pra onde vai o que fica pra tras
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“Pra onde vai o que fica pra trás?” é uma vídeo-instalação interativa elaborada por Stefânia Masotti, com o auxílio de Rúbia Silveira de Almeida. Aqui consta o memorial descritivo explicando como foi o processo de elaboração da obra, assim como o seu funcionamento. Em caso de dúvidas ou interesse em saber mais sobre a obra, entre em contato pelo e-mail: http://scr.im/smasotti Mais sobre Stefânia Masotti: http://flavors.me/smasottiTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
STEFÂNIA MASOTTI
PRA ONDE VAI O QUE FICA PRA TRÁS?
VITÓRIA
2011
STEFÂNIA MASOTTI
PRA ONDE VAI O QUE FICA PRA TRÁS?
Memorial apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) como requisito parcial para obtenção de titulo de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo. Orientador: Profº Cleber Carminati.
VITÓRIA
2011
STEFÂNIA MASOTTI
PRA ONDE VAI O QUE FICA PRA TRÁS?
Memorial apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) como requisito parcial para obtenção de titulo de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo. Orientador: Profº Cleber Carminati.
VITÓRIA
2011
STEFÂNIA MASOTTI
PRA ONDE VAI O QUE FICA PRA TRÁS?
Memorial apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) como requisito parcial para obtenção de titulo de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo.
Comissão Examinadora
_________________________ Profº Mestre Cleber Carminati
_________________________ Profº Mestre Rafael Paes Henriques
_________________________ Profª Doutora Daniela Zanetti
À minha família de hoje e que está por vir, fundamental em cada passo;
Àqueles que foram a minha turma, mesmo sendo de turmas separadas: Susana Kohler, Regina Trindade, Juliana Tinoco, Giselle Pereira, Marcel Bussular Martinuzzo;
Àqueles que também fizeram parte: Douglas Lisboa, Eduardo Valente;
Àqueles que me deram letra e poesia, tinta e cor, e me ensinaram arte na vida: Juliana Gabriela Caetano, Thalita Covre, Fabrício Costa, Henrique Guimarães, Coletivo Eleve e
demais parceiros das minhas aventuras pela UFES;
Àqueles e àquelas da AIESEC por tantos aprendizados;
Àquela que me deu exemplo: Marilda Rocha;
Àqueles professores que plantaram sementinhas muito importantes: Rafael Paes Henriques, Ricardo Maurício, Cleber Carminati;
Àquela sem a qual este projeto não seria possível: Rúbia Silveira de Almeida;
Àqueles e aquelas fundamentais dentro e fora da faculdade: Bruno Nascimento (BLOK), Rafael Jumbini, Renata Murari, Carine Zorzaneli, Larissa da Cruz Aguiar;
Àqueles e àquelas que mais ou menos distantes também foram importantes;
A todos que me pararam na rua, no corredor, na grama, na ida, na volta, nos caminhos que percorri até agora, para me mostrar uma flor ou tirar um espinho que me incomodava;
A cada um o meu sincero MUITO OBRIGADA!, e o meu desejo que nossos caminhos continuem se reencontrando.
À minha família de hoje e que está por vir, fundamental em cada passo;
Àqueles que foram a minha turma, mesmo sendo de turmas separadas: Susana Kohler, Regina Trindade, Juliana Tinoco, Giselle Pereira, Marcel Bussular Martinuzzo;
Àqueles que também fizeram parte: Douglas Lisboa, Eduardo Valente;
Àqueles que me deram letra e poesia, tinta e cor, e me ensinaram arte na vida: Juliana Gabriela Caetano, Thalita Covre, Fabrício Costa, Henrique Guimarães, Coletivo Eleve e
demais parceiros das minhas aventuras pela UFES;
Àqueles e àquelas da AIESEC por tantos aprendizados;
Àquela que me deu exemplo: Marilda Rocha;
Àqueles professores que plantaram sementinhas muito importantes: Rafael Paes Henriques, Ricardo Maurício, Cleber Carminati;
Àquela sem a qual este projeto não seria possível: Rúbia Silveira de Almeida;
Àqueles e aquelas fundamentais dentro e fora da faculdade: Bruno Nascimento (BLOK), Rafael Jumbini, Renata Murari, Carine Zorzaneli, Larissa da Cruz Aguiar;
Àqueles e àquelas que mais ou menos distantes também foram importantes;
A todos que me pararam na rua, no corredor, na grama, na ida, na volta, nos caminhos que percorri até agora, para me mostrar uma flor ou tirar um espinho que me incomodava;
A cada um o meu sincero MUITO OBRIGADA!, e o meu desejo que nossos caminhos continuem se reencontrando.
“Se vira, minha filha, você não nasceu quadrada!”
Marlene Livi Masotti, minha mãe
RESUMO “Pra onde vai o que fica pra trás?” é uma vídeo-instalação que gera uma sequência
de vídeo a partir das respostas do usuário ao programa elaborado para a obra. Em
resumo, o programa gera uma sequência única de vídeos a cada pessoa que
responde completamente o formulário, utilizando como base o significado do número
final de cada resposta segundo a Numerologia. Desta forma, cada resposta se
transforma em um número e cada número carrega um significado. Este significado é
exposto no vídeo e reunido em uma sequência. Tudo feito na hora. Como pano de
fundo, uma poesia é narrada. E em outra tela, vídeos pré-editados são exibidos.
Palavras-chave: vídeo-instalação, arte mídia, interação, arte e tecnologia.
RESUMO “Pra onde vai o que fica pra trás?” é uma vídeo-instalação que gera uma sequência
de vídeo a partir das respostas do usuário ao programa elaborado para a obra. Em
resumo, o programa gera uma sequência única de vídeos a cada pessoa que
responde completamente o formulário, utilizando como base o significado do número
final de cada resposta segundo a Numerologia. Desta forma, cada resposta se
transforma em um número e cada número carrega um significado. Este significado é
exposto no vídeo e reunido em uma sequência. Tudo feito na hora. Como pano de
fundo, uma poesia é narrada. E em outra tela, vídeos pré-editados são exibidos.
Palavras-chave: vídeo-instalação, arte mídia, interação, arte e tecnologia.
ABSTRACT “Pra onde vai o que fica pra trás?” is a video installation that generates a video
stream from user responses to the software program developed for the work. In
summary, the program generates a unique sequence of videos to each person who
completely answer the form, using as basis the meaning of the final number of each
response according to Numerology. Thus, each response is translated to a number
and each number carries a meaning. This meaning is exposed in the video and
combined in a sequence. All done on time. As background, a poetry is narrated. And
on another screen, pre-edited videos are displayed.
Keywords: video installation, media art, interaction, art and technology.
SUMÁRIO
1. Pra onde vai o que fica pra trás? ........................................................................................... 6
2. Rosa dos ventos: Vá, ande, caminhe! .................................................................................. 8
3. Sentido Norte: contraste, estranhe, caminhe! .................................................................. 10
4. Sentido Sul: mas pára! Olhe por onde. .............................................................................. 14
5. Sentido de Leste a Oeste: veja que esquisito, se esquisite, se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites.................................................................................. 21
5.1 Poesia como grito ........................................................................................................................ 23
5.2 Vídeos como relatos .................................................................................................................... 23
5.3 Áudio como acaso necessário ..................................................................................................... 28
5.4 Computador como suporte ......................................................................................................... 28
5.5 Programa como meio viabilizador .............................................................................................. 31
5.6 Números como pano de fundo ................................................................................................... 35
5.7 Numerologia como tradutora ..................................................................................................... 37
5.8 Vídeo-instalação como dinâmica ................................................................................................ 44
5.9 Interator como resposta ............................................................................................................. 48
5.10 Estética como sensibilidade ...................................................................................................... 50
6. Sentido que virá: invente um novo resultado ................................................................... 52
SUMÁRIO
1. Pra onde vai o que fica pra trás? ........................................................................................... 6
2. Rosa dos ventos: Vá, ande, caminhe! .................................................................................. 8
3. Sentido Norte: contraste, estranhe, caminhe! .................................................................. 10
4. Sentido Sul: mas pára! Olhe por onde. .............................................................................. 14
5. Sentido de Leste a Oeste: veja que esquisito, se esquisite, se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites.................................................................................. 21
5.1 Poesia como grito ........................................................................................................................ 23
5.2 Vídeos como relatos .................................................................................................................... 23
5.3 Áudio como acaso necessário ..................................................................................................... 28
5.4 Computador como suporte ......................................................................................................... 28
5.5 Programa como meio viabilizador .............................................................................................. 31
5.6 Números como pano de fundo ................................................................................................... 35
5.7 Numerologia como tradutora ..................................................................................................... 37
5.8 Vídeo-instalação como dinâmica ................................................................................................ 44
5.9 Interator como resposta ............................................................................................................. 48
5.10 Estética como sensibilidade ...................................................................................................... 50
6. Sentido que virá: invente um novo resultado ................................................................... 52
7. Sentidos anexos: deixe pedaços de fora ........................................................................... 54
7.1 Poesia .......................................................................................................................................... 54
7.2 Imagens ....................................................................................................................................... 56
7.3 Áudio ........................................................................................................................................... 63
8. Sentidos bibliográficos ........................................................................................................... 63
9. Sentidos referenciais .............................................................................................................. 64
6
1. Pra onde vai o que fica pra trás?
vá, ande, caminhe. olhe pro céu, olhe pro chão, contraste, estranhe. caminhe! caminho se faz and ando.
mas pára! olhe por onde. entendimento se faz olh ando.
mas pára! feche os olhos. veja. pensamento se faz ima gin ando.
mas pára! volte. caminhe de costas, veja de um outro ângulo. veja que esquisito, se esquisite , se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites.
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1. Pra onde vai o que fica pra trás?
vá, ande, caminhe. olhe pro céu, olhe pro chão, contraste, estranhe. caminhe! caminho se faz and ando.
mas pára! olhe por onde. entendimento se faz olh ando.
mas pára! feche os olhos. veja. pensamento se faz ima gin ando.
mas pára! volte. caminhe de costas, veja de um outro ângulo. veja que esquisito, se esquisite , se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites.
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mas pára! veje sua ferida. sangue, dor, reação biológica, febre. sinta ANTES de ver. veja sent indo.
imagine. seja livre. dor não é só dor. amor também dói.
mas pára! esquece a ferida, a dor. não, não não não NÃO ESQUEÇA, mas sorria. veja novas possibilidades. quebre, desconstrua os seus costumes. mas pára!
vire 36 graus e meio. dê cinco passos e 25 por cento .
interrompa. esqueça o cálculo. erre a conta. invente um novo resultado. viva esse erro tão querido.
8
quebre. deixe pedaços de fora. remonte esta morte. e então caminhe, e viva par ando.
Stefânia Masotti
2. Rosa dos ventos1: Vá, ande, caminhe!
Sou tarada por pés. Não, não se trata de tesão, mas do movimento que eles fazem.
Talvez tenha sido o percurso da vida que tenha me colocado os pés e os detalhes
dos movimentos deles em meu caminho, cicatrizados na pele de um tornozelo e na
distensão de um osso. É desses caminhos que nos atravessam e nos cortam e não
nos deixam nunca mais. Um dia um carro avançou o sinal e cruzou o meu caminho.
Eu estava de moto e meu tornozelo nunca mais foi o mesmo, assim como os
1 Para guiar os capítulos deste memorial, utilizo a Rosa dos Ventos como referência simbólica. Os capítulos foram divididos em Sul, Norte, Leste e Oeste. Cada um tem uma explicação mística ou pessoal. Para começar, a Rosa dos Ventos que introduz sobre as múltiplas direções do projeto.
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quebre. deixe pedaços de fora. remonte esta morte. e então caminhe, e viva par ando.
Stefânia Masotti
2. Rosa dos ventos1: Vá, ande, caminhe!
Sou tarada por pés. Não, não se trata de tesão, mas do movimento que eles fazem.
Talvez tenha sido o percurso da vida que tenha me colocado os pés e os detalhes
dos movimentos deles em meu caminho, cicatrizados na pele de um tornozelo e na
distensão de um osso. É desses caminhos que nos atravessam e nos cortam e não
nos deixam nunca mais. Um dia um carro avançou o sinal e cruzou o meu caminho.
Eu estava de moto e meu tornozelo nunca mais foi o mesmo, assim como os
1 Para guiar os capítulos deste memorial, utilizo a Rosa dos Ventos como referência simbólica. Os capítulos foram divididos em Sul, Norte, Leste e Oeste. Cada um tem uma explicação mística ou pessoal. Para começar, a Rosa dos Ventos que introduz sobre as múltiplas direções do projeto.
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movimentos do meu pé direito. Mas isto não é uma história pessoal. A toda hora um carro cruza o nosso caminho. A toda hora a gente avança um sinal. A toda hora seguimos em frente, pra frente, adiante, avante, a mais. Mas, pra onde vai o que fica pra trás?
Neste memorial descritivo vou explicar o que me motivou a transbordar este trabalho
para além da poesia, para além do vídeo, para além do computador, para além da
Numerologia; transbordando-o para, enfim, a realidade. Passeio por muitas
indagações, explicando cada uma delas – hora com teorias, hora com emoções –,
sem deixar de lado a técnica que o trabalho envolve e os argumentos teóricos que
dão a ele uma fundamentação. Ressalvo que aqui consta apenas uma leitura
complementar à experimentação da obra “Pra onde vai o que fica pra trás?”; esta
experimentação, sim, é o mais importante. O texto aqui apresentado serve para
registrar um processo de criação de cerca de um ano de leituras, reflexões,
conversas, idas, vindas, reviravoltas, tentativas, pausas, recomeços, encantamentos,
dores, alívios, inspirações, transpirações, pirações, e tudo o mais que envolveu a
elaboração deste trabalho. Espero, com este memorial descritivo, que algumas
lacunas que a experimentação da obra possa ter despertado sejam esclarecidas e
aprofundadas. Aproveito ainda para explicar algumas escolhas técnicas, por mais
que estas tenham sido feitas, em sua maioria, inconscientemente.
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3. Sentido Norte2: contraste, estranhe, caminhe!
“Pra onde vai o que fica pra trás?” busca gerar uma reflexão sobre o passado
recente, um tempo que anda esquecido na atualidade. A toda hora avançamos,
seguimos em frente, adiante, mas o que fica para trás logo depois que passamos? O
que nos aconteceu há 5 minutos? Somos forçados a sempre seguir, a não parar.
Mas quando paramos para refletir sobre o que nos aconteceu? Aliás, será que todos
nós sabemos o que nos aconteceu ontem? E na semana passada? O que esses
fatos que aconteceram há tão pouco tempo geraram? É sobre este processo de
avançar que convido as pessoas a pararem e regredirem um pouco. Um regresso à
observação. Mas um regresso rápido, que usa os meios atuais, e não te deixa
parado. Não forço uma dinâmica estranha, mas sim conhecida, é uma forma de
atrair também quem não pode parar um minuto.
Refletindo sobre a sociedade, Milton Santos faz uma observação interessante sobre
como reagimos hoje às novidades tecnológicas:
2 São os pensamentos que norteiam este trabalho. Reflexões iniciais sobre a sociedade que me motivaram a fazê-lo.
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3. Sentido Norte2: contraste, estranhe, caminhe!
“Pra onde vai o que fica pra trás?” busca gerar uma reflexão sobre o passado
recente, um tempo que anda esquecido na atualidade. A toda hora avançamos,
seguimos em frente, adiante, mas o que fica para trás logo depois que passamos? O
que nos aconteceu há 5 minutos? Somos forçados a sempre seguir, a não parar.
Mas quando paramos para refletir sobre o que nos aconteceu? Aliás, será que todos
nós sabemos o que nos aconteceu ontem? E na semana passada? O que esses
fatos que aconteceram há tão pouco tempo geraram? É sobre este processo de
avançar que convido as pessoas a pararem e regredirem um pouco. Um regresso à
observação. Mas um regresso rápido, que usa os meios atuais, e não te deixa
parado. Não forço uma dinâmica estranha, mas sim conhecida, é uma forma de
atrair também quem não pode parar um minuto.
Refletindo sobre a sociedade, Milton Santos faz uma observação interessante sobre
como reagimos hoje às novidades tecnológicas:
2 São os pensamentos que norteiam este trabalho. Reflexões iniciais sobre a sociedade que me motivaram a fazê-lo.
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“A gestação do novo, na História, dá-se, freqüentemente, de modo quase
imperceptível para os contemporâneos, já que suas sementes começam a se
impor quando ainda o velho é quantitativamente dominante. [...] No caso do
mundo atual, temos a consciência de viver um novo período, mas o novo que mais
facilmente apreendemos é a utilização de formidáveis recursos da técnica e da
ciência pelas novas formas do grande capital, apoiado por formas institucionais
igualmente novas.” (SANTOS, 2009, p. 141)
Não paramos para pensar sobre como estas novas tecnologias e este novo tempo
está tomando conta de nossas vidas, muito menos o que estão fazendo de nós. Não
são os robôs que estão se tornando humanos, mas os humanos que estão se
tornando robôs. Mas como isto está ocorrendo? Há muitas hipóteses de
especialistas (sociólogos, antropólogos e outros tantos). Não sou especialista para
afirmar, mas me dói muito as forças da excessiva correria e da excêntrica
necessidade de tudo no presente, no agora. Até o gerúndio, tão necessário para os
processos, foi condenado e jogado para escanteio. Não vale “eu estou fazendo”, só
“ok, pode deixar, eu faço o próximo”. Sempre temos que ir para frente, estar adiante,
não podemos parar e olhar para o lado, pro outro lado. Nem pensar em olhar para
trás! E aí eu te pergunto, andando a passos largos para te acompanhar, pra me
acompanhar, pra sermos acompanhados, pra onde vai o que fica pra trás?
“Num mundo em que fosse abolida a regra da competitividade como padrão
essencial de relacionamento, a vontade de ser potência não seria mais um norte
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para o comportamento dos estados[...].” (SANTOS, 2009, p. 148)
Estamos sempre competindo. Principalmente, tendo que competir. E não podemos
parar. Nem de competir, nem de andar, nem de evoluir. Não podemos parar. E se,
de repente, isso tudo desse erro e todo mundo travasse em um lugar? E se a gente
parasse de tanto correr e simplesmente caminhasse? Os vídeos apresentados são
de caminhadas. É uma forma de remeter à jornada, à rotina, ao que fazemos todos
os dias. Mas em nenhum vídeo os pés aparecem correndo. O único movimento além
da caminhada é a parada, a pausa. Isto remete à correria, mas de uma forma
desacelerada.
“A idéia de história, sentido, destino, é amesquinhada em nome da obtenção de
metas estatísticas, cuja única preocupação é o conformismo frente às
determinações do processo atual de globalização.” (SANTOS, 2009, p. 155)
Não se vive mais para fazer história, mas para fazer números. Números positivos,
claro, os negativos são escondidos, omitidos, jogados fora com o passado. O que
está por vir é sempre positivo. O próximo resultado será melhor do que o que
acabou de ser alcançado, gerado. Acabou, está acabado, passou, passado, assado,
mal passado. A cada mês se repete a mesma frase “vamos superar esta meta”. Uma
frase que antes era dita a cada ano. E cada vez mais se aproxima de ser dita a cada
dia. O futuro pode ser melhor, mas agora ele me dá medo. E então o que faço? Me
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para o comportamento dos estados[...].” (SANTOS, 2009, p. 148)
Estamos sempre competindo. Principalmente, tendo que competir. E não podemos
parar. Nem de competir, nem de andar, nem de evoluir. Não podemos parar. E se,
de repente, isso tudo desse erro e todo mundo travasse em um lugar? E se a gente
parasse de tanto correr e simplesmente caminhasse? Os vídeos apresentados são
de caminhadas. É uma forma de remeter à jornada, à rotina, ao que fazemos todos
os dias. Mas em nenhum vídeo os pés aparecem correndo. O único movimento além
da caminhada é a parada, a pausa. Isto remete à correria, mas de uma forma
desacelerada.
“A idéia de história, sentido, destino, é amesquinhada em nome da obtenção de
metas estatísticas, cuja única preocupação é o conformismo frente às
determinações do processo atual de globalização.” (SANTOS, 2009, p. 155)
Não se vive mais para fazer história, mas para fazer números. Números positivos,
claro, os negativos são escondidos, omitidos, jogados fora com o passado. O que
está por vir é sempre positivo. O próximo resultado será melhor do que o que
acabou de ser alcançado, gerado. Acabou, está acabado, passou, passado, assado,
mal passado. A cada mês se repete a mesma frase “vamos superar esta meta”. Uma
frase que antes era dita a cada ano. E cada vez mais se aproxima de ser dita a cada
dia. O futuro pode ser melhor, mas agora ele me dá medo. E então o que faço? Me
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atraso na esperança que ele chegue mais devagar. Vou divagando por aí nessa
esperança. Caminhando e filmando e brincando de fazer arte. Até ele vir, bater,
arder e curar.
Compartilho do pensamento de Paul Virilio, que afirma que estamos imersos em
uma “poluição dromosférica”,
“na qual a aceleração imposta pelo ritmo frenético do tempo real e dos novos
meios de comunicação afetaria de tal modo nossa percepção do mundo que
implicaria uma perda total da noção da narrativa das coisas e da própria memória
imediata.” (VIRILIO, apud ARANTES, 2005, p. 163)
Em contrapartida a esta aceleração demasiada, Priscila Arantes (2005) afirma que
as obras de arte em mídias digitais permitem parar o tempo para um segundo de
reflexão, realizando uma espécie de metacomunicação, de reflexão e olhar sobre o
mundo que nos rodeia.
Parar alguns minutos no tempo, promover reflexões, mostrar que “velocidade não é
dinamismo” (SANTOS, 2009, p. 156), são pensamentos que norteiam este trabalho.
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4. Sentido Sul3: mas pára! Olhe por onde.
É difícil definir, ao certo, onde ou quando o projeto começou. A miscelânea de que
somos formados e de formatos que cercam a comunicação hoje nos dificultam
definir algo, qualquer coisa, sentimento ou até, por que não?, um projeto. Os
questionamentos que geraram a idéia do trabalho aqui apresentado explodiram
durante uma aula da disciplina de Multimeios, no decisivo primeiro semestre de 2010,
quando na verdade já pensava, desde as aulas de Estética – feitas tardiamente, mas
no momento certo – no segundo semestre de 2008, em fazer um Trabalho de
Conclusão de Curso voltado para uma mistura entre Comunicação e Arte. Não sei
ao certo o que me levou a querer experimentar desta mistura, talvez frustrações
naturais que acontecem no decorrer do curso e que cada um significa de uma forma,
talvez encantamento por uma área tão ampla quanto a Comunicação, talvez o
mistério que até hoje me ronda sobre o que pode gerar esta mistura cada vez mais
comum e quase sempre surpreendente entre Comunicação e Arte.
“Alimentar o separatismo [entre as comunicações e as artes] conduz a severas
perdas tanto para o lado da arte quanto para o da comunicação. Por que perde a
arte? Porque fica limitada pelo olhar conservador que leva em consideração
3 O sentido Sul deste capítulo é particular, tem a ver com a minha origem. Minha família veio do Sul do Brasil para o Espírito Santo e aqui faço uma referência às minhas raízes para falar sobre as raízes que originaram este trabalho.
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4. Sentido Sul3: mas pára! Olhe por onde.
É difícil definir, ao certo, onde ou quando o projeto começou. A miscelânea de que
somos formados e de formatos que cercam a comunicação hoje nos dificultam
definir algo, qualquer coisa, sentimento ou até, por que não?, um projeto. Os
questionamentos que geraram a idéia do trabalho aqui apresentado explodiram
durante uma aula da disciplina de Multimeios, no decisivo primeiro semestre de 2010,
quando na verdade já pensava, desde as aulas de Estética – feitas tardiamente, mas
no momento certo – no segundo semestre de 2008, em fazer um Trabalho de
Conclusão de Curso voltado para uma mistura entre Comunicação e Arte. Não sei
ao certo o que me levou a querer experimentar desta mistura, talvez frustrações
naturais que acontecem no decorrer do curso e que cada um significa de uma forma,
talvez encantamento por uma área tão ampla quanto a Comunicação, talvez o
mistério que até hoje me ronda sobre o que pode gerar esta mistura cada vez mais
comum e quase sempre surpreendente entre Comunicação e Arte.
“Alimentar o separatismo [entre as comunicações e as artes] conduz a severas
perdas tanto para o lado da arte quanto para o da comunicação. Por que perde a
arte? Porque fica limitada pelo olhar conservador que leva em consideração
3 O sentido Sul deste capítulo é particular, tem a ver com a minha origem. Minha família veio do Sul do Brasil para o Espírito Santo e aqui faço uma referência às minhas raízes para falar sobre as raízes que originaram este trabalho.
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exclusivamente a tradição de sua face artesanal. Por que perde a comunicação?
Porque fica confinada aos estereótipos da comunicação de massa. [...] Convergir
não significa identificar-se. Significa, isto sim, tomar rumos que, não obstante as
diferenças, dirijam-se para a ocupação de territórios comuns, nos quais as
diferenças se roçam sem perder seus contornos próprios.” (SANTAELLA, 2008, p.
07)
Em ordem cronológica, mas não menos caótica, primeiro surgiu a poesia. A
explosão de pensamentos, emoções e reflexões, aconteceu no meio da aula de
Multimeios. Talvez por mera questão de familiaridade, estas idéias me surgiram
primeiramente em texto/poesia, depois foram gritando para outros lados. [Peço
licença acadêmica e recomendo aqui a (re)leitura da poesia presente no início deste
memorial descritivo] A poesia nasceu pronta praticamente, foram necessários
pequenos ajustes apenas. A junção de palavras ficou tão forte que eu simplesmente
não sabia o que fazer. O grito, as palavras, as letras, a poesia em si, ficaram
ecoando em mim. Você já deve ter vivido esta experiência: quando a gente fica com
uma coisa na cabeça, parece que tudo no mundo diz sobre ela, como se o universo
te trouxesse tudo. E traz. E trouxe: revirando as imagens no meu computador, vi
umas fotos4 e uns vídeos dos meus pés, os vídeos, inclusive, eu havia começado a
gravar há pouco tempo. Meus pés sempre foram meus alvos prediletos em auto-
4 Algumas destas imagens estão disponíveis em: http://www.flickr.com/photos/smasotti/tags/praondevaioqueficapratras/
16
retratos. O caminhar, com toda a questão do deslocamento e desafio que ele
carrega, também me interessava. Então resolvi aproveitar este material, que na
época foi gravado com uma câmera de celular5. Porém, não queria um vídeo meu,
queria um vídeo de cada um – na medida do possível. E fazer um vídeo com uma
poesia de fundo era pouco, era simplista demais, então continuei procurando. Entre
pausas, pensamentos e inquietações, mais adiante surgiu a idéia de montar um
vídeo interativo. Para que cada pessoa pudesse gerar um vídeo único, seu, foi
desenvolvido um programa de computador, através da parceria com Rúbia Silveira
de Almeida, onde são feitas 7 perguntas a serem respondidas pelo espectador. Isso
vai ser explicado com mais detalhes a seguir, mas, resumidamente, cada resposta
tem seu número calculado segundo os preceitos numerológicos, que transformam as
letras em números e os somam, formando assim um único número entre 1 e 9. Estes
números carregam características individuais que influenciaram na seleção prévia do
vídeo correspondente de cada número. Ou seja, se uma das respostas der 1, na
convergência feita através da Numerologia, o vídeo daquela resposta será
relacionado às características que este número carrega, neste caso idéias de
iniciativa, pró-atividade, etc6. E assim sucessivamente, em cada resposta. Quando o
usuário termina de responder a todas as perguntas e manda gerar o vídeo, o
resultado final é um vídeo único montado com os 7 vídeos de cada uma das 5 Posteriormente será explicado o motivo da escolha das tecnologias e suportes. 6 Isto será melhor explicado na parte do memorial referente à Numerologia.
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retratos. O caminhar, com toda a questão do deslocamento e desafio que ele
carrega, também me interessava. Então resolvi aproveitar este material, que na
época foi gravado com uma câmera de celular5. Porém, não queria um vídeo meu,
queria um vídeo de cada um – na medida do possível. E fazer um vídeo com uma
poesia de fundo era pouco, era simplista demais, então continuei procurando. Entre
pausas, pensamentos e inquietações, mais adiante surgiu a idéia de montar um
vídeo interativo. Para que cada pessoa pudesse gerar um vídeo único, seu, foi
desenvolvido um programa de computador, através da parceria com Rúbia Silveira
de Almeida, onde são feitas 7 perguntas a serem respondidas pelo espectador. Isso
vai ser explicado com mais detalhes a seguir, mas, resumidamente, cada resposta
tem seu número calculado segundo os preceitos numerológicos, que transformam as
letras em números e os somam, formando assim um único número entre 1 e 9. Estes
números carregam características individuais que influenciaram na seleção prévia do
vídeo correspondente de cada número. Ou seja, se uma das respostas der 1, na
convergência feita através da Numerologia, o vídeo daquela resposta será
relacionado às características que este número carrega, neste caso idéias de
iniciativa, pró-atividade, etc6. E assim sucessivamente, em cada resposta. Quando o
usuário termina de responder a todas as perguntas e manda gerar o vídeo, o
resultado final é um vídeo único montado com os 7 vídeos de cada uma das 5 Posteriormente será explicado o motivo da escolha das tecnologias e suportes. 6 Isto será melhor explicado na parte do memorial referente à Numerologia.
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respostas dadas. O áudio de cada vídeo final gerado é escolhido de forma aleatória
dentre 4 possibilidades de interpretação da poesia-guia.
Não sei ao certo explicar a necessidade de fazer esta obra. Sei que é uma
necessidade e sei que foi acontecendo. É como se tudo fosse se encaixando a partir
da minha vontade de transbordar o que sinto, penso, reflito, para as pessoas. Talvez
o que guie uma obra de arte seja justamente a necessidade do artista em se
comunicar, em colocar para fora o que lhe perturba. Ou uma necessidade de gritar e
ver o que os outros vão responder. Ou a necessidade de saber se está ou não
sozinho, se é só você ou não que pensa sobre isso. E é intrigante que para concluir
o curso de Comunicação Social eu tenha ido para as Artes na tentativa de me
expressar. Depois de quase 6 anos de curso, me cansei do lead7, das fórmulas, das
métricas, e resolvi criar minha própria mídia para me expressar. Acabo de perceber
agora – sim, exatamente agora, enquanto escrevo este texto – que todos os
processos por quais passei foram frutos de uma busca incessante de alguma forma
de me expressar. Ao longo do curso fui cada vez me distanciando mais da
comunicação tradicional e buscando mais algo que eu não sabia até este exato
instante o que era. Durante esta busca eu me aproximei da poesia, me aproximei da
vídeo-arte, me aproximei da edição de vídeos, me aproximei das Relações Públicas,
7 Em poucas palavras, “lead” é um guia de perguntas que o primeiro parágrafo de uma matéria jornalística deve responder. Mais informações em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lead
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me aproximei da hipermídia, me aproximei da ilustração, me aproximei dos
multimeios, me aproximei das intervenções urbanas... fui me aproximando de uma
série de elementos na tentativa de encontrar algum meio para me comunicar. Cada
tentativa me empolgou em determinado momento, me acrescentou em muito, me
impulsionou pra frente, mas nunca me bastou. Eu precisava criar o meu próprio meio,
a minha própria mídia, para conseguir me comunicar. Os meios atuais, por mais
amplos que sejam, não saciavam a minha vontade – e eu não entendia. Por isso
criei a minha mídia: uma mídia que mistura poesia, vídeo, computador, participação
do outro, Numerologia e acaso. Sentia falta de emoção nas mídias, então coloquei a
poesia. Precisava ilustrar o que sentia, então coloquei o vídeo. Preciso que o outro
me dê suas respostas sobre o que eu digo, então coloquei um programa de
computador para as pessoas me responderem. Sentia falta de uma pitada de crença,
de fé, para reger, no pano de fundo, tudo isso, e então coloquei a Numerologia.
Sentia falta do acaso, de não ter controle absoluto, da possibilidade do erro, do
humano, do universal, do imprevisível, e então deixei uma brecha para o acaso
acontecer. Cada um desses elementos tem muito a ver com a minha vida. São
coisas em que acredito e não vivo sem – à parte a Numerologia, que aqui tem muito
mais um caráter de representatividade das ciências ocultas do que uma presença
literal em si (o que será explicado adiante). São elementos que me formam enquanto
ser humano, comunicativo, social, espiritual, errante. Talvez eu queira muito mais do
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me aproximei da hipermídia, me aproximei da ilustração, me aproximei dos
multimeios, me aproximei das intervenções urbanas... fui me aproximando de uma
série de elementos na tentativa de encontrar algum meio para me comunicar. Cada
tentativa me empolgou em determinado momento, me acrescentou em muito, me
impulsionou pra frente, mas nunca me bastou. Eu precisava criar o meu próprio meio,
a minha própria mídia, para conseguir me comunicar. Os meios atuais, por mais
amplos que sejam, não saciavam a minha vontade – e eu não entendia. Por isso
criei a minha mídia: uma mídia que mistura poesia, vídeo, computador, participação
do outro, Numerologia e acaso. Sentia falta de emoção nas mídias, então coloquei a
poesia. Precisava ilustrar o que sentia, então coloquei o vídeo. Preciso que o outro
me dê suas respostas sobre o que eu digo, então coloquei um programa de
computador para as pessoas me responderem. Sentia falta de uma pitada de crença,
de fé, para reger, no pano de fundo, tudo isso, e então coloquei a Numerologia.
Sentia falta do acaso, de não ter controle absoluto, da possibilidade do erro, do
humano, do universal, do imprevisível, e então deixei uma brecha para o acaso
acontecer. Cada um desses elementos tem muito a ver com a minha vida. São
coisas em que acredito e não vivo sem – à parte a Numerologia, que aqui tem muito
mais um caráter de representatividade das ciências ocultas do que uma presença
literal em si (o que será explicado adiante). São elementos que me formam enquanto
ser humano, comunicativo, social, espiritual, errante. Talvez eu queira muito mais do
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que fazer uma reflexão sobre o tempo, como o próprio título induz e como explicarei
a seguir, e sim fazer uma reflexão sobre o homem. O homem que hoje não pode
falhar, que não pode sentir, que não pode olhar para trás, que só deve apertar o
próximo botão e seguir se assemelhando à maquina com quem convive, que é a sua
principal parceira em todos os momentos. Trago com a vídeo-instalação interativa
“Pra onde vai o que fica pra trás?” uma oportunidade de interação com o acaso.
Uma combinação humana entre números binários, imagens, respostas sensíveis,
números místicos, e você. Não sei no que isso vai resultar para cada um, mas eu
não estou em busca de um resultado, estou querendo apenas ser e refletir sobre o
que eu estou sendo.
No campo da arte, fui fortemente influenciada pela arte contemporânea com a qual
comecei a entrar em contato há pouco mais de 3 anos. Nunca tive o costume de ir a
museus, ainda que sempre tive a vontade de freqüentar e penetrar neste mundo. Foi
a Universidade Federal do Espírito Santo e os amigos que ela me trouxe que me
levaram a este bom caminho. Das obras e dos artistas que estudei ou tive contato,
me marcaram muito a Lygia Clark e a profundidade psicológica a que remetem as
suas obras; Giselle Beiguelman e a sua tecnologia aliada à sensibilidade, além de
reflexões sobre o transitório, e também sobre as paisagens; as performances
artísticas que questionam ações cotidianas; as intervenções urbanas, que vi de
outros artistas e vivi com o Coletivo Eleve, que questionam a cidade e os
20
movimentos que ela faz; as obras e os pensamentos de Júlio Plaza; a poesia
vibrante de Viviane Mosé; o trabalho “olha pro céu, meu filho, porque chão é lugar
de cuspir” de Marcio Isensee e Lucas Zappa, do coletivo iz; e tantas outras que me
influenciaram durante o processo criativo, assim como as conversas, disciplinas e
pessoas com quem tive contato. A arte contemporânea tem isso da multiplicidade,
do não-lugar, de refletir sobre a vida cotidiana, de questionar parâmetros, de criar
novos suportes e de não querer rotulá-los, de ser um acontecimento, de ser uma
obra mas também ser uma ação, de ser um gerúndio a ponto de ficar sob o rótulo do
contemporâneo e não conseguir ir pro futuro. Assim como a arte que proponho,
quero também ser sempre contemporânea, do meu tempo, ligada ao que acontece
aqui e agora, questionar o que está acontecendo ou o que acabou de acontecer,
mas sem perder as raízes, aproveitando dos múltiplos meios de hoje e do passado,
distante ou nem tanto, espalhando-se para todos os lados, respirando, pirando,
suspirando, viver acontecendo.
“A imagem, sem dúvida – e toda arte, segundo ele [Couchot] -, não é mais o lugar da
metáfora e sim da metamorfose.” (COUCHOT, apud PLAZA, 2008, p. 77)
20
movimentos que ela faz; as obras e os pensamentos de Júlio Plaza; a poesia
vibrante de Viviane Mosé; o trabalho “olha pro céu, meu filho, porque chão é lugar
de cuspir” de Marcio Isensee e Lucas Zappa, do coletivo iz; e tantas outras que me
influenciaram durante o processo criativo, assim como as conversas, disciplinas e
pessoas com quem tive contato. A arte contemporânea tem isso da multiplicidade,
do não-lugar, de refletir sobre a vida cotidiana, de questionar parâmetros, de criar
novos suportes e de não querer rotulá-los, de ser um acontecimento, de ser uma
obra mas também ser uma ação, de ser um gerúndio a ponto de ficar sob o rótulo do
contemporâneo e não conseguir ir pro futuro. Assim como a arte que proponho,
quero também ser sempre contemporânea, do meu tempo, ligada ao que acontece
aqui e agora, questionar o que está acontecendo ou o que acabou de acontecer,
mas sem perder as raízes, aproveitando dos múltiplos meios de hoje e do passado,
distante ou nem tanto, espalhando-se para todos os lados, respirando, pirando,
suspirando, viver acontecendo.
“A imagem, sem dúvida – e toda arte, segundo ele [Couchot] -, não é mais o lugar da
metáfora e sim da metamorfose.” (COUCHOT, apud PLAZA, 2008, p. 77)
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5. Sentido de Leste a Oeste: veja que esquisito, se esquisite, se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites.
Vídeo, poesia, programa de computador, numerologia, interação. Como reunir tudo
isso em uma obra? Como transformar esta fórmula em arte? Juntar vídeo e poesia já
é algo mais rotineiro, mas o que o restante tem a ver com isso? Somo tudo para
gritar em multimeios. Tentativa de mostrar em uma sala para sair pelas janelas feito
vento que vem da porta e segue avançando pelos lados que o quadrado lhe permite.
Pensar além do quadrado, utilizando uma figura de quatro lados. Fazer pensar, fazer
refletir. A conseqüência como mistério, a programação como teatro, a numerologia
como tradução, a arte como exposição. A seguir consta o relato técnico, mas nem
tanto, da experiência de alguém que tirou um pé da Comunicação e não sabe ao
certo onde está pisando.
“Pra onde vai o que fica pra trás?” é uma mistura de poesia, vídeo, interatividade e
numerologia. Aproveitando a liberdade que a arte nos permite e fazendo a reflexão
que a arte contemporânea se propõe a gerar, misturo os elementos e repenso a
sociedade. “Figurar para a sensibilidade e dizer através do número”8. Para refletir
8 (LUZ, 2008, p. 51)
22
sobre a relação que temos com o tempo, a obra se relaciona com as pessoas, usa
de perguntas como “Onde você está?” e “Onde você gostaria de estar?”
complementadas por “Se não agora, quando?”, entre outras, para fazer as pessoas
pensarem. Em seguida, responde com vídeos de passos, caminhadas e voltas na
tela do seu computador, além de áudio em poesia, no seu ouvido. Uma seqüência
de vídeo única a cada pessoa. Enquanto isso, vídeos pré-editados são projetados,
em ordem aleatória de exibição, na parede, sem o áudio – na estrutura ideal de
exposição a ser apresentada neste memorial.
“Linguagens e meios que se misturam, compondo um todo mesclado e
interconectado de sistemas de signos que se juntam para formar uma
sintaxe integrada” (SANTAELLA, apud ARANTES, 2005, p. 49)
A obra apresentada agora, em maio de 2011, é a versão 2.0. A primeira versão, 1.0,
foi apresentada durante o ano de 2010. As diferenças entre uma versão e outra são
basicamente técnicas. Na versão inicial os vídeos foram feitos com uma câmera de
celular; para esta foi utilizada uma câmera fotográfica digital, o que gerou vídeos
com uma qualidade superior para a exibição9. O áudio também foi regravado no
estúdio da Rádio Universitária da UFES10, antes fora utilizada uma gravação feita
9 A explicação pela escolha de câmera digital, e não por uma profissional, será explicada a seguir. 10 Deixo aqui meu agradecimento à Djamile Carreiro que fez o elo entre eu e a Rádio, assim como a todos que permitiram a utilização do espaço da rádio para a gravação dos áudios da obra.
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sobre a relação que temos com o tempo, a obra se relaciona com as pessoas, usa
de perguntas como “Onde você está?” e “Onde você gostaria de estar?”
complementadas por “Se não agora, quando?”, entre outras, para fazer as pessoas
pensarem. Em seguida, responde com vídeos de passos, caminhadas e voltas na
tela do seu computador, além de áudio em poesia, no seu ouvido. Uma seqüência
de vídeo única a cada pessoa. Enquanto isso, vídeos pré-editados são projetados,
em ordem aleatória de exibição, na parede, sem o áudio – na estrutura ideal de
exposição a ser apresentada neste memorial.
“Linguagens e meios que se misturam, compondo um todo mesclado e
interconectado de sistemas de signos que se juntam para formar uma
sintaxe integrada” (SANTAELLA, apud ARANTES, 2005, p. 49)
A obra apresentada agora, em maio de 2011, é a versão 2.0. A primeira versão, 1.0,
foi apresentada durante o ano de 2010. As diferenças entre uma versão e outra são
basicamente técnicas. Na versão inicial os vídeos foram feitos com uma câmera de
celular; para esta foi utilizada uma câmera fotográfica digital, o que gerou vídeos
com uma qualidade superior para a exibição9. O áudio também foi regravado no
estúdio da Rádio Universitária da UFES10, antes fora utilizada uma gravação feita
9 A explicação pela escolha de câmera digital, e não por uma profissional, será explicada a seguir. 10 Deixo aqui meu agradecimento à Djamile Carreiro que fez o elo entre eu e a Rádio, assim como a todos que permitiram a utilização do espaço da rádio para a gravação dos áudios da obra.
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em casa. Além disso, foram consertados alguns erros no programa em si, que antes
não aceitava capslock - por exemplo, dentre outros. A seguir descrevo e explico o
que ocorre quando a técnica encontra suas razões e desrazões emocionadas. Ou
simplesmente uma explicação mais detalhada sobre razões técnicas e emotivas dos
elementos utilizados na obra “Pra onde vai o que fica pra trás?”.
5.1 Poesia como grito
Como já foi dito anteriormente, a poesia surgiu durante uma aula, dessas
verborragias que nos atacam quando a gente menos espera. Veio todo de uma vez
e foi pouquíssimo modificado até a sua versão final.
Ela reflete explicitamente meus questionamentos sobre o tempo; sobre a
necessidade de tudo ser perfeito no mundo, calculado, exato; sobre este avançar
contínuo e cego que não olha para os lados, que não vê o que se passa ao seu
redor; sobre a perda da imaginação e sobre a falta que ela nos faz; sobre a negação
da dor, do sofrimento, do erro, da morte; e sobre tantas outras reflexões que cito
aqui neste memorial, além das que cada um pode ter.
5.2 Vídeos como relatos
Os vídeos foram todos gravados do mesmo ângulo, na altura da cintura, com a
24
câmera voltada para o chão. A escolha do chão, ainda que tenha sido feita
inicialmente sem nenhum propósito, apenas por mera coincidência – como já foi dito,
foi questionada em determinado momento da ação. Mas por que eu estou filmando o
chão? – Me perguntei algumas vezes.
O fato de aproveitar vídeos que eu considero também auto-relatos 11 da minha
história, do meu caminhar, faz com que esta obra não seja mas também não deixe
de ser um auto-retrato. Ela mostra, além de tudo que disse anteriormente e além do
mais que vai ser falado ainda, a minha relação com os meus pés e,
conseqüentemente, a minha relação com o mundo. É desta forma também que
pretendo trazer as pessoas para o chão, a olharem os pés fixados sobre a superfície.
O céu tem uma aura muito bonita, um significado que naturalmente nos remete ao
sublime. Já o chão é o oposto, é a queda, é o lixo que jogamos sobre ele. Se
desejamos sucesso a alguém, estamos desejando que esta pessoa voe alto, como
se com os pés no chão não fosse possível chegar muito além. Ora, pra que aviões
se temos sonhos e pernas? É no chão que se encontram as dificuldades, as
resistências, as pedras. Mas é também no chão que brota a vida, que nasce o
alimento, que jorra a fonte de água. É a estabilidade do chão que nos mantêm em 11 Uso aqui a expressão “auto-relato” como uma referência ao “auto-retrato” da fotografia. Como se trata de outro suporte, o vídeo, considero a palavra “relato” mais apropriada, uma vez que relato agrega o valor de continuidade, de diálogo. Cabe observar ainda que tanto “auto-retrato” como “auto-relato” podem ser utilizadas para descrever trabalhos em ambos os suportes.
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câmera voltada para o chão. A escolha do chão, ainda que tenha sido feita
inicialmente sem nenhum propósito, apenas por mera coincidência – como já foi dito,
foi questionada em determinado momento da ação. Mas por que eu estou filmando o
chão? – Me perguntei algumas vezes.
O fato de aproveitar vídeos que eu considero também auto-relatos 11 da minha
história, do meu caminhar, faz com que esta obra não seja mas também não deixe
de ser um auto-retrato. Ela mostra, além de tudo que disse anteriormente e além do
mais que vai ser falado ainda, a minha relação com os meus pés e,
conseqüentemente, a minha relação com o mundo. É desta forma também que
pretendo trazer as pessoas para o chão, a olharem os pés fixados sobre a superfície.
O céu tem uma aura muito bonita, um significado que naturalmente nos remete ao
sublime. Já o chão é o oposto, é a queda, é o lixo que jogamos sobre ele. Se
desejamos sucesso a alguém, estamos desejando que esta pessoa voe alto, como
se com os pés no chão não fosse possível chegar muito além. Ora, pra que aviões
se temos sonhos e pernas? É no chão que se encontram as dificuldades, as
resistências, as pedras. Mas é também no chão que brota a vida, que nasce o
alimento, que jorra a fonte de água. É a estabilidade do chão que nos mantêm em 11 Uso aqui a expressão “auto-relato” como uma referência ao “auto-retrato” da fotografia. Como se trata de outro suporte, o vídeo, considero a palavra “relato” mais apropriada, uma vez que relato agrega o valor de continuidade, de diálogo. Cabe observar ainda que tanto “auto-retrato” como “auto-relato” podem ser utilizadas para descrever trabalhos em ambos os suportes.
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pé, mas humanamente preferimos olhar para os céus e desejar aquilo que não
temos. No mundo contemporâneo, destes anos de 2011, vivemos sempre em busca
do salto, do vôo, da meta mais alta, nunca vamos para baixo, nunca podemos voltar
para o chão. Com uma câmera voltada para os pés e para o chão mostro a minha
base, aterrizo sobre a minha terra, onde posso correr, andar, e até tocar o sol. É
com os pés na terra que fazemos a vida, mas parece que esquecemos disso e só
queremos voar.
Outros significados também permeiam o chão e geraram reflexões para esta obra.
Pela lei da gravidade, o chão é depósito de tudo o que está no ar. Tudo que paira
sobre nossas vidas, inevitavelmente, vai para o chão ou está sobre ele. O chão
carrega esta firmeza, de ser base de todos os objetos – direta ou indiretamente – e
também tem a leveza de ser diferente a cada segundo. Olhe pra onde você pisa
agora. Siga em frente e volte ao mesmo lugar daqui a 5min. Ele estará
completamente diferente. Já parou para observar isso? O chão é base de
sustentação e território das transitoriedades do mundo. No ambiente urbano, o chão
é local de dejetos, baratas, bichos mortos, sujeiras, de corpo caído, e, porque não
dizer, de morte. Tudo termina a sete palmos abaixo. No campo, ao contrário, o chão
é local de fertilização, de origem da vida. Em todos os casos, tudo o que está no
chão é, de alguma forma mais rápida ou de outra mais lenta, transitório,
impermanente, dali a pouco desfeito, varrido ou re-apropriado.
26
Estas são reflexões geradas por três fatores: primeiro, a minha observação do chão;
segundo, o trabalho “olha pro céu, meu filho, porque chão é lugar de cuspir” de
Marcio Isensee e Lucas Zappa, do coletivo iz12; terceiro, a música “De cabeça pra
baixo” escrita por Raul Seixas e Claudio Roberto 13 . Através disso, cheguei às
conclusões acima e decidi manter o chão como pano de fundo para as imagens.
Afinal, um dos temas abordados e talvez até o principal, é a transitoriedade do
mundo. E o chão relata muito bem isso, trazendo ainda a contradição da
sustentação. Será então que a transitoriedade é o que nos sustenta? É uma das
questões que podem ser levantadas.
Outra escolha referente ao vídeo foi a tecnologia de captação: em um primeiro
momento optei por uma câmera de celular, que grava em qualidade super baixa. A
escolha foi feita inconsciente, de repente me vi fazendo vídeos dos meus pés, das
minhas caminhadas e olhando mais para o chão – como disse no início do memorial.
Gostei do ângulo e o mantive. Para a segunda versão do projeto, que será
apresentada a vocês, optei por captar as imagens com uma câmera fotográfica
digital, dessas que também filmam. A escolha do ângulo teve influência direta na
escolha das tecnologias de captação, pois dificultaria filmar com uma câmera
12 O contato com a obra foi através da Revista Zupi #14, Agosto de 2009. Site do coletivo: http://www.izfotos.com/ 13 Letra disponível em: http://letras.terra.com.br/raul-seixas/90587/
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Estas são reflexões geradas por três fatores: primeiro, a minha observação do chão;
segundo, o trabalho “olha pro céu, meu filho, porque chão é lugar de cuspir” de
Marcio Isensee e Lucas Zappa, do coletivo iz12; terceiro, a música “De cabeça pra
baixo” escrita por Raul Seixas e Claudio Roberto 13 . Através disso, cheguei às
conclusões acima e decidi manter o chão como pano de fundo para as imagens.
Afinal, um dos temas abordados e talvez até o principal, é a transitoriedade do
mundo. E o chão relata muito bem isso, trazendo ainda a contradição da
sustentação. Será então que a transitoriedade é o que nos sustenta? É uma das
questões que podem ser levantadas.
Outra escolha referente ao vídeo foi a tecnologia de captação: em um primeiro
momento optei por uma câmera de celular, que grava em qualidade super baixa. A
escolha foi feita inconsciente, de repente me vi fazendo vídeos dos meus pés, das
minhas caminhadas e olhando mais para o chão – como disse no início do memorial.
Gostei do ângulo e o mantive. Para a segunda versão do projeto, que será
apresentada a vocês, optei por captar as imagens com uma câmera fotográfica
digital, dessas que também filmam. A escolha do ângulo teve influência direta na
escolha das tecnologias de captação, pois dificultaria filmar com uma câmera
12 O contato com a obra foi através da Revista Zupi #14, Agosto de 2009. Site do coletivo: http://www.izfotos.com/ 13 Letra disponível em: http://letras.terra.com.br/raul-seixas/90587/
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profissional, que possuem um tamanho maior do que um celular ou uma câmera
fotográfica, no ângulo requerido. Para fazer com uma câmera profissional eu
perderia também a liberdade de fazer a captação em diferentes lugares, como o fiz
em viagens, além de necessitar da ajuda de outras pessoas para autorizações e
outros trâmites que complicariam de forma desnecessária a execução da obra.
Portanto, os vídeos foram captados já no formato digital, o que também facilitou o
processo de edição.
Fiz a edição dos vídeos no meu computador pessoal novamente por uma questão
de facilidade e, principalmente, liberdade. A edição consistiu basicamente em
escolher os melhores trechos de acordo com a característica de cada número (1 a 9)
segundo a Numerologia. Para a primeira versão do programa foi retirado totalmente
o áudio de cada vídeo, o que foi mantido para esta versão. Uma mudança que
ocorreu foi referente ao tempo dos vídeos. Enquanto na versão 1.0 não havia um
tempo pré-estabelecido para a duração de cada um, na versão 2.0 foi definido o
tempo de 13 segundos para cada vídeo. Isso porque o áudio tem exatos 1 minuto e
31 segundos e como a seqüência final será a junção de 7 vídeos (cada um
correspondente a uma resposta do interator), chegou-se aos 13 segundos para que
os tempos dos vídeos se encaixassem perfeitamente com o tempo dos áudios. Não
foi fácil traduzir o significado de um número (ver parte da Numerologia) em apenas
13 segundos de imagem. Para isso, montei roteiros e fiz analogias. As analogias
28
feitas serão apresentadas a seguir.
5.3 Áudio como acaso necessário
Antes de gravar o áudio me questionei sobre quem iria fazer a leitura da poesia,
assim como o tom que ela deveria ter. Acabei optando por utilizar minha própria voz,
mas a dúvida sobre a entonação mais adequada continua pertinente.
Nas primeiras apresentações da obra, utilizei locuções feitas em casa na minha voz
aproveitando um momento de rouquidão, foi uma oportunidade de afastar um pouco
a obra de mim que veio a calhar naquele momento. O áudio era escolhido de modo
aleatório pelo programa, variando entre 5 opções disponíveis, e assim hora se
juntava ao vídeo um tom mais sério, hora um tom mais alegre, hora mais seco. Para
a versão 2.0, fiz novas gravações em estúdio, novamente com várias entonações.
Optei, desta vez por 4 opções de áudio, também com interpretações diferentes.
Mantive a aleatoriedade na escolha do áudio, mas mantive o padrão do tempo de 1
minuto e 31 segundos, o que incluiu momentos de silêncio em alguns casos,
propícios para as reflexões que o vídeo desperta.
5.4 Computador como suporte
Segundo Arlindo Machado, “A arte sempre foi produzida com os meios de seu
28
feitas serão apresentadas a seguir.
5.3 Áudio como acaso necessário
Antes de gravar o áudio me questionei sobre quem iria fazer a leitura da poesia,
assim como o tom que ela deveria ter. Acabei optando por utilizar minha própria voz,
mas a dúvida sobre a entonação mais adequada continua pertinente.
Nas primeiras apresentações da obra, utilizei locuções feitas em casa na minha voz
aproveitando um momento de rouquidão, foi uma oportunidade de afastar um pouco
a obra de mim que veio a calhar naquele momento. O áudio era escolhido de modo
aleatório pelo programa, variando entre 5 opções disponíveis, e assim hora se
juntava ao vídeo um tom mais sério, hora um tom mais alegre, hora mais seco. Para
a versão 2.0, fiz novas gravações em estúdio, novamente com várias entonações.
Optei, desta vez por 4 opções de áudio, também com interpretações diferentes.
Mantive a aleatoriedade na escolha do áudio, mas mantive o padrão do tempo de 1
minuto e 31 segundos, o que incluiu momentos de silêncio em alguns casos,
propícios para as reflexões que o vídeo desperta.
5.4 Computador como suporte
Segundo Arlindo Machado, “A arte sempre foi produzida com os meios de seu
29
tempo.” (MACHADO, 2008, p. 09). O autor relembra que Bach compôs fugas para
cravo por ser este o instrumento mais avançado da sua época. E Stockhausen optou
por compor texturas sonoras para sintetizadores eletrônicos porque já não fazia mais
sentido, naquela época, escrever peças para cravo. Outra associação que podemos
fazer é referente ao uso de tintas. As tintas se modificaram ao longo do tempo.
Foram melhorando a sua qualidade, textura, adquirindo uma infinidade de cores e
tons. Os pintores foram aderindo às novas tintas, mais modernas, nas suas pinturas,
assim como aderiram e inventaram novas técnicas.
“Por que, então, o artista de nosso tempo recusaria o vídeo, o computador, a
Internet, os programas de modelação, processamento e edição de imagem? Se
toda arte é feita com os meios de seu tempo, as artes midiáticas representam a
expressão mais avançada da criação artística atual e aquela que melhor exprime
sensibilidades e saberes do homem do início do terceiro milênio.” (MACHADO,
2008, p. 10)
A escolha do computador como principal suporte para a realização da obra foi
inevitável. Além de ser uma ferramenta atual, típica deste século, ele também
carrega a característica de ser único e, ao mesmo tempo, múltiplo, que permite a
união de vários meios, como conceitua Arlindo Machado:
“O computador carrega, portanto, essa contradição de aparecer como uma mídia
única, sintetizadora de todas as demais, e, ao mesmo tempo, um híbrido, onde
30
cada um dos meios (texto, foto, vídeo, gráfico, música) pode ser tratado e
experimentado separadamente.” (MACHADO, 2008, p. 73)
Utilizando o computador como meio de transmissão e meio de interface, integro nele
poesia, áudio, vídeo e espectador. São estes meios que se relacionam entre si na
obra. E a escolha destes, e não de outros, não foi ao acaso. O fato de já estar
familiarizada com estes meios individualmente na Comunicação acabou se refletindo
nesta minha aventura no campo da Arte. Após anos escrevendo, gravando e
editando texto, áudio e vídeo, à mão ou ao computador, para passar claramente
uma mensagem, é hora de tentar “algo assim como: „comunicação... sem
comunicação‟” (LYOTARD; apud PARENTE (org), 2008, p. 258)
Outro motivo pela escolha destas ferramentas tecnológicas é o fato de elas
atenderem ao objetivo proposto: promover a interatividade. Eu poderia utilizar aqui
outros tantos recursos muito mais modernos, mas optei pelos mais simples. Até
mesmo porque muitas pessoas já se sentem à vontade com um teclado e uma tela
de computador, pois lidam com estas interfaces freqüentemente em outras situações.
Sei que a escolha destes meios inclui riscos, como explica Arlindo Machado:
“Quem faz arte hoje, com os meios de hoje, está obrigatoriamente enfrentando a
todo momento a questão da mídia e do seu contexto, com seus constrangimentos
de ordem institucional e econômica, com seus imperativos de dispersão e
30
cada um dos meios (texto, foto, vídeo, gráfico, música) pode ser tratado e
experimentado separadamente.” (MACHADO, 2008, p. 73)
Utilizando o computador como meio de transmissão e meio de interface, integro nele
poesia, áudio, vídeo e espectador. São estes meios que se relacionam entre si na
obra. E a escolha destes, e não de outros, não foi ao acaso. O fato de já estar
familiarizada com estes meios individualmente na Comunicação acabou se refletindo
nesta minha aventura no campo da Arte. Após anos escrevendo, gravando e
editando texto, áudio e vídeo, à mão ou ao computador, para passar claramente
uma mensagem, é hora de tentar “algo assim como: „comunicação... sem
comunicação‟” (LYOTARD; apud PARENTE (org), 2008, p. 258)
Outro motivo pela escolha destas ferramentas tecnológicas é o fato de elas
atenderem ao objetivo proposto: promover a interatividade. Eu poderia utilizar aqui
outros tantos recursos muito mais modernos, mas optei pelos mais simples. Até
mesmo porque muitas pessoas já se sentem à vontade com um teclado e uma tela
de computador, pois lidam com estas interfaces freqüentemente em outras situações.
Sei que a escolha destes meios inclui riscos, como explica Arlindo Machado:
“Quem faz arte hoje, com os meios de hoje, está obrigatoriamente enfrentando a
todo momento a questão da mídia e do seu contexto, com seus constrangimentos
de ordem institucional e econômica, com seus imperativos de dispersão e
31
anonimato, bem como com seus atributos de alcance e influência.” (MACHADO,
2008, p. 29)
Como toda tentativa inclui conseqüências, ao fazer este projeto optei por me arriscar
em um novo mundo. O curso de Comunicação me ensinou muito e contribuiu para o
meu processo de expansão, me trouxe novas visões. Optei por terminar minha
graduação sem interromper com este processo, sem parar nesta caminhada
contínua de efusão e alegria. “Não é necessário renunciar ao passado ao entrar no
porvir. Ao trocar as coisas não é necessário perdê-las.” (CAGE, apud PLAZA, 2008,
p. 72). E se o futuro não é mais como era antigamente, é hora de tentar fazer tudo
novo de novo. Pelo menos um mundo novo.
5.5 Programa como meio viabilizador
Durante a elaboração do projeto, surgiu a idéia de que o vídeo não fosse só meu,
mas também, de alguma forma, das pessoas que fossem ver a obra. Incomodava-
me também a idéia de ter que reduzir tantas reflexões a somente um vídeo. Claro
que caberia tudo em um vídeo, mas seria apenas uma visão, um ângulo, enquanto
meu desejo era muito maior. A partir disso comecei a pensar em como essa
multiplicação poderia ocorrer.
Por questão de familiaridade e também de acesso, pensei em utilizar a interface de
32
um programa de computador. Porém, como eu não sei elaborar um programa, eis
que entrou o auxílio técnico de Rúbia Silveira de Almeida. Engenheira de
Computação de formação que atuou como programadora, ela gentilmente aderiu à
idéia e elaborou o programa utilizado na obra. O programa em si é simples, é
praticamente um formulário digitalizado, como mostra a imagem abaixo.
32
um programa de computador. Porém, como eu não sei elaborar um programa, eis
que entrou o auxílio técnico de Rúbia Silveira de Almeida. Engenheira de
Computação de formação que atuou como programadora, ela gentilmente aderiu à
idéia e elaborou o programa utilizado na obra. O programa em si é simples, é
praticamente um formulário digitalizado, como mostra a imagem abaixo.
33
Figura 1 – Imagem do programa onde as pessoas vão responder a perguntas.
34
Fazer um formulário destes é tecnicamente simples, mas transformá-lo em vídeo
não foi assim tão fácil. A primeira tradução que o programa faz é transformar as
letras em números de acordo com a lógica da Numerologia. Ou seja, colocamos
condicionantes para que tudo fosse feito segundo o que determina a ciência oculta
dos números. Isso até que foi tranqüilo, a parte mais complexa foi pegar cada vídeo
correspondente a cada resposta e renderizá-los para formar uma seqüência única.
Ah, e ainda tinha que colocar o áudio da poesia aí no meio! Ainda que seja possível
prever as milhares de possibilidades de seqüências finais do vídeo, editar cada uma
delas geraria um trabalho excessivamente desgastante e que hoje inviabilizaria a
realização da vídeo-instalação em uma estrutura tão reduzida como a que
proponho 14 . Por isso, optou-se por um tipo de programa que renderizasse
automaticamente os vídeos e juntasse o áudio pré-determinado.
[Informações técnicas: a biblioteca de vídeo encontrada, ou seja: o recurso que
permite a renderização dos vídeos, era para ambiente .NET15 e permitia a aplicação
em duas linguagens, C# e linguagem VB. Por ter uma maior gama de recursos e
opções, optou-se pela C# . NET16.]
Os ajustes no programa e na estrutura da vídeo-instalação foram feitos em decisões 14 Mais detalhes sobre esta estrutura a seguir. 15 Mais sobre a biblioteca utilizada em http://directshownet.sourceforge.net/about.html 16 Mais sobre esta linguagem de programação em http://pt.wikipedia.org/wiki/C%E2%99%AF
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Fazer um formulário destes é tecnicamente simples, mas transformá-lo em vídeo
não foi assim tão fácil. A primeira tradução que o programa faz é transformar as
letras em números de acordo com a lógica da Numerologia. Ou seja, colocamos
condicionantes para que tudo fosse feito segundo o que determina a ciência oculta
dos números. Isso até que foi tranqüilo, a parte mais complexa foi pegar cada vídeo
correspondente a cada resposta e renderizá-los para formar uma seqüência única.
Ah, e ainda tinha que colocar o áudio da poesia aí no meio! Ainda que seja possível
prever as milhares de possibilidades de seqüências finais do vídeo, editar cada uma
delas geraria um trabalho excessivamente desgastante e que hoje inviabilizaria a
realização da vídeo-instalação em uma estrutura tão reduzida como a que
proponho 14 . Por isso, optou-se por um tipo de programa que renderizasse
automaticamente os vídeos e juntasse o áudio pré-determinado.
[Informações técnicas: a biblioteca de vídeo encontrada, ou seja: o recurso que
permite a renderização dos vídeos, era para ambiente .NET15 e permitia a aplicação
em duas linguagens, C# e linguagem VB. Por ter uma maior gama de recursos e
opções, optou-se pela C# . NET16.]
Os ajustes no programa e na estrutura da vídeo-instalação foram feitos em decisões 14 Mais detalhes sobre esta estrutura a seguir. 15 Mais sobre a biblioteca utilizada em http://directshownet.sourceforge.net/about.html 16 Mais sobre esta linguagem de programação em http://pt.wikipedia.org/wiki/C%E2%99%AF
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conjuntas entre eu e a Rúbia. A meu ver, não é só a idéia do artista que faz a obra,
mas também quem a executa. Ambos são artistas, e por isso divido os méritos deste
projeto com Rúbia Silveira de Almeida.
Roy Ascott (apud ARANTES, 2005, p. 52) defende que as artes em mídias digitais
são essencialmente híbridas não somente pela atuação conjunta do artista com
outros profissionais, como engenheiros, mas também porque o artista propõe uma
obra de arte que se desenvolve em tempo real a partir das intervenções do interator.
Utilizei as tecnologias que fazem parte do meu dia-dia, que são hoje de fácil acesso
e manipulação para mim. Reconheço, assim, que não há nada super inovador na
tecnologia empregada nesta obra, e é importante que fique claro que este não é
meu objetivo aqui. É apenas mais uma tentativa de refletir sobre os processos que
envolvem a tecnologia, a sociedade, e, principalmente, a influência deles sobre a
forma como nos relacionamos com o tempo.
5.6 Números como pano de fundo
A inter-relação entre meios na obra se faz através dos números. Seja pelas imagens,
que ao serem capturadas em formato digital se transformam em pixels, ou seja, em
números; seja pelas letras transformadas em números e em logo depois traduzidas
em imagens. É como um caleidoscópio circular, onde se acrescentam alguns
36
elementos a cada movimento, mas sempre tem um ímã que o faz congruir para
formar as imagens. O ímã aqui são os números, são eles que fazem o elo entre
cada elemento da obra. Seja na forma técnica, seja na forma subliminar.
Perceber que o que une, o que dá a liga, à obra são os números foi um processo
difícil para mim. Sempre fui condicionada a pensar em letras, em palavras, em texto.
Meu raciocínio se conclui quando eu escrevo. Antagonicamente, é difícil, para mim,
pensar em números, chego ao ponto de confiar no vendedor na hora do troco
cegamente porque até eu fazer a conta do troco... Mas de repente me vi emergida
em meio a números por todos os lados. A gente não tem idéia do quanto nossa vida
é guiada por números – e eu menos ainda. Admitir que são os números que
dominam a obra é quase como se os brasileiros admitissem que os argentinos são
melhores no futebol do que a gente. Dói. Doeu. Demorei para perceber que a minha
falta de afinidade com os números se dava porque eu só os via sob o viés da dureza
dos cálculos matemáticos ou porque não entendia a mensagem que os números, os
cálculos, as fórmulas, tentavam me passar. Desses caminhos que o processo de
criação da obra me levou, descobri a sensibilidade dos números. Seja porque a
captação de imagens na natureza binária é bem mais fácil do que na natureza
filmográfica – assim digamos; seja porque percebi que os números podem dizer
muito quando estudamos a história de cada um e percebemos o tanto de
significados (coincidentes ou nem tanto) que eles carregam e dizem sem a gente
36
elementos a cada movimento, mas sempre tem um ímã que o faz congruir para
formar as imagens. O ímã aqui são os números, são eles que fazem o elo entre
cada elemento da obra. Seja na forma técnica, seja na forma subliminar.
Perceber que o que une, o que dá a liga, à obra são os números foi um processo
difícil para mim. Sempre fui condicionada a pensar em letras, em palavras, em texto.
Meu raciocínio se conclui quando eu escrevo. Antagonicamente, é difícil, para mim,
pensar em números, chego ao ponto de confiar no vendedor na hora do troco
cegamente porque até eu fazer a conta do troco... Mas de repente me vi emergida
em meio a números por todos os lados. A gente não tem idéia do quanto nossa vida
é guiada por números – e eu menos ainda. Admitir que são os números que
dominam a obra é quase como se os brasileiros admitissem que os argentinos são
melhores no futebol do que a gente. Dói. Doeu. Demorei para perceber que a minha
falta de afinidade com os números se dava porque eu só os via sob o viés da dureza
dos cálculos matemáticos ou porque não entendia a mensagem que os números, os
cálculos, as fórmulas, tentavam me passar. Desses caminhos que o processo de
criação da obra me levou, descobri a sensibilidade dos números. Seja porque a
captação de imagens na natureza binária é bem mais fácil do que na natureza
filmográfica – assim digamos; seja porque percebi que os números podem dizer
muito quando estudamos a história de cada um e percebemos o tanto de
significados (coincidentes ou nem tanto) que eles carregam e dizem sem a gente
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perceber.
A relação com os números foi intensa e desgastante. Não queria uma obra dura.
Precisei encontrar a sensibilidade dos números para conseguir me comunicar
através deles. O mais fácil seria eu me render ao código binário. Com uma lógica
simples, tudo seria resolvido rapidamente. Mas queria um contraponto, ir além do 0
e do 1, e eis que me esbarrei com a Numerologia. Os estudos da Numerologia
mostram significados interessantes dos números – e eu não me refiro aqui à parte
mística desta ciência oculta, mas sim à parte histórica e perceptiva. Exemplo:
visualmente você consegue contar de 1 a 6, depois de 7 você só vê que são muitos
(BANZHAF, 2009, p. 72). Faça o teste. Se você experimentou a vídeo-instalação
antes, logo deve ter pensado “para quê tantas perguntas?”, mas não eram tantas,
eram apenas 7 – e você achou que fossem muitas. Viu só?, são os números te
dizendo para além das contas. Há outros exemplos na mesma linha que a história
de cada número nos revela. Mas não foi só a parte histórica que me atraiu, claro, a
sensibilidade da Numerologia trouxe à obra o toque místico que eu procurava. Afinal,
se é para reunir vários elementos, o oculto não pode ficar de fora.
5.7 Numerologia como tradutora
Muitos me questionaram sobre o uso da Numerologia em um trabalho acadêmico,
38
mas, honestamente, não vejo nada de errado. Ainda que neste caso não seja uma
experiência científica, há quem pense que academia e religião não deve se misturar,
quiçá ciência. A discussão é antiga, mas vou resumi-la com uma frase famosa
atribuída a Albert Einstein: “Ciência sem religião é paralítica. Religião sem ciência é
cega”.
A Numerologia é vista hoje como uma ciência oculta. “Ciências ocultas” é um ou
mais conjunto de teorias e práticas que não utiliza as metodologias científicas e
busca desvendar os segredos da natureza, do Universo e da Humanidade 17 .
Segundo Costa Ribeiro (1999), a Numerologia é uma ciência oculta, porque os
números, que são seus símbolos, ocultam muitos significados. Ela esclarece ainda
que o mesmo ocorre com a Astrologia, com seus símbolos planetários e signos, e o
Tarot com suas imagens pictóricas, entre outras tantas ciências ocultas (RIBEIRO,
1999, p. 6).
A autora destaca ainda que nas ciências ocultas, por vezes o oculto está ligado a
uma não-capacitação da explicação racional, científica, comprovada tecnicamente
com a clareza de certos instrumentos concretos. Por isso, ela mesma frisa a
importância do ser humano se compreender por inteiro, seja no racional, como no
emotivo; no visível, como no invisível; e assim por diante.
17 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocultismo , consultado em 27/12/2010
38
mas, honestamente, não vejo nada de errado. Ainda que neste caso não seja uma
experiência científica, há quem pense que academia e religião não deve se misturar,
quiçá ciência. A discussão é antiga, mas vou resumi-la com uma frase famosa
atribuída a Albert Einstein: “Ciência sem religião é paralítica. Religião sem ciência é
cega”.
A Numerologia é vista hoje como uma ciência oculta. “Ciências ocultas” é um ou
mais conjunto de teorias e práticas que não utiliza as metodologias científicas e
busca desvendar os segredos da natureza, do Universo e da Humanidade 17 .
Segundo Costa Ribeiro (1999), a Numerologia é uma ciência oculta, porque os
números, que são seus símbolos, ocultam muitos significados. Ela esclarece ainda
que o mesmo ocorre com a Astrologia, com seus símbolos planetários e signos, e o
Tarot com suas imagens pictóricas, entre outras tantas ciências ocultas (RIBEIRO,
1999, p. 6).
A autora destaca ainda que nas ciências ocultas, por vezes o oculto está ligado a
uma não-capacitação da explicação racional, científica, comprovada tecnicamente
com a clareza de certos instrumentos concretos. Por isso, ela mesma frisa a
importância do ser humano se compreender por inteiro, seja no racional, como no
emotivo; no visível, como no invisível; e assim por diante.
17 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ocultismo , consultado em 27/12/2010
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Falando um pouco da história da Numerologia, apenas para contextualizar de onde
vem esses significados, não se sabe ao certo a origem dela, sabe-se apenas que
esta ciência oculta vem sendo relatada há milhares de anos. Antigos gregos,
romanos, egípcios e chineses utilizaram da Numerologia. Além disso, ela se mistura
com outras ciências ocultas, como o Cabala, o Tarot e a Astrologia.
Seu grande mestre é Pitágoras. Ainda que não se tenha nenhum registro deixado
por ele, pois para ele o conhecimento tinha de ser memorizado e não decorado, a
ponto dele não permitir que se fizessem anotações durante as aulas que dava a
seus seletos alunos18, muito do que ele ensinou foi repassado através dos anos, de
pessoa para pessoa oralmente, até chegar a grandes filósofos, como Platão, que
utilizou os ensinamentos de Pitágoras em seu livro A Replública19 .
A escolha da Numerologia foi inicialmente motivada por ser ela quem se adéqua
melhor à minha necessidade de traduzir palavras em números a fim de facilitar o
processo, porém, conforme fui estudando e me aproximando desta ciência, percebi
que a Numerologia não é formada apenas de previsões. Ao contrário do que é
comumente associada, comercializada e utilizada editorialmente – seja em
reportagens de final de ano, seja em livros de numerólogos famosos – a 18 Segundo Ribeiro, “as aulas [de Pitágoras] eram todas memorizadas, não podiam ser anotadas [...], e assim os alunos eram treinados e selecionados pela habilidade de atenção e percepção” (RIBEIRO,1999, p. 16). 19 Fonte: RIBEIRO, 1999, p. 18
40
Numerologia tem um foco muito maior na essência da pessoa do que na previsão do
seu futuro. Por exemplo, o número mais importante de um mapa numerológico é o
número do Destino, que corresponde à soma dos algarismos da sua data de
nascimento completa. Ainda que o nome indique uma previsão, para a Numerologia,
o Destino – assim, com “D” maiúsculo para diferenciar de “destino”20– indica aquilo
que a pessoa realmente é, o foco de sua existência.
A Numerologia busca mostrar as características que as pessoas carregam a fim de
que elas se conheçam melhor e, a partir deste conhecimento, consigam promover o
positivo e se afastarem do negativo de cada característica, alcançando assim uma
vida mais harmoniosa e mais bem sucedida. É isso que a Numerologia busca. E não
um simples adivinhamento ou previsão.
Este olhar para o auto-conhecimento traz à obra um aspecto de espelho. Ao
converter as respostas das pessoas em números e traduzí-las utilizando a
Numerologia, busco mostrar a elas os passos que estas respostas indicam que elas
dão no seu dia-dia. E a partir dessa "amostragem" - assim digamos, gerar uma
reflexão sobre como sua caminhada está sendo conduzida. Esta inclinação da
Numerologia para o auto-conhecimento, me fez ter a certeza de que eu fiz a escolha
20 Segundo Ribeiro, o Destino na Numerologia é escrito com letra maiúscula para se diferenciar do “destino” usado no cotidiano. (RIBEIRO, 1999, p. 109)
40
Numerologia tem um foco muito maior na essência da pessoa do que na previsão do
seu futuro. Por exemplo, o número mais importante de um mapa numerológico é o
número do Destino, que corresponde à soma dos algarismos da sua data de
nascimento completa. Ainda que o nome indique uma previsão, para a Numerologia,
o Destino – assim, com “D” maiúsculo para diferenciar de “destino”20– indica aquilo
que a pessoa realmente é, o foco de sua existência.
A Numerologia busca mostrar as características que as pessoas carregam a fim de
que elas se conheçam melhor e, a partir deste conhecimento, consigam promover o
positivo e se afastarem do negativo de cada característica, alcançando assim uma
vida mais harmoniosa e mais bem sucedida. É isso que a Numerologia busca. E não
um simples adivinhamento ou previsão.
Este olhar para o auto-conhecimento traz à obra um aspecto de espelho. Ao
converter as respostas das pessoas em números e traduzí-las utilizando a
Numerologia, busco mostrar a elas os passos que estas respostas indicam que elas
dão no seu dia-dia. E a partir dessa "amostragem" - assim digamos, gerar uma
reflexão sobre como sua caminhada está sendo conduzida. Esta inclinação da
Numerologia para o auto-conhecimento, me fez ter a certeza de que eu fiz a escolha
20 Segundo Ribeiro, o Destino na Numerologia é escrito com letra maiúscula para se diferenciar do “destino” usado no cotidiano. (RIBEIRO, 1999, p. 109)
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certa. Escolha porque há outras ciências que também trabalham com a tradução de
letras em números, como a Cabala. Inclusive existem várias tabelas para guiar essa
tradução, como a Tabela dos Caldeus, Tabela da Cabala e Tabela do Tarô
Numerológico. Entre tantas opções, optei pela Tabela de Pitágoras. Como explica
Ribeiro (1999), a Tabela de Pitágoras é a mais comum, mais fácil, mais popular e
mais moderna para este tipo de tradução.
"[A Tabela de Pitágoras] Tem sentido prático e objetivo, de desenvolvimento
pessoal. Conscientiza a pessoa no mundo, portanto potencializa seu efeito no
mundo externo, mas com envolvimento no mundo interno.” (RIBEIRO, 1999, p. 23)
Figura 2 – Tabela Pitagórica Valores das Letras
Além da escolha pela Tabela de Pitágoras, optei também por considerar apenas os
42
números de 1 a 9. A escolha foi feita por sua relevância, são estes os números
principais para a Numerologia. Números como 11, 22, 33 e outros, carregam
significados muito específicos ao seu contexto, o que poderia confundir e atrapalhar
na identificação entre interator e seqüência de vídeo.
Na Numerologia, cada número carrega características neutras, positivas e negativas.
De acordo com diversas associações e análises feitas durante a elaboração do
mapa numerológico, além do diálogo com a pessoa analisada, percebe-se qual
característica está mais sobressalente daquele número em cada situação específica.
Uma pessoa pode aproveitar tanto as características positivas como as negativas,
tudo vai depender de como ela vai se desenvolver na sua vida.
Por se tratar de uma análise mais superficial, sem um aprofundamento nas
características do interator, os vídeos que representam cada número de 1 a 9 foram
baseados nas idéias neutras de cada algarismo. Assim, obtenho uma característica
genérica da resposta da pessoa. É uma forma de identificação entre interator,
resposta e vídeo.
Para guiar as gravações dos vídeos, elaborei uma lista simples com as principais
características de cada número. A partir desta lista, fiz os roteiros de cada vídeo.
42
números de 1 a 9. A escolha foi feita por sua relevância, são estes os números
principais para a Numerologia. Números como 11, 22, 33 e outros, carregam
significados muito específicos ao seu contexto, o que poderia confundir e atrapalhar
na identificação entre interator e seqüência de vídeo.
Na Numerologia, cada número carrega características neutras, positivas e negativas.
De acordo com diversas associações e análises feitas durante a elaboração do
mapa numerológico, além do diálogo com a pessoa analisada, percebe-se qual
característica está mais sobressalente daquele número em cada situação específica.
Uma pessoa pode aproveitar tanto as características positivas como as negativas,
tudo vai depender de como ela vai se desenvolver na sua vida.
Por se tratar de uma análise mais superficial, sem um aprofundamento nas
características do interator, os vídeos que representam cada número de 1 a 9 foram
baseados nas idéias neutras de cada algarismo. Assim, obtenho uma característica
genérica da resposta da pessoa. É uma forma de identificação entre interator,
resposta e vídeo.
Para guiar as gravações dos vídeos, elaborei uma lista simples com as principais
características de cada número. A partir desta lista, fiz os roteiros de cada vídeo.
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Segue a lista com os números e seus respectivos significados abaixo21:
1 → É o impulso criador a iniciativa, a força consciente, participação ativa, maestria.
É a máxima "eu alcanço o que quero".
2 → Simboliza o outro, a alternativa desejável, o pólo oposto que atrai, a liberdade
de decisão, mas também a ambivalência, a dúvida, o antagonismo, a indecisão. É o
lema "eu recebo".
3 → Tradicionalmente é o número divino, da trindade santa, é o novo ("tudo o que é
novo sempre surge como o terceiro elemento da unificação dos opostos"); é a
esperança, o sorriso, a criatividade, a natureza. É o lema "eu gero".
4 → É o símbolo da realidade terrena, é também o símbolo da nossa ordem de
tempo e espaço; é considerado o número do poder, é o concretizador, o que coloca
em prática (terra) os desejos (água), as idéias (ar) e as intenções (fogo), tornando-as
realidade. Representa ordem e continuidade. Lema: "eu concretizo".
5 → É o sentido22 da realidade; representa a essência, o significado e o sentido que
estão ocultos na criação; é o símbolo da perfeição. Lema: "eu creio".
21 Fontes: BANZHAF, 2006; e RIBEIRO, 1999. 22 É interessante observar que a palavra "sentido" significa "direção" em várias línguas. (BANZHAF, 2006, p. 58)
44
6 → É a unificação dos opostos, simboliza a união do divino com o terreno, é um
movimento que sai de si e gera algo a partir de si mesmo. Lema: “eu amo”.
7 → É o número da plenitude, da perfeição, significa o todo ou simplesmente muito23.
Lema: eu ouso. Máxima: eu me alegro pelo novo que virá. É a pessoa que sabe
onde quer chegar.
8 → É o número do equilíbrio, da justiça, da renovação. Ele é a fronteira, o elo, o
intermediário para uma esfera ou um mundo melhor, maior ou mais elevado. É o
recomeço, é o tempo e a eternidade juntos (infinito), é liberdade, é o despertar da
consciência, é o equilíbrio. Lema: eu assumo a responsabilidade.
9 → É o número da iniciação e do recolhimento antes de se dar um passo para o
novo, é um caminho de fora para dentro, é um numero de preparação, simboliza o
tempo de concentração antes de darmos um passo definitivo. O recolhimento é para
se auto-conhecer melhor. Tem também o significado da solidão, do isolamento,
mesmo perto de outras pessoas. É um guia da seqüência certa dos passos a serem
tomados. Lema: eu vou ao fundo das coisas.
5.8 Vídeo-instalação como dinâmica
23 Como já foi dito, percebemos até 6 flores só de olhar, a partir de 7 sabemos simplesmente que são muitas. (BANZHAF, 2006, p. 72)
44
6 → É a unificação dos opostos, simboliza a união do divino com o terreno, é um
movimento que sai de si e gera algo a partir de si mesmo. Lema: “eu amo”.
7 → É o número da plenitude, da perfeição, significa o todo ou simplesmente muito23.
Lema: eu ouso. Máxima: eu me alegro pelo novo que virá. É a pessoa que sabe
onde quer chegar.
8 → É o número do equilíbrio, da justiça, da renovação. Ele é a fronteira, o elo, o
intermediário para uma esfera ou um mundo melhor, maior ou mais elevado. É o
recomeço, é o tempo e a eternidade juntos (infinito), é liberdade, é o despertar da
consciência, é o equilíbrio. Lema: eu assumo a responsabilidade.
9 → É o número da iniciação e do recolhimento antes de se dar um passo para o
novo, é um caminho de fora para dentro, é um numero de preparação, simboliza o
tempo de concentração antes de darmos um passo definitivo. O recolhimento é para
se auto-conhecer melhor. Tem também o significado da solidão, do isolamento,
mesmo perto de outras pessoas. É um guia da seqüência certa dos passos a serem
tomados. Lema: eu vou ao fundo das coisas.
5.8 Vídeo-instalação como dinâmica
23 Como já foi dito, percebemos até 6 flores só de olhar, a partir de 7 sabemos simplesmente que são muitas. (BANZHAF, 2006, p. 72)
45
Unindo cada um dos elementos descritos acima, temos a vídeo-instalação interativa
“Pra onde vai o que fica pra trás?”. Não imaginava que uma poesia feita com a única
pretensão de desabafar pudesse gerar tudo isso, mas dada a multiplicidade das
reflexões despertadas, vejo como natural chegar a um suporte tão amplo como este.
O fato de este trabalho ser uma vídeo-instalação é uma conseqüência e não um
objetivo. Foi algo que simplesmente gerou-se através de combinações entre os
vários suportes.
Utilizo a dinâmica parecida com a de uma vídeo-instalação, em que a pessoa entra
em uma sala escura, onde um vídeo é projetado. A diferença é que desta vez, além
da projeção de um vídeo, tem um computador no meio da sala. O computador, que
pode ser tanto um notebook ou um desktop, serve aqui para intermediar a interação
do espectador e a obra. Neste momento da interação, ele se torna interator e
também autor da obra. Incluir a participação para gerar a reflexão em cada um e
cada um gerar uma nova obra.
Portanto, só é possível chamar de “obra” a totalidade da relação traçada entre a
instalação de equipamentos condicionados à realização da obra, o espaço em que
ela se insere e o espectador, que não está do lado de fora da obra, mas sim dentro
dela, sem o qual nada se realiza.
“De fato, se fosse possível resumir em uma só palavra a condição da cultura
46
digital, não poderíamos fugir da palavra hibridez. Sob o signo da
interconexão, da inter-relação entre homens em escala planetária, da
obsessão pela interatividade, da interconexão entre mídias, informações e
imagens dos mais variados gêneros, a cultura da atualidade vai se
desenhando como um grande caleidoscópio.” (ARANTES, 2005, p.52)
O desenho abaixo ilustra como pretende ser a instalação da obra em dois cenários,
o cenário perfeito de uma sala para exposição individual (Figura 3) e o cenário no
contexto de uma exposição coletiva (Figura 4).
Figura 3 – Simulação de uma exposição individual
46
digital, não poderíamos fugir da palavra hibridez. Sob o signo da
interconexão, da inter-relação entre homens em escala planetária, da
obsessão pela interatividade, da interconexão entre mídias, informações e
imagens dos mais variados gêneros, a cultura da atualidade vai se
desenhando como um grande caleidoscópio.” (ARANTES, 2005, p.52)
O desenho abaixo ilustra como pretende ser a instalação da obra em dois cenários,
o cenário perfeito de uma sala para exposição individual (Figura 3) e o cenário no
contexto de uma exposição coletiva (Figura 4).
Figura 3 – Simulação de uma exposição individual
47
Figura 4 – Simulação de uma exposição coletiva
Figura 5 – Simulação da exposição no prédio de Multimeios do curso de
48
Comunicação Social.
Ou seja, em resumo, utilizarei os seguintes recursos:
• Sala com iluminação voltada para projeção do vídeo;
• Sistema de projeção e áudio para a exibição do vídeo;
• Computador para que as pessoas possam interagir;
• Fone de ouvido para que a pessoa ouça o áudio do vídeo
gerado por ela;
• Uma pessoa para monitorar e orientar a interação do espectador
com a obra.
5.9 Interator como resposta
Uma obra aberta a modificações e contribuições do usuário, é uma obra cuja
textualidade não pode ser considerara um sistema fechado de signos, ela é uma
ação em devir. E mesmo que a interação do usuário seja limitada a algumas
possibilidades, não há como prever o resultado.
48
Comunicação Social.
Ou seja, em resumo, utilizarei os seguintes recursos:
• Sala com iluminação voltada para projeção do vídeo;
• Sistema de projeção e áudio para a exibição do vídeo;
• Computador para que as pessoas possam interagir;
• Fone de ouvido para que a pessoa ouça o áudio do vídeo
gerado por ela;
• Uma pessoa para monitorar e orientar a interação do espectador
com a obra.
5.9 Interator como resposta
Uma obra aberta a modificações e contribuições do usuário, é uma obra cuja
textualidade não pode ser considerara um sistema fechado de signos, ela é uma
ação em devir. E mesmo que a interação do usuário seja limitada a algumas
possibilidades, não há como prever o resultado.
49
“[...] o usuário interage com o sistema segundo possibilidades que são pré-
ordenadas e definidas; o resultado da interação, porém, não é totalmente
previsível.” (BETTETINI, 2008, p. 70)
Isto ocorre na vídeo-instalação “Pra onde vai o que fica pra trás?”. Há uma
possibilidade limitada de interação com o usuário, porém o resultado é sempre
inesperado. Pode, inclusive, dar “erro”, quando a atitude é tão inesperada que o
programa simplesmente não sabe como reagir e trava. E tudo deve ser considerado.
Bettetini complementa:
“Poderemos dizer, então, que, à diferença dos textos audiovisuais tradicionais, o
projeto do enunciador – que neste caso coincide com as potencialidades do
sistema – é apenas condição necessária, mas não suficiente para a realização do
projeto. Estas novas tecnologias jogam com a dialética entre as possibilidades
oferecidas pelo sistema e a integração criativa do usuário.” (BETTETINI, 2008, p.
71)
Sem a interação do espectador não há obra, não há seqüência de vídeo, não há
nada. Estou ciente do risco que corro em deixar a efetivação da obra na mão do
espectador, mas não vejo a vida sem este risco, pois a toda hora confiamos a nossa
vida nas mãos de alguém – seja do motorista do ônibus, do piloto de avião, ou de
quem anda ao nosso lado no trânsito – , é necessário confiar nas pessoas para se
conseguir manter de pé e caminhar. E se a nossa caminhada não vai para o lado
50
que queremos, será que estamos dando a mão às pessoas certas ou será que não
estamos mais confiando nas pessoas? Confio a finalização do trabalho de um ano
ao interator, na torcida de que ele faça bom proveito e me guie para caminhos
diferentes a cada palavra.
5.10 Estética como sensibilidade
Como este projeto carrega muitas características estéticas, me atrevo a falar um
pouco sobre o assunto, apenas comentando leituras que fiz a respeito e que servem
para delinear a estética envolvida na obra “Pra onde vai o que fica pra trás?”.
Por ser uma obra que busca resgatar a sensibilidade das pessoas em meio a tanta
correria, é válido o resgate também do conceito estético, da origem da palavra, que
deriva do grego aisthesis, e que, por sua vez, traz como significado “aquilo que é
sensível e deriva dos sentidos” (ARANTES, 2005, p. 155).
Outro conceito estético interessante, ainda que o conheça somente superficialmente
através de breves citações em livros utilizados na bibliografia, é o de Kant, que diz
que o objeto estético é definido muito mais pelo sentimento por ele causado no
sujeito que o percebe do que por suas qualidades intrínsecas.
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que queremos, será que estamos dando a mão às pessoas certas ou será que não
estamos mais confiando nas pessoas? Confio a finalização do trabalho de um ano
ao interator, na torcida de que ele faça bom proveito e me guie para caminhos
diferentes a cada palavra.
5.10 Estética como sensibilidade
Como este projeto carrega muitas características estéticas, me atrevo a falar um
pouco sobre o assunto, apenas comentando leituras que fiz a respeito e que servem
para delinear a estética envolvida na obra “Pra onde vai o que fica pra trás?”.
Por ser uma obra que busca resgatar a sensibilidade das pessoas em meio a tanta
correria, é válido o resgate também do conceito estético, da origem da palavra, que
deriva do grego aisthesis, e que, por sua vez, traz como significado “aquilo que é
sensível e deriva dos sentidos” (ARANTES, 2005, p. 155).
Outro conceito estético interessante, ainda que o conheça somente superficialmente
através de breves citações em livros utilizados na bibliografia, é o de Kant, que diz
que o objeto estético é definido muito mais pelo sentimento por ele causado no
sujeito que o percebe do que por suas qualidades intrínsecas.
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Arantes explica que
“Com a expansão das práticas artísticas em mídias digitais, principalmente após a
década de 1990, tem havido um interesse crescente por parte dos teóricos no
desenvolvimento de novos conceitos estéticos que possam expressar as
especificidades da cultura digital. É possível perceber que, se existe algo em
comum entre todos esses discursos, é o caráter fluido, parafraseando Marcos
Novak, da estética digital. Isso quer dizer que, em vez de implicar um único
conceito, a estética contemporânea tem sido analisada sob diversos pontos de
vista, que, em uma espécie de caleidoscópio, parecem entrecruzar-se, formando
uma grande rede conceitual.” (ARANTES, 2005, p. 168 e 169)
Segundo Arlindo Machado (2008), uma escritura múltipla como a proposta aqui, em
que texto, vozes, ruídos e imagens simultâneas se combinam e se entrechocam
para compor a obra, constitui aquilo que se convencionou chamar de uma estética
da saturação, do excesso e também da instabilidade.
Esta multiplicidade, por sua vez, leva a um outro conceito já famoso na estética: o
barroco. O estilo consagrado por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, agora vem
em nova versão, denominada de “segundo barroco” ou “neobarroco”. Definida como
uma
“tendência geral da arte e dos meios contemporâneos caracterizada pela recusa
das formas unitárias e sistemáticas e pela aceitação deliberada da
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pluridimencionalidade, da instabilidade e da mutabilidade como categorias
produtivas no universo da cultura.” (MACHADO, 2008, p. 75)
Estudiosos como Severo Sarduy, afirmam que o barroco
“está sempre associado a momentos de crises epistemológicas, quando valores
perenes – principalmente no campo da astrofísica – em que se baseavam os
sistemas políticos, as crenças e as religiões são abalados por novas descobertas,
como a não-centralidade da Terra no sistema solar, a relatividade do tempo e do
espaço ou da efemeridade do universo. O barroco é expressão de momentos em
que falta à humanidade solo firme para pisar.” (SARDUY, apud MACHADO, 2008,
p. 75)
Finalizo esta breve conceituação com o pensamento de Vattimo (VATTIMO, apud
ARANTES, 2005, p.164). Para ele, a estética se propaga de tal maneira que
ultrapassa as fronteiras da arte tradicional e se confunde com a própria experiência
da vida cotidiana.
6. Sentido que virá: invente um novo resultado
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pluridimencionalidade, da instabilidade e da mutabilidade como categorias
produtivas no universo da cultura.” (MACHADO, 2008, p. 75)
Estudiosos como Severo Sarduy, afirmam que o barroco
“está sempre associado a momentos de crises epistemológicas, quando valores
perenes – principalmente no campo da astrofísica – em que se baseavam os
sistemas políticos, as crenças e as religiões são abalados por novas descobertas,
como a não-centralidade da Terra no sistema solar, a relatividade do tempo e do
espaço ou da efemeridade do universo. O barroco é expressão de momentos em
que falta à humanidade solo firme para pisar.” (SARDUY, apud MACHADO, 2008,
p. 75)
Finalizo esta breve conceituação com o pensamento de Vattimo (VATTIMO, apud
ARANTES, 2005, p.164). Para ele, a estética se propaga de tal maneira que
ultrapassa as fronteiras da arte tradicional e se confunde com a própria experiência
da vida cotidiana.
6. Sentido que virá: invente um novo resultado
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Este projeto aborda direta e indiretamente diversos temas contemporâneos. São
temas sobre o tempo, a sociedade, as imagens técnicas, a estética, a arte
contemporânea, o capitalismo, as novas tecnologias, análise do uso destas
tecnologias, a poesia, o texto, a linguagem, a comunicação, a numerologia, as
correntes escolhidas, as mensagens subliminares das imagens, do texto e do áudio,
etc.
"Pra onde vai o que fica pra trás?" me pegou de surpresa e ecoa em minha vida há
alguns anos. Ainda não entendi tudo o que esta obra quer me dizer, mas mesmo
assim tento repassar algo que entendi para o mundo. Mais do que tudo, este projeto
é um grito e uma pausa. Um grito que mesmo depois que é escutado, fica
martelando na cabeça, uma palavra aqui, outra ali. Uma pausa, aquele instante
necessário pra vir uma nova idéia, pra surgir uma lembrança, pra lembrar da vida.
Deixo a obra aberta, com todas as suas sugestões e não-respostas, com muitos
questionamentos não-resolvidos, com muitas análises não-feitas, para que outras
pessoas possam complementar e agregar a este grito, a esta pausa, a este caminho.
"Pra onde vai o que fica pra trás?", por mais que tente falar do passado, é um projeto
pro futuro, é pra todos os lados. Cabe ao receptor, da obra ou deste memorial,
escolher qual lado seguir. Seja qual for, posso ir contigo?
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7. Sentidos anexos: deixe pedaços de fora
7.1 Poesia
Pra onde vai o que fica pra trás?
vá, ande, caminhe. olhe pro céu, olhe pro chão, contraste, estranhe. caminhe! caminho se faz and ando.
mas pára! olhe por onde. entendimento se faz olh ando.
mas pára! feche os olhos. veja. pensamento se faz ima
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7. Sentidos anexos: deixe pedaços de fora
7.1 Poesia
Pra onde vai o que fica pra trás?
vá, ande, caminhe. olhe pro céu, olhe pro chão, contraste, estranhe. caminhe! caminho se faz and ando.
mas pára! olhe por onde. entendimento se faz olh ando.
mas pára! feche os olhos. veja. pensamento se faz ima
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gin ando.
mas pára! volte. caminhe de costas, veja de um outro ângulo. veja que esquisito, se esquisite , se inquiete, se perceba de costas, tropece, caia nos seus limites.
mas pára! veje sua ferida. sangue, dor, reação biológica, febre. sinta ANTES de ver. veja sent indo.
imagine. seja livre. dor não é só dor. amor também dói.
mas pára! esquece a ferida, a dor. não, não não não NÃO ESQUEÇA, mas sorria. veja novas possibilidades. quebre, desconstrua os seus costumes. mas pára!
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vire 36 graus e meio. dê cinco passos e 25 por cento .
interrompa. esqueça o cálculo. erre a conta. invente um novo resultado. viva esse erro tão querido.
quebre. deixe pedaços de fora. remonte esta morte. e então caminhe, e viva par ando.
7.2 Imagens
a) Imagem da mensagem inicial.
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vire 36 graus e meio. dê cinco passos e 25 por cento .
interrompa. esqueça o cálculo. erre a conta. invente um novo resultado. viva esse erro tão querido.
quebre. deixe pedaços de fora. remonte esta morte. e então caminhe, e viva par ando.
7.2 Imagens
a) Imagem da mensagem inicial.
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b) Imagem ilustrativa do programa que faz a interação com o usuário.
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c) Imagens prévias do programa funcionando, mostrando o vídeo de acordo
com a resposta da pessoa.
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7.3 Áudio
Os áudios da obra encontram-se disponíveis para download em
http://www.4shared.com/dir/ESCh3cwT/pra_onde_vai_o_que_fica_pra_tr.html
8. Sentidos bibliográficos24
ARANTES, Priscila. @rte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2005.
BETTETINI, Gianfranco. Semiótica, computação gráfica e textualidade. In:
PARENTE, André (Org.). Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. p. 65-71.
LYOTARD, Jean-François. Algo assim como: comunicação... sem comunicação. In:
PARENTE, André (Org.). Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. p. 258-266.
24 Bibliografia utilizada neste trabalho.
64
MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
PLAZA, Julio. As imagens de terceira geração, tecno-poéticas. In: PARENTE, André
(Org.). Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Ed. 34, 1993. P. 72-88.
RIBEIRO, Anna Maria Costa. Conhecimento da numerologia: o mais completo manual de interpretação. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1999. Tradução de
Thaïs Balázs. 1ª ed. São Paulo: Pensamento, 2009.
SANTAELLA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo?. 3ª
ed. São Paulo: Paulus, 2008.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.
9. Sentidos referenciais25
BAUMAN, Zygmunt. A arte da vida. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
25 Outras referências que ajudaram a compor esta obra.
64
MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
PLAZA, Julio. As imagens de terceira geração, tecno-poéticas. In: PARENTE, André
(Org.). Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Ed. 34, 1993. P. 72-88.
RIBEIRO, Anna Maria Costa. Conhecimento da numerologia: o mais completo manual de interpretação. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1999. Tradução de
Thaïs Balázs. 1ª ed. São Paulo: Pensamento, 2009.
SANTAELLA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo?. 3ª
ed. São Paulo: Paulus, 2008.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 18ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.
9. Sentidos referenciais25
BAUMAN, Zygmunt. A arte da vida. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
25 Outras referências que ajudaram a compor esta obra.
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BEIGUELMAN, Giselle. Link-se – arte/mídia/política/cibercultura. São Paulo:
Peirópolis, 2005.
GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias: do cinema às mídias interativas. 2ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003.
e então caminhe, e viva parando.