prémio, maio de 2014

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BULLIPÉDIA A REVOLUÇÃO DE FERRAN ADRIÀ 1974 - 2014 40 ANOS DE DEMOCRACIA EM PORTUGAL ENTREVISTAS António Saraiva Rui Nabeiro OPINIÃO Alberto da Ponte Fernando Seara João Proença Luís Osório Mário Assis Ferreira PRIMAVERA DE 2014 • ANO XI • 0,01 EUROS • TRIMESTRAL • DIRECTOR ÁLVARO DE MENDONÇA PRÉMIO PRIMAVERA DE 2014 • ANO XI R E V I S T A DE N E G Ó C I O S, E C O N O M I A, M A R K E T I N G E L I F E S T Y L E PAULO MORGADO A GESTÃO EM PORTUGAL MUNDIAL O PAÍS DO FUTEBOL ABRIL RUI NABEIRO ALBERTO DA PONTE JOÃO PROENÇA FERNANDO SEARA

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Nesta edição, um dossiê especial comemorativo dos 40 anos sobre o 25 de abril com opiniões de Alberto da Ponte, Fernando Seara, João Proença, Luís Osório, Mário Assis Ferreira e entrevistas a António Saraiva e Rui Nabeiro. Não deixe ainda de ler o especial sobre as grandes competições, com tudo sobre o Brasil e o Mundial 2014 e a Final dos Campeões.

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Page 1: Prémio, maio de 2014

BULLIPÉDIAA REVOLUÇÃO

DE FERRAN ADRIÀ

1974 - 201440 ANOS

DE DEMOCR ACIA EM P ORTUGAL

ENTREVISTAS

António Saraiva Rui Nabeiro

OPINIÃO

Alberto da PonteFernando Seara

João ProençaLuís Osório

Mário Assis Ferreira

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14

• A

NO

XI

R E V I S T A D E N E G Ó C I O S , E C O N O M I A , M A R K E T I N G E L I F E S T Y L E

PAULO MORGAD O A GESTÃO

EM P ORTUGAL

MUNDIALO PAÍS

DO FUTEBOL

ABRIL

RUI NABEIRO

ALBERTO DA PONTE

JOÃO PROENÇA

FERNANDO SEARA

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Page 2: Prémio, maio de 2014

MAIS UM DESTINO NA INTERNACIONALIZAÇÃO

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4 EDITORIAL6 AABRIR10 ESPECIAL OBrasileoMundial2014 AfinaldosCampeões AmarcaRonaldo26 NEGÓCIOS EntrevistaaPauloMorgado, Administrador-Delegadoda CapgeminiPortugal32 CHINA 2014:Oanodetodososnegócios38 NEGÓCIOS SOFID,umaportaparamilhões

deeuros

42 OPINIÃOPedroPintassilgo:OdilemadiplomáticodaCrimeia

44 CAFÉ OnovoCentrodeCiênciado CafédeCampoMaior46 LAZER

AnovaidentidadedoDolceCampoRealLisboa

50 SAÚDE AapostadaVisabeirano

segmentosénior54 GASTRONOMIA Bullipédia,aenciclopédia culináriadeluxodeFerranAdrià

D I R E C T O RÁlvaro de Mendonça

E D I T O R ASofia Arnaud

D I R E C T O R D E A R T EPedro Góis

D E S I G N E RJoana Cruz Martins

R E D A C Ç Ã OCatarina da Ponte, João Bénard Garcia e Miguel Morgado

C O L A B O R A M N E S T A E D I Ç Ã OAlberto da Ponte, Fernando Seara, João Proença, Luís Osório, Mário Assis Ferreira, Pedro Pintassilgo

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R E V I S T A C O R P O R A T I V A D A C V & A

60 ARTE 50AnosdaGaleria11164 SHOPPING Astendênciasmaisapetecíveis daestação66 AUTOMÓVEIS Amodadoshíbridosdeluxo72 LIVROS SugestõesdeleituraPrémio74 DOSSIÊ 40AnosdaDemocraciaem Portugal:opiniõesdeAlbertoda Ponte,FernandoSeara,João Proença,LuísOsório,MárioAssis FerreiraeentrevistasaAntónio SaraivaeRuiNabeiro

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E D I T O R I A L

Á L V A R O D E M E N D O N Ç A

H Á N O M U N D O Q U A S E 2 0 0 P A Í S E S E P O R T U G A L E S T Á , N O R M A L M E N T E , E N T R EA 2 5 ª E A 3 5 ª P O S I Ç Ã O D O S R A N K I N G S .

O Q U E S A B E M O S C H I N E S E S ( Q U E O S P O R T U G U E S E S N Ã O S A B E M ) !

O que a maioria das pessoas ambiciona de um Governo, é que lhes assegure o bom funcionamento do País e uma vida boa e confortável. É isso que está, aliás, escrito na bandeira do Brasil: Ordem e Progresso. Ordem, entendida como a garantia de bons níveis de

segurança, justiça, educação, saúde... Progresso, a significar uma boa gestão das contas públicas, uma economia que cresce e cria emprego, um mercado livre e onde todos têm oportunidades iguais. Foi isso que nos prometeram no dia 25 de Abril de 1974.

40 anos depois, há um certo desânimo em Portugal, patente no afastamento crescente entre eleitores e eleitos. A corrupção, a lentidão da justiça, a insegurança nas ruas, os níveis cada vez mais baixos da educação e da saúde públicos, o desemprego, a carga fiscal, o favorecimento de alguns nos negócios com o Estado e nas nomeações para cargos públicos, justificam esse desapontamento.

Ora é nestes momentos que vale a pena exaltar o que há de bom

no País. Porque razão Portugal, um pequeno país e o mais ocidental da Europa, está a despertar tanto interesse da China, um gigante do outro lado do mundo? Como conseguimos fabricar os melhores sapatos, os melhores azeites, os melhores caiaques e os melhores jogadores do mundo? O que tem Portugal, que os outros países conseguem ver, e os portugueses não?

Há no mundo quase 200 países e Portugal está, normalmente, entre a 25ª e a 35ª posição dos rankings, sejam eles de economia ou de desenvolvimento humano. Somos um País do primeiro mundo, integramos a maior zona económica do mundo, temos índices de natalidade, mortalidade, escolaridade, ao nível dos melhores do mundo. Somos um País simpático de que toda a gente gosta.

Não somos uma potência mundial, mas temos potencial. Há 500 anos, ligámos a Europa ao resto do mundo. Hoje, temos

a capacidade para conquistar alguns mercados do mundo. É por isso que os chineses investem em Portugal. Eles sabem disso. Nós temos de o redescobrir. l

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Hoje, os CTT são presença constante na vida das nossas empresas.E estão agora mais próximos dos seus clientes, preparados para responder de forma adequada às necessidades especí�cas do seu negócio. Do correio publicitário até às entregas urgentes.Do Marketing Direto até às mais avançadas soluções de comércio eletrónico. Por tudo isto, estamos cada vez mais presentes na vida das empresas.

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A A B R I R

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“THE BANKER” ELEGE OPV DOS CTT COMO MELHOR NEGÓCIO DO ANO A Oferta Pública de Venda (OPV) dos CTT foi premiada pela prestigiada revista financeira “The Banker”, como “Negócio Europeu do Ano 2014”. Os analistas da publicação do grupo Financial Times destacam o sucesso desta operação, dado que as acções foram alienadas no topo do intervalo pré-definido, valorizando os CTT em 828 milhões de euros e “dando aos contribuintes portugueses um bom retorno”.Um quinto das 105 milhões de acções da oferta foi vendido a investidores do retalho, sendo o restante tomado por institucionais dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Espanha, Itália e Dinamarca. A revista destaca também o comportamento em Bolsa das acções, que tem sido de persistente valorização, o que “testemunha quer a solidez da companhia, quer a melhoria do estado da economia em Portugal”.A operação de dispersão de 70% do capital dos CTT ficou concluída em Dezembro do ano passado, integrada no calendário de privatizações do Governo Português. O banco de investimento da Caixa Geral de Depósitos, o CaixaBI, foi o coordenador global e bookrunner da operação. Desde a estreia em Bolsa, a 5 de Dezembro, as acções da empresa liderada por Francisco Lacerda já valorizaram 47%, tendo ultrapassado a fasquia dos 8 euros. l

TURISMO E VINHO DE MÃOS DADASO Turismo de Portugal e a ViniPortugal estabeleceram uma parceria para potenciar a promoção internacional e a comercialização de Portugal, enquanto destino turístico e produtor de vinhos. O protocolo prevê a concertação de estratégias de actuação e o desenvolvimento de acções conjuntas das marcas VisitPortugal e Vinhos de Portugal. Está também

prevista a integração dos Vinhos de Portugal em mostras e iniciativas de formação para jovens e profissionais do sector, bem como a estruturação da

oferta enoturística nacional, identificando quais os centros de Turismo de Vinho de excelência.“A gastronomia e vinhos são uma das razões para a escolha de Portugal enquanto destino de lazer, com 88% dos turistas a ficarem muito satisfeitos com o contacto com experiências nesta área”, garante João Cotrim de Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal. “Esta união de esforços contribui para a diferenciação e qualificação da oferta turística nacional. Ganha o Turismo e ganha o Vinho”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal. l

C A M P A N H A

PORTUGAL APOSTA NO TURISMO RESIDENCIAL

“Living in Portugal” é o nome do projecto de promoção do turismo residencial de Portugal, que está a ser desenvolvido pela Associação Portuguesa de Resorts (APR), e que incluirá roadshows de apresentação da oferta portuguesa em várias cidades europeias. Paris, Londres e Estocolmo foram os primeiros mercados-alvo. No âmbito da campanha, um stand institucional da associação, reforçará a presença nas apresentações comerciais e acções de relações públicas em mercados internacionais. Até ao final do ano, está previsto que o programa se alargue, com mais apresentações e acções, na Rússia, Alemanha, França, Reino Unido e Suécia.O projecto “Living in Portugal” dirige-se às empresas do sector turístico e hoteleiro e, em particular, às vocacionadas para o turismo residencial nas regiões Norte, Centro e Alentejo.É apoiado pelo Compete - Programa Operacional Factores de Competitividade, inserido no Sistema de Apoio a Acções Colectivas (SIAC) e no Pólo de Competitividade e Tecnologia PCT Turismo 2015. Segundo Pedro Fontainhas, director executivo da APR: “A associação está com uma excelente relação de trabalho com o Turismo de Portugal e com as embaixadas portuguesas em cada um dos países envolvidos no projecto”. l

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IDEIA hub cAçA tAlEntos

G E s t à o

Beatriz ruBio explica o seu sucesso

m u n D I A l

sAGrEs à conquIstA Do brAsIl

s E G u r o s

WAlk’In clInIcs lança plano de saúde low cost

A Walk’in Clinics, da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, lançou um plano de saúde low cost sem limite de consultas, incluindo as de urgência, nas clínicas da rede, de forma a cativar os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O plano inclui ainda os serviços de um enfermeiro diplomado, que funcionará como Care Manager e ficará encarregue da gestão do processo do utente. O plano de saúde pode ser alargado a todos os elementos do agregado

o ideia hub – instituto para o desenvolvimento de empresas, indivíduos e ambições, é uma nova start up, com capital 100% português e que se apresenta no mercado como a primeira empresa em portugal a oferecer uma proposta de valorização do capital humano, num ambiente

de incubação de talentos. o conceito partiu da iniciativa do ceo João simões, da chief talent officer sónia Freches e do chief community officer paulo tavares. Juntos, combinam diferentes backgrounds educacionais e profissionais, oferecendo a empresa serviços

de diagnóstico de competências, formação e coaching. dispondo de cerca de seis mil referências formativas em diferentes áreas, baseia as suas actividades numa filosofia de network, para incentivar o pensamento criativo.o ideia hub pretende assegurar que

indivíduos criativos e empreendedores evoluam no mercado de trabalho, tornando-se agentes activos e capacitados para criarem a própria start up. o instituto já firmou parcerias com três empresas internacionais: Microsoft, thalento e skillsoft. l

Beatriz Rubio, ceo da ReMax em portugal e fundadora da empresa Motiva-te, entidade especializada em motivação e mudança comportamental empresarial, lançou o livro “conquistando a vitória”, da editora topbooks, onde descreve o seu percurso profissional e relata como venceu todos os obstáculos, até chegar à liderança da principal marca imobiliária em portugal. nuno amado, presidente do Millenium/bcp, assina o prólogo e destaca o facto de este ser “um livro sobre mudança, a nível pessoal e profissional e sobre a capacidade de superar os desafios, de encontrar novos caminhos de ter um espírito sempre empreendedor, mas pragmático e orientado para o resultado”. a autora, que apresentou a obra na embaixada de espanha em lisboa, com o apoio do embaixador d. eduardo Junco, reconheceu que escrever este livro significou sair da sua “zona de conforto”. l

familiar, com um desconto até 20%. O pacote de serviços de saúde proposto prevê ainda a opção de o cliente pagar mais e ter acesso, a preços especiais, a consultas ao domicílio e de especialidade numa rede de 12 mil prestadores. A rede Walk’in Clinics é composta actualmente por quatro clínicas e prevê duplicar a oferta a curto prazo. l

Paulo Bento é um homem de poucas e certeiras palavras. Palavras sempre motivacionais para os jogadores que comanda. Depois da mensagem que fica no segredo do balneário, o seleccionador português “dá” publicamente a táctica

aos adeptos lusitanos, mobilizando-os para o

Mundial 2014, prova que decorrerá em Junho, no Brasil.“Onde quer que

estejam, puxem por nós”, “nunca duvidem

do 11 inicial” e “cantem com a mão sobre o peito” são apenas algumas das “diagonais” e de “movimentos de pressão alta” apresentados pelo seleccionador Paulo Bento.A estratégia insere-se na campanha publicitária deste ano da Cerveja Sagres, que apoia a Selecção Nacional há 20 anos. Este ano, sob o mote “Somos Selecção, Somos Portugal”, a campanha procura reforçar o orgulho de ser português e a portugalidade. E inspira-se no espírito dos Descobrimentos, bem expressos na imagem de Paulo Bento, na falésia escarpada de Sagres, a mirar o imenso Oceano Atlântico. A campanha está presente em televisão, rádio, outdoor e internet até ao mês de Junho. l

“Onde quer que estejam, puxem por nós”.

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A A B R I R

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CASACO DE CORTIÇA APRESENTADO NO SALÃODE MILÃO

G O U R M E T

SCC LANÇA CERVEJA PREMIUM AFFLIGEM

SARAMAGO INSPIRA NOVA PEÇA VISTA ALEGRE

D E S I G N

Resultado de uma parceria com a Corticeira Amorim, a revista Wallpaper e o estúdio de design norte-americano Todd Bracher, foi apresentado, no Salão de Design e Mobiliário de Milão, um casaco integralmente produzido em cortiça.Publicação de referência nas áreas do design e da arquitectura, a Wallpaper criou há quatro anos o projecto Handmade, uma ini-ciativa que visa apresentar todos os anos no Salão de Milão cerca de 100 objectos “inovadores e únicos” e que “desafiem os limites do design”. Na edição 2014, a Wallpaper lançou desafios a várias entidades, nomeadamente à portuguesa Corticeira Amorim, alertando para “o imenso potencial da cortiça, um material que reúne todos os atributos para integrar o projecto Handmade”, segundo revelou Ellie Stathaki, editora de arquitectura da Wallpaper. l

A Vista Alegre lançou a quinta peça da sua colecção ‘1+1=1’ (‘1 Autor + 1 Artista = 1 peça Vista Alegre), homenageando o escritor José Saramago, com a edição limitada de “A Viagem do Elefante”, desenhada pelo artista plástico português David de Almeida, amigo pessoal e colaborador do Nobel da Literatura português em diversos projectos.Inspirada na obra literária homónima, que relata a insólita, mas verídica, viagem do paquiderme Salomão, que no século XVI foi de Lisboa a Viena, por extravagância de um rei português e de um arquiduque austríaco.

A colecção ‘1+1=1’ da Vista Alegre foi criada com o objectivo de divulgar e premiar a excelência na produção artística a nível internacional. Com uma edição limitada de mil exemplares, a peça “A Viagem do Elefante”, custa 200 euros. l

A Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (SCC) lançou no mercado português a marca belga de cerveja premium Affligem. Fabricada num mosteiro há mais de mil anos, mantém ainda hoje a receita original. “ É uma cerveja de abadia que, apesar da sua tradição, não deixa de ser relevante para os gostos e estilos de vida actuais”, refere a SCC em comunicado. Para o lançamento desta cerveja, a SCC abriu a pop-up-store “O Purista – Barbiére”, no trendy

bairro lisboeta do Chiado, que funcionou durante o mês de Abril como uma cervejaria-barbearia temporária, onde era possível cortar o cabelo, aparar a barba, jogar uma partida de snooker, ler um livro e, obviamente, saborear a nova cerveja, uma tendência que valoriza o que é tradicional e autêntico. O investimento do lançamento da marca em Portugal rondou meio milhão de euros e os objectivos de vendas para o primeiro ano rondam os 250 mil litros. l

P O R T O S

NAVIO Q-FLEX EM SINESA REN recebeu no Terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) de Sines, o primeiro navio Q-Flex a acostar em Portugal. Os navios deste tipo têm uma capacidade de transporte até 216 mil metros cúbicos de GNL, mais 50% do que a capacidade média dos metaneiros, os navios adequados ao transporte de gás natural liquefeito. Com uma localização estratégica, enquanto porta de entrada na Europa, o Terminal de Sines tem capacidade para armazenar até 390 mil metros cúbicos de GNL e de fazer a sua trasfega para outros navios. Estes factores, a par dos ganhos de eficiência e de escala resultantes da ampliação do porto, fazem desta infraestrutura da REN um dos terminais mais competitivos da Europa e uma referência a nível mundial. l

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O B R A S I L É O PA L C O D A C O PA D O M U N D O , P E L A S E G U N D A V E Z N A H I S T Ó R I A . E M 1 9 5 0 A E Q U I PA

E O P O V O V I V E R A M A T R A G É D I A D A F I N A L P E R D I D A C O N T R A O V I Z I N H O U R U G U A I . E M 2 0 1 4 ,

N I N G U É M Q U E R E R Á E X P E R I M E N TA R N O VA D E S I L U S Ã O . O M A R A C A N Ã S E R Á O PA L C O D E T O D O S

O S S O N H O S . O PA Í S D O F U T E B O L E S P E R A Q U E T O D A A E S Q U I N A D O PA Í S S E T R A N S F O R M E N U M

C A R N AVA L D U R A N T E U M M Ê S . E Q U E O B R A S I L S E J A C O R O A D O R E I . A L E M A N H A , A R G E N T I N A

E E S PA N H A P O D E M , N O E N TA N T O , E S T R A G A R A F E S TA .

M I G U E L M O R G A D O

M U N D I A L 2 0 1 4

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uando ia ao Maracanã, Nélson Rodrigues, que escreveu algumas das mais belas crónicas da história do futebol brasileiro, garantia que o que acontecida em campo era um “reles e ridículo detalhe”. O escritor e dramaturgo não via nem a bola nem tão pouco o que se passava no “gramado”. O foco era o drama, a tragédia e a paixão que o

futebol provocava nas massas. Ora foi essa mesma paixão por um futebol impregnado de samba

que levou mais de 200 mil pessoas a galgarem as costuras do cimento do Coliseu carioca. O Maracanã, estádio cujo nome oficial é Mário Rodrigues Filho, jornalista e irmão de Nélson Rodrigues, fora

construído, debaixo de críticas de despesismo, para albergar o quarto Campeonato do Mundo de futebol e o primeiro do pós-guerra.

O futebol era o maior símbolo do Brasil. O fantasioso estilo de jogo servia de anúncio global de promoção do País. Para além do lado desportivo, vencer a Copa afirmava o Brasil, presidido pelo militar Eurico Gaspar Dutra, no mundo moderno.

O maior estádio do Mundo acolheu a fatídica final de 1950, frente ao Uruguai, no dia 16 de Julho. Um empate bastava para a Copa ficar em casa, mas a onze minutos do apito final um golo do uruguaio Alcides Ghiggia fixou o placar em 1-2 e acabou com o sonho, roubando o que seria o primeiro título mundial ao Brasil. A derrota baptizada como “Maracanazo” ganhou contornos de drama nacional.

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E de tragédia. Com a derrota de 50 nasce o “Complexo de vira-lata”, expressão de Nélson Rodrigues, a qual originalmente se referia ao trauma então sofrido pelos brasileiros, mas que é pelo próprio interpretado como a “inferioridade como que o brasileiro se coloca voluntariamente em face do resto do mundo”.

Há derrotas que mudam a história. E esta mudaria drasticamente o rumo do futebol brasileiro. A começar pela cor da camisola. Deixa de ser branca e passou a verde e amarela. A “canarinha” aprendeu com o trauma. Começou a ser dominante e admirada. Ganha respeito na cena internacional. Embarca para o título na Suécia, em 1958, com um médico, um psicólogo e até um dentista na equipa técnica de Paulo Machado de Carvalho. Nascem os super-heróis. O menino Pelé e Garrincha. Mas também Didi, Zagallo, Vavá, Gilmar e Nilton Santos, que fora vilão oito anos antes e que conseguiu a proeza de se tornar bi-campeão com os título de 58 e 62. Tornam-se ídolos do povo. E alvo dos media nacionais. Que face à vigilância exercida ditam o fim do futebol romântico e do jogador que bebia e dançava à noite e “comia” a bola durante as tardes de futebol.

De 1958 a 1970, o Brasil conquistou três em quatro edições da Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970). A Taça Jules Rimet, assim se chamava até então, é atribuída, após a terceira conquista, a título definitivo, à Confederação Brasileira de Futebol. Símbolo da afirmação e orgulho de uma nação, viria a ser roubada 13 anos depois (20 Dezembro de 1983). Derretida e transformada em ouro, o rocambolesco episódio virou vergonha nacional.

Castigo, ou talvez não, seguiu-se uma “seca” de 24 anos. Pelo meio, em 1982, a equipa de Sócrates, Falcão e Zico que encantou a Espanha e o mundo, talvez merecesse algo mais, mas o título internacional ficou longe até 1994. Ano em que todo o Brasil gritou: É tetra! Um grito embalado pela celebração de Bebeto e dos golos de Romário, dupla que colocou, de novo, o “Escrete” no topo do mundo.

Depois da decepção de 1998, o Brasil virou o único pentacampeão mundial em 2002, na Ásia, sob o comando do “Sargentão” Luís Filipe Scolari, o tal que está de volta. E que tem dois desafios para ganhar pela frente. Dentro e fora de campo. No jogo-jogado. Mas também no mind games, com os adeptos e não só. Porque cabe a ele ter de revisitar a tal Copa que o Brasil perdeu em casa.

Pátria do calção e da chuteira Agora, 64 anos depois, o Brasil volta a acolher uma fase final do Campeonato do Mundo. Um evento único, com heróis e vilões, glória e drama.

Dizem os entendidos que o Brasil é a pátria do futebol. Gilberto Freyre, sociólogo e antropólogo pernambucano, defendia, nos anos 30 do século XX, a tese de que o talento do brasileiro resultava da miscigenação entre

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SEGUNDO OS ENTENDIDOS NA MATÉRIA, BRASIL, ESPANHA, ARGENTINA E ALEMANHA SÃO AS FAVORITAS PARA VENCER A 20º EDIÇÃO DO EVENTO.

negros, europeus e índios. Outras e diferentes teorias defendem a superioridade do jogador brasileiro. Uma razão estatística dá suporte. Ganhou 5 Copas do Mundo em quatro continentes. Kaká, Ronaldo (três vezes), Ronaldinho Gaúcho (duas), Rivaldo e Romário foram eleitos melhores jogadores do mundo. Outras razões há, sejam físicas ou metafísicas. Entre elas, surge a de um autêntico filósofo do mundo da bola. Neném Prancha, roupeiro do Botafogo, técnico de futebol de quem dizem ter cunhado uma frase para a eternidade. “Se Deus é brasileiro e os nossos times rezam antes de entrar em campo, é natural que o Brasil seja o País do futebol”.

Em 2014, todo o brasileiro espera que a Selecção, a tal “pátria de calção e chuteiras”, nas palavras de Nélson Rodrigues, consiga provar no campo essa supremacia. Para depois dançar o samba.

Favoritos e surpresasA “Canarinha”, joga em casa e é sempre favorita. A “Laranja Mecânica” holandesa, a “Roja Espanhola”, a “Alvi Celeste” argentina, a “Mannschaft” alemã podem e querem bater o pé. A “Squadra

Azzura” italiana, os “Diabos Vermelhos” belgas, os galos franceses e a portuguesa “Selecção das Quinas” podem surpreender os mais fortes. Sem esquecer, claro está, a Inglaterra, país berço do football.

Um Mundial acarreta sempre um bom número de interrogações. Este não foge à regra: conseguirá o Brasil ganhar em casa? A Espanha entrará definitivamente na história, bisando no Mundial depois de ter bisado na Europa? Conseguirá uma selecção europeia quebrar a maldição de não vencer no continente americano? Argentina e Alemanha serão capazes que confirmar o seu estatuto em campo com títulos?

Questões à parte, uma certeza há. Até à data, nenhuma selecção europeia se impôs num Mundial disputado no continente americano. Uruguai (1930 e 1950), Brasil (1962, 1970 e 1994) e Argentina (1978 e 1986) não o permitiram. As temperaturas altas, os relvados mais duros e secos e, por vezes, a altitude podem explicar o falhanço das selecções europeias.

Dizem os entendidos que o Brasil, Espanha, Argentina e Alemanha são favoritas a vencer a 20.º edição do evento. Depois surge num segundo nível, Itália, Inglaterra, Bélgica e...feito já conseguido pelo Uruguai, Itália, Inglaterra, Alemanha, Argentina e França. O pentacampeão mundial é favorito, com Thiago Silva, Neymar, David Luiz, Lucas Moura e Óscar, sob o comando de Luís Filipe Scolari, que deu ao Brasil o seu último campeonato, há 12 anos.

A selecção brasileira não vive momentos de exaltação. Ocupa o 6.º lugar do ranking da FIFA e os resultados amigáveis não entusiasmam. Nota-se um afastamento dos torcedores brasileiros em relação à selecção. De um lado, problemas internos e de gestão de imagem da Confederação Brasileira de Futebol. Do outro, uma política de expatriação de jogadores, que levou à ausência de ídolos locais a vestir de verde e amarelo, originando uma quebra de afectos entre adeptos e astros da bola.

Há mais de 60 anos, a Selecção Brasileira ficou concentrada na então isolada região da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Nas vésperas da final mudaram para o estádio de São Januário e, no meio de uma campanha eleitoral, o quartel-general da equipa virou

O E S TÁ D I O D O M A R AC A N Ã S E R Á O PA L C O D E TO D O S O S S O N H O S

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centro da política nacional. Hoje, a selecção brasileira terá menos privacidade e isolamento que a de 1950. Os jogadores vão passar o mês da Copa num autêntico aquário ao estilo realty show Big Brother, com treinos, estágios, conferências de imprensa, pausas, folgas e tudo o mais, transmitido pela televisão e analisados pela imprensa 24 horas por dia.

E se Zizinho e Barbosa tinham, em 1950, uma nação de cerca de 50 milhões exigindo a vitória, em 2014, o número multiplica-se por quatro. Considerando a velocidade e a crueldade com que os adeptos brasileiros podem “mudar a agulha”, poucas selecções, na história da competição mundial, enfrentam o tipo de pressão que os anfitriões vão encarar. Uma pressão a que se soma a qualidade dos seus principais adversários, com a Espanha à cabeça.

A “Roja” é a detentora do título mundial e vem de duas vitórias seguidas no Europeu. Lideram o ranking FIFA. À escala internacional, a Espanha parece intocável. Mistura veteranos “papa-títulos”, como Casillas, Xavi, Iniesta, Alonso, com os jovens naturalizados Thiago Alcântara e Diego Costa. Fim de ciclo ou entrada para a história, eis os cenários que se colocam aos homens do treinador Vicente Del Bosque.

Mesmo sem os argumentos do “Escrete” e da “Roja”, há outros dois crónicos candidatos: Alemanha e Argentina. Depois de uma fase de apuramento sem qualquer derrota e com as equipas alemães (Bayern de Munique) a dominarem a cena europeia, a Alemanha aterra no Brasil com uma geração de ouro assente na equipa bávara, como Manuel Neuer, Boateng, Gotze, Kross, Muller, ladeado por estrelas

S O B O C O M A N D O D O S E L E C C I O N A D O R PAU L O B E N TO , A S E L E C Ç ÃO P O RT U G U E S A A M B I C I O N A C H E G A R AO S O I TAV O S - D E - F I N A L

COPA COM RITMO

“One Love, One Rhythm” é o nome do álbum do Campeonato do Mundo FIFA Brasil 2014. A brasileira Claudia Leitte, um dos nomes da axé music baiana, o rapper americano Pitbull e Jen-nifer Lopez serão os intérpretes da música oficial intitulada “We Are One (Olé, Olá!)”, e cuja letra

faz referência à união proposta no tema da actual edição da competição “Juntos Num Só Ritmo”. Vão estar na cerimónia de abertura, em São Paulo. O hino oficial “Dar um Jeito (We Will Find A Way)”, com Carlos Santana, Avicii e Alexandre Pires, fecham a competição, no Rio de

Janeiro. No álbum oficial podemos ainda escutar Carlinhos Brown, que divide com a colombiana Shakira a canção “La La La (Brasil 2014)”. Depois do sucesso, em 2010, na África do Sul, com o “Waka Waka“, a bela colombiana re-gressa, em terras de Vera Cruz.

O hit do carnaval baiano, “Lixo”, da banda de pagode Preço, abraçada por Neymar, pro- mete embalar espectadores nos estádios com a coreografia que já virou mania nacional. A Mascote do Torneio também tem direito a música Taut Boom De Bola, cantada por Arlindo Cruz. l

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como Hummels e Ozil. Apesar de todo o poderio e favoritismo, a Mannschaft há muito que não conquista qualquer título internacional no campo. Cabe ao treinador Joachim Low inverter essa “maldição”.

A jogar no Continente americano, a Argentina de Sabella procura reencontrar-se com a glória do passado. Messi, depois de uma época em que não foi o melhor jogador do mundo, surge em grande na selecção das Pampas. A equipa, onde pontificam Aguero, e os conhecidos Di Maria, Otamendi, Rojo e Garay parece ter reencontrado o seu sistema e o seu estilo, pelo que tem lugar de destaque na casa de apostas.

Num segundo nível, surgem os outsiders, Itália (9.º do ranking), Inglaterra (11.º), Bélgica (13.º) e Portugal (3.º). Finalista derrotada no último Europeu, a “Squadra Azzura”, de Cesare Prandelli, é a selecção mais titulada da história do Mundial a seguir ao Brasil, com um total de quatro títulos. A geração actual da equipa transalpina mistura jovens talentos com futebolistas experimentados ao mais alto nível, como El Shaaraway, Balotelli, De Sciglio, Montolivo, Chiellini, Barzagli, Bufon e Gilardino.

A pressão não entra à porta da Inglaterra, que não sendo apontada como vencedora antecipada, poderá dar que falar no Brasil. Poderio ofensivo não falta à selecção da Rosa: Rooney, Ashley Young e Walcott. Mas se a melhor defesa é o ataque, o inverso também é verdadeiro. E para impedir golos, a equipa de Sua Majestade tem em Joe Hart um guarda-redes de dimensão internacional.

Ausente das grandes competições na última década, a Bélgica apresenta-se com uma geração de ouro (Witsel, Fellaini, Aldeweireld, Benteke, Hazard, Vertonghen, Lukaku e De Bruyne). Para os “Diabos

Vermelhos”, o Mundial é uma grande oportunidade. Comandados pelo antigo futebolista internacional belga Marc Wilmots podem mesmo ser a grande surpresa da prova, dependendo o seu trajecto da influência que a falta de experiência vier a ter em campo.

Com Ronaldo à cabeça, Portugal, sob o comando do seleccionador Paulo Bento, ambiciona chegar aos oitavos-de-final. Depois, quem sabe, ir o mais longe possível. O que pode passar por um lugar no pódio. Mas a equipa das “Quinas” não é só Ronaldo, o melhor jogador do Mundo. Pepe, Moutinho, Veloso e Patrício, entre outros, explicam o actual 3º lugar no ranking da FIFA.

Depois de defrontar Camarões e Grécia em solo nacional, Portugal ganhou forças nos Estados Unidos da América, defrontando México (em Boston) e República da Irlanda (Nova Jérsia) antes de aterrar no país irmão, a 10 de Junho. O Hotel the Palms, em Campinas, será o quartel-general. É um hotel boutique de 5 estrelas, com todos os luxos e tecnologia, além do campo de treinos, ginásio, campos de ténis e piscina.

Selecções à parte, Mundial que é Mundial revela sempre ao mundo futuros craques da bola. Neymar, Isco, ou Pogba, viajam para o Brasil com o estatuto de jovens prodígios já confirmados pelos minutos jogados nos clubes e respectivas selecções. Entre os que prometem dar que falar surgem dois jogadores que actuam no futebol português: Diego Reyes, 21 anos, central do FC Porto e titular da selecção do México e Willian Carvalho, 21 anos, médio-defensivo do Sporting Clube de Portugal. A lista pode ser engrossada por Heung-Min Son (Coreia do Sul), Bernard (Brasil), Tonny Vilhena (Holanda), Juan Fenando Quintero (Colômbia) ou Wilfried Zaha (Inglaterra).l

A BRAZUCAMundial que é Mundial tem que centrar as atenções na bola que vai “rolar no gramado”. Foi assim com a Teamgeist (2006) e a Jabulani (2010). A Brazuca, assim se chama o esférico da Copa 2014, tem a inscrição de “love me or lose me”. Tal como todas as suas antecessoras, desde 1970, a bola da Fase Final é fabricada pela Adidas. l

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D O Z E C I D A D E S A C O L H E M O M U N D I A L 2 0 1 4 .

D A S E L VA D A A M A Z Ó N I A À C O S M O P O L I TA

C U R I T I B A , N O S U L . D A C A P I TA L F E D E R A L

À C I D A D E M A R AV I L H O S A , PA S S A N D O P E L A

F R E N É T I C A S Ã O PA U L O , V E J A O N D E J O G A M

A S E Q U I PA S F AV O R I TA S .

A S C I D A D E S

E O S J O G O S

BELO HORIZONTE(1)

Bélgica, Argentina e Inglaterra

passam pelo Estádio Mineirão,

que recebe uma partida

dos oitavos-de-final e uma

meia-final. Colômbia, Grécia,

Argélia, Irão e Costa Rica são

outras selecções que também

jogam em Belo Horizonte.

CURITIBA(2)

A Espanha quer gritar ”Olé!”

na Arena da Baixada, por onde

passarão também as selecções

do Irão, Nigéria, Honduras,

Equador, Austrália, Argélia e

Rússia.

SÃO PAULO(3)

Brasil, Inglaterra e Holanda

querem mostrar trabalho

na Arena de São Paulo, que

receberá uma partida dos

oitavos-de-final e uma meia-

-final. Ainda na fase de grupos,

os paulistanos poderão ver as

selecções da Croácia, Uruguai,

Bélgica e Coreia do Sul.

CUIABÁ(4)

Chile, Austrália, Rússia,

Coreia do Sul, Nigéria, Bósnia

Herzegovina, Japão e Colômbia

são as selecções que, na fase

de grupos, jogarão na Arena

Patanal.

1.

4.

6.

1.

4.

6.

3.

5.

3.

5.

2.

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BRASÍLIA (9)

Portugal e Brasil procuram

inspiração no Estádio Nacional

de Brasília, por onde passam

jogos dos oitavos e quartos de

final e o jogo de apuramento

para o 3.º lugar. Suíça, Equador,

Colômbia, Costa do Marfim,

Camarões e Gana, são outros

países que jogam na capital

brasileira.

FORTALEZA(10)

Brasil e Alemanha sobem ao

gramado do Estádio Castelão,

que serve de palco aos oitavos e

quartos-de-final. Uruguai, Cos-

ta Rica, México, Gana, Grécia

e Costa do Marfim são outros

países que por aqui passam, na

fase de grupos.

RECIFE (6)

Itália e Alemanha querem

dançar o Carnaval na Arena

Pernambuco, estádio que rece-

be um jogo dos oitavos-de-final.

Costa do Marfim, Japão, Costa

Rica, Croácia, México e EUA

também passarão por aqui.

NATAL(5)

A Itália quer ter sucesso no

Estádio das Dunas, por onde

passarão também México,

Camarões, Gana, EUA, Japão,

Grécia, Itália e Uruguai.

MANAUS (7)

A selva testemunhará

um Inglaterra-Itália e um

Portugal-EUA. A Arena

Amazónia receberá ainda

as selecções dos Camarões,

Croácia, Honduras e Suíça.

PORTO ALEGRE (8)

A vizinha Argentina contará

decerto com bastante apoio

no confronto contra a Nigéria,

no Estádio Beira-Rio, que

também acolherá um jogo dos

oitavos de final. Na fase inicial

de grupos, por aqui vão passar

também França, Honduras,

Austrália e Holanda.

RIO DE JANEIRO (11)

O Estádio de Maracanã é o pal-

co da final. Espanha, Argentina

e França utilizam-no, na fase de

grupos, em jeito de aqueci-

mento. Bósnia, Chile, Bélgica,

Rússia, Equador e Bélgica

também aqui jogarão, ao ritmo

do samba carioca.

SALVADOR (12)

Espanha-Holanda e Portugal-

-Alemanha são partidas de

resultado que nem as Mães de

Santo conseguem adivinhar.

Assim como quem serão as

equipas dos oitavos e quartos-

-de-final. Pela Arena Fonte

Nova, ainda em fase de grupos,

também passarão Suiça, Fran-

ça, Bósnia e Irão.

11.

7.

2. 10. 10.

11.

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9.

8.

9.

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E S P E C I A L

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E S P E C I A L

A F I N A L D A L I G A D O S C A M P E Õ E S ,

N O E S T Á D I O D A L U Z , E M L I S B O A ,

A 2 4 D E M A I O , É O P O N T O A L T O D O S 1 0 0 A N O S

D A F E D E R A Ç Ã O P O R T U G U E S A D E F U T E B O L

( F P F ) . “ U M D E S A F I O O R G A N I Z A T I V O S E M

P R E C E D E N T E S P A R A U M S Ó J O G O ” , R E S U M E

F E R N A N D O G O M E S , P R E S I D E N T E D A F P F.

Real Madrid e Atlético de Madrid são as equipas que vão disputar a Final

da UEFA Champions League no próximo dia 24 de Maio, no Estádio da Luz, em Lisboa. Uma final que se adivinha acesa, com ambas as equipas a lutarem em campo para levarem para casa o almejado troféu. Mas a final da Champions não se irá esgotar nos 90 minutos que irão decidir quem é o melhor dos melhores. Lisboa acordou para este mega evento desportivo no passado dia 17 de Abril, quando a NRP Sagres, o mais emblemático navio da Mari-nha Portuguesa, chegou a Belém transportando os troféus de ambas as finais (a masculina, mas também a feminina, cujo jogo de-cisivo ocorre dia 22 de Maio, dois dias antes da final masculina, no Estádio do Restelo).Os troféus desembarcaram em Belém, local de onde os Navega-dores portugueses partiram para a Epopeia dos Descobrimen-tos. O antigo internacional de futebol Vítor Baía e a directora para o Futebol Feminino da FPF,

Mónica Jorge, tiveram a honra de transportar os troféus, durante o percurso que os levou de Belém até aos Paços do Concelho. Durante o trajecto, os Troféus viajaram no tradicional eléctrico lisboeta, deslocaram-se pelo Me-tropolitano e andaram de GoCar, surpreendendo os lisboetas em cada etapa do percurso. Em paralelo com ambas as finais e entre os dias 22 e 25 de Maio, os lisboetas e quem visita a capital portuguesa poderão visitar o UEFA Champions Festival, a decorrer na Praça do Comércio. Um espaço escolhido para trazer para a Baixa de Lisboa todas as emoções da Final da UEFA Champions League, com mini-campos de futebol, workshops de habilidades, bem como a possibilidade de estar bem perto deste icónico troféu do fute-bol europeu de clubes e conhecer algumas das estrelas da modali-dade. O espaço vai contar ainda, de 6 a 25 de Maio, com a abertura de um Museu e de uma exposição de fotografias, algumas inéditas, de alguns momentos marcantes desta competição da UEFA. l

A F I N A L D O S C A M P E Õ E S

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O TROFÉU DA TAÇA UEFA PERCORREU AS RUAS DA CIDADE DE LISBOA ANTES DE CHEGAR AO ESTÁDIO DA LUZ ONDE SERÁ ENTREGUE AO NOVO CAMPEÃO EUROPEU 2014.

M I C H E L P L AT I N I , F E R N A N D O G O M E S E LU Í S F I G O N A R E C E P Ç ÃO À TAÇ A

E S TÁ D I O DA LU Z ,S P O RT L I S B OA E B E N F I C A

V Í TO R B A Í AE R G U E N D O A TAÇ AC O M U M J O V E M A D E P TO

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1. O HINO “LIGA DOS CAMPEÕES”É uma das músicas mais co-nhecidas e escutadas no mun-do. No estádio, na televisão, na rádio, nos computadores, tablets ou smartphones. Ape-sar de mundialmente famosa, não entra, no entanto, nos hits nacionais porque não tem versão comercial nem pode ser descarregada via internet. Oficialmente intitulada como “Liga dos Campeões”, com letra de Tony Britten, é uma adaptação de Zadoque (O Sacerdote), um dos hinos de coroação de George Frideric Handel. A UEFA encomendou--o a Britten em 1992 e a peça foi estreada pela Royal Philar-monic Orchestra de Londres e cantada pela Academy of St. Martin in the Fields. O refrão tem as três línguas oficiais utilizadas pela UEFA: inglês, alemão e francês. O hino completo dura três minutos e o refrão é executado antes de cada jogo da Liga dos Cam-peões da UEFA, bem como no início e no fim das transmis-sões televisivas dos jogos.No dia 24 de Maio, no Estádio da Luz, em Lisboa, a banda da GNR subirá ao palco para a interpretar.

2. O TROFÉU O actual Troféu mede 73,5 centímetros de altura e pesa 8,5 quilos. Remonta a 2006.Uma norma, introduzida em 1968/69, permitiu que a Taça se torne propriedade de qualquer clube que vença a competição cinco vezes ou por três ocasiões seguidas. Isso significa que o Real Madrid, o Ajax, o Bayern, o Milan e o Liverpool, têm um exemplar original na sua sala de troféus. A Taça que será entregue na Luz é a quinta versão e foi redesenhada para a final de Wembley, em Londres, em 2013. Depois do original ter sido entregue ao Real de Madrid, em 1966, o secretário-geral da UEFA, Hans Bangerter, decidiu criar uma nova imagem e pediu ao designer Jürg Stadelmann para conceber um novo troféu.

3. OS BILHETESNo Estádio da Luz, os bilhetes mais caros, para os camarotes Super Platina, custam 4450 euros. Super centrais, têm capacidade para 15 pessoas e dão direito a receber uma recorda-ção exclusiva comemorativa da final, acompanhada in loco pelos mimos gastronómicos servidos pelo catering da UEFA, incluindo uma recepção de boas-vindas com champanhe. Os camarotes Platina Deluxe, ao longo da linha lateral, com capacidade entre 15 e 21 pessoas dão direito a buffet e custam 3950 euros. Os bilhetes Platina, nas bancadas Norte/Sul, pagam-se a 2950 euros. E à medida que o metal precioso vai diminuindo de “peso”, tam-bém o preço do camarote desce, bem como as mordomias: ouro e prata a 2450 e 1950 euros respec-tivamente, fecham o caderno de encargos no acesso à passadeira

vermelha. O estádio tem capacidade para 61 500 espectadores. Num leilão que decorreu no site da UEFA foram colocados à venda três mil ingressos. Para os adeptos de cada um dos finalistas há 17 mil bilhetes. Somados, significa que 60% da bilheteira está destinada aos adeptos e público em geral. O restante será distribuído por camarotes, parceiros comerciais, UEFA, associações nacionais, organização local, promoções e os habituais VIP’s. Quanto a preços, tal como em anos anteriores, a UEFA con-sultou a associação de adeptos europeus. E estabeleceu: 390€ (categoria 1), 280€ (categoria 2), 160€ (categoria 3), 70€ (categoria 4) e pack pai e filho (140€), dois bilhetes categoria 2). Pessoas com mobilidade reduzida pagam 70€ e os acompanhante têm entrada gratuita.

4. O PALCOO Estádio da Luz recebe a sua primeira final da Liga dos Cam-peões em 2014. Será a segunda final da principal prova europeia de clubes realizada em Portugal, depois dos escoceses do Celtic terem ganho, em 1966/1967, ao Inter de Milão (2-1), no Estádio Nacional, no Jamor, ainda no formato de Taça dos Campeões Europeus. O Estádio do Sport Lisboa e Benfica recebe a segun-

da grande final, depois da final do Euro 2004. Também o antigo estádio da Luz recebeu a final da extinta Taça das Taças, na temporada de 1991/1992, num jogo em que o Werder Bremen derrotou o Mónaco por 2-0, e a segunda mão da final da Taça UEFA, em 1982/1983, com os belgas do Anderlecht a vencer a prova, depois de empatarem 1-1 com o Benfica, após

5. OS PATROCINADORES As bancadas da Luz serão pintadas, em exclusivo, com as cores da marca automóvel americana Ford, de uma empre-sa de gás russa (Gazprom), de uma multinacional de cervejas holandesa (Heineken), da finan-ceira Mastercard, de um banco italiano (UniCredit), e da marca de material desportivo Adidas, fornecedora da bola oficial da prova e da final. Presentes esta-

rão ainda os gigantes japoneses da electrónica (PlayStation) e do entretenimento (Pro Evolution Soccer da Konami), com este último a ser responsável pelo videojogo oficial da Liga dos Campeões, disponível em con-solas. As marcas patrocinadoras desta competição desde o início, em 1992, recebem quatro placas de publicidade ao redor do pe-rímetro do campo e têm direito ao logótipo nas entrevistas.

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6. A BOLA A marca da bola oficial é Adidas. É branca, com estrelas de cor azul e detalhes laranjas. Tem a inscrição Final Lisbon 2014. Os diferentes tons de azul reflectem a importância que tanto o céu, como o mar, têm desempenhado na história náutica de Lisboa e de Portugal. A cor laranja é uma inspiração retirada dos telhados das casas da capital portuguesa.O vídeo de apresentação da nova bola contou com a participação de grandes nomes da marca das três listras que actuam em clubes europeus, como o inglês Frank Lampard (Chelsea), o português Nani (Manchester United) e o alemão Lukas Podolski (Arsenal). A bola foi apresentada ao lado da Taça e da tradicional águia do clube português.

7. A RECEITAPara a época 2013-2014, a UEFA estimou, para a Liga dos Campeões e para a final da Supertaça Europeia, 1,3 mil milhões de euros de receita comercial bruta, entre direitos de transmissão e contratos comerciais.O vencedor do título mais ambicionado recebe 10, 5 milhões de euros. O finalista vencido fica-se pelos 6,5 milhões. Isso só num jogo. O campeão poderá arrecadar 37,4 milhões de euros. Fa-zendo as contas das receitas fixas: antes do prémio da final, a passagem pelos oitavos-de-final valeu 3,5 milhões de euros, enquanto os quartos-de-final deram 3,9 milhões e a meia-final contribuiu com 4,9 milhões. Para além dos 8,6 milhões de euros de entrada na fase

de Grupos. E aí, as equipas, a cada vitória somaram à contabilidade, para além dos 3 pontos, 1 milhão de euros, enquanto o empate vale 500 mil euros e um ponto. A estes valores acrescem o dinheiro proveniente das transmissões televisivas, que no caso dos clubes de países no topo do ranking pode chegar perto das receitas fixas.

8. OS MEDIAA final da mais importante prova de clubes europeus arrasta aten-ções dos media a nível mundial. São esperados na Luz 450 jornalis-tas e 150 fotógrafos. Via televisão, a final chegará a 150 milhões de pessoas. Na Europa mais de 40 países asseguram a transmissão. Fora da Europa, contam-se o Brasil e outros países da América Latina, EUA, Caraíbas, Canadá, Tailândia, Laos, Cam-boja, Vietname, Coreia do Sul, Macau,Taiwan, China, Hong-Kong, Japão, Mongólia, Birmânia, Singa-pura, Indonésia, Malásia e Brunei, África Sub-Sahariana, Índia, África do Sul, Nigéria, Médio-Oriente ou Oceania.

9. A CERIMÓNIA DE ABERTURAA organização da Cerimónia está a cabo da agência criativa canadiana Circo de Bazuka. A coreografia da abertura vai ser dirigida pela inglesa Wanda Rokicki, coreógrafa das ceri-mónias de abertura e encerra-mento dos Jogos Olímpicos de Atenas e do Mundial 2010, na África do Sul. A organização promete “um espectáculo de

grande dimensão, cheio de re-ferências à cultura portuguesa, com grande repercussão para a imagem da cidade no mundo. 350 voluntários farão parte da equipa artística da Cerimónia de Abertura. Os ensaios decorrem no Estádio Universitário de Lisboa, desde o passado 27 de Abril até ao dia da Final da Liga dos Campeões.

11. A APP Para quem não prescinde do seu smartphone, a UEFA desenvolveu aplicações para descarregar e acompanhar a Liga dos Campeões para os sistemas operativos Andróid e iOS, assim como para Blackberry. Nas Apps poderá encontrar entrevistas a jogadores, análise aos jogos, estatísticas e informações sobre a final.

10. O EMBAIXADOR Luís Figo, ex-jogador do Sporting Clube de Portugal, Barcelona, Real de Madrid, Inter de Milão e vencedor da Liga dos Campeões pelo Real Madrid, em 2002, foi nomeado pela UEFA embaixador da finalno Estádio da Luz.

37,4 milhões de eurosÉ quanto o campeão poderá arrecadar.

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P O R Q U E M M A R C A R O N A L D O ? M A R C A P O R M U I T A S M A R C A S , M A S D E F O R M A

A L T A M E N T E S E L E C T I V A . R O N A L D O É U M A S T R O N O S R E L V A D O S E U M Í C O N E

N O U N I V E R S O D A P U B L I C I D A D E . S E G U N D O A R E V I S T A F O R B E S , F A C T U R O U

E M 2 0 1 3 M A I S D E 3 3 M I L H Õ E S D E E U R O S S Ó P O R D A R C A R A E C O R P O A

M A R C A S C O M P R O J E C Ç Ã O M U N D I A L . É U M N E G Ó C I O Q U E V A L E , N O M Í N I M O ,

5 0 M I L H Õ E S D E E U R O S , E N T R E O R D E N A D O S , P R É M I O S E P U B L I C I D A D E .

C R 7 , U M Í C O N E D O M A R K E T I N G

Os adeptos de futebol ficaram estupefactos quando, em 2009, o Real de Madrid pagou ao Manchester United um valor estratosférico pela

compra do passe do avançado Cristiano Ronaldo: foram 93,8 milhões de euros, à época a transferência mais cara de sempre na história do futebol profissional. Mais, no contrato havia uma cláusula de rescisão no valor de mil milhões de euros e um seguro de 103 milhões para as pernas do jogador. Caras, mas muito bem calculadas. O Real sabia que, além de ter conquistado um jogador genial dentro das quatro linhas, estava a contratar uma das mais talentosas estrelas do marketing mundial.

O que a maioria dos fãs do Desporto Rei

estava longe de imaginar era que, cinco temporadas depois, o clube madrileno estaria a facturar, só com a venda de camisolas com o N.º7 nas costas, um valor estimado em mais de 450 milhões de euros. Um recorde mundial, a um ritmo anual variável entre um milhão e um milhão e duzentas mil camisolas oficiais de Ronaldo vendidas. Uma febre sem sinais de abrandar. Uma fantástica jogada de merchandising da equipa liderada por Florentino Pérez, o presidente do clube merengue.

Só a venda das camisolas, sem custos extra, daria para comprar cinco jogadores da categoria de Cristiano Ronaldo ou ainda para lhe pagar vencimentos, tendo por base os actuais 18 milhões de euros de ordenado líquido anual, até completar os 49 anos de idade.

Para efeitos de marketing, importa menos saber que Cristiano Ronaldo ganha de ordenado 18 milhões de euros por ano, 1,5 milhões por mês, 49 mil por dia (o equivalente a 101 ordenados mínimos nacionais), 2 mil por hora ou 34 euros por minuto, do que descobrir o universo bilionário que as marcas exploram, a reboque da sua icónica imagem e dos seus feitos desportivos.

Segundo cálculos da revista Forbes, publicação que o coloca em 9.º lugar no ranking das 100 principais figuras mundiais, só em prémios, direitos de imagem e em publicidade a marcas, próprios e por conta do Real de Madrid, Cristiano Ronaldo terá rendido mais de 33 milhões de euros, em 2013, tendo ficado o craque na sua conta pessoal com um total de 14 milhões. l

OS NEGÓCIOS OS LUXOSUm íman para as marcas e um empreendedor em negócios próprios, sempre com a orientação da equipa da Gestifute, empresa do seu empresário, amigo e compadre Jorge Mendes. Cristiano Ronaldo apostou recentemente na aplicação Mobitto para smartphones; criou a aplicação “The Game By Ronaldo”; a revista CR7 e-Magazine; e a marca de roupa interior CR7 Underwear, que apresentou nos claustros do Palácio Cibeles, em Madrid. Só a sua presença dá visibilidade e credibiliza negócios, potenciando-os... Ou não fosse o futebolista com maior impacto nas redes sociais, com 72 milhões de fãs no Facebook e 23 milhões de seguidores no Twitter. l

Casas milionárias, jóias valiosas e roupas de marca, viagens paradisíacas e bólides de alta cilindrada, estão entre os luxos com que Cristiano Ronaldo se vai miman-do. Dois dos mais badalados são a sua moradia de luxo em Terras de Bouro, no Parque Nacional Peneda-Gerês, Portugal, avaliada em 4 milhões de euros, e a mansão onde reside, em Madrid, que custou 7 milhões de euros e é uma fortaleza. A outra grande paixão do avançado português são os automóveis de alta cilindrada: terá tido 16 superdesportivos avaliados em 4,5 milhões de euros. Símbolos de poder que são marcas tangíveis e dis-tintivas da sua imagem de sucesso a nível global. l

J O Ã O B É N A R D G A R C I A

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NIKE 6,5 MILHÕES/ANO A marca americana de roupa desportiva Nike conseguiu, numa campanha em 2012, mostrar ao mundo uma imagem inusita-da, divertida até, de Cristiano Ronaldo. Baseado no seu lema de vida: “Adoro ganhar, odeio perder”, combinou na perfeição o seu amor pela música e a sua irreverência brincalhona fora do campo com a sua intransigência profissional quando pisa os relvados. Mais, a marca que carrega Cristiano ao colo criou um logótipo especial para o craque com um coração que simboliza o amor por ganhar e um X representando o ódio de perder. A Nike soube agarrar de forma inteligente a opor-tunidade mediática Ronaldo: começou por lhe pagar 4,5 milhões de euros/ano, quando jogava no Manchester United, mas viu-se forçada, em 2009, a subir a fasquia para 6,5 milhões, por força do assédio da rival Adidas.

BES 4 MILHÕES/ANOEm 2003, o Banco Espírito Santo (BES) assinou, por 250 mil euros anuais, um contrato de exclusividade para usar a imagem de Cristiano Ronaldo e renovou o contrato, em 2010, por uns nunca con-firmados quatro milhões de euros anu-ais, uma parte deles pagos em acções da instituição, mantendo a exclusividade dos direitos sobre a sua imagem para todas as marcas e serviços financeiros em Portugal e Espanha.

GIORGIO ARMANI Quando já tinha assentado arraiais no Real de Madrid, Ronaldo assinou, em Outubro de 2009, um contrato milio-nário com o estilista italiano Giorgio Ar-mani, para ser o novo rosto na colecção Primavera/Verão de 2010 da marca de luxo Emporio Armani. Em roupa interior, deu cara e corpo pela Armani Sports.

LINIC Dar o couro cabeludo desde 2009 pela marca de champôs Linic/Clear já valeu ao artilheiro do Real de Madrid as piores críticas e fê-lo ser alvo das mais variadas piadas. No segredo dos deuses está o valor milionário que a Linic/Clear pagou para ter Ronaldo no seu portefólio de estrelas mundiais.

CASTROL 3 MILHÕES/ANORonaldo é, desde 2009, embaixador global da marca de lubrificantes Castrol, da British Petroleum (BP). Com esta multinacional assinou um contrato por três anos no valor total de 9 milhões de euros e foi o rosto da marca no Mundial da África do Sul, em 2010. A Castrol aproveitou as capacidades físicas do atacante, associando a imagem dos seus produtos à sua “força e agilidade”.

BIMBOO “Senhor Bimbo” começou por ser Lionel Messi, o arqui-rival de CR7, mas a marca de produtos alimentares criada no México em 1945 deu a volta e contratou Cristiano Ro-naldo para ser o rosto das suas campanhas. Um volte-face publicitário que espantou o mundo.

HERBALIFEA empresa de nutrição Herbalife anunciou em 2013 que será a patrocinadora oficial de nutrição de Cristiano Ronaldo no Real Ma-drid até 2018. O acordo de cinco anos inclui direitos globais de publicidade, actividades promocionais, um programa personalizado de nutrição e de uma gama de oferta con-junta de produtos de nutrição desportiva.

EMIRATESRonaldo já era embaixador global da com-panhia aérea que opera a partir do Dubai, mas agora assinou contrato para fazer uma série de filmes, publicitando a companhia, onde contracena com o lendário Pelé.

50 milhões de eurosÉ quanto vale a marca Ronaldo

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N E G Ó C I O S

Qual o estilo de gestão que tem imperado

em Portugal?

O estilo de gestão que tem imperado tem sido o de fazer crescer as empresas muito por aquisições e investimento. Todo o País esteve a crescer. Ou seja, não estivemos a usar recursos escassos para vender mais, mas sim a abrir mais lojas para vender mais. A comprar mais empresas para vender mais, a obter mais fun-do de maneio para vender mais. Há sempre uma coisa que é mais discricionária, e que é aquilo que o dinheiro pode comprar. Ora com dinheiro podemos comprar fundo de maneio, e o gestor não sente o espartilho dos recursos escassos, o que resulta numa ineficiência. Temos portanto uma gestão muito ineficiente, sobretudo no processo de tomada de decisão, que é lentíssimo. É quase como se precisassem de dez horas para resolver um exame que se faz em duas (e alguém lhas desse).

Em vez de ver decisões tomadas em paralelo e em multiprocessamento, as coisas parece que funcionam (e aqui vou usar terminologia

informática): em “batch” não há redes “Pert’”Há um caminho único: primeiro faço isto, depois quando isso estiver pronto faço aquilo, e assim por diante. Ou, agora não faço isto, porque te-nho de fazer aquilo. Muito raramente há coisas que as empresas consigam desenvolver em paralelo. Isto é típico de um organização que não consegue assimilar uma forma de estar no mercado e responder mais rapidamente.

Como explica essa realidade?

Tem a ver com a implementação e a execução. A velocidade de implementação é muito lenta, porque a decisão tem de ser repartida. E sendo repartida tem de ser quase consensual, sem discussão. As nossas empresas ainda têm uma matriz muito “weberiana”, no sentido de que é tudo muito hierarquizado. E esse facto é muitas vezes utilizado no sentido da desresponsa-bilização da decisão. “Weberiana” no sentido de organização bem estruturada, quase de anonimato, com prevalência da função sobre a pessoa, e que hoje vemos espelhado na Função

Pública. Toda a gente quer consensos, toda a gente empurra para o outro, toda a gente aprova se os outros também aprovarem, e todos estes circuitos demoram muito tempo e tornam as organizações muito centradas so-bre si próprias e pouco viradas para o exterior, para o mercado, para a venda. Ora a função principal de qualquer organização é precisa-mente vender. A cultura comercial devia ser a cultura vigente.

Isso não resulta também do facto de a maioria

das empresas serem familiares, com uma gestão

pouco profissionalizada?

Normalmente, nos pequenos negócios fami-liares, os filhos ou os herdeiros tomam conta das funções financeiras. Há ali uma relação de confiança e a família posiciona-se mais na vertente financeira, e não tanto de vendas ou de marketing. Há empresas que conseguem profissionalizar a sua gestão. Estarem lá os su-cessores familiares é um mero acaso. Mas há outras que não o conseguem, em que os filhos

P O D I A T E R S I D O G E S T O R , J U R I S TA O U F I L Ó S O F O . O P T O U P E L A C O N S U LT O R I A .

PA U L O M O R G A D O , 5 0 A N O S , A D M I N I S T R A D O R DA C A P G E M I N I P O R T U G A L , É U M E S P E C TA D O R AT E N T O

D O PA Í S E DA S E M P R E S A S . A U T O R D E VÁ R I O S L I V R O S S O B R E G E S TÃ O , C R I M E S

D E C O L A R I N H O B R A N C O E C O R R U P Ç Ã O , E N T E N D E S E R N E C E S S Á R I O C O N F R O N TA R O S G E S T O R E S

P O R T U G U E S E S C O M C O N D I Ç Õ E S D E L I V R E M E R C A D O , C O M B AT E R A B U R O C R A C I A E D E S M O N TA R O S

CLUSTERS D E I N T E R E S S E S E N T R E E M P R E S A S E E S TA D O .

P A U L O M O R G A D O

A D M I N I S T R A D O R - D E L E G A D O DA C A P G E M I N I P O R T U G A L

“ A G E S T Ã O E M P O R T U G A L

P R E C I S A D E S E R M A I S E F I C I E N T E ”

Á L V A R O D E M E N D O N Ç A

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PA U L O M O R G A D O , A D M I N I S T R A D O R -

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P O R T U G A L

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N E G Ó C I O S

chegam ao poder mesmo sem competências. Os sucessores familiares são impostos e de-pois faz-se um acting de que houve profissio-nalização da gestão. É uma coisa diferente. Até podem escolher um CEO, para tomar conta dos aspectos operacionais, mas mesmo assim as grandes decisões acabam sempre por ser to-madas pela família. O CEO tem muito pouca capacidade de influência e, sobretudo, nunca ousará abrir conflitos com a família.Para mim, a probabilidade de haver sucesso no primeiro caso é bastante superior, sobre-tudo porque não me parece que algumas das qualidade de liderança se transmitam por via hereditária. A liderança pode-se transmitir, mas o ser visionário não.

Mas também há situações em que os pais

prepararam bem os filhos para lhes suceder.

Muitos empresários tiveram a visão de envol-ver e motivar os filhos para desenvolverem projectos e negócios a partir do zero. É claro que nunca nada é 100% meritocrático. Onde se sente mais o papel dos resultados – e onde meritocracia é um factor mais preponderante – é, sobretudo, em multinacionais cotadas. Cotadas, porque têm um ritmo de produção de resultados trimestral e sempre a crescer. Multinacionais, porque não estão tanto aqui no círculo de relações do País e portanto as pessoas são mais distantes, mas que ainda assim têm de ser merecedores da confiança que neles se deposita. Aí, verdadeiramente, a meritocracia é mais relevante.

Nas restantes empresas, a escolha é mais por confiança do accionista, que se conquista muitas vezes por não o afrontar, e acaba por ser uma continuação na gestão daquilo que são as ideias dele. O accionista, na maior parte dos casos, não é analítico, não estuda a docu-mentação e decide pelo que ouve e pelas ideias e impressões com que fica.

Retornando à qualidade genérica da gestão em

Portugal, onde é que as falhas são mais notórias?

Eu acho que está tudo muito atrás disso. O que temos é um conjunto de empresas sujeitas a regulação e que têm uma inércia própria para facturar e vender. Toda a gente consome electricidade, combustíveis e telecomunica-ções. E temos empresas que se criaram em torno do Estado e da banca. Nas empresas dos sectores que já captaram um posicionamento estrutural de vantagem negocial, as reguladas e as que dependem do Estado e da Banca, os

gestores, apesar de geralmente muito bem pagos (porque as rendas são altas) não têm de se confrontar com um dia-a-dia extremamente competitivo que lhes aguce a capacidade de gerir. A excepção é o sector da Grande Distribui-ção, onde a competitividade é constante. Onde se exige mais esforço, porque não se captaram posições de vantagem negocial estruturantes de mercado, é nas pequenas e médias empre-sas, que estão mais sujeitas às condições de livre mercado e que têm de exportar.

Temos três escolas de gestão no top das

melhores da Europa. Por que é que essa

qualidade do ensino não se reflecte mais

directamente na qualidade da gestão?

Não se reflecte porque as pessoas são capturadas pelo funcionamento burocrático das organizações. Quando um gestor vai para uma grande organização, a vertente burocrá-

tica e política condiciona completamente a utilização de uma série de competências. Ele tem de focar-se muito numa determinada especialidade e tende a acreditar que aquilo é uma inevitabilidade, que esse funcionamento burocrático é inevitável.

Há também um aspecto que tem a ver com uma característica muito portuguesa: as pessoas deixam-se encantar pelos cargos. Uma vez investidas num cargo impõem um certo distanciamento, uma certa inacessibilidade…. Somos um País onde a raíz principal não foi em-preendedora. A nossa raíz principal foi sempre a do Estado.

Não há empreendedorismo em Portugal?

Há, mas não é esse o modelo vigente em Portugal. O tecido económico português não é feito desses casos. Não é isso que conta muito no PIB. O que conta são as empresas que fun-

Q U E M É P A U L O M O R G A D O ?

O administrador-delegado da Capgemini Portugal poderia ter tido uma carreira de industrial no negócio de rações da sua família em Leiria, mas o destino levou-o à gestão e consultoria. Paulo Morgado, que em Outubro completará 51 anos, pertence à geração dos “golden boys” saída do curso de Gestão da Universida-de Católica Portuguesa na década de 80.A esta licenciatura acrescentou depois um mestrado em Finanças pela Univer-sidade Católica de Lovaina, na Bélgica, um mestrado em Filosofia pela Católica de Lisboa, e uma segunda licenciatura, em Direito, pela Universidade Lusíada de Lisboa - sempre como o melhor ou um

dos melhores alunos do seu curso. Concluiu também o “Executive Leader-ship Program”, da London Business School. É, desde 2010, Professor no programa executivo de “Strategic

Execution” da Porto Business School e está, neste momento, a completar um Doutoramento em Gestão de Empresas, na Nottigham Trent University, Reino Unido, com uma tese sobre Execução (implementação) Estratégica (ou como transformar decisões tomadas pela Alta Direcção em eficazes acções no terreno).Iniciou a sua vida profissional como consultor na Roland Berger, em 1990, de onde saiu dois anos depois, para inte-grar o Banco Financia, como subdiretor para a área do Corporate Finance. Em 1995, troca a consultoria pela indústria, assumindo o cardo de CEO da Vidago, Melgaço & Pedras Salgadas, de onde saiu, três anos depois, para regressar à Roland Berger, como Sénior Manager. Está na Capgemini desde 2001, onde é hoje o CEO em Portugal e sénior vice-presidente internacional. É, também, desde 2010 Membro do Conselho Geral da Associação Industrial Portuguesa, do Instituto Português de Corporate Gover-nance e da direcção da Ordem dos Economistas.Autor de sete livros, em áreas tão diversas como a gestão, negociação, argumentação, combate à criminalidade financeira e lógica da linguagem, e ainda de contos de ficção em que os temas centrais são a corrupção e os crimes de colarinho branco.

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cionam nos tais mercados regulados, ou que vivem do Estado. É em Lisboa que está o Poder, devido ao peso que o Estado e a banca têm na economia. São estes os dois grandes centros de Poder. A maior parte das empresas viveu à custa, directa ou indirectamente, de trabalhos para o Estado e de financiamentos da banca. O Norte é muito aberto para o exterior, mas pouco aberto ao próprio País, e não estende o seu poder a Sul, nomeadamente a Lisboa.

Estar perto do Poder é assim tão importante?

O que temos visto é que o lobby é muito mais preponderante na manutenção de pessoas em cargos de alta direcção, do que a competência. Temos uma sociedade em que os cargos de maior poder continuam a ser ocupados por pessoas antigas, porque o lobby é uma coisa que se faz por antiguidade. A criação de uma rede de contactos demora tempo. As pessoas

não saem desses lugares e não dão oportuni-dade aos que têm uma matriz de pensamento completamente diferente, mais baseada na competitividade. O que resulta na tal lentidão de decisão.

Como podemos então melhorar a gestão?

Para já tínhamos de ter uma legislação laboral que permitisse despedir pessoas que ocupam altos cargos de direcção, sem termos de lhes pagar grandes indemnizações. Que protegesse menos quem ganha mais dinheiro. Legislação que protege de igual forma quem ganha 7000 euros por mês e quem ganha 700 euros, não faz sentido. Precisamos de uma maior capaci-dade para substituir pessoas instaladas. Temos de criar ambientes propícios para que os gesto-res actuem melhor. Por exemplo, fixando-lhes objectivos ambiciosos, para lhe colocar alguma pressão. Quantas empresas em Portugal fixam objectivos ambiciosos e pagam verdadeira-mente em função do seu cumprimento (e não de uma distribuição paternalista, baseada na amizade)? É preciso remunerar o gestor com uma percentagem variável, em função dos objectivos. Sem dó, nem piedade. Se não os atingir não recebe a componente variável.

Também é preciso melhorar as cobranças. Se faço projectos, tenho de os cobrar. Para a maior parte dos gestores portugueses, a única coisa que lhe tira o sono é se cometem erros de palmatória, se aparecem envolvidos num pro-cesso menos claro, ou se o accionista perdeu a confiança nele. Raramente as dores de cabeça dos nossos gestores são provocadas por falta de performance. Querem melhores gestores? Exponham-nos às condições de mercado.

Mas basta mudar o estilo dos gestores?

Não, também precisamos de um tecido empresarial em que as empresas façam menos negócios com elas próprias.

Quando os bancos começam a financiar, têm necessidade de financiar em cluster. Crio esta empresa e vou financiar aquela outra, que será cliente desta, e mais uma que será forne-cedora... Se eu souber que uma percentagem das minhas vendas está à partida garantida por outras empresas parceiras ou do grupo, não me desenvolvo enquanto gestor, porque não tenho de lutar no mercado. Isso tanto acontece com as empresas que compram habitualmente ao Estado, como com as que estão dentro destes clusters financeiros, e em que as coisas estão mais ou menos reguladas. Só quando aumentarmos o nível de concorrên-

cia no mercado é que conseguiremos preparar gestores para enfrentar um nível de aridez e de acutilância muito superior ao que existe. Mui-tas vezes, enquanto consultor, sou confrontado com aquele género de conversas: “Temos de ter calma, estas coisas fazem-se devagar, estas mudanças organizacionais não se fazem de um dia para o outro...”. Pudera! Como eles não estão em mercado não tem qualquer sentido de urgência. Há uma falta de sentido de urgên-cia em todo o lado.

O que é que a crise alterou na matriz de negócios

da Capgemini?

Uma das nossas componentes do negócio não variou muito: toda a componente de manuten-ção, ou seja de outsourcing, quer de aplicações, quer de infraestruturas. Essa componente mantém-se, apesar de crise, pois os nossos clientes, e entre eles há uma predominância grande da banca, têm de continuar a fun-cionar e porque o outsourcing faz parte das operações correntes dos bancos e dos clientes de outras áreas. O que a crise mudou foi que nos obrigou a ter propostas de valor cada vez mais interessantes para clientes em termos de redução de custos e aumento de vendas.De facto, uma área em que temos estado muito activos tem sido na dos projectos de consulta-doria com tecnologias, sobretudo nas partes que chamamos eficácia comercial ou CRM de força de vendas. O nível de competiti-vidade aumentou significativamente em Portugal e portanto tudo o que sejam ferramentas que permitam enquadrar processos de gestão e medir a eficácia da força de vendas são muito valorizadas pelos clientes.

Houve uma quebra do peso do Estado no

volume de negócios da companhia?

Claramente, o Estado chegou a representar 22% do volume de negócios até 2010. Des-de então, consoante os anos, representa entre 2 a 4%.

Como compensou essa quebra?

Com outros sectores de actividade, que vieram exactamente do lado do outsour-cing, como, por exemplo, a construção. É um sector que, apesar da crise, cresceu devido à necessidade de internacionaliza-ção. Está a ser uma área muito receptiva a estes contratos de outsourcing, porque em vez de deslocalizarem uma equipa inteira, têm o apoio local da Capgemini.l

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quantias anormais, de um lado para o outro, a preços que não reflectem o valor de

mercado, como formas de pagamento de uma série de coisas. O tecido empresarial foi

impregnado dessa economia de interesses.

Porque é que os tribunais não os conseguem condenar?

Os nossos códigos penais e de processo penal não foram feitos para apanhar este tipo

de criminalidade. Imagine o caso de múltiplas transacções entre empresas, em que

há overpricing ou uma renda excessiva paga a alguém. É ainda mais impossível. Qual

é a única forma de combater estes fenómenos de “não mercados’’? É a transparência.

Lista das pessoas do Top 10 que tinham processos com o fisco e que prescreveram.

Publique-se nos jornais de grande tiragem, como se faz com as contas das empresas.

Mandar coisas que se quer combater para o penal é uma hipocrisia. É fazer um acting,

uma encenação, de que se quer combater essas coisas,

mesmo sabendo que não se vai resolver coisa nenhuma. O

âmbito penal é, aliás, o sítio mais protegido por um código

de processo penal que dá excesso de garantias a quem

prevarica.

A crise não mudou isso?

Mais ou menos. Já viu alguma das grandes empresas

falir? Eu não. Não me lembro de uma grande empresa

portuguesa falir e mandar mil pessoas para o desemprego.

São raras...

Neste últimos anos, houve muitas falências...

O que pode ser um sintoma de que estamos a fazer uma reestruturação à

custa dos impostos, à custa da miséria do povo em geral e dos micro-negócios.

Não reestruturámos os tais clusters de poderes que surgiram em torno da

Administração Pública e da banca e, no caso da banca, não pudemos reestruturar,

porque senão iríamos incorrer num risco sistémico gravíssimo. A solução foi

ir fazendo a reestruturação da banca à medida que vão sendo reconhecidas as

imparidades, ao longo de muitos anos. A banca, se não fosse uma entidade de

risco sistémico, deveria ter sofrido um ajustamento muito maior. O contribuinte

não deveria ter tido tanta responsabilidade e ter pago tanto para a sua

reestruturação. Compreendo que era necessário salvaguardar a confiança na

banca, mas era um sector que deveria ter tido uma maior reestruturação.

Por outro lado, como somos lentos a identificar problemas, adiamos as decisões

até à última hora sempre que temos de resolver um problema. E isto não é

apenas um problema de lentidão dos reguladores. A nossa Justiça é lenta e deixa

que quem se anda a apropriar indevidamente de dinheiro o ponha em lugar

seguro e o faça desaparecer do sistema. Só atacam quando já não existe nada

para se recuperar. A minha ideia é de que devíamos ir buscar o dinheiro onde

ele foi parar em maior quantidade. Numa sociedade sul-americanizada,

como a nossa, com uma curva de rendimento muito concentrada no topo,

não faz sentido que tenha sido a base que tenha sido atacada. O Estado não

se reestruturou. l

N E G Ó C I O S

Um pouco por toda a Europa, fala-se da falência da Democracia.

Onde é que esta falhou?

As nossas instituições têm de ter representantes que as dignifiquem, não o contrário.

Sejam quais forem. Mas se estivermos a falar naqueles elementos típicos de um poder,

que é o poder Presidencial, o poder da Assembleia da República, o poder Executivo e

o poder Judicial, têm de ser credíveis. A qualidade das pessoas que têm ocupado esses

cargos, ao longo do tempo e de uma maneira em geral, tem caído, e caído muito. Essa

é uma das razões porque há dez anos escrevo que há muita tendência para mercadejar

com o cargo, porque a dignidade deste, o adjectivo, é cada vez mais superior ao

substantivo. Acho que hoje a própria dignidade do cargo começa a sofrer, com tantos

anos de ocupação por pessoas que não estavam a aportar nada de novo ao mesmo.

A democracia falhou. E o que é que falhou mais? Há uma questão da quantidade

do voto que elege um determinado partido, sem um reflexo da vontade informada

nacional. E há uma escassez de alternativas neste momento em Portugal. Com

escassez de alternativas e com alguém que vai para um Governo sem ser o mais bem

preparado para resolver os problemas, com ciclos eleitorais e uma grande dificuldade

em fazer coligações, não acredito que haja a possibilidade de que a nossa matriz de

fazer negócios uns com os outros se altere. Para mim

uma coligação significa que há dois grupos que vão ser

favorecidos pelo facto de os dois partidos estarem no

Governo ao mesmo tempo. E eu acho hoje - que não há

dinheiro no País -, para conseguir proteger dois grupos,

dificilmente haverá novas coligações.

As coligações acontecem em outros países com maior

facilidade. Tudo porque existe um entendimento sobre

o que é uma estratégia para o País, seja ela para sair

da crise, ou para o desenvolvimento. Lá, as pessoas

conseguem, genuinamente, chegar a acordos para

alcançarem esses objectivos.

Esse falhanço da democracia tem o mesmo nível a Norte e a Sul da Europa?

O povo preocupa-se muito pouco com estas questões, desde que vá vivendo o seu

dia-a-dia, vendo a sua telenovela, etc. Nós apostámos em criar um tipo de sociedade

mais ao estilo das sul-americanas, em que há uma pseudo-elite, que se apropria dos

recursos, e há depois uma grande massa indiferenciada de pessoas disponíveis para

aceitarem uma série de coisas, como se fossem uma fatalidade. A democracia tem as

suas limitações em países onde o voto é pouco informado, o que cria uma tendência

para o partido que quiser ser eleito estar muito predisposto a vender ideias e a cumprir

o ciclo eleitoral. E isso é, num país que está em crise, ainda mais grave, porque não se

fazem turnarounds com muita democracia, ou com excesso dela.

No Norte da Europa o cidadão é mais exigente em relação a uma série de coisas,

porque está mais bem informado. Há uma educação diferente, melhor. Em Portugal,

o problema resulta de herança do fascismo. Se vivessemos há mais tempo em

democracia as coisas poderiam ser diferentes.

E ao nível da corrupção?

A pequena corrupção é um resíduo da burocracia e, por isso, não é de uma extrema

censurabilidade. O que me preocupa mais é que o tecido económico hoje não funciona

em mercado. Funciona com cartas marcadas e com negócios entre empresas e o

problema surge quando se estabelece um complexo de interesses, uma espécie

de cluster, de empresas que trabalham umas com as outras e que movimentam

“O Estado não se reestruturou”

HOJE, EM PORTUGAL, DIFICILMENTE HAVERÁ NOVAS COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS.

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Á L V A R O D E M E N D O N Ç A

Foi no final de 2011 que os grandes investidores chineses, de olhos postos numa Europa em crise e onde as oportunidades de bons negócios saltavam à vista, desco-

briram Portugal.No último mês desse ano, o Governo

português anunciava os resultados da última fase de privatização da EDP, trazendo a Chi-na Three Gorges (CTG) para as primeiras pá-ginas dos jornais. Com a compra dos 21,35% do capital da EDP que ainda se encontravam nas mãos do Estado, a CTG tornava-se a maior accionista da empresa. Era o tiro de partida para os investimentos chineses em Portugal, com a tomada de participações re-levantes em algumas das maiores empresas do País e muitos novos projectos anunciados para os próximos tempos.

Os senhores das privatizaçõesAté 2011, a posição da China como investidor em Portugal era modesta. Nesse ano, segun-do os dados do Banco de Portugal, a China era apenas o 41º investidor estrangeiro. Mas o interesse dos chineses pela última vaga de privatizações de empresas estatais portugue-sas iria alterar profundamente o panorama.

Nos últimos cinco anos, as privatizações renderam 8,1 mil milhões de euros aos cofres do governo português. Metade desse valor foi pago por investidores chineses, que entraram na EDP, na REN e na Caixa Seguros.

A chegada da China Three Gorges à EDP mais não fez do que despertar a atenção dos grandes investidores chineses. Três meses depois, em Fevereiro de 2012, a estatal State Grid tornava-se a maior accionista da REN, pagando 387,15 milhões de euros por 25% do capital da companhia, que detém e explora as redes de distribuição de energia em Portugal.

A mais recente operação, fechada em 2013, foi a venda de 80% da área seguradora do banco estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD) à Fosun International, por mil mi-lhões de euros. Com esta operação, o grupo chinês ganhou o controlo de 30% do mer-cado segurador português, com as marcas Fidelidade, Multicare e Cares.

Em apenas três anos, os investidores chineses conquistavam posições dominantes nos sectores da produção e distribuição de energia, das infraestruturas e dos seguros.

O P A R C E I R O C H I N Ê S

E M Q U AT R O A N O S , A P R O V E I TA N D O A O P O R T U N I D A D E D A S

P R I VAT I Z A Ç Õ E S , A C H I N A T O R N O U - S E U M D O S M A I O R E S

I N V E S T I D O R E S E S T R A N G E I R O S E M P O R T U G A L . H O J E , O S

G R U P O S C H I N E S E S T Ê M P O S I Ç Õ E S D E L I D E R A N Ç A N A E N E R G I A ,

I N F R A E S T R U T U R A S E S E G U R O S . C O M O U T R O S N E G Ó C I O S N A M I R A ,

O S C H I N E S E S Q U E R E M TA M B É M U T I L I Z A R P O R T U G A L C O M O B A S E

D E PA R C E R I A S E S T R AT É G I C A S PA R A O S PA Í S E S O N D E S E FA L A

P O R T U G U Ê S , I N C L U I N D O O B R A S I L .

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A próxima privatização anunciada é a venda da totalidade do capital da EGF, a sub-holding do grupo Águas de Portugal para o tratamento de resíduos sólidos urbanos, através de um concurso público internacio-nal. A EGF gere o lixo de cerca de 64% da população portuguesa, em 174 concelhos, através de 11 sistemas intermunicipais. As chinesas Beijing Waters e Sound Global são alguns dos nomes avançados como potenciais interessados. O Diário Económico noticiou recentemente que a portuguesa Tei-xeira Duarte será parceiro da Sound Global e que a Beijing Waters, que já está em Portugal através da Veolia Water, terá desistido do processo para concentrar-se em concessões futuras no sector das águas. l

Negócios que vão das águas ao imobiliárioÀ margem das privatizações, o capital chinês tem estado atento às oportunidades que vão surgindo. Em Março de 2013, a Beijing Enterprises Water Group comprou, por 95 milhões de euros, a Veolia Water Portugal que assegura o abastecimento de água aos concelhos de Valongo, Paredes, Mafra e Ourém. Pela mesma altura, uma empresa chinesa comprou 35% da EDC Mármores do Alentejo, por 24 milhões de euros, que transforma em marmorite os desperdícios das pedreiras de mármore da região. Cerca de 80% da produção será exportada para a China. No sector imobiliário, e aproveitando as vantagens oferecidas pelos Golden Visa, têm-se multiplicado os negócios com capitais chineses. Diz quem normalmente está bem informado sobre estas coisas, que 2014 não fechará sem o anúncio de um grande investimento chinês na área do imobiliário e do turismo.

De forma indirecta, através de participa-ções no capital em empresas estrangeiras com presença em Portugal, ou de investi-mentos registados a partir de Hong Kong ou Macau, a China tem também posições relevantes nalguns sectores, como o turismo ou os combustíveis.

A Sinopec, maior grupo petrolífero chinês e o segundo maior do mundo, é um dos accionistas da Repsol, a segunda maior distribuidora de combustíveis a operar em Portugal. A Jin Jiang, maior grupo hoteleiro da China fez uma parceira para a área das vendas e do marketing e que passará tam-

Quem é quem?CHINA THREE GORGESA CTG foi constituída em 1993 para desenvolver o projecto da barragem das Três Gargantas (Three Gorges, em inglês), o maior complexo hidroeléctrico do mundo. A parceira chinesa da EDP, tem vários outros investimen-tos em operação ou em projecto na China, a juzante da barragem ao longo do rio Yangtzé, tendo também os investimentos hidroeléctricos e eólicos em vários países da Ásia, África, Médio Oriente, EUA e Canadá, Austrália, Peru, Colômbia, Brasil, Portugal, Macedónia, Grécia e alguns mercados da Europa de leste. A CTC fez uma parceria com o China Development Bank, para o desen-volvimento conjunto de projectos de produção de energia na região Sul de África.

STATE GRIDA estatal State Grid é a 7ª maior companhia do mundo, segundo o ranking Global 500 da revista Fortune, com vendas anuais de 298 mil milhões de dólares e 850 mil empregados. Com sede em Pequim, é o maior grupo de energia chinês, fornecendo electricidade a cerca de 80% das casas do País. Apesar deste quase monopólio no país de origem, a State Grid tem ambições globais e, além de ser o maior accionista da portuguesa REN, tem investi-mentos no Brasil e Filipinas. Em Maio do ano passado anunciou um investimento de 3000 milhões de dólares com a Singapore Power para se tornar o maior distribui-dor de energia na Austrália.

FOSUN GROUPFundados em 1992, o Fosun Group é uma holding com interesses diversificados pelos seguros e serviços financeiros, indústria, recursos e energia, fundos de investimento e gestão de activos. O seu portefólio de negócios integra os sectores do imobiliário, indústria farmacêutica, siderurgia, tecnologias, me-dia digital, turismo, joalharia, comércio a retalho, minas e banca (Minsheng Bank), ocupando posições entre as maiores players chineses em cada uma destas áreas. Na área da gestão de activos tem uma série de fundos, alguns deles em associação com a gestora Carlyle e o grupo segurador Prudential. Na área dos seguros, detém na China a Yong’an P&C Insurance, a Pramerica Fosun Life (ramos vida e seguros de saúde) e resseguradora Peak Reinsurance.É, desde Junho de 2012, o maior accionista do Clube Med, com 10% do capital e com que tem planos para a abertura de uma série de resorts na China. Já em 2014, entrou no BHF-Bank, o maior private bank privado alemão.

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bém pelo cruzamento de participações, com o grupo espanhol Meliá, que tem 11 hotéis das cadeias Meilá e Tryp a operar em Portu-gal. A Estoril Sol, concessionária dos casinos e das zonas de jogo de Lisboa e de Cascais, é desde há mais de 20 anos controlada por capitais de Macau e Hong Kong ligados à família do empresário Stanley Ho, que tam-bém controlam o empreendimento Alta de Lisboa, o maior projecto de desenvolvimento urbanístico da capital portuguesa.

Parcerias para os países lusófonosO interesse da China pelas empresas portu-guesas está também a ter impacto noutras geografias, onde começam a surgir projectos com capitais mistos luso-chineses.

Na EDP, a estratégia da Three Gorges será utilizar a eléctrica portuguesa para aceder aos mercados europeu e norte-americano, onde o grupo português já está presente na produção de energias renováveis. Em contrapartida, o grupo chinês, detido a 100% pelo Estado, ajudará a EDP a implantar-se na Ásia e financiará as actividades de expansão da empresa.

Para já, a CWEI Brasil, participada local da China Three Gorges, tomou 50% da posição que a EDP Brasil tinha no consórcio para a construção e exploração de uma central hidroeléctrica no Rio Teles Pires, entre os Estados de Mato Grosso e do Pará. Depois desta operação, o capital do consórcio ficou repartido entre EDP Brasil e CWEI Brasil, com 33,3% cada, e os brasileiros do grupo Furnas, com os restantes 33,4%.

A hidroeléctrica brasileira terá uma capa-

QUEM É QUEM?

A PRIMEIRA POTÊNCIA ECONÓMICA DO MUNDO?

HUAWEIO gigante chinês das telecomunicações e das tecnologias é a 351ª maior companhia do mundo, com um volume de negócios a rondar os 35 mil milhões de dólares e mais de 150 empregados espalhados 140 países, onde conta como clientes com 45 das 50 maiores operadoras móveis mundiais

BEIJING ENTERPRISES WATERGROUP

Maior operador do sector da água na China, tem sede em Pequim e está cotada na Bolsa de Hong Kong. Faz parte do grupo Beijing Enterprises Holdings Limited, que também opera na distribuição de gás e gestão de infra-estruturas urbanas. A Beijing Waters, além da água tem negócios na área do ambiente e da recolha e tratamento de lixos. Iniciou recente-mente uma estratégia de internacionalização, com a entrada na Malásia e em Portugal, que funcionará como porta de entrada nos mercados europeus.

Que a China suplantaria os EUA como primeira potên-cia económica mundial, a médio prazo, ninguém tinha dúvidas. Bastava olhar para os ritmos de crescimentos anuais dos dois países, para antecipar a mudança. No entanto, segundo um estudo do FMI publicado no final do mês de Abril, os chineses passarão para o primeiro lugar ainda este ano, se levarmos em conta o Produto Interno Bruto (PIB), ajustado pelas paridades de poder de compra,

cinco anos antes do previsto, devido a um crescimento da economia mais forte do que o inicialmente estimado. No final de 2011, o PIB chinês equivalia já a 87% do ame-ricano, tendo ganho nove ponto em apenas seis anos. Em Dezembro, segundo as novas estimativas, a China subirá para a primeira posição, pondo termo a um reinado abso-luto dos EUA, que durava desde 1872, quando os america-nos ultrapassaram o Reino Unido.

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cidade instalada de 700 mW (mega Watts) e integra-se no Acordo de Parceria Estratégica entre a EDP e a CTG, que prevê investi-mentos totais de 2 mil milhões de euros a efectuar, pelo grupo chinês, em projectos de produção de energia renovável já operacio-nais ou a construir.

A entrada da State Grid na REN irá conduzir à criação de duas parcerias em Angola e em Moçambique, detidas em partes iguais pela empresa portuguesa e pelo grupo chinês, anunciou a secretária de Estado do Tesouro e Finanças à data da privatização, Maria Luís Albuquerque, que entretanto foi nomeada ministra das Finanças do Governo português.

No final da reunião do Conselho de Ministros em que foi aprovada a venda de 40% da participação do Estado português na REN ao grupo chinês e à empresa Oman Oil (15%), Maria Luís Albuquerque disse que a constituição daquelas duas parcerias, bem como a identificação de três projectos para investimento conjunto com a REN em linhas de transmissão de electricidade no Brasil, é um dos compromissos assumidos pela State Grid Corp. no âmbito da sua proposta de compra. Além daqueles três projectos, a State Grid assumiu ainda o compromisso de con-tratar a assessoria técnica da REN no Brasil, país onde o grupo chinês já está presente. O mercado chinês poderá também vir a ser ex-plorado pela REN, embora não sejam ainda

O INTERESSE DA CHINA PELAS EMPRESAS PORTUGUESAS ESTÁ TAMBÉM A TER IMPACTO NOUTRAS GEOGRAFIAS.

CHUVA DE YUANS

A PRIMEIRA POTÊNCIA ECONÓMICA DO MUNDO?

Desde a compra de 21,35% da EDP pela China Three Gorges, foram vários os grandes investimentos de chineses em Portugal.

Em Dezembro, no âmbito da última fase de privatização da EDP-Energias de Portugal, o Governo anuncia que a China Three Gorges foi a vencedora do concurso para a compra de 21,35% do grupo português, por 2,69 mil milhões de euros.

State Grid compra 25,0% da REN, por 387 milhões de euros.

ICBC - Industrial and Commercial Bank of China ICBC abre, em Lisboa, perto do Marquês de Pombal, o primeiro escritório em Portugal.

A chinesa Huawei inaugura um novo centro tecnológico em Lisboa, um projec-to de 10 milhões de euros, para suporte aos projectos no mercado português, e que se somam aos 40 milhões investidos pela companhia chinesa desde a entrada no mercado português, em 2004.

China Three Gorges compra 49% dos activos eólicos da EDP Renováveis em Portugal, por 359 milhões de euros.

Bank of China abre em Lisboa um escritórios e um balcão de atendimento a clientes.

Beijing Enterprises Water Group, maior operador do sector da água na China, anun-cia a compra, por 95 milhões de euros, da Veolia Water Portugal, empresa francesa concessionária do abastecimento de água em Valongo, Paredes, Mafra e Ourém.

A Hanergy Solar anuncia negociações para a compra de dois projectos foto-voltaicos em Portugal, com potência de 4,4 megawatts. As conversações, no entanto, acabariam por falhar.

Aquisição de 35% da empresa EDC Mármores, do Alentejo, por parte de uma empresa chinesa, que investirá 24 milhões de euros em Portugal. A Fosun International compra, por 1000 milhões de euros, 80% da área seguradora da Caixa Geral de Depósitos, que inclui a Fidelidade, a Multicare e a Cares.

Chineses interessados na privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), sub-holding da Águas de Portugal (AdP) para o tratamento de resíduos sólidos urbanos e que gere a recolha e o processamento do lixo em 174 concelhos, através de 11 sistemas intermunicipais, cobrindo cerca de 64% da população do País. O Diário Económico noticia que a portuguesa Teixeira Duarte irá aliar-se aos chineses da Sound Global e que a Beijing Waters, já presente em Portugal através da Veolia Water, terá desistido para concentrar-se em concessões futuras no sector das águas.

China Development Bank anuncia interesse em comprar participações em ban-cos portugueses, nomeadamente no BCP, mas até agora nada se concretizou. l

2011

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2013

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conhecidas decisões quanto a essa opção de parceria luso-chinesa.

A entrada de chineses na Caixa Seguros concretiza uma cooperação entre Portugal e a China, que será “o primeiro passo significa-tivo para a internacionalização da actividade seguradora da Fosun”, explicou recentemente Guo Guangchang, administrador do grupo.

José de Matos, presidente da Caixa Geral de Depósitos, garante até que esta parceria “tem potencialidade para ser estendida a outras áreas de actividade, dentro e fora de Portugal”. Uma ideia partilhada por Guo Guangchang, que pretende criar sinergias entre as seguradoras portuguesas, a Peak Reinsurance e a Yong’na P&C Insurance, duas das participadas da Fosun para a área seguradora, com o objectivo de “alcançar um rápido desenvolvimento do negócio pelo mundo, especialmente na comunidade de países de língua portuguesa”.

Que surpresas trará o Ano do Cavalo?No início do ano, durante a cerimónia de assinatura do contrato de venda da Caixa Seguros à Fosun International, em Lisboa, o embaixador da China em Portugal, Huang Songfu, destacou o papel que as empresas chinesas desempenharam no programa de privatizações do Governo português, anun-ciando que ele será reforçado nos próximos tempos. O diplomata chinês assinalou ainda que 2014, segundo o calendário chinês, é o Ano do Cavalo, mitologicamente associado ao vigor, ao progresso e ao sucesso.

A atender no que se passou nestes quatro anos, 2014 poderá ser um ano recheado de boas surpresas com origem no oriente. l

DIPLOMACIA ECONÓMICA

A IMPORTÂNCIA DA ÁFRICA LUSÓFONA

A importância da China como parceiro portu-guês ficou bem reflectida na missão empresarial que acompanhou o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na sua visita oficial, em Maio, a Pequim, Xangai, a capital económica do país, e Macau, a região administrativa espe-cial, que até ao final do século passado esteve sob administração portuguesa. O presidente português viajou a convite do seu homólogo chinês, Xi Jinping, e fez-se acompanhar de vários elementos das pastas económicas do Governo e de representantes de oito dezenas de empre-sas portuguesas, abrangendo vários sectores considerados estratégicos nas relações bilaterais, como a energia, seguros, banca, telecomunica-

ções, turismo, indústria do luxo, comunicação e relações públicas. Cavaco Silva encontrou-se com o primeiro- -ministro e com o presidente da Assembleia Nacional Popular, Li Keqiang e Zhang Dejiang, números dois e três da hierarquia chinesa, respectivamente, a seguir a Xi Jinping, que é também secretário-geral do Partido Comunista Chinês, o cargo mais importante do País. Além da agenda política, a visita oficial incluiu fortes componentes económica, cultural e académica, Na vertente económi-ca, realizaram-se dois seminário em Xangai e Pequim e diversas reuniões de trabalho com empresários dos dois países. l

Os países de língua portuguesa repre-sentam cerca de um quinto das trocas comerciais da China com África, com um peso crescente no total e um excedente comercial em relação a Pequim, de acordo com os dados da Câmara de Comércio Internacional da China, referentes a 2013. As trocas comerciais com os países africanos aumentaram 5,9%, para 210,2

mil milhões de dólares, com as importa-ções chinesas de África a somarem 117,4 mil milhões de dólares e as exportações chinesas para África a atingirem os 93,8 mil milhões.No final de 2013 havia mais de 2000 empre-sas chinesas a operar em África, nos sectores da agricultura, infraestruturas, indústria, extracção de recursos, finanças, comércio e

logística, entre outros.Angola é o segundo parceiro chinês de língua portuguesa no mundo, a seguir ao Brasil, 37 502 milhões de dólares de trocas comer-ciais. As vendas angolanas à China cifraram-se em 33 458 milhões e as compras em 4044 milhões de dólares. Com Moçambique, as trocas comerciais aumentaram 22,6% para 1,64 mil milhões de dólares. l

A V I S I T A P R E S I D E N C I A L À C H I N A T E V E U M A C O M P O N E N T E E C O N Ó M I C A , C U L T U R A L E A C A D É M I C A .

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N E G Ó C I O S

J O Ã O B É N A R D G A R C I A

Numa economia cada vez mais globalizada, a tendên-cia natural é a de que as empresas cresçam apostando na internacionalização. Todos

os países europeus possuem instituições que apoiam os seus empreendedores nos proces-sos de saída além-fronteiras. Em Portugal, os empresários que arriscam a sua vocação glo-bal contam com a experiência da Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento (SOFID) para os aconselhar, incentivar nos planos de expansão e financiar em sectores- -estratégicos.

Actualmente, poucos são os empresários que partem para novas geografias sem uma rede de apoio. Em Portugal, uma das redes que aposta na internacionalização dos negócios, muito especificamente nos países da lusofonia e no âmbito da cooperação financeira, chama-se SOFID, uma entidade especializada em banca de retalho e gestão de fundos, cujo apoio pode significar a diferença entre ganhar e perder em mercados de difícil penetração.

U M P I P E L I N E D E P R O J E C T O S

A M B I C I O S O S

A M A I O R I A D O S E M P R E S Á R I O S P O R T U G U E S E S S O N H A A L A R G A R

O S S E U S N E G Ó C I O S A L É M - F R O N T E I R A S , M A S I G N O R A C O M O P O D E

O B T E R A P O I O S PA R A I N V E S T I R . D E S D E 2 0 0 7, E X I S T E E M P O R T U G A L

U M A P O R TA PA R A M I L H Õ E S D E E U R O S Q U E N Ã O E S TA M O S

A U T I L I Z A R … U M P L ATA F O R M A PA R A U M M U N D O D E F U N D O S

I N T E R N A C I O N A I S Q U E A C O N S E L H A M , O R I E N TA M E E M P R E S TA M

D I N H E I R O D E S T I N A D O A B O N S P R O J E C T O S .

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Francisco Almeida Leite, administrador da Comissão Executiva da SOFID e ex-Secretá-rio de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, explica à Prémio como a insti-tuição bancária cumpre uma dupla função: “Não só apoiamos a internacionalização da economia nacional como estamos em linha com aquilo que são os objectivos da política externa e da acção da cooperação portugue-sa”. Nesse contexto, “a SOFID acompanha as prioridades estratégicas do Estado português em matéria de internacionalização da eco-nomia”, seguindo a política de “não ir para países onde naturalmente Portugal não se sai bem ou onde os empresários portugueses não querem estar”, sublinha.

No fundo, a sociedade bancária funciona como “um apoio financeiro a vários níveis” para quem quer globalizar o seu negócio. Francisco Almeida Leite esclarece os procedi-mentos institucionais mais comuns: “Anali-samos processos e podemos abrir portas aos empresários. Temos concretizado esse papel com sucesso porque possuímos profissio-nais tecnicamente muito dotados. Temos na

PLANETA SOFID

PLANETA SOFIDPROJECTOS CONTRATADOSTOTAL – 49,33 MILHÕES

MOÇAMBIQUE

SENEGAL – 1,2 MILHÕESGUINÉ CONACRI – 7 MILHÕES

Com projectos de raiz, modernização ou expansão, a SOFID tem investimentos já concretizados no montante global de 49,54 milhões

de euros, distribuídos por países de África e América Latina. Desde que a nova administração entrou em funções, em Novembro último,

estão em análise projectos no valor global de 106,41 milhões de euros. Entretanto, foi graças ao apoio desta entidade que

a TV Cabo Angola se instalou neste país lusófono e teve também a assinatura da SOFID o projecto de instalação, com sucesso,

do sistema informático eleitoral angolano.

PROJECTOS CONTRATADOS

49,54 MILHÕESPROJECTOS EM ANÁLISE/EM FASE DE CONTRATAÇÃO

106,41 MILHÕES(DOS QUAIS 21,1 MILHÕES JÁ APROVADOS E EM FASE DE CONTRATAÇÃO)

MOÇAMBIQUE

MARROCOS

MÉXICO

ANGOLA

BULGÁRIA

BRASIL

SENEGAL

GUINÉ CONACRI

Projectos contratados24 MILHÕESProjectos em análise29,64 MILHÕES(Dos quais 6 MILHÕES já aprovados e em fase de contratação)

Projectos contratados0,84 MILHÕES

Projectos contratados2,5 MILHÕESProjectos em análise3,8 MILHÕES

ÁFRICA DO SUL

Projectos contratados8,2 MILHÕESProjectos em análise4 MILHÕES

CABO VERDE

Projectos em análise20,56 MILHÕES(Dos quais 7,1 MILHÕES já aprovados e em fase de contratação)

Projectos contratados14 MILHÕESProjectos em análise23,7 MILHÕES

Projectos em análise2,85 MILHÕES

Projectos em análise13, 66 MILHÕES(Dos quais 8 MILHÕES já aprovados e em fase de contratação)

Projectos em análise1,2 MILHÕES

Projectos em análise7 MILHÕES

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ONDE ESTÁ O DINHEIRO

N E G Ó C I O S

INVESTIMOZ

É o fundo com ADN 100% SOFID. Possui em carteira 94 mi-lhões de euros, resultantes das compensações atribuídas ao Estado português pela entrega da Central Hidroeléctrica de Cahora Bassa ao Estado moçambicano. A verba está pron-ta a ser investida em projectos de iniciativa pública ou privada em Moçambique. O objectivo é o de encontrar parcerias luso-

-moçambicanas de investimento, potenciar a internacionalização de empresas portu-guesas, criar emprego em Moçambique e desenvolver energias renováveis, indústria e energia, ambiente, pescas e agricultura.O fundo, que oferece taxas de juros reduzidas

face ao custo médio ponderado das linhas de crédito comercial, e prazos de carência entre 3 e 9 anos, tem neste momento, um investimento em curso e três projectos em vias de o serem.A aprovação final dos projectos obriga a uma análise conjunta na comissão mista composta pelo Governo português e moçambicano, sendo a SOFID a entidade gestora do fundo e a instituição responsável por encontrar os parceiros adequados para cada investimento. No caso das startups, a SOFID pode participar no capital social das empresas, definindo logo à partida como e quando deixará os empresários caminharem pelo seu próprio pé. l

www.sofid.pt

FACILIDADE DE INVESTIMENTO PARA A VIZINHANÇA (NIF)A NIF (The Neighbourhood Investment Facility) é um fundo europeu que combina empréstimos concedidos pelas instituições financeiras europeias, como o Banco Europeu de Investimento (BEI) com doações da Comissão Europeia e contribuições dos Estados-Membros para projectos de desenvol-vimento nos países da vizinhança da União Europeia (UE). Modalidades de co-financiamento, subvenções de assistência técnica e ope-

rações de capital de risco estão entre as várias formas de intervenção do fundo. A SOFID, enquanto instituição-membro do Financiers Group, está encarregue de identificar projectos, interagir com os promotores, apresentar propostas para apoio e acompanhar os investimentos aprovados.

Países do norte de África como Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto, e do Médio Oriente, como a Palestina, Israel, Líbano e Jordânia, estão entre as nações elegíveis ou passíveis de se candidatarem aos apoios da UE. Também os estados da ponta leste da Europa podem recorrer ao NIF, candidatando--se com projectos sólidos em países como a Arménia, Azerbeijão, Geórgia, Moldávia, Ucrânia ou Bielorrússia.Sejam os projectos da iniciativa de privados, ou contem com o patrocínio dos governos locais, os sectores elegíveis são os transportes, infraestruturas, energia e ambiente, contando para a sua concretização com taxas de juro atractivas para financiar o estudo e a assistência técnica. l

http://ec.europa.eu/europeaid/where/neighbourhood/regional-cooperation/irc/investment_en.htm

“Quero que considerem a SOFID como uma porta de entrada em fundos internacionais, como instrumento capaz de mobilizar recursos e competências técnicas para os vossos projectos”. Este é o desafio que o administrador Francisco Almeida Leite lança aos empresários portugueses que desconhecem a existência de fundos a que podem aceder via SOFID. Conheça os principais.

1

equipa da SOFID quadros oriundos do antigo Banco de Fomento e profissionais jovens que vêm de instituições privadas, facto que nos permite dar respostas a todas as questões que os empresários nos colocam”.

Mas o que procuram afinal os investi-dores junto da SOFID? “Nem sempre os empresários vêm ter connosco à procura de financiamento, embora seja essa a maior

necessidade. Muitos precisam de garantias bancárias e outros questionam como podem levar a sua empresa para países onde o risco é elevado e há pouco apoio dos bancos comer-ciais. Colocam-nos essencialmente perguntas

sobre as condições desses mer-cados. Mas também nos pedem financiamentos superiores a 2,5 milhões de euros, tecto máximo que podemos disponibilizar por projecto. Nesses casos,

cumprindo a nossa de função de facilitadores, orientamo-los para quem os pode co-finan-ciar”, adianta o administrador.

Além da missão de apoiar projectos

sólidos de internacionalização em países emergentes e de risco elevado, a SOFID desempenha uma função suplementar em relação à banca comercial. “Podemos facilitar a acção dos empresários quando eles não conseguem recorrer ao crédito. Como detemos uma estrutura accionista que in-tegra o Estado e alguns dos grandes bancos comerciais, temos contactos privilegiados e isso é importante. Muitas vezes os empresá-rios não nos procuram só pela necessidade de financiamento, mas pelo imperativo de dialogar e abrir portas. E aí a SOFID está no seu ambiente natural”, remata Francisco Almeida Leite. l

“PODEMOS FACIL ITAR A ACÇÃO DOS EMPRESÁRIOS QUANDO NÃO CONSEGUEM RECORRER AO CRÉDITO” .

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A SOFID é uma socieda-de financeira, de apoio ao desenvolvimento, que o Governo criou em 2007. Tem como accionista maioritário o Estado, através do Tesouro, com 59,9% do capital social, mas inclui a CGD, BES, BCP e BPI, cada um com 10%, e a ELO, com 0,01% do capital. Integra a rede da EDFI, a Associação de Instituições Financeiras

de Desenvolvimento Europeu, entidade que promove o desenvol-vimento e define onde o dinheiro deve ser aplicado com eficácia. Em Portugal, a SOFID depende directamente do primeiro-ministro, estando a sua tutela atribuída ao Ministério das Finanças. A SOFID inclui no seu Conselho Estratégico a AICEP e o Camões – Instituto

da Cooperação e da Língua, sendo a sua Comissão Executiva composta por, além de Francisco Almeida Leite, Paulo Lopes (CEO), António Azevedo Gomes e os administradores não-executivos António Rebelo de Sousa (Chair-man) e Pedro Cudell. l

O QUE É A SOFID?

FACILIDADE DE INVESTIMENTO NA AMÉRICA LATINA (LAIF)

O LAIF, acrónimo de Latin American Investment Facility, é um fundo específico para a América Latina que financia projectos de infraestruturas na região. Francisco Almeida Leite não tem dúvidas de que “Portugal e os nossos empresários precisam de aceder a estes projectos. Esta administração gostaria de participar no capital social de empresas que se mostrem absolutamente ambiciosas com projec-tos que têm a ver com a nossa missão nos PALOP, mas também em projectos na América Latina, que tenham a ver com as tecnologias de informação e da

comunicação, indústria, construção, agricultura, projectos de segurança e com a língua portuguesa”.Francisco Almeida Leite aspira a que a SOFID possa ser “o pipeline de projectos a apresentar aos

parceiros europeus que gerem estes fundos interna-cionais”, e que estes apoios sejam procurados “por empresários portugueses que busquem instrumen-tos de internacionalização. Confrange-me que nas reuniões europeias surjam projectos de empresários de todos os países, excepto de Portugal. E apenas porque há falta de informação”, remata.l

http://ec.europa.eu/europeaid/where/latin-ame-rica/regional-cooperation/laif/index_en.htm

FUNDO UE-ÁFRICA PARA AS INFRAESTRUTURAS (ITF)

A SOFID é também em Portugal a porta de entrada dos empresários no ITF, o fundo que gere o financia-mento de projectos para infraestruturas em África. “Infelizmente nunca houve projectos apresentados por Portugal, ou por empresas portuguesas, e pessoalmente gostava de os ver a surgir agora. O que tenho consta-tado em Bruxelas, em relação a este fundo, é que, em quinze projectos discutidos, apenas um foi para a África de língua portuguesa, para Moçambique, mas apenas porque este país concorreu directamente ao BEI”, avança Francisco Almeida Leite.

Os candidatos a estes apoios de co--financiamento e cooperação técnica podem contar com apoios monetários facilitado em áreas como os transportes, comunicações, água e energia, tecnolo-gias de informação e comunicação (TIC),

em acções que visam combater a pobreza e promover o crescimento económico de forma sustentada.O ITF combina subvenções da Comissão Europeia e dos Estados membros doadores, com empréstimos de longo prazo concedidos por instituições financeiras a 47 países da África Subsariana, onde se incluem todos os PALOP.A SOFID integra o PGF (Project Financiers Group), a entidade que analisa e avalia os projectos e verifica a sua elegibilidade, encaminhando-os para os órgãos de decisão final. l

http://www.eu-africa-infrastructure-tf.net/

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A N Á L I S E

A Ucrânia, ex-república socialista soviética, com 45 milhões de habitantes, uma economia em situação recessiva (o PIB terá caído 1,25% em 2013) e crescentemente endividada (défice orçamental de 8,4%, em 2013, e uma dívida pública de 86%

do PIB), tornou-se palco de uma ameaça geopolítica e económica, nestes tempos de relançamento débil do crescimento económico europeu. A ruptura dos novos poderes de Kiev, a capital ucraniana, com a liderança russa, agudizou uma crise que já se desenhava há alguns anos.

Com uma recém liderança política pró-ocidental, a Ucrânia reposicio-na-se no mosaico europeu, aproximando-se do Ocidente e afastando-se da Rússia (que representa 60% das suas trocas comerciais), que acusa de trair os acordos de 1994 onde, a troco da entrega do material nuclear instalado no seu território, obteve garantia de respeito pela sua integridade territorial. Com as reservas cambiais a escoarem-se, Kiev acaba de garantir um acordo de associação com a União Europeia e um cheque de 27 mil milhões de dólares da Europa e do FMI, para obviar à bancarrota iminente.

O Ocidente olha a anexação da Crimeia pela Rússia não só como uma violação da integridade territorial da Ucrânia e das leis do Direito internacional, mas também como um sinal de regresso à Guerra Fria. O Presidente russo Vladimir Putin responde, afirmando a inconstituciona-lidade da decisão de Khrushchev, tomada em 1954, quando este antigo presidente da União Soviética cedeu a península da Crimeia à Ucrânia. Além disso Putin legitima a declaração de independência da Crimeia com o precedente da secessão do Kosovo da Sérvia, prontamente reco-nhecida pelo Ocidente.

A reação politica e diplomática europeia e norte-americana foi muito crítica. Não havendo a mínima simpatia europeia pelo avanço para uma terceira fase de sanções no plano económico, elas não poderão no entanto ser excluídas, perante uma eventual escalada da crise com novas secessões de territórios de maioria de população russófona, a sul e leste da Ucrânia.

É evidente que não aproveitaria a ninguém abrir um confronto comercial entre o Ocidente e a Federação Russa, e a Europa sabe-o. Daí

pesar bem as consequência futuras, sabendo que o prejuízo económico poderá afectar tanto ou mais quem o anuncia do que a destinatária.

A Europa importa da Rússia bens no valor de 115 mil milhões de dólares e arrecada das exportações 66 mil milhões por ano. A sua depen-dência energética da Rússia é elevada, não só no gás mas especialmente no petróleo, que em média representa 35% das suas importações totais de crude (6 milhões de barris de petróleo/dia). As alternativas escasseiam (Magreb, Estados Unidos e Mar Cáspio/Próximo Oriente), não são ime-diatas e têm um custo incerto.

Por outro lado, a exposição dos bancos da Zona Euro a créditos à Rússia ascendia, em 2012, a 154 mil milhões de dólares, segundo o Banco Internacional de Pagamentos, com os bancos franceses, italianos e alemães à cabeça.

Para a Rússia, a Europa representa 35% das receitas totais de exporta-ções e por isso dificilmente substituíveis no imediato, apesar da tentativa de estreitamento dos laços comerciais energéticos com a China. Com pleno emprego, forte dependência do comércio de bens energéticos e num contexto expectável de redução progressiva do preço do crude nos próximos anos, não interessa à Rússia perder o cliente europeu.

Além do condicionamento das trocas comerciais, o investimento cruzado de empresas russas no Ocidente e de empresas ocidentais na Rússia estaria em risco, penalizando todas as economias envolvidas.

Se a escalada acontecer e as sanções económicas de parte a parte avançarem, as perspectivas de crescimento económico na Europa degradar-se-ão e, por isso, quer os instrumentos de dívida, quer as acções, poderão sofrer uma queda, tanto mais duradoura quanto a extensão no tempo e dimensão monetária das sanções.

Num planeta globalizado e interdependente, todas as razões, incluin-do as económicas, convidam ao bom senso das partes envolvidas, em prol de um diálogo aberto, franco e construtivo. A afirmação do projecto europeu passa também por um papel de vanguarda de iniciativa e lide-rança na gestão desta crise.

O D I L E M A D I P L O M Á T I C O D A C R I M E I A

P E D R O P I N T A S S I L G ODirector de gestão de carteiras de retalho da F&C

U M C O N F R O N T O C O M E R C I A L E N T R E O O C I D E N T E E A R Ú S S I A N Ã O S E R Á

P R O V E I T O S O PA R A N I N G U É M . E A E U R O PA S A B E D I S S O .

A F&C é uma gestora de activos independentes, com uma herança de mais de 140 anos de actividade, cobrindo múltiplas classes de activos para um vasto conjunto de carteiras de seguradoras, fundos de pensões, entidades públicas e instituições de beneficência, bem como para particulares através de planos de poupança e fundos de investimento. A F&C opera em Portugal desde 2001, detendo uma posição de liderança na gestão de activos para clientes institucionais.

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N E G Ó C I O S

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N E G Ó C I O S

C A T A R I N A D A P O N T E

O edifício de quase 3500 me-tros quadrados localiza--se junto às instalações da fábri-ca da Delta, na Herdade das Argamassas, veio substituir

o Museu do Café, inaugurado há vinte anos. O espaço é um sonho antigo do Comendador Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés, que explica a origem desta ideia: “Há trinta anos que adquiro coisas para o Museu do Café e era tempo de haver uma evolução: Ou havia uma evolução na colecção, ou uma evolução científica”. E assim aconteceu. A 28 de Março nasceu o Centro de Ciência do Café (CCC), que veio ultrapassar a tradicional concepção

C I Ê N C I A C O M

A R O M A A C A F É

A V I L A A L E N T E J A N A D E C A M P O M A I O R J Á T I N H A O M U S E U

D O C A F É E A FÁ B R I C A D A D E LTA . D I S P Õ E A G O R A D E U M

C E N T R O D E C I Ê N C I A D E D I C A D O A E S T E F R U T O . O N O V O

C E N T R O D E C I Ê N C I A D O C A F É É O P R I M E I R O E Q U I PA M E N T O

D O G É N E R O N A E U R O PA E T E M C O M O M I S S Ã O D I S S E M I N A R

D E F O R M A I N O VA D O R A E I N T E R A C T I VA A C U LT U R A D O C A F É .

de museu. Um investimento de três mi-lhões de euros por parte da Delta Ciência e Desenvolvimento, co- -financiado por verbas comunitárias.

Cecília Oliveira, directora do CCC, foi chamada para concretizar este sonho do Comendador Rui Nabeiro. Quando lhe passaram as premissas do projecto, foi- -lhe transmitido que o “centro não devia ser estático. As pessoas deveriam ter a oportunidade de sentir, cheirar e estar muito perto do mundo do café, através de momentos e equipamentos museo-gráficos lúdicos”. O CCC respira café e desafia o visitante para a interacção com

vídeos, fotografias e outros dispositivos interactivos.

A componente multimédia é uma das apostas do espaço, cujos conteúdos museográficos e museológicos foram produzidos e desenvolvidos por três em-presas espanholas: La Atalaya Cultural, Tecnologia Creativa e Reina de Corazo-nes. O projecto do edifício esteve a cargo do arquitecto João Simão, do ateliê Díade, Arquitectura e Design.

O Centro possui vários espaços que cumprem fins específicos: uma exposição permanente sobre a cultura do café, uma sala vocacionada para exposições

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temporárias, uma área de acervo museoló-gico, uma biblioteca temática, um auditório polivalente com agenda própria e uma cafetaria com esplanada.

É no percurso da exposição permanente, que ocupa os três pisos do edifício, onde o visitante pode fazer uma viagem pelo mundo do café, marcada por várias experi-ências sensoriais. Através de cinco núcleos temáticos, o visitante fica a conhecer todo o processo de produção, desde o cultivo e torra à preparação e ao cheiro de um bom café. O ponto de partida é uma estufa onde se recria a plantação do café, simulando o clima húmido onde crescem as espécies Arábica e Robusta. Segue-se um área expositiva dedicada à origem etimológica da palavra

café, bem como às lendas e provérbios a ela associados e uma paragem pelos quatro cantos do mundo onde o café faz história. É, aliás, nesta área expositiva que os visitantes são convidados a entrar nas cafetarias mais emblemáticas de Portugal, como o Majestic Café, no Porto, ou o Martinho da Arcada, em Lisboa, sentando-se numa mesa que, através de uma fotografia encenada, nos transporta virtualmente para aqueles locais e que pode ser imediatamente partilhada nas redes sociais. O quarto núcleo, dedicado à transformação do café, possui umas das peças mais curiosas do Centro, uma bola antiga de torrefacção de grandes dimensões, que funciona como um simulador, na qual o visitante pode entrar e experienciar, através

da emissão de sons e calor, o processo de torrefacção, tal como um grão de café dentro de um torrador. No final, são abordados os hábitos do consumo do café no mundo, bem como a sua representação em várias expres-sões artísticas, designadamente na pintura, literatura e cinema. São também lembradas as propriedades terapêuticas do café.

Existe ainda uma parte dedicada à colec-ção do espólio pessoal do Comendador Rui Nabeiro, constituído por mais de mil peças, entre moinhos, cafeteiras, chávenas e até o primeiro automóvel que o comendador utilizou para ir trabalhar – um Ford verde e amarelo dos anos 50.

O espaço para exposições temporárias tem mais de 200 metros quadrados e inaugurou com uma mostra de obras de Arte Contem-porânea, pertencentes à colecção António Cachola. O espaço pode ser alugado para exposições ou eventos. l

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A N Í B A L C AVA C O S I L VA , P R E S I D E N T E D A R E P Ú B L I C A , C O M O C O M E N D A D O R R U I N A B E I R O N A I N A U G U R A Ç Ã O D O C E N T R O D E C I Ê N C I A D O C A F É

O C E N T R O D E C I Ê N C I A D O C A F É T R A N S P O R TA O V I S I TA N T E PA R A O M U N D O D O C A F É AT R AV É S D E R E C R I A Ç Õ E S H I S T Ó R I C A S E D E E L E M E N T O S M U LT I M É D I A

A EXP OSIÇÃO PERMANENTEESTÁ ORGANIZADA EM CINCO NÚCLEOS TEMÁTICOS DIVIDID OS P OR TRÊS P ISOS.

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N E G Ó C I O S

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L I F E S T Y L E

D O L C E C A M P O R E A L

L U X O C O M P E R S O N A L I D A D E P R Ó P R I A

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C A T A R I N A D A P O N T E

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P I S C A R O O L H O À S E M P R E S A S E C O N T I N U A R D E M Ã O S D A D A S C O M

O S E G M E N T O D E L A Z E R . E S T E É O C O M P R O M I S S O D O R E S O R T D O L C E

C A M P O R E A L L I S B O A , E M T O R R E S V E D R A S , Q U E H Á U M A N O A B R I U

P O R TA S C O M N O VA G E S TÃ O , N O V O P O S I C I O N A M E N T O E N O VA

I D E N T I D A D E .

O Dolce CampoReal Lisboa representa a estreia do grupo de hotelaria americano Dolce Hotels and Resorts em Por-tugal e a sua sétima unidade

gerida na Europa. Situado em Torres Vedras, a meia hora a norte de Lisboa e a 20 minutos das praias do Oeste, o empreendimento reabriu, há cerca de um ano, pelas mãos do fundo de reestruturação do sector turístico, o Discovery, que por sua vez entregou a gestão ao grupo norte-americano, sedeado em Rockleigh, Nova Jérsia, e que detém um total de 27 hotéis, resorts e centros de conferências nos Estados Unidos e na Europa.

Enquadrado num cenário de vinhas, campos de golfe, zonas históricas e praia, o Dolce CampoReal Lisboa possui um total de 151 quartos e suites, todos eles com uma

deslumbrante vista sobre o campo de golfe e as paisagens da Serra do Socorro e Archeira.

O hotel dispõe de duas magníficas pisci-nas. Se a ideia for relaxar, o DiVine Spa é o refúgio ideal para descansar corpo e mente. Com uma área de 700 metros quadrados e uma vista panorâmica que, por si só, inspira tranquilidade, o spa disponibiliza, além do menu de massagens e tratamentos especí-ficos para o corpo, uma elegante sala de chá e uma zona de relaxamento onde se pode permanecer após o tratamento. O Dolce CampoReal possui também um Centro de Fitness, um Centro Equestre e Campos de Ténis e de Golfe. Este último, projectado pelo arquitecto Donald Steel, foi outrora a jóia da coroa do resort pelas características singulares do seu campo com vários blind spots, inclina-ções íngremes e vales arborizados.

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O campo apresenta um desafiante percur-so de par 72, em 18 buracos.

Além destas infraestruturas, o Dolce Cam-poReal promove diversas actividades e even-tos, aproveitando não só as potencialidades da sua privilegiada localização, mas também o savoir faire do grupo Dolce. Do cardápio de actividades, muitas delas desenvolvidas em parceria com empresas locais, fazem parte workshops de culinária, provas de vinhos, pas-seios de todo-o-terreno, visitas guiadas, aulas de equitação, oficinas de folclore, exposições de artesões e produtores locais, entre outras. Monotonia e falta de actividades para realizar são, seguramente, dois items que não inte-gram o cardápio deste luxuoso hotel.

Aposta nos negócios e eventosO segmento de negócios e eventos é o prin-cipal pilar da estratégia do Dolce CampoReal, herdeiro da cultura empresarial e do expertise da casa-mãe, que conta com mais de 30 anos de experiência no turismo de negócio e even-tos e que integra a Associação Internacional de Centros de Conferência.

A localização privilegiada a apenas 30 minutos de Lisboa e a tranquilidade do resort representam, apenas por si, características convidativas para a realização de um encon-

tro empresarial. Possui 23 salas de reuniões e um espaço útil de 2150 metros quadrados onde tudo é possível. As salas estão equi-padas com audiovisuais e têm um formato flexível e ajustável às necessidades de cada empresa e evento.

O chef Rui Fernandes comanda a equipa dos três restaurantes do Dolce Campo Real Lisboa, nos quais se dá privilégio aos produ-tos regionais. O restaurante Grande Escolha é o local onde o chef dá asas à sua criatividade e onde os clientes têm a possibilidade de assistir ao vivo às suas criações. O restaurante Manjapão serve o buffet de pequeno-almoço, com uma vasta selecção de produtos regio-nais e caseiros. Por fim, o Sports Club, é ideal para refeições mais ligeiras em ambiente informal. l

Com uma bagagem cheia de desafios bem-sucedidos na indústria hotelei-ra, Miguel de Andrade ocupa, desde

Janeiro de 2014, o cargo de director-geral do Dolce CampoReal Lisboa. Nasceu na Ma-deira e desde cedo se tornou um cidadão do mundo. Fez a sua formação académica entre Lisboa, Porto, Reino Unido e Nova Iorque. Trabalhou durante 11 anos no grupo Inter-continental, tendo passado pelo Ritz, em Lisboa, e pelo Grand Hôtel de Paris. Aos 25 anos foi para Nicarágua trabalhar num hotel em cenário de guerra. Passou pelo México, Cancun, onde teve a sua primeira experiên-cia num resort, como director de comidas e bebidas. De volta à Europa, trabalhou em Madrid, Madeira e, por último, em Tróia. Com um novo desafio hoteleiro pela frente, que considera “um projecto ganhador”, Mi-guel de Andrade explica como se reposiciona um resort de luxo.

Como têm reagido os clientes ao novo posicionamento do Dolce CampoReal?Os visitantes que têm redescoberto o Campo--Real percebem que o casamento com o gru-po Dolce Hotels and Resorts é uma aliança de sucesso que acrescenta valor à experiên-cia. O nosso grande objectivo foi pegar numa

infraestrutura com uma personalidade pró-pria, uma localização ímpar e uma equipa de excelência, de forma a proporcionar uma experiência memorável ao cliente.

Que medidas implementaram a nível de oferta de produto?Fizemos uma grande aposta no segmen-to de negócio e de eventos. Aumen-támos a área das salas de reuniões e melhorámos as condições tecnológicas das salas, equipando-as com mobiliário de topo, sofisticado equipamento audio-visual e uma velocidade de internet de 50MB e até com um concierge digital.Criámos o conceito de Dolce Break Lounge, um espaço para coffee break que se caracte-riza por uma oferta com produtos prove-nientes da Região Oeste. Isto permite que os produtos cheguem ao hotel mais frescos, sendo também uma maneira de contribuir-mos para o negócio das comunidades locais. A oferta dos produtos é desenhada para se adaptar à hora do dia, de manhã encontram- -se, por exemplo, ingredientes energizantes e ricos em omega.

Qual a estratégia de divulgação desta nova oferta de produto?

N E G Ó C I O S

E N T R E V I S T A M I G U E L D E A N D R A D E

D I R E C T O R - G E R A L D O D O L C E C A M P O R E A L L I S B O A

“PROPORCIONAMOS UMA ENORME DIVERSIDADE DE EXPERIÊNCIAS”

DOLCE CAMPOREAL LISBOARUA DO CAMPO, 2565-770 TURCIFAL, TORRES VEDRAS(+351) 261 960 900WWW.DOLCECAMPOREAL.PT

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A materialização do negócio far-se-á primeira-mente dentro do mercado nacional. O nosso esforço de comunicação tem sido feito nesse sentido. O mercado internacional vai, obriga-toriamente, levar mais tempo. Para conquistar este último público vamos recorrer à parceria que temos com a Dolce para organizar Fam Trips e Press Trips, com vista a promover o Dolce CampoReal Lisboa e dar a conhecer quer a qualidade do produto, quer o destino em si. O facto de fazer farte de uma cadeia internacional ajuda igualmente a aumentar a nossa exposição nas key accounts Dolce na Europa e E.U.A.

Além do reforço no segmento MICE (Me-etings, Incentives, Conferences and Exhi-bitions) a que outros públicos pretendem chegar?Apostamos também no turismo de lazer, familiar e de bem-estar. Temos uma estra-tégia desenvolvida para ir ao encontro das necessidades dos vários tipos de clientes.O ano tem procuras distintas e nós temos que estar preparados para responder com qualidade, tanto a uma empresa de eventos, como às necessidades de uma família, de um casal ou de um grupo de amigos que vem procurar diversão, lazer e descanso.

Uma das jóias da coroa do resort é o campo de golfe concebido por Donald Steel. Este produto turístico será também uma das apostas? As zonas Centro e Oeste têm vindo nos últi-mos 15 anos a afirmar-se como um destino de golfe privilegiado. Temos cerca de cinco cam-pos de golfe na região e o Dolce CampoReal quer desempenhar um papel mais activo neste produto. O nosso campo de golfe é fantástico, possui características muito próprias e um grau de dificuldade interessante, já foi inclusivé ce-nário de dois PGA Open. A nossa estratégia para este produto passará por enriquecer a experiência dos golfistas alojados no Dolce, complementando-a com os outros campos da região.

Que outras sinergias desenvolvem com a Região Oeste?Na área de recursos humanos e formação temos parcerias com escolas profissionais de hotelaria do Oeste em que privilegiamos a re-alização de estágios que provenham destas enti-dades. A nível de entretenimento e animação realizámos parcerias com artesões e produtores locais que podem expor os seus produtos no hotel. Por outro lado, promovemos também eventos como o Dolce Wedding, no qual

convidámos fornecedores locais (fotógrafos, designers de moda, floristas) a participarem num open day dedicado à temática do casamen-to. Neste encontro apresentámos um produto chave-na-mão, com fornecedores da região.

Uma das características transversais às unidades hoteleiras da Dolce Hotels and Resorts é a localização estratégica das mesmas. O Dolce CampoReal cumpre esse requisito?Sim, todos os hotéis do grupo se localizam lon-ge do rebuliço das grandes cidades e em locais, que pela sua envolvência com a natureza, favo-recam a concentração e o combate ao stress. O Dolce CampoReal usufrui também desta loca-lização privilegiada, próximo de equipamentos fundamentais para a indústria de lazer como o aeroporto de Lisboa, do qual fica a apenas 25 minutos. Estamos também a uma distância de 25 minutos do centro de Lisboa, a 20 minutos de praias fantásticas da Região Oeste com opor-tunidades de surf ou pesca no Atlântico. Somos vizinhos de Óbidos, uma vila medieval única e com uma programação muito própria de animação, no coração de uma região vinícula e gastronómica riquíssima! Temos por isso a capacidade de proporcionar aos visitantes uma enorme diversidade de experiências. l

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N E G Ó C I O S

S O F I A A R N A U D

O Grupo Visabeira acrescentou mais uma área à sua oferta de serviços. A nova aposta recai no segmento

Sénior e da Saúde, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Azeitão, e aproveitando o know-how do grupo de Viseu na realização de projectos e na

exploração de estabelecimentos hoteleiros. O complexo de Saúde e Bem-Estar Porto Salus, localizado na Herdade de Negreiros, envolveu um investimento de 23 milhões de euros e criou 150 postos de trabalho.

Com o objectivo de oferecer uma resposta única e integrada em Saúde e na assistência à população sénior,

o complexo integra duas valências distintas: uma unidade de Residências assistidas, equivalente a uma unidade hoteleira de categoria superior, e uma unidade de Cuidados de Saúde, cuja principal vocação será o internamento em cuidados continuados e paliativos, prestando simultaneamente assistência à população em geral e servindo também de

C O M P L E X O “ P O R T O S A L U S ”

A A P O S T A D A V I S A B E I R A

N O S E G M E N T O S É N I O R E D A

S A Ú D E

N U M I N V E S T I M E N T O D E 2 3 M I L H Õ E S D E E U R O S , A V I S A B E I R A L A N Ç O U E M A Z E I TÃ O

O C O M P L E X O P O R T O S A L U S , U M P R O J E C T O I N T E G R A D O N A S Á R E A S D A S A Ú D E E

A S S I S T Ê N C I A À P O P U L A Ç Ã O S É N I O R .

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P PROJECTO BENEF IC IOU DO KNOW-HOW DO GRUPO NA EXPLORAÇÃO

DE ESTABELECIMENTOS HOTELE IROS .

retaguarda aos utentes do complexo. Estendendo-se por uma área de

31.500 metros quadrados, a unidade residencial Porto Salus tem capacidade para 120 utentes, disponibilizando 91 unidades de alojamento (53 quartos e 38 suites). “Trata-se de um projecto integrado único vocacionado para a população sénior, proporcionando actividade física e intelectual activa, e a cujos residentes é assegurado o necessário acompanhamento médico e de enfermagem permanente”, explica Jorge Costa, administrador do complexo.

A prestação de cuidados de saúde será assegurada pelo Hospital de Nossa Senhora da Arrábida, que entrou em funcionamento no início do ano, disponibilizando 102 camas. A unidade de Saúde integra ainda uma clínica que disponibiliza consultas externas de várias especialidades em ambulatório, um centro de fisioterapia e um health club, com piscina aquecida, ginásio, sauna e banho turco de utilização comum pelas duas unidades.

“Pretendemos que as pessoas se sintam integradas na sociedade e esta unidade tem todas as condições para que tal aconteça. Além das actividades que

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N E G Ó C I O S

desenvolvemos no interior da unidade, promovemos excursões, iniciativas em conjunto com as famílias, aulas de pintura e de música, aulas de ginástica e hidroginástica e outro tipo de animações”, sublinha Jorge Costa.

O Porto Salus foi projectado pelo gabinete de arquitectura do Grupo Visabeira. O complexo contempla dois edifícios independentes e com acessos distintos, mas funcionalmente ligados por um passadiço ao nível do piso térreo e que partilham, ao nível do subsolo, infra-estruturas comuns.

A criação de um espaço ajardinado e de um espelho de água interior ao

O OBJECTIVO DA VISABEIRA PASSA TAMBÉM POR CAPTAR CLIENTES INTERNACIONAIS.

edificado permite que todos os quartos disponham de vista e assegura aos utentes uma área de fruição tranquila e segura sem necessidade de se deslocarem para o exterior. O complexo dispõe ainda uma ampla área verde circundante, com predominância de pinhal.

Captação de residentes estrangeirosPortugal integra actualmente o Top 10

dos destinos mundiais mais procurados por estrangeiros para viver. As condições climáticas amenas, os abundantes recursos termais e de grande riqueza hidro-geológica, a extensa linha de costas com águas do oceano Atlântico, que são das mais ricas para a prática de talassoterapia, e um Sistema Nacional de Saúde de qualidade reconhecida internacionalmente, são alguns dos factores que fazem de Portugal um destino de excelência e muito popular entre a população sénior internacional.

Segundo Jorge Costa, o objectivo da Visabeira passa também “por cativar esses clientes internacionais, os reformados europeus que têm cá as suas famílias a trabalhar são um dos nossos alvos”. Neste sentido, a Visabeira está a preparar uma estratégia de comunicação a nível europeu e “já estabeleceu contactos com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) no sentido de identificar parcerias para o novo projecto Porto Salus”. No futuro, “o nosso objectivo é desenvolver uma rede de espaços similares de norte a sul do país”, conclui. l

J O R G E C O S TAA D M I N I S T R A D O R D O C O M P L E X O P O RTO S A LU S

AS VALÊNCIAS D ISPONÍVE IS NO COMPLEXOPERMITEM AOS HÓSPEDES A MÁXIMA COMODIDADE.

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N E G Ó C I O S

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N E G Ó C I O S

J O Ã O B É N A R D G A R C I A

Está prestes a acontecer a maior revolução na gastronomia mun-dial. Se nada falhar, será no início de 2016 o momento em que o visionário chef Ferran Adrià, a sua

multidisciplinar equipa da elBulli Founda-tion e os parceiros tecnológicos farão enter naquele que será o lançamento da mais ambiciosa plataforma digital de cozinha vanguardista do mundo e o maior veículo de partilha do saber culinário: a Bullipédia.

A inovadora ferramenta online é aguar-

dada com imensa expectativa no universo culinário gourmet, na crítica gastronómica e também da imprensa mundial, e não che-gará sozinha. A par dos seus disruptivos e úteis conteúdos digitais, a equipa de Ferran Adrià prepara-se para abrir em Março de 2016 um moderno espaço físico de interpre-tação baptizado Centro elBulli 1846, número icónico total das receitas que criou, recriou e deu a conhecer ao mundo desde 1987, ano em que, com 25 anos, assumiu a chefia da cozinha do mítico restaurante catalão elBulli

(várias vezes distinguido como o melhor do mundo) e a missão de só criar e nunca copiar os pratos de outros chefs. Um rasgo que lhe valeu o reconhecimento planetário e a aclamação como melhor chef do mundo.

O megaprojecto do centro interpreta-tivo – que terá cerca de cinco mil metros quadrados, custará nove milhões de euros, e terá a cozinha como veículo condutor – será uma recriação optimizada e ambientalmente correcta do antigo restaurante, no idílico cenário da mesma simpática baía onde

E L B U L L I F O U N D A T I O N

A D E M O C R A T I Z A Ç Ã O D A G A S T R O N O M I A

G O U R M E TC O M E Ç O U A C O N TA G E M D E C R E S C E N T E PA R A A M A I O R R E V O L U Ç Ã O G A S T R O N Ó M I C A D O P L A N E TA .

O S E U A U T O R , F E R R A N A D R I À , I R Á P R E M I R O B O TÃ O N O I N Í C I O D E 2 0 1 6 . N A H I S T Ó R I A D A C U L I N Á R I A

VA N G U A R D I S TA G O U R M E T H AV E R Á U M A N T E S D A B U L L I P É D I A E U M D E P O I S D A B U L L I P É D I A …

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N E G Ó C I O S

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F E R R A N A D R I À ,M E N T O R D A E L B U L L I

F O U N D AT I O N

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N E G Ó C I O S

este se instalou em 1963, na Costa Brava, Catalunha,150 quilómetros a norte da cidade de Barcelona.

O desenho do “não-museu”, como lhe chama Adrià, nasceu no estirador do audaz arquitecto catalão Enric Ruiz-Geli, o cenó-grafo da arquitectura futurista, orgânica e surreal. O espaço expositivo e de criativida-de, cuja configuração o arquitecto já mudou três vezes em três anos, será ousado e promete deixar os visitantes estupefactos.

O culminar de quase três anos inten-sos de trabalho e observação estará ainda reflectido na criação de um laboratório experimental de alta cozinha baptizado como elBulli DNA, o terceiro e último projecto anunciado, que abriu portas em Abril de 2014 no espaço de uma fábrica em Barcelona. Será neste BullipédiaLab que, em articulação constante com universida-

des, escolas de negócios e centros tecno-lógicos de todo o mundo, se dará início ao processo de estudo, criação e elaboração de novos pratos, avaliação e definição de conceitos e aplicação de novas práticas na cozinha, dados que serão posteriormente plasmados nas entradas da futura platafor-ma Bullipédia.

Mestre do experimentalismo na cozinha gourmet, o chef Ferran Adrià, 52 anos celebrados a 14 de Maio, está a preparar as bases de um gigantesco think tank culinário que, há muito, transcendeu as fronteiras da Catalunha e de Espanha. Nomeado pelos peritos na sua área como o melhor cozinheiro do mundo e mentor de quase dois mil chefs em todo o mundo, Adrià recusa-se a aceitar o epíteto de génio, mas não se livra da fama de ser genial e de ter um humor refinado, malandro até.

Alta cozinha para todosDesde que o restaurante elBulli encerrou portas, a 30 de Julho de 2011, Ferran Adrià e a sua equipa iniciaram uma demanda que culminará na implementação destes três ousados projectos. O maior e mais admirável de todos será, sem dúvida, a Bullipédia. Em Abril último deu mais um passo na concre-tização do megaprojecto online ao inaugurar o BullipédiaLab, num hangar em Barcelona. O espaço será doravante o laboratório onde Adrià e equipa buscarão, durante oito meses por ano, explicação para o que é cozinhar e onde milhares de cozinheiros e aspirantes a cozinheiros poderão por em prática as suas ideias, sempre apoiados pelos mais avançados centros de investigação mundial.

A futura enciclopédia 100% dedicada à evolução da culinária - desde os primórdios até à cozinha de vanguarda gourmet - guarda-

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M A I S D E D O I S M I L C H E F S D E T O D O O M U N D O PA S S A R A M P E L A

O U S A D A C O Z I N H A D O E L B U L L I . A Q U E L A Q U E F O I C O N S I D E R A D A

O M A I O R L A B O R AT Ó R I O D E C U L I N Á R I A E X P E R I M E N TA L

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Ferran Adrià tinha 17 anos e um sonho: ir a Ibiza. Tinha 18 anos quando começou a sua aventura

gastronómica, a lavar pratos no restaurante de cozinha francesa do Hotel Playafels, na estância balnear desejada. Dois anos mais tarde era dele, como chef principal, a cozinha do Almirante da Base Naval de Cartagena, no Mediterrânio. Da tropa trouxe a experiência de gerir uma equipa numa cozinha exigente. Da passagem por Ibiza somou a leitura forçada de livros de culinária francesa com ensaios no fogão.Na marinha também conhece o chef Fermí Puig e este consegue-lhe, no Verão de 1983, uma “excursão ao elBulli”, como Adrià adora chamar-lhe. Gostou tanto que, em Março de 1984, o boémio rapaz nascido no bairro operário de L’Hospitalet de Llobregat, nos arredores de Barcelona, começa em definitivo as suas alquimias culinárias no elBulli, o restaurante de alta cozinha que ostentava, desde 1976, uma estrela Michelin e já era um clássico da nouvelle cuisine francesa.

Em 1987, com 25 anos, assume o comando da cozinha e três anos mais tarde compra o restaurante aos patrões, a meias com Juli Soler, sócio e melhor amigo. Em 1997 conquista três estrelas Michelin. Em pouco tempo soma prémios, notoriedade e transforma o elBulli num dos maiores templos da gastronomia mundial. Em 2002 alcança o posto de melhor restaurante do Mundo, lugar a que regressa em 2006 e onde fica até 2009.A inovadora arte de desconstrução da comida que Ferran Adrià pratica, fê-lo catapultar a culinária para um patamar tão alto que poucos são os que lá conseguem chegar. Com os seus elevados graus de ousadia chegaram os epítetos de “Dalí da Culinária”, de “Génio” e de “Pai da Gastronomia Molecular”, título último que rejeita a pés juntos. l

PERFILO RAPAZ QUE QUERIA IR A IBIZA E ACABOU GÉNIO CULINÁRIO NA CATALUNHA

rá na sua base digital todo o saber gastronó-mico e a compilação de todo o conhecimento da alta cozinha moderna ocidental. Depois de trabalhadas e avaliadas, as técnicas e ideias criativas serão colocadas, através de uma rede digital mundial, ao dispor de todos os apaixo-nados por tachos, fogões e boa mesa: desde os mais reputados chefs do planeta aos mais simples amantes caseiros da gastronomia, operando uma verdadeira democratização na forma de cozinhar.

Enquanto os pormenores estão no segredo dos deuses, Ferran Adrià vai dando pequenas pistas, guardando os detalhes fun-damentais para o dia de estreia. Ele é, aliás, um excelente gestor de expectativas. Prova disso, foi a decisão anunciada, de forma abrupta, em 2010, de encerrar o restaurante, quando as listas de espera para uma refeição no elBulli somavam… quase dois milhões

de candidatos, face a uma capacidade de res-posta que rondava os 6 a 8 mil comensais por cada temporada anual.

Cansado por não conseguir ter vida pró-pria, Ferran decidiu parar depois do irmão, Albert, um dia lhe ter dito: “Criámos um monstro que nos vai devorar”. Apercebendo--se que, além de não se sentir feliz, todos co-piavam online as suas criações na internet, decidiu virar a mesa. Mais do que encarar a internet como um inimigo, seria generoso e partilharia tudo o que sabe, todas as técni-cas, tudo o que criou... no ciberespaço. Esse seria, doravante, o seu legado.

Toma a decisão corajosa de parar e encerrar no auge do sucesso. Angaria seis milhões de euros com leilões e jantares em duas temporadas do restaurante, conquista patrocinadores, o apoio tecnológico da espa-nhola Telefónica, faz conferências e lança-se

A D R I À E A S U A E Q U I P A VÃ O G E R A R U M A P L AT A F O R M A Q U E A J U D A R Á Q U A L Q U E R P E S S O A A C R I A R R E C E I T A S I N O VA D O R A S .

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na maior aventura da sua vida.Ferran Adrià, que desde o início dos anos

90 do século passado implementara uma política de cozinha experimentalista, com workshops de culinária, mas também, por exemplo, com programas de estudos sobre arte aplicada ao desenho final dos pratos, sentiu o impulso natural de arriscar e apos-tar em projectos mais ousados. Agarrou bem a fama internacional granjeada com o título conquistado de cinco vezes eleito “Me-lhor Restaurante do Mundo” e usou-a como rampa de lançamento para a criação da elBulli Foundation, uma instituição privada formalizada em Janeiro de 2013.

Espaço de arquivo e criaçãoNo vídeo de apresentação da Bullipédia, a equipa da elBulli Foundation anuncia que “numa disciplina em que há pouco tempo e poucos meios para inovar, mas também num mundo em que temos que partilhar”,

está a preparar “uma ferramenta para cozi-nheiros profissionais que consiste em dois espaços com o mesmo objectivo: criativida-de hoje e arquivo criativo”.

Quando no início de 2016 a Bullipédia puder ser consultada por chefs, aspirantes a chefs, meros curiosos ou comuns amantes da culinária, estes poderão encontrar, de forma ordenada e eficaz, um universo con-ceptualizado e uniformizado de informação sobre produtos, técnicas, receitas e concei-tos que inevitavelmente fornecerão ideias e pistas para a criatividade individual.

No final do mesmo vídeo, Adrià e a sua equipa de 50 especialistas mundiais, em áreas tão distintas quanto a biologia, gestão ou o design gráfico, prometem criar uma plataforma que, articulada com universida-des em todo o mundo a partir da Univer-sidade de Barcelona, garantirá que cada pessoa possa ficar “inspirada para criar e interagir criando novas receitas próprias”. l

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N E G Ó C I O S

A MAIOR REVOLUÇÃO GASTRONÓMICA PASSA POR CRIAR UM LABORATÓRIO, UM CENTRO INTERPRETATIVO E UMA ENCICLOPÉDIA DIGITAL. Como pensa financiar e garantir

a sustentabilidade dos futuros projectos da elBulli Founda-

tion? Venderá parte do legado do restaurante elBulli, que está encerrado desde Agosto de 2011?Não, as pessoas que nos seguem podem ficar tranquilas porque não venderemos nem uma pitada da memória do nosso legado. A elBulli Foundation é uma instituição totalmente privada que, neste momento, está a desenvolver três projec-tos principais: o Centro elBulli 1846, o elBulli DNA e a Bullipédia, porventura o mais badalado de todos. Posso assegurar que um dos grandes objectivos do futuro Centro elBulli 1846 será mesmo o de salvaguardar o legado dos quase 40 mil documentos e objectos que pertencem ao restaurante elBulli. Estamos a criar um centro expositivo dinâmico onde todas as pessoas, que se interessam pela história do nosso restaurante, poderão fazer uma visita muito interactiva, descobrir a nossa história e compreender o nosso percurso. O nosso legado será obviamente usado como ferramenta para esse fim.

Como vai pagar todos estes projectos? Terá o apoio de patrocinadores? Vai criar programas de experiências exclu-sivas para clientes VIP? Apostará forte no merchandising ou já equacionou outras formas criativas de financia-mento?As formas de financiamento serão muito variadas. Contamos receber contribuições provenientes de pessoas, instituições e em-presas que, em todo o mundo, acreditam nos nossos projectos e que nos queiram ajudar financeiramente. Contamos depois cozinhar refeições únicas para os nossos patrocinadores, durante um mês espe-cial por nós definido durante cada ano, oferecendo-lhes experiências culinárias verdadeiramente exclusivas. Todas essas iniciativas servirão para nos financiarmos, tornando possível e viável que a elBulli Foundation perdure no tempo, como dese-jamos. Simultaneamente, iremos pôr em marcha outros meios de financiamento, com contornos finais que ainda estamos a definir internamente. Todas as iniciativas servirão para dar a conhecer mundial-mente a elBulli Foundation e as particu-

E N T R E V I S T A F E R R A N A D R I À

A C L A M A D O M E L H O R C H E F D O M U N D O

“TODOS OS COZINHEIROS FALAM LINGUAGENS BASTANTE DIFERENTES”

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laridades dos nossos projectos. Em todas as nossas iniciativas a questão da sustentabili-dade financeira estará acautelada.

O vosso projecto que mais curiosidade tem suscitado é a Bullipédia. Como funcionará e para que servirá esta ferra-menta?A Bullipédia é verdadeiramente um projecto de grandes dimensões em que es-tamos a trabalhar com muito entusiasmo. Contamos, através dela, descodificar todo o processo culinário físico e criativo, clas-sificando e ordenando toda a informação

existente até ao momento sobre a alta cozi-nha ocidental. De seguida, vamos colocá-lo em formato digital e pô-lo à disposição dos especialistas, estudantes de culinária e de todos os interessados por estas temáticas. Este projecto visa transformar-se na ferra-menta que permitirá reclassificar a termi-nologia da cozinha moderna, definir novos conceitos e ajudar no processo formativo de actuais e futuros cozinheiros em todo o mundo. A Bullipédia permitirá acumular e divulgar conhecimento, ao mesmo tempo que promoverá a criatividade.

Como funcionará, na prática, esta nova ferramenta?Com a Bullipédia, teremos à mão um imen-so banco de dados online, bem organizado, que permitirá localizar rapidamente todos os assuntos relativos à culinária e gastronomia. Mais, a Bullipédia vai-nos permitir descobrir tudo o que ainda não se fez em cozinha e ainda compreender claramente quais serão as vias mais rápidas para criar novos pratos.

Mas como pretende ser a Bullipédia realmente revolucionária, contribuindo

para a definição de novos códigos e de uma nova linguagem para a gastronomia mundial?Ao iniciarmos o projecto, demos conta que afinal quase todos os cozinheiros falam linguagens bastante diferentes. É muito difícil encontrar, por exemplo, dois livros de culinária que tenham o mesmo tipo de índice, igual critério de ordenação ou mesmo de classificação. O nosso primeiro objectivo será o de sermos capazes de fazer uma codificação universal do conceito de cozinha. Queremos possibilitar que tanto os cozinheiros como outros especialistas

em culinária possam estar de acordo, em cada uma das fases em que intervêm. Queremos, com a Bullipédia, assegurar um consenso geral. Acredito que se for possível falarmos todos o mesmo idioma culiná-rio teremos conseguido dar um passo de gigante na hora de gerar e partilhar novos conhecimentos.

O que poderão então os destinatários aprender e ganhar com a utilização da Bullipédia?Os destinatários mais directos passarão a dispor de uma informação culinária de grandes proporções, ordenada e classificada de forma totalmente lógica. Esta nova ferra-menta agilizará as buscas e permitirá criar um sem fim de sinergias criativas. Com a Bullipédia poderemos ampliar o nosso co-nhecimento, ordenar rapidamente o nosso trabalho e utilizá-la sempre que necessário como ferramenta criativa.

A equipa principal da Bullipédia é com-posta por peritos oriundos de várias áre-as. Quais foram os critérios de escolha das disciplinas?

Em cada uma das famílias da Bullipédia (produtos, ferramentas, técnicas, organi-zação e etc) encontra-se um grupo de co-zinheiros a que se juntam peritos de cada área. Na secção de produtos, por exemplo, contamos com a colaboração de biólogos que nos estão a ajudar a fazer a descrição e reclassificação de produtos por catego-rias. Na secção de ferramentas de apresen-tação dos pratos contamos com a colabora-ção de especialistas em desenho, grafismo e até em utensílios de cozinha. Dentro de cada família da Bullipédia temos sempre equipas multidisciplinares para que, desta forma, cheguemos a um consenso sólido e, tanto quanto possível, universal sobre os critérios dos conteúdos finais.

Como será o conceito visual final da plataforma digital da Bullipédia? Terá vídeos educativos? Demonstrativos? Permitirá a interacção com os destinatá-rios? Pode ser enriquecida pelos utiliza-dores, como acontece com a Wikipédia?Bem, de uma coisa tenho a certeza: a Bulli-pédia será uma ferramenta viva. Sobre isso não tenho quaisquer dúvidas. Estamos neste exacto momento a desenvolver os conteúdos da plataforma com a Telefónica e temos cons-ciência de que uma excelente visualização joga um papel fundamental em todo este processo. Sim, haverá muitos vídeos explicativos, mapas visuais, etc. Queremos que, para os nossos futuros utilizadores, navegar pela Bullipédia seja uma experiência muito versátil, dinâmica e também divertida. E, acima de tudo, que as pessoas obtenham a informação que desejam de forma intuitiva, rápida e fácil.

Agora que está mais perto de concreti-zar todos estes projectos, já descobriu realmente o que é a cozinha?Sim e não. Um dado adquirido é que demo-rámos mais de um ano a descodificar o geno-ma do processo culinário. Todavia, continu-amos a reflectir internamente, dia após dia, sobre todas estas matérias. Com o trabalho que estamos a desenvolver para a Bullipédia, eu e a minha equipa consideramos, cada vez mais e sem sombra de dúvidas, que a cozinha é um lugar apaixonante. l

AGRADECIMENTOS: D. André de Quiroga e D. Juan Rico FloresFOTOGRAFIAS: Francesc Guillamet e Maribel Ruíz de Erenchun

O M E L H O R C H E F D O M U N D O S Ó P O D I A E S T A R C O N C E N T R A D O N O M A I S A M B I C I O S O P R O J E C T O C U L I N Á R I O D O P L A N E T A , A B U L L I P É D I A . N U N C A L H E C H A M A R E V O L U C I O N Á R I O , M A S É - O . E M E N T R E V I S T A À P R É M I O , F A L A D A S U S T E N T A B I L I D A D E D O S S E U S P L A N O S E D E C O M O VA I M I M A R P AT R O C I N A D O R E S .

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A R T E

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G A L E R I A 1 1 1

M E I O S É C U L O D E D I C A D O À A R T E

A R T E

C A T A R I N A D A P O N T E

F O I N A G A L E R I A 1 1 1 Q U E E X P U S E R A M P E L A P R I M E I R A V E Z O S E N TÃ O J O V E N S A R T I S TA S J O A Q U I M B R AV O ,

Á LVA R O L A PA , A N T Ó N I O PA L O L O , A N T Ó N I O S E N A , M A S TA M B É M J Ú L I O P O M A R O U PA U L A R E G O . J Á L Á

VA I M E I O S É C U L O E , E S T E S N O M E S , M A I S D O Q U E C O N S A G R A D O S N A H I S T Ó R I A D A A R T E P O R T U G U E S A

D O S É C U L O X X , T E S T E M U N H A M O O L H A R V I S I O N Á R I O E O C A R Á C T E R Í N T E G R O D E U M H O M E M –

M A N U E L D E B R I T O – Q U E , E M C O N J U N T O C O M A M U L H E R E , M A I S TA R D E , O F I L H O , A R L E T E A LV E S D A

S I LVA E R U I B R I T O , C O N S T R U Í R A M U M A D A S M A I S R E S P E I TA D A S G A L E R I A S D E A R T E P O R T U G U E S A S .

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Descíamos as escadas estreitas, como se fosse um alçapão e lá estavam, naquela cave de livros e histórias, o Manuel e a Arlete. Ali, na Livraria 111,

encontrávamos amigos de várias Faculdades, tertúlias de fim de tarde, que eram a luz daqueles tempos escuros de silêncio. Em meados dos anos 60, as guerras preenchiam todos os horizontes, a censura era feroz. Naquele pequeno espaço íntimo, corriam livros “fora do mercado”, passavam infor-mações e cumplicidades. Sentados degraus abaixo, ouvíamos, pela primeira vez, dizer a poesia pelos próprios - Luísa Neto Jorge, Ruy Belo, Fiama e Gastão Cruz”. Esta é apenas uma das muitas memórias partilhadas por um dos clientes mais antigos da Galeria 111,

o médico José Pinto Carmona, que ilustra bem a importância da qualidade das relações humanas, culturais e sociais que, ao longo de mais de meio século, têm sido praticadas nos números 111 e 113 da Rua do Campo Grande, onde se desenvolve o projecto da Galeria 111-Lisboa.

Nascida a partir de um cantinho de uma livraria especializada em livros universi-tários, a Galeria 111 possuiu actualmente dois espaços de galeria em Lisboa, outro no Porto, dois armazéns de acervo (uma deles com 600 metros quadrados), um ar-quivo ímpar da história da arte portuguesa e um património imaterial, constituído por memórias, amigos e coleccionadores espalhados pelo mundo. Aqui se fize-ram as mais importantes exposições de

Viera da Silva, de Sonia Delaunay e de Paula Rego. Há 33 anos, foi à porta do n. 113 da Rua do Campo Grande que a Fundação Calouste Gulbenkian veio bater para mostrar arte portuguesa ao cineasta francês François Truffaut que se encon-trava em Portugal. O mesmo aconteceu quando veio a Portugal um presidente do SPD alemão. Haverá poucas galerias de arte que tenham como amigos e habitués três Presidentes da República – Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. Por aqui passaram Amália Rodrigues, Natália Correia, José Cardoso Pires, David Mourão Ferreira. A Galeria 111 tem hoje um patri-mónio incalculável com mais de duas mil obras em acervo e obras emprestadas em museus e várias instituições.

ENTRE LIVROS E QUADROS

T udo começou em 1959. Manuel de Brito (1928-2005), o grande

protagonista desta história, era na altura funcionário da Livraria Escolar Editora, uma livraria especializada em publicações universitárias, situada na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa. Nesse mesmo ano, foi convidado, já como sócio, a abrir uma sucursal no número 111 do Campo Grande, junto à Cidade Universitária. À semelhança do que já acontecera na livraria--mãe durante a década de 50, onde Almada Negreiros, Abel Manta, Eduardo Viana, Luís Dourdil, entre outros,

animavam o espaço com veementes tertúlias, também a nova Livraria Escolar Editora do Campo Grande, rapidamente se transformou em ponto de encontro de artistas, alunos e professores universitários. Corria o início dos anos 60 e no Campo Grande ouvia-se Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Amália Rodrigues. Estava lançado talvez o maior movimento e foco cultural da cidade de Lisboa.Arlete Alves da Silva, companheira e braço-direito de Manuel de Brito, começou a trabalhar na Livraria em Setembro de 1963. “A livraria

funcionava muito bem, tínhamos contratos com editoras francesas e inglesas, as nossas montras estavam sempre cheias de professores e estudantes a ver as novidades”, explica. Foi neste contexto de fervilhar cultural que, em 1964, nasceu a galeria da Livraria Escolar Editora, com o propósito de mostrar os trabalhos de novos artistas que nunca tinham exposto. Neste ano expuseram, pela primeira vez, Joaquim Bravo, Álvaro Lapa, António Palolo, Santa Bárbara e António Sena. No final dos anos 60 e início dos 70 a galeria atingiu, “um

estatuto profissional, quando Jorge de Brito, amigo e cliente de Manuel, se torna o maior coleccionador português”, relembra Arlete Alves da Silva. O banqueiro e ex-presidente do Benfica contribuiu em grande parte para a afirmação da galeria. A primeira transacção importante foi a venda dos quadros do chamado Grupo do Leão, pertencentes a Francisco Ramos da Costa, então exilado em Paris. A partir daí realizaram--se inúmeras aquisições de obras de arte portuguesa e estrangeira em todo o mundo que abriram para a galeria as portas do mercado internacional. Além

1. Manuel de Brito em 1969 2. Francisco Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen, Lourdes Castro e José Escada na exposição de Lourdes Castro em 1970 3. Livraria Escolar Editora em 1964

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Quando perguntamos a Arlete Alves da Silva o que mudou nestes últimos

50 anos, a resposta é peremptória: Tudo! Antigamente quem abria uma galeria de arte fazia-o por paixão, hoje em dia as pessoas estão mais ligadas ao lado mercantil. Por outro lado, quando acreditávamos no projecto de um artista, levávamo-lo até ao fim, actualmente vejo galerias que se não vendem na primeira exposição deixam de representar os artistas.

Por sua vez, alguns artistas também se tornaram mais materialistas”. Arlete critica, ainda, o excesso de dirigismo de alguns curadores “que tentam dominar o gosto e acabam por se impor à liberdade criadora dos artistas, porque estes acabam por fazer a sua obra de acordo com o que o curador quer”. Quanto à sobrevivência do negócio, Rui Brito explica que, “a 111 tem algumas vantagens em tempos de crise. Sempre demos passos

bem firmes, temos zero euros de dívida, todos os espaços que temos são comprados, temos uma imagem sólida construída ao longo de 50 anos, nunca vendemos uma obra falsa. Somos vistos como pessoas sérias e que praticam preços adequados”.Ainda este ano está previsto o lançamento de uma fotobiografia da Galeria 111 que contará, ao pormenor, o percurso ímpar de livros, quadros, artistas, escritores e amigos que construíram a Galeria 111. l

O QUE MUDOU NA ARTE EM MEIO SÉCULO

do apelido e de uma grande amizade, Jorge e Manuel partilhavam a paixão por um mesmo clube de futebol, o Benfica, o ano de nascimento e o amor pela arte. Rui Brito, o filho mais novo de Manuel, cresceu neste meio, a brincar com Lourdes de Castro e Paula Rego, as suas duas artistas preferidas em criança “por serem muito alegres”, conta Arlete. Aos 15 anos começou a trabalhar aos sábados à tarde na galeria. Foi com esta idade que fez a sua primeira venda a um médico, uma Paula Rego.

“Não comecei mal”, refere Rui de Brito. Depois de passar por quatro cursos diferentes, acabou por se licenciar em História da Arte e por se envolver mais no projecto da galeria, assumindo, em 2004, a direcção conjunta com os pais. “O meu pai era a imagem da história, a minha mãe era a retaguarda e eu era o sangue novo que introduzia novas ideias, novos artistas, novas programações e a parte da informatização”, recorda. Com ele houve uma renovação de artistas: Joana Vasconcelos, João Pedro Vaz,

João Francisco, Francisco Vidal e Gabriel Abrantes, são alguns dos nomes que Rui de Brito introduziu na galeria.A preocupação em aceitar artistas novos sempre foi, desde o princípio, uma constante da 111 que, apesar de há mais de 40 anos trabalhar com a Paula Rego, Lourdes de Castro ou Eduardo Batarda, recebeu sempre novos criadores.Além da missão de divulgação de artistas, Manuel de Brito foi durante nove anos, entre 1994 e 2003, consultor de Artes Plásticas no primeiro telejornal

cultural diário da Europa, o “Acontece” que passava na RTP, onde deu a conhecer centenas de exposições e artistas.Em Novembro de 2005, o grande protagonista deste projecto morre. Arlete Alves da Silva e Rui Brito prosseguem, com olhos postos no futuro, o desígnio do marido e pai, Manuel de Brito.Um ano após a morte de Manuel de Brito foi inaugurado, em Algés, no Palácio Anjos, o Centro de Arte Manuel de Brito, coroando uma carreira de sucesso e um percurso sólido da Galeria 111. l

1. Estudo para o Declínio da Idade Média, 1973, acrílico e colagem sobre tela, 51x40 cm2. Rodrigo Freitas (o arquitecto que fez a primeira galeria e continua amigo e cliente da galeria até hoje), a filha Cláudia, Manuel de Brito, Arlete Alves da Silva e Rui Brito (1988)3. Paula Rego e João César Monteiro (1998)4 . General Ramalho Eanes, Manuela Eanes, Arlete Alves da Silva e Rui Brito

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A C E S S Ó R I O S

I M P R E S C I N D Í V E I S

E M Q U A L Q U E R

G U A R D A - R O U PA

PA R A E S TA

E S TA Ç Ã O .

L A Z E R

S H O P P I N G

E L A

B E L E Z A E P R E C I S Ã O O Happy Sport Tourbillion Joaillerie é o lançamento da Chopard para 2014. Um relógio inteiramente coberto de diamantes que acolhe um movimento tourbillon L.U.C. Disponível em ouro de 18 quilates branco ou rosa.

H O M E N A G E M À A R T EA Swarovski homenageia a arte. Desde o artesanato tribal até a arte contemporânea, esta nova colecção é baseada em tons terra e cores primárias brilhantes.

Ó C U L O S TA I LOREDPara a Primavera/Verão 2014 a colecção de eyewear da Max Mara fez uma homenagem à excelência da alfaiataria e ao savoir faire da marca com sofisticadas elaborações feitas à mão.

LOOK D E S C O N T R A Í D O Blusão, carteira e sapatos de ténis da Longchamp para um look casual chic. Disponível em várias cores, de acordo com a sua preferência e com o seu mood.

X X X X X Xxxxxxx

E L E G Â N C I A I TA L I A N A A nova colecção de fatos de banho La Perla para o Verão de 2014. Elegante e original, um acessório imprescindível no seu guarda-roupa. Disponível na Loja das Meias.

H AVA I A N A S PA R A I P H O N EEsta estação calce umas Havaianas ao seu Iphone. Três combinações de cor diferentes, com a textura do arroz característica dos chinelos Havaianas. Dê um look divertido ao seu telemóvel!

PA R I S , J E T ’A I M EChapéu ao estilo parisiense da nova colecção Primavera/Verão da Louis Vuitton. Uma colecção dedicada a mulheres extrovertidas e esotéricas.

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O S MUST-HAVE

D A P R I M AV E R A - V E R Ã O

2 0 1 4 .

A C E I T E A S

N O S S A S E S C O L H A S

E D I V I R TA - S E !

S H O P P I N G

VA I U M A “ PA R T I D I N H A”Um jogo discreto e elegante da Hackett London para descontrair ao fim do dia ou no intervalo de uma reunião. Um objecto útil e decorativo para o seu escritório.

D O C E S S O N H O S Aproveite o sol e a vida ao ar livre. Imagine-se a descansar numa rede sob um céu azul, a ouvir os pássaros ou o som das ondas do mar. A Hästens apresenta uma rede no tecido azul icónico da marca. Uma peça relaxante e divertida para a sua sala de Verão.

PA R A O M U N D I A LA Gucci lançou uns óculos de sol inspirados nas cores da Bandeira do Brasil para celebrar o Mundial de Futebol. Um modelo desportivo com um design de forma quadrada e uma vibrante paleta de cores.

D I Á R I O D E B O R D OA Louis Vuitton acaba de publicar novos títulos da sua colecção “Travel Book” ilustrada por artistas dos quatro cantos do mundo. A nossa sugestão vai para Veneza, não se esqueça do seu diário de bordo da autoria do artista japonês Jirô Taniguchi .

I L U M I N A C Ã O D E A U T O RA Hermès aventura-se num novo território, o da iluminação. Candeeiro de mesa da colecção criada pelo designer italiano Michele de Lucchi.

P R ÁT I C O S E D I V E R T I D O S Calções de banho da Mosaique, na Loja das Meias. Para um mergulho em grande estilo!

S A U D ÁV E L E E C O L Ó G I C AUm meio de transporte cada vez mais em voga. Portátil e simples de dobrar, as bicicletas da Brompton transportam-se sem dificuldade na mala do carro ou até como bagagem de mão na maioria dos aviões.

E S TA C I O N Á R I O D E L U X OConjunto de secretária da reconhecida marca portuguesa Fine&Candy. Divertidos e clássicos blocos de notas, agendas, lápis, afias, pisa papéis e caixas de papelaria são algumas das peças apresentadas pela marca.

E L E

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L A Z E R

Á L V A R O D E M E N D O N Ç A

O N O V O L U X O A U T O M Ó V E L

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67121

O híbrido é a nova moda do luxo automóvel. Da Fórmula 1 às 24 heures de Le Mans, passando pela última geração de super carros desportivos, como o Porsche 918 ou o La Ferrari, a combinação de mo-tores convencionais com eléctricos é a mais recente

aposta de uma indústria cada vez mais apostada em passar uma imagem de eficiência e respeito pelo ambiente. Os grandes SUV e limusinas de luxo, alimentados por motores gulosos e de alta cilindrada, estão definitivamente out.

Todas as marcas de luxo têm hoje nas suas gamas modelos híbridos. Conciliar altas performances e eficiência, para cumprir os limites de emissões cada vez mais apertados da União Euro-peia, faz hoje parte de uma boa imagem de marca. É neste clube restrito e exclusivo que se alinham alguns dos mais luxuosos automóveis e SUV do mundo. Fica uma selecção, a que podería-mos ainda acrescentar o Infiniti Q70 Hybrid, o Porsche Cayenne Hybrid ou o VW Touareg Hybrid, entre outros nomes do luxo que prometem os seus híbridos para breve.

Bentley Mulsanne HybridA Bentley revelou em Abril, no Salão Automóvel de Pequim, uma variante híbrida da

sua limusina de luxo Mulsanne, que se distinguirá das versões convencionais por ele-

mentos decorativos em cor cobre. O sistema hybrido plug-in aumentará a potência

em 25% e reduzirá as emissões em 70%, garantindo 50 quilómetros de autonomia

em modo 100% eléctrico. Embora não tenham sido revelados detalhes técnicos,

é provável que a Bentley importe o sistema de propulsão dos modelos de luxo de

outras marcas do grupo Volkswagen, já usado pela Porsche, Audi e no VW Touareg.

A Bentley anunciou também o lançamento de um SUV híbrido plug-in para 2017 e

prometeu que, no final da década, 90% dos modelos da sua gama usarão sistemas

híbridos de propulsão.

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68

L A Z E R

Porsche Panamera S E-HybridA segunda geração do Panamera resulta do ligeiro facelift que a Porsche

fez há cerca de um ano e que introduziu na gama o primeiro Plug-in

híbrido de luxo, com ganhos de potência e de consumo face ao híbrido

da primeira geração. Este Panamera S E-Hybrid pode recarregar baterias

em duas horas e meia numa tomada de alto débito e em menos de 4

horas numa normal tomada doméstica. Em modo 100% eléctrico a

autonomia pode ir até aos 36 quilómetros e a velocidade máxima até 135

Km/h. Com a segunda geração nasceu também uma versão Executive,

alongada em 15 centímetros face ao Panamera normal.

Mercedes Benz S 500 Plug-In HybridO S 500 Plug-In Hybrid é o terceiro e o mais sofisticado

modelo híbrido da nova geração Classe S, depois do S 400

Hybrid e do S 300 BlueTec Hybrid. É também o primeiro

Plug-in, ou seja, o primeiro em que as baterias podem ser

recarregadas numa tomada eléctrica. Graças à segunda

geração do sistema híbrido da Mercedes-Benz, este S 500

Plug-in Hybrid estabelece novos recordes de eficiência entre

as grandes berlinas de luxo, com emissões abaixo de 70

gramas por quilómetro e um impressionante consumo de

3 litros por 100 quilómetros. Em modo 100% eléctrico, con-

segue percorrer 30 quilómetros. Uma versão longa limusina

oferece mais 13 centímetros de comprimento.

________________________________________

Ficha Técnica

Dimensões (mm) Comprimento: 5115/ Largura: 1900

/ Altura: 1495 / Entre-eixos: 3035 Propulsão Híbrida

Motor turbodiesel V6 3.0 litros de 245 Cv e 480 Nm e

motor eléctrico de 80kW e 340 Nm Tracção Traseira

Caixa Automática de 7 velocidades Velocidade máxima

250Km/h Aceleração 0-100Km/h 5,5 segundos Consumos

(l/100Km) Misto: 3,0 Emissões CO2 69g/KM

_____________________________________________

Ficha Técnica

Dimensões (mm) Comprimento: 5015 / Largura: 1931 / Altura:

1418 / Entre-eixos: 2920 Propulsão Híbrida Motor V6 3,0 litros

biturbo de 333 Cv entre 5500 a 6500 rpm e motor eléctrico de

70 kW (95 Cv) Potência máxima 416 Cv a 5500 rpm Binário

máximo 590 Nm entre 1250 e 4000 rpm Tracção Traseira

Caixa Automática Tiptronic S de 8 velocidades Velocidade máxima 270Km/h Aceleração 0-100 Km/h 5,5 segundos

Consumos (l/100Km) Misto: 3,1 Emissões CO2 71g/KM

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Page 69: Prémio, maio de 2014

69

Lexus RX 450h 2WDCom o lançamento do RX 450h, em 2005, a Lexus tornou-se o pri-

meiro fabricante de SUV de luxo a estrear uma motorização híbrida.

Com o facelift de 2012, o 450h sofisticou-se ainda mais, elevando a

qualidade e o luxo interior a novos patamares. O sistema Lexus Hy-

brid Drive também foi aprimorado, tornando-se ainda mais eficiente

e passando a dispor de um modo Sport, a juntar aos modos Normal,

Eco e EV (de Electric Drive ou 100% eléctrico).

A tracção integral é garantida automaticamente, sempre que

necessário, por um motor eléctrico suplementar de 50 kW (86 Cv),

instalado directamente no eixo traseiro.

123

Range Rover HybridTambém o pioneiro dos SUV de luxo se converteu à propulsão híbrida, que está

agora disponível nos modelos Range Rover e Range Rover Sport, garantindo uma

redução de 26% nos níveis de emissões e poupanças ainda maiores nos consumos.

Com carroçaria em alumínio e um chassis ultraleve, as versões híbridas do Range

reclamam a originalidade de terem a primeira combinação electricidade-diesel entre

os grandes SUV de luxo. O sistema combina o motor SDV6 3.0 litros diesel com

um motor eléctrico de 35 kW de potência e 170 Nm de binário. Em modo 100%

eléctrico, o Range Riover Hybrid pode atingir os 48 km/h.

_____________________________________________

Ficha Técnica

Dimensões (mm) Comprimento: 4999 / Largura: 1983 / Altura: 1835 / Entre-

eixos: 2922 Propulsão Híbrida Motor turbodiesel V6 3.0 litros de 356 Cv e motor

eléctrico de 35 kW Potência máxima 340 Cv a 4000 rpm Binário máximo 700

Nm entre 1500 e 3000 rpm Tracção Integral permanente Caixa Automática ZF

de 8 velocidades Velocidade máxima 218Km/h Aceleração 0-100Km/h 6,9

segundos Consumos (l/100Km) Estrada: 6,3 / Cidade: 6,7 / Misto: 6,4 Emissões

CO2 169g/KM

_____________________________________________

Ficha Técnica

Dimensões (mm) Comprimento: 4770 / Largura: 1885 / Altura:

1720 / Entre-eixos: 2740 Propulsão Híbrida Motor V6 3.5 litros

de 249 Cv, motor eléctrico de 123 kW (176 Cv) e motor no eixo

traseiro de 50 kW (86 Cv). Potência máxima 299 Cv Tracção

Integral Caixa Automática Velocidade máxima 200Km/h

Aceleração 0-100Km/h 7,8 segundos Consumos (l/100Km)

Estrada: 6,0 / Cidade: 6,5 / Misto: 6,3 Emissões CO2 145g/KM

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Page 70: Prémio, maio de 2014

70

L A Z E R

BMW Activehybrid 7Lançado inicialmente em Outubro de 2008,

a segunda geração do luxuoso Activehybrid

7, derivado da limusina série 7, chegou ao

mercado em 2012. Combina o bloco 3.0 de seis

cilindros biturbo gasolina que equipa o 740i

com um motor eléctrico de 40 kW (55 Cv). Em

conjunto, o sistema híbrido liberta 354 Cv e

um binário de 500 Nm. A caixa é automática

de oito velocidades. A limusina tem mais 14

centímetros de comprimento.

_____________________________________________

Ficha Técnica

Dimensões (mm) Comprimento: 5079 /

Largura: 1902 / Altura: 1471 / Entre-eixos: 3070

Propulsão Híbrida Bloco 3.0 gasolina biturbo

de 320 Cv a 5800 rpm e 450 Nm de binário e

motor eléctrico de 40 kW (55 Cv). Potência

máxima 354 Cv Binário máximo 500 Nm a

1300 rpm Tracção Traseira Caixa Automá-

tica de 8 velocidades Velocidade máxima

250Km/h Aceleração 0-100Km/h 5,7 segun-

dos Consumos (l/100 Km) Estrada: 6,0 / Ci-

dade: 7,2 / Misto: 6,8 Emissões CO2 158g/KM

Audi A8 2.0 TFSI HybridA carroçaria em alumínio reflecte-se no peso e tem correspondência directa

nas performances, consumos e emissões. O A8 Hybrid faz 100 quilómetros

com apenas 6,3 litros e as emissões de 147 g de CO2 por quilómetro. O motor

térmico turbo 2.0 TFSI liberta 211 Cv, a que se somam os 40 kW (55 Cv) do

motor eléctrico. Em modo 100% eléctrico o A8 Hybrid é capaz de atingir os

100 Km/h. Para quem não dispensa chauffeur, a limusina longa tem mais 13

centímetros que um A8 normal.

_____________________________________________

Ficha Técnica

Dimensões (mm) Comprimento: 5135 / Largura: 1949 / Altura: 1460 / Entre-

eixos: 2992 Propulsão Híbrida Combina um motor 2.0 TFSI turbo gasolina

de 211 Cv, com um motor eléctrico de 40 kW (55Cv) Potência máxima 245

Cv a 4300 rpm Binário máximo 480 Nm a 1500 rpm Tracção Dianteira

Caixa Automática Tiptronic 8 velocidades Velocidade máxima 237 Km/h

Aceleração 0-100 Km/h 7,7 segundos Consumos (l/100 Km) Extra-

urbano: 6,2 / Urbano: 6,4 / Misto: 6,3 Emissões CO2 147 g/Km

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Page 71: Prémio, maio de 2014

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Page 72: Prémio, maio de 2014

72

L A Z E R

1937 - O ATENTADO A SALAZARJOÃO MADEIRA1ª EDIÇÃO: Maio de 2014Editor: Esfera dos Livros

“Domingo, 4 de julho de 1937, 10h20. Rua

Barbosa du Bocage. O Presidente do

Conselho, António de Oliveira Salazar,

preparava-se para sair da sua viatura

oficial, um Buick, frente à casa do seu

amigo pessoal Josué Trocado, em cuja

capela privativa costumava assistir

à missa dominical. De repente, uma

enorme explosão atroa os ares e esventra

a rua. Fumo, pedras, lajes e placas voam

pelos ares. Abre-se uma cratera larga

e funda na rua. A perplexidade é total.

Ouve-se gritos, gente que foge, pessoas

que acorrem a ver o sucedido”. Esta é

uma história quase cinematográfica do

atentado a Salazar. l

CAPITÃS DE ABRILANA SOFIA FONSECA1ª EDIÇÃO: Fevereiro 2014Editor: Esfera dos Livros

Esta obra revisita a Revolução

de Abril numa perspectiva

feminina. As protagonistas são

as mulheres dos capitães de

Abril. A jornalista e escritora Ana

Sofia Fonseca percorreu estas

vivências, recordações na primeira

pessoa como se de uma grande

reportagem se tratasse.

O amor colocou-as no centro da

revolução que derrubou o Estado

Novo. “E elas cumpriram o seu

papel. Em casa, para que a liberdade

chegasse à rua”.l

25 DE ABRIL, 40 ANOSANTÓNIO COSTA PINTO1ª EDIÇÃO: Abril 2014Editor: CTT - Correios de Portugal

Os CTT - Correios de Portugal assinalam os

40 anos do 25 de Abril com o lançamento

de um livro e de uma emissão de

selos comemorativos que constituem

uma radiografia multifacetada dos

anos posteriores à também chamada

“Revolução dos Cravos”.

O livro, da autoria de António Costa

Pinto, acompanha os acontecimentos

mais relevantes que marcaram a fase de

transição para a Democracia, sobretudo

os anos que vão de 1974 a 1976, período

de tensões político-sociais, durante o qual

ocorreu o processo de independência das

ex-colónias portuguesas. A obra contém

dois selos e um bloco da emissão filatélica

de 2014 alusiva ao tema. l

HISTÓRIA DO POVO NA REVOLUÇÃO PORTUGUESA 1974-75RAQUEL VARELA1ª EDIÇÃO: Março 2014Editor: Bertrand Editora

A historiadora Raquel Varela

apresenta-nos um retrato da

participação popular na Revolução

do 25 de Abril.

“Nos livros de história eles são,

não poucas vezes, invisíveis.

Mas são os rostos comoventes

destas grandes massas populares

que oferecem sentido àquelas

maravilhosas fotografias da

revolução portuguesa”. l

L I V R O S

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Page 73: Prémio, maio de 2014

73

O ATAQUE AOS MILIONÁRIOSPEDRO JORGE DE CASTRO1ª EDIÇÃO: Março 2014Editor: Esfera dos Livros

O livro do jornalista e historiador

Pedro Jorge Castro destaca a acção

do militar Rosário Dias, adjunto

do então primeiro-ministro Vasco

Gonçalves, na detenção dos líderes

de grandes grupos económicos,

em 1975. Em pleno Processo

Revolucionário em Curso (PREC),

a esquerda e os militares prendem

vários empresários e gestores, sem

culpa formada e com mandatos

em branco, entre os quais membros

das famílias Espírito Santo, Mello e

Champalimaud. l

OS RAPAZES DOS TANQUESALFREDO CUNHA E ADELINO GOMES1ª EDIÇÃO: Março 2014Editor: Porto Editora

Compilação de imagens e

testemunhos exclusivos dos homens

que estiveram frente a frente no

Terreiro do Paço e no Carmo, no dia

25 de Abril de 1974. As fotografias

de Alfredo Cunha e as entrevistas

conduzidas por Adelino Gomes

levam a reviver aquelas horas e a

percebermos as dúvidas, os receios,

a ansiedade, a tensão, a esperança,

as alegrias vividas por cidadãos que,

depois desse dia, regressaram, na

maior parte dos casos, ao anonimato.

A obra dá a conhecer, também, o olhar

que esses homens têm sobre o país,

quarenta anos depois. l

PAÍS DE ABRIL, UMA ANTOLOGIAMANUEL ALEGRE1ª EDIÇÃO: Março 2014Editor: Dom Quixote

Esta antologia reúne 29 poemas de

Manuel de Alegre escritos pelo histórico

socialista ao longo dos últimos 50

anos e reúne poemas originalmente

publicados em “A Praça da Canção”

(1964), “O Canto e As Armas” (1967),

“Atlântico” (1981), “Chegar Aqui”

(1984) e “Livro do Português Errante”

(2001). Compreende ainda um poema

dedicado a Salgueiro Maia, quase

inédito, que só fora publicado uma vez

no Jornal de Letras em 1992.

“Nesta antologia há poemas que

falam de Abril antes de Abril e de

Maio antes de Maio”. l

PORTUGAL, A FLOR E A FOICEJ. RENTES DE CARVALHO1ª EDIÇÃO: Março 2014Editor: Quetzal

Escrito em 1975, em cima dos

acontecimentos que então

convulsionavam Portugal, o livro

“Portugal, a Flor e a Foice” resulta

de uma observação pessoal que um

português a viver no estrangeiro faz

do seu país em mudança. Trinta e

nove anos depois da primeira edição

na Holanda, o livro, que será também

reeditado naquele país, é editado em

Portugal. Com acesso a círculos restritos

nos anos que antecederam e sucederam

a Abril de 1974, e a documentos

ainda hoje classificados, J. Rentes de

Carvalho faz uma história alternativa da

Revolução dos Cravos. l

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D O S S I Ê

74

Às 18h40 do dia 25 de Abril de 1974, as primeiras imagens televisivas dão conta de uma mudança política que trouxe profundas consequências para Portugal.

1974

40 ANOS DE DEMOCRACIA EM PORTUGAL

Basta que esta revista pos-sa ser publicada, com a sua diversidade de temas e opiniões, para dizer que o 25 de Abril valeu a pena. A revolu-ção portuguesa de 1974 teve o mé-rito de apressar a queda de um regi-

me à beira da exaustão e de pôr um ponto final numa guerra colonial que, mesmo à época, já não fazia sentido. Teve o mérito de colocar Portugal em rota de aproximação com as democracias europeia e de liberalizar mercados até então condicionados pela vontade do Estado. Abriu as portas de Portugal à Comunidade Económica Europeia, a percursora da

Á L V A R O D E M E N D O N Ç A

A D E M O C R A C I A C O M E Ç A A Q U I . . .

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Page 75: Prémio, maio de 2014

75

D O S S I Ê

75

O 25 de Novembro de 1975 foi o golpe militar que pôs fim à influência da esquerda radical iniciada em Portugal com o 25 de Abril de 1974

1975

A 2 5 D E N O V E M B R O D E 1 9 7 5 , O S O N H O D A D E M O C R A I A V O LT O U . U M G O L P E M I L I T A R C O M A N D A D O P O R R A M A L H O E A N E S E J A I M E N E V E S T E R M I N O U C O M A F A N T A S I A D E T R A N S F O R M A R P O R T U G A L N U M A E S P É C I E D E C U B A D A E U R O P A .

actual União Europeia, serviu de estudo de caso a outras revoluções posteriores, plantou as sementes de novas de-mocracias em países africanos.

Este foi o lado bom.Depois veio o lado mau: o PREC, o Período Revolucio-

nário em Curso. Um ano e meio de furor revolucioná-rio, que durou até 25 de Novembro de 1975, com greves e manifestações diárias, ocupações selvagens de casas e propriedades, nacionalizações e expropriações de em-presas e negócios, prisões de pessoas sem culpa forma-da e com mandados de captura assinados em branco, ameaças de fuzilamento que levaram milhares de pes-soas a fugir para o estrangeiro e um País dividido ao meio, entre o norte democrata e o sul comunista. Ano e meio de loucura perpetrada por nomes que a história se encarregará de julgar, como Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Gonçalves.

A 25 de Novembro, o sonho da democracia voltou. Um golpe militar comandado por Ramalho Eanes e Jaime Neves terminou com a fantasia de transformar Portugal numa espécie de Cuba da Europa e deu voz a uma imensa maioria silenciosa que não se revia nessa ambição revolucionária. A mesma maioria silenciosa que, no Verão Quente de 75, encheu praças de todo o País para ouvir Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Pinheiro de Azevedo garantirem que a democracia era

possível e que valia a pena lutar pela liberdade.Depois do 25 de Novembro, o país normalizou. A cons-

tituição enterrou a “via para o socialismo” e a economia se-guiu a via para o mercado, o estado de excepção deu lugar ao Estado de Direito, o Conselho da Revolução acabou e os líderes do país passaram a ser democraticamente eleitos. Com grande esforço, e com a ajuda do FMI, Portugal con-seguiu sair da bancarrota, para onde dois choques petrolí-feros e os desvarios revolucionários tinham atirado o País.

As privatizações corrigiram alguns males das nacionali-zações e as portas da integração europeia abriram-se. Che-garam torrentes de fundos comunitários, o país cresceu e desenvolveu-se, chegando a ser apresentado como o “bom aluno da Europa”.

O virar do século trouxe uma década de desânimo. A corrupção, a má gestão das contas públicas e uma suces-são de lideranças políticas sem competência para governar o País, afastaram os eleitores dos eleitos. A crise financeira internacional, a maior desde 1929, voltou a atolar Portugal na bancarrota e obrigou a um Programa de Ajustamento da economia, com o apoio do FMI, da União Europeia e do Banco Central Europeu.

O que se espera agora é que os políticos saibam recu-perar a confiança do País. Todos nós acreditamos que o 25 de Abril valeu a pena. Todos nós queremos continuar a acreditar que valeu. l

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N E G Ó C I O S

76

D O S S I Ê

14 DE JULHO - Ramalho Eanes torna-se no 16º Presidente da República.

1976

economia

economia

Em 1974, quando a revolução rebentou em Portugal, os maio-res encargos orçamentais do Estado eram a Guerra Colonial e os custos com a energia, agra-

vados pelo choque petrolífero mundial de 1973. Quarenta anos depois, o maior peso da despesa pública está do lado das reformas e dos subsídios de desemprego. Os dados nesses itens são impressionantes, quando comparados: em 1974 havia oficialmente registados 2,1% de desempregados e hoje a taxa estará estabilizada nuns elevados 16%. Doze vezes superior. Se formos escalpelizar os números de reformados e pensionistas ficamos ainda mais estupefactos: havia 780 mil aposentados em 1974, hoje saltaram para 3,6 milhões. Esses factos, associados ao endividamento das empresas e das famílias

e às políticas de obras e investimentos públi-cos intensivos, explicam em parte a escalada da dívida pública, medida em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e a reboque de crescimentos económicos anémicos, que a fizeram saltar de 14% do PIB, na alvorada de Abril de 74, para 129% no entardecer de 2014.

Pouco antes de Marcelo Caetano, o Chefe do Governo, se render no Quartel do Carmo, reinavam na economia nacional as actividades de comércio por grosso e retalho, o fabrico de maquinaria, a construção e as indústrias químicas e de petróleo, segui-das dos têxteis, da confecção e do calçado. Alguns destes sectores estavam bastante obsoletos e viviam da prática de salários baixos e da constante desvalorização da mo-eda, o escudo, medidas proteccionistas que

199155,6%

2013129,0%

197450 Escudos

20146,94 Euros

1977539,2€

201154 355,7€

DÍVIDA PÚBLICA(% DO PIB) QUANTO VALE O DINHEIRO?EXPORTAÇÕES (MILHÕES)

$

A S N A C I O N A L I Z A Ç Õ E S E O U T R O S E X C E S S O S R E V O L U C I O N Á R I O S , D O I S C H O Q U E S P E T R O L Í F E R O S E A

M A I O R C R I S E F I N A N C E I R A M U N D I A L D E S D E 1 9 2 9 , L E VA R A M P O R T R Ê S V E Z E S O PA Í S À B A N C A R R O TA .

A A D E S Ã O À U N I Ã O E U R O P E I A , O S G R A N D E S I N V E S T I M E N T O S P Ú B L I C O S E A E V O L U Ç Ã O P R Ó P R I A

D O S T E M P O S P E R M I T I R A M U M A M E L H O R I A G E R A L D A R I Q U E Z A E D O B E M - E S TA R .

O S C U S T O S D O P R O G R E S S O E C O N Ó M I C O

J O Ã O B É N A R D G A R C I A

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N E G Ó C I O S

77

19747 332,9€

201214 809,3€

PIB PER CAPITA (PREÇOS CONSTANTES 2006 MILHARES)

77

19 DE NOVEMBRO - Foi o mais grave acidente aéreo registado em Portugal.O voo TAP Portugal 425 despenhou-se às 21h48m, no aeroporto do Funchal, na Madeira.

1977

O L O N G O D E S T E S Q U A R E N T A A N O S , O S E M P R E S Á R I O S F I Z E R A M U M E S F O R Ç O N O T ÁV E L D E I N V E S T I M E N T O , D E I N O VA Ç Ã O E D E A P O S T A S V E R D A D E I R A M E N T E E S T R AT É G I C A S .

197821,04%

20130,27%

INFLAÇÃO

Homens 160,9€

Homens999€

Mulheres 125,4€

Mulheres 813,7€

REMUNERAÇÃO MÉDIA DE HOMENS E MULHERES

mantiveram o país à tona, muito à custa da crónica redução do poder de compra dos trabalhadores.

Com valores de PIB per capita a roçar os 56% da média europeia em 1974, a economia fez um esforço tremendo para absorver cerca de um milhão de portu-gueses que abandonaram as colónias e regressaram à pátria. Aguentou-se a riqueza, mas, mesmo assim, nunca ultra-passou os 62% da média do PIB dos seus congéneres mais ricos europeus.

Nem os nove milhões de euros diários de fundos estruturais e de coesão comunitários que Portugal recebeu entre

1986 e 2010, por força da adesão à União Europeia e com a mudança da moeda do escudo para o Euro, foram suficientes para tirar o país, e os portugueses, do rotineiro ciclo de empobrecimento, especialmente na década de 2000-2010, período em que o País viu a sua riqueza crescer no total uns parcos 4% - com políticas de cres-cimento sustentadas, ano após ano, em elevados défices públicos e numa política de investimento em autoestradas, vias que passaram de 42 km em 1974 para 3100 km em 2013, em parte graças às polémicas parcerias público privadas (PPP’s).

Apesar das fragilidades da economia portuguesa, o que se observa, ao longo destes quarenta anos, é que os empre-sários fizeram um esforço notável de investimento (muito por via do crédi-to bancário e do endividamento), de inovação e de apostas verdadeiramente estratégicas, que passaram pela interna-cionalização, incremento da qualidade e pela renovação em sectores como o turismo, por muitos classificado como o “petróleo” de Portugal, mas também na cerâmica, mobiliário, têxteis e calçado,

moldes, papel, cortiça, vinho, automó-veis, serviços (banca e telecomunicações) e tecnologia de ponta, a maioria deles plasmados como “estratégicos” no célebre (e controverso) “Relatório Porter” sobre a competitividade da economia portugue-sa, documento elaborado em 1994 pelo conceituado economista norte-americano Michael Porter.

Sem querer concluir este texto com o lado mais negro da vida económica nacional, é inevitável ter que falar de três momentos marcantes na vida – e especialmente na carteira dos portugue-ses: por três vezes (1977, 1983 e 2011) estivemos à beira da bancarrota e por três vezes fomos salvos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), acrescido na última vez pelos nossos parceiros europeus, apesar de todos os esforços dos especula-dores e das agências de rating para forçar o país a um default. Não obstante de estas dificuldades, no índice geral de competi-tividade das nações, Portugal, com todos os constrangimentos da sua economia, pontua agora em 51º lugar no ranking que classifica a riqueza de 148 nações. l

1985

2012

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D O S S I Ê

78

O ano em que Portugal teve quatro governos: o primeiro durou 29 dias; o segundo sete meses; o terceiro três meses, sempre em gestão e sem tomar posse; e o quarto durou os restantes 40 dias.

1978

economia

“O País precisa neste momento de uma doutrina de amizade. É essa a mensagem e atitude que tento passar para todos”, refere o comendador Rui Nabeiro. O fundador e presidente da Delta Cafés, uma das referências portuguesas na área da responsabilidade social, não tem dúvidas de que muito mudou, para melhor, no pós-25 de Abril de 1974. “Veio a liberdade, o direito à expressão, criou--se o sindicato para defender o trabalhador, o tribunal de trabalho e outras coisas que melhoraram a vida das pessoas”, garante..

Estamos a comemorar os 40 anos do 25 de Abril de 1974.. O que é que a data representou na sua vida?Nasci em 1931, no interior do País, numa altura em que tudo era muito longe, os meios eram

escassos e as condições de vida extremamente difíceis. Nessa época, a vida era muito árdua para quem vivia do trabalho. O 25 de Abril de 1974 apanhou-me com 43 anos, quando já trabalhava por conta própria. Na altura, a semana tinha sete dias de trabalho e era eu quem abria a porta da fábrica. Considero que o 25 de Abril foi um momento muito positivo para os portugueses. Enquanto empresário e como homem dei passos profissionais muito importantes nesta altura, o que me fez crescer. Estou muito feliz com esse 25 de Abril que resolveu problemas de muita gente.

Onde estava no 25 de Abril de 1974?Estava a torrar café na Torrefacção Camelo, mas

“O 25 DE ABRIL FOI MUITO POSITIVO

PARA OS PORTUGUESES”

E N T R E V I S T A

C O M E N D A D O R R U I N A B E I R O , P R E S I D E N T E D A D E LTA C A F É S

ESTAVA A TORRAR CAFÉ NA TORREFACÇÃO CAMELO QUANDO, AOS 43 ANOS,

RECEBEU A NOTÍCIA DE QUE O REGIME TINHA CAÍDO. ESTA EFEMÉRIDE REPRESENTOU

PARA RUI NABEIRO, FUNDADOR DA DELTA CAFÉS, UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO

RESULTANTE DE UMA SÓLIDA REL AÇÃO COM ANGOL A PRÉ 25 DE ABRIL DE 1974.

197012,0%

201319%

CONSUMO PÚBLICO (% PIB)

197464 494 792,1€

2013153 590 199,9€

PIB (PREÇOS CONSTANTES 2006 – MILHARES)

1974106,3%

201399,3%

RENDIMENTO NACIONAL DISPONÍVEL (% DO PIB)

C A T A R I N A D A P O N T E

S O F I A A R N A U D

página número

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D O S S I Ê

79

19 DE JULHO - Primeira mulher portuguesa a assumir o cargo de Chefe do Governo, Maria de Lourdes Pintasilgo, foi indigitada pelo Presidente da República, General Ramalho Eanes, para chefiar o V Governo Constitucional (01.08.1979 – 03.01.1980).

1979

197719,2%

201338,4%

DESPESAS DO ESTADO (% DO PIB)

19742,1%

201416%

TAXA DE DESEMPREGO TOTAL

1991392 516

20121 062 782

TOTAL DE EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS

hire me

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D O S S I Ê

80

7 DE MARÇO - Primeira transmissão regular a cores (da televisão) em Portugal

1980

economia

E N T R E V I S T A C O M E N D A D O R R U I N A B E I R O

era já um homem metido na política, tinha passado pela Câmara Municipal de Campo Maior, nos anos 60, de onde saí porque me incompatibilizei com um elemento do Governo Civil. Em 72 fui nomeado Presidente da Câmara. Entrei em Fevereiro e saí em Setembro, porque o governador civil também se zangou comigo. Por isso quando veio o 25 de Abril manifestei-me com as outras pessoas da terra. Não fui das primeiras pessoas a saber da revolução, porque me levantava muito cedo para ir trabalhar, mas quando recebi a notícia foi uma enorme alegria. Toda a gente gritou e ficou feliz. Na nossa terra haviapessoas ligadas ao PCP e isto incendiou.

Muita gente diz que o País mudou. Que diferenças notou?Em 1974 muito pouca gente conhecia o mundo, havia uma vida totalmente diferente, o empresário que vivia da agricultura tinha uma vida muito próxima da escravidão, algumas pessoas caminhavam cerca de 7 ou 8 quilómetros para irem trabalhar nos campos. Hoje, os tempos são, de facto, outros. Quase toda a gente tem carro e habitação própria. Além disso, com o 25 de Abril veio a liberdade, o direito à expressão, criou-se o sindicato para defender o trabalhador, o tribunal de trabalho e outras coisas que melhoraram a vida das pessoas.

VALOR DA PORTAGEM NA PONTE 25 DE ABRIL

197411,6 milhões

201350 milhões

NÚMERO DE VEÍCULOS A ATRAVESSAR A PONTE 25 ABRIL

197425%

20139,3%

TAXA POUPANÇA DAS FAMÍLIAS (% DO PIB)

19740,20$ (classe 1 - ex. Mini) 0,40$ (classe 3 - ex. Carocha)

20141,65€ (classe 1 - Integra classe 1 e 3 de 1974)

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D O S S I Ê

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Foi um ano muito activo para os terroristas das Brigadas das Forças Populares 25 de Abril, mais conhecidas como Brigadas FP 25 de Abril. Bombas e assaltos a bancos, explosões em quartéis da GNR e numa esquadra da PSP, e atentados contra empresários, estiveram no rol das acções.

1981Começou a trabalhar aos 13 anos, com o seu tio Joaquim, na Torrefacção Camelo e, pouco tempo depois ,assumiu a direcção da sociedade. Nos anos 60 fundou a Delta Cafés, com apenas três funcionários. Como é que a tornou na empresa portuguesa mais reputada? Aprendi muito com o meu tio Joaquim e, por outro lado, ele viu em mim uma pessoa com atitude e, portanto, sempre me apoiou, sobretudo nos primeiros passos. Apesar de trabalhar com ele e com outros familiares, sonhei sempre fazer a minha empresa. Na altura tinha um pequeno mealheiro e uma dezena de milhares de escudos, numa conta a prazo no banco. Vi um terreno com uma fábrica de azeitonas e decidi comprá-lo. Fi-lo em 1961, não tinha o dinheiro todo, mas na altura já confiavam em mim, o que me permitiu começar a realizar o meu sonho. Comprei um pequeno torrador, uma pequena máquina para cortar e arranjei três pessoas reformadas (dois homens da GNR e um da Guarda Fiscal), para as coisas estarem também mais ou menos protegidas (risos...). Mas não deixei o meu trabalho, continuei as minhas funções na Torrefacção Camelo. Teimosamente fui caminhado e a minha empresa foi crescendo. Apostei num café mais popular – a cevada pura –, e ganhei alguma liderança desse mercado. Em meados dos anos 70 já vendia alguma coisa, a concorrência foi-se distraindo e quando deram por mim, já estava muito perto deles!.

Que concorrência era essa?Uma série de marcas regionais que existiam na altura como por exemplo a Sical, Nicola, Caféeira, Cafés Christina, Luso-Brasileiro, entre outras. Não

era muito difícil vender, mas eu comecei a caminhar para onde se produzia o café: Angola. Trabalhei bastante lá, consegui comprar bem e consegui trazer para Portugal muito café, e em boas condições.

Como era a sua relação com Angola após o 25 de Abril?Quando se deu o 25 de Abril eu tinha já uma ligação bastante forte com Angola. Comecei a ir para lá no início dos anos 70, para combater os meus adversários com melhores preços. Ganhei estatuto, condições e trouxe café verde. Quando se deu o 25 de Abril tinha um bocado de café em Angola, algo que os meus concorrentes não tinham. Conhecia aquilo tudo, consegui arranjar um barco para ir lá buscar o café e, num momento difícil em que toda a gente estava em crise e havia o condicionamento comercial (em que cada um só tinha direito a comercializar aquilo que tinha importado no ano anterior), eu consegui trazer centenas de toneladas de café. A concorrência ofereceu-me milhões por aquilo, mas eu não vendi! No entanto, dispensei café a muita gente, sobretudo aos comerciantes que eram meus amigos. Esse barquinho deu--me muita dor de cabeça, porque era alugado à Companhia Nacional de Navegação, que já não tinha barcos disponíveis, pois tinham ido todos para o Ultramar. Consegui que me subalugassem um barco grego.Já nessa altura diziam que os gregos eram capazes de muita coisa, mas eu tratei-os bem para eles me tratarem bem a mim. Foi uma jornada extraordinária!

Mas não se ficou só por Angola..Caminhei também para a Europa, onde havia muito café. Fui a Trieste, no sul de Itália, a Amesterdão

1973-83,9

2012-37,3

SALDO MIGRATÓRIO (MILHARES DE PESSOAS)

197417,8€

2014565,8€

SALÁRIO MÍNIMO MENSAL

1996- 310,74€

2013+ 2,85€

SALDO DA BALANÇA COMERCIAL(MILHÕES)

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D O S S I Ê

82

MAIO DE 1982Visita de João Paulo II a Portugal.

1982

economia

e Roterdão, na Holanda, e a Hamburgo, na Alemanha. Fui com a minha língua (tenho a 4.ª classe) e valia-me de algum amigo que me pudesse ajudar no local para fazer negócio.

No Alentejo dos anos 30 terminou a 4.ª classe com distinção, num período em que o analfabetismo era quase total. Com o empurrão do seu tio entrou no mundo do café e nunca mais de lá saiu. Pode dizer-se que foi na Torrefacção Camelo que tirou a sua licenciatura empresarial?Sim, sem dúvida nenhuma! A Torrefacção Camelo era uma empresa voltada para o mercado espanhol. No mercado português não vendíamos

absolutamente nada. Comecei a caminhar para Espanha para ver como se criava a marca. Sempre segui os caminhos do meu tio, sobretudo na sua relação com os clientes. Aprendi com ele como caminhar e como vencer, e isso deu-me uma formação, uma visão e uma abertura de horizontes. O meu curso foi, de facto, saber trabalhar e saber onde e como procurar o cliente.

Fazendo uma retrospectiva do seu percurso empresarial, qual foi o maior desafio de todos?A minha vida foi e continua a ser um desafio. Hoje já tenho alguns familiares junto de mim, com quem divido forças e objectivos. Mas penso que a minha maior audácia foi o contacto com os espanhóis. Outro desafio igualmente importante foi conhecer África antes do 25 de Abril. Quando as pessoas vieram de África eu caminhei para lá e foi isso que me deu sustentabilidade e crescimento. O factor sorte também foi sempre muito importante.

O que representam para si os seus clientes?Um cliente é mais do que um amigo. A minha mulher fica muitas vezes aborrecida comigo (mas depois passa-lhe logo a seguir), porque às vezes temos previsto ir a determinado local e eu aproveito para me encontrar com o cliente nesse mesmo local. Não me esqueço da família e, muito menos, com quem vivo há quase 70 anos, mas o cliente é a nossa razão de ser. Sem clientes não vivo, dou tudo por um cliente. Eu e os meus clientes somos uma família, não é possível descrever em palavras a amizade que tenho pelos meus clientes.

Refere várias vezes que vive para o trabalho, para a causa humana e para o bem da sociedade. Estas são algumas das razões

E N T R E V I S T A C O M E N D A D O R R U I N A B E I R O

“ E U E O S M E U S C L I E N T E S S O M O S U M A F A M Í L I A , N Ã O É P O S S Í V E L D E S C R E V E R E M P A L AV R A S A A M I Z A D E Q U E T E N H O P E L O S M E U S C L I E N T E S ” .

1996- 328,3€

2013- 381,75€

SALDO DE TRANSACÇÕES TECNOLÓGICAS (MILHÕES)

1986+ 329,7€

2013+ 6 124,6€

TRANSFERÊNCIAS FINANCEIRAS UE-PORTUGAL (MILHÕES)

1975104,6€

20133 015,7€

REMESSAS DE EMIGRANTES (MILHÕES)

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D O S S I Ê

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AJUDA EXTERNAFoi o ano em que, pela segunda vez e em força, o FMI entrou em Portugal. O País estava em recessão, o Governo era de Bloco Central liderado por Mário Soares (PS) e Mota Pinto (PSD), a inflação era de 30% e o empréstimo foi de 750 milhões de dólares. O descontentamento imperava nas ruas. O programa foi um sucesso.

1983

pelas quais já foi distinguido pela sociedade portuguesa nas mais diversas formas. São esses exemplos e valores que transmite aos seus filhos e netos?Estou nesta terra e no mundo por uma causa social e pela causa do bem servir. Em criança estava sempre disponível para qualquer serviço que uma vizinha me solicitasse e gostava de partilhar. Todos temos obrigação de lutar por uma causa comum. Foi por isso que criámos na Delta a Associação Coração Delta, ou o projecto “Tempo para Dar”. O País precisa neste momento de uma doutrina de amizade. É essa a mensagem e atitude que tento passar para todos.

É uma pessoa particularmente sensível aos problemas sociais, e a Delta é um exemplo de responsabilidade social. Qual a qualidade que mais aprecia nos seus colaboradores?Começo cedo a trabalhar, inicio o dia na Torrefacção Camelo, onde chego, vejo sorrisos, distribuo apertos de mão e recebo os beijos das funcionárias. Nada me dá mais prazer que ver os colaboradores a gostarem do que estão a fazer e da casa onde trabalham.

Os primeiros passos rumo à concretização do projecto de vinho em Campo Maior são dados em 2002. A aposta nos vinhos é um sonho antigo?A nossa terra (Campo Maior) é muito sui generis. Há cerca de 300/400 anos todos os seus habitantes tinham uns terrenos baldios (do município e da população), nos quais havia plantações de trigo ou cevada para o pão, vinhas e olivais. Nos anos 50/60 foi inaugurada a Barragem do Caia, que absorveu grande parte da vinha e do olival. As pessoas começaram a ir trabalhar para

fábricas, deixaram os campos e o vinho acabou por desaparecer de Campo Maior. Mas sempre fiquei com “a pulga atrás da orelha” e com o sonho de fazer uma adega. Começámos a pensar quem poderia desenhar a adega e acabámos por escolher o Álvaro Siza Vieira para o fazer. Hoje a minha neta Rita Nabeiro também está ligada a este projecto. Estamos a vender bem, vamos inclusivamente aumentar a nossa capacidade de produção e acabámos de lançar o Vinho Siza.

O Grupo Nabeiro está actualmente ligado às mais diversas áreas de actividade. A sua obra mais recente é o Centro de Ciência do Café (CCC), que inaugurou dia 28 Março. Depois desta obra, o que lhe falta ainda inaugurar?O sonho concretizado este ano, no dia do meu aniversário, foi mais uma prova do gosto por aquilo que faço. Apesar de estarmos a trabalhar em 23 cidades do País, está em estudo uma afirmação a sério fora do País, que nos possa dar sustentabilidade. Mas também quero deixar sonhos para os mais jovens, para os filhos e para os mais novos.

São seis os elementos da família Nabeiro ligados aos mesmos negócios, todos eles em redor da Delta. Que mensagem quer deixar às novas gerações que amanhã tomarão conta do negócio?Não pedi a nenhum deles que viesse trabalhar comigo. Os meus netos vieram porque gostavam do que o avô fazia e decidiram abraçar a sério o projecto. Nesta casa pratica-se o sonho com trabalho. A nossa grande ambição é o trabalho, apesar de queremos viver bem e ter os nossos bens. Portanto, tenho a certeza absoluta de que se fará sempre melhor nesta casa. l

197066,1%

201366,2%

CONSUMO DAS FAMÍLIAS NO TERRITÓRIO ECONÓMICO (% DO PIB )

19771 073€

201167 110,7€

IMPORTAÇÕES DE BENS E SERVIÇOS (MILHÕES)

197726,2%

201120,6%

TAXA DE INVESTIMENTO TOTAL

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D O S S I Ê

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O Governo liderado por Mário Soares dá ordens à GNR para dispersar, à bastonada e com gases lacrimogéneos, uma manifestação de trabalhadores da Lisnave que tinha cortado o trânsito na Ponte 25 de Abril, em Almada.

1984

economia

Não sei se foi uma Revolução, um Golpe de Estado, ou uma Insurreição Militar. Nem sei se, tão apenas, foi um regime moribundo, exausto de si próprio, em ex-

piação de cair à simples visão de uma “Chaimite”…Mas, volvidas quatro décadas, pouco importa essa catalogação.Porque na História sempre existem três leituras para cada episódio relevante: quando acontece, quando é escrito e quando são compreendidas as suas consequências.Fosse o que fosse, a dita Revolução – mais de flores que de baionetas – foi feita por homens e nada altera os genes que regem a Humanidade: face à opressão, os inferiores rebelam-se para serem iguais; e os iguais rebelam-se para serem superiores.É esse o berço que embala as revoluções; é esse o instinto que legitima a volubilidade de ser-se humano.Talvez por isso, reza a História que as revoluções nunca aproveitam a quem as faz.Ou, numa visão mais prosaica, todas as revoluções começam na rua para acabarem à mesa…Nem todas, felizmente: a nossa, a de 25 de Abril,

alimentou muitas mesas, mas também nutriu al-guns espíritos: na amálgama dessa anónima massa humana que uma revolução exacerba, sempre emer-gem protagonistas inspirados por Ideais.Porque não são apenas os homens que fazem as revoluções; as revoluções também fazem os homens – ou, ao menos, alguns Homens.E é no transe desse paroxismo revolucionário que os seus carácteres se revelam e são, política e eticamen-te, postos à prova.Pois que o mesmo útero revolucionário, que gera a virulência anímica de uma turba desregrada, tam-bém gera, em alguns Homens, límpidos desígnios traçados na pureza dos seus Ideais.Uns melhores, outros nem tanto, mas todos eles cre-dores de mérito pela coerência das causas por que lutaram, em prol dos princípios em que acreditavam e sempre defenderam.Uns, em nome da Democracia, no intuito de reinsta-lar o modelo de uma antagónica Ditadura; outros, em nome da Liberdade, no anseio de preservar os valores da Democracia.Venceu, em Portugal, a Democracia: uma Democra-cia mais realista e cautelarmente pragmática do que

R E V O L U C I O N A R

O P I N I Ã O

M Á R I O A S S I S F E R R E I R A Presidente Não Executivo da Sociedade Estoril Sol

197716,79%

201133,57%

GRAU DE EXPOSIÇÃO AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

199217 099,8€

201330 459,7€

RENDIMENTO MÉDIO DISPONÍVEL DAS FAMÍLIAS

1980962,0€

201232 040,6€

RECEITAS FISCAIS DO ESTADO (MILHÕES)

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D O S S I Ê

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12 DE JUNHO - Portugal assina o tratado de adesão à CEE, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, com efeitos a partir de 1 de Janeiro 1986. Espanha assina no mesmo dia, em Madrid.

1985

essa outra que, nos idos de 1789, inspirou, nos seus Ideais, a Revolução Francesa. Uma Democracia pru-dente nos seus desígnios, ciente de que “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” sempre seria, em Portugal, uma trilogia utópica.Porque a Natureza é mãe e madrasta: pode nascer-se Igual, mas a matriz biológica, a maré das circuns-tâncias, sempre nos faz desiguais.E pode apregoar-se a Fraternidade, reforçar-se a praxis agregadora de um espírito de Nação: mas a ambição sempre espreita em cada esquina da vida, a inveja nunca resiste ao enleio da oportunidade.Sobrou-nos a Liberdade, herdeira dessa Revolução. E, porque intacta e perene, convertemos a Liberdade em sinónimo da Democracia.O que, por definição, inculca o princípio de uma Liberdade Responsável.Pois que a Liberdade, enquanto emanação da De-mocracia, só permanecerá intacta se for um direito ao cumprimento do próprio dever.E só continuará perene se for um dever ao respeito do direito à Liberdade do próximo.É nessa responsável simbiose de limites e capa-cidades que habita, em Democracia, a autêntica

Liberdade.A de chegar até ao fim do pensamento.A de gritar a própria insatisfação.A de acusar a injustiça sofrida.A de aceitar dificuldades inevitáveis, superando frustrações desmobilizadoras.A de mudar o que carece ser mudado − o próprio mundo talvez…A de “Revolucionar” ideias pré-concebidas, precon-ceitos anquilosados, ideologias bafientas.A de escolher, em Liberdade, as nossas próprias prisões…Foi esse o precioso dote que o 25 de Abril nos legou.Volvidos 40 anos, é tempo de agradecer esse sopro de Liberdade que, de início, nos embriagou, mas que o tempo soube sazonar em maturidade respon-sável.Uma Liberdade que, sem nos mudar, nos transfor-mou.Porque o que somos não muda.O que muda é a Liberdade do que escolhermos ser! l

NOTA: Texto gentilmente cedido pela revista Egoísta

19802 367,6€

2013204 252,3€

DÍVIDA DIRECTA DO ESTADO (MILHÕES)

1968811 656

2007275 083

NÚMERO DE EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS

19959 501 GWh

201220 654GWh

PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA A PARTIR DE FONTES RENOVÁVEIS

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N E G Ó C I O S

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D O S S I Ê

9 DE MARÇO Mário Soares vence as eleições presidenciais com 51,2% dos votos contra 48,8% de Freitas do Amaral, naquelas que foram consideradas as Eleições Presidenciais mais renhidas de sempre na história da democracia em Portugal.

1986

política

política

19758,5%

201141,9%

ABSTENÇÃO NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

197515 (em 250)

201462 (em 230)

MULHERES DEPUTADAS NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

1975108 juristas (em 250)

201371 juristas (em 230)

A PRINCIPAL PROFISSÃO DOS DEPUTADOS

Depois vieram os políticos da nova geração: o socialista Mário Soares chegou de comboio e foi recebido em euforia; o comunista Álvaro Cunhal

aterrou no aeroporto da Portela e foi saudado com entusiasmo. Mais comedido, o social-democrata Francisco Sá Carneiro anunciou na televisão a formação de um partido, o PPD, ao lado de Francisco Pinto Balsemão, António de Sousa Franco e Magalhães Mota. O CDS, mais à direita, juntava Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa. Estavam lançados os primeiros protagonistas políticos do período pós-revolução. Todavia, caberia a outros aguen-tarem o barco até as águas serenarem: pela Junta de Salvação Nacional passaram Adelino da Palma Carlos, Vasco Gonçalves e Pinheiro de Azevedo.

E que águas! O País vivia a ressaca do primeiro choque petrolífero mundial e da pro-funda crise para que ele atirara a Europa. As estruturas políticas eram frágeis. Os militares tinham poder, armas e agitação nos quartéis. Os comunistas tentavam espetar uma lança ideológica na ponta mais ocidental da Europa. Portugal era, em 1974 e 75, um explosivo caldeirão político-ideológico e socioeconómico. Reinava a barafunda, o poder esteve na rua, nas ocupações de casas, campos e empresas. Quase 80% da economia foi nacionalizada em 1975. As ameaças de morte e as prisões revolucionárias, sem culpa formada, forçaram ao exílio toda uma geração de quadros, ban-queiros, engenheiros, advogados e gestores qualificados.

A 25 de Novembro de 1975 apareceu um tenente-coronel, chamado António Ramalho

H O U V E U M A R E V O L U Ç Ã O E M L I S B O A . F O I F E I TA C O M C A N Ç Õ E S N A R Á D I O E C R AV O S N A

P O N TA D A S E S P I N G A R D A S . U M P U N H A D O D E C A P I TÃ E S D O E X É R C I T O E P O V O E U F Ó R I C O

N A R U A A C E L E B R A R A L I B E R D A D E . T R O C A R A M - S E U M A D Ú Z I A D E T I R O S E U M C H E F E D E

G O V E R N O R E N D E U - S E P E R A N T E O G E N E R A L A N T Ó N I O S P Í N O L A , N U M Q U A R T E L D A G N R .

D E I X O U A C A P I TA L , A C O S S A D O , D E N T R O D E U M A C H A I M I T E .

D A R E V O L U Ç Ã O À D E M O C R A C I A

J O Ã O B É N A R D G A R C I A

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N E G Ó C I O S

8787

27 DE MAIOO Futebol Clube do Porto (FCP) conquista a Taça Intercontinental de Futebol (vencendo o Peñarol por 2-1), um dos maiores êxitos de sempre o futebol português em competições internacionais.

1987

197531 mil contos (155 mil euros ao câmbio actual)

201210,7 milhões de €

CUSTOS COM A CAMPANHA ELEITORAL

1976304

2013308

NÚMERO DE MUNICÍPIOS

19764 092

20134 259

NÚMERO DE FREGUESIAS

P O R T U G A L E R A , E M 1 9 7 5 , U M E X P L O S I V O C A L D E I R Ã O P O L Í T I C O - I D E O L Ó G I C O .

Eanes, que deu um golpe de Estado e pôs ordem na confusão. A Constituição foi aprovada e sem sobressaltos. A serenidade e seriedade de Ramalho Eanes valeram-lhe apoios suficientes para ser escolhido, com 61% dos votos, como primeiro Presidente da República eleito no período pós-25 de Abril. Antes dele, o Presidente-interino Francisco Costa Gomes, desdobrara-se para controlar os excessos do primeiro-ministro Vasco Gonçalves e do operacional da revolu-ção Otelo Saraiva de Carvalho.

Os cofres estavam vazios, por força da euforia da revolução e das nacionalizações. A economia, as empresas e o investimento

congelados. O País entra em bancarrota e o FMI teve que o socorrer. Estávamos em 1977. O segundo choque petrolífero, em 1978, veio agravar ainda mais a situação. Os políticos não se entendiam. A instabilidade era rotina: Mário Soares, Alfredo Nobre da Costa, Carlos Mota Pinto, Maria de Lourdes Pintasilgo, a primeira e única mulher a chefiar um Governo em Portugal, rodaram na chefia de governos instáveis. Francisco Sá Carneiro (PPD) liderou um Executivo de Aliança Democrática (AD) mas acabaria morto ao lado de Adelino Amaro da Costa no desastre aéreo de Camarate, a 4 de Dezembro de 1980, pondo fim às imensas expectativas neles depositadas. Sucedeu-lhe Francisco Pinto Balsemão, que governou sobre a sombra das bombas, assaltos e sequestros das Brigadas Revolucionárias FP25 de Abril. As eleições de 1983 abriram portas a um Governo de Bloco Central liderado por Mário Soares (PS) e apoiado por Carlos Mota Pinto (PSD). Durou dois anos. O tempo do FMI voltar a salvar o país de nova bancarrota e de Portugal começar a preparar a sua entrada na então Comunida-de Económica Europeia (CEE), o embrião

da actual União Europeia (UE), facto que viria a acontecer oficialmente em 1986.

O período que se segue, de 1985 a 2014, são tempos que oscilam entre a euforia dos Fundos Comunitários da “década de ouro” de Aníbal Cavaco Silva (1985-1995), com Mário Soares Presidente em diatribes políticas de bastidores; os anos serenos do socialista António Guterres (1995-2002) com o também socialista e Presidente Jorge Sampaio mais beneplácito; a ascensão ao poder de José Manuel Durão Barroso (o delfim de Cavaco Silva); o seu abandono para rumar à Presidência da Comissão Europeia, em 2004, e a entrega fugaz de poder a Pedro Santana Lopes; a subida do socialista José Sócrates ao poder e a sua queda por força da crise financeira e eco-nómica internacional, com Cavaco Silva já instalado na cadeira de Belém (2006-2011 e reeleito nesse ano para mais um mandato); e a ascensão do social-democrata Pedro Passos Coelho à liderança de um Governo de coligação que governa espartilhado pela austeridade de um Memorando de Entendimento assinado com uma “troika” de credores internacionais. l

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D O S S I Ê

88

25 DE AGOSTOOcorrência de um violento incêndio no bairro do Chiado, em Lisboa. Durante uma madrugada de Agosto, o fogo destruiu dezoito edifícios no coração da capital, nomeadamente os históricos Armazéns do Chiado e o Armazéns do Grandella.

1988

política

Precisamos do que não temos e raramente nos basta o que damos por garantido. É um lugar comum, dos mais óbvios – se formamos uma família perdemos a paixão

por entre as curvas; se vivemos apaixonados sen-timos uma sede de família que nos obriga a parar na primeira fonte. A vida é feita disto. Das rotinas de que depende uma relação com filhos, árvores de Natal e cabrito ao domingo; da quebra de rotinas de que precisam os apaixonados. Dois mundos inconciliáveis e sempre presentes no que fomos: nesta batalha, o exército ruidoso, que nos provoca dores de barriga e enxaquecas, é formado pelo que nos falta. Mais tarde ou mais cedo dá de si e nada podemos fazer para o evitar.

Ao mesmo tempo, cada fase que vivemos, cada passo, sabe ao irrepetível – o golo da infância, a entrega dos testes no liceu, o primeiro dia no primeiro emprego, a descoberta de um poeta na juventude, de uma utopia, de um amor impossível,

o dia em que nos despimos a alguém. Quando repetimos o irrepetível, quando o tentamos, sabe-nos a fruta passada, uma embalagem fora do prazo. Mas há dias em que penso: que estupidez de pensamento. Que estupidez pensar em impossí-veis no jogo de todos os possíveis, o que jogamos desde que nascemos. Um dia voltarei a embaciar os vidros do carro. Um dia voltarei a fazer as coisas que já fiz como se fosse a primeira vez que as faço. Um dia serei dono de uma utopia e voltarei a celebrar um golo ajoelhado e fora de mim. E um dia chegarei à conclusão de que existe um tempo para tudo, que quem prova o Absoluto, o verdadei-ramente Absoluto, sabe que o caminho a partir dali é sempre a descer.

Pedem-me pelo meu 25 de Abril. Mas o que sei do 25 de Abril é o que sei da juven-tude dos meus pais. É da fotografia da minha mãe, mesmo em frente ao lugar onde escrevo, tão bonita

U M N O V O 2 5 D E A B R I L

D E R R U B A R Á O 2 5 D E A B R I L

O P I N I Ã O

L U Í S O S Ó R I O Jornalista e colunista

197613 partidos

201369 partidos, coligações e movimentos

ORGANIZAÇÕES CANDIDATAS ÀS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

197660,2 contos (301 euros)

20136897 euros + 3000 euros de despesas de representação

ORDENADO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

197624,6%

201152,5%

ABSTENÇÃO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

de independentes

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89

D O S S I Ê

89

16 DE FEV. A 6 DE MAR. Consagração de Portugal como Campeão Mundial de Futebol de Juniores, em Riade, Arábia Saudita. A equipa que ficou conhecida como “a geração de ouro” do futebol nacional tinha como seleccionador Carlos Queirós.

1989

que era, olhos vivos, sorriso largo, uma fome de mundo e liberdade fosse isso o que fosse. O meu 25 de Abril não é feito de cravos, mas de promes-sas de uma paixão proibida. Recordo-a como se fosse hoje, de mão na minha mão, a contar-me o quanto gostou do meu pai, o quanto o amou em Paris durante o seu “exílio”.

O meu 25 de Abril é a avô Alice e o piano onde a família escondia os livros proibidos antes das visitas nocturnas da PIDE, são as tias Cristina e Teresa a contarem das reuniões gerais de alunos na Faculdade de Letras ou na maneira como, com a revolução na rua, saíram de casa para construir uma vida com pressupostos inimagináveis. É um tio contar-me das filas intermináveis para ver a Garganta Funda ou de uma noite em que assisti a uma sessão do Homem que Matou Liberty Valence seguida de um debate sobre a liberdade de impren-sa. Encontrei o meu 25 de Abril quando no final da década de 1970, um director de escola primária

entrou na sala de aula e proibiu a velha professora de partir a régua nas nossas mãos. Fomos para o recreio e eu, politizado dos desenhos animados de Vasco Granja, desenhei um bigode revolucionário e cantei o “Somos Livres”.

O meu 25 de Abril não é mais do que isto. É a memória dos Capitães de Abril em jovens. A vive-rem a sua revolução sem que antes tenham dito uma única palavra. Lembro-me deles em jovens, da idade de Salgueiro Maia, mais novos do que eu sou agora, a caminharem para os seus objectivos e dispostos a morrer pelo ideal de pôr fim à Guerra Colonial e à Ditadura. O resto não me interessa.

Porque como escrevi numa crónica por estes dias, os heróis que estiveram na primeira linha puderam viver o Absoluto (que é uma forma de alucinação benigna) e depois dessa ideia de Felici-dade que se julga para sempre, veio o choque com a realidade que atropela, deforma e relativiza.

O meu 25 de Abril é uma homenagem à memó-

1977Vendemos 111 toneladas de ouro como aval de empréstimo do FMI; escudo desvalorizado; salários reduzidos

1983Empréstimo de 750 milhões de dólares; escudo desvalorizado em 12% num mês; subsídio de Natal congelado

2011Empréstimo de 78 mil milhões de euros; cortes em salários e pensões e “brutal” aumento de impostos

RESGATES FINANCEIROS

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D O S S I Ê

90

16 DE DEZEMBRO O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um tratado internacional com o objetivo de criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa.

1990

política

O P I N I Ã O L U Í S O S Ó R I O

Q U E N O V O 2 5 D E A B R I L S E R Á E S S E ? Q U E N O VA G L O B A L I Z A Ç Ã O P O D E R Á N A S C E R ? Q U E R E S P O S T A S P O D E R Ã O S E R D A D A S P A R A R E S P E I T A R U M A I D E I A D E P R O G R E S S O E D E L I B E R D A D E ?

19741158

2012127

GREVES, CONFLITOS E PARALISAÇÕES

19794

201323

MULHERES PRESIDENTESDE CÂMARA MUNICIPAL

1975 - ADIM (1), CDS (16), MDP/CDE (5), PCP (30), PPD (81), PS (116), UDP (1)

2011 - BE (8), CDS/PP (24), PCP (14), PEV (2), PPD/PSD (108), PS (74)

PARTIDOS COM DEPUTADOS NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

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91

D O S S I Ê

91

Inaugurado a 13 de Setembro o último troço da autoestrada Porto--Lisboa, concretizando um sonho de décadas de inúmeros governantes.

1991ria. A esse fio de horizonte, feito sem palavras, que nos faz ser o que somos.

Que nos faz ser portugueses. Arrogantes na ditadura da dúvida permanente. Orgulhosos e temerosos. Umas vezes tudo, outras nada. Temos o Sol mas inventámos o fado. Falamos de medo mas partimos à conquista do mundo. Te-mos inveja e somos generosos. Somos uma coisa e o seu contrário. Gostamos de dar voltas no mesmo sítio como se farejássemos uma cauda imaginária.

Aguardamos por uma outra revolução. Uma revolução de ideias, tecnológica e civilizacional. Talvez com sangue, suor e lágrimas. Uma revo-lução que colocará em causa a própria ideia de democracia que, no seu interior, traz as sementes da sua própria destruição, como todos os sistemas humanos antes e depois. Que novo 25 de Abril será esse? Que nova globalização poderá nascer? Que respostas poderão ser dadas para respeitar uma ideia de progresso e de liberdade? Questões para os nossos filhos. Serão eles, ou os filhos de-les, a colocar fim aos poderes que, como sempre, se julgam eternos. Os Capitães de Abril também “morrerão” com essa nova revolução. Porque ao contrário do que pensam são parte do mundo que criticam. Não tem mal nenhum, é o que é. Ainda bem que muitos estão vivos e são testemunhas

da história, mas infelizmente a heroicidade não é compatível com o ruído das opiniões e da espuma dos dias. E cada opinião, por mais legítima e res-peitável que seja, soa a uma aula de arqueologia sem qualquer ligação à realidade. É como ver os Heróis do Mar ao vivo a cantar o Amor e a Paixão com Pedro Ayres Magalhães a liderar os saltos no palco. Não cola.

E aconteça o que acontecer, tudo continuará enquanto dormirmos. Ainda esta noite, tudo con-tinuou: promessas de amor para sempre, corpos molhados de desejo, suicidas enforcados ou enve-nenados com comprimidos, punhais nas vielas, o primeiro “chuto” de alguém que se começou a perder, festas de aniversário, insónias de quem sou-be que um cancro é seu inquilino ou que a pessoa ao lado tem uma vida dupla. Enquanto durmo, pais perderam os seus filhos. Bebés nasceram de cesarianas, fórceps e partos naturais. Homens e mulheres estenderam as suas mãos e pediram pela primeira vez. Casas foram assaltadas, apaixonados despiram-se em luas-de-mel, sonhadores não pre-garam olho, dementes fizeram telefonemas anó-nimos, doentes e feridos entraram nas urgências, outros entraram na lista dos que enlouqueceram. Enquanto dormi esta noite tudo isso aconteceu. E tudo o resto. Tudo o resto que aqui não cabe. Uma ideia de liberdade também. De futuro. l

198727,4%

200963%

ABSTENÇÃO NAS ELEIÇÕES EUROPEIAS

1983580 000

2014376 000

MILITANTES INSCRITOSEM PARTIDOS POLÍTICOS

197514

201117

NÚMERO DE PARTIDOS CONCORRENTES ÀS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

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N E G Ó C I O S

92

D O S S I Ê

6 DE OUTUBRO Nasce a primeira televisão privada em Portugal com a emissão da SIC (Sociedade Independente de Comunicação) a ser apresentada pela jornalista Alberta Marques Fernandes a partir de Carnaxide, em Oeiras.

1992

sociedade

sociedade

Antes da revolução, a assistência médica em Portugal não esta-va assegurada para todos. Os funcionários públicos tinham a ADSE, algumas categorias

profissionais, como os bancários, tinham os seus próprios subsistemas, mas não havia um serviço universal, público e de acesso gratuito para todos. Isso mudou com a chegada da democracia. Em 1979 foi criado o Serviço Nacional de Saúde.

Outra grande mudança registou-se no ensino. A democracia terminou com os cursos técnicos, das escolas industriais e comerciais, e povoou universidades públicas e privadas por todo o país. Multiplicaram-se os doutores e engenheiros. A escolaridade mínima obrigatória aumentou, a iliteracia também, o analfabetismo diminuiu.

A educação especial destinada à recu-peração e integração de indivíduos com necessidades educativas especiais integrou-se na educação escolar. As escolas públicas

e privadas passaram a ser mistas e as fardas deixaram de ser obrigatórias, embora muitos colégios ainda hoje mantenham essa tradição.

Novas universidades surgiram neste últimos 40 anos, muitas delas privadas. Algumas, como a Livre, a Moderna ou a Independente, acabaram por fechar. Outras, como a Autónoma, a Lusófona ou a Portucalense, acabaram por vingar. Foram criados mais cursos e novas disciplinas mais especializadas. Hoje, o ensino superior serve os princípios de Bolonha, à semelhança dos outros países da União Europeia, com licen-ciaturas mais curtas, de três ou quatro anos, seguidas de mestrados curriculares de dois anos. A Europa trouxe também os progra-mas Erasmus, de intercâmbio de estudantes universitários de vários países, por períodos de seis meses a um ano. O francês, como segunda língua, foi ultrapassado pelo inglês e, mais recentemente, até pelo espanhol e alemão.

19708 680,6

201210 514,8

POPULAÇÃO RESIDENTE (MILHARES)

197032,9

2012129,4

ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO (IDOSOS POR CADA 100 JOVENS)

19700,6%

201273,7%

DIVÓRCIOS POR 100 CASAMENTOS

A R E V O L U Ç Ã O S O C I A LA S A Ú D E , O E N S I N O E O S T R A N S P O R T E S S O F R E R A M G R A N D E S T R A N S F O R M A Ç Õ E S N O S Ú LT I M O S

4 0 A N O S . U M A D A S P R I N C I PA I S M U D A N Ç A S T R A Z I D A S P E L O 2 5 D E A B R I L D E 1 9 74 F O I A C R I A Ç Ã O

D O S E R V I Ç O N A C I O N A L D E S A Ú D E ( S N S ) .

S O F I A A R N A U D

25ABRIL.indd 92 5/12/14 11:51 AM

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N E G Ó C I O S

9393

1 DE NOVEMBROO Tratado de Maastricht instituiu a União Europeia com o nome actual.

1993

H O J E , D E N O R T E A S U L E D E E S T E A O E S T E , T O D O O P A Í S É C R U Z A D O P O R V I A S R Á P I D A S E A U T O E S T R A D A S .

1970180 690

201289 841

NASCIMENTOS

197064

201276,7

ESPERANÇA DE VIDA À NASCENÇA DO SEXO MASCULINO

197025,7%

20115,2%

TAXA DE ANALFABETISMO

A revolução chegou também aos trans-portes. A mobilização deixou de ser um problema, graças ao desenvolvimento da rede de infraestruturas e à evolução dos meios de transporte. No início dos anos 70, os condutores demoravam meio-dia para ir de Lisboa ao Porto e mais de 12 horas para ligar o Algarve a Trás-os-Montes. Havia três troços de auto-estradas, todos curtos. Um, ligava Lisboa à marginal da linha, via Estádio Nacional. Outro, saía de Sacavém e

acabava em Vila Franca de Xira. No Porto, um troço ligava a cidade aos Carvalhos. Só no final dos anos oitenta a ligação Lisboa-Porto ficaria concluída, reduzindo a viagem a pouco mais de três horas e dando início a uma vaga de investimentos que expandiram a rede. Hoje, de norte a sul e de este a oeste, todo o país é cruzado por vias rápidas e auto-estradas.

O metropolitano quadruplicou a rede, em Lisboa, e foi criado de raíz no Porto. Em Coimbra e no Porto, os tróleis foram substituídos por autocarros. Em Lisboa, o eléctrico transformou-se num meio de transporte marginal e numa atracção para turistas.

Os autocarros de dois pisos verdes dos anos 40, semelhantes aos que ainda hoje circulam pelas ruas de Londres, derem lugar aos de cor de laranja, de um só piso, com ar condicionado e muito menos poluentes.

Os automóveis também evoluíram muito. Nos anos 60/70 eram todos diferentes. Cada marca tinha uma personalidade e um

estilo muito próprio. Os Mini originais, o Citroën 2 cavalos, os Renault 4 e 16, o Volkswagen Carocha, o Opel Kadett e o Ford Escort eram dos mais populares. Não havia marcas coreanas e os chineses acabavam de chegar ao mercado europeu, com os seus Toyota Corolla e Datsun 1200, garantindo boa qualidade por baixo preço e subindo ra-pidamente nas tabelas de vendas. Algumas marcas desapareceram, como a Vauxhall (hoje limitada ao Reino Unido), a Austin, a MG e a Morris, a Talbot, a Sunbean, a Hilm-man ou a Simca. Os carros não tinham vidros eléctricos, nem ar condicionado, nem cintos de segurança e muitos nem sequer tinham um rádio.

Hoje os carros são muito idênticos uns aos outros, mas com uma comodidade muito superior e com consumos mais baixos. Com a passagem ao século XXI muitas marcas apostaram em modelos híbridos e eléctricos. Quem diria, nos anos 70, que hoje seria possível carregar um au-tomóvel numa normalíssima ficha eléctrica doméstica. l

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D O S S I Ê

94

25 DE ABR. A 24 DE JUNBloqueio da Ponte 25 de Abril, devido ao aumento galopante dos preços da portagem da travessia.

1994

sociedade

Quarenta anos após Abril, é importante lembrar aquilo que a Revolução dos Cravos significa hoje para a nossa vida, tanto mais que a maior parte dos

portugueses nasceram depois dessa data ou eram demasiado jovens para ter vivido o antes e o depois.

O nosso País sofreu uma longa Ditadura, que significou opressão e subdesenvolvimento. As perseguições políticas, a ausência das liberdades fundamentais conduziram à pobreza, à guerra colonial, ao “orgulhosamente sós”, à exploração e à emigração clandestina.

A chamada Primavera marcelista rapidamente se esgotou, com a manutenção da polícia política, o não encontro de saídas para a Guerra Colonial e o sacrifício crescente das jovens gerações.

Muitos lutaram contra esta situação. Muitos sofreram as prisões, o exílio, a expulsão do serviço público, o despedimento das empresas.

Os Capitães de Abril puseram fim a esta situação. Com Coragem, de forma desinteressada, devolveram-nos a Liberdade e permitiram a cons-trução da Democracia.

C O N T I N U A R A B R I L

O P I N I Ã O

J O Ã O P R O E N Ç A Assessor da AICEP/Ex-Secretário-Geral da UGT

O caminho teve os seus sobressaltos, mas recordo o 1º de Maio de 1974, a explosão da participação nas empresas e nos Organismos da Administração Pública, as primeiras Eleições Democráticas, a luta pela Liberdade Sindical e a afirmação dos Partidos Políticos.

Nas figuras de Salgueiro Maia, de Melo Antu-nes e do Grupo dos Nove, lembro os militares que sempre tiveram bem presentes os valores de Abril, simbolizados pelos 3 D’s – Democracia, Descolonização e Desenvolvimento.

Na figura de Mário Soares, homenageio todos os portugueses que antes e depois do 25 de Abril se bateram pelos mesmos princípios e valores.

A Democracia está hoje consolidada em Portugal.A nossa Constituição consagra o necessário

equilíbrio de poderes.E quero destacar aqui o papel fundamental da

Administração Local democrática na satisfação de necessidades básicas das populações e a sua proximi-dade com os eleitores.

A Democracia não se esgota no voto de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos.

Podemos questionar a nível geral, a necessida-de de reforçar os mecanismos de participação das populações nas matérias que directamente lhes dizem respeito.

É necessário reforçar a responsabilidade dos eleitos perante os eleitores e o respeito pelo cumprimento dos Programas eleitorais.

É fundamental combater a corrupção, aumentar a transparência e credibilizar os agentes políticos, económicos e sociais.

Uma democracia política é também uma democra-cia de participação, em que os agentes económicos e sociais têm que assumir as suas responsabilidades, no respeito pela sua representatividade.

197487

20122 209

DOUTORAMENTOS POR ANO

197412,6%

201254,1%

PESO DAS MULHERES NO TOTAL DE DOUTORAMENTOS

1975122,1

2012417,2

MÉDICOS POR 100 MILHABITANTES

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Page 95: Prémio, maio de 2014

95

D O S S I Ê

95

2 DE OUTUBRO Entra em vigor em Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo e Holanda o Acordo de Schengen, um tratado europeu que acaba com as fronteiras internas da Europa.

1995A Descolonização, foi feita num quadro difícil, face à cegueira com que os governantes condu-ziram a Guerra Colonial e levaram o País a um beco sem saída.

Podemos hoje registar dois factos extrema-mente importantes:

- O nosso País foi capaz de integrar com sucesso as centenas de milhares de portugueses regres-sados num curto período em condições difíceis, ao contrário do que aconteceu em outros Países confrontados com os problemas de muito menor dimensão;

- Foi possível preservar uma boa relação com as nossas ex-colónias, que teve presente que todos fomos vítimas da mesma ditadura.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa é hoje uma das grandes Comunidades de Povos com laços históricos e culturais e, sobretudo, com uma língua comum.

Para o nosso País, traduz uma grande oportunida-de de afirmação no Mundo, tendo em conta o facto de Portugal integrar a União Europeia, único espaço de integração regional com dimensão política, económica, social e cultural e primeiro importador e exportador a nível mundial.

A nível do Desenvolvimento muito foi feito nestes 40 anos.

Uma marca fundamental assenta no Estado Social, com a construção do Serviço Nacional de Saúde e de uma Segurança Social de base pública e universal.

E outra marca assenta na Educação, base funda-mental para a promoção da igualdade de oportuni-dades, para a cidadania e para o desenvolvimento económico e social.

Os portugueses melhoraram o seu nível de vida.Houve progresso económico e social.

E para tal muito contribuiu a nossa adesão à União Europeia, integrando-nos no nosso espaço natural, do qual estávamos afastados por não ser-mos uma Nação Democrática.

O nosso tecido económico deixou de ser baseado em sectores de baixos salários, desenvolvendo novos sectores de actividade com competitividade sustentada na qualificação dos recursos humanos, na inovação e no desenvolvimento tecnológico.

É evidente que persistem muitos problemas, nomeadamente a insuficiente aposta no sector produtivo, a protecção excessiva dada aos sectores financeiro e de bens não transacionáveis, a incapaci-dade revelada na utilização dos nossos quadros e na qualificação e requalificação dos nossos trabalhado-res, a não definição de políticas de modernização de sectores importantes, etc, …

A crise dos últimos anos, com o aumento insustentável do desemprego, das desigualda-des e da pobreza, os cortes nos salários e nas pensões, a insegurança relativa ao emprego e à Segurança Social, a redução do Estado Social e a transformação do défice no único objectivo das políticas, acentuou a desconfiança na política, nos políticos e a preocupação dos portugueses com o futuro individual e colectivo.

Precisamos de uma Reforma da Administra-ção Pública que melhor sirva o País e mobilize os seus trabalhadores.

Precisamos de novas politicas preocupadas com as pessoas e com o crescimento e o emprego.

Demasiadas vezes olhamos demasiado para o copo meio vazio e gritamos contra a destruição dos direitos.

Acreditamos que vamos continuar Abril, cons-truindo um Portugal mais desenvolvido, justo e solidário. l

1975548

2012207

HOSPITAIS

1974217

2012329

TRIBUNAIS JUDICIAIS

1975574,8

2011337,2

CAMAS NOS HOSPITAIS POR 100 MIL HABITANTES

25ABRIL.indd 95 5/12/14 11:51 AM

Page 96: Prémio, maio de 2014

D O S S I Ê

96

Foi lançado o Programa Rede de Bibliotecas Escolares.

1996

sociedade

Sou de uma geração que sentiu a alegria daquele dia, a exaltação nos “dias seguin-tes”, e a fúria, bem contraditória, que Portugal viveu em muitas das semanas

seguintes. Permitam-me, assim, o meu olhar acerca de um tempo vivido da minha vida. De um tempo em que jovem e adolescente fui “capturado”, quase que em exclusivo, por tempos de mudança que marcaram a história de Portugal, e também, a história do Mundo.

Neste período, para alguns distraídos, recordo sempre a frase que ostentavam as milhares de bandeiras que, em Janeiro de 1924, no enterro de Lenine clamavam: “O túmulo de Lenine é o berço da Revolução”. E eu que, em razão da fúria de alguns no pós 25 de Abril, fui obrigado a ler e a comprar determinadas e concretas edições, sob pena de “reprovação por falta de material”, muitas obras de Marx e de Lenine, e outras de Mao, nunca esqueci, até para a minha empírica e pessoal análise política, uma frase de Henri We-ber: “Mao, Lenine de nossa época?” Basta voltar a folhear numa obra colectiva de Abril de 1974 com

o sugestivo título “A Revolução Cultural Chinesa”, para me recordar de todos estes grandes nomes do século XX, e da história do socialismo e, tam-bém, de Alexander Kerensky, não só primeiro- -ministro de uma coligação fraca entre socialis-tas e liberais no Verão e princípios do Outono de 1917, mas, acima de tudo, o “revisionista” e “traidor” que perturbou, e muito, o radicalismo que tomou conta da Revolução na Rússia e que determinou que Lenine boicotasse o seu gover-no e convocasse o Congresso dos Sovietes de toda a Rússia sob o lema: “Todo o poder para os sovietes”.

Vivi, assim, o 25 de Abril, vendo-o por uma “porta meio aberta”.

Percebi que era uma revolta militar. Dos milita-res do quadro permanente frente aos milicianos que, em razão de uma nova lei, lhes punham em causa as promoções.

Entendi, de imediato, que o quadro internacio-nalmente dominante assumira, num instante, a independência das colónias portuguesas como realidade prioritária. E independência plena e não

O M E U O L H A R

O P I N I Ã O

F E R N A N D O S E A R AV E R E A D O R D A C À M A R A M U N I C I P A L D E L I S B O A

CONDENADOS POR CRIME

197416,5%

201211,01%

19749 788

201278 214

ALUNOS DO ENSINO (% DA POPULAÇÃO)

19748 754 365

201210 514 844

RESIDENTES EM PORTUGAL

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97

D O S S I Ê

97

Projecto sobre a despenalização do aborto é derrotado na Assembleia da República (AR) por um voto. Esta polémica foi tão grande que os deputados decidiram referendar.

1997

soluções intermédias, o que ajuda, por exemplo, a entender a ascensão e queda do marechal António de Spínola. Como bem me explicou, na altura, o meu tio-avô, o almirante Roboredo e Silva, que havia sido Chefe de Estado-Maior da Armada e o criador dos Fuzileiros Navais.

Compreendi, ainda, em razão da minha pro-funda vivência no Colégio Universitário Pio XII, e das suas salas sempre frequentadas por dife-rentes opiniões – na altura com a sábia direcção do padre Joaquim António de Aguiar –, o frágil equilíbrio entre as forças políticas emergentes e os novos actores políticos, principalmente a diferença de opinião e da estratégia entre os militares que ocuparam as sedes do poder, seja a do poder executivo, seja a dos novos poderes de controlo que as novas leis, a partir dos Pactos MFA- Partidos, criaram. E onde se situavam o Conselho da Revolução e a sua Comissão Consti-tucional, antecessora do Tribunal Constitucional.

Interiorizei, ainda, a partir daquelas salas da nova avenida das Forças Armadas – por sinal, antiga avenida 28 de Maio, até em 25 de Abril de

1974 – o papel relevante que a Igreja Católica iria assumir na resistência a um desvio revolucioná-rio radical e que quase determinou uma divisão de Portugal, com a fronteira simbólica situada em Rio Maior. E com uma forma de educação popular em que alguns dos nossos actuais “se-nadores”, em áreas bem diferentes, incluindo na medicina, foram activos participantes. Foi o Ser-viço Cívico Estudantil (SCE) e os denominados cursos propedêuticos. O primeiro tinha a inten-ção de “levar os alunos a criar hábitos de trabalho “socialmente produtivos”. Era “a construção” da dita “educação popular”, com burgueses da avenida de Roma a aprenderem, num instante, as obras de Marx, Lenine e Mao, e a relerem-nas a agricultores sem formação. Singularidades de um Verão em Portugal.

Senti, depois, e cumprindo o serviço militar obrigatório em situação bem especial (integrado num pelotão especial e com uma recruta excep-cional), a singularidade da construção do Estado de Direito democrático, a partir da nova Polícia Judiciária Militar, e das relações bem próximas do

19747,2%

201245,6%

NASCIMENTOS FORA DO CASAMENTO (% DO TOTAL)

197468,2

201179,8

Homens 64,8Mulheres 71,2

Homens 76,7 Mulheres 82,6

ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA (ANOS)

197437,9

20132,9

MORTALIDADE INFANTIL (MIL NASCIMENTOS)

25ABRIL.indd 97 5/12/14 11:51 AM

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D O S S I Ê

98

22 DE MAIOAbriu a Expo’98 (Exposição Mundial de Lisboa de 1998), a qual foi dedicada aos Oceanos e integrada nas Comemorações dos 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia. A exposição encerrou a 30 de Setembro, tendo atraído 10.128.204 visitantes.

1998

sociedade

seu vizinho, e tutela efectiva, que era o Conse-lho da Revolução. Naquele edifício que é hoje o Ministério da Defesa Nacional, percebi, em definitivo, que a perspectiva tridimensional do poder envolve, como o Professor Adriano Morei-ra brilhantemente desenvolveu na sua “Ciência Política”, o poder, a autoridade e a influência.

E, assim, fui amadurecendo. Ao mesmo tempo que integrava, após um tempo de imensa turbulência, a primeira Comissão de Reestrutu-ração da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que lutou, com sucesso, pelo regresso do conjunto de Professores saneados em razão das “fúrias revolucionárias” de finais de 74 e princípios de 75.

Este conjunto de vivências, incluindo as “gar-gantas fundas” que, a partir de alguns militares de Abril, permitiram a “salvaguarda pessoal” de alguns portugueses e a saída, bem controlada, de alguns dos seus bens – alguns dos quais bem importantes para a elaboração de documentos de memórias e outros de carácter científico –

ajudam-nos a perceber como um golpe militar evoluíra para “momentos revolucionários” e com instantes de desprezo pela vontade popular como aconteceu, nas vésperas das primeiras eleições livres após o 25 de Abril, quando o tenente Ramiro Correia, um dos membros da “linha revolucionária”, comparou as eleições “à lotaria ou ao totobola” e o almirante Rosa Coutinho, uma das mais relevantes expressões desta linha militar, ter sugerido o “voto em branco, de forma a desprestigiar os partidos políticos. E ainda me lembro – o que se lê, por exemplo, em Kenneth Maxewll, na sua “A Construção da Democracia em Portugal” –, que “as sondagens de voto encomendadas pelo MFA mostravam que cerca de 50% do eleitorado no princípio de Abril estava ainda indeciso sobre quem iria apoiar”.

Golpe militar, seus conflitos, convulsões e con-fusões, revolução, contra revolução e a “revolução dominada” são etapas determinantes para com-preendermos os primeiros quatro anos após o 25 de Abril. E que, em 1978, fomos forçados pelo

O S Q U A R E N T A A N O S D O 2 5 D E A B R I L S U S C I T A M M Ú LT I P L A S A N Á L I S E S , VÁ R I A S I N T E R P R E T A Ç Õ E S , R E N O VA D A S R E V I S I T A Ç Õ E S , J U S T A S R E C O R D A Ç Õ E S , L E G Í T I M A S I N V O C A Ç Õ E S .

O P I N I Ã O F E R N A N D O S E A R A

197466%

20120,7%

PARTOS EM CASA (% DO TOTAL)

197424,1

201329,7

IDADE MÉDIA DA MÃE NO NASCIMENTODO PRIMEIRO FILHO

197450,4%

201273%

POPULAÇÃO COM CASA PRÓPRIA(% DO TOTAL)

25ABRIL.indd 98 5/12/14 11:51 AM

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99

D O S S I Ê

99

20 DE DEZEMBRO Data da cerimónia de transferência da soberania sobre Macau para a China, colocando um ponto final à administração portuguesa do território que durou mais de 400 anos.

1999

FMI a um primeiro resgate que determinou um “pacote de austeridade”. Pacote de austeridade que motivou, para a sua viabilização, o primeiro Governo de coligação, entre PS e CDS.

Em 1982 terminou o “tempo de transição”. Com a primeira revisão constitucional, com a eliminação do órgão de soberania Conselho da Revolução e a redistribuição dos seus origi-nários poderes, com o acordo entre a Aliança Democrática (já em ruptura interna) e o Partido Socialista – em rigor um acordo entre Francis-co Pinto Balsemão, Diogo Feitas do Amaral e Mário Soares -, e com a construção das leis do Tribunal Constitucional e da Defesa Nacional. E com a constituição da primeira Comissão de Inquérito a Camarate. Recordo, com imensa saudade, estes tempos. Coordenei, sob a tutela de Amilcar Rocheta, e no quadro da Assembleia da República, um conjunto de jovens, todos recém-licenciados, que elaborou as actas da primeira revisão constitucional, daquelas duas

Leis estruturantes de um verdadeiro Estado de Direito democrático e daquela primeira Comissão de Inquérito. Guardo os “documen-tos base” dessa revisão histórica como, aqui, divulgo. Lembro-me, entre outros, alguns que me acompanharam nessa tarefa, como o José Luís Seixas e o Nuno Gonçalves. E, mais tarde, a equipa alargou-se com nomes que são, hoje em dia, ilustres políticos no activo, altos quadros da administração pública central e local, ou gesto-res de grandes empresas.

De tudo fica o abraço da liberdade. De, sem receios, dizermos que sim ou que não. De não termos que justificar o “folheto clandestino” guardado no meio do Código Civil ou de escu-tarmos, em silêncio cúmplice, a BBC ou a Voz da Alemanha para, no Verão de 75, “sabermos a verdade “acerca da nossa Pátria. De nos “rirmos” sem angústias ou de “destruirmos” o papel de fiscalização das presenças no anfiteatro da Facul-dade de Direito de Lisboa.

Este é um “pequeno passo” da minha visão. Do meu sentir. Do Abril vivido e partilhado. Do Abril respirado e absorvido. Do Abril capturado e recuperado. De Abril de que deu voz a todos e que não pode ser a voz de alguns. De um Abril sem donos e sem “mestres”. De um Abril que é feito de diferenças, mas com o abraço de semelhança que é a liberdade. Sabemos, com Miguel Cervantes, no seu Dom Quixote, que “a história é a émula do tempo, repositório dos factos, testemunho do pas-sado, exemplo do presente, advertência do futuro”. Mas também temos presente os ensinamentos de Moisés quando nos avisa “que o homem é livre. Só não é livre para renunciar a própria liberdade”! l

197419,1%

201263,5%

CASAMENTOS NÃO CATÓLICOS

19910,3%

201115,1%

RESÍDUOS URBANOS RECOLHIDOS SELECTIVAMENTE

197481 724

201331 998

CASAMENTOS

25ABRIL.indd 99 5/12/14 11:51 AM

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vida

D O S S I Ê

100

9 DE MAIO Um apagão eléctrico deixou metade do País sem energia electrica durante mais de duas horas. Supostamente por culpa de uma cegonha.

2000

vida

19911 249

201213 400

NÚMERO DE CAIXAS MULTIBANCO

20013 912,2KWH

20124 482,3KWH

CONSUMO DE ENERGIA ELÉCTRICA POR HABITANTE

19911,5Kg

201173,7Kg

RESÍDUOS URBANOS RECOLHIDOS SELECTIVAMENTE POR HABITANTE

Imagine um mundo sem Zara, sem McDonal-ds e sem Coca Cola. Sem Shoppings Centers ou hipermercados e sem multibanco ou cartões de crédito para pagar as suas compras. Onde os telefones tinham fios e os números

eram discados, a televisão tinha apenas dois canais a preto e branco e, pior que tudo, não havia compu-tadores pessoais, nem internet. Onde os cinemas eram edifícios de prestígio de portas abertas para a rua e a música se ouvia em discos de vinil ou grava-da em cassetes. Sem festivais de Verão, sem CCB e sem Casa da Música. Sem euros e sem cartões. Sem vidros eléctricos, ar condicionado ou cintos de segurança nos carros, que tinham pouco mais de 20 quilómetros de auto-estradas para rodar. Onde se podia fumar nos restaurantes, nos cinemas e até nos aviões. Um mundo com passaportes e frontei-ras na Europa e onde era preciso trocar de moeda sempre que mudávamos de país.

Era assim o Portugal de há 40 anos atrás. Não por causa do antigo regime ou da revolução, mas simplesmente porque os tempos eram outros.

A V I D A M U D O U

A dependência tecnológica é um dos sinais destes últimos 40 anos. Nos dias que correm são raras as pessoas que não têm um computador, um telemóvel ou um tablet. Acessórios que antigamente não exis-tiam e sem os quais as pessoas viviam. Com muitas vantagens, mas também algumas desvantagens. A magia de receber um postal ou uma carta de correio, o convívio entre as pessoas, o prazer de ir comprar o jornal, tem vindo a desaparecer. Hoje, temos tudo isto à beira de um clique.

As formas de comunicar sofreram alterações profundas. As cartas manuscritas deram lugar aos telex e aos faxes e pagers, entretanto eles próprios tornados obsoletos pela vertigem das novas tecnolo-gias, seguindo-se os sms, mails e as redes sociais. As máquinas de escrever e as calculadoras claudicaram perante os computadores pessoais, os portáteis e, mais recentemente, os smartphones e tablets. As disquetes deram lugares aos CD, DVD e a pens e a discos rígidos portáteis, que têm hoje mais capacida-de que o maior computador do mundo de há 40 anos atrás. Os telefones analógicos passaram a digitais

O D I A - A - D I A D O S P O R T U G U E S E S M U D O U M U I T O N O S Ú LT I M O S 4 0 A N O S .

O S H Á B I T O S D E C O N S U M O A LT E R A R A M - S E , N O S S O S P R O D U T O S E S E R V I Ç O S T O R N A R A M - S E PA R T E

D O N O S S O Q U O T I D I A N O , N O VA S M A R C A S O C U PA R A M O L U G A R D A S M A I S A N T I G A S .

S O F I A A R N A U D

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N E G Ó C I O S

101

Q U E M S E L E M B R A D O A C H O C O L AT A D O T O D D Y, D O S G E L A D O S R A J Á , D A S P U R C O L A O U D A L A R A N J I N A C ?

101

4 DE MARÇO Colapso da ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios em Castelo de Paiva arrastando para o Rio Douro um autocarro com 53 ocupantes, e três automóveis ligeiros, com um total de seis pessoas. Várias operações de buscas permitiram recuperar apenas 23 dos 59 cadáveres.

2001

19740,05€ (gasolina 95)0,02€ (gasóleo)

20131,58€ (gasolina 95) 1,39€ (gasóleo)

PREÇO MÉDIO DOS COMBUSTÍVEIS (EUROS/LITRO)

197426,7%

201410,5%

POPULAÇÃO EMPREGADA NO SECTOR PRIMÁRIO

197416,5o

201317,3o

TEMPERATURA MÉDIA ANUALEM LISBOA

e a telemóveis, os cheques a cartões bancários, os filmes VHS aos DVD e ao vídeo digital, e por aí em diante. Hoje, ninguém passa despercebido e está contactável com a maior das facilidades. É a Era Digital.

Com o passar dos anos também algumas profis-sões têm vindo a desaparecer. Os polícias sinaleiros, as modistas, os tipógrafos por exemplo. Os pronto-a--vestir multiplicaram-se, começando pela primeiras lojas de rua, nas zonas centrais das cidades, dando depois lugar aos pequenos centros comerciais e acabando nos grandes shoppings e outlets dos dias de hoje. Em Lisboa, aos Porfírios, Casa Africana, Tito Cunha, Armazéns do Chiado ou do Grandella, sucederam o Imaviz, o Apolo 70 e o Tuti Mundi. E a estes as grandes superfícies comerciais, como os Centros Comerciais Colombo ou Vasco da Gama, por exemplo. Mesmo nas cidades mais peque-nas, há hoje uma profusão de hipers e shoppings centers.

O mesmo aconteceu com as mercearias de rua, onde os clientes tinham conta e pagavam ao final do mês. Foram sendo substituídas por hipermerca-dos pertencentes a grandes grupos de distribuição, numa vaga iniciada pelo primeiro supermercado Pão de Açúcar, em Alcântara, ao qual sucederam, quase vinte anos mais tarde, os primeiros Continen-te, em Matosinhos e na Amadora.

As marcas e os seus produtos também têm vindo

a tomar uma nova atitude no mercado ao longo das últimas décadas. Se há uns anos atrás algumas mar-cas tinham o monopólio de determinados produtos, hoje isso não acontece. A concorrência é grande e feroz, e as marcas têm que acompanhar a evolução dos tempos e ir ao encontro das necessidades, cada vez mais exigentes, dos seus consumidores para que possam vingar e manter o seu “lugar ao sol”. Neste campo, o marketing e a comunicação têm actualmente um papel fundamental. Marketing e Comunicação? Uma modernice dos últimos anos, pois há 40 anos atrás pouca gente sabia o que isto era e como podia ser potenciado.

Muitas marcas, não só de produtos mas também de serviços, já desapareceram e outras evoluíram. Muitas instituições bancárias, companhias de segu-ros ou telecomunicações alteraram os seus nomes ao longo do tempo. A nível de produtos, muitos deles desapareceram. Quem se lembra do achocola-tado Toddy, dos gelados Rajá, da Spur Cola Canada Dry ou da Larangina C?

O dinheiro também sofreu alterações. Eram escudos, centavos, coroas e tostões. Hoje são euros e cêntimos. E se há 40 anos era preciso um cheque para levantar dinheiro ao balcão do banco, ou para pagar uma compra, hoje existem os cartões, os ter-minais de pagamentos e as transferências electróni-cas, e podemos levantar dinheiro em qualquer uma das caixas Multibanco espalhadas pelo país. l

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D O S S I Ê

102

O euro entra em vigor, substituindo as moedas de doze países da União Europeia.

2002

vida

Comecei a minha carreira de Gestor em 3 de Setembro de 1973. Franqueei nesse dia pela primeira vez as portas da Fima Lever Iglo, no Largo Monterroio de

Mascarenhas, para iniciar a actividade de manage-ment trainee naquela que era, à época, considerada a melhor escola prática de Gestão do País, de par com a Nestlé.

Tempos difíceis e, ao mesmo tempo, variados! Nesse dia de Setembro passei a trabalhador-estu-dante, já que me encontrava ainda a iniciar o quin-to ano de Finanças do então ISCEF (o actual ISEG). Preparava também, em conjunto com a Fátima, o nosso casamento que se veio a concretizar em 20 de Abril de 1974, faz agora 40 anos. E acompanha-va, ao mesmo tempo, com atenção as venturas e desventuras da Ala Liberal, sobretudo a liderança incisiva e corajosa de Francisco Sá Carneiro .

O regime, exangue, vivia os seus últimos dias. E pressentia-se. Na escola, mais avidamente, mais

claramente. Mas também na empresa, onde as for-ças se começavam, ainda veladamente, a organizar. Lembro-me, a propósito, de uma colega minha, do Departamento de Estudos de Mercado, me ter perguntado se eu queria alinhar com o MDP/CDE. “ Está connosco, Alberto? “. “ Não G..., Sou profundamente contra este regime, mas situo-me politicamente na área de Francisco Sá Carneiro e será com ele que vou estar quando a hora chegar”, respondi-lhe: “Ainda bem que o diz, está para breve o tempo das definições e das contagens...”, rematou, meio agastada. Demonstrar-se-ia que as contagens eram mesmo para valer um ano e alguns meses mais tarde.

No dia 25 de Abril, a Fátima e eu estávamos na ilha Terceira a passar a nossa lua de mel. Tinha- -me casado no dia 20, como já confidenciei, e às 6 horas da manhã recebo um telefonema do meu pai a dizer-me que tinha havido um golpe de Estado, mas que tudo parecia controlado. O Regime não

U M J O V E M G E S T O R

N O 2 5 D E A B R I L D E 1 9 7 4 ( E M P O U C A S P A L A V R A S )

O P I N I Ã O

A L B E R T O D A P O N T E Presidente da RTP

19741 540 500

20132 565 100

MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO

1990 6 814 826€

2011 130 657 929€

DESPESAS COM BOLSAS NO ENSINO SUPERIOR

197442Km

20143097,7Km

REDE DE AUTOESTRADAS

25ABRIL.indd 102 5/12/14 11:51 AM

Page 103: Prémio, maio de 2014

103

tinha oferecido resistência e os revoltosos eram da ala democrática, provavelmente Spinolista. Devo ter sido dos primeiros civis a saber da Revolução, nos Açores. E a transmitir a novidade aos locais.

Até ao fim de 1974, apesar das dúvidas sobre o 28 de Setembro e o que na realidade acontecera (hoje sabe-se, na altura não), alguns como eu mantínhamos a esperança de que evoluiríamos para uma democracia parlamentar, economica-mente assente na iniciativa privada e, no meu caso pessoal, militante que era da JSD, desde Maio de 74, almejando uma política de Estado baseada na Social Democracia.

Na escola estudava-se menos do que se militava, mas ainda asssim estudava-se. Na empresa já tinha sido promovido a assistant product manager e, como tal, estava a iniciar-me denodadamente na função marketing.

O 11 de Março de 1975 dissipou todas as dúvidas. Íamos para um nova ditadura, íamos ser vacina para uma Europa em exaltação social e política, dizia-se que era assim a orientação estratégica dos EUA. Era tempo de, como curso acabado, entrar mais activamente na política. Foi o que fiz, não deixando de continuar a trabalhar na convicção de que voltaríamos à democracia. Os exemplos de Francisco Sá Carneiro, Mário Soares e Amaro

D O S S I Ê

103

Rebenta o escândalo de pedofilia da Casa Pia de Lisboa envolvendo várias figuras públicas, entre os quais o conhecido apresentador de televisão Carlos Cruz, detido a 1 de Fevereiro de 2003.

2003

1976797 794

20124 558 200

NÚMERO DE TELEFONES FIXOS

197047,4%

201199,4%

HABITAÇÕES COM ÁGUA CANALIZADA

197474€

2014160€

PREÇO DE UMA VIAGEM DE AVIÃO PARA LONDRES

25ABRIL.indd 103 5/12/14 11:51 AM

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D O S S I Ê

104

Portugal foi anfitrião do Campeonato Europeu de Futebol. A final ocorreu entre as equipas de Portugal e da Grécia, sagrando-se a última campeã. Poucos dias antes, o primeiro-ministro Durão Barroso demite-se do cargo para ocupar o lugar de presidente da Comissão Europeia.

2004

vida

S E O 2 5 D E A B R I L D E 1 9 7 4 T R O U X E O F I M D A D I T A D U R A E A E S P E R A N Ç A D E U M A D E M O C R A C I A , F O I O 2 5 D E N O V E M B R O D E 1 9 7 5 Q U E P Ô S O C A R I M B O D E F I N I T I V O N U M F U T U R O D E M O C R ÁT I C O , N U M E S T A D O S O C I A L , E U R O P E U , L I V R E E A B E R T O A O E M P R E E N D O R I S M O .

197443 653

2013411 238

NÚMERO DE ALUNOSNO ENSINO SECUNDÁRIO

197470 123

2012163 175

PROFESSORES ENSINO PRÉ-ESCOLAR, BÁSICO E SECUNDÁRIO

197049 375 (0,9%)

20111 244 742 (14,8%)

POPULAÇÃO COM FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

25ABRIL.indd 104 5/12/14 11:51 AM

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105

D O S S I Ê

105

Morreu Álvaro Cunhal, o histórico líder do Partido Comunista Português (PCP) e um dos mais importantes e influentes militantes anti-fascistas.

2005da Costa eram um estímulo para prosseguir activamente com a afirmação das minhas crenças, num País em que quem não era vermelho, era considerado fascista.

Mas não só da área política vinham esses exemplos de convicção, vontade e resiliência. Vale a pena contar uma pequena história. Poucos dias depois do 11 de Março, ao entrar na Lever, cerca das 9 da manhã, saía já para uma reunião o Sr. Alexandre Soares dos Santos, o accionista portu-guês da empresa. Olhei para ele, ar preocupado e interrogante. E ele, abrindo a janela do carro sor-riu e esticou a cabeça, como que a dizer-me: “Para a frente, para o futuro”. E, de facto a Unilever, contrariamente a outras multinacionais, nunca de-sistiu de Portugal. Terá sido essencial para essa fé em Portugal, a sociedade com a Jerónimo Martins e a incontornável figura de líder que já era então Alexandre Soares dos Santos.

Outra experiência curiosa ocorreu quando, num acesso de curiosidade mórbida, me dirigi à em-baixada da Polónia e pedi a uma funcionária um catálogo de Marketing de algum produto de gran-de consumo polaco. Lembro- me de ela me ter olhado para de um modo abertamente inquisidor. Ao que eu diligentemente correspondi, com uma explicação detalhada do que considerava ser uma expressão, podia ser impressa, de comunicação publicitária. Entre suores e o que me pareceram alguns desabafos menos lisonjeiros, lá acabou por

me dar um catálogo de brinquedos com todo o ar dos anos 50. Era o marketing soviético no que provavelmente de melhor conseguia fazer. Recuei nesse dia 20 ou 30 anos no tempo, sensação que só voltaria a ter onze anos mais tarde, quando visitei pela primeira vez Berlim Leste.

Mas a verdade é que a normalidade demo-crática, a esperança de uma inclusão na Europa Ocidental e até a de um Estado verdadeiramente social só surgiria em 25 de Novembro de 1975. É que, numa modesta e talvez polémica opinião, se o 25 de Abril trouxe o fim da ditadura e a esperan-ça de uma democracia, foi o 25 de Novembro que pôs o carimbo definitivo num futuro democrático, num Estado social, europeu, livre e aberto ao empreendorismo. Nesse dia ganhámos a certeza de um futuro desenvolvimento económico, de um lugar na Europa, de uma esperança perene. Até 2008, pelo menos. Depois... Depois já é outra história! l

19732 4967

200896 756

VIAGENS DE CARRO (PASSAGEIROS POR KM PERCORRIDO)

19734 106

20084 213

PASSAGEIROS POR COMBOIO (POR KM PERCORRIDO)

199788 670

20122 310 611

ASSINANTES DO ACESSOÀ INTERNET

25ABRIL.indd 105 5/12/14 11:51 AM

Page 106: Prémio, maio de 2014

N E G Ó C I O S

lazer

lazer

106

D O S S I Ê

Pela primeira vez na história de Portugal, a maior prova de automobilismo do mundo começa em Lisboa. Milhões de telespectadores assistiram ao arranque do Rally Lisboa/Dakar que partiu da capital portuguesa.

2006

19744 076,1

20121 313,4

CINEMA: ESPECTADORES POR MIL HABITANTES

19742 663,6€

201273 954,7€

CINEMA: RECEITAS DE BILHETEIRA

19742 546 000

201210 067 000

MUSEUS (VISITANTES)

Fado, futebol e Fátima. Os três Efes do regime deposto com o 25 de Abril, a que se podiam juntar as “boîtes” (como então eram conhe-cidas as discotecas), os cabarés,

o Casino Estoril, as revistas e os grandes cinemas, como o Condes, o Império, o Mo-numental ou o Roma, em Lisboa, o Avenida de Coimbra, ou o Carlos Alberto do Porto. Era assim o entretenimento nos anos 70.

Nos primeiros anos da década, ir de férias representava para os portugueses fazer praia ou campo, na época estival, que se prolonga-va por três meses. As pessoas de Lisboa iam passar férias a Cascais, Ericeira ou à Praia das Maçãs. A Figueira da Foz reunia gente do Porto, de Viseu e Coimbra. A Granja, Espinho, a Póvoa e as praias da Costa Verde do Minho, eram o destino da classe média do Norte. O Algarve estava a nascer para o turismo e Tróia ainda era um projeto da

Torralta em construçãoO tradicional passeio de domingo, as

excursões a Badajoz, a Salamanca ou a Vigo, para comprar caramelos e fazer compras, aproveitando os preços baixos de uma peseta que valia metade do escudo e os piqueni-ques com a família, ocupavam fins-de-sema-na. O garrafão de vinho em vime, as panelas embrulhadas em jornais, a cesta de verga e a toalha aos quadrados eram apetrechos indispensáveis neste encontro ao ar livre. A Feira Popular de Lisboa era um centro de entretenimento no coração da cidade. No Parque Mayer reinava o teatro de revista. No Apolo 70, um dos novos centros comerciais da capital, podia jogar-se bowling.

Nas últimas quatro décadas a indústria do lazer proliferou e diversificou-se. A prática do exercício físico e de actividades radicais tornaram-se hábitos dos portugueses.

A indústria do cinema viu abrir e fechar

N O S Ú LT I M O S 4 0 A N O S , O L A Z E R PA S S O U , C O M O T U D O O R E S T O , P O R U M A R E V O L U Ç Ã O D I G I TA L .

O S T E M P O S C A L M O S D A D É C A D A D E S E T E N TA D E R A M L U G A R À C O R R E R I A D O S P R I M E I R O S A N O S D E

U M N O V O S É C U L O . D E “ FÁT I M A , F U T E B O L E FA D O ” D O R E G I M E A N T E R I O R , M A N T I V E M O S O S D O I S

P R I M E I R O S E T R O C Á M O S O FA D O P O R O U T R O “ F ” : O D O S F E S T I VA I S D E V E R Ã O .

O C A M I N H O P A R A A E R A D I G I T A L

C A T A R I N A D A P O N T E

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N E G Ó C I O S

107107

Foi o ano em que Madeleine McCann, uma menina inglesa de quatro anos desapareceu a 3 de Maio na Praia da Luz, no Algarve, sem deixar rasto, colocando Portugal, nos escaparates de toda a imprensa internacional… e pelas piores razões.

2007

197994 000

20125 662 000

SESSÕES DE ESPECTÁCULOS DE MÚSICA, DANÇA E VARIEDADES

19740,08€/Kg

20144,997€/Kg

PREÇO DA SARDINHA

19740,02€/l

20140,72€/l

PREÇO DO LEITE

ao longo destes 40 anos várias salas de cinema. Já a “Caixa que mudou o mundo” só passou a

ser vista a cores na década de 80, tendo transmi-tido a primeira telenovela portuguesa “Vila Faia” em 1982. Nos anos 90 apareceram os dois canais de televisão privados em Portugal, a Sociedade Independente de Comunicação (SIC) e a Televisão Independente (TVI), e destes até à televisão por cabo, com a multiplicação de canais foi um pulo. Hoje, estamos na Era do mobile e do streaming online.

Na prateleira da música, entoavam-se à data canções revolucionárias de Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Francisco Fanhais, Vitorino, José Niza, José Jorge Letria, José Mário Branco, Sérgio Godinho e, claro, a “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso. Os mais conservadores ouviam fado e música importada para evitar confusões. Os cantores franceses, como Michele Mathieu ou Adamo, perdiam progressivamente terreno para o Pop e o Rock e para as novas estrelas, como os Rolling Stones, os The Who, os Pink Floyd ou Elton John, cujos sucessos se mediam pelas vendas de discos de vinil de 45 rotações com duas ou quatro faixas (os singles) ou os grandes de 33 rotações, com álbuns inteiros (os LP), que se ouviam nos chamados gira-discos ou pick-ups. A música era gravada em disquetes e os CD’s e DVD’s eram ainda uma tecnologia distante. Quem queria mobilidade, ouvia as cassetes no seu walkman da Sony.

Hoje, as músicas são outras e já não tocam no gira-discos. Os vinis foram substituídos pelos CD’s, primeiro, e pela música em formatos

digitais, como o MP3, que se ouve no iPod ou em qualquer smartphone, depois de descarregadas ou comprada na internet.

A queda do antigo regime trouxe consigo uma enorme sede de leitura e informação política. Os jornais matutinos e vespertinos multiplicavam-se em títulos alinhados com as cores partidárias e em tiragens, com vendas que se contavam por dezenas de milhar, ao dia. Os jornais compravam-se aos ardinas, nas esquinas, ou nas tabacarias e papela-rias. Os quiosques actuais não existiam. Os livros compravam-se em livrarias com dezenas de anos de vida e de histórias para contar, e os discos em disco-tecas. As pessoas almoçavam em casa e a seguir iam tomar um café, sentado, nas tertúlias do Monumen-tal, do Monte Carlo, do Café Roma, da Mexicana, só para citar alguns das mais importantes. O lanche era da Ferrari, na Colombo, na Suprema ou na Versailles.

Os livros “Portugal e o Futuro”, de António de Spínola e “Estamos ao Vento”, de Fernando Namora encabeçavam, em Maio de 74 a lista dos mais vendidos.

Hoje, muitas das mais emblemáticas pastelarias e livrarias de Portugal fecharam. Os livros e os CD’s vendem-se nos hipermercados, na FNAC, mandam-se vir pela Amazon ou descarregam-se na internet.

Porque “recordar é viver” e os momentos de lazer são talvez os mais susceptíveis de serem fotogra-fados, há que relembrar as fotografias de rolo, que precisavam de ser reveladas nas casas da especia-lidade. Hoje é tudo digital. Que a tecnologia não nos falte, já que a memória é, 40 anos depois, uma “e-memória.” l

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D O S S I Ê

lazer

108

O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, declara a nacionalização do Banco Português de Negócios, aquele que se viria a revelar o maior escândalo de burla da história financeira nacional.

2008

A crise obrigou-nos a tomar consciência de que temos de inverter as tendências do passado, que nos conduziram a uma situação de quase ruptura, refere

António Saraiva. A competitividade dos sectores abertos à concorrência internacional foi fortemente penalizada por aumentos excessivos de custos salariais, fiscais e das diversas utilities, face aos respectivos ganhos de produtividade, adianta o recém-reeleito presidente do Conselho Geral e da Direcção da CIP, a Confederação Empresarial de Portugal, numa entrevista onde revisita os últimos 40 anos da economia portuguesa: das nacionalizações de 1975 à crise económica actual.

Qual o impacto na economia das nacionalizações de 1975?As nacionalizações de 1975 destruíram os principais grupos económicos que então existiam em Portugal. Colocaram na mão do Estado uma parcela muito grande do tecido empresarial, subtraindo-a à lógica do mercado e atrasando a modernização da economia e a sua adaptação às mudanças que entretanto marcavam a evolução da economia mundial. A forma como o Estado geriu as empresas nacionalizadas contribuiu para os desequilíbrios que se vieram a desenvolver, conduzindo às duas primeiras intervenções do FMI em Portugal, em 1977/78 e 1983/85.

“A FORMA COMO O ESTADO GERIU

AS EMPRESAS NACIONALIZADAS LEVOU

ÀS DUAS PRIMEIRAS INTERVENÇÕES DO FMI”

E N T R E V I S T A

A N T Ó N I O S A R A I V A ,

PRESIDENTE REELEITO DO CONSELHO GERAL E DA DIRECÇÃO DA CONFEDERAÇÃO EMPRESARIAL DE PORTUGAL (CIP)

A U N I Ã O A Q U E A D E R I M O S É M U I T O D I F E R E N T E D A Q U E T E M O S H O J E .

C AVA R A M - S E D E S E Q U I L Í B R I O S I N S U S T E N TÁV E I S . S E A U N I Ã O E U R O P E I A N Ã O S E

R E C O N S T R Ó I , A S S I S T I R E M O S A F E N Ó M E N O S S O C I A I S Q U E P O D E M , N O L I M I T E ,

L E VA R À S U A D E S A G R E G A Ç Ã O . A S E L E I Ç Õ E S Q U E S E A P R O X I M A M D E V E R I A M

C O N S T I T U I R - S E C O M O O I N Í C I O D E U M A N O VA E R A E U R O P E I A .

197415%

201460%

JOGADORES ESTRANGEIROS NOS PLANTÉISSPORTING

197430%

201470%

BENFICA

197430%

201480%

FC PORTO

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109

D O S S I Ê

109

Seis doentes perderam a visão depois de terem sido submetidos a uma intervenção cirúrgica oftalmológica no Hospital de Santa Maria. Os relatórios indiciaram negligência médica.

2009

1974628 479

20122 073 624

BIBLIOTECA NACIONALLIVROS E OUTROS DOCUMENTOS

NÚMERO DE LEITORES PRESENCIAIS

197434 838

201242 685

1974295,6

201221,7

NÚMERO MÉDIO DE ESPECTADORES POR SESSÃO

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Page 110: Prémio, maio de 2014

D O S S I Ê

110

Um violento temporal na Madeira causou derrocadas de pedras e lama que mataram 42 pessoas, deixaram centenas de desalojados e um rasto de destruição em toda a ilha.

2010

lazer

O que mudou na estrutura do capitalismo português com essas nacionalizações? É por essa razão que os novos grupos económicos, incluindo os bancos privados, nasceram com raízes no Norte e capitais realizados na indústria, casos de Amorim, Ilídio Pinho/Colep, Violas, Quintas, Macedo Silva/RAR e outros?Os grupos económicos que surgiram em Portugal nos anos 80 do século passado não nasceram à sombra das nacionalizações. São resultado da iniciativa de muito empresários, da vitalidade do sector privado, do dinamismo de que soube dar provas num período difícil mas em que as oportunidades da abertura ao exterior foram aproveitadas. Aliás, é interessante verificar que os períodos de maior dinamismo da nossa economia coincidem com uma maior abertura da economia ao exterior. Quando nos voltamos para fora, crescemos. Foi assim nos anos 60, foi assim nos anos 80. Esperamos que se volte agora a repetir no quadro de um modelo de desenvolvimento assente na competitividade internacional da economia.

As reprivatizações voltaram a reequilibrar o mapa do capitalismo português, devolvendo poder a Lisboa e à Finança?O que as privatizações significaram foi o regresso pleno a um sistema de economia de mercado, do qual nos tínhamos distanciado durante anos e em que o Estado assumiu (deficientemente, diga-se) um papel que cabe aos privados.Os grupos económicos de que estamos a falar, surgidos nos anos 80 e na sequência das privatizações, ultrapassam largamente uma escala local ou regional. São grupos de dimensão nacional ou mesmo internacional.

Na sequência do “Verão Quente de 75” assistimos a uma fuga de quadros portugueses para o estrangeiro, sobretudo para o Brasil e Espanha. Que impacto teve essa fuga de quadros na qualidade da gestão em Portugal?Não creio que a qualidade da gestão em Portugal tenha sido muito afectada por esse fenómeno, que embora se tenha verificado em sectores importantes, não foi generalizado. Em compensação, muitos jovens optaram nessa altura por se formar no estrangeiro e trouxeram depois para Portugal novas qualificações e uma mentalidade mais aberta.

Foi essa fuga de quadros que abriu as portas à nova geração de jovens gestores, que rapidamente atingiram lugares de topo normalmente alcançáveis apenas depois dos 50 anos?A maior rapidez na ascensão na carreira dessa nova geração tem causas bem mais profundas. Deve-se sobretudo à aceleração da mudança e a uma maior mobilidade profissional, que reflecte uma nova forma de estar, nas empresas e no mundo. Essa maior mobilidade favorece o aproveitamento das capacidades dos jovens mais talentosos. Porque razão assistimos à desindustrialização da economia portuguesa? É o resultado da globalização, uma questão de competitividade do País, ou uma conjugação de ambos?Diria que foi uma questão de competitividade, comprometida por políticas erradas, sob o impacto de uma globalização deficientemente regulada.Quais as razões da perda de competitividade da economia portuguesa? Tem a ver com uma

E N T R E V I S T A A N T Ó N I O S A R A I V A

197932

2012128

SESSÕES DE ÓPERA POR ANO

1979265

2013582

SESSÕES NO TEATRO NACIONAL D. MARIA II

1979299,4

2012130,1

TEATRO (ESPECTADORES POR SESSÃO)

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Page 111: Prémio, maio de 2014

111

D O S S I Ê

111

O Governo pede ajuda financeira a uma “troika” de credores. O primeiro--ministro José Sócrates pede a demissão e é substituído em eleições por um Governo de coligação partidária que governará sob a alçada de um Memorando de Entendimento com os credores internacionais.

2011

aposta demasiado forte em sectores não abertos à concorrência externa, como a banca, imobiliário, construção e infra-estruturas, utilities?Os sectores abertos à concorrência internacional foram significativamente penalizados face a outros sectores que, embora muitas vezes com menores ganhos de produtividade, aumentaram o seu peso na economia nacional. Foram esses outros sectores

(onde se destaca a Administração Pública) que determinaram, por efeito de contágio, aumentos salariais desajustados à realidade concorrencial dos sectores extrovertidos da economia nacional.

Entre 1995 e 2010, os custos laborais por unidade produzida aumentaram 47% em Portugal, em termos nominais, enquanto na União Europeia, em média, o aumento foi de 30%, e na zona do euro de 24%. O diferencial dá

O Q U E A S P R I VAT I Z A Ç Õ E S S I G N I F I C A R A M F O I O R E G R E S S O P L E N O A U M S I S T E M A D E E C O N O M I A D E M E R C A D O , D O Q U A L N O S T I N H A M O S D I S T A N C I A D O D U R A N T E L A R G O S A N O S .

1960468

20121 399

VISITANTES JARDINS ZOOLÓGICOS, BOTÂNICOS E AQUÁRIOS (MÉDIA DIA)

1974“O rei de quase tudo”Eliardo França

2006“O menino, o cachorro “Simone Bibian

O MELHOR LIVRO INFANTIL DO ANO

19703,7

20112,6

DIMENSÃO MÉDIA DE FAMÍLIAS

25ABRIL.indd 111 5/12/14 11:51 AM

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D O S S I Ê

112

Foi o ano em que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, anunciou “um enorme aumento de impostos” aquando da apresentação do Orçamento Geral do Estado. O ano mais grave em toda a crise económica e financeira.

2012

lazer

E N T R E V I S T A A N T Ó N I O S A R A I V A

19744

201412

RESTAURANTES COM ESTRELAS MICHELIN EM PORTUGAL

19911

2014138

RESTAURANTES MCDONALDS EM PORTUGAL

198771 praias

2014316 praias

BANDEIRA AZUL EM PORTUGAL

25ABRIL.indd 112 5/12/14 11:51 AM

Page 113: Prémio, maio de 2014

113

D O S S I Ê

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O ciclista português Rui Costa sagrou-se campeão do Mundo de ciclismo, em Florença.

2013

uma imagem dessa perda de competitividade da economia portuguesa neste período de 15 anos.

Por outro lado, foram também os sectores protegidos que puderam facilmente repercutir os aumentos dos custos nos respetivos preços (ou na carga fiscal, no caso da Administração Pública), afectando negativamente, por essa via, os sectores expostos à concorrência.

Acresce ainda o efeito de políticas que favoreceram a rentabilidade dos sectores regulados e contribuíram directamente para o aumento dos custos de produção suportados pelos restantes sectores.

Deste modo, a competitividade dos sectores abertos à concorrência internacional foi fortemente penalizada por aumentos excessivos de custos (salariais, fiscais e das diversas utilities), face aos respectivos ganhos de produtividade.

O que mudou desde o início da actual crise, em 2008, e o que levou a economia a recuperar competitividade externa? Foi só a baixa dos custos laborais, ou há outros factores, como a aposta em marcas e na qualidade dos produtos?A crise obrigou-nos a tomar consciência de que temos de inverter as tendências do passado, que nos conduziram a uma situação de quase ruptura.O ajustamento dos custos laborais unitários relativos, que se verificou nos últimos anos e que favoreceu a competitividade externa, não se processou só pela via salarial, mas também pelo aumento da produtividade. O desempenho das exportações é, antes de mais, mérito das empresas. É prova da sua resiliência e mostra

que fizeram um esforço notável, na aposta em marcas, na qualidade e também no que respeita a diversificação de mercados. Em resposta a maiores dificuldades no mercado doméstico e em mercados tradicionais, procuraram novos clientes, novas parcerias e exploraram destinos que até aí lhes eram desconhecidos.Tudo isto, apesar da conjuntura externa desfavorável, da enorme escassez de financiamento, dos problemas com os seguros de crédito à exportação, do peso de factores não salariais que ainda continuam a afectar a competitividade das empresas.

Há de facto um retrocesso, um pouco por toda a Europa, do modelo social europeu?O modelo social europeu está a reformar-se com vista à sua sustentabilidade. Essa reforma poderá torná-lo menos magnânimo, mas, sem ela, as pressões económicas e demográficas a que está sujeito conduziriam inevitavelmente ao seu desaparecimento. Por isso, não falaria em retrocesso, mas em reforma.

Há uma relação forte entre os interesses económicos e políticos? As más decisões de investimento público e os casos recorrentes de corrupção derivam dessa relação?Parece-me existir hoje na sociedade portuguesa a consciência de que é importante reforçar os mecanismos de transparência e de regulação que evitem uma eventual promiscuidade desses interesses e previnam casos de corrupção e de tráfico de influências. É este o caminho que devemos trilhar.

1976Epá custava 5$50

2014Epá custa 0,90€

PREÇO DE GELADOS

1970793

201314 781

COMÉRCIO: CONCESSÕES DE MARCAS

CAMPEÕES DO MUNDOEM FÓRMULA 1

1974Emerson Fittipaldi

2013Sebastian Vettel

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D O S S I Ê

Com pouco mais de um mês e vinte e um dias de diferença o Sport Lisboa e Benfica (SLB) e a Selecção Nacional perderam dois dos seus maiores ícones: a 5 de Janeiro morre o emblemático Eusébio da Silva Ferreira e a 25 de Fevereiro desaparece em Moçambique o mítico Mário Coluna.

2014

lazer

E N T R E V I S T A A N T Ó N I O S A R A I V A

Por que razão a corrupção é mais forte no Sul do que no Norte da Europa?É certo que a cultura dos países do sul da Europa é marcada por uma maior permissividade e um sentido de cidadania menos enraizado, mas não sei até que ponto a visão que transparece da sua pergunta é resultado de um preconceito instalado que temos de contrapor com factos objectivos.

Porque acha que as pessoas na Europa estão hoje, como dizia há um mês a revista The Economist, com a sensação de que a democracia falhou?Num ambiente de crise, em que as expectativas das pessoas não foram cumpridas, é difícil separar o que é o eventual falhanço de instituições democráticas, que é preciso reformar, do falhanço da democracia como sistema. Para

mim, é claro que não podemos imputar a falta de resposta das instituições ao falhanço da democracia. Infelizmente, esta distinção não é evidente para muitos, o que representa um enorme risco que todos temos de acautelar. Porque, como dizia Churchill, “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos a tempos”.

Há uma ruptura entre os países da periferia europeia, mais afectados pela crise da dívida pública, e os países do centro. Acha que é preciso reconstruir a União Europeia?Não podia estar mais de acordo. A União Europeia a que aderimos é muito diferente da que temos hoje. Cavaram-se desequilíbrios insustentáveis. Como disse o Presidente da República, assistimos à “perda da noção de pertença a uma União firmemente solidária”.Se a União Europeia não se reconstrói, assistiremos a fenómenos sociais que podem, no limite, levar à sua desagregação.Acredito que os efeitos dessa desagregação são suficientemente desastrosos, em todos e cada um dos Estados-membros, para que os responsáveis políticos não permitam a concretização de tal cenário e que, como ao longo dos últimos 60 anos, a Europa seja capaz de se reconstruir sob o peso das suas próprias contradições.As eleições que se aproximam deveriam constituir-se como o início de uma nova era europeia: uma Europa solidária que age em prol dos seus cidadãos, do crescimento da sua economia. l

A U N I Ã O E U R O P E I A A Q U E A D E R I M O S É M U I T O D I F E R E N T E D A Q U E T E M O S H O J E .

19741 563m - Alfredo Melão

20071 774m - Nelson Évora

RECORDE NACIONAL DE TRIPLO SALTO

19711

201415

MARCAS DE SUPERMERCADO

19712

20144

NÚMERO DE CANAIS GENERALISTAS

FONTES: PORDATA; INE; BANCO DE PORTUGAL; CNE

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Page 115: Prémio, maio de 2014

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Page 116: Prémio, maio de 2014

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