preto e branco
DESCRIPTION
"Preto e Branco" e um espelho poetico, amor trazido de todas as formas, ha seducao, traicao, orgasmo, nostalgia, alegria, fraternidade, promessas,...enfim, e o amor servido em poesia.TRANSCRIPT
Julho de
2014
Marcos André
Edição não revista
1
Copyright©2014 by Marcos André
Projecto gráfico e capa: Marcos André
Imagem: internet, autor.
http://deandremarcos.blogspot.ru
Deixo cristalizado o meu agradecimento à Leo Vieira e
Beni Chaúque, pelo carinho e apoio.
2
Sumário
3 Prefácio
4 Simplesmente
5 Preto e Branco
6 O diário perdido de Alma De Abreu (páginas dos
meus 14 anos)
7 O diário perdido de Alma De Abreu (Eternamente)
8 Narcótico
9 As coisas mais lindas
10 Açucena (parte 1)
11 Sonidos de cio
12 Memórias
13 Voltar
14 Cuida do seu amor
15 Este outono que chega
16 Vida
18 Um amigo
19 Minha Ex-amiga
21 A volta da fada
22 Rascunho de uma conversa inesquecível
24 Por tudo que eu vivi (Mãe)
26 Poeta por encomenda
3
Prefácio
Marcos André é um autor que nos apresenta uma
coletânea de poemas em "Preto e Branco",
explorando emoções de sua vida. Alguns
textos demonstram a visão do amor sob
diversas óticas. Alguns textos são uma ponte
para a construção de futuros romances. A
ideia faz a arte germinar e ramificar e esta
obra é uma boa semente.
Leitura recomendada para compositores e
romancistas, porque assim como este livro, a
arte pode ser identificada nas mais modestas
representações.
Leo Vieira
Escritor acadêmico
4
Simplesmente
Amor é um só:
Aberto como um sorriso,
Apertado como um nó.
Não existe “amor de verdade”,
Basta ser amor para ser
verdadeiro.
Tem que ser de mão beijada.
Vale nada se for por dó!
5
Preto e Branco
De frente ao espelho:
minha boca morna derrete um cubo de gelo,
escorre desejo insano que abandona território
em gotas brandas,
ar morno que respiro,
alveja o meu reflexo em neblina densa e
faz véu a “pouca vergonha”, por um instante.
Olhos azuis cintilantes, chegam, a despir o
meu preconceito e me vejo de novo – preto e
branco.
Uma boca que me sorri, me beija de trás,
arma comigo um mosaico, “zebra” perfeita –
preto e branco.
6
O diário perdido de Alma
De Abreu (páginas dos
meus 14 anos)
A saudade bate
Vertiginosa,
A querer amar-te
Prosa,
A obrar-te
Ousa,
A insinuar-te
Coisa
Que se eu der-te,
Ai nossa
Vai perpetuar-te
Em mim,
E poxa,
Fazer de mim a sua moça.
Quer?
7
O diário perdido de Alma
De Abreu (Eternamente)
Quero amar-te eternamente,
Pensar em ti,
Como te imagino em festins bacanais
De sexo fogoso e tudo mais.
Eu quero esgotar os teus gemidos
No roçar dos nossos sexos,
E ter teu corpo esculpido em minhas mãos
Durante o desenfreado orgasmo do acto.
Eu quero beber inesgotavelmente o teu beijo
Como um miserável que padece de sede.
Eu quero amar-te por enquanto…
Que o “enquanto” dure para sempre,
Para amar-te eternamente.
8
Narcótico
Amor servido em uma chávena de café; raios
de sol que bronzeiam os pãezinhos de leite
e, trinca de sorriso gaiato em folha fresca
de alface…
Não haveram mais!
Sinto a congelarem as minhas falanges e a
letargia a matar-me, algoz;
O vazio que preenche a sala a calar-me a
voz;
Com que se pareceria então, um diário de
“mim” sem “nós”?
É meu juízo que cai agora, de joelhos, neste
augusto templo de Astrakhan.
Não me dei conta mas estou sorrindo. Será
possível ser FELIZ e TRISTE ao mesmo tempo?
Sei lá! Mas sei…
Que as memórias mais loucas da minha vida,
pertencerão a esta madrugada!
E minha júria, agora, sem lágrimas
“Nesta noite sozinho não irei dormir!”.
9
As coisas mais lindas
De todas as coisas preciosas e inesquecíveis,
estas são as que guardo intactas:
Vênus e Mercúrio vistos da varanda nossa,
Beijar sorrindo, vendo o céu abrir-se em teu
abraço,
Palavra complacente que predica-me e renova a
minha alma meteorizada pelo tempo.
Sou grata a ti por tudo isso!
10
Açucena (parte 1)
Amarílis, flor-da-imperatriz, açucena,
és quem me traz a lua bifacetada
metade de prata e meia-lua de mel,
És o esplendor infindo em flor arquitetada.
Deleito-me ao canto vespertino do rouxinol
que pousa sobre a açucena adormecida,
de pétalas ao sol
caindo de frente a tarde aturdida,
tentando matar a charade que diz “tu és a minha
sina”.
Bela flor,
pétala de brisa metálica
que me liberta da masmorra
e me traz a ribalta dos olhares de
azar;
incenso da brasa incandescente
perfume do ciúme, perfume de “mim”,
dona do segredo tépido estampado na
gola branca de cetim.
11
Sonidos de cio
Sonidos de cio oi o e vejo len ois em brasa
quando as tuas mãos passeiam ociosamente sobre o meu
organismo,
e o meu organismo devaneia a te procurar vadio.
Teu jeito impetuoso de fazer,
faz meu cora ão vergar
e dizer coisas que me comprometem,
e gritar um “não”
embalado de desejo
que prende no tecto da boca o meu “sim”.
Ohh Preta de lábios carmin,
u quero só para mim a tua fragr ncia,
néctar divino que exala do teu corpo moldado de
rubim.
Leva-me!...
Mas não para muito longe do meu habitat natural.
a a de mim sua metrópole,
Só não me deixe alvejar pelo seu olhar radiante
que pode por ventura até matar a minha visão.
Para qu mais palavras se o sil ncio já as contém em
demasia?
12
Memórias
Tento fechar os olhos para me abster dos
raios de sol e não perceber se é noite ou
manhã. Na verdade estou tentando parar o “meu
tempo” para fugir do atrevimento da noite e
da rebeldia da manhã que me trazem fortes
memórias de um passado revestido de
contemporaneidade (um passado recente).
Ora, tudo não passa de fútil tentativa, pois
tudo que eu busco evitar está pra além dos
raios de sol, está dentro, está comigo, e
mesmo que eu me feche ao mundo, remanescerá
no tempo, mesmo que o tempo cronológico pare!
Amor eterno!
13
Voltar
Era a única coisa que sobrava da nossa
sensatez – ouvir as vozes que se reputavam
sábias, dar meia volta, conformar-se, ir
embora ou esperar.
Eramos apenas dois inocentes entregues aos
olhares de azar. Conscientes de que nenhuma
escolha certa é correctamente certa,
atrevemo- nos a este reencontro, hoje!
Num demorado abraço satisfezemos todo nosso
egoísmo, de quem ama e reavivamos todas as
promessas “nunca te vou deixar!”, que aqui
ficam gravadas.
14
Cuida do seu amor
Tinha tudo para ser amor, mas foi tanto,
tanto foi que fez com que a nossa casa
deixasse de ser o meu lugar preferido.
Tanto apreço e cuidado fizeram-me andar a
solta, por aí a entregar-me às intençoes mais
azaradas e mendigar carinho e compreensão nos
braços meretrícios de outra mulher, que me
deu de aberto tudo que ela me negara –
cumplicidade, confiança, liberdade e um pouco
de paz.
De entre inúmeras tentativas, com “coito
desfeito” eu tentara dizer que queria ser
amado menos mas infelismente não fui a tempo,
senão a tempo de dizer “sinto muito!”.
15
Este outono que chega
Incenso de limão maduro, rodelas de nuvens
púrpuras, esboçam este outono que chega.
Ficam para trás as lembranças de todas bocas
que eu beijei: Zubaida, Lunara, Egnesse,
Laynize, Alma De Abreu, Lara, Suzy, Sara -
memórias de lábios tépidos; mas foi para uma
e única que eu me declarei sem perjúrio- Ilda
(minha mãe).
Cheiro de chá, olhos pouco reluzentes e os
passáros que renunciam os amores do verão
mais recente e partem, fazem-me sentir que do
batuque sobra somente pólvora e morre aqui
toda a dança despida!
É outono!
16
Vida
Que vida é essa que se mascara,
Se manifesta, junta-nos e nos separa,
Nos consola, nos compromete e nos cala,
E nos derrota no tempo que dispara!
Mas que vida?!
Que se esboça em traços obscuros como a
verdade;
Clareia o inóspito e o mais ínfimo existir da
biodiversidade.
17
Vida de diferenças que dá rumo aos viventes
da vida sem norte,
Para fazer do minúsculo e desprezível, o elo
mais forte.
É a biodiversidade que se expressa em prismas
focados de luz;
Que justifica a diferença na verdade
individual e em todos caminhos que se
entrelaçam na cruz.
Que vida é essa que desmascara a tristeza da
vida segregada pelo censo comum;
Vida de egoísmo, altruísmo, de “nada por
alguém” e de “todos por um”.
Só a vontade de viver, sustenta esta busca
desenfreada,
E em sua expressão transversal, faz do negro,
pardo e caucasiano, iguais;
E nesta arbitrariedade, quase
perfeita, completam-se os fragmentos
isolados de vidas racionais.
Todos nós somos arguidos dessa vida,
camuflada de melanina;
Seres dependentes de luz que provem de fonte
única.
Então, o que te faz crer que somos
diferentes?
18
Um amigo
Quando a tua escolha te prender e teu pensamento vagar,
O barquinho de papel que volta, vazio, sem ele,
Tirar-te o pensamento do lugar,
Podes crer que não há amor nessa escolha que te está a julgar,
Porque jamais será amor, um amor que na fria alvorada não te pode abraçar.
Espere por um amigo que te leve a embarcar na noite promissora,
Que traga o cais para atracar o teu sono na noite do dia que se foi embora,
E que inspire verdade para as palavras que te enganaram
Quando já não mais acreditares que a noite
que te envolve é mãe dos dias que passaram.
19
Minha Ex-amiga
Com lágrimas fazendo hastes longas em seu olhar,
ela confessou-me “Tudo que eu precisava era alguém
que nunca me deixaria ir embora…”
Olhei para ela como se eu decalcasse o seu rosto
e tomasse as suas dores. Não chorei!
Engoli tudo que eu podia dizer naquele momento,
porque todo mundo assim costuma o dizer, e abracei-a
numa paragem infinita, no silêncio mais tenebroso das
nossas vidas. Afinal de contas, era o começo de um
novo destino.
Sem nos apercebermos, nos amamos descaramente,
sem compromisso e sem freio.
Eu bebi uns tantos e inúmeros segmentos de
lágrimas traçados em seu rosto, e foi que me
engasguei, depois de uma eternidade “solta” entre os
corpos que desenfreadamente se aproximavam.
20
Eu nunca, mas nunca a deixei ir embora, e ela se
deixou ficar na minha vida, não por muito tempo, mas
por um “sempre” muito longo, que perdura até hoje –
até AGORA!
21
A volta da fada
Eu estava com o olhar atirado ao abismo, quando a vi
surgir dentre ventos que se petrificavam ao longo da
alameda, dardejados pelo seu gingar.
Senti o meu olhar a romper monções, tentando apalpar
o horizonte. Na verdade eu só queria ver!
Queria ver cair sobre a terra minha, o seu véu de
"capulana"(*), e erguer todos os meus “santos” e,
rasgar os meus lençois de seda.
Sim, eu notei o seu olhar horizontal e profundo a
esquivar a penumbra do meu beijo deliberado e toda a
sensualidade que esta pele minha ostenta.
Era o amor de volta, encarnado em mulher!
Senti ela a rasgar a minha rebeldia e penetrar a
minha insensibilidade, a carne a extremecer e, uma
voz que até agora brada, me fez voltar a acreditar…
E a amei como se a vida não me desse outra opção.
(*) Capulana (origem tsonga) é o nome que se dá, em Moçambique, a um pano que, tradicionalmente, é usado pelas mulheres para cingir o corpo, fazendo as vezes de saia, podendo ainda cobrir o tronco e a cabeça.
22
Rascunho de uma conversa
inesquecível
Está uma noite daquelas aborrecedoras, em que
tenho muitas tarefas da escola mas não sei por onde
começar. Me fiz a uma rede social, e a minha página
me dá a indicação de alguém que gosta de uma foto
minha.
la estava ainda “Online”. u disse a ela “o céu
e o mar vivem em seu olhar, e muitos arco-íris voam
sobre si”. oi o come o de uma metade de conversa.
Perguntou-me ela - “quem és tu?” Respondi -
“Ninguém! Mas se me amares posso me tornar alguém.” E
de seguida ela me mandou um daqueles “smiles”
irônicos, que dão a impressão de um “ha-ha-ha-ha”,
mas no fundo eu senti que ela sorriu, pelo tempo que
durou para mandar o smile.
“Voc é poeta?” – perguntou ela. Eu respondi no
meu mais simplório jeito de ser “todos somos poetas,
quando o cora ão tem algo para dizer...” e me calei
no fingimento mais amargo, de quem não tem muito a
comentar.
De seguida ela me escreveu “aprazível é o seu
jeito...alma aberta, chuveiro ao ar livre, em dia de
sol rubro. Tão raro! Você é uma raridade erguida
entre os homens! Eu respeito a sua honestidade e a
profundidade de suas ideias.”
Esses são os dizeres que mais me amoleceram a
alma na noite de hoje, dizeres perante os quais não
se pode ficar sem dizer nada.
E agora?!
23
Despedi-me de emergência porque o compromisso de
estudar para a prova me esperava, e deveras prometi
voltar amanhã.
Tinha realmente que dizer algo ainda desmedido
“Adeusinho, minha semente de cacana(1 amadurecida,
casca de canho(2 amarelo, incenso de batata
alaranjada e limão doce.
la sorriu em um “smile” bem prolongado e
escreveu “tu és rom ntico! Ao seu jeito maluco, mas
rom ntico!”
E eu fui “Offline”, ansioso para voltar com
brevidade a este pedaço de prosa!
(1 - termo moçambicano
usado para designar a planta,
Momordica balsamina,
(2 - fruto da planta
Sclerocarya birrea (ou caffra),
ocanho (do ronga nkanye, segundo
[PM]) - moçambicanismo. É deste
fruto, conhecido nos países
vizinhos como marula, que se faz
o conhecido licor Amarula.
24
Por tudo que eu vivi
(Mãe)
Mãe, receba este retrato que eu fiz de si. É
seu!
Desenhei-lhe com toda a irracionalidade, pintei-lhe
com as cores da humildade, do amor e do segredo,
porque agora já sei que nenhum ser racional
arriscaria como você fez por mim.
A humildade deste moço, que até hoje não passa de um
“menino do mato”, é sua!
É de si, esta minha forma desmedida de amar, quando
todas as noites, com desespero, esperavamos pelo
nosso pai, seu amor, para nos reunirmos ao redor da
mesa pouco farta.
Mãe, eu guardei comigo este segredo, mas é chegado o
momento e revelo: eu sei quantas vezes você se
segurou para não chorar a nossa frente, quantas vezes
você chorou e rogou, por nós, a todos os seus deuzes.
Você lembra mãe, quando a vida me desenganara, e a
minha merecida punição me deitava ao relento, a brisa
pouco aprazível da madrugada muda e tenebrosa da
25
varanda nossa, e aí, tipo um conto eu acordava morno
e próspero em sua cama?
Mãe, este meu sorrir belo é seu! É seu este meu
gingar moço – aprendi de si, quando passavamos as
noites em frente ao espelho, em seu quarto de dormir,
tentando costurar as rugas com alguma conversa longa,
e refrescar esse sorriso seu (o mais doce que já
experimentei nessa vida), para que eu e minha maninha
Egnesse pudéssemos acreditar que nascemos para ser
felizes e o mundo “é para nós”.
Mãe, é sua essa liberdade minha, essa estupidez minha
de dizer as coisas – aprendi todas as vezes que, com
frases pouco elaboradas, você nos falava do seu
magnánimo amor por nós, no silêncio mais sublime que
já vivi.
Peço perdão por não ser o filho perfeito que você
sonhou para a sociedade dos Homens – esta sociedade
onde quanto mais normal se é, mais melhor se é
também.
Eu não fui a tempo de aprender isso – não fui a tempo
de ser normal! Eu não posso ser normal!
Eu não sou normal mas acatei alguns dos seus
ensinamentos – “há que ser livre e feliz!”
Então, que venha o amanhã!
Te amo Ilda Samissone, minha mãe!
26
Poeta por encomenda
Sim, algumas vezes escrevi porque quis,
mas na maior parte delas foi por falta de
opção!
Atiça essa coisa,
e me faz prisioneiro das minhas escolhas.
São eternas sim,
mas não durarão até a idade de me fazer um
"poeta por encomenda".
Recuso-me!
27
Quem sou?
Sou da terra onde as límpidas e tépidas águas do
índico se estendem aos pés descalços dos sonhadores
ambulantes. Sou de Moçambique, lá onde os arco-íris
voam e se penduram aos olhares recatados da gente.
Venho de uma família humilde, filho de pai militar e
mãe doméstica.
Prematuramente, vendi a minha alma para esta "coisa"
de poesia, e me comprometi a levar poemas e
"estorietas" de amor para corações desolados. A vida,
o amor, atiçam o meu escrever. Enfim, sou um
indivíduo desprovido de descriçao acabada; dono de
uma personalidade inconstante e carácter forjado na
inconvencionalidade; diga-se, um vento
fantasmagoricamente petrificado no silêncio da
alameda, dardejado por um olhar que tudo tacteia
porém, tudo não vê mas tudo sente, de todas maneiras,
fiel e lucidamente, trazidos em apenas dois
significados - a crítica e o amor - esculpidos com
engenho do tamanho da desmedida liberdade inventada;
assim, inconclusivamente se definem "O Agrimensor",
"Huggos Delarua" (pseudónimos de Marcos André).