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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Setor de Ciências Jurídicas Programa de Pós-graduação em Direito – Mestrado e Doutorado Praça Santos Andrade, nº 50 - 3º Andar Centro 80020-300 Curitiba – Paraná
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PARECER DA COMISSÃO
CRIADA PELA PORTARIA nº 008/2002-PPGD
Senhor Coordenador:
Submete-nos, Vossa Senhoria, a análise do pedido
de revalidação de diploma de pós-graduação em Direito (Protocolo
nº 23075.25557/02-93) obtido por Matilde Carone Slaibi Conti,
na Universidad del Museo Social Argentino.
Conforme dispõe a Resolução CNE/CES n.º 02, de
09 de abril de 2001, a solicitação foi encaminhada pela
Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da CAPES,
Professora Doutora Rosana Arcoverde B. Batista.
A CAPES indicou cinco instituições de ensino
superior brasileiras para proceder à análise da revalidação, e dentre
elas está exatamente a Universidade Federal do Paraná.
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1. Relatório
Matilde Carone Slaibi Conti pretende a
revalidação do Diploma de Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais
outorgado pela Universidad del Museo Social Argentino – UMSA.
O curso foi realizado no período 27 de abril de 1998 a 29 de maio
de 1999, na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro – RJ,
segundo informa a requerente em fls. 2. Porém, no documento de
fls. 6, a universidade argentina certifica que a primeira disciplina,
Historia del Derecho foi cursada pela requerente em data anterior,
ou seja, em 13 de março de 1998 e a última, Filosofia del derecho e
Seminário III em 29 de abril de 1999.
O Curso de Doutorado foi ofertado no Brasil,
mediante convênio firmado com a UNIAAL - Universidades
Associadas da América Latina, na Universidade Estácio de Sá, no
Rio de Janeiro, onde a requerente obteve os créditos ao cursar
disciplinas ministradas pelos professores da instituição estrangeira,
que ainda orientaram sua tese. Mister ressaltar o fato de que a
requerente em um ano realizou todos os créditos que a habilitaram
para apresentação de uma tese, escrita e defendida em um ano e
quatro meses após o término da última disciplina.
O trabalho de conclusão, intitulado “Ética e direito
na manipulação do genoma humano”, redigido em língua
portuguesa, teria sido apresentado e aprovado em 11 de agosto de
2000, ante uma Banca Examinadora composta pelos professores
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Eduardo M. Martinez Alvarez, Eduardo E. Sisco, Luis R. Rabbi –
Baldi Cabanillas, Hector Miguel Soto e Paulo César Zambelli.1
Constam dos documentos expedidos pela
universidade argentina (fls. 06, 13, 34 e 35), firmados pelo Decano
e pelo Reitor, que foram cursadas tão-somente 4 (quatro)
disciplinas, quais sejam, História del Derecho, Teoria del Derecho,
Filosofia del Derecho e Metodologia y elaboración de tesis,
ministradas pelos Professores Abelardo Levaggi, Marcelo Salerno,
Gerardo Ancarola e Marta Biagi. Realizou, ainda, a requerente, 3
(três) Seminários com os Professores Eduardo Martinez Alvarez,
Marcelo Salerno e Gerardo Ancarola.
Aliás, cumpre salientar que todos os alunos do
doutorado na Universidad del Museo Social Argentino cursam as
mesmas disciplinas, não importando a área de conhecimento ou a
linha de pesquisa. Outrossim, não há indicação da distinção entre
as atividades didáticas submetidas aos alunos no Seminário e na
Disciplina.
Em todas as disciplinas obteve notas variáveis de 7
(sete) a 10 (dez). Pela tese, em 11 de agosto de 1999, foi atribuída a
nota 8 (oito).
No tocante à carga horária, teriam sido 464
(quatrocentas e sessenta e quatro) horas de atividades, pela
somatória das horas de atividades indicadas nas disciplinas e
seminários cursados. Não explicitam a requerente e a universidade
1 Documento de fls. 13.
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como eram distribuídas as horas de cada disciplina na duração total
do curso.
Foram anexados pela requerente: a) curriculum vitae
acompanhado de documentos comprobatórios (em anexo); b)
documento com o timbre da universidade argentina, apócrifo,
contendo informações sobre a instituição; c) quatro certidões
emitidas pela universidade argentina e firmadas pelo Reitor e pelo
Decano, com informações sobre as disciplinas cursadas, carga
horária, datas, notas, professores responsáveis e sua titulação, título
da tese, data da apresentação e nota, bem como média final do
curso; d) documento de identidade expedido pelo Instituto de
Identificação Félix Pacheco, da Secretaria de Segurança Pública do
Estado do Rio de Janeiro; e) diploma de bacharel em direito; f)
diploma de Doutor pela Universidad del Museo Social Argentino;
g) programas das disciplinas e a bibliografia dos seminários; h)
exemplar da tese apresentada, redigida em português.
Da relação de documentos exigidos pela CAPES em
seu Informe n.º 12, de 30 de outubro de 2001, verifica-se que não
foram apresentados: a) declaração da universidade estrangeira
atestando as condições de matrícula do aluno; b) declaração do
aluno sobre o tempo de efetiva permanência na IES estrangeira; c)
cópia da ata de defesa ou documento similar da avaliação
acadêmica; d) parecer relativo à defesa da tese; e) currículo
resumido do orientador da tese; f) documentos fornecidos pela
instituição que expediu o diploma com informações sobre a própria
instituição, características do curso referentes a procedimentos de
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seleção, duração, estrutura curricular e requisitos para a defesa da
tese. Não foi trazida perante a comissão, tampouco, a cópia do
convênio realizado entre a instituição estrangeira e a brasileira.
Especial destaque merece a certidão firmada pelo
Reitor Pedro C. Garcia Arango, constante do diploma de Doutor
emitido pela Universidad del Museo Social Argentino, nos
seguintes termos: “En razón de haber ingresado en caráter de
graduado con título extranjero, el presente documento no lo
habilita para el ejercicio profesional alguno dentro del território
de la República Argentina. Buenos Aires”.2 Resulta, assim, que o
título expedido por uma universidade estrangeira, como se o curso
tivesse sido ali ministrado, não tem qualquer valor no país de
origem para os fins a que se destina.
Da mesma forma, extremamente revelantes algumas
informações constantes do curriculum vitae apresentado pela
requerente. Impõe-se verificar a realização de diversas atividades
profissionais no Brasil durante o período de realização do curso de
doutorado, tais como docência em instituições de ensino superior e
cursos realizados.
2. A CAPES e o sistema de pós-graduação no Brasil
A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento do
Pessoal de Nível Superior – CAPES,3 agência do Ministério da
2 Documento de fls. 5. 3 A competência para credenciamento foi delegada a CAPES pela Portaria n.º 1.740, de 20 de dezembro de 1994, do Ministério da Educação, que procederá à avaliação nos termos do disposto no artigo 18, do Decreto n.º 3.860, de 9 de julho de 2001.
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Educação, como é de conhecimento de todos, é órgão responsável
pela coordenação e avaliação no sistema federal de ensino brasileiro
em nível de pós-graduação stricto sensu, após a extinção do
Conselho Federal de Educação, juntamente com o Conselho
Nacional de Educação e o próprio Ministério da Educação.4
A atuação engloba programas com cursos de
mestrado e de doutorado, tanto das instituições públicas federais,
estaduais ou municipais mantidas pelo poder público, quanto das
instituições privadas particulares em sentido estrito, comunitárias,
confessionais ou filantrópicas.5
A seriedade com que a CAPES tem procedido ao
disciplinar e aplicar as normas de funcionamento e a avaliação dos
programas de pós-graduação, com vistas a promover o
desenvolvimento e a preservação da qualidade do ensino no Brasil,
garantem a tal segmento da educação superior a notoriedade interna
e a sua inserção e reconhecimento internacional.
O processo de avaliação se consubstancia, dentre
outros mecanismos, no recebimento e na análise das propostas
apresentadas pelas instituições de ensino interessadas para
autorização do seu funcionamento e ingresso no sistema de
avaliação da pós-graduação, com projetos detalhados de cursos
novos ou modificações em programas existentes, com vistas a
ulterior credenciamento.
O diploma de mestrado ou de doutorado outorgado
por instituição de ensino superior por estudos realizados no Brasil
4 Pela Medida Provisória n.º 6.611, de 18 de outubro de 1994. 5 Artigos 16 a 20. Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
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tão-só gozarão de validade nacional6 se o Programa que lhe houver
dado origem possuir prévio credenciamento, integrando o Sistema
Federal de Educação,7 bem como se o diploma estiver registrado
pela própria Universidade ou outra indicada pelo Conselho
Nacional de Educação - CNE.8
A recomendação pela CAPES é concedida a tempo
determinado e está fulcrada na avaliação trienal procedida por
consultores especializados na área de conhecimento afim ao
Programa, atuantes no magistério superior e em pesquisa, cujo
resultado é expresso em conceitos distribuídos entre 1 (um) e 7
(sete).9
A homologação do resultado pelo Ministério da
Educação, após parecer favorável da Câmara de Educação Superior
do Conselho Nacional de Educação, assegura validade nacional aos
títulos outorgados por Programas que obtiveram notas iguais ou
superiores a 3 (três) em avaliação realizada pela CAPES, consoante
previsão de reconhecimento e renovação de reconhecimento inserta
no artigo 46, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Neste
trilhar, os Programas que receberem conceitos 1 e 2 deixam de ser
recomendados pela CAPES e os títulos obtidos nestas instituições
não têm validade nacional.
Estão os Programas, ainda, submetidos a avaliações
continuadas anuais, procedidas a partir das informações prestadas
6 Portaria n.º 2.264, de 19 de dezembro de 1997, do Ministro da Educação. 7 Portaria Ministerial n.º 1.418, de 23 de dezembro de 1998. 8 Artigo 48, § 1.º Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 9 Programas que oferecem apenas Cursos de Mestrado podem obter como conceito máximo 5, sendo os conceitos 6 e 7 atribuídos a Programas com Curso de Mestrado e Doutorado com reconhecimento de elevado padrão de excelência.
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pelas próprias instituições mediante o instrumento de coleta
DATACAPES.
3. Validade nacional dos títulos de Mestrado e Doutorado
Os Programas que não integram o Sistema de
Educação Nacional e, por conseguinte, não constam da lista
como avaliados pela CAPES, não estão autorizados a emitir
diplomas como prova da formação recebida por seu titular com
validade nacional, ainda que estejam funcionando há alguns
anos.10
Não há que se falar, no caso, em presunção de regularidade.
No triênio 98/00, os resultados da avaliação foram
submetidos ao Conselho Técnico Consultivo – CTC, da CAPES e,
na seqüência, ao Conselho Nacional de Educação – CNE, por sua
Câmara de Educação Superior – CES,11
para homologação. O
Parecer n.º 0153/2002-CES, publicado no Diário Oficial da União
em 17 de julho de 2002, na Seção 1, exterioriza o resultado da
avaliação de 38 (trinta e oito) Programas de Mestrado e 11 (onze)
Programas de Doutorado em Direito no Brasil.12
Nem a Universidade Estácio de Sá, nem a UNIAAL
– Universidades Associadas da América Latina e, tampouco a
Universidad del Museo Social Argentino contam com programa de
pós-graduação, quer em nível de mestrado, quer em nível de
10 “Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão validade nacional como prova da formação recebida por seu titular.” Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 11 Artigo 9.º, § 2.º, da Lei n.º 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação conferida pela Lei n.º 9.131, de 24 de novembro de 1995.
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doutorado, credenciado e avaliado pela CAPES, estando por
conseguinte fora do sistema nacional. Não poderiam, por convênio
ou isoladamente, promover cursos de pós-graduação stricto sensu
no Brasil. Aliás, não por outro motivo que o diploma foi expedido
pela universidade argentina, como se fosse um curso realizado no
exterior, em uma tentativa de se afastar da incidência da legislação
brasileira vigente. De qualquer sorte, cumpre advertir, desde logo,
que a universidade argentina somente foi credenciada por
Resolução do ano de 2000.13
4. Validade nacional de diploma obtido no exterior
Para ter validade no Brasil, o diploma outorgado por
estudos realizados no exterior deverá ser submetido a
reconhecimento por universidade brasileira que possua curso de
pós-graduação, avaliado e reconhecido, na mesma área de
conhecimento e em nível equivalente, nos termos do disposto no
artigo 48, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.14
Até mesmo os diplomas emitidos por instituições de
ensino de países integrantes do MERCOSUL estão sujeitos ao
reconhecimento e à avaliação, pois ainda não estão definidos os
critérios mínimos a serem observados nas avaliações procedidas
12 Outros Programas de Pós-graduação em Direito foram credenciados após a última avaliação e não se encontram na listagem; dentre eles, cita-se a situação Unipar, que deverá se submeter à próxima avaliação trienal. 13 Resolução n.º 510/00, da CONEAU, Argentina. 14 “Art. 48. [...] § 3.º. Os diplomas de Mestrado e Doutorado expedidos por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equivalente ou superior”. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.”
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pelo setor público nos países de origem da instituição emissora do
diploma, apesar da edição do Decreto n.º 3.196/99.
Ocorre que a situação que se apresenta é muito
peculiar, pois embora o título tenha sido emitido por universidade
estrangeira, o curso foi ofertado e realizado na integralidade em
território brasileiro, em absoluto desatendimento às normas
vigentes. As instituições conveniadas, por conseguinte, burlaram
todo o regramento que disciplina a oferta de cursos de pós-
graduação no Brasil, estando em situação irregular.
5. Cursos oferecidos no Brasil por instituições de ensino
estrangeiras em convênio com instituições brasileiras.
Consoante indica a CAPES, “[...] diversos
estabelecimentos estrangeiros, eventualmente conveniados com
instituições nacionais vêm oferecendo em território brasileiro,
cursos de mestrado e doutorado semi-presenciais, conferindo
diplomas como tendo sido obtidos no exterior. O Ministério da
Educação vê esta situação como uma séria ameaça ao espaço
acadêmico nacional e que infringe a legislação vigente [...] além
disso, tais procedimentos, via de regra, não garantem a necessária
qualidade encontrada nos programas de pós-graduação brasileiros
avaliados pela CAPES”. 15
Tal é a situação retratada: convênio entre a UNIAAL
- Universidades Associadas da América Latina e a Universidade
15 Informe CAPES n.º 04/200. Infocapes – Boletim informativo da CAPES, Brasília, v.8, n. 3, jul/set.2000, p. 65.
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Estácio de Sá com a Universidad del Museo Social Argentino, para
realização de um Curso de Doutorado no Brasil, com diploma
emitido pela instituição estrangeira, como se tivesse sido obtido no
exterior. A irregularidade não se restringe à emissão do diploma,
senão ao procedimento total de oferta do curso, do qual resultou um
título que ora se pretende seja “convalidado” pela Universidade
Federal do Paraná.
Interessante observar que idêntica situação se
apresenta na Argentina, a merecer inclusive paridade de tratamento.
Tanto que foi expedido o Decreto n.º 276, de 25 de março de 1999,
que regulamenta o funcionamento de instituições universitárias
estrangeiras na Argentina, considerando a preocupação
exteriorizada pelo Consejo de Universidades na Comisión Nacional
de Evaluación y Acreditación Universitária – CONEAU e a
Comisión de Educación da Câmara de Diputados de la Nación, em
relação à existência de ofertas educativas realizadas no país por
universidades estrangeiras. Tratou a Argentina, desde logo, de
determinar a aplicação dos mesmos mecanismos e exigências
previstas na legislação para as instituições nacionais, por isonomia
de tratamento às instituições estrangeiras, frente ao princípio da
territorialidade e a soberania nacional, de sorte a assegurar os
processos de avaliação no tocante à factibilidade do projeto e
qualidade e nível da oferta educativa, mantendo o necessário
controle sobre o sistema educacional superior no país.
Evitaram-se, com tais garantias, riscos e
inconvenientes ao sistema universitário nacional. Determinou-se
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que “[...] las instituciones universitarias extranjeras que pretendan
instrumentar ofertas educativas de ese nivel en el país, deberán
solicitar el reconocimiento legal de su personajería jurídica por los
mecanismos establecidos por la legislación vigente y luego
someterse a los procedimientos aplicables al otorgamiento de la
autorización para el funcionamiento de instituciones
universitarias“.16
As universidades estrangeiras autorizadas a oferecer
cursos na Argentina estão sujeitas ao mesmo tratamento das
nacionais no que se refere ao controle, avaliação, credenciamento e
condições de oferta, sendo que o não cumprimento do previsto nas
normas vigentes as considerará „[...] como instituciones no
habilitadas para funcionar legalmente como universitarias en el
país, siéndoles aplicable las prohibiciones, restricciones y
sanciones previstas en la Resolución n.º 206 del 21 de febrero de
1997 del Ministerio de Cultura y Educación”.17
Ora, no Brasil a autonomia universitária assegurada
em norma constitucional (artigo 207, caput)18
não retrata uma
situação jurídica de liberdade absoluta no atuar das instituições de
ensino superior - universidades e, por extensão, centros
universitários -,19
principalmente no que se refere às condições
gerais de oferta de cursos. Mesmo as Universidades - e tão-só elas -
a exemplo, inclusive a Universidade Federal do Paraná, que, nos
16 Artigo 1, Decreto n.º 276, de 25 de março de 1999. 17 Artigo 4, Decreto n.º 276, de 25 de março de 1999. 18 “Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.”
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termos da legislação em vigor, goza de autonomia para criação de
cursos de pós-graduação -, “[...] devem formalizar os pedidos de
reconhecimento de cursos novos por elas criados até, no máximo,
12 (doze) meses após o início do funcionamento dos mesmos”.20
(grifo nosso) A UNIAAL - Universidades Associadas da América
Latina, a Universidade Estácio de Sá e a Universidad del Museo
Social Argentino não estão excepcionadas da regra e nem liberadas
para atuar à margem do sistema vigente brasileiro.
Nesta seara, no escopo legítimo de buscar e manter
os padrões de excelência, a autorização e o credenciamento pelo
Ministério da Educação é condição de validade nacional dos
estudos realizados. O ensino é livre à iniciativa privada, porém,
como dispõe o artigo 209, da Constituição da República, devem ser
atendidas as seguintes condições:”I. cumprimento das normas
gerais da educação; II. autorização e avaliação de qualidade pelo
Poder Público” ou seja, “[...] estão sujeitos às exigências de
autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento
previstas na legislação”.21
A realização de parcerias institucionais não afasta,
por conseguinte, a obrigatoriedade da submissão à avaliação oficial
de qualidade, nem o prévio reconhecimento pelo setor público,
independente da notoriedade internacional conquistada pela
19 O artigo 11, § 1.º, do Decreto n.º 3.860, de 09 de julho de 2001, publicado no Diário Oficial da União de 10 de julho de 2001, na Seção 1, estende aos centros universitários credenciados autonomia para criar, organizar e extinguir em sua sede, cursos e programas de educação superior. 20 Artigo 1.º, § 4.º, da Resolução n.º 1, de 3 de abril de 2001, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. 21 Artigo 1.º Resolução n.º 1, de 3 de abril de 2001, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.
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instituição ofertante do curso no cenário acadêmico e científico -
aliás, o que não é certamente o caso em apreço.
6. Posicionamento da CAPES
A CAPES, revelando sua preocupação com a
qualidade da formação ministrada e com a validação dos títulos
obtidos pelos alunos dos inúmeros cursos oferecidos por
instituições de ensino superior estrangeiras conveniadas com
instituições brasileiras, tem examinado a matéria no âmbito da
agência e, após discussões, tomado algumas deliberações.
Por seu Diretor de Avaliação, já havia se
manifestado por meio do Ofício-circular n.º 040, de 16 de maio de
2000, dirigido a todas as instituições brasileiras de ensino superior,
ao responder às “[...] inúmeras consultas sobre a validade nacional
de diplomas emitidos por cursos de pós-graduação stricto sensu
ministrados no País, nas modalidades à distância, semi-presencial,
conveniado, fora de sede, etc.”, reiterando que a validade nacional
dos diplomas emitidos depende de prévia avaliação do programa
pela CAPES e que se trata de análise de propostas de programas
que sejam explícitas quanto às suas características de abrangência,
áreas de concentração, metodologias de ensino, infra-estrutura
utilizada e corpo docente. Esclarece, no mesmo sentido, que “[...] a
oferta de cursos fora de sede, nas modalidades supracitadas
(conveniadas, semi-presenciais ou à distância) ou em qualquer
modalidade não prevista no projeto inicial, avaliado e reconhecido
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pela CAPES, deve, necessariamente, ser submetida a nova
avaliação.”
Em razão da consulta formulada pela Coordenadora
da Divisão de Pós-graduação, da Universidade de Passo Fundo,
sobre a validade nacional de títulos de pós-graduação obtidos na
Universidad del Museo Social Argentino, foi emitido o parecer
PJR/JT n.º 01, de 28 de janeiro de 1999, da lavra do procurador
jurídico José Tavares dos Santos. Adotado sem ressalvas pelo
Presidente da CAPES, acolheu-se o entendimento de que o título
obtido “[...] não é hábil para merecer a outorga de validade
nacional”. Aduz o parecerista que a Resolução do Conselho
Nacional da Educação n.º 001, de 26 de fevereiro de 1997,
aprimorando o disposto na Portaria do Ministério da Educação n.º
228, de 15 de março de 1996, ao apreciar a matéria, “[...] centrou-
se no critério da territorialidade” e que os “[...] Estudos
empreendidos no Brasil, mesmo parcialmente, por instituição
estrangeira, ensejarão títulos nacionalmente válidos se registrados
em Universidade brasileira, o que deve ser precedido do
reconhecimento do curso, durante o qual, os especialistas da área
debatem os riscos à qualidade do ensino que a semipresença
poderia acarretar, proporcionalmente à duração do curso”.
Faz-se necessário apontar que a CAPES, em seu
Informe n.º 04/2000, esclarece que após “[...] inúmeras tentativas
de diálogo com esses estabelecimentos estrangeiros, viu-se
obrigada a suspender a concessão de novas bolsas de estudo” para
alguns estabelecimentos, dentre os quais, na Argentina, a
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Universidad del Museo Social Argentino. Tal medida foi adotada
até que esta instituição regularize a situação dos cursos ministrados
por ela no Brasil, eis que desatendem à legislação vigente. A
decisão visa “[...] assegurar aos bolsistas brasileiros hoje
estudando nessas instituições, que o título obtido após o esforço
desprendido por eles no rigoroso processo de seleção, bem como
ao longo do cumprimento de todo o programa de doutoramento,
não seja nivelado ou comparado aos diplomas estrangeiros obtidos
em cursos semipresenciais irregulares oferecidos por essas
instituições no Brasil”.
7. Deliberações do Conselho Nacional da Educação, pela
Câmara de Educação Superior
O Conselho Nacional da Educação, através da Câmara
de Educação Superior, ao fixar as condições para validade de
diplomas de cursos oferecidos por instituições estrangeiras no
Brasil, através da Resolução n.º 01, de 26 de fevereiro de 1997,22
determinou, em seu artigo 1.º, que “[...] não serão revalidados nem
reconhecidos, para quaisquer fins, diploma de [...] pós-graduação
em níveis de mestrado e doutorado, obtidos através de cursos
ministrados no Brasil, oferecidos por instituições estrangeiras,
especialmente nas modalidades semi-presencial ou a distância,
diretamente ou mediante qualquer forma de associação com
instituições brasileiras, sem a devida autorização do Poder
22 Publicada no Diário Oficial da União em 5 de março de 1997, na seção 1, p. 4155.
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Público, nos termos estabelecidos pelo artigo 209, I e II, da
Constituição Federal”. (grifo nosso)
A posição é reiterada pelos termos da Resolução n.º 01,
de 3 de abril de 2001,23
ao explicitar, no seu artigo 2.º, caput, que
“[...] os cursos de pós-graduação „stricto sensu‟ oferecidos
mediante formas de associação entre instituições brasileiras ou
entre estas e instituições estrangeiras obedecem às mesmas
exigências de autorização, reconhecimento e renovação de
reconhecimento”.
Considerando a existência de oferta irregular de cursos
de pós-graduação no Brasil em convênio com instituições
estrangeiras, foi determinada pela Resolução n.º 02, de 3 de abril de
2001, a cessação imediata do processo de admissão de novos
alunos, bem como a obrigatoriedade das instituições que se
enquadrassem na situação de encaminharem à CAPES a relação dos
diplomados e matriculados com previsão do prazo de conclusão,
com a documentação necessária para o processo de revalidação.
8. Posição dos Programas de Pós-graduação em Direito
Para analisar a questão, foi criado um Grupo de
Trabalho formado pelos representantes dos 11 (onze) Programas de
Pós-graduação em Direito que possuem nível de Doutorado
23 A Câmara de Educação Superior propôs a constituição de uma Comissão (Indicação CES n.º 03/2000), nos autos do processo n.º 23001.000157/2000-39) que foi designada para analisar a questão da validade de títulos expedidos por instituições brasileiras associadas a instituições estrangeiras, ou expedidos diretamente por instituições estrangeiras, submeteu à deliberação o projeto que resultou nas Resoluções n.º 1 e 2, de 3 de abril de 2001 (parecer n.º .142/2001, aprovado em 31 de janeiro de 2001, homologado pelo Ministro da Educação em 15 de março de 2001).
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devidamente credenciados pela CAPES, competentes para apreciar
e decidir sobre a revalidação dos diplomas obtidos em nível de
doutorado no exterior, em reunião do Comitê da Área de Direito da
Agência.24
Após analisar e debater a questão, foram criadas
DIRETIVAS25
a serem aplicadas nos processos de revalidação de
títulos, considerando a necessidade de uma uniformidade de
tratamento da matéria, o expressivo número de pedidos que
tramitam nos diversos Programas de Pós-graduação na área de
Direito em todo o país, bem como a obrigatoriedade da submissão
de todos os programas à continuada avaliação, segundo parâmetros
de qualidade previamente estabelecidos que devem ser mantidos
para a preservação da qualidade acadêmica.
Posicionou-se o Grupo de Trabalho, reiterando o
disposto na Resolução n.º 01/97, da CAPES, no sentido de que
“[...] não serão revalidados nem reconhecidos, para quaisquer fins,
diplomas de pós-graduação em níveis de mestrado e doutorado: I –
obtidos através de cursos ministrados no Brasil, oferecidos por
instituições estrangeiras, especialmente nas modalidades
24 A reunião ocorreu em Brasília, nas dependências da Acadêmica de Tênis, nos dias 4 e 5 de março de 2002. O Comitê é composto pelo Representante de Área Prof. Dr. Fernando Facury Scaff (UFPA) e pelos Professores Doutores Vicente de Paulo Barreto (UGF), Paulo de Barros Carvalho (PUC-SP), Menelick de Carvalho Neto (UFMG), Lênio Luiz Streck (Unisinos) e Jacinto Nelson de Miranda Coutinho (UFPR). Para a reunião de trabalho foram convidados todos os Coordenadores de Programas de Pós-graduação em Direito reconhecidos pela CAPES. Estiveram presentes representantes das seguintes Instituições: Universidade Presbiteriana Mackenzie, USP, Univali, Unesp/Franca, UFPA, Faculdade de Direito Milton Campos, Faculdade de Direito de Campos, UNB, Instituição Toledo de Ensino de Baurú, PUC-MG, UFMG, UFPR, Fundação de Ensino Eurípedes Soares da Rocha, UNAERP, UFBA, Universidade Gama Filho, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UFGO, UFPE, Unisinos, Universidade Estadual de Maringá, UFSC, PUC-Rio, Universidade Iguaçú, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Metropolitana de Santos, Universidade de Santa Cruz do Sul; IBMEC e Unama. Esteve presente também a Federação dos Pós-Graduandos em Direito e um dos representantes dos discentes de Pós-Graduação junto ao CTC – Conselho Técnico Científico da Capes. 25 O Grupo de Trabalho redigiu o documento em Curitiba, em encontro realizado na Universidade Federal do Paraná, no dia 27 de março de 2002.
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semipresencial ou à distância, diretamente ou mediante qualquer
forma de associação com instituições brasileiras. II – expedidos
por instituição estrangeira em curso que não tenha sido
comprovadamente presencial na sua integralidade, cuja prova deve
ser realizada pelo interessado juntamente com o pedido.”
Outrossim, somente será suscetível de exame de
revalidação o diploma que tiver sido expedido por instituição
estrangeira com plena validade no território do país emissor e cujo
trabalho de conclusão tiver sido redigido e defendido no idioma
oficial do país.
A posição do Grupo de Trabalho – é bom que se
adiante – reflete tão-só a análise precisa e restrita do contido no
ordenamento jurídico nacional sobre a matéria.
9. Credenciamento e validade nacional dos títulos na Argentina
A “Comisión Nacional de Evaluación y
Acreditación Universitaria” – CONEAU26
é um organismo
autônomo, criado em 1995 por força do disposto na Lei da
Educação Superior da Argentina n.º 24.521 e regulamentada pelo
Decreto n.º 173/96, que tem a seu cargo as funções de avaliação de
todas as instituições universitárias e de credenciamento dos seus
cursos, inclusive de pós-graduação, conforme critérios técnico-
26 Integram a comissão 12 (doze) membros designados pelo Poder Executivo, mediante indicações do Conselho Universitário nacional, Conselho de reitores das Universidades Privadas, Academia Nacional de Educação, Câmara do Congresso nacional e Ministério da Cultura e Educação, com mandato de 4 (quatro) anos. Artigo 51, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina, n.º 24.521/95.
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acadêmicos previamente fixados pelo Ministério da Cultura e da
Educação da República Argentina.
A avaliação da qualidade do ensino de pós-
graduação nas universidades resultou de uma ampliação e
consolidação da autonomia universitária, bem como da sua
expansão. Nestes termos, a partir de 1993 o Ministério da Educação
da República Argentina firmou 16 (dezesseis) convênios com
universidades nacionais, duas com associações de faculdades e uma
com universidade privada, com vistas a planejar e implementar
processos de avaliação institucional. Em ditos acordos há previsão
de assessoria para realização de auto-avaliações e assistência para
constituir e coordenar comissões de avaliação externa.27
Em 1994, pela Resolução n.º 3.223, o Ministério da
Cultura e Educação da República Argentina criou uma “Comisión
de Acreditación de Posgrados” – CAP, no âmbito da Secretaria de
Políticas Universitárias, que mediante uma convocatória para
credenciamento voluntário em 1995 passou a analisar os 298
(duzentos e noventa e oito) dos 489 (quatrocentos e oitenta e nove)
cursos de pós-graduação oferecidos por universidades públicas e
privadas que atenderam ao chamamento, passando a classificar os
programas de pós-graduação, segundo sua qualidade, em três
categorias.
Mister esclarecer que, nos termos do Decreto n.º
499/95, o primeiro ato de credenciamento do curso é válido por 3
(três) anos e os subseqüentes têm uma vigência de 6 (seis) anos.28
27 Artigo 44, Lei n.º 24.521/95, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina. 28 Artigo 5.º.
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Constitui-se, ademais, em condição necessária para o
reconhecimento oficial e, conseqüentemente, requisito
indispensável para que o Ministério da Cultura e Educação da
República Argentina outorgue validade nacional aos títulos
correspondentes.29
O Ministério da Educação da República Argentina,
então, transferiu ao CONEAU as referidas atribuições. Os
credenciamentos eventualmente efetuados pela “Comisión de
Acreditacion de Posgrados” – CAP tiveram também validade por 3
(três) anos, tendo como termo final o dia 23 de agosto de 1998.30
Todos os cursos de pós-graduação que obtiveram reconhecimento
oficial e conseqüente validade nacional dos seus títulos antes da
constituição da “Comisión Nacional de Evaluación y Acreditación
Universitária” – CONEAU caducaram “de pleno derecho” no
prazo de 2 (dois) anos a partir da primeira convocatória da
Comissão.31
Na Argentina, apesar das universidades terem
reconhecida a sua autonomia institucional e acadêmica,32
o que
implica decisão sobre a criação de cursos de pós-graduação, sua
grade curricular e outorga dos títulos,33
estão também sujeitas ao
controle exercido pelo poder público sobre o sistema de ensino com
o escopo de garantir a qualidade.
Neste trilhar, o reconhecimento oficial dos títulos
que sejam emitidos por universidades será outorgado pelo
29 Artigo 7.º, Decreto n.º 499/95 e artigo 43, Lei 24.521. 30 Resolução n.º 02/96, da Comisión Nacional de Evaluación y Acreditación Universitária – CONEAU. 31 Resolução n.º 1.670/96. 32Artigo 29, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina, n.º 24.521/95.
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Ministério da Cultura e Educação da República Argentina, sendo
que somente estes terão validade nacional.34
É que os títulos com reconhecimento oficial “[...]
certificarán la formación académica y habilitarán para el ejercicio
profesional respectivo en todo el territorio nacional, sin perjuicio
del poder de policía sobre las profesiones que corresponde a las
provincias. Los conocimientos y capacidades que tales títulos
certifican, así como las actividades para las que tienen
competencia sus poseedores, serán fijados y dados a conocer por
las instituciones universitarias, debiendo los respectivos planes de
estudio respetar la carga horaria mínima que para ello fije el
Ministerio de Cultura y Educación, en acuerdo con el Consejo de
Universidades”.35
No caso das profissões reguladas pelo Estado
Argentino, porquanto o seu exercício pode comprometer o interesse
público,36
o reconhecimento oficial do título implica a sua validade
em todo o território nacional e a habilitação para o exercício
profissional de seus possuidores. Em ditas hipóteses a instituição
deve atender, além da fixação de uma carga horária mínima,
também às determinações legais sobre conteúdos curriculares
básicos e critérios sobre a formação prática.
De forma a garantir ao Poder Público a manutenção
do controle total sobre a legitimidade do sistema de ensino de pós-
33 Artigo 41, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina, n.º 24.521/95. 34 Artigo 41, Lei n.º 24.521/95, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina. 35 A artigo 42, Lei n.º 24.521/95, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina 36 Quando pode colocar em risco de modo direto a saúde, a segurança, os direitos, os bens ou a formação dos habitantes: artigo 43, Lei n.º 24.521/95, Lei Nacional de Educação Superior da Argentina.
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graduação e, ao mesmo tempo garantir a possibilidade de assegurar
no período que intermedia as convocatórias e a oferta de cursos
novos, criou-se a possibilidade de um reconhecimento oficial e da
validade nacional dos títulos correspondentes a cursos de pós-
graduação poderem ser outorgados pelo Ministério da Educação,
Ciência e Tecnologia da República Argentina em caráter provisório,
com respaldo na Resolução n.º 532, de 25 de julho de 2002, desde
que os programas de pós-graduação ainda não tenham iniciado as
atividades e selecionado alunos.
10. A Universidad del Museo Social Argentino
O Curso de “Doctorado en Ciencias Jurídicas y
Sociales” da Universidad del Museo Social Argentino foi
credenciado somente através da Resolução nº 510/00, pela
”Comisión Nacional de Evaluación y Acreditación”, por um
período de 3 (três) anos. Resulta da verificação do prazo de
validade o fato de que se trata de um primeiro credenciamento. O
credenciamento foi posterior à outorga do título de doutor aa
requerente.
Da lista definitiva divulgada pela “Comisión de
Acreditacion de Posgrados” - CAP dos cursos de pós-graduação
credenciados com base na convocatória de 1995, válida até 23 de
agosto de 1998, somente há um curso de pós-graduação em direito
indicado, e em nível de mestrado, que é o da Universidad de
Palermo.
Em 10 de junho de 1998, a Universidad del Museo
Social Argentino firmou um convênio de Avaliação Institucional,
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do qual resultou uma visita que ocorreu nos dias 8 e 12 de maio de
2000. A avaliação externa já foi concluída por uma Comissão de
Pares, acompanhada de membros e técnicos do CONEAU.
A Comissão de Pares indicou, dentre as debilidades da
pós-graduação da universidade argentina, exatamente o fato de que
“[...] la mayoría de los posgrados no han sido presentados para su
acreditación ante la CONEAU”, além da ausência de avaliadores
externos entre os jurados das teses.37
Segundo consta dos considerandos da Resolução n.º
510/00, o curso conta somente com 14 (quatorze) docentes estáveis,
sendo 9 (nove) doutores, 2 (dois) especialistas e 1 (um) magister. O
decano e o Coordenador do Curso não possuem títulos de doutor. A
instituição desatende o previsto na Resolução n.º 1.168/97, do
Ministério da Cultura e da Educação da República Argentina, ao
estabelecer os critérios para pós-graduação, porquanto determina,
em relação ao corpo acadêmico (coordenador do curso, comitê
acadêmico, corpo docente e orientadores de teses), que “[...] sus
integrantes deberán poseer, como mínimo, una formación de
posgrado equivalente a la ofrecida por la carrera”. 38
Dentre os professores que ministraram as disciplinas
cursadas pela requerente, o Professor Martinez Alvarez não é
doutor, segundo consta expressamente da certidão de fls. 13.
Em informações obtidas no site da instituição na internet,39
estão listados 9 (nove) professores e, dentre eles, alguns que
constam nos documentos como os que ministraram as disciplinas.
37 Informe final da avaliação externa, p. 29. 38 Item 4.
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As disciplinas no primeiro ano são Historia del
derecho, Teoria del derecho e Metodologia de la investigación y la
enseñanza e no segundo ano, Seminário I: derecho procesal,
Seminário II: derecho privado, Seminário III: derecho público e
Seminário IV: derecho de la integración.
No que se refere à carga horária, no site da internet há
indicação de que as atividades se desenvolvem em um dia na
semana em jornada intensiva, sendo às quartas-feiras das 16h às
21h no primeiro ano ou das 18h às 22h no segundo ano. A duração
do curso seria de 2 (dois) anos, tendo os alunos um prazo de 4
(quatro) anos para depósito e defesa da tese.40
Nas normas gerais
da pós-graduação na Argentina há previsão de que a carga horária
mínima para o curso de mestrado seria de 540 (quinhentos e
quarenta) horas reais de atividade e, ainda, outras pelo menos 60
(sessenta) horas de tutorias e pesquisa. O requerente cursou apenas
464 (quatrocentos e sessenta e quatro) horas de atividades, estando
em desatendimento com a norma legal no tocante à carga horária
mínima do curso, inclusive se fosse mestrado.
Desde a criação do curso de doutorado na Universidad
del Museo Social Argentino, segundo avaliação externa do
CONEAU, foram aprovadas 15 (quinze) teses, sendo 3 (três) em
1985, 1 (uma) em 1989, 4 (quatro) em 1995, 5 (cinco) em 1997 e 2
(duas) em 1998.41
Indica a Comissão que da análise das duas teses
anexadas pela instituição, uma delas, sobre o princípio da
responsabilidade sem culpa, é uma boa análise da jurisprudência,
39 www.umsa.edu.ar/dcsju1.htm, em 2 de agosto de 2002. 40 Resolução n.º 510/00, p. 3.
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sem embargo de ter uma bibliografia exígua para o tema de tanto
desenvolvimento doutrinário.42
Para ingresso no curso é necessário ser advogado
egresso da própria universidade ou de outra nacional ou estrangeira
reconhecida no país ou, ainda, de cursos que o Conselho Diretivo
considere equivalentes.43
Não há exame de suficiência de língua
estrangeira, nem requisitos ou qualificações especiais.
A instituição estrangeira informou ao CONEAU que
eram 162 (cento e sessenta e dois) o número de alunos que
ingressaram somente no ano de 1998, sendo a sua grande maioria
de brasileiros,44
fato notado pela comissão de pares na avaliação
externa, a qual indica que conta a instituição com um forte
crescimento no número de alunos, especialmente pela “[...]
demanda de posgrados por parte del Brasil, que ha aumentado
notablemente el número de alumnos”,45
especialmente os
estrangeiros. Assim, “[...] del total de matriculados en la carrera
de Doctorado en Ciencias Jurídicas y Sociales los estudiantes
provenientes de Brasil son el 73%”.46
Atualmente está em estudo a
possibilidade de estabelecer novos convênios para cursos de pós-
graduação na Bolívia, em um mecanismo similar ao implementado
com as universidades brasileiras.47
41 Resolução n.º 510/00, p. 3. 42 Resolução n.º 510/00, p. 4. 43 Informações obtidas no site da internet: www.umsa.edu.ar/dcsju1.htm, em 2 de agosto de 2002. 44 Resolução n.º 510/00, p. 5. 45 O crescimento entre 1995 e 1998, na Universidade como um todo foi da ordem de 38,2%. Informe final da avaliação externa, p. 18. 46 No curso de Doutorado em Ciências Empresariais o percentual atinge 88% e no Doutorado em Fonoaudiologia é de 56%. Informe final da avaliação externa, p. 19. 47 Informe final da avaliação externa, p. 20.
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Segundo a Resolução n.º 1.168/97, do Ministério da
Cultura e da Educação da República Argentina, que estatui as
normas e critérios da pós-graduação na Argentina, cada professor
orientador “[...] podrán tener a su cargo un máximo de cinco
tesistas, incluyendo los de otras carreras de posgrado”, situação
desatendida pela instituição estrangeira, na medida em que indica
no seu corpo docente 9 (nove) professores doutores, perfazendo um
total de 45 (quarenta e cinco) alunos passíveis de orientação. Ainda
que se considerasse a totalidade do corpo docente, incluindo os que
não possuam titulação acadêmica necessária, poderia a instituição
receber um máximo de 70 (setenta) alunos ou 17 (dezessete) alunos
por ingresso anual, eis que o prazo para defesa é de 4 (quatro) anos.
A instituição estrangeira não atende, outra vez, as normas vigentes
em seu país de origem.
Ao analisar os programas de pós-graduação levados a
efeito no Brasil, consta do Informe final da avaliação externa que
“[...] hasta el momento de la autoevaluación pareceria tratarse de
una experiência positiva en la mayoria de los casos [...] sin
embargo, existe un cierto grado de preocupación por la eficiência
de los mecanismos de control”.48
No que se refere às atividades da pós-graduação na
Universidad del Museo Social Argentino, cumpre salientar, por fim,
a inexistência de qualquer regulamentação do curso pela instituição
ofertante, conforme indica o Informe final da Avaliação Externa da
instituição.49
48 Informe final da avaliação externa, p. 19. 49 Informe final da avaliação externa, p. 18.
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Não estão especificadas as normas gerais ou especiais
que disciplinam a sua atuação nem no Estatuto da Universidade,
nem tampouco em Regulamentos de Pós-graduação.
11. O desconhecimento do direito
Por elementar, tanto a IES brasileira como a argentina
não podem – e nem poderiam –, mormente em se tratando de um
pretenso curso de pós-graduação em direito, alegar ignorância da
legislação vigente e suas exigências.
Afinal, ainda que, em teoria, os alunos inscritos em tais
cursos também tivessem o dever de verificar a legalidade do que se
estava a ofertar, não se pode descartar a priori não terem sido
vítimas de atos ilícitos, conclusão a que se chega em face da
credibilidade gozada pelas IES e, mais, pela publicidade que
acompanha a divulgação, em geral prometendo o amparo legal.
Desastroso, por certo, é tratar qualquer modalidade de
ensino a partir da matriz mercadológica, mas muito pior é quando
se chega em situação do gênero, onde os prejuízos são quase
inevitáveis, reclamando, quiçá, a responsabilização, na via do Poder
Judiciário, daqueles que devem ser responsabilizados, ora apenas
indicada.
Por fim, a situação – altamente preocupante – está a
demandar uma ampla campanha de esclarecimento, a ser promovida
pelo MEC – CAPES, de modo a evitar-se outros e maiores
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problemas no futuro, inclusive para resguardar os interesses da
União.
12. Conclusão
Assim, é parecer desta Comissão que se
não deva revalidar o diploma obtido pela requerente
por desatendimento às normas que regulamentam a
pós-graduação no Brasil anteriormente mencionadas,
diante da oferta irregular de curso por instituição
estrangeira no país em convênio com instituição
nacional, nos termos da Resolução nº 001/97, do
Conselho Nacional de Educação.
É o parecer.
Curitiba, 05 de agosto de 2002.
__________________________________________
Professor Doutor Titular Luiz Alberto Machado
Presidente
__________________________________________
Professor Doutor João Gualberto Garcez Ramos
Membro
________________________________________
Professora Doutora Aldacy Rachid Coutinho
Membro