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Por dentro das AmazôniasNilson Moulin
Ilustrações
Gizé
Notas sobre as Amazônias
Candu Marques & Lú Mendes
© Nilson Moulin, 2008
Coordenação editorial: Carla Milano
Equipe editorial: Martha Kuhl, Raque Sakae e Vivian Valli
Revisão: Marcia Duarte
Composição: Kenosis Design
Ilustrações: Gizé
Foto da capa: Renato Soares / Imagens do Brasil
Notas sobre as Amazônias: Candu Marques & Lú Mendes
Livros Studio Nobel Ltda.Rua Pedroso Alvarenga, 1046 – 9o andar
04351-004 – São Paulo – SPFone: (011) 3706-1460Fax: (011) 3706-1462
e-mail: [email protected]
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização do editor.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Impresso na Geográfi ca Editora
1ª edição: 2009
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Moulin, Nilson, 1947 - Por dentro das Amazônias / Nilson Moulin ; ilustrações Gizé : notas sobre as Amazônias Candu Marques & Lú Mendes – São Paulo : Studio Nobel, 2008 – Coleção bicho-folha
ISBN 978-85-7553-059-7
1. Amazônia 2. Amazônia - Geografi a 3. Livros de leitura (Ensino fundamental) I. Gizé. II. Marques, Candu III. Mendes, Lú IV. Título V. Série
08-07696 CDD-372.412
Índice para catálogo sistemático:
1. Amazônia : Livros de leitura :Ensino fundamental 372.412
Ao lado: Miratinga na fl oresta amazônica. Manaus/AM.
Foto da capa: Crianças da comunidade Acuquaia, rio Negro/AM.
Apresentação
Tudo o que já se imaginou, o que já se cantou, o que já
se escreveu sobre o rio e o mundo das Amazônias não
cabe na humana memória. Assim, nestas páginas, vamos
apenas vislumbrar alguns fragmentos de um território em
que imaginação e realidade se confundem no planeta água,
grandioso e frágil como qualquer ser vivo.
Nas terras dos amazônidas, tudo é muito, tudo é superlativo:
riquezas e misérias, problemas e também caminhos de mudança.
Peço licença aos descendentes dos que sobreviveram aos
massacres e às migrações forçadas para falar de seres e de
lugares fantasticamente reais, peço autorização por atrever-me
a cantar gentes e terras realmente extraordinárias. Meu verbo e
as imagens de ilustradores e fotógrafos terão poucos elementos
para convidar os leitores
a viajar, para estimular novos sonhos, para começar a conhecer
um universo e povos que se reinventam sem
cessar, vivendo aventuras e desaventuras propriamente
únicas. Coisas de amazônidas: vamos juntos?
Para Janete e João Alberto Capiberibe,
que me abriram portas e janelas.
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Desmatamento 1997
Desmatamento 2000
Desmatamento 2001
Desmatamento 2002
Desmatamento 2003
Desmatamento 2004
Desmatamento 2005
Desmatamento 2006
Floresta
Hidrografi a
Não fl oresta
Nuvem
Resíduo
Não observado
No Brasil, 9 Estados compõem as Amazônias, e também são 9 os países amazônicos.
Você sabe identifi cá-los num mapa?
Acima: mapa produzido pelo INPE com dados do Prodes – Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica
Brasileira por Satélite.Nas páginas anteriores: interior de mata de igapó da cabeceira do lago Amanã,
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã/AM.
N
S
LO
NO
SE
NE
SO
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As Amazônias são múltiplas e uma só. Aqui se falará apenas de alguns aspectos
da parte brasileira desse mundaréu de águas e redes. Águas barrentas: do amarelo
ferrugem ao marrom de terra boa, passando pelo marrom-cupuaçu. Águas verdes:
do verde transparente ao verde-musgo. Lagos com águas azuladas e também
águas negras: da mistura de materiais orgânicos com histórias de gentes de
muitos lugares e distâncias.
Vista aérea do arquipélago de Anavilhanas, rio Negro/AM.
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“Quem conta um conto aumenta
um ponto.” Partindo do tamanho
do rio Amazonas, 6.850 quilômetros,
nossos antepassados elaboraram
a lenda da boiúna, a lenda do
rio-mar.
Discutiu-se até cansar: onde
seria sua nascente? Prevalecia
a hipótese de que a fonte seria
no norte do Peru. Agora, está
confi rmado: a nascente fi ca na
cordilheira de Chila, no nevado
Mismi, no sul dos Andes peruanos.
Quando se observa uma
representação das terras das
Amazônias, partindo do oceano
Pacífi co até a foz, os pensamentos
voam.
Para quem não nasceu na
Amazônia ou ainda não inventou
um jeito de ir até lá, talvez seja
difícil captar as possibilidades que
surgem de sua observação e estudo.
É muita água e muita terra: gentes
e sementes em movimento. E não
por acaso, dizem os ribeirinhos:
“O rio Amazonas é nossa mãe”.
Parque Nacional da Neblina,
Serra do Padre no Estado do Amazonas,
fronteira com a Venezuela.
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Em desenhos antigos estão registradas as tentativas de ajustar as realidades, conforme pode ser aqui observado no
detalhe do Atlas (A. Lahure, Paris, 1899) realizado a partir de mapas anteriores ao Tratado de Utrecht, assinado entre
Portugal e a França, em 1713. (Biblioteca José e Guita Mindlin).
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Nos séculos XVI, XVII e XVIII, piratas europeus atacavam as ilhas caribenhas e
portos do continente. Vinham à procura das riquezas que as terras recém-descobertas
ofereciam. Desde a península do Yucatán até o rio da Prata, os constantes ataques
faziam do Atlântico Ocidental um cenário bem animado.
Para manter sob seu jugo a maior e mais rica colônia do império, os portugueses
reforçaram e ampliaram as defesas do litoral.
Excetuando o período dos Filipes (1580-1640), os lusitanos tiveram de fazer o
mesmo nas fronteiras internas, dado que tanto eles próprios quanto os espanhóis
nem sempre respeitavam os tratados que assinavam periodicamente.
Em 1764, o marquês de Pombal concebeu, o rei Dom José I autorizou, o arquiteto
Galuzzi desenhou e milhares de escravos, negros e índios construíram uma cidadela:
a fortaleza de São José de Macapá (1782).
De Belém até Mato Grosso sobrevivem ruínas desse sistema de defesa.
Fortaleza de São José de Macapá/AP.
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Fronteira é apenas a possibilidade de ir além?
Fronteira é um limite entre povos e países?
Fronteira é uma linha imaginária estabelecida para provocar litígios?
Fronteira é um obstáculo que criamos pensando em alguma espécie de
tranqüilidade?
Fronteira está no mapa, na barreira da alfândega, na ponta de um fuzil ou
está mesmo dentro de nós?
Essa palavra, que para muitos signifi ca esperança e para outros desespero,
nos vem do latim frons, frontis, pelo francês front.
Em várias línguas, fronteira está associada a limite. Segundo Martin
Heidegger, um fi lósofo alemão: “Uma fronteira não é o ponto onde algo
termina, mas, como os gregos reconheceram, a fronteira é o ponto a partir
do qual algo começa a se fazer presente”.
Forte Príncipe da Beira, rio Guaporé, Rondônia/RO.
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“Precisa parar de
pensar que Amazônia
é aquele verde pintado
no mapa.
Amazônia é gente.
Amazônia é vida.”
Paulo Bororo, São Paulo,
Amazônia Br, 19 julho 2002.
Vista aérea da Aldeia A-Ukre dos
índios Kayapó/PA.
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Você sabia que o Brasil é um
país multilíngüe desde as origens?
Isso signifi ca que várias etnias
conviviam em nossa terra, cada
uma falando sua própria língua.
Hoje, além do português, língua
ofi cial, temos a língua geral,
nheengatú, que nos vem do
período inicial da colonização,
quando o tupi se misturou com
a língua dos invasores europeus.
Outras duas centenas de
línguas são faladas por grandes
grupos e pequenas comunidades
de descendentes de alguns povos.
O fato de uma língua ser falada
por pouca gente não reduz sua
importância cultural: elas são
parte da identidade dos povos
que aqui resistem — e, enfi m,
voltam a crescer.
Acima, sala de aula bilíngüe na aldeia Manga
(etnia Karipuna), no Oiapoque, Amapá.
As crianças iniciam com a língua materna
e mais tarde é introduzido o português.
Ao lado, ritual de iniciação masculina tokok.
Kayapó-Xikrin do Cateté/PA.