que o locutor

possui para proferir a palavra, isto é, o “auditório” apenas reconhecerá o orador

que se demonstra capacitado para valer-se de determinado discurso. A partir

desse ponto de vista, Amossy afirma que a proficiência da palavra não está

contida em seu enunciado, mas no enunciador e no poder que ele representa

para o seu público.

Nessa medida, para corroborar sua proposta defendida, Amossy cita o

sociólogo Pierre Bourdieu, para quem a interação social torna-se condição sine

qua non para a efetivação e reconhecimento de um determinado discurso. Para

o autor, o “dizer” deve ser considerado no interior da lógica da troca, a qual

deve ser, necessariamente, uma interação social, fato que implica na análise

do discurso em uma perspectiva binária. Primeiramente, na concepção

interacional, a troca entre os participantes é fundamental para a eficácia

discursiva. Posteriormente, sob a ótica institucional, tal troca é inerente às

posições ocupadas pelos participantes no campo em que atuam.

Sob essa perspectiva, Amossy cita a teoria polifônica de Ducrot, a qual

estabelece que a noção de que o ethos mostra-se durante o ato da

enunciação, constituindo-se como um fenômeno discursivo e que não deve se

confundir com o status social ocupado pelo indivíduo empírico. Isso porque,

para o autor, existe uma diferença entre o locutor (L), ser do discurso e

compreendido como o enunciador – portanto, responsável pelo enunciado –, e

o produtor (), compreendido como autor empírico, ser do mundo. Segundo tal

definição, o ethos está ligado ao locutor (L), uma vez que este é quem se

insere na interlocução, engendrando uma imagem de si, sendo que todo esse

processo envolve cenário, participantes e troca verbal.

32

Tomando por base, então, todas essas considerações, Amossy (2005)

estabelece a noção de estereótipo, que, segundo a autora, exerce papel

fundamental na definição do ethos. Assim, temos:

[...] a idéia prévia que se faz do locutor e a imagem de si que ele

constrói em seu discurso não podem ser totalmente singulares. Para

serem reconhecidas pelo auditório, para parecerem legítimas, é

preciso que sejam assumidas em uma doxa, isto é, que se indexem

em representações partilhadas. É preciso que sejam relacionadas a

modelos culturais pregnantes, mesmo se se tratar de modelos

contestatórios. (AMOSSY, 2005, p.125).

Para Amossy, portanto, a estereotipagem consiste no processo de idealizar o

real através de uma representação coletiva já endossada. Segundo a autora,

na lógica argumentativa, “o estereótipo permite designar os modos de

raciocínio a um grupo e os conteúdos globais do setor da doxa na qual ele se

situa.” (AMOSSY, 2005, p.126). Isso significa que o locutor apenas

representará o seu auditório se o correlacionar a um determinado segmento

social (político, cultural, étnico, etc.). Dessa forma, torna-se necessário, ao

locutor, adaptar-se ao seu auditório segundo uma concepção e um conjunto de

valores prévios que são feitos desse auditório, fato que, em consonância com

Amossy (2005), leva-nos a concluir que o processo de constituição do auditório

está inevitavelmente ligado ao processo de estereotipagem.

E, justamente, essa concepção de representação coletiva, representada

pelo processo de estereotipagem, remete-nos, novamente, à noção da Teoria

das Representações Sociais, a qual pode ser vista como um conhecimento

prático socialmente elaborado e compartilhado, em que uma determinada

comunidade elabora um grupo organizado de julgamentos e de informações

em relação a um dado referente. Dessa forma, assim como na representação

coletiva, quando uma dada sociedade assume e identifica uma dada RS como

legítima, partilha, em geral, das mesmas opiniões e representações,

engendrando, em função disso, um grupo específico.

Estabelecida, pois, a relação entre o processo de estereotipagem e a

Teoria das Representações Sociais, quando voltamos a nos apoiar em Amossy

33

(2005), verificamos que, para a autora, é a construção da imagem de si um

fator importante para direcionar, ao discurso, uma parte relevante de sua

autoridade. (AMOSSY, 2005, p.126). Dessa forma, o enunciador adéqua a

apresentação de sua imagem às representações coletivas que ele acredita

serem assumidas por seu público-alvo, sendo que tal apresentação é dada,

principalmente, pelas modalidades de sua enunciação. E, justamente, por meio

dessa estratégia, o discurso torna-se o responsável pelo fornecimento dos

elementos necessários para a construção da imagem do enunciador,

elementos esses que, todavia, são apresentados de modo indireto e implícito

para que, quando assomados à situação em que essas características se

manifestam, permitam a construção da imagem do enunciador.

Considerando, então, essa dimensão da construção da imagem de si,

podemos nos concentrar na noção de ethos. Dessa forma, Maingueneau

(2008), no texto “A propósito do ethos”, chama a atenção para dificuldade de

uma definição exata do termo, sendo várias as dimensões e significados

tomados ao longo do tempo. Contudo, o autor destaca alguns princípios

mínimos que podem ser aceitos para a definição do termo: o ethos consiste em

uma noção discursiva, construindo-se através do discurso, excluindo-se,

portanto, a noção de “imagem” do locutor de forma exterior à sua fala.

Acrescidamente, o ethos constitui-se, essencialmente, como um processo

interativo de influência sobre o outro. E, finalmente, possui uma dimensão

sociodiscursiva, um comportamento avaliado socialmente, o qual não pode ser

compreendido externamente a uma situação de comunicação precisa e

localizada em um determinado contexto sócio-histórico.

Diante desses preceitos básicos, o autor insiste que o conceito de ethos

mantém um laço com a reflexividade enunciativa, articulando “corpo e discurso

para além de uma oposição empírica entre oral e escrita.” (MAINGUENEAU,

2008, p. 17). Assim, diferentemente das preconizações da retórica tradicional,

que atrelou a noção de ethos à eloquência e à situação de fala pública,

Maingueneau estabelece que tal noção deve abarcar todo o tipo de texto: orais

e escritos. Assim, para o autor:

Todo texto escrito, mesmo que o negue, tem uma “vocalidade” que

pode se manifestar numa multiplicidade de “tons”, estando eles, por

34

sua vez, associados a uma caracterização do corpo do enunciador (e,

bem entendido, não do corpo do locutor extradiscursivo), a um

“fiador”, construído pelo destinatário a partir de índices liberados na

enunciação. (MAINGUENEAU, 2008, p. 18)

A partir dessa perspectiva, Maingueneau estabelece a noção de “fiador”,

o qual consistiria, a nosso ver, como o ethos propriamente dito, construído,

pelo auditório, durante a interação verbal da enunciação, sendo que, por meio

das representações coletivas estereotípicas, esse ethos assumiria uma posição

social e histórica.

Partilhando desses mesmos princípios de Maingueneau, Amossy (2005)

aponta que o ethos pode ser definido pela autoridade institucional e pela

construção discursiva, devendo ocorrer uma confluência, um continuum entre

esses níveis. Assim, para a autora, não se deve dissociar o ethos discursivo da

posição institucional do locutor e nem segregar a interlocução da interação

social, uma vez que “a passagem sujeito falante como ser empírico ou ‘ser no

mundo’ para o locutor como pura instância de discurso se efetua por uma série

de mediações.” (AMOSSY, 2005, p.136). Nessa medida, a posição institucional

que o orador ocupa, posição essa que lhe concerne uma legitimidade, contribui

para promover uma imagem prévia de si, a qual, gradativamente, será

construída no discurso, por meio da interação verbal, determinando, assim, a

capacidade de o locutor agir sobre o seu auditório.

Destarte, verificamos que essa correlação entre ethos discursivo e ethos

institucional ocorre de maneira recíproca, não sendo uma preponderante sobre

a outra. Assim, o status gozado pelo orador e sua imagem pública delineiam a

sua autoridade a partir do momento em que toma a palavra, entrementes a

construção da imagem de si durante o discurso pode modificar as

representações prévias e instalar imagens novas, dinamizando aquele âmbito

enunciativo.

Em virtude disso, fica claro que Amossy (2005) propõe, em um ato

enunciativo, a instância do locutor abarca a posição assumida, de maneira

implícita, pelo indivíduo empírico no campo; o ethos prévio (ou pré-discursivo);

e a imagem construída no discurso, considerada como o próprio ethos. E,

justamente, o estereótipo, que engloba representações sociais coletivas que

35

pertencem à doxa, faz com esse ethos torne-se sócio-histórico.

Diante de todas essas abordagens teóricas contempladas, assumimos a

posição, para os estudos de nosso corpus, de que no interior do gênero

comentário on-line, conforme verificaremos no capítulo seguinte, cada

comentador constrói um ethos discursivo que converge ou diverge com a RS

que se destaca do artigo publicado no site da revista “Istoé”.

Para tanto, pontuamos que esse processo ocorre na medida em que o

autor de cada artigo da revista constrói um determinado ethos que revela pistas

e influências assumidas pelo autor empírico, isto é, pelo ser do mundo

(conforme postula Ducrot), elementos esses que manifestam uma RS evidente,

a qual se espera ser aceita pelo auditório imaginado. Esse auditório,

representado pela composição de todos os comentários on-line, conforme

verificamos anteriormente, pode comungar ou divergir dessas imagens

construídas pelo autor do artigo, revelando, em um micronível analítico, a

emergência de diferentes ethos discursivos, os quais expressam a

individualidade de cada sujeito comentador.

Nesse sentido, no gênero comentário on-line, quando um enunciatário

diverge da imagem construída pelo enunciador – o autor de um artigo (ou

demais gêneros textuais) e/ou um comentador on-line –, há a manifestação de

ethos discursivos discrepantes e que, portanto, engendram uma polêmica que

perpetra todo o discurso. Tal discurso polêmico foi muito bem estudado por

Dominique Maingueneau (2005) e, em função de sua pertinência para nosso

estudo, será abordado, de maneira sucinta, na seção a seguir, de modo a

revelar a emergência da polêmica nos comentários on-line.

2.3 O discurso polêmico

Quando nos apoiamos em Maingueneau (2005), verificamos que, em

um dado discurso, determinados enunciados distinguem-se por estarem

envoltos em controvérsias em relação a outros enunciados presentes no

mesmo discurso, estabelecendo, assim, um caráter polêmico.

Para o autor, a polêmica não se constitui simplesmente como uma

relação controversa (sendo esta apenas um de seus elementos constituintes),

36

uma vez que, para sua existência, um discurso deve realizar uma menção

explícita a outro, isto é, a polêmica surge quando um discurso interpela o

adversário, engendrando uma cadeia de enunciações. Logo, se não existe um

indicador visível de relação a outro enunciado, não existe polêmica, a qual,

para sua sustentação, de acordo com Maingueneau, exige “relações explícitas

entre duas formações discursivas” (2005, p. 111), sendo que, para formações

discursivas, consideramos, aqui, como aquilo que pode e deve ser dito a partir

de uma determinada posição assumida.

Destarte, uma das maneiras de menção explícita a outro enunciado é a

citação. Isso porque, no interior do processo de citação do discurso adversário

é que emerge outro aspecto da relação polêmica. Segundo Maingueneau, uma

formação discursiva, ao deixar perpetrar seu ‘outro’ em seu próprio interior,

como uma forma de citação, apenas ‘traduz’ o enunciado desse ‘outro’,

realizando suas próprias interpretações segundo suas próprias categorias.

(MAINGUENEAU, 1997, p. 120).

Em função disso, ao comentar ou citar o enunciado de seu adversário, o

discurso não se lhe faz fidedigno, mas, sim, um simulacro, uma espécie

caricatural, fato que nos revela que, na polêmica, existe um desentendimento

mútuo, no qual uma formação discursiva não pode ou não consegue entender

a outra. De acordo com Maingueneau (2005), nesses casos em que ocorrem

posições enunciativas diversas, há uma associação entre o fato de se enunciar

conforme as normas de sua própria formação discursiva e o fato de não sem

compreender o sentido do enunciado de outrem.

Tal ação de não compreensão, imanente à polêmica, Maingueneau

(2005) cunhou de interincompreensão. Esse fenômeno, de acordo com o autor,

não se relaciona à incompetência dos adversários, mas, sim, ao fato de que

todos os enunciadores que possuem acesso a um discurso que não é o seu,

tendem a compreendê-lo erroneamente, uma vez que o interpretam a partir de

sua própria posição e não da posição assumida pelo autor daquele discurso.

Em função disso, verificamos que não existe um debate genuinamente

sincero, mas, sim, um debate engendrado a partir de um simulacro a

incompreensão das posições do ‘outro’. Para Maingueneau (2005), entretanto,

essa incompreensão faz-se positiva, já que, ao impedir o entendimento de todo

o espaço discursivo, ela possibilita o entendimento do espaço limitado de um

37

mesmo discurso, no qual se fale do mesmo objeto e de maneira similar.

Assim sendo, nos comentários on-line, como os enunciadores

envolvidos na estruturação desse gênero possuem pleno acesso a discursos

que não lhe pertencem, por isso mesmo interpretam-nos a partir de seus

próprios pontos de vista, de onde emerge a polêmica, tão elementar a esse

gênero. E, justamente, no interior desse discurso polêmico é que percebemos a

emergência de ethos tão divergentes entre si e que garantem a existência dos

comentários on-line.

2.4 Princípios metodológicos

As pesquisas ancoradas em leitura e escrita devem levar em conta,

previamente, as representações dos sujeitos estudados, fato que nos coloca

diante de problemas de categorização, já que, muitas das vezes, as RS são

estudadas desconsiderando os elementos próprios de uma determinada

comunidade, como podemos observar:

Enfim, nos parece redutor interrogar-se sobre as RS e sobre os comportamentos de um grupo dado sem se debruçar sobre as características da língua que circula neste grupo, que são constitutivas das RS. (GROSSMANN; BOCH, 2006, p. 29).

Ao considerarem, pois, esse problema categorial, Grossmann e Boch

(2006) indagam se é possível, para o linguista, valer-se de um conceito de

representações sociais (pertencente ao campo da Psicologia Social), ancorado

precisamente de forma epistemológica e sistêmica? E, analogamente, torna-se

possível para o psicólogo social analisar um discurso (pertencente ao campo

da Linguística) ignorando-se toda a profundidade linguística pertencente ao

discurso? Para essa problematização, são, em consonância com os autores,

possíveis dois tipos de resposta. O primeiro ancora-se em uma banalização

dos conceitos, relegando-os para um segundo plano, em favor do empirismo, e

esquecendo, propositadamente, que o senso comum, muitas das vezes,

ornamenta-se com os vieses de um caráter científico. Já o segundo tipo volta-

se, com algum esforço, para enfrentar a diversidade dos campos teóricos

38

referenciais e para definir, de modo claro, o uso de tais conceitos, não

olvidando sua profundidade histórica.

Assim sendo, quando analisamos regularmente os discursos,

questionamos se tal método não consiste simplesmente em acrescer apenas

mais uma casta, desconsiderando-se toda a espessura linguística discursiva, já

que essas análises parecem não ofertar uma garantia de sua própria validade,

conduzindo a uma via em que parece não mais saber aquilo que se analisa e

qual a proficuidade daquilo que é analisado. Diante dessa realidade, há de se

recuperar a dimensão social do discurso analisado e o motivo pelo qual o

objeto linguístico detectado relaciona-se a práticas sociais. Para tanto, deve-se

considerar as categorizações sociais e levar-se em consideração as

especificidades das práticas linguageiras, fato que engendrará uma

propriedade essencial da linguagem – um espaço semiótico em que se constrói

o objeto a que a linguagem se refere.

Então, não nos restaria outra solução para esse dilema a não ser

enfrentar a diversidade dos modelos e considerar que eles se complementam

sob as diferentes perspectivas adotadas sobre o objeto estudado e, por isso,

devem ser considerados de maneira complementar, uma vez que tais modelos

podem responder a problematizações que não conseguiriam elucidar

individualmente.

Sob essa perspectiva, então, nosso objetivo é de contemplar alguns

modelos teóricos diversos, não díspares, mas que se complementam e,

portanto, possibilitam uma boa abordagem analítica para o material coletado.

Nessa medida, verificamos a importância primeira do discurso para os estudos

semióticos e, como no caso de nosso trabalho, para a revelação das RS, sendo

o discurso responsável pela interface entre essas duas abordagens. Dessa

forma, segundo Grossmann e Boch (2006):

Interrogar o discurso parece, então, fundamental, não somente porque ele é revelador primeiro da RS (que é uma RS não-verbalizada, e sobretudo como ter acesso a ela senão pela linguagem?), mas também porque é o lugar de expressão da RS, tanto quanto as outras práticas sociais do sujeito. (GROSSMANN; BOCH, 2006, p. 31).

39

Diante disso, verificamos que devemos nos concentrar em uma

abordagem que leva em conta o sujeito por meio de suas práticas de

linguagem, as quais, em mesma escala, são reveladoras das RS, tão caras aos

nossos estudos.

40

3 O GÊNERO COMENTÁRIO ON-LINE

Neste capítulo, interessa-nos realizar breve discussão sobre a noção de

gênero e de outras noções a ele vinculadas a partir do quadro do Círculo

bakhtiniano, a fim de, em seguida, abordarmos as especificidades do gênero

foco deste trabalho: o comentário on-line.

Ao levarmos em conta a obra “Estética da Criação Verbal”, do filósofo da

linguagem Mikhail Bakhtin (1992), verificamos que a linguagem deve ser

estudada em consonância com o meio social, fato que eleva a importância das

relações de interação sócio-históricas. Para o autor, portanto, a comunicação

verbal ocorre por meio dos gêneros, considerados normativos e “relativamente”

estáveis, os quais organizam a comunicação humana nas diferentes esferas da

atividade humana.

Nesse quadro, devemos levar em consideração um princípio

fundamental para a linguagem: as relações dialógicas. Nesse sentido, o

dialogismo consiste em um elemento constitutivo da linguagem, já que, no uso

real da língua, sempre haverá uma interação entre um “eu” e um “tu”, princípio

inerente à relação dialógica. Dessa forma, ao considerarmos a perspectiva

bakhtiniana, verificamos que não existe um discurso adâmico, fundador, já que

tudo aquilo que se diz, de alguma maneira, já foi dito por outros sujeitos, fato

que torna o meu enunciado um diálogo entre o meu discurso e discurso dos

outros.

Nessa medida, o dialogismo, tomado como princípio constitutivo da

linguagem, estabelece um processo sociointerativo, em que diferentes vozes

sociais se intercruzam no interior de uma cadeia semiótica, estabelecendo uma

relação de anterioridade e posterioridade com outros enunciados. Assim sendo,

nenhum enunciado deve ser analisado isoladamente, extraído do social, como

se fosse fruto de uma consciência subjetiva, já que cada enunciado está

interligado, conectado a uma cadeia discursiva cujos limites são, praticamente,

indefinidos.

Considerando, pois, essa cadeia discursiva à qual pertence o enunciado,

focalizaremos o princípio dialógico do gênero comentário on-line, verificando o

seu funcionamento, levando em conta os recursos verbais utilizados pelos

41

comentadores e o fato de que cada comentário individual é parte integrante de

um encadeamento maior, o que parece ser característica central do gênero

comentário on-line.

Em via, pois, de todas essas considerações tecidas, faz-se necessário,

mais do que uma definição, uma recapitulação das dimensões dos conceitos

de gênero e dialogismo, para, somente, então, definirmos, propriamente, o

gênero comentário on-line.

3.1 Gêneros

Ao assumirmos a concepção de que a linguagem deve ser entendida em

consonância com as relações de interação social, constatamos que toda e

qualquer forma de comunicação verbal ocorre através de gêneros, os quais

possuem, como função primeira, a organização da comunicação humana.

Nessa medida, ao considerarmos a definição do termo “gênero”, faz-se

necessário, de antemão, uma reflexão teórica acerca do referido termo.

Considerando a ótica discursiva, devemos destacar a importância do filósofo da

linguagem Mikhail Bakhtin (1992) para tais estudos, uma vez que o autor

propõe que todo enunciado apenas é passível de compreensão no interior de

um gênero discursivo. Destarte, através da perspectiva bakhtiniana, a noção de

gênero é redimensionada no âmbito das interações sociais, observando-se as

formas enunciativas relativamente estáveis no modo de configuração dos

textos, considerada a função social que desempenham.

Nesse sentido, em toda situação comunicativa, oral ou escrita, existe um

modo de organização verbal, socialmente constituído, que consagra um

repertório de estruturas enunciativas que orienta o falante no uso da língua e

na compreensão dos enunciados (BAKHTIN, 1992). A partir desse ponto de

vista, a definição de gênero não se restringe, somente, às atividades literárias,

mas corresponde a todo sistema regulador de produção discursiva,

sedimentado em uma sociedade, com a finalidade de produzir efeitos de

sentidos sobre o interlocutor situado em contexto de interação.

Nesse contexto, Bakhtin (1992) esclarece que toda a comunicação

verbal ocorre através dos gêneros, os quais organizam essa prática humana

42

em uma maneira praticamente estável de agir por meio da linguagem, já que se

constituem, simultaneamente, como normativos e “relativamente” estáveis,

instâncias estas que não são dicotômicas, mas imbricadas entre si. Ao

considerar a perspectiva normativa, o autor preconiza que o gênero estabelece

algumas normas que mantêm e conservam os traços e formas que o

identificam como tal; já a noção de “relativamente” estável leva em

consideração que, apesar das normas estabelecidas pelo gênero, as práticas

discursivas (como são práticas sociais) são dinâmicas e, portanto, mutáveis.

Isso estabelece que o gênero não é rígido e fixo em sua normatividade.

Assim sendo, levando-se em consideração a perspectiva bakhtiniana

das práticas discursivas situadas na perspectiva da interação social,

percebemos a função primordial que os indivíduos assumem na constituição do

significado dessa interação, uma vez que o ato de enunciação individual é

deslocado para um plano maior, fato que demonstra que há relações estreitas

entre o elemento linguístico e o social. Sob a ótica de Bakhtin, portanto, da

confluência e interação entre esses indivíduos, nasce a enunciação, a qual se

detém como o "produto da interação de dois indivíduos socialmente

organizados" (BAKHTIN, 1999, p. 112), compreendendo a matéria linguística e

o contexto em que ela foi inserida. Nessa medida, a enunciação é considerada

como fruto da junção entre os elementos linguísticos e sociais. E, em função

desse fator, enunciação possui um sentido único e definido, já que advém de

um contexto específico e que faz sentido apenas no momento de sua

ocorrência.

Considerando-se, pois, que o momento da enunciação detém-se único,

notamos que uma palavra proferida por indivíduos em contextos diferentes não

será exatamente a mesma palavra. Esta, portanto, em qualquer âmbito de

significação, constitui um enunciado, que, de acordo com Bakhtin, detém-se

como "a unidade real da comunicação verbal" (1992, p. 293). Para o autor,

portanto, o enunciado pode constituir-se de uma só palavra, de combinações

de palavras ou de orações, mas sempre apresenta fronteiras iminentemente

delimitadas, as quais são estabelecidas pelos falantes.

Destarte, ao trazer a significação para o campo da enunciação e, em

função disso, para uma esfera sociointeracionista, Bakhtin (1992) atenta,

fundamentalmente, para a língua e sua natureza social, estabelecendo que,

43

paralelamente às leis internas, a língua também é regida por leis externas, que

possuem uma natureza social. Assim, para o autor, o signo torna-se uma

condição sine qua non para o ser humano, pois emerge na interação entre o

psiquismo subjetivo e a ideologia, acoplando duas realidades para engendrar

uma única: a realidade das relações sociais.

A partir dessas considerações, Bakhtin estabelece que “o que faz da

palavra uma palavra é a sua significação, assim como o que faz da atividade

psíquica uma atividade psíquica é [...] a sua significação” (BAKHTIN, 1992,

p.49). A partir dessa proposição, o autor sugere que a significação não existe

de forma isolada e à margem do signo, mas emerge na atividade mental e, a

partir de então, poderá ser exprimível em uma relação sociointeracionista.

Ainda, segundo a proposta bakhtiniana, a cada uso da forma linguística,

ocorrerá uma nova significação, já que a instância da enunciação ocorre de

maneira única e, por isso, um signo, proferido por indivíduos, em contextos

diferentes, não será exatamente o mesmo signo, apresentando fronteiras

iminentemente delimitadas e que são estabelecidas pelos falantes.

Considerando, então, essa perspectiva sociointeracionista, Marcuschi

(2007), tendo em vista a ótica textual, salienta que os gêneros textuais

consistem de fenômenos históricos, vinculados à vida cultural e social,

contribuindo para ordenar as atividades comunicativas do cotidiano. Dessa

forma, os gêneros caracterizam-se como eventos textuais muito maleáveis e

dinâmicos, estruturando-se de maneira intrínseca às atividades socioculturais e

na relação com as inovações tecnológicas.

Ainda segundo Marcuschi (2007), as novas tecnologias, especialmente

aquelas ligadas à área da comunicação, são as grandes responsáveis pelo

surgimento de novos gêneros textuais. De acordo com o autor, todavia, não

são propriamente as tecnologias que originam os gêneros, mas, sim, a

intensidade do uso desses recursos tecnológicos e suas interferências nas

atividades comunicacionais cotidianas. Nessa medida, os grandes suportes

tecnológicos da comunicação propiciam e abrigam gêneros bastante

característicos, tais como editoriais, notícias, telefonemas, telegramas, e-mails,

videoconferências, comentários on-line, reportagens ao vivo, bate-papos

virtuais, dentre outros.

Nessa medida, o comentário on-line, no ato de sua enunciação, deve ser

44

visto não somente como um fato individual, resultante de um comentador/

enunciador que delibera, por si só, as variações que implementa em seu

comentário, mas como uma enunciação que visa adequar-se a um interlocutor

real, que varia conforme o grupo, a hierarquia ou os laços sociais/familiares.

Dessa forma, o comentário escrito é interpretado, de maneiras diversas, por

leitores que se situam em tempos e espaços diversos, localizados em

diferentes comunidades que oscilam sua hierarquia social, política, econômico

e cultural. Esse conjunto de fatores, considerados como condições de

produção, engendram o tipo de enunciação produzido.

Tendo em vista essas dimensões, ao considerarmos o quadro

sociointerativo a que pertence o gênero comentário on-line, não devemos

descartar o princípio dialógico, que, enquanto constitutivo da linguagem, faz-se

constitutivo do próprio gênero comentário on-line. Para tanto, partiremos para

uma breve discussão acerca da noção de dialogismo.

3.2 Dialogismo

“Ser significa comunicar-se pelo diálogo” (BAKHTIN, 2002, p. 37). Essa

afirmação de Bakhtin (2002) sintetiza toda sua concepção da obra de

Dostoiévski como um grande diálogo, considerando o dialogismo como

fundamento do pensamento criativo e da própria criação.

Sob essa perspectiva, Bakhtin (2002) considera que o diálogo não é um

meio, mas um fim, pois não se pode representar o homem interior senão pela

representação de sua comunicação com outros homens. Somente na

comunicação, na interação do homem com o homem, revela-se o “homem no

homem”, seja para si mesmo ou para os outros. O diálogo não é, pois, o limiar

da ação e, sim, a própria ação. Logo, quando o dialogismo termina, tudo

termina, fato que impossibilita o fim absoluto do diálogo.

Nessa medida, a relação dialógica não ocorre somente entre discursos

interpessoais – escritos ou verbais –, mas contempla, também, a diversidade

das práticas discursivas de maneira mais abrangente. O dialogismo pode ser

aplicado à relação existente entre as línguas, os gêneros, os estilos e, até

mesmo, entre as culturas, uma vez que todos esses elementos possuem a

45

linguagem como princípio comum.

Diante disso, evidenciamos que a dimensão interacionista da linguagem

é permitida por meio do diálogo, considerado por Bakhtin como o sistema de

relações que se estabelecem entre interlocutores, no interior de uma ação

histórica socialmente compartilhada, ou seja, realiza-se em um tempo e local

específicos, podendo, contudo, ser mutável, em função das variações do

contexto. Assim sendo, o princípio dialógico bakhtiniano é de importância

substancial, já que pode ser considerado, como dito, o princípio constitutivo da

linguagem e condição de sentido do discurso. Para tanto, o dialogismo pode

ser desdobrado em dois aspectos: o da interação verbal entre o enunciador e o

enunciatário textual e o da intertextualidade/interdiscursividade no interior do

discurso.

O dialogismo decorrente da interação verbal estabelece-se entre o

enunciador e o enunciatário, no interior do espaço textual. Desaparece,

portanto, o papel cêntrico do sujeito, o qual se transmuta em diferentes vozes

sociais e assume o cargo de sujeito histórico e ideológico. Tal concepção é

muito bem trabalhada por Barros (1994),que, em seu trabalho “Dialogismo,

Polifonia e Enunciação”, tece as seguintes considerações acerca do dialogismo

em Bakhtin:

O dialogismo decorre da interação verbal que estabelece entre o enunciador e o enunciatário, no espaço do texto. Se nessa concepção de dialogismo aparece a relação eu-tu, que faz pensar em subjetivismo, como em Benveniste e sua correlação de subjetividade, deve-se observar não ser esse o modo de ver de Bakhtin. Para o autor, só se pode entender o dialogismo interacional pelo deslocamento do conceito de sujeito. O sujeito perde o papel de cetnro e é substituído por diferentes (ainda que duas) vozes sociais, que fazem dele um sujeito histórico e ideológico. (BARROS, 1994, p. 02).

Nessa medida, outro aspecto fundamental do dialogismo consiste na

ocorrência do diálogo entre os muitos textos da cultura e do meio social que se

instalam no interior de cada texto e o concebe. Tal recurso fundamenta o

princípio do dialogismo e intertextualidade. Essa noção de intertextualidade é

explicitada por Kristeva (1969) ao sugerir que Bakhtin, quando demonstra a

presença de inúmeras vozes coexistindo em um texto (resgatando ou

46

rejeitando outros textos), teria concebido a ideia de intertextualidade. Sob essa

perspectiva, o princípio bakhtiniano entende que o discurso textual deve ser

tecido polifonicamente por meios dialógicos de vozes que polemizam entre si,

complementam-se ou respondem umas às outras. Firma-se, a partir de então,

a intertextualidade, compreendida não como uma dimensão derivada, mas

como uma dimensão primeira de que o texto deriva, reproduzindo nele o

diálogo com outros textos.

Levando em consideração, pois, o caráter constitutivo das vozes verbais,

em um dos trabalhos pioneiros sobre as teorias de Bakhtin, no Brasil, Cristovão

Tezza (2002) define a origem da palavra polifonia. De acordo com o autor, o

termo foi emprestado da arte musical, na qual, sendo entendido como

o efeito obtido pela sobreposição de várias linhas melódicas independentes, mas harmonicamente relacionadas, Bakhtin emprega-a ao analisar a obra de Dostoiévski, considerada por ele como um novo gênero romanesco – o romance polifônico (TEZZA, 2002, p. 90).

A partir dessa definição, fica evidenciado que todo discurso é

perpassado por outros discursos, compondo várias linhas melódicas que se

intercalam entre si.

Sob essa perspectiva, o termo polifonia deve ser empregado para

caracterizar um tipo de texto em que se fazem presentes e se entreveem

muitas vozes, por oposição aos textos monofônicos, os quais escamoteiam os

diálogos que os constituem. Ou seja, a polifonia constitui-se como o elemento

que harmoniza a multiplicidade de vozes autônomas, produzindo, assim,

diferentes efeitos de sentido que repercutem diversas ideologias. Já o

dialogismo pode ser definido como o princípio constitutivo da linguagem e de

todo o discurso, haja vista que, mesmo em produção monofônica, há sempre

uma relação dialógica, o que torna todo gênero um elemento dialógico.

Tendo em vista todas essas considerações, verificamos que o

dialogismo é condição sine qua non da linguagem e, consequentemente, marca

os elementos textuais por ela produzidos. Dessa forma, podemos verificar que,

mesmo os conceitos sendo próximos, há diferenças sensíveis entre dialogismo

e polifonia; contudo, a visão sociointeracionista – que leva em conta a

47

linguagem e os seus usuários em uma integração com o seu meio – torna-se o

elo entre ambas as concepções.

3.3 Comentários on-line: o gênero propriamente dito

Ao considerarmos a noção de interação na perspectiva bakhtiniana,

verificamos que tal conceito não se limita à interação entre os parceiros de uma

dada situação de comunicação, mas se amplia às relações interativas entre os

enunciados, entre os quais, mesmo não havendo um contato direto entre os

seus autores, emergem vozes sociais diferenciadas.

Dessa forma, ao levarmos em conta o processo de interação verbal

preconizado por Bakhtin (1992), verificamos que o enunciado possui o seu

sentido construído por meio das relações dialógicas, em que, sendo estudado

fora da vida real, perderá seus laços com os enunciados que lhe precedem e

lhe procedem, deixando de ser um enunciado, uma vez que fora privado do

princípio dialógico que lhe insere em um determinado contexto sócio-histórico e

lhe concerne o fato de ser único e não iterável.

Sob essa perspectiva, ao considerarmos o gênero comentário on-line na

esfera jornalística digital, verificamos que os leitores dirigem seus comentários

sobre notícia retratada ou sobre outros comentários feitos sobre essa mesma

notícia, o que se configura como um processo discursivo interativo que mantém

relações dialógicas de diferentes naturezas.

De forma a entendermos o funcionamento do comentário on-line no

universo da tecnologia digital, mais especificamente, como já assinalado, na

esfera jornalística, recorremos a Santos e Alves Filho (2012), que afirmam que

o gênero comentário on-line nasce como um estímulo da esfera jornalística na

tentativa de favorecimento da expressão da opinião pública, sendo muito usual

encontrarmos, nessa instância jornalística on-line, expressões como “deixe

aqui o seu comentário”, “seja o primeiro a comentar”.

Dessa forma, ainda segundo os autores, em função do fato de o gênero

comentário ser fundamentado por uma sequência de enunciados detentores de

início e fim, marcados pela alternância dos sujeitos comentadores, torna-nos

48

possível a deflagração das relações dialógicas dos enunciados “a partir de

seus elementos constitutivos: a alternância dos sujeitos, conclusibilidade e

valoração apreciativa.” (SANTOS; ALVES FILHO, 2012, p. 150).

Nessa medida, constatamos, conforme será verificado no tratamento

analítico dos dados posteriormente (por exemplo, um comentador dirige-se

diretamente a outro, em um movimento de refutação, por meio do uso de um

vocativo, fato que revela uma réplica explícita), que, na sequência dos textos

de comentários relativos a determinada notícia, existe uma cadeia dialógica à

qual cada comentário relaciona-se – de forma mais ou menos enfática – a

outros comentários no interior desse encadeamento de enunciados. Assim

sendo, ainda nos apoiando em Santos e Alves Filho (2012), verificaremos o

funcionamento e aplicabilidade dos comentários on-line com base no conceito

de microcadeia discursiva, por meio do qual se trabalha com a ideia de que

cada comentário individual constitui-se como parte de uma sequência maior,

que é o gênero propriamente dito. Para tanto, devemos esclarecer que cada

comentário on-line individual – que manifesta o ethos discursivo de cada

comentador – pode ser considerado como uma inserção, isto é, uma

microcadeia discursiva que compõe uma macroestrutura, considerada como

uma macrocadeia discursiva, à qual se dá também o nome de comentário on-

line. Dessa perspectiva, depreendemos que tal gênero pode ser considerado

como o conjunto de todos os comentários, relativos a uma determinada notícia,

em consonância com um contexto extralinguístico, tendo como papel

determinadas funcionalidades sociais, a principal delas sendo o ato de

comentar.

Assim sendo, podemos afirmar que o gênero comentário on-line é

constituído por uma cadeia de enunciados que pertence a um domínio maior: o

discurso respectivo às várias esferas de comunicação, as quais, por meio de

relações dialógicas, são ligadas aos interlocutores e ao gênero. Nesse sentido,

deve-se esclarecer que tais relações dialógicas não se restringem ao diálogo

entre as vozes internas do comentário e da notícia, haja vista que todo gênero

está ligado a um contexto extraverbal, em que as relações sociais se

constituem, fato já estabelece uma ligação entre a voz do locutor com demais

vozes sociais, além daquela a que esse locutor replica direta ou implicitamente.

49

Nessa medida, para Santos e Alves Filho (2012), o conceito de cadeia

discursiva, embasado na ótica bakhtiniana, volta-se para o fenômeno do

dialogismo constitutivo, em que cada enunciado estaria relacionado a outros

enunciados já ditos – conquanto essa primeira voz pronunciada não possa ser

identificada a determinada autoria –, fato que nos remete à ideia de

macrocadeia discursiva, justamente, em função dessa relação dialógica

amplificada. Neste ínterim, ao considerarmos o comentário on-line, adota-se o

conceito de microcadeia porque ele possui uma forma estrutural demarcada.

Ao considerarmos, pois, o fenômeno do dialogismo constitutivo, como

referido sobreditamente, temos que cada enunciado vincula-se a outro(s)

enunciado(s) em uma rede sem extremidades, em que não conseguimos

determinar, de forma precisa, o princípio e o fim. Entrementes, ao

considerarmos o comentário on-line, por se tratar de um gênero (portanto,

detentor de limites mais ou menos definidos), adota-se a ideia de microcadeia,

em que cada enunciado funciona como um elo no interior desse

encadeamento, fato que nos permite verificar as marcas da alternância de

sujeitos em uma rede discursiva demarcada pelo primeiro e último enunciado.

Dessa forma, ao consideramos apenas um comentário ou um elo dessa cadeia,

não conseguimos identificar um gênero legítimo – mas, apenas, um segmento

de texto –, já que não podemos estabelecer os parâmetros necessários para a

“fixidez” estabelecida pelo gênero.

Sob essa perspectiva, não podemos desconsiderar a relação que se

estabelece entre o comentário on-line e a conversa espontânea, seja ela face a

face, seja ela realizada virtualmente. Para tanto, devemos lembrar que a

prática de se endereçar a outra pessoa, apesar de não ser totalmente nova,

haja vista as semelhanças guardadas com as cartas ou bilhetes, assume uma

nova perspectiva, já que os múltiplos recursos e ferramentas das recentes

tecnologias digitais permitem conversas instantâneas – ou praticamente

instantâneas. A prática de comentar, portanto, assume uma nova perspectiva,

uma vez que se torna inerente ao funcionamento de mídias como as redes

sociais, dentre as quais podemos destacar o Facebook e o Twitter, assumindo

um caráter altamente interativo, o qual é esperado por tais ferramentas.

Desse modo, podemos observar que o recurso de comentar, assumindo

dimensões gradativamente maiores, é cada vez mais adotado por suportes

50

como revistas e jornais. Isso porque o ato de comentar não é mais considerado

somente como um recurso sofisticado, mas um recurso interativo necessário ao

funcionamento desses suportes, para que se mensure a dimensão da

receptividade e aceitação, por parte dos leitores, em relação aos textos que

são publicados, principalmente, nos sites desses jornais e revistas.

Dessa forma, ao considerarmos a noção de cadeia discursiva

constitutiva do gênero comentário on-line, verificamos que cada enunciado

nasce como uma replicação que pode estar relacionada: diretamente à notícia,

a outro comentário ou diretamente ao autor do comentário, ao acontecimento

social por si só, a determinado sujeito envolvido no acontecimento, ou, ainda, a

outros acontecimentos que são estranhos à própria notícia e aos outros

comentários. Neste último caso, em que o comentário aparece como réplica a

acontecimentos alheios à matéria jornalística em questão (por exemplo,

conforme verificaremos no capítulo de análise, em que um comentador faz

referências a conceitos religiosos, quando a temática do artigo, ao qual o

comentário se refere, retrata as atitudes do ex-senador Demóstenes Torres),

conseguimos também identificar uma relação dialógica, que se estabelece em

relação a outros fatos e discursos de nossa sociedade.

Nessa perspectiva, ao constituir-se como uma microcadeia discursiva, o

gênero comentário on-line nos permite verificar, na grande maioria das vezes, a

cada novo comentário, sua conexão com aquele a que se refere ou replica.

Contudo, conforme bem salientam Santos e Alves Filho (2013), esse gênero

lança mão de ferramentas virtuais – denominadas links – que permitem, ao

comentador replicar a qualquer comentário, sem que, para isso, mantenha uma

ordem cronológica e espacial, fato que dificulta uma leitura somente linear

desse gênero. Para tanto, ao considerarmos os comentários on-line, devemo-

nos valer de uma leitura difusa para que consigamos identificar a relação entre

as réplicas e, subsequentemente, as relações dialógicas presentes nesse

gênero, as quais estabelecem a produção de sentido.

Destarte, ao levarmos em conta o fato de que o comentador, na escrita

de seu texto on-line, possui a liberdade de não seguir uma sequência

cronológica ou espacial para a replicação, criando um seguimento que julgue

necessário, observamos que o modo de interação entre os interlocutores

voltados para o processo de produção de sentido dos comentários ocorre em

51

uma situação interativa. E, nessa situação, o leitor é incentivado a explicitar sua

opinião segundo regras sociais e institucionais intrínsecas à esfera de

produção e circulação dos comentários on-line (SANTOS; ALVES FILHO,

2013).

Assim sendo, o gênero promove uma democratização na esfera do

jornalismo on-line, uma vez que o leitor pode ler e acompanhar a repercussão

de determinada notícia, estabelecendo novas perspectivas e posicionamentos

que, provavelmente, ele não teria em contado apenas com o material original.

Tal democratização e incentivo da participação responsiva dos leitores, por

parte da mídia jornalística, pode ser observada ao final das notícias de muitos

portais, em que é comum encontrarmos expressões como “seja o primeiro a

comentar essa notícia” ou “deixe seu comentário”, fato que destaca o incentivo

explícito para a manifestação de opiniões pessoais no espaço destinado aos

comentários. Devemos salientar, ainda, que o uso de tais expressões, como

“deixe seu comentário”, corroboram o fato de o gênero, considerado como um

todo, e cada uma de suas inserções – isto é, cada microcadeia – ser abordado

com o mesmo nome de comentário on-line.

Nessa medida, verificamos que o comentário on-line, enquanto espaço

de confronto entre várias vozes que se polemizam, convergem, refutam,

desaprovam, etc., mantendo diferentes relações dialógicas, propicia, ao leitor,

um julgamento do acontecimento noticiado a partir de diferentes pontos de

vista.Nesse gênero, cada enunciado possui, em sua delimitação, a

possibilidade de ser replicado, fato que dá continuidade à cadeia comunicativa

e possibilita uma cadeia de comentários que se sucedem de maneira dialógica.

Assim sendo, a cada nova réplica dos comentários, verificamos a atualização

do tema enunciativo, em que o conteúdo abordado é, simultaneamente, de

natureza individual e social, já que, mesmo sendo constituído por relações

sociais, perpassa pela subjetividade do indivíduo. Nessa medida, o que fornece

o caráter único ao tema da enunciação consiste no lugar singular em que cada

falante avalia e replica a um determinado enunciado.

Assim sendo, apoiando-nos em Santos e Alves Filho (2013), podemos

estabelecer que a forma composicional do comentário on-line, constituído de

uma sequência de enunciados, permite a inserção do comentador em qualquer

ponto da cadeia comunicativa, podendo replicar não apenas a notícia, como já

52

assinalado, mas qualquer outro comentário ou comentador. Tal mobilidade do

gênero permite que os comentadores manifestem seus julgamentos valorativos

de divergência ou de convergência sobre a notícia e sobre os comentários que

já são de julgamento de outros leitores, fato que contribui para a definição do

tema como sendo uma apreciação daquilo que é justo, ou não, em relação a

determinada notícia ou sobre aquilo que se diz sobre ela. Para a realização

desses julgamentos valorativos, as marcas estilísticas contribuem para a

espontaneidade do diálogo e para a liberdade de expressão de que goza o

comentador situado nesse gênero. Portanto, as escolhas linguísticas feitas por

esses comentadores são coerentes com o tema, no sentido bakhtiniano, já que

refletem a expressão da subjetividade na apreciação valorativa dos fatos.

No interior desse processo de interação por meio da linguagem, o

enunciador recorre a recursos linguísticos para pôr em prática seus objetivos

no interior de uma determinada situação comunicativa, uma vez que a

linguagem fornece todos os mecanismos necessários para a interação

argumentativa entre o falante e o seu interlocutor. Nesse sentido, o conceito de

modalidade ressalta o dinamismo e complexidade da linguagem e nos auxilia

na compreensão do gênero comentário on-line.

Destarte, Santos (2012), ao apoiar-se em Cervoni (1989), define o

conceito de modalidade pela possibilidade de o locutor se constituir como

enunciador, já que, pela perspectiva semântica, o conceito de modalidade

abarca o ponto de vista do enunciador em relação ao dito. Assim sendo, a

modalidade poderia ser definida como o modo pelo qual se diz algo, isto é,

como a manifestação linguística que caracteriza o posicionamento do

enunciador materialidade do texto.

Nessa medida, ao assumirmos que o valor modal de determinado

enunciado demarca o ponto de vista do enunciador sobre aquilo enunciado por

ele, devemos atentar para os recursos linguísticos utilizados pelo sujeito para a

materialização de suas intenções, das quais destacamos o seu grau de

comprometimento – ou não – com determinado enunciado, com o objetivo de

proporcionar de gerar efeitos de sentidos diferentes.

Assim sendo, Santos (2012) assinala a importância da modalidade

epistêmica, a qual pode produzir um valor tal de certeza em que o locutor se

compromete com a verdade ou falsidade do conteúdo enunciado por ele. Cabe

53

ao locutor, portanto, a possibilidade de isenção de certeza em relação a

determinado conhecimento ou de comprometimento com esse grau de certeza

do conhecimento. Para tanto, atenta-se para o fato de que as escolhas de

atenuação ou ênfase sobre a verdade de determinado enunciado é de ordem

pragmática, regida por determinados efeitos de sentido que se pretende

alcançar através da linguagem.

Sob essa ótica, Santos (2012) assevera que a modalidade epistêmica

evidencia o comprometimento do enunciador com aquilo que é dito por ele,

com suas opiniões e crenças. Desse modo, no interior desse processo de

interação, nascem as marcas modais, visando colocar em voga a intenção do

locutor em expor, ou não, sua certeza diante de seu enunciado. Essa

modalidade, portanto, refere-se ao julgamento humano e ao domínio do saber,

da crença e, por isso, situa-se no eixo do conhecimento em relação a algum

fato. Assim sendo, os modos e graus de certeza, situados nesse eixo do

conhecimento, podem ser explicitados de forma objetiva ou subjetiva,

originando, em via disso, a modalidade epistêmica objetiva e a modalidade

epistêmica subjetiva.

A modalidade epistêmica objetiva, segundo Santos (2012), consiste em

um conhecimento não centrado no enunciador, mas que, por outro lado, seja

um conhecimento compartilhado pela comunidade a que o falante pertence.

Em função disso, o comentador pode situar seu discurso, dentro de

determinado grupo social, em uma escala de possibilidade que varia desde

algo absolutamente possível a algo totalmente duvidoso. Nessa medida,

através da modalidade epistêmica objetiva, o comentador pode atribuir maior

autoridade às suas declarações, haja vista que elas não se situam no âmbito

de suas crenças pessoais, mas remetem a um conhecimento aceito como

verdade. Assim, conforme verificaremos na seção de análise dos dados, esse

tipo de modalização atribui contundência e autoridade aos comentários, nos

quais os comentadores munem-se de fatos e argumentos para abonar suas

declarações.

Já a modalidade epistêmica subjetiva consiste em um conhecimento

centrado no enunciador, o qual atribui determinado valor de verdade ou

possibilidade ao conhecimento, sendo tal valor próprio do enunciador. Essa

modalidade permite que o enunciador estabeleça seu comprometimento, ou

54

não, com a verdade daquilo que se enuncia. Desse modo, Santos (2012), ao

apoiar-se em Neves (1996), postula que a incerteza expressa por essa

modalidade não deslegitima o comentador em relação àquilo que diz, mas, ao

contrário, cria um benefício a esse enunciador, que adquire crédito diante de

seu enunciatário, uma vez que transmite a imagem de honestidade quando não

assume uma verdade social, mas, apenas, externaliza sua opinião individual.

Considerando, então, todos esses recursos e mecanismos linguísticos

utilizados na constituição do gênero do comentário on-line, entendemos que a

linguagem, enquanto um fenômeno inexoravelmente dialógico, não deve ser

estudada fora de seu uso real, devendo-se levar em consideração a

funcionalidade dos gêneros, os quais, enquanto normativos e “relativamente”

estáveis (conforme a definição bakhtiniana), permitem a compreensão das

relações linguageiras de interatividade. E, justamente, no interior do gênero

comentário on-line, tais relações de interação é que definem seu conteúdo, sua

forma e seu estilo. Isso porque, ao desconsiderarmos o contexto verbal, os

enunciados dos comentários seriam considerados apenas como sequências

verbais de sentido menor, já que lhe faltariam os elos para a formação de uma

cadeia discursiva maior, o gênero comentário on-line, fato que apenas realça a

importância do fenômeno dialógico para a constituição e funcionamento do

gênero.

55

4 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

Ao assumirmos os comentários on-line enquanto gênero usual entre os

principais veículos de comunicação on-line – jornais e revista –, constatamos

um quadro semiótico que possibilita a interatividade entre esse veículo e os

seus respectivos leitores. Tais comentários, constituindo-se como um

fenômeno social, instituem-se como fonte de uma atividade intersubjetiva, da

qual podemos deflagrar a emergência de variadas identidades, que, por meio

da materialidade discursiva, manifestam diferentes RS.

Assim sendo, no interior desse quadro semiótico é que as orientações

metodológicas deste trabalho inserem-se, ao investigarem os comentários on-

line, os quais materializam uma prática intersubjetiva, fundamentada em

processos integrantes. Dessa forma, para recobrirmos tal dimensão,

analisaremos, nos diversos comentários dos leitores, quais as RS emergem de

tais textos e por meio de quais mecanismos linguísticos tais representações se

materializam.

4.1 Geração e coleta de dados

Tendo em vista o levantamento e seleção de comentários on-line

escritos pelos leitores da revista “Istoé” digital, tendo como escopo a

delimitação de nosso corpus, adotamos como orientação metodológica a

análise desses comentários em consonância com os pressupostos teóricos

expostos, analisando as identidades construídas ao longo dos comentários

coletados, por meio da noção de ethos discursivo, levando-se em conta a

categoria analítica dos modalizadores epistêmicos, os quais, valendo-se de

recursos discursivos e paradigmáticos, agem na produção de efeitos de

sentido. Ao considerarmos, então, essas dimensões, verificaremos quais as RS

emergem nos comentários on-line e por meio de quais mecanismos/recursos

linguísticos elas se manifestam.

Nessa perspectiva, as trocas entre as entidades institucionais e os

56

comentadores asseguram a existência semiótica dos comentários on-line, os

quais fundamentam o corpus de nossa análise.

Para tanto, pesquisamos quatro textos on-line da revista “Istoé” – que

possuem uma temática polêmica e que, portanto, geraram uma boa quantidade

de comentários on-line para análise – “A boa vida de Demóstenes” (publicado

em 25/01/2013, no site da revista), escrito pela jornalista Josie Jerônimo; “Dois

Brasis, um rolezinho2”, (publicado em 21/01/2014, no site da revista), escrito

pelo jornalista Paulo Moreira Leite; “Holanda restringe consumo e turismo da

maconha entre no prejuízo”, escrito por Wálter Fanganiello Maierovitch

(publicado em 16/01/2012, no site da revista); e “Cristãos perseguidos”, escrito

por Rodrigo Cardoso (publicado em 14/10/2011, no site da revista). Desses

quatro materiais coletados, atemo-nos, respectivamente, aos dois primeiros

artigos, “A boa de Demóstenes” e “Dois Brasis, um rolezinho”, para o nosso

trabalho de pesquisa. O primeiro texto, “A boa vida de Demóstenes, que

consiste de um artigo, refere-se aos luxos vividos pelo ex-senador Demóstenes

Torres (luxos esses provenientes do âmbito político) mesmo após sua renúncia

ao cargo parlamentar. Já o segundo texto, que consiste de um artigo

pertencente a uma coluna do jornalista Leite, faz referência ao fenômeno que

ficou conhecido como “rolezinho”, em que um grupo composto por muitos

jovens marcava encontros em shopping centers, fato que gerou polêmica entre

os brasileiros, já que, em alguns casos, esses encontros terminaram em

confusões e arrastões. A coluna da revista, portanto, tece uma crítica ao

preconceito que esses jovens, pertencentes à periferia, sofrem por parte do

governo e da população, em geral.

Desse modo, escolhemos matérias com uma temática mais polemizada,

fato que engendra uma quantidade relevante de comentários on-line, já que os

comentadores, sentindo-se afetados de alguma forma com a matéria lida (na

maioria das vezes, como verificaremos na análise dos comentários, há um

desejo de que se faça justiça), lançam mão de uma série de enunciados

repletos de imagens e representações. E, justamente, esse fator é que nos

permite identificar a emergência das RS nesses enunciados produzidos e por

meio de quais mecanismos linguísticos tais representações emergem.

2 Ambos os textos encontram-se disponíveis, na íntegra, no anexo deste trabalho.

57

Acreditamos que, ao realizarmos a coleta dos dados por meio de notícias mais

polêmicas (portanto, temas políticos ou de cunho social), pudemos gerar uma

boa quantidade de textos para análise.

Sob essa perspectiva, devemos salientar que o motivo da escolha da

revista “Istoé” ocorreu em função de esse veículo apresentar orientações e

opiniões relativamente definidas (devemos destacar, de antemão, que não

focaremos nossa análise na questão da orientação ideológica), as quais podem

recobrir e incitar a manifestação de diferentes identidades construídas diante

determinado texto publicado pelo veículo. A escolha pela revista “Istoé” deu-se,

então, pelo fato de esse suporte não possuir uma relação estereotípica e

ideológica tão marcante por parte da população em geral e, portanto, os

comentários podem ser considerados mais “neutros” (resguardando-se as

devidas proporções para tal neutralidade, já que sabemos que não existem

enunciados totalmente imparciais e objetivos), fato que conduziria melhor

nossa abordagem analítica, uma vez que uma relação estereotípica poderia

afetar, de maneira exacerbada, o processo de análise da emergência das RS

ao longo dos comentários on-line, já que os enunciados poderiam ser

exageradamente “contaminados” e norteados por esse viés ideológico tão

evidente.

Quando conferimos a página do site da revista, verificamos que os

leitores podem efetuar seus comentários em qualquer matéria. Ao visitarmos o

campo de colunas, ao topo da página (portanto, antes do próprio texto

jornalístico), há uma foto do autor e uma breve descrição acerca de sua

ocupação profissional, recurso que atribui um caráter de reputação àquele

jornalista em voga. Já, no campo “Brasil”, pertencente à seção “Assuntos” do

site da revista, não há um enfoque para o autor do artigo, cujo nome aparece,

com pequenas fontes, abaixo da manchete, não havendo, sequer, qualquer

descrição sobre sua atuação profissional. Para tanto, fizemos um print da tela

em que esse recurso da revista é utilizado, conforme verificamos na figura a

seguir:

Figura 3 – Descrição do colunista Paulo Moreira Leite

58

Fonte: DOIS BRASIS..., 2014

Seguida à matéria retratada, na parte inferior da página do site, há um

quadro que contém duas abas: “Sua opinião” e “Comentários”. A primeira aba

consiste dos campos necessários para preenchimento para a postagem do

comentário, o qual deve conter, no máximo, 300 caracteres. Para tanto, os

demais campos obrigatórios são os de nome (que é exibido no topo do

comentário, explicitando o nome ou codinome adotado pelo comentador, ou

podendo exercer a função de título do enunciado),e-mail (o qual, conforme o

próprio site já explicita, não é exibido), e o espaço para a inscrição do site do

comentador, o qual é opcional. Devemos salientar, contudo, que alguns

comentadores optam, devido a uma questão estilística e de estratégia

argumentativa, por escreverem apenas o seu primeiro nome, ou adotarem um

codinome ou, até mesmo, por não escreverem o seu nome no campo

destinado a tal função, mas, apenas, escrever um título para o seu comentário.

Já a aba “comentários” é utilizada somente para a visualização ou

denúncia dos comentários, sendo que, para a leitura dos enunciados, devemos

deslizar a barra de rolagem para baixo, recurso que nos permitirá constatar que

os comentários aparecem em ordem decrescente, sendo escalonados do

último – portanto, o mais recente – para o primeiro comentário, permitindo-nos

visualizar a data e o horário de postagem de cada texto. Acrescidamente,

abaixo de cada comentário há a opção “Denuncie esse comentário”, para que

59

cada leitor possa denunciar e se reportar, à revista “Istoé”, alguma declaração

feita por outro leitor, caso se sinta ofendido ou lesado com o comentário

realizado a ele próprio, a outros comentadores, à instituição ou representantes

da mesma, ou aos indivíduos retratados pela matéria. Essa ferramenta permite

um controle de qualidade aos próprios comentadores, conferindo-lhes maior

integração ao suporte com que estão lidando.

Outra observação que devemos efetuar é que, ao visitarmos o site da

revista “Veja”, visualizamos a estipulação de regras para a postagem dos

comentários, esclarecendo que textos que contenham termos chulos, ofensivos

e que desrespeitem os direitos humanos não serão aceitos e, portanto, o

comentário será banido. Já o site da revista “Istoé” não estabelece regras para

a escrita de seus comentários, recurso que talvez objetive deixar seu leitor

mais à vontade para o processo de escrita e postagem de seu texto.

Para melhor entendimento do funcionamento de todos esses recursos e

ferramentas do site da revista “Istoé”, fizemos também um print da tela do

portal, em um processo bem didático, para que seja elucidada qualquer dúvida

acerca dessas etapas de escrita e interação do leitor para com as ferramentas

virtuais. Assim, na figura 4, verificamos como são os campos para o

preenchimento de dados necessários para a postagem do comentário e, na

figura 5, verificamos como os comentários são visualizados na página do site,

conforme destacamos abaixo:

Figura 4 – Campos de dados para preenchimento

60

Fonte: DOIS BRASIS..., 2014

Figura 5 – Visualização dos comentários on-line

Fonte: DOIS BRASIS..., 2014

Ao considerarmos a perspectiva metodológica adotada, verificamos que

o curso da coleta e análise dos dados deve ser (re)processado

constantemente, garantindo, assim, o redimensionamento e a flexibilidade do

planejamento investigativo. Assim, no interior desse processo, algumas

61

hipóteses iniciais, conforme verificaremos na atividade de análise, podem ser

reconfiguradas, de acordo com o movimento avaliativo adotado.

Sob essa ótica, destacamos que a escolha de nossa metodologia nos

possibilitou uma diversidade de registros coerentes aos objetivos de nossa

pesquisa, uma vez que, a partir da leitura de um mesmo texto jornalístico on-

line, os comentadores explicitaram enunciados diversos, dos quais

identificamos diferentes constituições identitárias e, por meio de alguns

mecanismos lingüísticos, a emergência de RS.

Assim sendo, devemos passar ao capítulo da análise para que

possamos investigar como o gênero comentário on-line constitui-se, levando-se

em conta a construção identitária de seus comentadores, e como as RS

emergem ao longo dos textos desse gênero, os quais constituem, em nosso

corpus, um total de 38 comentários.

62

5 DA ANÁLISE DOS DADOS

No capítulo 5, elaboramos a análise dos dados que coletamos para a

composição do nosso corpus, levando em conta o quadro teórico que

desenvolvemos nos capítulos anteriores, contemplador do gênero comentário

on-line e de todo o seu processo de constituição – que abarca a construção de

ethos discursivos e diferentes processos de modalizações epistêmicas – e de

manifestação de RS.

5.1 A constituição gênero comentário on-line

Ao tomarmos o gênero comentário on-line para a composição de nosso

corpus de análise, buscamos, inicialmente, identificar como as marcas que

remetem à construção do enunciador, enquanto comentador on-line, trazem

pistas sobre a constituição do gênero. Sob essa perspectiva, nesta seção

analítica, selecionamos os comentários referentes à matéria “A boa vida de

Demóstenes”, produzida pela autora Josie Jerônimo, da revista “Istoé”, visando

identificar as marcas de construção/identificação do enunciador presentes nos

comentários, através de recursos linguísticos, como a não identificação do

comentador, a recorrência a modalizações epistêmicas, às réplicas (refutações

ou aceitações), o uso de figuras de linguagem, como a ironia, etc.

Veja-se, inicialmente, que o fato de a maioria dos comentadores (cerca

de 60% daqueles contidos nos dados coletados) não se identificarem durante o

processo de escrita de seus comentários pode indiciar o não comprometimento

com o dito, em que o enunciador assume um ethos tal que lhe permite ficar

mais à vontade para tecer suas críticas, mesmo aquelas mais incisivas e

acusativas, já que sua identidade não é revelada. Essa condição lhe permite

adotar estratégias discursivas e pragmáticas em seus comentários, que

acabam por não revelar total compromisso com a veracidade de seu dizer.

Para ratificar como todo esse processo ocorre, trouxemos, para verificação, o

comentário 9 retratado logo abaixo. Para tanto, esclarecemos que, conforme

informamos nas orientações metodológicas deste trabalho, os comentários on-

63

line coletados de todo o nosso corpus de análise estão enumerados, nos

respectivos textos a que fazem menção, de acordo com sua forma de

elencamento no site da revista “Istoé”, em uma ordem cronológica decrescente.

(9) LULALADRAO ALGEMAS DE OURO

PIOR QUE O DEMÓSTENES TORRES É O LADRÃO DO LULA QUE CONTINUA DADO PITACO NO GOVERNO DA DILMA ROUSSEF... A ISTOÉ, DEVERIA PEGAR NO PÉ DO CHEFE DE QUADRILHA LULA DOS SILVAS...SERÁ QUE FOI SOMENTE O SENADOR DEMÓSTENES QUE PEGOU DINHEIRO DA DELTA CAVENDISCH?

No comentário acima, verificamos que, apesar de se constituir como um

enunciador contundente e revelador de autoridade em suas afirmações, que

não nos deixam espaços para dúvidas, o comentador 9 não se identifica. Tal

liberdade pode ser constatada, por exemplo, na estratégia pragmática da

pergunta não necessariamente endereçada a um interlocutor específico, por

meio da qual o comentador deixa entrever em que existem outros fatos e

dados, de conhecimento desse comentador, mas que não foram reportados

pelo artigo.

Outro aspecto recorrente nos dados e que interessa a este trabalho diz

respeito às modalizações epistêmicas, muito recorrentes no corpus sob exame.

Recorremos, a seguir, aos comentários 1 e 13, da referida matéria, para melhor

elucidar os estudos acerca dessa temática.

(1) CADÊ O LULA/ROSE?

A ISTOÉ DEVERIA COLOCAR O RABO ENTRE AS PERNAS E NÃO PUBLICAR A IMAGEM DO SENADOR DEMOSTENES. ISSO FAZ A SOCIEDADE TOMAR RAIVA DESSA IMPRENSA GOLPISTA , QUE SÓ MOSTRA O LADA DA OPOSIÇÃO E ABAFA O LADRÃO DO LULA....

(13) ASSUMEM SEUS LIXOS!

OS ALAGOANOS E MARANHENSES DEVERIA ESCOLHER O RENAN CALHEIROS E COLLOR E SARNEY P/ GOVERNO DE SEUS ESTADOS E NÃO PARA SENADO. ESSES LIXOS DEVEM SERVIR SOMENTE SEU POVO E NÃO OCUPAR CARGO QUE ATINGE O BRASIL TODO.

64

Ao analisarmos os comentários acima, verificamos que, concorrendo

para seu grau de contundência, esses enunciados possuem um modalizador

epistêmico que atribui um grau de subjetividade ao posicionamento tomado

pelos enunciadores: o uso de “deveria”. Isso porque o verbo “dever”, conjugado

no futuro do pretérito simples, do modo condicional, como o próprio nome do

modo já ressalta, possui um caráter de condição. Nessa medida, podemos

conceber que, na emergência da modalidade epistêmica desse caso, o verbo

“deveria” age como um modalizador que suscita uma situação contundente, em

tom imperativo, em que o enunciador declara, isto é, faz uma projeção daquilo

que deve acontecer em um futuro próximo. Ao realizar tal projeção, o

enunciador comporta-se de maneira muito segura e indubitável, já que se

coloca como um indivíduo autorizado a avaliar o assunto, posicionando-se

diante dele com tal grau de certeza que pode até realizar prospecções. Nesse

comentário, portanto, o comentador revela uma modalização epistêmica

objetiva, em que a autoridade de seu dizer remete a um conhecimento que ele

tem como verdade.

Já no comentário 5, retratado logo abaixo, verificamos que o comentador

é taxativo e incisivo em seu discurso, afirmando que a revista “Istoé” não

possui importância no cenário nacional porque publica somente fatos obsoletos

e que já não possuem relevância, não trazendo à tona informações

contundentes. Segundo essa lógica abordada no discurso do comentador 5, ao

adotar tal estratégia, a revista se vale de uma tentativa de resguardo de

maiores polêmicas e, assim, escamoteia determinadas informações e

evidências que são de seu interesse. Contudo, apesar de manifestar um ethos

discursivo incisivo, que não deixa espaços para relativizações e, portanto,

repleto de certeza e de engajamento com seu posicionamento, esse

comentador enuncia em primeira pessoa, iniciando seu comentário com os

termos “não gosto”, fato que restringe essas asseverações para o âmbito da

subjetividade, como se o enunciador pudesse refutar a garantia da verdade

absoluta de seu dizer, esclarecendo que apenas explicitou a sua opinião.

Dessa forma, apesar de o comentador parecer tomar seu discurso como válido

e verdadeiro, a utilização da expressão “não gosto” atribui, ao comentário, um

grau de modalidade epistêmica subjetiva, em que há uma atenuação do

comprometimento desse comentador com o seu dizer.

65

(5) jose

não gosto desta revista ela só publica missa de centuagésimo dia de difunto é por isso que não tem importância nacional tenho minhas preferidas só estou aki porque de vez em quando eu tenho que jogar o lixo fora.

Sob essa ótica, verificamos que, por utilizar o verbo em primeira pessoa,

o enunciador, necessariamente, já faz uso de uma modalização subjetiva, que

pressupõe uma crença. Já a terceira pessoa, cujo uso é muito mais recorrente

nos comentários on-line analisados – fazendo-se presente em 36, dos 38

comentários coletados –, indica uma asseveração taxativa e contundente,

dando um caráter de uma declaração verdadeira e irrefutável. Os verbos,

portanto, assumem-se como modalizadores fundamentais à produção de efeito

de sentido dos enunciados, enquanto outros mecanismos lingüísticos – como

os sintagmas nominal e adjetival –, conforme veremos adiante, serão aqui

tratados como o eixo para a emergência das representações sociais.

Outro fato observado e comum a boa parte dos comentários do corpus

analisado – metade de todos os comentários coletados –é a utilização das

fontes em caixa-alta; noutros termos, todas as palavras do comentário são

escritas com letras maiúsculas. Ao recorrera tal recurso estilístico, observamos,

nos comentários, um tom que pode revelar certa agressividade, o que

empresta, de algum modo, força a esse enunciador, que deseja elaborar uma

crítica contundente a determinado fato presente na matéria considerada e,

portanto, deseja chamar a atenção de seus enunciatários para tentar

convencê-los de que seu argumento é verdadeiro. Dessa forma, apontamos

que o emprego das letras em caixa-alta pode ser considerado como um

recurso de modalização epistêmica objetiva, em que o enunciador, situando

seu texto dentro do grupo ao qual pertence, em uma escala de possibilidade

real, atribui maior autoridade às suas asseverações, já que, longe de se

situarem no campo das crenças individuais, reportam a um conhecimento tido

como verdade, conforme se pode ver nos comentários 1 e 13, anteriormente

analisados.

Para ilustrarmos o recurso das réplicas (que pode envolver tanto as

66

refutações quanto as aceitações), tão peculiares a esse gênero, destacamos, a

seguir, dois comentários:

(11) Wilton

Prezado amigo leitor, Jesus Cristo está voltando. O arrebatamento da igreja está próximo. O céu é um lugar de glória. Por isso, aceite-O como seu único Salvador. Jesus te ama e quer te salvar. Crê no Senhor Jesus Cristo e será salvo, tu e a tua casa (Atos 16,31)

(17) Rogério José de Paula

Caro Wilton,aceite esta contastação:Jesus não vai voltar.As agruras e vicissitudes da vida terrena são reflexos das nossas ações.O paraíso e o inferno são aqui.

Quando consideramos o comentário 11, em uma primeira leitura,

ponderamos que se afasta do tema da matéria (que se reporta aos luxos,

vivenciados pelo senador Demóstenes Torres, mesmo após o término de sua

vida parlamentar),haja vista que o comentário refere-se ao fato de Jesus Cristo

estar voltando para a salvação dos fiéis que são crentes. Contudo, ao

elaborarmos uma leitura mais atenta, consideramos a possibilidade de que

esse enunciado, apesar de não se reportar ou replicar, diretamente, a qualquer

outro comentário, sintetiza as ações humanas como corruptíveis e, em função

disso, o messias Cristo voltaria para a salvação dessa humanidade venal.

Assim, verificamos que os interesses particulares, as subjetivações e anseios

por determinados objetivos, quando somados, podem compor uma esfera de

atitudes que não é benéfica para a grande maioria dos integrantes de

determinada comunidade. E, justamente, nessa esfera é que se inserem os

atos de corrupção dos políticos e a imprensa tendenciosa, revelados como

ações humanas corruptíveis, fato que atribui um sentido contextual ao

comentário 11. Em virtude disso, talvez pelo fato de, a princípio, ser um

enunciado um pouco destoante dos demais e que, por esse motivo, chame a

atenção, o comentário 11 acaba por suscitar a réplica 17, a qual se dirige

diretamente ao comentador 11, por meio de uma relação dialógica refutativa,

como podemos verificar através da expressão “Caro Wilton”. Para tanto, o

67

comentador 17 apregoa que as agruras sofridas pela humanidade apenas são

reflexos de suas ações, e não de fatores externos, fato que situa o paraíso e o

inferno no plano terrestre. Nesse comentário, verificamos um tom cogente,

identificável pelo uso do verbo no modo imperativo, “aceite”, o que caracteriza

um modalizador epistêmico objetivo, em que a contundência da declaração é

atestada como uma verdade máxima e irrefutável.

Nessa perspectiva, quando retomamos o comentário 11 e sua respectiva

réplica 17, constatamos que os comentadores podem lançar mão de refutações

entre si, recurso este que é muito utilizado no gênero comentário on-line,

conforme podemos verificar, também, em 10 e 16, retratados logo abaixo.

Nesses comentários, observamos que 10 faz uma menção direta ao artigo,

relatando que todos os abusos e corrupções políticas, denunciados pela

matéria, são financiados pelo jogo do bicho, fato que ocasiona a réplica do

comentador 16, o qual se dirige diretamente ao comentador 10 – por meio do

uso do vocativo “Marcelo” – e questiona a sua declaração, qualificando-a como

superficial e ingênua, o que pode ser verificado no título do comentário:

“Criança acredita em tudo!”.

(10) Marcelo

E toda esta farra é financiada pelo jogo do bicho!

(16) CRIANÇA ACREDITA EM TUDO!

MARCELO, SÓ VC QUE ACREDITA QUE OS MILHÕES PAGOS AOS POLÍTICOS DE TODOS OS PARTIDOS SAIU DO JOGO DO BICHO. A MAQUINA DE CAÇA NÍQUEL É A DELTA, PAC, MINHA CASA MINHA VIDA, COPA 2014, PRIVATIZAÇÃO DOS AEROPORTOS, RODOVIAS.A PF, LIGOU AOS JOGOS P/JUSTIFICAR FORMAÇÃO DE QUADRILHA. E O JOGO DE BICHO RJ?

Desse modo, quando assumimos que esse gênero constitui-se como

uma cadeia discursiva, verificamos que o comentador pode obtemperar

enunciados em qualquer parte da cadeia, uma vez que os links, localizados na

parte inferior dos comentários, permitem tal ação. Portanto, esses links, que se

constituem como ferramentas virtuais, possibilitam que o enunciador replique

68

qualquer comentário, sem que, para isso, mantenha uma ordem cronológica e

espacial.

Acrescidamente, constatamos que a grande maioria dos comentários

possui a manifestação de enunciadores incisivos em suas declarações, não

admitindo espaços para dúvidas, enunciadores estes que se posicionam como

indivíduos autorizados a dar uma avaliação e um posicionamento, em relação

ao assunto retratado, com a maior certeza possível, sem, para isso, amainar

seu ponto de vista. Nessa medida, quando esses enunciadores elaboram suas

declarações, fazem-na, de modo geral, utilizando o verbo na terceira pessoa do

singular, fato que afasta qualquer impressão subjetiva ou de crença que o

verbo em primeira pessoa possa ocasionar, atestando, assim, a verdade

máxima e incontestável do dito.

Nessa medida, a utilização da modalidade epistêmica objetiva imputa

autoridade aos comentários, os quais, afastados do campo das crenças

subjetivas, remetem-se a um conhecimento tido como verdade.

Assim sendo, verificamos que tais posicionamentos tão contundentes,

por parte dos comentadores, são propiciados pelo contexto extraverbal que

cerca o fato, provendo estabilidade e abonação ao comentador para que ele,

investido de sua autoridade, possa avaliar tal fato com o seu valor máximo de

verdade. Para tanto, esse comentador cerca-se de argumentos e “provas”

necessários para dar o seu veredicto em relação ao assunto, valendo-se, para

isso, de um nível máximo de certeza e comprometimento, como podemos

verificar nos comentários retratados logo abaixo:

(4) Luciano B. Silva

Ha uma loucura obsessiva da direita em atacar o Lula, querem coloca-lo em tudo. É a "Geração Veja" plantando a insanidade nesses 7% que não gostam de pobres.

(7) CADÊ O LULA, ALGEMAS DE OURO?

O Lula recebeu 1 milhão de Reais do Cachoeira, A Dilma Recebeu 1 milhão , o Dep. Rubens Otoni do PT/GO recebeu 100 mil , Paulo Garcia Prefeito de GNA, Sergio Kabral, recebeu propina e a Istoé não mostra?

Nesses exemplos, observamos que os enunciadores valem-se de números,

69

que, apesar de não possuírem fonte ou meios que sustentem sua veracidade,

ratificam e fornecem um bom embasamento argumentativo e persuasivo para o

discurso construído pelo enunciador.

Diante da observação de todos esses recursos e elementos comuns aos

comentários on-line, analisaremos, a seguir, como o autor do artigo da revista

“Istoé” manifesta o seu ethos e como a construção desse ethos suscita a

emergência dos comentários on-line.

5.2 A emergência dos enunciadores textuais

Nesta seção, analisaremos como o enunciador textual se constrói na

materialidade discursiva, assumindo um determinado ethos diante um

“auditório” por ele almejado. Dessa forma, para efeitos pragmáticos, neste

momento, consideraremos apenas o artigo “A boa vida de Demóstenes”, de

autoria da jornalista investigativa Josie Jerônimo, e os comentários dele

decorrentes.

Cabem, inicialmente, algumas palavras referentes ao artigo. Nele,

enunciadora engendra uma série de paradigmas negativos sobre Demóstenes

Torres, criando uma imagem corruptível acerca do ex-senador. Dessa forma, a

construção do “auditório” passa necessariamente por um processo de

estereotipagem. Ou seja, a criação do “auditório” do enunciador, que é uma

jornalista, perpassa por um processo de estereotipagem, em que é criada, para

esse “auditório”, a imagem de que os políticos brasileiros levam uma vida

repleta de regalias e, mesmo quando acusados (ou mesmo condenados) de

corrupção, ainda continuam ostentando os luxos que lhes são peculiares, no

interior de um quadro desigual e desrespeitoso para com a população. Para

tanto, é apresentada uma grande quantidade de dados, números e evidências,

os quais, embasados em uma lógica ostensiva, corroboram o ethos construído

pelo enunciador – de crítica incisiva a toda a corrupção política brasileira,

representada pelo ex-senador Demóstenes Torres –, como podemos observar

nos trechos: “Situado a poucos passos da avenida Champs-Élysées e do Arco

do Triunfo, o Taillevent serve vinhos que custam em média 1,8 mil euros, mas

70

podem chegar a 18 mil euros, caso o cliente opte pelo Bordeaux ChâteauLafite-

Rothschild, safra 1846.”; “a Polícia Federal descobriu que Cachoeira lhe deu

um lote de cinco garrafas do maravilhoso Bordeaux Cheval Blanc (nota mínima

de 93 sobre 100 nas avaliações disponíveis de Robert Parker), pagando US$

14 mil pela iguaria.”; “Atualmente, além dos vencimentos como procurador (R$

24 mil), Demóstenes tem rendimentos como sócio da Nova Faculdade,

estabelecimento de ensino em Contagem, Minas Gerais.”

Dessa forma, verificamos que a imagem preexistente do enunciador, isto

é, o ethos pré-discursivo é de uma jornalista investigativa e, por isso, vale-se

de dados – dentre eles, numéricos – para confirmar, ao longo de seu discurso,

a doxa construída por seu auditório em relação ao próprio enunciador: o ethos

de uma autoridade que, por meio de sua posição social e de sua argumentação

legítima, possui propriedade para abordar o tema como um problema

sociopolítico e, devido aos abusos exacerbados vivenciados pelo ex-senador, a

autora utiliza-se de números e elenca fatos para retratar o problema enquanto

um excedente de luxos. Assim sendo, sob a forma de um jogo especular,

constrói-se o ethos desejado (contra os abusos do ex-senador e a origem dos

mesmos):o enunciador (), isto é, o autor empírico – a jornalista Josie Jerônimo

– adapta a apresentação de sua imagem às representações coletivas que

acredita serem assumidas por seu público-alvo (como, por exemplo, a

representação de que os abusos e corrupções, por parte dos políticos, são uma

afronta à população),fato que é realizado não somente pelo ethos pré-

discursivo (dotado de status social de jornalista), mas pelas modalidades de

sua enunciação. Assim, esse enunciador constrói sua própria imagem a partir

da imagem idealizada de seu auditório, engendrando, dessa forma, um

enunciador confiável e apto, representações que ele acredita serem as de seu

público-alvo. A partir dessas abordagens, verificamos que a imagem corruptível

do ex-senador é assim construída ao longo de todo o artigo, sendo que o

enunciador faz uso de ironia a todo instante – como, por exemplo, em “roteiro

das delícias de Demóstenes” –, demonstrando, por meio desse recurso,

indignação com a situação ostensiva em que Torres se encontra, apesar da

recessão de sua carreira parlamentar. Tal tratamento em relação ao ex-político

pode ser observado no trecho a seguir:

71

A vida de Demóstenes depois da queda tem elementos que lembram um melodrama do século XIX, mas vários capítulos poderiam ser escritos por Robert Parker, o mais celebrado enólogo do planeta. Em dezembro, Demóstenes esteve em Paris para passar o Réveillon e aproveitou a estadia para jantar no Taillevent, um dos mais exclusivos restaurantes da capital francesa. (A BOA..., 2013).

A abordagem do excerto acima, reveladora de um tom irônico, é

reiterada, de diferentes maneiras, ao longo de todo o artigo, sempre fazendo

referências aos gastos abusivos que Demóstenes Torres despende e a

impunidade que se faz ao redor dele, como se fosse mais uma de suas

regalias.

Dessa maneira, através da leitura do artigo, percebemos que a jornalista

está centrada em apresentar dados e números que confirmam o seu

posicionamento de que o ex-deputado Demóstenes Torres é corrupto e, apesar

da queda de sua carreira parlamentar, ainda continua gozando os luxos

propiciados por essa profissão, fato que lhe acentua o caráter de corrupto. Para

tanto, são utilizados recursos imagéticos, com caráter apelativo, para a

construção argumentativa acerca da imagem negativa de Torres, imagens

essas que destacamos a seguir: foto do ex-senador com sacolas de compra,

seguida de uma legenda “feliz e assoviando”; fotos de luxuosos restaurantes

frequentados por ele, seguidas da legenda “o roteiro das delícias de

Demóstenes”; foto do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sentado

em sua tribuna, seguida da legenda “(...) Roberto Gurgel promete acelerar

investigações”; e, por último, um quadro-imagem, com o título “O que pesa

contra Demóstenes”, relatando a série de acusações contra o ex-senador.

Assim sendo, para melhor elucidação dessas estratégias adotas pela

autora textual, destacamos, abaixo, duas imagens – e suas respectivas

legendas – para percebermos os efeitos de sentido que elas produzem:

Figura 6 –Destaque para Demóstenes Torres

72

FELIZ E ASSOVIANDO No dia de seu aniversário, o ex-senador Demóstenes Torres saiu de casa de terno e gravata, mas não teve compromisso social: foi a uma clínica estética e comprou iguarias para o jantar

Fonte: A BOA..., 2013

Figura 7 – Destaque para Roberto Gurgel

Fonte: A BOA..., 2013

73

Considerando as imagens acima, verificamos que há uma estratégia

argumentativa com o caráter até mesmo apelativo, objetivando construir uma

imagem totalmente negativa do ex-senador Demóstenes Torres. Isso porque,

ao recorrer a uma fotografia de Torres, com uma sacola de compras na mão, e

com a legenda “Feliz e assoviando” e, mais à frente, recorrer à fotografia do

procurador-geral da República, Roberto Gurgel, destacando que o magistrado

promete acelerar as investigações contra Torres, a autora quer persuadir o seu

“auditório” de que não há punição para corrupção política no país. Isso porque,

apesar do processo investigativo, que, segundo a própria enunciadora,

“caminha a passos lentos”, os resultados desse processo poderão ser

minimizados e o ex-parlamentar, como em casos anteriores de outros políticos,

poderá sair impune às acusações.

Dessa forma, a enunciadora do artigo constrói um ethos discursivo de

denúncia aos abusos cometidos pelos políticos brasileiros e as consequentes

impunidades às acusações criminais que são concedidas a esses políticos,

como é o caso do ex-senador Demóstenes Torres. Em via desse processo, a

enunciadora textual almeja um auditório que apóie esse ethos construído,

porém, ao lermos os comentários on-line, referentes ao artigo, verificamos que

o auditório real não se comporta tão bem como aquele imaginado pela

enunciadora, já que, apesar de a grande maioria dos comentadores pertencer a

um grupo que assume ethos discursivo de indignação com os políticos, grande

parte desse grupo considera a revista “Istoé” tendenciosa e subjetiva e, por

isso, desconfia ou cria certo distanciamento em relação à matéria publicada.

Como ratificação desse fato, trouxemos os comentários a seguir:

(1) CADÊ O LULA/ROSE?

A ISTOÉ DEVERIA COLOCAR O RABO ENTRE AS PERNAS E NÃO PUBLICAR A IMAGEM DO SENADOR DEMOSTENES. ISSO FAZ A SOCIEDADE TOMAR RAIVA DESSA IMPRENSA GOLPISTA , QUE SÓ MOSTRA O LADA DA OPOSIÇÃO E ABAFA O LADRÃO DO LULA....

(5) jose

74

não gosto desta revista ela só publica missa de centuagésimo dia de difunto é por isso que não tem importância nacional tenho minhas preferidas só estou aki porque de vez em quando eu tenho que jogar o lixo fora.

(8) ISTOÉ/ROSE DA SILVA

A istoé (Gosta de Dinheiro), trabalha para quadrilha do pt. Porque que a Istoé não consegue fotografar a amante do Lula (Rosemary)?

Para a construção e manifestação de seu ethos, cada comentador faz

uso de uma modalização epistêmica para adotar uma estratégia argumentativa

que dê conta de expressar os interesses discursivos manifestados pelo

comentador. E, por meio do uso desse recurso modalizador, é que podemos

verificar a emergência do ethos assumido por cada comentador.

Dessa forma, constatamos que os comentadores, durante o processo de

escrita de seu comentário on-line, adotam modalizações epistêmicas enquanto

estratégias argumentativas para a construção de um enunciado conforme o seu

interesse. Isso ocorre porque o uso da modalidade, em consonância com

Santos (2012), pode ocasionar um valor certeza em que o enunciador se

compromete ou não com o conteúdo de seu enunciado, sendo que tal uso é

voltado para esse enunciador, podendo evidenciar suas crenças, opiniões e o

seu comprometimento com dito, o que está relacionado, pois, com o

conhecimento acerca de determinado fato. E, no percurso entre essas duas

extremidades de engajamento ou não com dito, existem diversas estratégias

modais – como, por exemplo, o uso de perguntas retóricas, de enunciados

irônicos e a utilização de um tom mais, ou menos, contundente em suas

afirmações –, que podem atenuar ou enfatizar o comprometimento desse

enunciador, fato que engendra graus de modalidade epistêmica. Esses graus

estão relacionados às intenções do enunciador no contexto de sua interação

social, fazendo-nos crer que as modalizações surgem no interior desse

processo como um meio que evidencia determinada finalidade do enunciador

em expor ou não sua certeza diante de seu enunciado.

Sob essa perspectiva, consideremos o seguinte comentário para análise:

(3) Eduardo

75

Quem financia o Demóstenes? Será que não vale a pena ficar do lado do poder?

Ao considerarmos o comentador 3, verificamos um comprometimento

com a verdade de seu dizer, havendo um grau de certeza, em que o

comentador parece saber algo além daquilo que está escrito, sendo que a

opção pela não escrita do fato conhecido por esse leitor revela uma estratégia

de ordem pragmática. A produção de enunciados que revelam esse tipo de

estrutura constituem-se como um mecanismo discursivo de que o enunciador

lança mão para almejar determinados objetivos ou alcançar efeitos de sentido

específicos. Dessa forma, salientamos que o uso da modalização liga-se ao

contexto em que o enunciado é produzido e, no caso analisado, como se trata

de um assunto polêmico – escândalos de corrupções –, o comentador elabora

uma pergunta que, possivelmente, é dirigida ao autor do artigo ou à instituição

da revista, de cuja autenticidade o leitor parece duvidar e, por isso, elabora seu

questionamento. Destarte, ao elaborar uma pergunta retórica (“será que não

vale a pena ficar do lado do poder?”), para qual a resposta é, com certeza, sim,

o comentador constrói uma imagem de um indivíduo que não aceita os

argumentos trazidos pelo discurso porque possui conhecimentos mais

aprofundados e, por isso, manifesta-se interpelativo, em uma tentativa de

extrair maiores informações, revelando-se, portanto, engajado e comprometido

com o seu dizer, tanto que ele se identifica (como Eduardo) no título de seu

comentário.

De maneira similar, o comentário 6, retratado logo abaixo, faz uso de

uma modalidade epistêmica com caráter mais objetivo, haja vista que o seu

comentador constrói a imagem de um sujeito pleno de autoridade e

comprometimento com o seu discurso, fato ratificado, também, pela

identificação do comentador – Antero Marques – logo no título do enunciado.

Nessa medida, o comentário inicia-se com uma pergunta (“Cadê o chefe,

ninguém pega?”) que questiona o fato de o ex-presidente Lula, considerado

chefe de um esquema de corrupção, não ser acusado ou incriminado pelas

suas ações. Dessa forma, o comentador constrói a imagem de um indivíduo

que questiona os dados reportados pelo artigo, uma vez que possui

desconfianças e conhecimentos abalizados sobre o assunto, tanto que, logo

76

após o seu questionamento, o comentador afirma que, pelo fato de não haver

um foco sobre o principal representante desse esquema de corrupção e, sim,

sobre partícipes de menor importância, cria-se um ambiente de impunidade,

em que o ex-presidente Lula, tido como tal representante, faz-se beneficiado.

Portanto, por meio da estratégia pragmática de se valer de uma pergunta, o

comentário 6 objetiva um efeito de sentido específico de questionamento ao

artigo e/ou à revista “Istoé”, os quais, não focalizando o principal responsável

pelos escândalos de corrupção observados no sistema governamental

brasileiro, assumem uma postura tendenciosa e subjetiva, fato reclamado pelo

comentador, de maneira implícita, devido à sua estratégia discursiva adotada.

(6) Antero Marques

Cade o chefe, ninguém pega? Ao invés de pegar o chefão (cuja ocupação agora é dar pitaco no pupilo Haddad e na pupila Dilma), ficam focando bagrinhos!

Em nossa pesquisa, constatamos, também, que o uso de perguntas faz-

se muito recorrente ao longo dos comentários on-line. Do nosso ponto de vista,

a marca modal da pergunta revela um comprometimento desse comentador em

relação ao seu enunciado, agregando-lhe um valor discursivo de incisão e,

muitas vezes, de ironia, de um enunciador que desconfia da materialidade

textual trazida pela revista, pelo fato de possuir conhecimentos além daqueles

expostos no artigo on-line. Destarte, tomemos, agora, o comentário 18 para

devida análise:

(18) Cezar

Quem em sã consciencia imaginou que este cavalheiro iria tolerar carregar a culpa de toda a CACHOEIRA de anarquia sozinho? Este cidadão saiu com tanto dinheiro de CALA BOCA, que os gastos mencionados nesta reportagem nem mexe nos dividendos dos recursos aplicados! VIDA LONGA AO REI DA QUEDA D'AGUA!!

Ao considerarmos o comentário 18, verificamos uma crítica que o

enunciador estabelece ao ex-senador Demóstenes Torres, que teria sido

“comprado”, por meio de propina, para assumir toda a culpa dos esquemas de

77

corrupção liderados pelo bicheiro Carlos Cachoeira, o qual, em função de todas

essas manobras e manipulações, sempre terá uma boa e longa vida,

comparada a de um rei (fato comprovado pelo uso da interjeição “vida longa ao

rei”). Para tanto, o comentador estabelece uma indagação inicial, a qual

engendra um grau de incerteza e de dúvida, haja vista que o enunciador não se

compromete com a fonte do conteúdo de seu enunciado, por um fator

unicamente de ordem pragmática, objetivando, assim, alcançar um efeito de

sentido em que a concretização do fato relatado seria tão improvável, que

causa espanto à sociedade. Destarte, o comentário 18 inicia-se com um tom de

aproximação e apreço em relação ao ex-senador Demóstenes Torres, mas

esse tratamento de estima é feito maneira irônica, já que, na realidade, o

comentador deseja dizer justamente o contrário, em uma tentativa de

desdenhar do ex-parlamentar. As letras maiúsculas, somente nas palavras

“Cachoeira”, “cala boca” e “vida longa ao rei da queda d’água”, realçam a

crítica incisiva que o enunciador deseja fazer ao bicheiro Carlos Cachoeira e a

todos os envolvidos em seu esquema de corrupção. Nesse sentido, o recurso

de caixa alta, como verificado, atribui uma modalização epistêmica subjetiva ao

comentário, valendo como uma acentuação argumentativa.

A partir dessa atividade analítica, identificamos que o uso da

modalização está diretamente associado ao contexto em que o enunciado é

produzido. Assim sendo, dependendo da intenção argumentativa assumida

pelo enunciador, sua modalização epistêmica possuirá um caráter objetivo,

quando quiser emitir uma declaração mais sóbria e com algum viés científico,

ou subjetivo, quando quiser emitir uma opinião embasada em suas práticas

individuais.

5.3 As representações sociais e o gênero comentário on-line

Nesta seção, analisamos quais mecanismos e recursos linguísticos nos

permitem flagrar a emergência das RS nos artigos publicados no site da revista

da “Istoé” e, principalmente, no interior dos comentários on-line, levando em

conta a sua dimensão de microcadeia discursiva até a dimensão da

78

macrocadeia, a qual é formadora do gênero comentário on-line.Nessa

perspectiva, passamos, a seguir, para a dimensão da emergência das

representações sociais.

5.3.1 Da emergência das representações sociais

Por estarem inscritos na sociedade, na história, os discursos são

determinados pelas condições que os engendram, “carregam representações

culturais ancoradas em uma ideologia data” (AMOSSY, 2006, p. 103). Em via

disso, o discurso ocupa função fundamental em nossa pesquisa, já que a

constituição do sujeito enquanto agente se dá por meio de práticas discursivas

inseridas em práticas sociais. Dessa forma, a atividade discursiva possui uma

faceta dupla: por um lado, é por meio dela que se dá a constituição do sujeito

na e pela linguagem e, por outro lado, possibilita o acesso aos movimentos

dessa construção. Assim sendo, buscaremos flagrar, pelas atividades

discursivas, as RS que emergem do lugar discursivo de onde se estabelecem

os leitores da revista “Istoé”.

Para tanto, em consonância com Grossmann; Boch (2006), as RS

podem ser encaradas como uma forma de conhecimento social elaborada e

compartilhada, tendo uma visada prática e concorrendo para a construção de

uma realidade comum a um conjunto social. Nessa medida, podemos

classificar a revista “Istoé” como um produto ideológico e, portanto, enquanto

tal, como um campo de enfrentamento de valores. Como a revista não é um

espaço neutro ou vazio de um ponto de vista psicossociológico, torna-se

necessário apreender os processos pelos quais os leitores investem tal veículo

com certo número de significações. Entre tais processos, as RS são vistas

como desempenhando um papel central.

Sob essa perspectiva, os leitores que escolhem a leitura de determinada

revista possuem, desde o início, certas semelhanças de interesses, de opiniões

e de gosto que seriam, ademais, acentuadas pelos efeitos psicossociológicos

resultantes do sentimento de pertencer a um mesmo grupo. Assim, os leitores

que pertencem a um mesmo grupo teriam tendência a adaptar seus

comportamentos e suas representações àqueles que pensam ser

características desse grupo.

79

Desse modo, ainda segundo os autores, as RS permitem a elaboração

de um sistema de referência que serve para avaliar (apreciar ou rejeitar) os

comportamentos dos outros. Nesse caso, portanto, torna-se condição sine qua

non preocupar-se com a norma linguística adotada, já que as práticas de

linguagem são socialmente diferenciadas e diferenciadoras, e seu estudo

ilumina as práticas sociais de referência de um grupo dado de falantes. Nessa

medida, ao desconsiderarmos tal estudo, quando temos a perspectiva da

identificação das representações e comportamentos, isolamos as práticas

linguageiras das demais práticas sociais do sujeito e ignoramos a

especificidade fundamental do ser humano: antes de tudo, ser de linguagem.

Sob essa perspectiva, torna-se redutor interrogar-se sobre as RS e

sobre os comportamentos de determinado grupo sem se debruçar sobre as

características linguísticas que circulam nesse grupo, que são constitutivas das

RS. Dessa forma, segundo Grossmann; Boch (2006), as RS são motivadas

pelo zelo de pertencimento e de identificação a um grupo, sendo que os

pertencentes de determinado grupo tendem a adaptar seus comportamentos e

suas RS àquelas que pensam ser características dessa determinada

comunidade, contribuindo, em via disso, para a constituição das relações

sociais, já que guiam para ações e trocas diárias.

5.3.2 Emergência das RS nos comentários

Ao analisarmos os comentários, pudemos verificar que os verbos agem

como modalizares epistêmicos, concedendo, aos comentários, um caráter de

objetividade ou subjetividade, autoridade, ou crença, certeza ou não certeza,

etc. Já o sintagma nominal (doravante, SN) – composto por substantivos

comuns e próprios e determinantes – e o sintagma adjetival (doravante, SA) –

composto por adjetivos – constituem-se como os principais recursos

linguísticos por meio dos quais as RS se manifestam.

Sob essa perspectiva, verificamos que a concepção dos elementos

centrais e periféricos das RS torna-se possível por meio do uso de mecanismos

linguísticos inerentes à língua, dos quais os SN seriam o eixo principal da

composição de uma representação.

80

Conforme destacamos anteriormente, o núcleo central das RS é mais

resistente a maiores transformações. Além disso, esses elementos estão

interligados a uma memória coletiva e, por esse motivo, definem a

homogeneidade de determinado grupo, engendrando a organização e a

produção de sentido da representação. Já o sistema periférico compõe-se de

elementos subjetivos, que envolvem a externação da opinião singular de cada

indivíduo pertencente àquele grupo específico.

Nessa medida, observamos que todos esses elementos periféricos, em

consonância com Abric (1992), permitem a troca e a integração entre as

experiências individuais de cada comentador, as quais são flexíveis e sensíveis

ao contexto imediato e, portanto, permitem uma heterogeneidade do grupo. Em

função disso, o sistema periférico adapta-se à realidade concreta e protege o

núcleo central.

Assim sendo, ao identificar representações que aparecem como pontos

de junção entre a identidade individual e a identidade social, verificamos que,

do ponto de vista das práticas de linguagem, os dados possibilitam perceber

discursos que trazem, em seu cerne, “vozes” diferenciadas, que projetam

diferentes formas de ethé. Dessa maneira, o exame dos dados permite revelar

um complexo processo de constituição de posicionamento identitário marcado,

ao mesmo tempo, por representações construídas a partir de um determinismo

institucional, social e cultural e por uma necessidade de qualificação das

práticas exercidas pela revista e pelo material por ela produzido, revelando um

processo intricado e conflituoso de construção de identidade e sua ligação às

RS.

A esse respeito, lembramos Bakhtin (1992),que ensina que,ao falar, o

indivíduo sempre se apóia em outros enunciados já pronunciados, haja vista

que não existe um texto fundador ou adâmico, sendo que, ao falar, esse sujeito

espera uma apreciação de seu enunciado, uma resposta. Assim, segundo em o

autor, o fundamento basilar de um enunciado é sua ancoragem na réplica (a

qual pode consistir de refutação, concordância, crítica, questionamento, crítica,

apoio, etc.) do discurso de seu enunciatário ou até mesmo seu próprio

discurso. Como resultado, há uma compreensão de que o dito foi satisfatório

para se almejar determinada intenção ou efeito de sentido, o que permite a fala

e a atitude responsiva do outro em um processo contínuo.

81

E, justamente, no interior desse quadro sociointerativo é que se revelam

as RS, as quais, segundo Moscovici (2007), constituem-se como uma forma de

travessia entre o individual e o coletivo, realidades estas que não são

herméticas nem dicotômicas, mas interativas entre si, sendo que a

representação surge no sujeito (indivíduo ou grupo) e se desdobra para um

fenômeno de troca interpessoal até se tornar um saber comum a uma

determinada comunidade. Verificamos, pois, que, nesse processo, as

interações sociais são fundamentais, fazendo com que as RS sejam

socialmente engendradas e compartilhadas.

Nesse sentido, conforme verificamos sobreditamente, o sistema central

de uma RS, pelo fato de constituir-se estável e rígido, forma o núcleo dessa

representação, uma vez que é resistente a mudanças. Assim sendo, podemos

apontar que as RS não são como as opiniões – apesar de constituídas por elas

–, que surgem ou se modificam a cada novo comentário on-line. Ao contrário,

constituem-se como uma somatória de diferentes ideologias e enunciados,

construídos socialmente, para serem concebidas como um evento social, o

qual não é tão volúvel quanto as opiniões individuais.

Sob essa perspectiva, ao considerarmos o funcionamento das RS , no

interior de um quadro interacionista, conforme destacamos anteriormente,

observamos a existência das RR, ocupantes do núcleo central, portanto,

estáveis e mantedoras de elementos compartilhados por todos os participantes

de determinado grupo, e as RU, integrantes do sistema periférico da

representação e relacionadas à emergência das singularidades de cada

indivíduo componente daquele grupo, fato que atribui a essa categoria um

caráter mais volúvel. Em função da expressão dessa individualidade dos

sujeitos, as RU podem convergir ou divergir em relação às asseverações

presentes na RR, fato que pode ocasionar aceitações ou significativas

alterações na representação.

Destacamos que toda e qualquer alteração inicia-se pelas RU e,

ganhando forças, desloca-se em direção ao núcleo, podendo modificá-lo de

maneira irreversível. Assim sendo, ao considerarmos todo esse fenômeno de

oscilação, observamos que a RU de convergência, representada por F1,

exerce uma força centrípeta em relação à RR, já que aponta para o núcleo da

representação, em um movimento que aceita e partilha dos postulados ali

82

contidos. Já a RU de divergência, representada por F2, realiza uma força

centrífuga em relação à RR, uma vez que se afasta do núcleo, discrepando-se

das postulações presentes nessa RR.

Sob essa perspectiva, verificamos que, no movimento de convergência,

existe uma inclinação das postulações contidas na RU em relação àquelas

contidas na RR, a qual, por sua vez, acaba exercendo uma força superior em

relação à RU, fazendo com que essa força seja centrípeta e aponte em direção

ao núcleo, constituindo-se, portanto, estável e tendendo à estabilidade. Já, no

movimento de divergência, como há uma discrepância muito grande entre as

postulações contidas na RU e aquelas contidas na RR, a força da RU

prevalece, o que torna essa força centrífuga e se afaste do núcleo da

representação, fazendo com que se comporte de maneira instável e que tenda

ao movimento.

Tendo em vista todas essas considerações, verificaremos, nesse

momento, como todo esse processo ocorre nos dados coletados. Devemos

esclarecer, contudo, que a análise da emergência das RS, propriamente dita,

será realizada considerando apenas o artigo “Dois Brasis, um rolezinho”, de

Paulo Moreira Leite, tendo em vista que, como coletamos, para a produção

desta pesquisa, dois textos on-line, publicados no site da revista “Istoé”,

tentamos contemplar, da maneira mais ampla possível, todo o material

coletado.

Ao considerarmos o texto publicado pela revista, verificamos que a

representação que sobressai do artigo é de que existe uma discriminação e

resistência contra os jovens moradores de periferia e contra o avanço

progressista e estrutural do Brasil, conforme podemos verificar nos dois trechos

a seguir, extraídos do artigo em questão e cujos grifos (nossos) permitem-nos

identificar a emergência dessa RS:

O Brasil está sempre discutindo o rolezinho – mesmo quando não percebe. Temos o rolezinho conjuntural, dos garotos e garotas da periferia que decidiram fazer concentrações em shopping centers. Quem nunca experimentou a condição de oprimido poderia fazer um exercício de empatia social para imaginar como é entrar num ambiente estranho, ser olhado como estranho, ouvir palavras estranhas.

Mas temos o rolezinho estrutural. É um pensamento organizado, partilhado por aquele da turma que ainda não acordou para as mudanças do Brasil recente. Duvida que temos um

83

desemprego baixo. Torce para que a inflação seja mais alta do que é. Diz que o colapso econômico está na próxima curva. Afirma que em breve o Brasil está virando uma Argentina. Não sabe como é viver num país que constrói um mercado de massa -- porque detesta gente.

A partir de então, nos comentários trazidos, verificamos que há divisão

entre as opiniões acerca do artigo, sendo que tais opiniões, pela identificação e

pelo zelo de pertencimento que as RS motivam, são agrupadas segundo as

características e peculiaridades que são comuns. Dessa forma, pudemos

identificar a existência de três grupos distintos:

Grupo 1: constitui-se como uma macrocadeia discursiva composta por

um grupo de comentadores que convergem sua opinião com aquela

suscitada pela representação que se sobressai no artigo da revista. Para

efeitos de análise, destacamos quatro comentários para verificarmos

como ocorre esse processo de emergência e oscilação das RS;

Grupo 2: consiste de uma microcadeia discursiva formada por um grupo

de comentadores que divergem sua opinião em relação àquela exposta

no artigo da revista. Também, aqui, destacamos quatro comentários

para analisarmos o processo de reconfigurações das RS;

Grupo 3: composto pelos comentadores que se mantêm neutros em

relação à RS que se sobressai do artigo da revista “Istoé”. Esse grupo é

formado pelos comentários 3, 11 e 12, os quais não emitem uma opinião

explícita e avaliativa em relação ao conteúdo e ponto de vista

construídos pelo artigo, pelo fato de considerarem-no inexpressivo e

insignificante.

Em relação ao grupo 3, devemos salientar que não teceremos uma

análise minuciosa, em função de ele não revelar elementos que possuam força

suficiente para aceitar ou discordar da representação “geral” de que há

resistência da população contra jovens de periferia e contra o avanço do País.

Acrescidamente, salientamos que o fato de se emitir uma opinião já revela uma

forma de subjetividade do indivíduo, fato que descarta uma hipótese de

neutralidade. Dessa forma, o que almejamos demonstrar com o grupo 3 é o

fato de que os seus comentários constituintes emitem um posicionamento

84

relativamente negativo acerca da temática dos “rolezinhos”, discutida pelo

artigo textual. Contudo, tal posicionamento não possui força argumentativa

suficiente para pertencer ao grupo 1 ou ao grupo 2, os quais emitem pontos de

vista pontuais fundamentados acerca do tema textual retratado pela revista.

Os comentadores pertencentes à microcadeia 3, portanto mantêm uma posição

“neutra” em relação à representação, sendo que, em função dessa

“neutralidade”, não se cria uma força suficiente para alterar a RR, fato que não

é interessante para nosso movimento analítico.

Nessa perspectiva, para melhor elucidar a existência desses três grupos

de comentários, que formam, cada um, uma macrocadeia discursiva, em que

cada comentador pode replicar comentários pertencentes a qualquer parte

dessas cadeias, elaboramos, a seguir, um esquema que ilustra toda essa

relação:

Quadro 2 – Configuração e ação das forças das RS

b

Comentário 4

Grupo 1 – Comentários

convergentes ao artigo

Comentário 1

Comentário 2

Comentário 3 Comentário 6

Comentário 19

Comentário 16

Comentário 10

Comentário 7

Comentário 5 Comentário 13

Comentário 9

Comentário 8

Comentário 20

10

Comentário 11

Comentário 12

Comentário 14

Comentário 15

Comentário 17

Comentário 18

10

Grupo 2 – Comentários

divergentes ao artigo

Grupo 3 – Comentários “neutros”

em relação ao artigo

85

Fonte: Dados da pesquisa. Levantamento realizado na coleta dos comentários

on-line

No quadro esquemático acima, verificamos que, conforme destacamos

sobreditamente, em relação à RS principal emergente do artigo da revista

“Istoé”, o grupo 1 é representado pela cadeia de comentários que convergem a

tal representação, o grupo 2, representado pelos comentários divergentes a

ela, e o grupo 3, representado pelos comentários “neutros”. Para tanto,

notamos que, na macrocadeia 1, existem duas setas que nascem de

comentários desse grupo e apontam para outros pertencentes à macrocadeia

2, fazendo uma referência ao recurso das réplicas, uma vez que os

comentários 6 e 8 refutam, respectivamente, 7 e 10. Para verificação desse

processo de refutação, trouxemos os comentários 7 e 6 de maneira pontual:

(7) ANTICOMUNISTA

CENTO E QUARENTA BRASILEIROS POBRES E NA MAIORIA NEGROS MORREM TODOS OS DIAS NO BRASIL MORTO PELOS COMUNISTAS NARCOTRAFICANTES DA AMÉRICA LATRINA-O QUE VC ACHA DISTO? PAULO MOREIRA LIMA E SEUS CÚMPLICES SE CALAM CRIMINOSAMENTE.TEMOS QUE PROTEGER NOSSOS JOVENS CONTRA AS DROGAS DOS COMUNISTAS.FORAPT!

(6) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA OW AANTA, SIGA O CONSELHO DO MOLINA: QUER ACABAR COMO TRÁFICO NO BRASIL? FECHE O DENARC DE SÃO PAULO, COM TUCANO É ASSIM, ONDE ELS ESTÃO SUAS POLÍCIAS SÃO AS MAIS CORRUPTAS E VIOLENTAS DO MUNDO. ALÉM DO QUE ESTES VICIADOS ENTOPEM O BRASIL DE DROGAS USANDO DEUS HELICÓPTEROS.FORA TUCANOS CHEIRADORES.

A partir dos dados acima e, conforme verificamos no esquema imagético

da figura 5, constatamos que o comentário 7 faz referência à matéria reportada

pelo artigo, afirmando que, diariamente, indivíduos pobres e, na grande

maioria, negros, são mortos, vítimas de narcotraficantes que são considerados

comunistas. Já o comentário 6 retoma o 7, em um movimento de refutação,

trazendo, à tona, dados que, apesar de não possuírem uma fonte que

comprove sua veracidade, acrescem argumentos persuasivos a seu discurso, a

fim de estabelecer que o comentador 7 é parvo – sendo taxado de “anta” –, já

que o DENARC (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao

86

Narcotráfico) do estado de São Paulo é ocupado por indivíduos filiados ao

PSDB (cujo mascote é um tucano), partido que possui uma orientação de

direita e que, portanto, segundo o comentador, é corrupto e responsável pela

manutenção do narcotráfico. Em via disso, verificamos que, apesar de haver

uma relação imediata e explícita entre os comentários, o texto do artigo age

como o eixo em torno do qual o comentário e sua respectiva réplica giram,

permanecendo como o balaústre dessa microcadeia discursiva.

Outra característica do quadro da figura 5 é fato de que os comentários

13 e 15, assinalados com um ícone esférico à sua frente, fazem uma referência

genérica aos comentadores do grupo 2, asseverando que tais leitores são

mentirosos e corruptíveis, já que são pagos por integrantes do PSDB para

relatarem inverdades acerca do governo presidencial como um todo. Por

último, observamos que os comentários 13 e 18 são destacados com um

triângulo à sua frente, o que ocorre pelo motivo de esses enunciados serem os

mesmos. A possível causa dessa repetição talvez seja uma estratégia

persuasiva que o comentador adota para reafirmar e enfatizar os avanços

estruturais do Brasil e contestar as inverdades pronunciadas pelos

comentadores que discordam dessa evidência.

Tendo isso em vista, realizaremos, primeiramente, uma análise acerca

do ethos discursivo construído por cada grupo, para, em seguida, verificarmos

quais são as RS emergentes de cada um desses grupos. Passemos, então,

para análise do grupo 1, do qual destacamos os comentários a seguir:

(6) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA OW AANTA, SIGA O CONSELHO DO MOLINA: QUER ACABAR COMO TRÁFICO NO BRASIL? FECHE O DENARC DE SÃO PAULO, COM TUCANO É ASSIM, ONDE ELS ESTÃO SUAS POLÍCIAS SÃO AS MAIS CORRUPTAS E VIOLENTAS DO MUNDO. ALÉM DO QUE ESTES VICIADOS ENTOPEM O BRASIL DE DROGAS USANDO DEUS HELICÓPTEROS.FORA TUCANOS CHEIRADORES.

(9) A MARTA

Parabéns PML, seu titulo não poderia ser mais apropriado mais uma vez PML mostra a realidade do nosso, do seu, meu (Brasis)

(13) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA

87

NÃO ADIANTA VIR COM MENTIRAS AQUI E LOTAR AS PÁGINAS DO SITE.TUCANOS CHEIRADORES DE COCAINASEUS VICIADOS EM ROUBO E VÍCIOS DE TODAS ESPÉCIESSEUS SODOMITAS BROCHAS. VÃO PRO LE3BLON CHEIRAR VIADOS. O CAGED INFORMOU A CRIAÇÃO DE 1.100.000 EMPREGOS, SÓ O ANO PASSADO, EQUIVALE A MAIS QUE 8 ANOS DO FHC

(17) ROBERTO43

Quanto melhor o texto de PML mas desperta a ira e manifestações raivosas de cólera canina dos que não tem argumentos racionais para contesta-lo. PML você vai na jugular da direitona raivosa e obtusa.

Ao considerarmos os comentários acima, verificamos a composição de

uma macrocadeia discursiva, em que os comentadores partilham de

posicionamentos análogos, os quais vão ao encontro à RS emergente do texto

publicado pelo jornalista Paulo Moreira Leite. Assim, a manifestação dessa

série de opiniões – que se reportam ao desenvolvimento estrutural observado

no território brasileiro, ao apoio ao atual governo, o qual cria empregos e

oportunidades para toda a população e ao apoio às asseverações produzidas

pelo jornalista Leite, que é contra a orientação conservadora da direita –

constitui as RU dessa RS, exercendo um movimento de convergência em

relação ao núcleo dessa representação verificada no artigo, segundo a qual

existe forte resistência da população em relação aos jovens pobres e em

relação ao progresso do Brasil.

Assim sendo, a emergência dessas opiniões ocorre através do ethos

discursivo que cada comentador constrói para si, adotando recursos diversos

para a construção de seu discurso, o qual é pautado em estratégias de

persuasão que objetivam a aceitação e identificação de demais

leitores/comentadores. Para tanto, destacamos que o ethos, como a origem

etimológica da palavra já nos revela, manifesta a singularidade do “eu” do

discurso. Contudo, apesar da construção diferenciada de cada ethos nos

comentários, verificamos que, como um todo, o discurso produzido pela

somatória desses ethé revela-nos traços semelhantes e compartilhados, o que

nos permite o agrupamento desses elementos.

Sob essa perspectiva, ao analisarmos os comentários 6 e 13,

verificamos que, muito provavelmente, foram escritos por um mesmo

comentador, haja vista que são descritos com o mesmo título – “Governo

88

tucano é uma merda” –, fazem uso do recurso estilístico de caixa alta e utilizam

um tipo de linguagem bem similar. Esse comentador assume um ethos

discursivo muito incisivo e agressivo, fazendo uso de termos agressivos e, até

mesmo, chulos, como podemos verificar nas palavras “merda”, “anta”,

“cheiradores” (referência aos usuários de cocaína), “viados”. Valendo-se de tais

recursos, o comentador constrói uma imagem que sugere que os políticos

filiados ao PSDB e todos os indivíduos que seguem tal orientação, são

conservadores, corruptos e contrários ao desenvolvimento observado no Brasil.

Para construir esse ethos, o comentador apresenta dados e referências

históricas, das quais podemos destacar a referência ao fato de o deputado

estadual Gustavo Perrella, filho do senador Zezé Perrella, ter se envolvido em

uma polêmica em que o seu helicóptero, ocupado por um piloto e copiloto, foi

apreendido pela polícia com centenas de quilos de cocaína. Essa última

referência dá-se porque, apesar de pai e filho serem filiados ao PDT, Zezé

Perrella elegeu-se como suplente do senador Itamar Franco, que havia

efetuado uma coligação com Aécio Neves, filiado ao PSDB, para a sua

candidatura a senador, fato que, imediatamente, associou Itamar Franco e

Zezé Perrella aos peessedebistas e, portanto, a uma orientação de direita. Em

função disso, o comentador efetuou uma associação direta entre “tucanos” e o

fato de serem considerados “cheiradores”. Além disso, são apresentados

constatações e dados numéricos, sendo apontado que o CAGED (Cadastro

Geral de Empregados e Desempregados), órgão do governo federal, informou

que, em 2013, foram criados 1.100.000 de empregos, números altíssimos para

um único ano. Ao informar a fonte dos dados, o comentador parece dar maior

credibilidade sobre sua argumentação, já que está pautado em algo verídico e

comprovável.

Assim sendo, apesar de o comentador não se referir diretamente ao

artigo da revista “Istoé”, reportando-se diretamente a outros comentadores,

verificamos que o artigo ainda mantém-se como o eixo delineador das

discussões levantadas. Além disso, o comentador deixa claro o seu apoio às

medidas governamentais que vêm trazendo melhorias e progresso para o

Brasil, o que nos revela, implicitamente, sua convergência ao posicionamento

do jornalista Paulo Moreira Leite, o qual também é simpatizante ao

desenvolvimento brasileiro.

89

Considerando, pois, os comentários 6 e 13, verificamos a utilização de

sintagmas que sustentam o ethos discursivo incisivo e agressivo construído por

esse comentador e, consequentemente, revelam-nos a emergência de uma

RS, conforme verificaremos logo adiante. Para tanto, observamos que o

comentário 6 é composto por formas como “governo tucano”, “tucano”, “estes

viciados” e “tucanos cheiradores”, enquanto o comentário 13 é constituído

pelos sintagmas “governo tucano”, “mentiras”, “tucanos cheiradores de

cocaína”, “viciados em roubos e vícios de todas as espécies”, “sodomitas

brochas”, “viados”. Por meio da recorrência a esses sintagmas, que possuem

um caráter altamente avaliativo, verificamos a emergência de uma

representação em que as RU são constituídas pela imagem e opinião de que

os integrantes e simpatizantes do partido PSDB, de orientação direitista, são

corruptos e viciados em drogas ilícitas, fato que explicaria o apoio desses

políticos e seus seguidores – qualificados de forma espezinhosa e depreciativa,

como por exemplo, “cheiradores”, “sodomitas”, etc. – ao narcotráfico.

Nessa perspectiva, observamos que a totalidade dessas opiniões

individuais, constituintes da RU, diverge-se daqueles posicionamentos de

comentadores que criticam a coluna da revista, mas se converge com a RR

formadora do núcleo central da representação que se destaca no artigo: o fato

de que existe uma resistência contra os jovens de periferia e contra o

progresso brasileiro. Esse movimento de convergência pode ser observado por

meio da adesão explícita que os comentadores 9 e 17 fazem em relação às

predicações do artigo, inclusive parabenizando o jornalista Paulo Moreira Leite

pelo seu texto, e por meio das críticas que o comentador responsável pelos

comentários 6 e 13 direciona àqueles que vão de encontro às preconizações

da coluna, realizando, assim, um movimento implícito de comunhão com a

representação emersa do artigo do jornalista. Assim, afirmamos que a escolha

pelo uso desses sintagmas concede autoridade ao comentador para abalizar o

seu discurso, fato que lhe garante uma estratégia argumentativa para aceitar,

de maneira não explícita, as postulações presentes no núcleo da RS

destacada.

Ao considerarmos o comentário 9, constatamos a manifestação de um

ethos discursivo mais comedido, que tece elogios para o autor do artigo Paulo

Moreira Leite (referido como “PML”), pelo fato de ele realizar um bom trabalho

90

e que expõe, de maneira autêntica, a realidade brasileira. Para tanto, essa

comentadora é tomada de uma autoridade tal que se localiza em uma posição

sociodiscursiva que lhe permite a construção de elogios e congratulações,

tanto que se identifica no título do enunciado como “A Marta”, fato que lhe

agrega maior comprometimento e engajamento epistêmico com o seu dizer.

Tal autoridade é também construída por meio de uma estratégia pragmática,

em que a comentadora 9 traz, para o seu discurso, o jornalista e todos os

demais comentadores, ao valer-se dos pronomes possessivos “nosso”, “seu” e

“meu”, o que demonstra certa integração da população, a qual é muito bem

retratada por Leite.

Dessa forma, por meio da construção de um ethos comedido e de

congratulações, verificamos a emergência de uma opinião que vai ao encontro

daquilo que é enunciado pelo jornalista em seu artigo, sendo tal opinião

expressa através dos SNs “parabéns”, “seu título”, “PML”, “realidade do nosso,

do seu, meu (Brasis)” e do SA “apropriado”. Tais sintagmas revelam, portanto,

o posicionamento subjetivo da comentadora, fato que constitui as RU da

representação emersa do comentário 9. Como essas RU convergem com as

RR da representação principal suscitada pelo artigo, de que existe uma

relutância em se aceitar os jovens e o desenvolvimento estrutural do Brasil,

verificamos que não há uma força divergente que ocasione possíveis

reconfigurações a ponto de se surgir uma “nova” RS. Diante disso, verificamos

que a RS emergente do texto do artigo é mantida.

O comentário 17 revela um ethos discursivo incisivo e, até mesmo,

agressivo, ao se referir aos comentadores que divergem do posicionamento

adotado pelo autor textual como cães, haja vista que é enunciando que é

despertada a “ira e manifestações raivosas de cólera canina”, acrescendo,

ainda, que esse grupo de comentadores é raivoso e obtuso. A construção

desse ethos tão contundente é sustentada pelo uso dos sintagmas nominais e

adjetivais, que conferem uma identidade qualificativa ao comentário. Assim, os

SNs “ira”, “manifestações”, “cólera”, “argumentos”, “jugular”, “direitona” e os

SAs “raivosas”, “canina”, “racionais”, “raivosa”, “obtusa” revelam o ponto de

vista do comentador de aversão aos leitores que não aceitam o

desenvolvimento estrutural brasileiro, tão defendido pelo jornalista Paulo

Moreira Leite. E, justamente, tal opinião, reveladora da subjetividade do

91

comentador 17 revela RU da representação que orienta seu discurso.

Posicionando-se, pois, de maneira contundente e com autoridade para

opinar acerca do assunto, o comentador 17, que se identifica, no título do

comentário, como “Roberto43”, assume uma inclinação explícita às afirmações

do autor do artigo, considerando-o também incisivo e sincero em suas

afirmações, as quais vão sempre ao encontro do desenvolvimento estrutural

brasileiro verificado pelo atual governo, fato que gera um desconforto por parte

dos opositores, que, desprovidos de argumentos para contestar Leite,

acometem-se de ira. Nessa medida, quando o comentador inclina-se ao

posicionamento do jornalista, converge com as RR emersas na materialidade

textual do artigo (segundo a qual há uma dificuldade em se aceitar os jovens

pobres e o desenvolvimento brasileiro) e, em função disso, as opiniões do

comentador são configuradas para aceitarem os postulados presentes no

núcleo dessa representação.

Nessa perspectiva, observamos que a totalidade dessas opiniões

individuais, constituintes da RU, divergem daqueles posicionamentos de

comentadores que criticam a coluna da revista, mas convergem com a RR

formadora do núcleo central da representação que se destaca no artigo: o fato

de que existe uma resistência contra os jovens de periferia e contra o

progresso brasileiro. Assim, a escolha pelo uso desses sintagmas concede

autoridade ao comentador para abalizar o seu discurso, fato que lhe garante

uma estratégia argumentativa para aceitar, de maneira não explícita, as

postulações presentes no núcleo da RS destacada.

A partir dessas considerações, verificamos que o ethos discursivo

construído por cada comentador é bem análogo, fundamentando-se de

maneira bem incisiva e com um tom agressivo. Contudo, cada comentador

manifesta sua opinião de maneira distinta, já que são indivíduos distintos e,

portanto, detentores de características ímpares. Dessa forma, destacamos que

tais singularidades compõem as RU, que, por partilharem os mesmos

posicionamentos – apoio às afirmações de Paulo Moreira Leite e ao

desenvolvimento verificado no Brasil –, convergem entre si e em relação à RR

observada no artigo da revista, postuladora de que há uma resistência contra

os jovens de periferia e contra o progresso brasileiro. Dessa forma, apesar da

emergência de diferentes opiniões acerca do mesmo assunto, os comentários

92

do grupo 1 reajustam-se na cronologia espaciotemporal, assomando as

convergências dessas opiniões, para conceber, como produto sociodiscursivo,

uma macrocadeia discursiva.

Portanto, verificamos que, nos comentários pertencentes ao grupo 1,

ocorre um movimento convergente, em que uma força centrípeta aponta para o

núcleo da representação. Contudo, como esse é um movimento de

convergência, a RR, baseada em estabilidade e tendência à inércia, exercerá

maior influência sobre essa RU, fato que criará um movimento mais ou menos

harmonioso no interior dessa RS, fazendo com que a FR seja estável. E,

justamente, em função dessa harmonia, a RR não sofre oscilações e a

representação inicial é mantida.

Tendo em vista todas essas considerações, passemos para a análise do

grupo 2, cujos comentários são retratados logo abaixo:

(2) DOIS BRASIS, DE PML

PML, DOIS BRASIS, UM ROLEZINHO: PT APOIA ROLEZINHO EM SHOPPING (PRIVADO) E PROIBI ROLEZINHO EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL (COPA 2014), CONSTRUÍDOS COM DINHEIRO PUBLICO..ISSO PODE?

(4) ALZIRA

Essa é uma falsa polêmica, já que vários shoppings, em especial os de periferia, são frequentados na grande maioria por gente de periferia, ou seja, pela mistura de estratos dos que vivem lá. Há 'pagode no shopping', 'dança popular no shopping', 'minicarnaval no shopping' e lojas populares também...

(5) VAMOS FAZER UMA VAQUINHA E AJUDAR OS MENSALEIROS? É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas,mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas.VÁ DIZER ISSO AO PT

(7) ANTICOMUNISTA

CENTO E QUARENTA BRASILEIROS POBRES E NA MAIORIA NEGROS MORREM TODOS OS DIAS NO BRASIL MORTO PELOS COMUNISTAS NARCOTRAFICANTES DA AMÉRICA LATRINA-O QUE VC ACHA DISTO? PAULO MOREIRA LIMA E SEUS CÚMPLICES SE CALAM CRIMINOSAMENTE.TEMOS QUE PROTEGER NOSSOS JOVENS CONTRA AS DROGAS DOS COMUNISTAS.FORAPT!

93

Ao considerarmos os comentários acima, verificamos a composição de

uma microcadeia discursiva, em que os comentadores comungam de

elementos similares, os quais vão de encontro à RS emergente do texto

publicado pelo jornalista Paulo Moreira Leite. Assim, apesar da manifestação

de diferentes opiniões – as quais não são estanques entre si – acerca do tema

retratado pelo artigo, todas essas imagens convergem para compor uma

representação comum a todas elas, de que o sistema comunista – cuja

orientação ideológica foi fundamento para a formação do partido político a que

a atual presidente da república é filiada – é tido como algo execrável. Portanto,

a emergência das diversas opiniões dos comentadores, que asseveram acerca

da falsa polêmica levantada pelo autor textual, a facilidade demagoga em se

defender um assunto tão evidente como a liberdade de expressão e o silêncio

e a conivência do autor diante determinados fatos, compõem as RU dessa

representação, as quais exercem uma força de divergência em relação ao

núcleo da RS, composto por uma RR postuladora de que há discriminação da

população em relação aos jovens de periferia e ao desenvolvimento brasileiro.

Sob essa perspectiva, observamos que a manifestação das diversas

opiniões ocorre por meio do ethos discursivo assumido por cada comentador, o

qual adota diferentes estratégias para a construção de sua argumentação,

estratégias essas que explicitam a experiência particular vivenciada por cada

comentador, a qual, compartilhada em uma ferramenta on-line, pode ser

retomada e comungada por demais sujeitos. Todo esse processo de

subjetivação, portanto, estabelece uma gama de imagens que, orientando-se

em um movimento convergente, contribuem para a estabilização das RR do

núcleo, que levam em conta todo esse repertório comum aos integrantes desse

grupo.

Assim sendo, ao analisarmos o comentário 2, verificamos que o

comentador refuta o autor textual, construindo um ethos discursivo que se

pauta em fatos constatados (os quais, entretanto, não possuem uma fonte

citada que faça referência à sua autenticidade). Para tanto, o comentador

afirma que o governo presidencial exerce uma política dupla: apóia a prática

dos “rolezinhos” em shopping centers, que são estabelecimentos privados, mas

proíbe os “rolezinhos”, isto é, a concentração da população em estádios de

futebol, os quais estão sendo preparados para a Copa do Mundo a ser

94

realizada no Brasil e, portanto, possuem dinheiro público investido, o que daria

acesso pleno da população a esses estádios, além do fato de o futebol ser o

esporte mais popular do país.

Para a construção desse ethos, o comentador 2 faz uso de sintagmas

que descrevem a atual situação sociopolítica brasileira, considerada injusta

para a maior parte da população. Dessa forma, a utilização dos SNs “Dois

Brasis”, “um rolezinho”, “PT”, “rolezinho”, “shopping”, “estádios de futebol”,

“Copa 2014”, “dinheiro” e dos SAs “privado” e “público” revelam a opinião do

comentador de que os dois Brasis, da forma como são retratados pelo artigo,

são uma invenção tendenciosa do autor Paulo Moreira Leite, referido no

comentário como “PML”, uma vez que a verdade a ser considerada é o fato de

o sistema governamental brasileiro exercer uma dupla política, conforme

destacado sobreditamente. Dessa forma, por meio da expressão dessa opinião

do comentador 2, flagram-se as RU da representação emergente desse

comentário.

O comentário 4, de maneira similar, contesta o autor textual, afirmando

que a polêmica levantada é dolosa, já que existe, de fato, uma inserção não

preconceituosa dos jovens de periferia nos shopping centers, por meio de

pagode, danças populares, etc., realizados nesses estabelecimentos privados.

Portanto, o comentador 4 constrói um ethos discursivo, que, embasado em

fatos constatados (que, assim como o comentário 2, não revelam a fonte de

sua veracidade), corroboram sua argumentação, fornecendo-lhe um elemento

a mais para sua fundamentação persuasiva.

Quando verificamos o comentário 5, constatamos que o ethos construído

pelo comentador não é apoiado em fatos ou constatações, mas é apenas

incisivo e contundente em suas asseverações, as quais postulam que a defesa

da liberdade de expressão, por se tratar de um tema que se constitui de

interesse de todos, quando não é reportada de maneira meticulosa e

aprofundada, pode se tornar um tema demagogo. Mantendo-se, pois, de

maneira firme e sem hesitar ao longo de seu comentário, o comentador 5

termina sua argumentação com um tom imperativo, ao enunciar uma ordem

para o autor textual, “vá dizer isso ao PT”, fato que corrobora a contundência

de toda a sua argumentação.

De maneira similar, o comentador 7 constrói um ethos discursivo

95

bastante contundente, sendo que, logo no título do comentário, ao se identificar

como “anticomunista”, já se posiciona opositor ao governo brasileiro, que,

sendo regido por uma representante filiada a um partido com orientação

esquerdista, demonstra-se simpatizante e inclinado ao comunismo. Assim, para

fundamentar seu posicionamento tão incisivo, o comentador vale-se de dados

numéricos, os quais são apresentados ao se referir à quantidade de jovens

pobres mortos diariamente no Brasil, recurso que, apesar de não possuir uma

fonte que comprove sua autenticidade, sustenta o valor persuasivo almejado

pelo comentador, que, mantendo-se sempre incisivo, ainda faz referência aos

leitores/comentadores que defendem as ideias de Paulo Moreira Leite,

taxando-os como cúmplices e coniventes com os crimes ocorrentes contra as

minorias do país.

Em sua ação argumentativa, o comentador 7 recorre a vários recursos

linguísticos, dos quais destacamos as seguintes expressões: “Cento e quarenta

brasileiros pobres e na maioria negros”, “Brasil”, “comunistas”, “narcotraficantes

da América”, “Paulo Moreira Lima”, “seus cúmplices”, “nossos jovens”, “drogas

dos comunistas”, “PT”, “latrina”. Defendemos que tais elementos manifestam a

opinião do comentador de que o comunismo é ignóbil, pois serve de orientação

ideológica para narcotraficantes – responsáveis pelas mortes diárias de

brasileiros pobres e, na grande maioria, negros – e para o atual governo

brasileiro, o qual é contestado pelo comentador. Tal opinião, que expõe um

posicionamento tão singular, constitui as RU da RS que emerge do comentário

7, sendo que tais RU são divergentes em relação às asseverações contidas

nas RR presentes no núcleo central da representação principal manifestada

pelo artigo.

A partir dessas considerações, observamos que o ethos discursivo

construído por cada comentador, revelador de opiniões distintas, é orientado

por determinadas RU, as quais, por comungarem de determinados elementos e

julgamentos, são convergentes entre si, mas divergentes em relação à RR.

Assim, conforme verificamos em modelos e teorias desenvolvidos pela Física,

tudo tende à estabilidade, revelando-nos que, quando o movimento de

divergência da RU – baseado em instabilidade e oscilações constantes – é

grandioso e perturbador, há uma dissipação daquela RS inicial para que a RS

resultante tenda à estabilidade e contemple, de maneira mais ou menos

96

harmoniosa, as opiniões e julgamentos particulares de cada um dos integrantes

daquele grupo específico.

Nessa ótica, como as RS são motivadas pelo zelo de pertencimento e de

identificação a determinado grupo, muitas das vezes, essa identificação pode

ser tão forte que, conforme descrito sobreditamente, caso exista uma

divergência desse grupo em relação a determinado aspecto, cria-se uma força

centrífuga, que resulta em uma RS que não é totalmente nova, mas produto de

todo esse processo de reconfiguração. Assim sendo, nos dados analisados do

grupo 2, verificamos que as RU são compostas por opiniões que revelam

demagogia, falácia e conivência por parte de Paulo Moreira Leite, autor da

matéria considerada. E, como tais RU exercem um movimento de divergência

tal, em relação à RR de que existe uma resistência contra os jovens pobres e

contra o desenvolvimento brasileiro, essa força de divergência tende a exercer

uma reconfiguração interna para que haja uma estabilidade na RS, em que as

RR nucleares serão compostas pelo postulado de que os textos e opiniões de

PML são tendenciosos e, por vezes, falaciosos. Nessa representação

resultante, haverá, então, uma tendência à estabilidade.

Considerando, então, toda essa abordagem acerca da dimensão da

macrocadeia discursiva, composta por uma sequência de comentários on-line,

realizaremos uma gradação para o nível a microcadeia discursiva, que leva em

conta cada comentário considerado individualmente. Dessa forma, como já

demonstramos como ocorre o movimento de configuração e reconfiguração

das RS no interior de uma cadeia de comentários, por meio dessa gradação,

demonstraremos, a seguir, como tal processo de oscilação de uma

representação ocorre no interior de um único comentário.

Sob essa perspectiva, quando voltamo-nos para a análise dos dados,

constatamos como as RS orientam a configuração dos traços identitários do

sujeito, em relação a uma dada comunidade, identificando como a assunção de

papéis sociais específicos aponta para o processo de associação de RS.

Dessa forma, para realizarmos nossa atividade analítica, reiteramos, a seguir, o

comentário de um leitor, já apontado anteriormente, e referente à coluna “Dois

Brasis, um rolezinho”:

97

(5) VAMOS FAZER UMA VAQUINHA E AJUDAR OS MENSALEIROS? É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas,mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos

absolutamente repulsivas.VÁ DIZER ISSO AO PT

Como podemos verificar, logo no início do excerto, o enunciador afirma a

facilidade de se defender a liberdade de expressão quando se é uma bandeira

adotada por todos, o que demarca relativa condição de pertencimento desse

enunciador a esse grupo defensor. Tal adesão relativa é verificada no

segmento logo à frente, por meio do uso do verbo “julgar”, que, conjugado em

primeira pessoa do plural, estabelece uma relação de proximidade entre os

sujeitos que, de forma ativa, constituem um grupo que avalia determinados

elementos – que não são esclarecidos, já que o enunciador utiliza o termo

“coisas” – como sendo positivos e sensatos, uma vez que tal condição

engendra uma relação de equidade entre os indivíduos pertencentes a um

dado grupo social.

Nessa medida, temos, no SN “liberdade de expressão” e no SA

“positivas” e “sensatas”, uma evidência material da emergência de uma RS de

que a garantia ao direito de liberdade é positivo, sendo sempre associada aos

sujeitos que integram o grupo portador dessa causa. Tais termos, portanto,

estão repletos de força discursiva e argumentativa, recurso que nos evidencia a

constituição das RR do núcleo central, de que a defesa da liberdade de

expressão é positiva apenas quando é dito algo que nos agrada. Esses

recursos abonam, ao enunciador, uma legitimidade para ponderar acerca do

grupo que defende, garantindo que o comentador possua pleno juízo acerca

dessas condições de liberdade – o que lhe causa certa repulsa –, fato que

acaba por resultar em uma crítica reflexiva a esse grupo, funcionando, então,

como uma estratégia discursiva repleta de força persuasiva.

Sob essa ótica, ao tecer uma crítica a essa comunidade, o enunciador

distancia-se da mesma, verificando um não pertencimento a tal grupo, já que,

por ser tão aderido e considerado tão bom, pode tornar-se leviano e superficial,

uma vez que não aprofunda para as camadas mais problemáticas dessa

discussão. Destarte, o comentador manifesta a certeza de seu posicionamento

acerca desse grupo leviano por meio dos enunciados “É fácil defender a

98

liberdade de expressão (...)” e “mas nosso compromisso com a liberdade de

expressão (...)”. Nesses segmentos, a expressão “é fácil” e o articulador “mas”

deixam clara a oposição do comentador em relação a esses indivíduos,

opondo-se à RR de que a liberdade de expressão é vista como positiva apenas

quando se diz algo com o qual concordamos, e já estabelecendo, em seguida,

uma relação de pertencimento do enunciador a outro grupo, defensor de uma

expressividade mais aprofundada e abalizada acerca do tema, que leva em

conta a admissão de uma liberdade expressiva que predica declarações com

aquilo que consideramos até mesmo execrável.

Portanto, a expressão “é fácil” já indicia que o ponto de vista adotado

pelo comentador é contrário àquilo que será dito, desqualificando o que se vai

trazer à frente, sendo que o segmento tomado a partir de “mas nosso

compromisso (...) repulsivas” reforça a adesão desse comentador ao grupo que

apoia a liberdade de expressão sob circunstâncias menos volúveis, fazendo tal

adesão de uma forma plena, já que existe um movimento de defesa da RS à

qual adere, havendo uma objetividade que adiciona argumentos cabais e que

sustentam a sua posição – diferente daquela da RS inicial. Dessa forma, esse

movimento ocorrente na representação permite-nos deflagrar as oscilações das

RR e RU (fato que afeta o núcleo central e o sistema periférico), apontando-

nos, na materialidade discursiva, como as RS operacionalizam nas práticas

sociais e como ocorre o seu processo de atualização frente aos papéis sociais

que os indivíduos assumem nas interações ao produzirem efeitos de sentido

para as RS.

Assim sendo, verificamos que, ao assumir uma perspectiva divergente

daquela inicial, o comentador realiza um processo avaliativo, garantido pelas

RR, realizando tal processo circunstancialmente, uma vez que traz à tona uma

experiência que considere correta, segundo seu ponto de vista. Tal processo

afeta a estrutura da RS, já que as RR são reconfiguradas na forma de RU, uma

vez que há emergência de uma demanda particular do enunciador. Assim,

como há uma vinculação muito forte das RU ao processo de subjetivação da

enunciadora, a qual assume uma posição identitária divergente das RR

presentes na RS inicial, ocorre um movimento de divergência, sendo, portanto,

determinante para as modificações dos elementos periféricos, os quais

99

repercutem e transformam o núcleo central, conduzindo-os à perda de status

de centralidade. Esse processo, portanto, ocasiona a modificação da RS,

transformando-se da imagem de que a liberdade de expressão é vista como

positiva apenas quando se diz algo com o qual concordamos para a predicação

de que a liberdade de expressão é vista, verdadeiramente, como positiva

quando admitimos que se diga até aquilo que repugnamos.

Dessa forma, para melhor elucidar esse movimento ocorrente no interior

da RS, em que há uma oscilação entre as RR e RU, elaboramos o esquema

abaixo:

Figura 8 – Movimento de divergência da RU

Fonte: Diagrama elaborado pelo autor

Consideremos, agora, outro comentário referente ao artigo “Dois Brasis,

um rolezinho”, para verificar o movimento de configuração interna da RS, em

um micronível analítico:

(4) ALZIRA

Essa é uma falsa polêmica, já que vários shoppings, em especial os de periferia, são frequentados na grande maioria por gente de periferia, ou seja, pela mistura de estratos dos que vivem lá. Há 'pagode no shopping', 'dança popular no shopping', 'minicarnaval no shopping' e lojas populares também...

RR = A liberdade de

expressão é positiva

apenas quando é dito

algo que nos agrada

RU = A liberdade de

expressão é positiva

quando admitimos até

o que repugnamos

Representação Social

RU divergente

em relação à RR

100

No comentário acima, destacamos alguns sintagmas para verificarmos,

a seguir, sua influência na composição da RS. Devemos ressaltar, ainda, que o

comentário refere-se à temática abordada pela coluna, reiterando,

especificamente, esse trecho do texto:

“O preconceito contra os meninos pobres e contra o país em que nascemos, vivemos e criamos nossos filhos é uma coisa só. Um encarna o outro, expressa o outro. Como nação e como indivíduos, querem nos excluir do progresso e da civilização. Mesmo nossos shopping centers - que uma perversidade consumista apresenta como ápice do convívio social e da cultura -- devem continuar para poucos.” (DOIS BRASIS..., 2013).

Podemos identificar que a comentadora, que se autoidentifica no título

do comentário, elabora uma crítica contundente ao texto, afirmando que a

polêmica criada pelo autor textual, envolta em um viés de preconceito, é

falaciosa, já que, segundo a perspectiva da enunciadora, vários shoppings,

principalmente aqueles localizados na periferia, são frequentados pelos

moradores dessas regiões periféricas, os quais participam ou organizam

eventos nesses estabelecimentos.

Ao considerarmos, então, a estrutura lexical do comentário, verificamos

que os SN negritados – “falsa polêmica”, “gente de periferia”, “mistura de

estratos” – possuem grande força argumentativa. Isso porque esses sintagmas

fornecem a evidência da emergência de uma RS, a qual predica que os pobres

acompanham o progresso da civilização, não sendo, portanto, alijados de

eventos sociais, como o fato de poderem frequentar shopping centers. Esses

SNs, carregados de poder discursivo, já que funcionam como dados, nos

permitem identificar, na RR do núcleo central, essa representação da não

exclusão dos pobres, fato que assegura, à enunciadora, legitimidade para

avaliar a polêmica levantada pelo autor textual, já que, dotada de referências e

argumentos, pode refutá-lo de maneira reflexiva. Tal estratégia age, portanto,

com muita força argumentativa e persuasiva.

Destarte, ao realizarmos uma leitura mais atenta do comentário,

verificamos, por parte da enunciadora, uma relação de não pertencimento a

esse grupo de “gente de periferia”, do qual ela enuncia. Isso porque, quando

101

lemos o segmento “mistura de estratos dos que vivem lá”, notamos que o

advérbio “lá” nos indica um lugar distante, identificando que a enunciadora não

vive nessa periferia em que ocorre o amálgama das classes sociais. Contudo,

apesar de não pertencer a esse grupo, a enunciadora identifica-se com ele e,

mantendo sempre certa ressalva e neutralidade, objetiva a defesa desse grupo.

Logo, apesar de a adesão da enunciadora à RS manter essa posição de

neutralidade – que revela um distanciamento em relação ao grupo –, acaba por

adicionar argumentos que sustentem sua posição de defesa, uma vez que

dados são apresentados para justificar e sustentar o fato de que a polêmica

levantada pelo autor textual é falaciosa e há, sim, uma integração dos

indivíduos de periferia à sociedade como um todo (em específico, os shopping

centers, considerados como o cimo do convívio social, conforme destacado

pelo artigo), como verificamos, por exemplo, nos seguintes enunciados do

comentário: “há pagode no shopping”, “dança popular no shopping”. Dessa

forma, esse recurso permite deflagrar o movimento ocorrente entre a RR e a

RU, demonstrando, linguisticamente, um processo de convergência, em que,

amparada pela RR de que os pobres não são alijados de eventos sociais, a RU

converge com tal referência, acrescendo que existem ações das quais esses

indivíduos organizam ou participam.

Sob essa ótica, verificamos que a comentadora assume uma única

perspectiva ao longo de toda sua enunciação, fato que não perturba a RS

emersa desse processo. Contudo, salientamos que RR, presentes no núcleo

central da representação, são afetadas em certa medida, já que o enunciador

apresenta dados segundo sua própria perspectiva, fato que faz evidenciar sua

experiência particular, a qual é emersa por meio da RU. Nessa medida, como a

associação da RU à subjetivação da comentadora é apenas para ratificar seu

argumento presente na RR, ocorre um movimento de convergência, fato que

não produz força suficiente para afetar o sistema periférico a ponto de destituir

o aspecto de centralidade do núcleo central. No interior desse processo,

portanto, verificamos que a enunciadora adota um ponto de vista que mantém

a RS predicada inicialmente.

Assim sendo, para ilustrar esse movimento discreto que ocorre no

interior da RS desse caso específico, em que há convergência na RU,

102

elaboramos o esquema a seguir:

Figura 9 – Movimento de convergência da RU

Fonte: Diagrama elaborado pelo autor

Ao considerarmos o esquema acima, verificamos que o comentador,

apesar de divergir do posicionamento apresentado pelo autor textual,

apresenta uma nova RS, a qual é assumida desde o início da enunciação do

comentador, havendo, portanto, um movimento de convergência na estrutura

dessa representação. Assim, assumindo uma perspectiva diversa daquela do

autor, resultante de uma avaliação de representações distintas, o ponto de

vista do comentador assume um valor subjetivo.

Assim sendo, ao considerarmos os comentários on-line, especialmente

aqueles trazidos para análise, verificamos que houve confirmação de nossa

hipótese inicial, de que haveria uma “contaminação” entre as RS, existindo uma

influência entre elas. Pudemos constatar que, ao longo dos comentários, as RS

emergentes reconfiguram-se a todo instante, havendo constantes movimentos

em suas estruturas internas – RR, presente no núcleo central e RU, presente

no sistema periférico –, fato que acaba por influenciar na reconfiguração das

demais RS emersas nos demais comentários. Estes, por sua vez, considerados

como uma microcadeia discursiva, reajustam-se na cronologia

RR = Os pobres são

alijados de eventos

sociais

RU = São muitos os eventos

sociais que os pobres

organizam ou dos quais

participam

Representação Social

RR = Os pobres são

alijados de eventos

sociais

RU convergente

em relação à RR

103

espaciotemporal, assomando divergências e convergências de opiniões e

ideologias, para conceber, como produto sociodiscursivo, o gênero comentário

on-line, considerado uma macrocadeia discursiva.

Sob essa ótica, constatamos que comentário on-line, enquanto um

gênero que permite a assunção de caráter subjetivo do leitor em meio à esfera

jornalística, incita formas de opiniões e desabafos individuais e muito

peculiares. Dessa forma, considerando que as matérias mais comentadas são

aquelas que retratam um acontecimento marcante e que suscita a atenção da

sociedade, existe quase uma necessidade de réplica para tais acontecimentos,

permitindo a subjetividade nos comentários, que, através de uma espécie de

desabafo, carrega um desejo de justiça por parte do comentador.

Além disso, os comentários analisados nos permitiram constatar que a

cadeia discursiva engendrante do gênero comentário on-line é muito volúvel,

em que os enunciados ora se referem à matéria retratada, ora se referem a

outros enunciados. Nessa medida, mesmo que, em alguns casos, durante a

sequência dos comentários, a matéria seja minimizada, resignando-se ao

diálogo entre os comentadores, essa matéria, ainda assim, é o elemento

ativador dessa sequência, constituindo-se, portanto, como o eixo central dessa

cadeia de comentários, conforme verificamos, anteriormente, nos exemplos

dos comentários 7 e 6.

Em virtude disso, fica claro que, por meio da análise dos vários

comentários, pudemos perceber que determinado fator que é considerado

aceitável para determinada comunidade social, pode ser tido como inaceitável

para outra comunidade social, o que reporta para o pensamento de que o

comentário on-line, independente do posicionamento e ideologia que abriga,

tende a veicular formas de desabafo, em que o clamor pela igualdade e justiça

fazem-se extremamente presentes.

104

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os objetivos que adotamos para apresente pesquisa,

deparamo-nos com uma proposição que exige um tratamento e um olhar

científico que não se esgotam facilmente, levando-se em conta a complexidade

do objeto de estudo e a complexidade com que nos propusemos a lidar com

ele, considerando, nesse segmento, as abordagens teóricas, metodológicas e

analíticas que assumimos. Nessa medida, quando nos propusemos a estudar

as representações sociais emergentes do processo de construção dos

comentários on-line (levando-se em consideração, aqui, a constituição

identitária dos ethos discursivos no interior desses comentários), lançamos

mão de uma tentativa que permita a construção de uma perspectiva que traga

novas contribuições, de algum modo, para os estudos desse quadro assumido.

Para tanto, acrescemos que nossa perspectiva adotada, acerca do

processo de emergência das representações sociais nos comentários on-line,

não deve ser vista de modo isolado e fragmentador desse processo, mas como

uma perspectivação que dê conta de abarcar o objeto de estudo a que nos

dedicamos. Além disso, destacamos que tanto o objeto quanto o quadro teórico

adotado constituem-se relativamente novos, uma vez que os estudos das

representações sociais estão voltados, originalmente, para o campo da

Psicologia Social, sendo que as investidas dos estudos, por parte do campo da

Linguística, são mais recentes. Também, a constituição do gênero comentário

on-line é relativamente “nova”, já que sua forma de interação vale-se de

recursos e ferramentas tecnológicas muito contemporâneos, que exigem

relativo conhecimento para o seu entendimento e uso. Em função desses

fatores, nossa pesquisa não foi de fácil concretização, levando-nos a acreditar

que a perspectiva aqui assumida, longe de qualquer pretensão, detém-se

inovadora e passível de atenção para a integração dos estudos que significam

e contribuem, em alguma medida, para o campo da Linguística.

Tentamos, então, conceder um tratamento especial ao gênero

comentário on-line, o qual, sendo tão “novo” e tão presente em nossa

sociedade contemporânea, constituiu-se como o eixo central para o tratamento

do objeto de estudo e, por isso, objetivamos entender, de maneira minuciosa, o

105

seu processo de constituição e de funcionamento. Nessa medida, ao levarmos

em conta os recursos linguísticos utilizados na construção do gênero

comentário on-line – tais como as modalizações epistêmicas e demais recursos

constitutivos do ethos discursivo construído por cada comentador –, temos um

dimensionamento de que a linguagem, tida como um fenômeno

indiscutivelmente dialógico, deve ser estudada considerando-se a

funcionalidade dos gêneros, os quais, enquanto normativos e “relativamente”

estáveis – segundo a perspectiva bakhtiniana –, permitem a compreensão das

relações linguageiras de interatividade. Dessa forma, reiteramos que são as

relações de interação é que definem o conteúdo, a forma e o estilo do gênero

comentário on-line, haja vista que, se desconsiderarmos o contexto verbal,

cada inserção, isto é, cada enunciado dos comentários seria considerado como

um segmento de sentido menor, e não como uma microcadeia discursiva, cujas

relações dialógicas e interacionais constituem uma sequência maior, isto é,

uma macrocadeia discursiva formadora do gênero comentário on-line. Tal

processo, portanto, apenas evidencia a importância do quadro

sociointeracionista para a edificação e funcionamento do gênero.

A partir dessa dimensão sociointeracionista adotada em nossa pesquisa,

que levou em conta as perspectivas de micro e macrocadeia discursiva, em

uma relação dialógica, pudemos observar que as características constituintes

das posições identitárias de determinado grupo social apoiam em uma ótica

que concede, àquele grupo, unidade e laços de pertencimento para os sujeitos

pertencentes a tal comunidade. Em função disso, as representações sociais

emergentes no interior de determinado grupo social comportam-se como um

paradigma para que um de seus integrantes possa se colocar em posição de

distinção dos demais – divergência – ou se colocar junto aos demais –

convergência. Essa relação de unidade é constantemente reconfigurada diante

das transformações dos traços que a compõem, já que a perspectiva de

identidade é produto da dinamicidade das trocas sociais e das diferenças

intrínsecas aos indivíduos inscritos nessa interação.

No interior dessa perspectiva, que leva em consideração uma

abordagem sociointeracionista da linguagem, observamos a amplitude e

complexidade desse campo, em que as possíveis respostas encontradas

podem suscitar imprecisões, que, em seu turno, podem motivar novas

106

hipóteses. Em via disso, na tentativa de se processar soluções para todas

essas dúvidas, verificamos que a única certeza encontrada é a capacidade de

produção de sentido quase infinita dos sujeitos envolvidos no processo de

comunicação verbal, fato que sempre suscitará a necessidade de novos e

constantes estudos que deem conta de abarcar tamanha dimensão.

Assim sendo, asseveramos que, caso os objetivos demarcados não

tenham sido alcançados de forma categórica e não tenham conseguido

construir uma solução definitiva e absoluta para os problemas abordados –

pretensão esta que, no campo científico, é totalmente inconsistente –,

acreditamos que houve um avanço na compreensão do problema, apesar de

toda a sua complexidade. Dessa forma, as falhas e lacunas não preenchidas

por esta pesquisa poderão ser repensadas para estudos futuros,

possivelmente, no programa de doutorado, em que poderemos assumir o

problema com enquadramentos ainda mais amplos e com um olhar científico

ainda mais rigoroso, levando em consideração, ainda, que essa abordagem

adotada não é plena e incontestável, mas repercute em direções diversas que

exigem múltiplos estudos investigativos.

Em virtude disso, reiteramos que as conclusões obtidas ao longo deste

trabalho, sem maiores pretensões, pretendem abrir um diálogo com demais

áreas do conhecimento, para que possamos instituir uma linha de estudos

acerca do gênero dos comentários on-line em conjunção com as

representações sociais imanentes.

107

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110

Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB, 2000, p. 3-26.

111

ANEXO A – ARTIGO “A BOA VIDA DE DEMÓSTENES”

A boa vida de Demóstenes

Sem mandato e prestígio, o ex-senador Demóstenes continua a desfrutar

dos luxos da época de parlamentar. Comemorou o Réveillon num dos

melhores restaurantes de Paris, frequenta uma badalada academia, faz

tratamentos em clínicas estéticas e degusta vinhos

Josie Jeronimo e Adriano Machado (fotos), de Goiânia

FELIZ E ASSOVIANDO

No dia de seu aniversário, o ex-senador Demóstenes Torres saiu de casa de terno e gravata, mas não teve compromisso social:

foi a uma clínica estética e comprou iguarias para o jantar

Apanhado nos grampos que ajudaram a condenar o contraventor

Carlinhos Cachoeira a 39 anos e 8 meses de prisão, o ex-senador Demóstenes

Torres perdeu o mandato de senador em junho de 2012 e foi afastado do

Ministério Público de Goiás. Seis meses depois, porém, embora desprovido de

cargo e prestígio, o ex-parlamentar do DEM não perdeu a pose nem a boa vida

sustentada por luxos e prazeres dos tempos de parlamentar, quando foi

considerado no Congresso uma espécie de paladino da ética, antes de ser

flagrado em tramoias com o bicheiro. A fama de mocinho acabou, mas sua

rotina continua à base do bom e do melhor.

112

Na quarta-feira 23, em seu primeiro aniversário depois da queda,

assistiu-se a uma pequena romaria na entrada do condomínio Parque Imperial,

em Goiânia, onde Demóstenes reside num apartamento avaliado em R$ 2

milhões. Vestido de paletó e gravata, Demóstenes saiu de casa pouco depois

das 9 da manhã. Ocupado, conforme um assessor, com os preparativos de um

jantar de aniversário, assumiu o volante de uma Vera Cruz Hyundai e passou

duas horas fora de casa. No fim da tarde, saiu mais uma vez, dirigindo-se a

uma clínica estética. No carro com o vidro semiaberto, dava tchauzinho para

quem o reconhecia. Em sua vida sem mandato, Demóstenes tem aproveitado

para fazer testes frequentes de popularidade.

113

Semanas antes de comemorar seu aniversário, o ex-senador saiu-se

bem quando enfrentou 20 minutos de fila no Vapt-Vupt – nome do Poupatempo

em Goiânia – para trocar o passaporte diplomático, a que tinha direito como

senador, pelo comum. Foi reconhecido por cidadãos anônimos, que tiraram

fotos com celular. A maioria o aplaudia, mas a funcionária Raquel Silva

enquadrou a equipe de atendentes que ameaçava entrar na algazarra:

114

“Coloquei o Demóstenes numa fila. Quando o pessoal foi tirar foto, igual a uma

celebridade, eu disse: ‘Menos, gente, menos.’” Dias depois da cassação ele foi

à rodoviária para renovar a carteira de motorista. Recebeu abraços e

cumprimentos. O mesmo aconteceu em suas idas a supermercados.

A situação se inverte quando Demóstenes aparece nos lugares mais

nobres da capital de Goiás. Numa badalada academia de ginástica localizada

na Praça do Ratinho, que frequenta há anos, o tratamento é outro – revelam os

funcionários. Antes, as pessoas daquele local, um dos pontos de concentração

do mundo endinheirado da cidade, formavam rodinha para ouvir histórias e

perguntar sua opinião. Na última semana, foi visto sozinho, como uma

companhia a ser evitada. Um motorista de táxi que costuma levar Demóstenes

até o aeroporto conta que recentemente ele estava muito animado e falante até

a metade do caminho. Mas, quando o carro passou pelo rio Meia Ponte,

ocorreu uma cena significativa. Chovia muito naquele dia, e o taxista comentou:

“O rio Meia Ponte está parecendo uma cachoeira.” Ele conta que após ouvir a

palavra “cachoeira” Demóstenes amarrou a cara e fez o resto da viagem em

silêncio.

A vida de Demóstenes depois da queda tem elementos que lembram um

melodrama do século XIX, mas vários capítulos poderiam ser escritos por

Robert Parker, o mais celebrado enólogo do planeta. Em dezembro,

Demóstenes esteve em Paris para passar o Réveillon e aproveitou a estadia

para jantar no Taillevent, um dos mais exclusivos restaurantes da capital

francesa. Situado a poucos passos da avenidaChamps-Élysées e do Arco do

Triunfo, o Taillevent serve vinhos que custam em média 1,8 mil euros, mas

podem chegar a 18 mil euros, caso o cliente opte pelo Bordeaux ChâteauLafite-

Rothschild, safra 1846. O gosto do ex-senador por vinhos raros e caros tornou-

se conhecido nacionalmente depois que a Polícia Federal descobriu que

Cachoeira lhe deu um lote de cinco garrafas do maravilhoso Bordeaux Cheval

Blanc (nota mínima de 93 sobre 100 nas avaliações disponíveis de Robert

Parker), pagando US$ 14 mil pela iguaria. Como se vê, longe do Senado e dos

holofotes da televisão que ajudaram a transformá-lo num campeão da

moralidade pública, Demóstenes continua um cálice refinado e aplicado.

115

Hoje em dia ele só aparece em Brasília uma vez por semana e passa a

maior parte de seus dias em Goiânia. Foi ali que, há poucos dias, num jantar

no restaurante Madero, degustou uma garrafa de Pêra Manca (nota mínima de

86 na avaliação de Parker), que custa R$ 940. Em outra ocasião, numa visita à

cantina San Marco, informou aos garçons que faria um pedido modesto, para

uma refeição rápida. Pediu um Sirah Incógnito, português cujo preço é R$ 450

(87 sobre 100 na avaliação de Parker). Ficou contrariado porque o estoque

havia acabado. Acabou servindo-se de um Malbec argentino, o Angélica

Zapata, a R$ 300 a garrafa (a qualidade varia, mas Parker deu 91 para a safra

de 1997). Ao reunir três procuradores para um encontro festivo, Demóstenes

pediu um “Barca Velha”, que pode chegar a R$ 1,4 mil nas boas safras. Como

brinde de Natal, Demóstenes distribuiu aos amigos e aliados políticos uma

garrafa do sugestivo espumante português “Terras do Demo”, vendida a R$ 80.

Procurado por ISTOÉ para uma entrevista, Demóstenes alegou que, orientado

por seus advogados, preferia não dar depoimento nem responder a perguntas,

mas ficou claro que ainda acumula poder no Estado. Instalada nas vizinhanças

da residência do ex-senador, a equipe de ISTOÉ foi abordada por uma viatura

policial, que pediu documentos.

116

Do ponto de vista legal, Demóstenes tem algumas complicações pela

frente. Em agosto de 2012, com receio de que, mesmo sem mandato, ele ainda

tivesse influência para livrar-se de qualquer investigação interna, 82

procuradores de Goiás assinaram um manifesto público exigindo que fosse

aberta uma investigação sobre sua conduta. O caso hoje se encontra no

Conselho Nacional do Ministério Público, que tem três opções pela frente. Pode

transformar o afastamento temporário em permanente, sem maiores

consequências para Demóstenes. Pode ainda aposentá-lo compulsoriamente,

o que lhe permitiria conservar os vencimentos de R$ de 24 mil. Ou votar por

sua demissão, que implicaria perda de qualquer benefício.

Responsável por arquivar as primeiras denúncias sobre Cachoeira que

chegaram ao Ministério Público, o procurador-geral, Roberto Gurgel, costuma

fazer pronunciamentos enfáticos em que confirma a disposição de acelerar as

investigações contra Demóstenes. Procurado para comentar o caso, o

procurador-geral mandou dizer, através de uma assessora, que sempre atuou

no Conselho de forma isenta, “sem qualquer interferência nas decisões, como

qualquer conselheiro poderá confirmar”. Na prática, o caso caminha devagar.

Amigo de Demóstenes, o conselheiro Fabio Silveira foi sorteado como primeiro

relator e depois de 20 dias declarou-se impedido, o que já atrasou o processo

em um mês.

117

A apreciação dos embargos apresentados pela defesa estava marcada

para a terça-feira 29, mas já foi retirada da pauta, o que pode atrasar o exame

geral do caso, inicialmente previsto para fevereiro. Com receio daquilo que, em

outros tempos, Demóstenes denunciava como pizza, na semana passada três

promotores do Ministério Público de Goiás circulavam por Brasília, procurando

marcar audiências com os 13 conselheiros que terão a palavra final sobre o

caso. “Queremos um julgamento justo, em tempo razoável,” afirma um deles,

Reuder Cavalcanti. Ele entende que, numa decisão equilibrada, Demóstenes

não deve ter direito a aposentadoria compulsória porque passou os 13 anos

fora do Ministério Público. “É por causa desse afastamento que defendemos a

118

demissão.” Para Luiz Moreira Gomes, que foi representante do Congresso no

Conselho do Ministério Público, já conseguiu uma nova eleição pelo voto dos

deputados e aguarda uma deliberação do Senado que pode reconduzi-lo ao

posto, o episódio de Demóstenes tem um caráter exemplar. “A inércia foi uma

demonstração de que o Ministério Público não adota para si a conduta

criteriosa que exige dos outros,” afirma.

Por causa de uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski, vice-

presidente do Supremo Tribunal Federal, Demóstenes também enfrenta um

inquérito criminal no Tribunal Federal Regional da 1a Região. É investigado por

corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa. Esse processo é

mais demorado e não tem prazo definido para chegar a uma conclusão.

Ao perder o mandato, Demóstenes ficou inelegível até 2027. Há poucas

semanas, contestando o período em que não poderá candidatar-se, ele

apresentou recurso ao Tribunal Regional Eleitoral para rever a decisão.

Perdeu, mas cabe uma segunda tentativa. As incertezas da Justiça colocam

várias opções no futuro político do ex-senador. Ele não foi totalmente

abandonado pelos antigos aliados nem será. Muitos deles têm interesse

confesso em sua herança. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que atua

na mesma fatia do eleitorado, prepara sua candidatura ao Senado em 2014 e

conta com os votos de Demóstenes.

No plano pessoal, Demóstenes pensa em atuar como advogado de

grandes empresas. Atualmente, além dos vencimentos como procurador (R$

24 mil), Demóstenes tem rendimentos como sócio da Nova Faculdade,

estabelecimento de ensino em Contagem, Minas Gerais. O dono da instituição

é Marcelo Limírio, sócio de Cachoeira em redes de laboratórios de Goiás. Nas

conversas em que fala de seus planos, Demóstenes tem dito que, se for

condenado pelo Conselho da Magistratura, poderá advogar. Wellington

Salgado, ex-senador e amigo fiel, já se dispôs a ajudar.

“Atualmente, além dos vencimentos como procurador (R$ 24 mil),

Demóstenes tem rendimentos como sócio da Nova Faculdade,

estabelecimento de ensino em Contagem, Minas Gerais.”

119

(1) CADÊ O LULA/ROSE?

EM 26/01/2013 11:06:41

A ISTOÉ DEVERIA COLOCAR O RABO ENTRE AS PERNAS E NÃO PUBLICAR A IMAGEM DO SENADOR DEMOSTENES. ISSO FAZ A SOCIEDADE TOMAR RAIVA DESSA IMPRENSA GOLPISTA , QUE SÓ MOSTRA O LADA DA OPOSIÇÃO E ABAFA O LADRÃO DO LULA....

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(2) CADÊ A FOTO DO CAVENDSICH, LULA, ODAIR CUNHA?

EM 26/01/2013 11:03:08

ESSE SENHOR FOI O ÚNICO DOS ESQUEMA DELTA/CAVENDISCH A SER PUNIDO. O PT/ODAIR CUNHA (RELATOR DA PIZZA), PUNIU SOMENTE ESSE SENHOR DEMÓSTENES. PORQUE A ISTOÉ NÃO PUBLICA A FOTO DO CAVENDISCH, SERGIO KABRAL, LULA, RUBENS OTONI, PAULO GARCIA, DILMA QUE RECEBERAM MILHÕES DE PROPINA DA DELTA S.S?

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(3) Eduardo

EM 26/01/2013 10:49:21

Quem financia o Demóstenes? Será que não vale a pena ficar do lado do poder?

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(4) Luciano B. Silva

EM 26/01/2013 07:31:01

Ha uma loucura obsessiva da direita em atacar o Lula, querem coloca-lo em tudo. É a "Geração Veja" plantando a insanidade nesses 7% que não gostam de pobres.

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(5) jose

EM 26/01/2013 07:16:38

120

não gosto desta revista ela só publica missa de centuagésimo dia de difunto é por isso que não tem importância nacional tenho minhas preferidas só estou aki porque de vez em quando eu tenho que jogar o lixo fora.

(6) Antero Marques

EM 25/01/2013 22:26:10

Cade o chefe, ninguém pega? Ao invés de pegar o chefão (cuja ocupação agora é dar pitaco no pupilo Haddad e na pupila Dilma), ficam focando bagrinhos!

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(7) CADÊ O LULA, ALGEMAS DE OURO?

EM 25/01/2013 21:23:06

O Lula recebeu 1 milhão de Reais do Cachoeira, A Dilma Recebeu 1 milhão , o Dep. Rubens Otoni do PT/GO recebeu 100 mil , Paulo Garcia Prefeito de GNA, Sergio Kabral, recebeu propina e a Istoé não mostra?

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(8) ISTOÉ/ROSE DA SILVA

EM 25/01/2013 21:19:49

A istoé (Gosta de Dinheiro), trabalha para quadrilha do pt. Porque que a Istoé não consegue fotografar a amante do Lula (Rosemary)?

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(9) LULALADRAO ALGEMAS DE OURO

EM 25/01/2013 21:16:57

PIOR QUE O DEMÓSTENES TORRES É O LADRÃO DO LULA QUE CONTINUA DADO PITACO NO GOVERNO DA DILMA ROUSSEF... A ISTOÉ, DEVERIA PEGAR NO PÉ DO CHEFE DE QUADRILHA LULA DOS SILVAS...SERÁ QUE FOI SOMENTE O SENADOR DEMÓSTENES QUE PEGOU DINHEIRO DA DELTA CAVENDISCH?

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(10) Marcelo

121

EM 26/01/2013 11:43:56

E toda esta farra é financiada pelo jogo do bicho!

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(11) Wilton

EM 26/01/2013 11:43:20

Prezado amigo leitor, Jesus Cristo está voltando. O arrebatamento da igreja está próximo. O céu é um lugar de glória. Por isso, aceite-O como seu único Salvador. Jesus te ama e quer te salvar. Crê no Senhor Jesus Cristo e será salvo, tu e a tua casa (Atos 16,31)

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(12) PETROBRAS SERÁ DO EIKE BATISTTA

EM 26/01/2013 11:39:08

DILMA LULA VÃO PRIVATIZAR (ENTREGAR) A PETROBRAS AO BILIONÁRIO EIKE BATISTA....

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(13) ASSUMEM SEUS LIXOS!

EM 26/01/2013 11:33:31

OS ALAGOANOS E MARANHENSES DEVERIA ESCOLHER O RENAN CALHEIROS E COLLOR E SARNEY P/ GOVERNO DE SEUS ESTADOS E NÃO PARA SENADO. ESSES LIXOS DEVEM SERVIR SOMENTE SEU POVO E NÃO OCUPAR CARGO QUE ATINGE O BRASIL TODO.

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(14) PT, MAIOR MAQUINA CAÇA NILQUEL

EM 26/01/2013 13:40:53

A MAIOR MAQUININHA CAÇA NÍQUEL É O GOVERNO FEDERAL PT....

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122

(15) MARCELO

EM 26/01/2013 13:39:08

A FARRA FINANCIADA PELA DELTA (CAVENDISCH) PAC, PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA, PRIVATIZAÇÕES DILMA ROUSSEF, GOV. RIO, GO, DF, RUBENS OTONI PT/GO, PAULO GARCIA (PREFEITO DE GOIANIA)....

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(16) CRIANÇA ACREDITA EM TUDO!

EM 26/01/2013 13:36:34

MARCELO, SÓ VC QUE ACREDITA QUE OS MILHÕES PAGOS AOS POLÍTICOS DE TODOS OS PARTIDOS SAIU DO JOGO DO BICHO. A MAQUINA DE CAÇA NÍQUEL É A DELTA, PAC, MINHA CASA MINHA VIDA, COPA 2014, PRIVATIZAÇÃO DOS AEROPORTOS, RODOVIAS.A PF, LIGOU AOS JOGOS P/JUSTIFICAR FORMAÇÃO DE QUADRILHA. E O JOGO DE BICHO RJ?

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(17) Rogério José de Paula

EM 26/01/2013 13:24:06

Caro Wilton,aceite esta contastação:Jesus não vai voltar.As agruras e vicissitudes da vida terrena são reflexos das nossas ações.O paraíso e o inferno são aqui.

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(18) Cezar

EM 26/01/2013 11:45:28

Quem em sã consciencia imaginou que este cavalheiro iria tolerar carregar a culpa de toda a CACHOEIRA de anarquia sozinho? Este cidadão saiu com tanto dinheiro de CALA BOCA, que os gastos mencionados nesta reportagem nem mexe nos dividendos dos recursos aplicados! VIDA LONGA AO REI DA QUEDA D'AGUA!!

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ANEXO B – ARTIGO “DOIS BRASIS, UM ROLEZINHO”

DOIS BRASIS, UM ROLEZINHO Preconceito contra jovens da periferia e uma visão distorcida do país são uma coisa só

O Brasil está sempre discutindo o rolezinho – mesmo quando não

percebe. Temos o rolezinho conjuntural, dos garotos e garotas da periferia que

decidiram fazer concentrações em shopping centers. Quem nunca

experimentou a condição de oprimido poderia fazer um exercício de empatia

social para imaginar como é entrar num ambiente estranho, ser olhado como

estranho, ouvir palavras estranhas.

Claro que se você puder levar 20, 50, 500, e até 1000 pessoas a seu

lado, irá sentir-se melhor. Menos ameaçado, pelo menos. Uma coisa é ser

humilhado sozinho por policiais que identificam o perigo pela cor da pele e pela

grife do tênis. Outra é rir e vaiar atos desse tipo.

Mas temos o rolezinho estrutural. É um pensamento organizado,

partilhado por aquele da turma que ainda não acordou para as mudanças do

Brasil recente. Duvida que temos um desemprego baixo. Torce para que a

inflação seja mais alta do que é. Diz que o colapso econômico está na próxima

curva. Afirma que em breve o Brasil está virando uma Argentina. Não sabe

como é viver num país que constrói um mercado de massa -- porque detesta

gente.

Estamos falando do preconceito transformado em projeto de país. Nosso

país tem um limite de crescimento, dizem. Tem vocação agrícola, garantem.

Não tem maturidade para a democracia, murmuram. Não pode seguir

distribuindo renda.

O preconceito contra os meninos pobres e contra o país em que

nascemos, vivemos e criamos nossos filhos é uma coisa só. Um encarna o

outro, expressa o outro. Como nação e como indivíduos, querem nos excluir do

progresso e da civilização. Mesmo nossos shopping centers - que uma

124

perversidade consumista apresenta como ápice do convívio social e da cultura

-- devem continuar para poucos.

Mas as vitrines são vitrines, ensinava Gilberto Gil.

(1) PT VAI PROIBIR ROLEZINHO NOS ESTADIOS EM 24/01/2014 12:18:26

QUAL O MOTIVO DO PRECONCEITO DO PT, DIANTE OS ROLEZINHOS NOS JOGOS DA COPA 2014? POR QUE A DILMA ROUSSEF MANDARÁ O EXERCITO PRENDER OS JOVENS NEGROS QUE FIZEREM ROLEZINHO NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL? PRECONCEITO A NEGROS?

Denuncie esse Comentário (2) DOIS BRASIS, DE PML

EM 24/01/2014 12:15:28

PML, DOIS BRASIS, UM ROLEZINHO: PT APOIA ROLEZINHO EM SHOPPING (PRIVADO) E PROIBI ROLEZINHO EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL (COPA 2014), CONSTRUÍDOS COM DINHEIRO PUBLICO..ISSO PODE?

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(3) OSVALDO AIRES BADE EM 24/01/2014 04:14:05

ENQUANTO O BRASIL DEBATE "ROLEZINHOS", CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVANÇAM NO MUNDO CIVILIZADO. TÁXIS FLUTUANTES COMEÇAM A FUNCIONAR EM ISRAEL NESTE ANO DE 2014! http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2014/01/enquanto-o-brasil-debate-rolezinhos.html

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(4) ALZIRA EM 23/01/2014 12:03:08

Essa é uma falsa polêmica, já que vários shoppings, em especial os de periferia, são frequentados na grande maioria por gente de periferia, ou seja, pela mistura de estratos dos que vivem lá. Há 'pagode no shopping', 'dança popular no shopping', 'minicarnaval no shopping' e lojas populares também...

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(5) VAMOS FAZER UMA VAQUINHA E AJUDAR OS MENSALEIROS? EM 22/01/2014 15:00:55

125

É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas,mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas.VÁ DIZER ISSO AO PT

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(6) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA EM 22/01/2014 11:26:10

OW AANTA, SIGA O CONSELHO DO MOLINA: QUER ACABAR COMO TRÁFICO NO BRASIL? FECHE O DENARC DE SÃO PAULO, COM TUCANO É ASSIM, ONDE ELS ESTÃO SUAS POLÍCIAS SÃO AS MAIS CORRUPTAS E VIOLENTAS DO MUNDO. ALÉM DO QUE ESTES VICIADOS ENTOPEM O BRASIL DE DROGAS USANDO DEUS HELICÓPTEROS.FORA TUCANOS CHEIRADORES.

Denuncie esse Comentário (7) ANTICOMUNISTA

EM 22/01/2014 10:59:48

CENTO E QUARENTA BRASILEIROS POBRES E NA MAIORIA NEGROS MORREM TODOS OS DIAS NO BRASIL MORTO PELOS COMUNISTAS NARCOTRAFICANTES DA AMÉRICA LATRINA-O QUE VC ACHA DISTO? PAULO MOREIRA LIMA E SEUS CÚMPLICES SE CALAM CRIMINOSAMENTE.TEMOS QUE PROTEGER NOSSOS JOVENS CONTRA AS DROGAS DOS COMUNISTAS.FORAPT!

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(8) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA EM 22/01/2014 10:52:50

PERVESIDADE SÃO ESTAS DESGRAÇAS DESTES TUCANOS CHEIO DE VÍCIOS QUE PASSARAM 8 ANOS NO GOVERNO FEDERAL A DEIXAR O BRASIL SOB O JUGO DO IMPÉRIO DO NORTE, ATRAVANCANDO NOSSO PROGRESSO, ROUBANDO O PATRIMÔNIO PÚBLICO E LEGANDO AO BRASIL A MISÉRIA O DESEMPREGO A FOME E FALTA DE FUTURO PARA OS JOVENS.

Denuncie esse Comentário (9) A MARTA EM 22/01/2014 10:27:38

Parabéns PML, seu titulo não poderia ser mais apropriado mais uma vez PML mostra a realidade do nosso, do seu, meu (Brasis)

126

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(10) PAULISTA M.M.D.C

EM 22/01/2014 09:34:09

PERVERSIDADE CONSUMISTA É O DINHEIRO ROUBADO DO CONTRIBUINTE BRASILEIRO NO MENSALÃO DO PT!!! SEU sacro-santo partido gabou-se de um crescimento baseado em que mesmo? CONSUMO (baixando os juros) e agora, a inflação está explodindo....cadê o artigo criticando esta política do PT Sr. PML???

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(11) PAULISTA M.M.D.C EM 22/01/2014 09:27:47

Ainda este assunto? A cartilha esquerdista da vez realmente é POLITIZAR o "rolezinho". Continuo aguardando artigo sobre FORO DE SÃO PAULO e CELSO DANIEL.

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(12) JORGE LUIZ EM 22/01/2014 01:20:38

A discussão sobre o movimento chamado de rolezinho já está enchendo o saco e se transformou numa grande masturbação sociológica para a imprensa. Deve haver algo mais importante acontecendo no Brasil para se comentar. Primeiro o mensalão agora os rolezinhos. Basta!

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(13) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA EM 21/01/2014 22:44:13

NÃO ADIANTA VIR COM MENTIRAS AQUI E LOTAR AS PÁGINAS DO SITE TUCANOS CHEIRADORES DE COCAINA SEUS VICIADOS EM ROUBO E VÍCIOS DE TODAS ESPÉCIES SEUS SODOMITAS BROCHAS. VÃO PRO LE3BLON CHEIRAR VIADOS. O CAGED INFORMOU A CRIAÇÃO DE 1.100.000 EMPREGOS, SÓ O ANO PASSADO, EQUIVALE A MAIS QUE 8 ANOS DO FHC

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(14) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA

127

EM 21/01/2014 22:42:28

Nós dos Os Estados Unidos, achamos que é só a economia crescer que tudo se resolve. mas de que adianta crescer senão somos como o Brasil que mesmo crescendo pouco vive em pleno emprego, enquanto os americanos continuam desempregados? new York Times 19.01.2014.

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(15) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA EM 21/01/2014 22:40:42

NAÕ ADIANTA REBER A GRANA DOS CHEIRADORES DO PSDB PARA ENCHER AS PÁGINAS DAQUI DE MENTIRAS, SEUS VIADOS O BRASIL VAI BEM JOVEM HOJE TEM FUTURO, SÃO MILHÕES ENTRANDO PARA A UNIVERSIDADE, FALSOS MORALISTAS, CADÊ A GRANA DO METRÔ? A GRANA DA PRIVATARIA? VÃO CHEIRAR SUAS COCAS SEUS VIADOS FASCISTAS.

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(16) ANTICOMUNISTA EM 21/01/2014 21:17:49

MAIS UM BANDIDO DO PT É CONDENADO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA OU ROUBO DO DINHEIRO PÚBLICO, DESTA FEITA FOI O COMUNISTA SAFADO TARSO GENRO DO RS, A ESQUERDA QUANDO NÃO É CRIMINOSO NARCOTRAFICANTE É LADRÃO, E AINDA TEM MARGINAL CÚMPLICE AQUI QUER DEFENDE A QUADRILHA.FORA PT LADRÃO!!!

(17) ROBERTO43 EM 21/01/2014 20:41:35

Quanto melhor o texto de PML mas desperta a ira e manifestações raivosas de cólera canina dos que não tem argumentos racionais para contesta-lo. PML você vai na jugular da direitona raivosa e obtusa.

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(18) GOVERNO TUCANO É UMA MERDA EM 21/01/2014 19:15:13

NÃO ADIANTA VIR COM MENTIRAS AQUI E LOTAR AS PÁGINAS DO SITE TUCANOS CHEIRADORES DE COCAINA SEUS VICIADOS EM ROUBO E VÍCIOS DE TODAS ESPÉCIES SEUS SODOMITAS BROCHAS. VÃO PRO LE3BLON CHEIRAR VIADOS. O CAGED INFORMOU A CRIAÇÃO DE 1.100.000 EMPREGOS, SÓ O ANO PASSADO, EQUIVALE A MAIS QUE 8 ANOS DO FHC

128

Denuncie esse Comentário (19) ROLEZINHO DOS DESEMPREGADOS

EM 21/01/2014 19:07:21

QUE TAL UM ROLEZINHO NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL DURANTE OS JOGOS DA COPA 2014?

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(20) ROSELINHO DOS DESEMPREGADOS EM 21/01/2014 19:05:29

Economia Criação de emprego em 2013 é a menor em dez anos...HERANÇA MALDITA DO LULA/ROSE TRANSFORMA O BRASIL NO PAÍS DO ROLEZINHO DOS DESEMPREGADOS

129

ANEXO C – NOTÍCIA “HOLANDA RESTRINGE CONSUMO E TURISMO DA

MACONHA ENTRA NO PREJUÍZO”

Holanda restringe consumo e turismo da

maconha entra no prejuízo

Governo proibiu venda da erva aos turistas e estrangeiros nos

cafés

Wálter Fanganiello Maierovitch, do Terra

Desde o dia primeiro deste janeiro, os donos de cafés autorizados a vender

maconha na Holanda estão a falar em falência e na dispensa de empregados.

Eles reclamam de restrições à comercialização, em especial com relação aos

turistas e estrangeiros. Alguns economistas, em tempo de crise na zona do

euro, sustentam que a proibição de venda de maconha aos turistas e

estrangeiros nos cafés holandeses afetará o Produto Interno Bruto dos Países

Baixos: pib-holandês.

No mundo, calcula-se que 203 milhões de pessoas fumem maconha. O

Marrocos é o maior produtor mundial. Lógico, nem todos viajam para a Holanda

a fim de fumar nos mais de mil estabelecimentos, tipo coffe-shop, autorizados.

130

Na Holanda, os cafés movimentavam anualmente 3,9 milhões de euros. Dessa

“grana” toda, 70% provém dos turistas. Em toda o país e não só nos cafés, o

mercado da maconha movimentava anualmente 10 bilhões de euros. Na

fronteira, muitos belgas atravessam para freqüentar os cafés canábicos

holandeses. E os moradores das pequenas cidades não gostam desse tipo de

convívio, que apelidaram de “Turismo da Maconha”.

Vale lembrar que para cortar a interdependência entre o usuário e o traficante,

a Holanda, desde 1968, admite a venda em cafés, mediante alvará. Alvará com

expressa proibição de oferta a menores de 18 anos. E cada café só pode

vender, para consumo no próprio local, até meio-quilo de maconha por dia,

com princípio ativo variável.

Desde o início do ano, portanto, a venda de maconha em café ficou restrita. E a

contar de março próximo, os estabelecimentos só poderão oferecer ao

holandês a maconha light, ou seja, com teor ativo (tetra-hidro-cannabinol) de

até 15%.

Outra restrição diz respeito à cassação de alvarás de estabelecimentos

distantes a menos de 350 metros de estabelecimento escolar. Pelos cálculos,

serão afetados cerca de 400 cafés.

Os proprietários de cafés foram à procura, na Corte Européia de Justiça (a

Holanda integra a União Européia), de um ministro tipo Marco Aurélio Mello.

Mas não se deram bem. Para a Corte de Justiça Européia não há

discriminação ao se tratar turistas de forma diferente de holandeses. E é

legítimo, para essa Corte, acabar com o turismo da maconha.

Pano rápido. O “turismo da maconha” será afetado. Alguns comerciantes

apostam naqueles que se contentarão com a condição de fumantes passivos.

E aí, quanto mais fumaça esverdeada, mais lucro.

hempadd

EM 17/01/2012 10:06:25

O próximo passo será multar bem alto os turistas fumantes, o tráfico, a repressão, enfim...dá muito mais grana o terror....

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Antonio Carlos de Curitiba

EM 16/01/2012 23:13:48

131

FHC - a quem respeito - e mais alguns cabeças-ocas querem descriminar o uso de drogas no Brasil. Até quando teremos de berrar que droga mata?

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ANONIMUSPT

EM 16/01/2012 17:38:17

Prejuízo econômico análogo ocorreria se, por acaso, a Colômbia proibisse o plantio da COCA em seu território.

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hempadd

EM 17/01/2012 10:06:25

O próximo passo será multar bem alto os turistas fumantes, o tráfico, a repressão, enfim...dá muito mais grana o terror....

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Antonio Carlos de Curitiba

EM 16/01/2012 23:13:48

FHC - a quem respeito - e mais alguns cabeças-ocas querem descriminar o uso de drogas no Brasil. Até quando teremos de berrar que droga mata?

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ANONIMUSPT

EM 16/01/2012 17:38:17

Prejuízo econômico análogo ocorreria se, por acaso, a Colômbia proibisse o plantio da COCA em seu território.

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132

ANEXO D – ARTIGO “CRISTÃOS PERSEGUIDOS”

Cristãos perseguidos

Morte de egípcios que protestavam contra atentado a uma igreja

expõe o ódio aos seguidores de Jesus Cristo, algo que vai além

do Oriente Médio

Rodrigo Cardoso

NAS RUAS

Protesto contra o massacre de cristãos, no Egito: perseguição também ocorre na Ásia

Imagine um país onde a filiação religiosa deva constar no documento de

identidade de todos os cidadãos, onde sua crença implique restrições para

ocupar postos de trabalho, ter acesso à educação e se casar. No Egito,

predominantemente islâmico, isso acontece e as principais vítimas da

intolerância religiosa são os cristãos, que representam 10% da população. Na

semana passada, o mundo testemunhou um derramamento de sangue no país.

Vinte e cinco pessoas – a maioria fiéis coptas, como são chamados os cristãos

que não seguem o Alcorão – morreram no domingo 9, no Cairo, em confronto

com outros civis e o Exército. Tanques passavam por cima dos manifestantes

133

sem dó. Carregando cruzes e imagens de Jesus, milhares de pessoas estavam

nas ruas em um protesto inédito contra a opressão histórica patrocinada pelos

muçulmanos. Os representantes do cristianismo se revoltaram depois de mais

um incêndio sofrido por uma igreja copta. “A primavera no mundo árabe parece

que acordou muita gente, inclusive os coptas”, diz o sacerdote católico Celso

Pedro da Silva, professor emérito da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa

Senhora da Assunção, de São Paulo.

Com o estado de insegurança que domina o Egito após a queda do ex-

presidente Hosni Mubarak, em fevereiro, grupos muçulmanos tentam demarcar

mais territórios em meio à indefinição do poder público. E os coptas,

historicamente marginalizados pelo governo, estão levantando a voz. Há

severas restrições – só para citar uma fonte de discriminação – para a

construção e reformas de templos cristãos, patrulha que não ocorre entre os

muçulmanos. Em solo egípcio há apenas duas mil igrejas perante as 93 mil

mesquitas. Na quinta-feira 13, o papa Bento XVI manifestou-se no Vaticano:

“Uno-me à dor das famílias das vítimas e de todo o povo egípcio, desgarrado

pelas tentativas de sufocar a coexistência pacífica entre suas comunidades.” O

presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu proteção à minoria copta

e afirmou estar profundamente preocupado com o Egito.

A intolerância religiosa contra os cristãos não ocorre só no Egito. Um

levantamento feito, em maio, pela Comissão sobre Liberdade Religiosa

Internacional dos Estados Unidos mostra quanto a violência anticristã está

disseminada mundo afora. Na China, segundo a comissão, pelo menos 40

bispos católicos estariam presos ou desaparecidos. Na Nigéria, cerca de 13 mil

pessoas teriam morrido em conflitos violentos entre muçulmanos e cristãos

desde 1999. Mais: na Arábia Saudita, lugares de cultos não muçulmanos são

proibidos e livros escolares seguem pregando a intolerância a outras etnias. Irã

e Iraque também são citados. No primeiro, mais de 250 cristãos teriam sido

presos arbitrariamente desde meados de 2010. Já o país vizinho registra uma

das maiores quedas no número de cristãos da sua história – em oito anos,

esse grupo caiu pela metade e soma, hoje, 500 mil. “Os atos de violência têm

como objetivo pressionar a população a abandonar suas terras”, explica Keith

Roderick, secretário-geral da Coalizão para a Defesa dos Direitos Humanos.

Infelizmente tem funcionado. O Oriente Médio, berço do cristianismo, era

134

constituído, no início do século XX, por cerca de 20% de seguidores de Jesus

Cristo. Estimam os especialistas que o povo cristão atualmente não represente

nem 2% dos habitantes daquela região. O papa Bento XVI chama a investida

dos muçulmanos de “conquista à base da espada”. No ano passado, o Sumo

Pontífice manifestou-se a favor da libertação de uma paquistanesa cristã

condenada à forca por blasfêmia, no Paquistão, país onde mais de 30 pessoas

foram assassinadas com essa justificativa. Asia Bibi, então com 45 anos, teria

dito ao ser insultada por mulheres muçulmanas: “O que Maomé fez por vocês?

Jesus, pelo menos, sacrificou-se por mim”. Graças à pressão internacional, a

pena não foi cumprida, mas Asia aguarda novo julgamento. Ela é a primeira

mulher na história a receber uma pena de morte por conta de perseguição

religiosa. Um título que nenhum país deveria se orgulhar.

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(1) Andre

EM 26/01/2012 21:30:53

"A ignorância é a vizinha da maldade" Nisso você acertou. De resto, seu comentário serviu para exemplificar como a ignorância e a maldade andam juntas. Quer dizer que os cristãos que vivem hoje merecem serem assassinados por causa de erros que os alguns cristãos de outras épocas cometeram?

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(2) PROF. DARIO

EM 21/12/2011 19:30:45

Ser cristáo quando os ventos sáo favoraveis e maravilha e tranquilo. DEUS SEJA LOUVADO PELO CRISTÁOS DO EGITO E QUE SEJA DE ALERTA PARA QUE NOS TESTIFIQUEMOS COM MAIS OUSADIA O PODER DE DEUS. Quisera que os MULCUMANOS de nossa regiáo ensinassem outros seus irmáos a amar os CRISTÁOS e aceita-los

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(3) Claudio Moises

EM 26/11/2011 15:23:54

Jesus disse: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" e Tiago diz: "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações...". 1:27 O PROBLEMA NÃO ESTÁ NAS BANDEIRAS QUE SE ERGUEM COM OS BRAÇOS E SIM NAS ERGUIDAS NOS CORAÇÕES CORRUPTOS E MAUS!

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(4) Manfredini

EM 05/11/2011 23:03:33

A ignorância é a vizinha da maldade. As pessoas se esquecem que os cristãos mataram muito antes disso, cruzadas, santas inquisições e perseguições a bruxa. Atualmente os Cristãos queimando pessoas q eles acusam de bruxaria na NIGÉRIA. O mundo seria bem melhor sem as religiões.

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(5) Clarice

EM 02/11/2011 21:43:21

Sabemos que, através da história tem se matado e morrido em nome de Deus. A intolerância religiosa sempre aconteceu. É resultante da ignorância e mais que tudo, da falta de amor. E a falta de amor ao próximo indica falta de Deus, pois Ele é amor! Pense nisto!

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(6) Tatty

EM 25/10/2011 22:46:29

A reportagem confunde a expressão do Papa que não fez uma afirmação, mas uma citação. Além disso não foi por paz e amor que o cristianismo conquistou mundo afora. É o efeito dominó, apesar de triste, mas povos do judaismo ao candomblé há muito já passaram e passam o mesmo pelas mãos dos cristãos.

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(7) PROF. DARIO

EM 21/12/2011 19:30:45

Ser cristáo quando os ventos sáo favoraveis e maravilha e tranquilo. DEUS SEJA LOUVADO PELO CRISTÁOS DO EGITO E QUE SEJA DE ALERTA PARA QUE NOS TESTIFIQUEMOS COM MAIS OUSADIA O PODER DE DEUS. Quisera que os MULCUMANOS de nossa regiáo ensinassem outros seus irmáos a amar os CRISTÁOS e aceita-los

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(8) Claudio Moises

EM 26/11/2011 15:23:54

Jesus disse: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" e Tiago diz: "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações...". 1:27 O PROBLEMA NÃO ESTÁ NAS BANDEIRAS

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QUE SE ERGUEM COM OS BRAÇOS E SIM NAS ERGUIDAS NOS CORAÇÕES CORRUPTOS E MAUS!

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(9) Manfredini

EM 05/11/2011 23:03:33

A ignorância é a vizinha da maldade. As pessoas se esquecem que os cristãos mataram muito antes disso, cruzadas, santas inquisições e perseguições a bruxa. Atualmente os Cristãos queimando pessoas q eles acusam de bruxaria na NIGÉRIA. O mundo seria bem melhor sem as religiões.

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(10) Clarice

EM 02/11/2011 21:43:21

Sabemos que, através da história tem se matado e morrido em nome de Deus. A intolerância religiosa sempre aconteceu. É resultante da ignorância e mais que tudo, da falta de amor. E a falta de amor ao próximo indica falta de Deus, pois Ele é amor! Pense nisto!

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(11) Tatty

EM 25/10/2011 22:46:29

A reportagem confunde a expressão do Papa que não fez uma afirmação, mas uma citação. Além disso não foi por paz e amor que o cristianismo conquistou mundo afora. É o efeito dominó, apesar de triste, mas povos do judaismo ao candomblé há muito já passaram e passam o mesmo pelas mãos dos cristãos.

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(12) Laura

EM 18/10/2011 21:52:34

Isso é um absurdo! Deus me perdooe, mas esses ignorantes religiosos ( a maioria) merece tudo o que passa : fome, guerra, destruição, etc.

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(13)Marcello

EM 17/10/2011 15:05:56

É estranho como não se fala das barbaridades perpetradas pelos muçulmanos contra os cristãos nos países do Oriente Médio . Aqui quando algum muçulmano sofre algum pequeno preconceito, eles já dizem que estão sendo discriminados, mas nos países islâmicos eles matam, estupram, roubam as terras, etc.

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(14) mauro cardoso

EM 17/10/2011 14:11:38

Qual a utilidade pratica da religião? Pra que serve?

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(15) ???

EM 16/10/2011 20:26:29

Os mulçumanos ainda vivem nos seculos das inquisições, ou mais atrasados ainda.

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(16) Paulo Henrique

EM 16/10/2011 01:17:58

Os muçulmanos são bárbaros, reclamam de tudo, são rígidos, ignorantes, matam - querem matar qualquer um que fale alguma coisa contra, que dê sua opinião. Fazem de tudo contra quem não é de sua religião e ainda por cima querem mandar nos outros países e povos!! Esta na hora de fazermo o mesmo...

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(17) Laura

EM 18/10/2011 21:52:34

Isso é um absurdo! Deus me perdooe, mas esses ignorantes religiosos ( a maioria) merece tudo o que passa : fome, guerra, destruição, etc.

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(18) Marcello

EM 17/10/2011 15:05:56

É estranho como não se fala das barbaridades perpetradas pelos muçulmanos contra os cristãos nos países do Oriente Médio . Aqui quando algum muçulmano sofre algum pequeno preconceito, eles já dizem que estão sendo discriminados, mas nos países islâmicos eles matam, estupram, roubam as terras, etc.

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(19) mauro cardoso

EM 17/10/2011 14:11:38

Qual a utilidade pratica da religião? Pra que serve?

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(20) ???

EM 16/10/2011 20:26:29

Os mulçumanos ainda vivem nos seculos das inquisições, ou mais atrasados ainda.

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(21) Paulo Henrique

EM 16/10/2011 01:17:58

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Os muçulmanos são bárbaros, reclamam de tudo, são rígidos, ignorantes, matam - querem matar qualquer um que fale alguma coisa contra, que dê sua opinião. Fazem de tudo contra quem não é de sua religião e ainda por cima querem mandar nos outros países e povos!! Esta na hora de fazermo o mesmo...

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