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PRESERVAR PRA QUEM? 30 ANOS DE POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO EM JUIZ DE FORA E OS DESAFIOS NO PRESENTE Carine Silva Muguet * Resumo: O presente trabalho tem como objetivo traçar um panorama da cidade de Juiz de Fora no que tange seu patrimônio histórico. Transcorridas três décadas de criação da primeira legislação municipal de proteção a bens culturais, ainda há grande tabu sobre o tombamento. Neste sentido, apresentaremos dados quantitativos a fim de elucidar os tipos de bens sob proteção, além de expor, através de estudo de caso, alguns percalços da municipalidade nos procedimentos técnicos em prol da proteção e manutenção dos mesmos. Popularmente conhecida como Manchester Mineira ou Princesa de Minas, títulos carinhosamente conquistados entre o fim do século XIX e primeiro quartel do século XX, período áureo de desenvolvimento econômico, a urbe deixou marcada em belas edificações esse passado pujante. Através da pluralidade de estilos - eclético, art-decó e alguns exemplares modernistas - esses objetos vivificam a memória da sociedade juizforana, cuja preservação, perpetuação através de projetos de educação patrimonial e difusão turística, são fundamentais para reforçar os laços de sociabilidade entre a comunidade local. Assim, a percepção individual àquilo que se considera parte da comunidade em que vive, torna um bem de caráter intransponível, cabendo ao poder público, utilizar de mecanismos para proteção e manutenção de seu patrimônio cultural. Nessa medida, a atuação dos setores de preservação deve ter como princípio demonstrar que é a sociedade que imprime sentido aos bens culturais. Palavras-Chave: políticas de preservação; patrimônio; memória; bens culturais Introdução O presente trabalho tem por objetivo divulgar as ações do setor de patrimônio cultural da Prefeitura de Juiz de Fora, a partir da consolidação de políticas preservacionistas adotadas nos últimos 30 anos. No âmbito institucional, a Divisão de Patrimônio Cultural da Prefeitura de Juiz de Fora, criada em 1989, vêm dando continuidade à perspectiva preservacionista vislumbrada por intelectuais e artistas locais ainda na década de 1970. * Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Historiadora da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA), lotada na Divisão de Patrimônio Cultural, órgão da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. Contato: [email protected]

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PRESERVAR PRA QUEM? 30 ANOS DE POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO EM JUIZ

DE FORA E OS DESAFIOS NO PRESENTE

Carine Silva Muguet*

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo traçar um panorama da cidade de

Juiz de Fora no que tange seu patrimônio histórico. Transcorridas três décadas de

criação da primeira legislação municipal de proteção a bens culturais, ainda há

grande tabu sobre o tombamento. Neste sentido, apresentaremos dados

quantitativos a fim de elucidar os tipos de bens sob proteção, além de expor, através

de estudo de caso, alguns percalços da municipalidade nos procedimentos técnicos

em prol da proteção e manutenção dos mesmos. Popularmente conhecida como

Manchester Mineira ou Princesa de Minas, títulos carinhosamente conquistados

entre o fim do século XIX e primeiro quartel do século XX, período áureo de

desenvolvimento econômico, a urbe deixou marcada em belas edificações esse

passado pujante. Através da pluralidade de estilos - eclético, art-decó e alguns

exemplares modernistas - esses objetos vivificam a memória da sociedade

juizforana, cuja preservação, perpetuação através de projetos de educação

patrimonial e difusão turística, são fundamentais para reforçar os laços de

sociabilidade entre a comunidade local. Assim, a percepção individual àquilo que se

considera parte da comunidade em que vive, torna um bem de caráter

intransponível, cabendo ao poder público, utilizar de mecanismos para proteção e

manutenção de seu patrimônio cultural. Nessa medida, a atuação dos setores de

preservação deve ter como princípio demonstrar que é a sociedade que imprime

sentido aos bens culturais.

Palavras-Chave: políticas de preservação; patrimônio; memória; bens culturais

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo divulgar as ações do setor de patrimônio

cultural da Prefeitura de Juiz de Fora, a partir da consolidação de políticas

preservacionistas adotadas nos últimos 30 anos. No âmbito institucional, a Divisão

de Patrimônio Cultural da Prefeitura de Juiz de Fora, criada em 1989, vêm dando

continuidade à perspectiva preservacionista vislumbrada por intelectuais e artistas

locais ainda na década de 1970.

* Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Historiadora da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (FUNALFA), lotada na Divisão de Patrimônio Cultural, órgão da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. Contato: [email protected]

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A mudança na paisagem urbana das majestosas construções no eixo central

da cidade substituídas por arranha-céus deram a tônica para os movimentos em prol

da preservação. Mas afinal, preservar pra quem? O reconhecimento ao que deve ser

preservado passa, entre outras coisas, por valores de identificação social a um

determinado bem. É nessa perspectiva que apresentamos algumas notas de

pesquisa sobre as políticas de preservação em Juiz de Fora. Para que seja possível

compreender esse processo de construção, faz-se necessário elucidar a formação

do município, demonstrando a origem da diversidade de estilos que compõe o

núcleo histórico da cidade.

1. Juiz de Fora: A Manchester Mineira

É necessário destacar o que conhecemos atualmente por Juiz de Fora teve

início a partir do núcleo composto pelo Morro da Boiada, Tapera, Alto dos Passos e

Fazenda do Juiz de Fora. O povoamento inicial foi à margem esquerda do rio

Paraibuna, cujo nome de origem indígena significa “rio de águas escuras”.

(ESTEVES, A. 1915) Posteriormente, o rio que dividia a região formada por morros e

o centro pantanoso - devido a constantes transbordamentos -, também passou a

nomear o município.

O reconhecimento e emancipação do vilarejo se deu em 1850, quando criou-

se a Vila de Santo Antônio do Paraibuna, em homenagem da paróquia ao santo.1 A

segunda metade do século XIX foi marcada por incertezas quanto à mão de obra e

força do trabalho, sussitando mão-de-obra imigrante. Assim, a formação do

município tem na herança imigrante característica fundamental.

Deste modo, Juiz de Fora passava a destacar-se entre fins do XIX e primeiras

décadas do XX devido “espírito modernizante”, com destaque à inauguração da

primeira hidrelétrica da América do Sul - a Usina de Marmelos Zero (1889), que foi

pioneira no Brasil ao utilizar a pavimentação com macadame na confecção da

Estrada União e Indústria (1861), além de sediar a primeira transmissão de TV em

canal aberto do Brasil, com equipamento inventado por Olavo Bastos Freire (1948).

1 A Lei nº759, de 02 de maio de 1856, elevou a vila à categoria de cidade, com a denominação de Paraibuna, sendo a cidade oficialmente instalada em 07 de setembro de 1856. A lei nº1.202, de 19 de Dezembro de 1865 determinou a mudança do nome para Juiz de Fora. (BASTOS, 2004: 73-75)

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Pelo potencial industrial e destaque no cenário artístico e cultural, a cidade do “Juiz

de Fora” ficou conhecida como Manchester Mineira em referência à cidade inglesa.

Além do famoso título, a cidade também foi carinhosamente apelidada de Atenas

Mineira, em referência ao local de fundação da Academia Mineira de Letras. Entre

tantos referenciais de memória, não é de se estranhar o volumoso legado protegido

por tombamento. Os 186 bens imóveis, entre acervos documentais e bens móveis

integrados, assim como seis registros imaterias, refletem uma cidade plural e

composta por um privilegiado patrimônio cultural.

Deste modo, o passado pujante do município criou ótica espacial muito

peculiar, de casarões ecléticos, imponentes prédios em art-déco, belíssima

residência em art-nouveau, construções em estilo neocolonial além de monumentos

modernistas como o painel denominado Marco do Centenário, de autoria do artista

Di Cavalcanti e projeto assinado pelo arquiteto local Arthur Arcuri, em homenagem

ao centenário da cidade (1951). Para o arquiteto e urbanista Victor Godoy (2015, p.

27), essa valorização da modernidade trazia consigo um elemento de contraposição

- a desvalorização das heranças do passado. A preocupação com a dissolução

dessa memória urbana – de identidade coletiva e individual -, gerou esforços pela

preservação de edificações entendidas como de valor histórico para a cidade.

Compreendendo a necessidade de resguardar a memória dos primórdios de

sua fundação, o prefeito Lindolfo Gomes foi pioneiro ao encaminhar, em 1939, carta

ao então presidente do SPHAN Rodrigo Mello Franco de Andrade, pedindo o

tombamento da Fazenda Velha, de propriedade de Luiz Fortes Bustamante e Sá, o

juiz “de fora”. (GAWRYSZEWSKI, p.64-75). Segundo o jornalista e historiador Paulino

de Oliveira, na edificação do século XVII teria se hospedado Duque de Caxias e sua

guarda em passagem pelo arraial no ano de 1842. Segundo a historiadora Fabiana

Almeida (2015, p.12-13), tal afirmação foi publicada no periódico O Diário Mercantil

em 1970, onde Oliveira expôs a relação de bens que considerava de valor histórico,

ainda que estes não mais existissem. Naquela época, os tombamentos ocorriam

com base no Decreto Lei Federal n°25 de 1937 e se baseavam no valor histórico

nacional. Assim, nos primeiros anos de atuação do SPHAN era comum o

reconhecimento de bens relativos ao período colonial. Isso ocorria porque o

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distanciamento temporal era concebido como fundamental para a interpretação de

um objeto como de importância cultural. O esforço quase solitário de Lindolfo Gomes

não impediu que a Fazenda do Juiz de Fora fosse demolida em 1949.

A historiografia local identifica a década de 1970 como cerne dos movimentos

em prol da preservação de edificações representativas à memória coletiva. A

dissertação de Mestrado em História de Fabiana Almeida, publicada em 2015 pela

FUNALFA, resulta de exaustiva pesquisa acerca das personagens que auxiliaram na

construção de uma consciência preservacionista. Segundo a autora, a série de

demolições naquela década, começou a preocupar professores, historiadores,

artistas, jornalistas e a população da cidade.

Imagem 01 – Palacetes da antiga Rua Direita, atual Av. Barão do Rio Branco (década de 1920). Acervo Ramon Brandão

A partir de então, a luta pela salvaguarda dos referenciais de memória da

cidade tomava corpo. Em depoimento à Paulo Gawryszewski e Érica Aleixo, Carlos

Henrique Saldanha e Lopes afirmou ter se reunido com Rui Merheb e os artistas

irmãos Décio e Nívea Bracher em um belo casario onde funcionava a Secretaria de

Educação nos anos 70. Segundo ele, as reuniões pretendiam alcançar soluções

para suspender demolições que ocorriam em massa na cidade, de modo a

documentar através de pinturas, fotografias ou qualquer meio de registro tudo o se

perdia.(GAWRYSZEWSKI, 2008, p. 66) O movimento ganhou apelo popular e

durante o exercício de mandato do prefeito Francisco Antônio de Mello Reis (1977-

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1982), algumas edificações em processo de demolição passaram a ser fotografadas

e reunidas enquanto arquivo documental.

De acordo com Almeida, O Programa Nacional de Apoio as Capitais e

Cidades de Porte Médio foi um dos principais responsáveis pela série de demolições

nas cidades medianas. E isso ocorreu porque ele dispunha recursos do BIRD

(Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) para investir nas

prefeituras com o objetivo de modernizar a estrutura urbana. E foi nesse contexto

que diversos casarões da Av. Rio Branco deram lugar a prédios comerciais e

residenciais.

Imagem 02 – Av. Barão do Rio Branco, esquina com a Rua Floriano Peixoto em 1972. Acervo Ramon Brandão

2. Políticas de Preservação do Patrimônio em Juiz de Fora e os desafios no presente

A relação numerosa de bens tombados no município resulta de esforços da

sociedade e Prefeitura que remonta de pelo menos três décadas. Em 1982 a

Comissão Municipal Permanente Técnico-Cultural (CPTC) foi criada a partir do

empenho de movimentos preservacionistas iniciados em fins dos anos 70 e que

compuseram o plano de governo do prefeito Francisco Antônio de Mello Reis (1977-

1982).

Assim, há de se destacar o papel do Instituto de Pesquisa e Planejamento de

Juiz de Fora, criado em 1977. (Decreto nº 1969 de 29 de dezembro de 1977). Para Mello

Reis, em entrevista a Nilo Azevedo e Wilson Jabour Jr (2012), o IPPLAN foi

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estabelecido com o objetivo de pensar a cidade. Naquele ambiente múltiplo de

profissionais atentos às mobilizações populares, as ideias sobre o que se

considerava patrimônio começavam a tomar forma. Ao ser questionado sobre as

políticas de preservação, Mello afirmou que “Já no final da década de 1970, nós

estávamos pensando em criar um Instituto de Preservação do Patrimônio” (2012,

p.83) e a vinda do arquiteto Luiz Alberto do Prado Passaglia teve esse intento.

A fundação no mesmo ano do IPPLAN e da Fundação Alfredo Ferreira Lage -

FUNALFA, a qual passava a integrar a Secretaria de Cultura, Turismo e Lazer,

ampliou a sensação de desconfiança da construção civil e gerou série de

demolições. E isso porque desde o cerne, a Funalfa previa em Estatuto a

incumbência de “promover a defesa pelo patrimônio cultural, turístico, histórico e

artístico”. (GRAWYSZEWSKI, 2008, p. 67)

Em 1978, a notícia de que a Cúria Arquidiocesana permitiria a demolição da

Capela do Colégio Stella Matutina despertou a comunidade para o perigo da

especulação imobiliária e o sentido em promover o tombamento. Nesse contexto, a

imprensa, através do periódico O Diário Mercantil, listou diversos bens que deveriam

ser preservados na cidade. A listagem seria a relação feita por Paulino de Oliveira

em virtude da demolição da Capela, assunto que ficou por semanas em pauta na

imprensa local. A pesquisa de Fabiana Almeida aponta que a criação da Funalfa

deve-se ao episódio de demolição da Capela do Colégio Stella Matutina e revela um

esforço da municipalidade em gestar mecanismos de defesa do patrimônio.

A historiografia aponta ainda para dois momentos fundamentais ao tema do

patrimônio. A realização da Primeira Semana de História da UFJF em 1979, que

possibilitou, pela primeira vez, que os intelectuais pudessem reunir-se para discutir

alternativas de salvaguarda da memória local através de seus bens edificados.

Sobre este congresso, o arquiteto Luiz Alberto Passaglia, funcionário do

Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São

Paulo, proferiu palestra em mesa conjunta com Décio Bracher, relatando sua

experiência de preservação em São Paulo, a convite da Prefeitura de Juiz de Fora.

Em entrevista, Passaglia afirmou que havia entusiasmo e a participação da

comunidade acadêmica tornava o “ambiente engajado com a vida cultural da

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cidade”. (ARAÚJO, N.; JABOUR, W. 2012, p.105). O segundo momento foi a

exposição fotográfica organizada em agosto de 1980 pela Pró-reitoria de Assuntos

Comunitários da UFJF. Com o tema “Juiz de Fora: Ontem”, foram expostas diversas

fotografias do italiano Sabino Brescia, registros das primeiras décadas do século XX

e que encantaram a comunidade. A repercussão desses eventos foi positiva e levou

o prefeito Mello Reis a não medir esforços para trazer o casal Passaglia para

compor o Instituto de Planejamento.

No princípio da década de 1980, a artista Nívea Bracher e a já formada

equipe do equipe do IPPLAN, composta por Maria Inês e Luiz Alberto Passaglia,

José Carlos Coutinho, Jorge Arbach e o representante da Funalfa, Carlos Henrique

Saldanha e Lopes, iniciaram o Pré-Inventário Arquitetônico, vislumbrado ainda na

década anterior. Embora não houvesse descrição acerca da metodologia que

norteou as escolhas, Passaglia afirmou que este trabalho teve como princípio a

composição de uma espécie de “Plano de Atuação” para os passos do setor. Deste

modo foram cadastradas 550 edificações. No entanto, elas não deveriam ser

tomadas como objeto a tombamento, mas como “um instrumento de pesquisa, tendo

em vista o grande hiato existente ao nível de conhecimento de nossa própria

realidade.” (AZEVEDO, N; JR.JABOUR, W., 2012,p. 107)

Como parte deste pioneirismo e consequência do trabalho que vinha sendo

realizado pelo IPPLAN, foi promulgada a primeira legislação municipal de proteção,

a Lei 6.108 de 13 de janeiro de 1982, que cria a Comissão Permanente Técnico-

Cultural – CPTC. Ainda no ano de 1982, Luiz Alberto Passaglia publicou obra

denominada A Preservação do Patrimônio Histórico de Juiz de Fora: medidas

iniciais. Nela, o arquiteto mostrou-se preocupado com as demolições por esta

representarem perda de “referenciais vinculados à formação sócio cultural do

município. Em particular, áreas que tiveram ocupação consolidada no primeiro

quartel do século (...).”(PASSAGLIA, 1982,p. 09). A obra de referência para o estudo

do patrimônio cultural, fruto do esforço de intelectuais, artistas, arquitetos,

historiadores e sociedade interessada, reivindicava uma legislação capaz de ofertar

segurança jurídica para a proteção de sítios históricos. Mais tarde, ao relembrar os

primeiros anos em prol da preservação em Juiz de Fora, Passaglia reafirmou que

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naquele momento, os esforços se concentraram nos bens edificados. (AZEVEDO;

JABOUR, 2012, p.104)

Em entrevista a Fabiana Almeida, o jornalista Jorge Sanglard afirmou que o

município passava por intensa fragmentação de sua memória na década de 1980,

pois “(...) as modificações urbana sofridas nas duas décadas anteriores, com a

abertura de avenidas e as construções de edifícios, aquela cidade antes

caracterizada como operária, pioneira e industrial havia desaparecido”. (ALMEIDA,

2015, p. 15). A partir da atuação do CPTC foram abertos em 1982 e tombados em

janeiro de 1983, as primeiras edificações na cidade, a saber: Palácio Barbosa Lima

(Câmara Municipal), Cine-Theatro Central, Parque e o Museu Mariano Procópio,

Castelinho da Cemig e Usina Hidrelétrica de Marmelos Zero, Palacete Santa

Mafalda (Grupos Centrais/ E.E.Delfim Moreira), Paço Municipal (Repartições

Municipais), Prédio da antiga Cia. Têxtil Bernardo Mascarenhas.

Em 1985 a sociedade obteve nova conquista, a Lei 6.866/1985, que

estabelecia condição para que as demolições fossem efetivadas somente com

anuência da Comissão. Neste processo, algumas delas tiveram a demolição negada

e o tombamento avaliado pelo CPTC. A atuação da Comissão ampliou a sensação

de mal-estar entre os investidores. A Igreja, proprietária de diversos bens

representativos, voltou ao centro da polêmica ao solicitar demolição de uma

edificação característica à memória regional, o Palacete do Bispo (Palácio

Episcopal). A artista Nívea Bracher, atenta às questões relativas à preservação,

documentou esse processo com depoimentos, pinturas e até a guarda de objetos

oriundos de diversas demolições. Ruy Merheb em entrevista a essa artista, afirmou

que “a revelia da opinião popular em nome de uma mentira a que querem emprestar

o nome de progresso, constroem-se aberrações no lugar onde existia o que

naturalmente deveria permanecer”. (Apud ALMEIDA, p.142).

Para o arquiteto Luiz Alberto, a perda da “Casa do Bispo” foi uma das mais

sofridas pelo caráter de inflexibilidade da Cúria e a forma passional com que a

população participou dos debates, através do “Movimento de Tombamento e

Restauração de Palácio Episcopal”. A ideia de cidade alinhada ao progresso era

cada vez mais questionada e os movimentos em torno da preservação da memória

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buscavam difundir entre a população que uma cidade sem os referenciais de

memória é local de amnésia. A lastimável perda deste imóvel reforçou outros

movimentos como “O Central é Nosso”, que tombou em janeiro de 1983 os “Grupos

Centrais” e aquela série de edificações mencionadas.

A confluência de esforços em prol da salvaguarda dos bens culturais culminou

na pioneira Lei Municipal 7.282, de 25 de fevereiro de 1988. Nela, ficava instituído

aumento da representação do CPTC, passando de 7 para 11 componentes. Além

disso, definiu como instrumentos de salvaguarda e proteção o tombamento, a

declaração de interesse cultural e a definição do que seria área de proteção

ambiental com relevância sociocultural. Assim, a lei de 1988 substituiu a Lei 6.108

de 1982, mostrando-se mais completa ao ampliar as formas de proteção, definir as

obrigações da Comissão Permanente Técnico-Cultural. Além disso, benefícios

fiscais a proprietários como isenção de IPTU também foram redigidos, mas o texto

teve os artigos 27 e 28 vetados pelo prefeito Tarcísio Delgado. Na justificativa à

Câmara, Delgado afirmou ser razão do veto, emendas do Legislativo a um projeto

oriundo do Executivo e que tais isenções acarretariam aumento das despesas

públicas.

Enquanto consequência positiva desta lei, promulgada antes da Constituição

Federal de 1988, criou-se em 1989, a Divisão de Patrimônio Cultural – DIPAC, no

âmbito do IPPLAN, tendo como função subsidiar a CPTC. O contexto político

nacional garantiu nova tônica ao prever no Artigo 216 da Constituição, definições

jurídicas acerca do patrimônio cultural brasileiro.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, (...) (Constituição Federal de 1988, consulta SENADO, 13 ago 2018).

A partir de então, a função social da propriedade passava a solidificar-se

enquanto política de Estado, tendo o Estatuto das Cidades (2001) o papel posterior

de consolidar a competência jurídica e da ação municipal sobre tombamento. Entre

os instrumentos jurídicos de salvaguarda, a Lei 12.040 de 1995, alterada

posteriormente pela Lei 13.803/2000, popularmente apelidada de Lei Robin Hood,

conferiu destaque ao estado de Minas Gerais. Através do Instituto Estadual do

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Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), a legislação é premiada pelo caráter

democrático de gestão dos recursos financeiros, cuja parcela do ICMS fica

destinada aos municípios empenhados em executar medidas para defesa de bens

culturais.

É necessário frisar que, se as décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por

movimentos de defesa a determinados bens, a década de 1990 merece destaque

pela atuação dos setores de patrimônio, consolidados com a Lei 7282/1988. O

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, aprovado em 2000,

deixou um legado fundamental a população, através das discussões em torno do

planejamento urbano em diversas frentes. No que tange o patrimônio cultural, a

realizar o Inventário do Patrimônio Cultural de Juiz de Fora. A fim de catalocar os

bens culturais existentes na cidade, foram reunidos milhares de edificações

consideradas de valor documental, além de 149 indicadas ao tombamento,

formalizados com o pedido do Diretor do IPPLAN, Jean Kamil em 1997.

Anteriormente, em 1983, primeiro ano de vigor da Lei 6108/1982, foram

tombadas 7 bens e 10 anos depois, 1993, o município contava com 21 bens

tombados, segundo levantamento do arquiteto Paulo Gawryszewski (2008). Após a

realização dos Inventários pela empresa Século 30, quando houve um boom de

processos em aberto, esse número teve um salto tímido, chegando num total de 32

bens protegidos por tombamento em 1998.

Em 1997, o volume de processos aberto repercutiu amplamente e gerou

reações adversas. O prefeito Tarcísio Delgado, ao ser questionado sobre o fato,

relatou que em 1997 eram 156 processos de tombamento em aberto. Temerosos da

desvalorização de seus imóveis, localizados em área nobre na cidade, diversos

proprietários de edificações “culturalmente relevantes” foram até seu gabinete

“querendo forçar a barra”. Em sua opinião, a disponibilização dos Inventários causou

um efeito inverso, levando a série de demolições e destruição rápida de alguns

bens. “Chamei o Jean Kamil e disse: Jean, vamos mandar brasa, abrir esses

processos senão esse pessoal vai acabar com isso rápido. Eu já estava começando

a receber pressão, (...). Depois, que abriram os processos, eu dizia: Meu amigo, vai

na Comissão.” (AZEVEDO;JABOUR, 2012, p.160)

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Apesar dos esforços em preservar imóveis em pontos de potencial ocupação

pela especulação imobiliária, nem todas as edificações eram consideradas de valor

histórico. Nesse processo, muitos prédios modernistas foram desaparecendo entre

as décadas de 1990 e 2000. O imóvel mais emblemático é o Colégio Magister,

localizado a Rua Braz Bernardino - centro, cujo belíssimo exemplar modernista

projetado por Artur Arcuri teve processo de tombamento votado e não aprovado pelo

Conselho de Patrimônio, sendo demolido em 2005. A opinião de Tarcísio Delgado

expressa uma valorização estética específica, pautada no distanciamento temporal e

na busca por referenciais de passado a partir de uma concepção pessoal. “Do

Magister eu não vejo muito o que devia ser tombado, (...) eu não via nenhum valor

cultural mais expressivo” (Idem, 2012, p. 162). De acordo com o político, os bens

que deveriam ter sido tombados eram a Casa do Bispo (Palácio Episcopal) e a

Capela do Stella.

Essas interpretações nos levam a uma questão delicada que são os critérios

de definição em face ao que se tem potencial de preservação. Para além das

definições internacionais e nacionais acerca dos sítios arqueológicos, naturais, bens

culturais materiais e imateriais passíveis de proteção, há de se notar que, a partir da

Lei Municipal 10.777/2004 e a definição dos órgãos representantes do Conselho

Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (COMPPAC), as atribuições do

Conselho e o papel social, político e institucional que este galgou, devem ser

destacados.

A partir da abertura dos processos supramencionados, das instruções feitas

pela DIPAC e que subsidiaram a decisão da Comissão (CPTC), além do interesse

político em formalizar os tombamentos com a publicação dos Decretos, até 2003, o

município reunia 127 bens tombados! Segundo o arquiteto Paulo, o ICMS Cultural,

ou Lei Robin Hood ajudou a definir e nortear a atuação da DIPAC. Ademais, com a

promulgação da lei municipal, o CPTC foi substituído pelo COMPPAC, a fim de

fomentar a paridade ao reunir treze conselheiros na proporção de cinco indicados

pelo prefeito, um vereador, além de seis representantes da sociedade civil, além do

presidente (Superintendente da Funalfa), formação esta altamente questionada.

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Ainda que a atuação do COMPPAC se dê em frentes diversas, a definição

legal deste como ambiente de discussão de políticas do patrimônio representava,

naquele momento, avanço grandioso para o município. Além disso, a Lei 10.777/04

resgata a compensação ao proprietário através da isenção do IPTU, vetada na Lei

7282/1988. De todo modo, foi a partir de então que a relação entre proprietários e

poder público começou a ser vislumbrada de modo mais estreito. E isso porque para

obter o benefício, passou a ser exigido do proprietário o bom estado do imóvel.

Assim, os técnicos da Divisão de Patrimônio realizam vistorias tanto para verificar a

condição do imóvel tombado de acordo com a isenção requerida, como para

fiscalizar se os proprietários seguem as legislações pertinentes a edificações

protegidas em adequação ao Decreto 8637/2005 que dispõe sobre engenhos

publicitários e toldos em imóveis tombados e seu entorno. Recentemente, o

município tem debatido formas de compensação financeira para manutenção de

bens tombados, tendo a Lei Complementar 065 de 2017 que dispõe sobre a

transferência do potencial construtivo de imóveis tombados, em fase de revisão final

do decreto, como estratégia adequada a realidade local, além do Plano Diretor

(PDDU) publicado em julho de 2018.

Ainda que a situação de salvaguarda no município não seja ideal e que o

poder público enfrente dificuldades para fiscalizar os 186 bens tombados,

entendemos que a participação social na valorização desses espaços e da memória

local tem aqui um ponto decisivo.

Considerações Finais

A relação entre a sociedade e poder público nem sempre é amistosa. O

desconhecimento em torno do significado dos instrumentos de preservação é uma

situação comum. A título de exemplo, temos o processo de tombamento 9.882/2015,

referente ao Conjunto Paisagístico Urbano do Bairro Poço Rico em Juiz de Fora –

MG. A robusta relação documental, reunida em três volumes, diz respeito a dezenas

de edificações remanescentes de um bairro tradicional da cidade, próximo ao centro

e composto por edificações de estilos variados. Pela complexidade da questão e o

número elevado de proprietários, somente em 2017 todos foram notificados, o que

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gerou muita repercussão na mídia e pouco debate sobre o caráter do processo e

suas implicações.

Entre os meses de novembro e dezembro de 2017, os dois maiores veículos

de comunicação de Juiz de Fora produziram matérias sobre o assunto. Entre os

questionamentos, a morosidade na informação aos proprietários sobre o processo

em curso, a falta de critério da Prefeitura ao classificar algumas propriedades como

relevantes culturalmente e permitir, ao mesmo tempo, a construção de um edifício

de 11 andares a poucos metros destes bens, além da insegurança na região.

O desconhecimento do que é o instrumento de tombamento gera conotação

negativa em torno da opinião pública. Adiciona-se os paradigmas da

desapropriação, a perda do valor venal do imóvel, a restrição de uso e a falta de

competência do município para legislar sobre de tombamento, enquanto principais

alegações e que só aumentam os tabus em torno da matéria.

A conservação dos bens culturais é outro aspecto muito questionado, uma

vez que não há Fundo de Patrimônio, ampliando a desconfiança ao poder público.

Para o professor e arquiteto Júlio Sampaio, os esforços em prol de subsídios que

pudessem suprir os altos custos da conservação deveriam ser mais efetivos. Neste

sentido, a Lei 95/2017 tem sido recebida de forma positiva pelos proprietários de

imóveis tombados, representantes da construção civil e entidades. Ademais,

consideramos fundamental registrar que após 29 anos de fundação da Divisão de

Patrimônio Cultural, permanece a ideia da educação patrimonial como chave ao

aprendizado e consciência de preservação.

Enfim, ao identificarmos um bem como relevante culturalmente àquela

comunidade, o caráter estético normalmente é elevado como sentido primordial a

dada escolha. Destarte, Leonardo Barsi Castriota nos chama atenção para o sentido

de “patrimonialidade” de um bem, que está relacionado “a todo um sistema de

valores e pessoas que o legitima como tal”. (CASTRIOTA, L. B, 2009, p.81). Logo, a

atuação do setor público em torno da preservação não deve se pautar na estética do

objeto, mas no valor em que a sociedade imprime sobre ele. Afinal, os objetos são a

expressão material e simbólica da identidade, da memória e do sentimento de

pertencimento da sociedade. “Dessa discussão fica claro que o ‘ser’ patrimônio não

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está no caráter iminente do objeto, mas sim em uma outra relação que passa

também pela pessoa, comunidade ou sociedade, portanto, pelo sujeito que lhe

confere tal grau.” (Idem, 2009, p.81).

REFERÊNCIAS

Periódicos:

<https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/moradores-do-bairro-poco-rico-manifestam-contra-tombamento-de-imoveis-em-juiz-de-fora.ghtml>

<https://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/12-11-2017/as-riquezas-e-o-fundo-do-poco.html>

<http://camarajf.mg.gov.br/noticias.php?cod=9291>

<https://www.pjf.mg.gov.br/e_atos/e_atos_vis.php?id=56489> Publicação da Notificação a proprietários e herdeiros de imóveis do Conjunto Paisagístico do bairro Poço Rico

Bibliográficas:

ALMEIDA, Fabiana Aparecida de. Narrativas preservacionistas na cidade: a trajetória da defesa do patrimônio de Juiz de Fora contada através das manifestações populares.Juiz de Fora:FUNALFA, 2015. ARAÚJO, Nilo de Lima; JR. JABOUR, Wilson Coury. Reflexões e Olhares: O Patrimônio Cultural de Juiz de Fora. Juiz de Fora: FUNALFA, 2012. CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume, Belo Horizonte: IEDS, 2009. ESTEVES, Albino. Álbum do Município de Juiz de Fora. Belo Horizonte: imprensa oficial, 1915. GAWRYSZEWSKI, Paulo. Cultura e Educação: Uma aliança para a preservação do patrimônio cultural em Juiz de Fora. Notas de pesquisa. Juiz de Fora: DIPAC/FUNALFA, 2008. GIROLETTI, Domingos. Industrialização de Juiz de Fora (1850 – 1930). Juiz de Fora: Ed. Da UFJF, 1988. GODOY, Victor Hugo. Habitação unifamiliar: memória, patrimônio e cidade. A região do Alto dos Passos em Juiz de Fora/MG. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído. Juiz de Fora: UFJF, 2015. GUIMARÃES, Elione Silva. Múltiplos Viveres de Afrodescendentes na Escravidão e no Pós-Emancipação. Família, Trabalho, Terra e Conflito (Juiz de Fora - MG, 1828-1928). Juiz de Fora. Funalfa Edições, 2006.