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OBRA DE RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES
Quinzenário - Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico - Envoi fermé eutorisé par les PTT portugals - Autortzação N.• 190 OE 129495 RCN
4 de Outubro de 2003 • Ano LX • N. • 1554 Preço: € 0,30 (IVA incluldo)
Propriedade da OBRA DA RUA ou OBRA DO PADRE AMÉRICO
Fundador: Padre Amárico • Director: Padre Acflio • Chefe de Redacção: Júlio Mendes C. P. N.• 7913 Redacção, Administração, Oficinas Grâlices: Casa do Ga1eto - 4560-373 Paço de Sousa Tei. 255752285 ·Fax 255753799 - Conl 500788898 - Reg. O. G. C. S. 100398 - Depósito legal 1239
] ENCONTROS EM LISBOA
Temos um proiecto QUANDO nos dirigimos a certos
locais como Tribunais de Família e Menores, Instituto de Reinserção Social, Centros Regionais
de Segurança Social, Comissões de Protecção de Crianças e Jovens, ficamos com os ouvidos cheios da palavra projecto: elaborar o projecto de vida, reavaliar o projecto de vida, reorientar o projecto de vida, etc ... Fica-me quase sempre a sensação de ouvir grandes palavras vazias de conteúdo. É quase a mesma sensação que tenho quando me perguntam - «quais os projectos que tem para os seus rapazes? ... »
vida, as regras que podem orientar a vida a um bom porto, a prática do bem e o evitar o mal. É a estabi lidade necessária para um sólido enraizamento social. É o tempo preciso para que as diferentes etapas se vençam, sem pressas. É o encorajamento no sonho de cada um. É o corrigir percursos que se revelaram não produtivos. É sempre o carinho e a expectativa de que tudo dê certo. É também a paciência para ultrapassar as crises de identidade e crescimento.
Talvez tudo não passe de uma questão de linguagem ou linguagens. Com efeito, a Casa do Gaiato não é um centro de acolhimento provisório, um mero sítio de passagem, um local de entretenimento, colónia de férias ou parecido ... Procuramos ser uma Casa de família.
Há dias, num co nsultó ri o médi co, estava uma senhora com uma criança ao colo. Havia outras pessoas. Havia conversa. Às tantas ouvi a senhora da criança a dizer, com um olhar no além, cheio de esperança e convicção: «Deus me ajude a criá-lo e a criá-lo bem». Fiquei com esta frase no ouvido porque ela revela todo o mistério criador de um homem. Para que este mi stério aconteça, não podemos andar com projectozinhos e constantemente a desestabilizar a criança ou o jovem que cresce. Precisamos de jogar todas as nossas energias neste objectivo que é criar e criar bem. Para isso precisamos de tempo, de paz, de estabilidade ...
Sendo assim, temos um projecto: fazer de cada rapaz um homem. Para tal nos organizamos e vivemos, quer na procura da alimentação cuidada, saúde, habitabilidade, estudos, recriação, inserção no meio, profissionalização e, um dia, a autonomja própria de um ser adulto. Entretanto, são também os valores capazes de dar sentido à Continua na página 3
Património dos Pobres FOI particularmente
movimentado o mês para o Patri
món io dos Pobres. Dei o telhado àque la doente abandonada do marido que criou sozinha os três filhos.
Mora para os lados de Lousada e a sua vivenda integra-se num conjunto habit acio nal de algu m nível urbanístico.
Construiu, onde a mãe, lhe deu o terreno.
Tinha-me comprometido com o telhado. Foram 2388 euros. Ela trouxe a factura e passei o cheque, endossado ao fornecedor.
Prometi-lhe ir ver a casa depois de pronta. Espero que sim.
Torno sempre, bem claro, que es tas ajudas vêm de Deus através dos Seus fi lhos mais amigos. São eles que, por uma fidelidade mais radical, se privam, tantas vezes, de outros bens e repartem connosco não as sobras,
mas, quase sempre, o que gastariam legitimamente. São o óbo lo da viúva, o quinhão da pequena reforma , o primeiro o rdenado, uma viagem ou também umas férias a que, por amor, se renunciou, etc.
Veio ter co mi go um casal, ainda novo, pedir ajuda para pôr uma placa na sua casa.
Lá me contaram o que tinham e o que sonhavam.
Ela vestia pobre e decentemente, e le trazia um a camisola interior de manga à cava, por cima da pele tisnada, exalando um cheiro a suor, muito activo.
-Vou ver- disse-lhes. Sinto-me obrigado a
fazê-lo. Não dou nada sem saber
o que faço. Como ainda me oriento
muito mal, aqui no Norte, vou com eles. E fui logo.
Os Pobres são os nossos senhores, merecem, por isso, a primazia ainda que
os rapazes ocupem lugar c imeiro.
Deslocavam-se ambos numa motorizada. Ela veio comigo no carro para me e nsinar o caminho, enquanto ele seguiu atrás de nós.
- É um terreno que nos deram - conversava a minha guia.
- O meu marido foi levantando as paredes com mecan (blocos de cimento), mas vivemos muito mal. É o frio, a chuva e o cal01:
Curvas e mais curvas a subir a serra por povoados e eucaliptais, percorremos duas dezenas de quilómetros até chegarmos ao local.
Um sítio lindo, vistas rasgadas e coloridas apanhando uma série de povoações, com o casario implantado nas encostas verdes tão características do Vale do Sousa.
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Moçambique - Três lindos sorrisos dos nossos «Batatinhas ...
MDÇAMBIGUE
Primeiras Damas da Comunidade Africana ACONTECEU o que nunca nos
poderia passar pela ideia. Fomos convidados a acolher a visita das
Primeiras Damas da Comunidade Africana e seus acompanhantes. O convite veio em jeito de programa pré estabelecido com horário de chegada, recepção à maneira africana, o que devia ser visitado, uma sessão de cultura moçambicana e, finalmente, o a lmoço. O almoço e outras despesas inerentes, seriam pagas pelo Gabinete da Primeira Dama de Moçambique.
Apesar do embaraço que causava na nossa vida rotineira, aceitámos o desafio e a oportunidade, sobremaneira honrosa, de dar a conhecer a tão variadas como importantes personagens que somos verdadeiramente uma Casa de família para os sem família.
Para tristeza nossa, havia de coincidir com a falta de saúde da Irmã Quitéria, a verdadeira Mãe desta grande famí li a. Ainda teve tempo de presidir à organização de tudo, mas era urgente retirar-se à procura de remédio para o mal que há mais de mês e meio se avolumava. O seu lugar foi desempenhado pela D. Cármen, há pouco chegada de Lisboa, e Blanca que veio da c idade morar connosco.
Logo os rapazes, apoiados pelo Grupo Milorho, começaram os ensaios de danças tradicionais com coreografia e batuques a prece ito. As a lunas externas fi zeram grupo para a Marrabenta, Xigubo fi cou a cargo de um grupo de médios. Muthini com os mais velhos. Ngalha foi apresen-
tado por um g rupo de crianças e suas mães, de Ndividuane. Duas danças ainda com Milorho, uma delas para encerramento.
Só mesmo na véspera soubemos que v iriam ao todo vi nte e três primeiras Damas. Era importante, pois, sendo as que se pretendia honrar, teriam de ter uma mesa destacada no refeitório da Casa. Havia no entanto acompanhantes, como esposas de Primeiros Ministros, Senhoras e Ministros de vários países. Mais duzentas e quarenta personalidades. Mas isso só viemos a saber no próprio dia, às dez da manhã, por uma senhora do Protocolo do Estado. Que deste, da Segurança, da Casa Militar, da Polícia do Governo Provincial e do Distrito de Boane a quem competia assegurar a tranquilidade de quem andava por terra estranha, nem soubemos quantos. Creio que todos estes ficaram de fora do refeitório que nesse dia foi acanhado. Claro que não abdicámos de os nossos mais pequeninos estarem nas suas próprias mesas, por isso elas são mais baixas. Até para saberem que são eles os donos da Casa e sabem comer como toda a gente. «Nos quoque gens sumus ... »
Na hora aprazada a caravana fez uma breve paragem no Centro de Apoio da Massaca, onde todos - crianças, monitoras, pessoal de saúde, líderes comunitárias com seus grupos, associações de mães -saudaram as ilustres visitantes. À chegada tí'nossa Aldeia havia duas alas de mamanas
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2/ O GAIATO
Conferência
ae PayO ae ~ousa COMEMORAÇÕES- Em
Editorial de Escalada, órgão do Conselho Central do Porto da Sociedade de S. Vicente de Paulo, pela mão do Dr. António José da Silva, ele nos diz que «este é um ano de grandes comemorações para todos os vicentinos, a nível internacional e nacional. Celebra-se os 190 anos do nascimento de Frederico Ozanam, os 170 anos da fundação da Sociedade de S. Vicente de Paulo e os !50 anos da morte do seu Fundador.
lndependell!emente das celebrações organizadas pelo Conselho Nacional, dos Conselhos Centrais do Porto, vêm insistindo, repetidamente, desde o princípio do ano, na necessidade de as Conferências avivarem a memória dos seus membros, e dos cristãos da sua comunidade em geral, para a figura do beato Frederico Ozanam e para a obra por ele criada, da qual somos herdeiros: a Sociedade de S. Vicente de Paulo.
Mesmo que dentro da própria Igreja, estas comemorações não venham a ter expressão que se justificaria, elas deveriam constituir um bom motivo para os vicentinos, no interior das Conferências, renovarem e aprofundarem a alegria, a honra e a responsabilidade de integrar um movimento que antecipou, em mais de !50 anos, algumas conclusões do 11 Concílio Vaticano sobre o papel dos leigos na Igreja, e sobre a resposta da Igreja ao problema dos mais pobres e desprotegidos. Frederico Ozanam foi um precursor e as Conferências Vicentinas constituíram a grande reacção dos cristãos leigos aos desafios lançados pela pobreza e pela miséria, decorrentes da desumanidade da organização económica, no século XIX.
Esta resposta centra-se fundamentalmente no exercício da caridade. mas numa caridade organizada, que se afirma na visita ao Pobre e na experiência concreta e partilhada da sua vida. Em !50 anos, o mtmdo evoluiu, as leis de carâcter social apetfeiçoaram-se. a reivindicação da justiça social tomou-se património da moral cristã, mas tudo isso é inseparável do espírito inovador de Frederico Ozanam e da Soci'edade de S. Vicente de Paulo.
Deve ser, pois, com alegria e orgulho responsável que os vicen tinos devem viver a s comemorações deste mw. Nüo as dêixemos passar ao lado das nossas Conferências».
Tiragem média d'O GAIATO, por edição,
no mês de Setembro, 63.350 exemplares.
MANUAIS ESCOLARES - Nes te momento somos abordados pelos mais pobres, sem hi pótese de comprarem os manuais escolares dos filhos.
Os mais carenciados sentem, agora, mais dificuldades, atendendo à situação económica e social do País ...
Por um órgão da Imprensa Regional de terras minhotas viemos a saber que o presidente de uma edi lidade «refere que a gratuidade dos manuais escolares vai de encontro da Lei de Bases do Sistema Educativo que consagra o princípio de UIIW educaçcio básica universal e gratuita para todos, medida esta que COIItribui para a democratizaçcio do acesso das crianças a uma educar;cio de qualidade e equitativa». O ed il julgn que. nssim, cumprindo a Câmara o seu dever, «todas as crianças iniciem o processo educat ivo no mesmo pata11wr de igualdade, ilulependentemente da condir;cio pessoal. económica e social de cada llltP> - defende o nutarca.
Vale bem a penn trnzcr cstn breve nota n'O GAIATO, especialmente para conhecimento dos professores do Ensino Básico.
PARTILHA - Lourdcs. de Cacém. presente com 25 euros: «Como de COSII/1/Ie. 1110is 11111
grâozinho IJara os mais Pobres. Confirmo, pedindo muita saúde para continuarem com a vossa acr;cio. Bem-haja».
Mais 150 euros, «llligalhinha para aliviarem aqueles que sof rem .. . », disse a assinante Maria de Jesus. de S. Mamede de Infesta, E acresccnl::l: «Per;o que rezem uma Avé Maria por nós, para que o meu marido encontre emprego». Aí temos uma necessidade tão im portante para esta famílin nmiga!
O assinnnte 17302, de Esposende, com 150 euros, «para ajudarem os mais necessitados e ncio quero recibo», disse.
Do Porto. 50 euros, do assinante 13862, que «Se destinam aos vossos Pobres»
A nossa gratidão. Júlio Mendes
I• PA~O DE SOUSA REGRESSO ÀS AULAS
- Hoj e é o primeiro dia de aulas, os rapnzcs estão contentes. Também vão pnra a escola, lá de fora. Eles ainda es tão mais conte ntes porque vão conhecer novos amigos e amigas. Aqui, na Casa do Gaiato. agora, só funciona o 6.0 nno.
ENSAIOS - Es tão cadn vez melhor, peln mão do Zé Antón io. Ele pensou bem o que nos ensinou: danças, peças de teatro e, até, canções de Natnl.
VENDA AVULSA - Entrarnm cinco vendedores novos c saíram outros tantos. Os que saíram : Erickson, Pedro, Ismae l , Marco Paulo e L uís
<<Carocha». Os que entraram: André, Nelson, Manuel, Carlos e Sérgio. A gente espera que os novos vendedores sejam bons e educados.
Luís («Carocha>>)
DESPORTO- 6 de Setembro, primeiro dia de futebol da época 2003/2004. Neste primeiro treino, como todos os anos ncontecc, não fa ltaram carns novas. No que toca aos Iniciados e Infantis, entre «velhos» e novos, apareceram 44 atletas! Nós não obrigamos ninguém n vi r aos treinos, mas fazemos o convite, gostamos que eles aceitem e apareçam com o intuito de ficar. Quem lucm? Todos os intervenientes c não só! Não foi fácil arranjar chuteiras para toda a gente. mas, graças a Deus, ninguém vai jogar rutcbol descalço!. ..
Nos Seniores e com a passagem de alguns dos In iciados para este cscnlão, assim como outros que a época passada tinham desistido ( ... ), tnmbém foi bnstnntc s igni fi cativo o número de presenças. É bom s innl. Oxalá seja pnra cotllinunr. pois. com o Desporto a funcionnr cm pleno c sem ntropelos, estou convencido que tudo rolará melhor, cm muitos aspectos. embora. por vezes, possa parecer que não! Com os rins-de-semana ocupados com o Despor to, é uma cu forin (positi vn). Notn-sc alegria, bon disposição. é saud:ívcl c verifica-se a << tal trnnquilicladc de espírito» bem pntentc no rosto de cndn mpnz.
Os Iniciados c Infantis. pam já não têm nenhum jogo marcndo, pois, cm primeiro lugar, queremos pôr os pontos nos <<Í is>> e fazer determinado trabalho de preparação, incutindo na cabeça de cada um que o Desporto, cá em Casa. não pode ter como único objectivo jogar futebol!. .. Se é verdade que a união faz a força, então, primeiro temos que ser unidos, porque para a lém da força f ísica, te mos que ser fortes mentalmente para podermos conviver e se possível vencer dentro das quatro linhas, mas sempre com a convi cção de que para além do resultado, o mais importante é conviver uns com os outros. Não é com desculpas «esfarrapadas» que se consegue atingir os objectivos a que nos propusemos. Nem é discutindo uns com os outros, que se consegue a união dentro e fora do campo.
Os Seniores realizaram o seu pr ime i r o d esafio da é poca, lendo perdido por O-I com o F. C. da Cape la. Com um treino npcnas, resolveram lançar-se para as <<garras>> elo adversário. daí não se poder considerar um resultado mau.
<< Quem tem amigos não morre nn cadeia>> - diz o velho ditado. Tínhamos várias bolas de futebol em mau estaelo, g raças à boa-vontade da D. Olga, proprietária da Basebol Sport, em Lousada, assinante do nosso Jornal e muito nossa amiga, não esteve com meias medidas: não acei tou um cêntimo pelo arranjo dns mesmas. O nosso bcm-haja.
Alberto (<<Resende>>)
Setúbal - A piscina foi arranjada.
--SETlrBALl ............................................................................................ !
SILAGEM- Um grupo de rapazes está n terminar a ceifa do milho. Depois de ser triturado pela máquina, é transportado pelo reboque para os si los. Dois ou três rapazes espalham neles a s ilagem e juntam sal. Em seguida, o tractor calca-a várias vezes e, no final, é tapada com um plástico.
RAPAZ NOVO- Temos um novo cm nossa Casn. Chnma-sc Pedro Miguel c tem catorze anos. Vai repet ir o 5. 0
ano. Gosta muito de jogar a bola. Foi bem recebido c esperamos que goste de cá estar.
VACARIA - Temos um boi cobridor novo para substitui r os outros dois que já tínhamos. O novo chama-se <<Palhinhas>> e os an t igos eram o <<CampeãO>> e o <<Dentes>>, os quais nos deram muitas dezenas de vitelas e bezerros.
RETALHOS DE VIDA
Pedro Sou o Pedro Miguel dos Santos Barbosa, nasci a 29 de Junho de 1992, em Campanhã. Eu já vim há muito tempo para a Casa do Gaiato. Antes de vir para cá, 1110rava no Porto com os meus pais e com as minhas irmãs. O meu pai trabalhava fora e a minha mãe na cozinha. la à escola na segunda parte e na primeira parte ajudava a minha mãe a fazer compras. Às vezes, roubava o leite dos meus colegas. Agora, estou aqui, nesta Casa. Ando no 5. o ano e gosto muito de estudar, especialmente Matemática; e faço sempre os deve-res. De tarde apanho papéis velhos das 14.30 às /6 horas. E depois vou fazer os meus deveres. À noite rezamos o Terço.)antamos e depois vou para a casa-mãe brincar. As nove horas sigo para a cama. Quando for grande quero ser polícia.
Pedro Miguel dos Santos Barbosa
4 de OUTUBRO de 2003
HORTA- O Fernando andou com um grupo de rapazes a plantar couves. Estas estarão prontas a ser apanhadas perto do Natal. Os tomateiros já terminaram a sua produção.
FUGITIVOS- O grupo que fugiu, e de que falámos na última crónica, já regressou a Casa. A aventura foi curta, pois durou só dois dias. Esperamos que não voltem a fugi r para que se façam uns homens.
POMARES - Os rapazes têm-nos regado. É um tmbalho que está a terminar, estando agora um grupo a arrancar as ervas à vo lta das laranje iras, macieiras c diospirciros.
Pedro Go mes
i lAR DO PORT~] CONFERÊNCIA DE S.
FRANCISCO DE ASSIS - Em 23 de Outubro faz anos _que Pai Américo nasceu. Não pode mos esquecer esta alma generosa que tantos ajudou, mesmo com pobreza e sem dinheiro conseguiu muito, deixou uma grande Obra para os que muito precisam. Passados todos estes anos, Ele continua bem presente nas nossas vidas. Pai Américo seguiu os ensinamentos de Jesus e deve estar feliz com os seus fil hos que continuam a seguir os seus ensinamentos e exemplos.
Vamos reflectir um pouco na vida de Jesus Cristo.
Como são diferentes os projectos de Jesus , dos dos homens! Estes, quando pretendem realizar algum empreendimento de importância, desejam sobretudo contar o dinheiro, muito dinheiro . Se se trata de fazer uma revolução, quer no plano social, quer no público, a primeira coisa que se procura para ati ng ir o ansiado êxito é o dinheiro, muito dinheiro. Jesus vem ao mundo para pôr em prática o empreendimento mais maravilhoso que pode realizar-se no mundo: a instauração do Reino de Deus nas almas.
Empreende a maior revolução que a história da Humanidade regista, e, em lugar de procurar dinheiro , começa por desprender-se de tudo. Vivendo em Nazaré, embora pobre, Ele dispõe de casa e ferramentas para ganhar o s ustento quotidiano. Mas isto parece- Lhe muito pouco para a Sua obra de apostolado. Por isso, um dia fechou a porta e empreendeu vida de peregrino, sem lugar, sem cama e sem dinheiro.
Carece até do que a natureza oferece aos animais para sobrevi ver. Jesus faz-Se pobre para ensinar os homens que a fe licidade não reside na posse dos bens desta terra. Jesus ensina-nos: o homem deve passar pelo mundo co mo um peregrino que não tem aqu i morada permanente. O Céu é o seu
4 de OUTUBRO de 2003
Património dos Pobres Cont inuação da página 1
A casa era uma barraca coberta de chapas de zinco, sem chão, sem água nem luz, levantada na solidão da serra e assente em rocha lascada, composta de uma divisão onde dormiam pais e três filhos e uma cozinha onde se fazia lume de lenha no chão, sem qualquer chaminé ou resguardo. A água ficava a quinhentos metros a descer e a subir.
A estes dois compartimentos, encostaram outros dois do mesmo material, ainda incompletos, que seriam mais um quarto e uma casa-de-banho, descobertos, sem qualquer porta ou janela.
A gente pasma com a heroicidade dos Pobres e o desprezo a que são votados!
Aquilo não tinha pés nem cabeça. Comecei por fazer um exame arquitectónico à construção e a reprová-Ia quase toda.
Então não ia à Câmara pedir uma planta?!
Será que ainda haverá Câmaras que não têm projectos estandardi zados para vários tipos de família a serem fornecidos gratuitamente aos Pobres? Haverá? ...
A habitação social das Câmaras reduzir-se-á, simplesmente, a construir um blocos baratos atribuídos a famílias carentes, em ocasiões propícias?
Faz-se um estudo sério e completo das carências de cada Concelho e a divulga-
ção destas preocupações atinge todos os munícipes?
Pobre dos pobres! A tri steza que se apoderou dos meus
interlocutores foi tal que me pus a escutá-los. Davam-me razão, mas as paredes tinham-lhe custado tanto que, agora, nem pensa r em destruir, para pôr melhor. O seu desejo era colocar uma placa sobre a construção e só me pediam o material.
Quem os aconselhou a vir bater à porta da Casa do Gaiato foi a assistente social, confidenciavam-me ambos.
Acredito. Não fez por mal. Todos sentimos que devia haver um certo pudor para determinados funcionários! Então para estes! ... Mas é assim. Sempre assim foi. É por isso que a Ig reja de Cristo deve ser rectaguarda, pobre, esperançosa e disponível.
Fazemos o que as en tidades oficiais esguecem.
E o amor de Deus a revelar-se aos mai s pequeninos ! Ele gosta! ... Sempre gostou de entrar por estas frinchas apertadas e escondidas.
Passadas vin te e quatro horas já me apresentava a factura dos materiais: 983 euros. -E para o chão, dá-me alguma coisa ? - Vamos a ver. Eu vo lto lá. Outras curiosas notícias ficarão para a
próxima. Padre Acílio
Encontros em Lisboa Continuação da página 1
Fico perplexo com certas intervenções desses tais serviços, dado que da criança ou do jovem apenas conhecem papé is e re latórios, mas acham que tê m que organizar o tal proj ectoz inho ... Dou dua s amostras do que os miúdos me dize m, às vezes. Um, ao descer as escadas, diz-me: «0 que é que queriam? Não percebi nada do que diziam». Pelos vistos valeu a pena tanto esforço ! Outro reclamava: «0 que é que este senhor tem a ver comigo, não é o senhor Padre que me está a criar?» Confi-
dências de algué m que quer que o deixem crescer. .. Há dias, fiquei deveras espantado quando soube que uma senhora Técnica Superi o r de um Serviço ofic ial, de vez em quando, fala com um jovem que aqu i te nho atra vés do tele móvel. N ão tenho nada contra a que se falem, parece-me que não é a mane ira mais correcta do relacionamento institucional. Só uma pergunta: Se o fi lho dessa senhora andasse a te lefonar-se com alguém à socapa da mãe, qual seria a sua reacção?
Padre Manu el C ristóvão
Correspondência dos Leitores <<Junto cheque em cumprimento de uma
promessa e também para p ôr em d ia a minha assinatura do Jornal O GAIATO, que leio sempre de fio a pavio, e que, por vezes, tão bem me faz.
Por vezes, queixamo-nos da nossa vida, mas quando a confrontamos com aqueles que nada têm e nunca se queixam, devemos envergonharmo-nos de não sabermos agradecer a Deus tudo quanto nos tem concedido de bom e a que nem sempre damos valor.
Peço perdão a Deus pela minha ingratidão.
Ass inante 57139».
destino. Só nele se encontram os bens imortais que podem torná-lo ve rdadei ramente rico.
Foi este o caminho que Pai Américo escolheu.
RECEBEMOS - Assinante 22890, 75 euros; assinante 7769, as suas ofert as; também queríamos agradecer à nossa Amiga, de Fiães, tudo o que nos tem enviado.
Bem-haja a todos os que nos têm ajudado. Deus vos pague.
Maria Gerrnana e Augusto
«Ao recebermos os subsídios de férias e de Natal, é 11111a obrigação moral lembrarmo-nos dessa grande Obra, e doutras, que merecem também a nossa ajuda.
Por isso wvio este cheque para o que mais necessário fo r.
Se Deus continuar a dar-me vida (tenho 86 anos) niio me esquecerei dessas datas.
O GAIATO Jaz-nos ficar inquietos. Assinante 27060>> .
<< Peço desculpa de só agora en viar pequena quantia para O GAIA TO, que leio com muito gosto e tiro dele boas lições, embora, por ~>ezes, ocupada de tantas coisas, me esqueça dele.
Quero fala r de um tema do senhor Padre Acílio, n'O GAIATO de 1410612003, sobre as senhoras que foram pedir uma contribuiçcio monetária para velas da procisscio a Nossa Senhora: Senhor Padre Acílio, não se arrependa nunca de dizer coisas dessas. É preciso que se pense mais nos Pobres do que em gastar tanto em fes tas. Jesus não nos diz 110 Evangelho que se fizermos muitas procissões, celebrações, etc. Mas, "tive fo me e deste-Me de comer ... tinha frio e deste-Me de vestir ... "
O GAIAT0/3
DCJLJTFIIN~
Doutrina social
CONTINUAMOS a dar à estampa os textos das palestras que foram
lidas, naquele dia, com religioso interesse. A doutrina social não devia ser tanto obra de códigos como da consciência de cada um. Todo o homem que não se obriga a si mesmo em matéria social, pouco vale o que ele pratica, obrigado. Falta-lhe a boa vontade. Falta-lhe o conhecimento da sua missão neste Mundo. Falta-lhe a noção da responsabilidade. Com a ignorâncias destes princípios, começa a construir uma vida falsa e acaba por cegar. Tenho topado muitos «cegos» destes no meu ofício de mendigo; e «cegas» também. São os piores, porque não querem ver. Faz pena escutar esta classe de gente. Pena pelo que sofrem. Pena pelo que fazem sofrer. São legião. Legionários da fome. Eis o que se d isse na Orsec:
OUVINTES desta estação emissora, como quisera eu que nesta hora
não houvesse interferência de outras, para que a minha palavra pudesse chegar aos vossos ouvidos tão límpida e tão eloquente como sai do meu peito! Sim, bem quisera que assim fosse! Venho trazer a tua casa, por esta maneira, a notícia da Obra social que a Nação inteira acarinha e que se chama Casa do Gaiato. O nome é de si mesmo uma inteira definição. As Casas são deles, para · eles, governadas por eles, logo que atinjam dentro delas a idade do discernimento. É uma Obra que recebeu inspiração no conhecimento actual de quanto sofre a Criança abandonada dentro dos tugúrios, dos pardieiros, a dormir nos beirais das casas e nas retretes públicas. Sem família, sem carinhos, sem amigos. Entregues absolutamente a si mesmos, desprevenidos, enganados na rota.
O Sol das Casas do Gaiato nasceu na vila de Miranda do Corvo, a un s
trinta quilómetros da cidade de Coimbra, nos primeiros dias do ano de 1940. Foi uma descoberta que se fez, no centenário das descobertas. Eu sabia a história de
Não quero agradecimento nem recibo por tão pequena quantia. Gostaria de dar mais, mas há tantas necessidades ... Vamos repartindo .. .
Com as maio res f elicidades para essa Obra tão importante e que o Senhor os ajude a irem sempre fazendo cada vez melhor.
Assinante 21171».
<<Embora pareça esta r esquecida ... O GAIATO é como uma sirene a despertar as consciências mais ado rmecidas. Não vos deixo esquecer, meus queridos. Às vezes, porém, não somos tão prontos a responder ... Peço orações para vos ajudar sempre, enquanto peregrinar por esta Terra.
Assinante 31211».
«Mais uma migalha da minha reforma de professora que é boa, graças a Deus.
Sou leitora do vosso Jornal desde menina. Ele interpela-me e obriga-me a agir, na medida que me é possível, pela oração e pela pequena esmola, que é dada com humildade e carinho.
Gostava que metade fosse para os doentes do Calvário e que a outra metade fosse
muitas dezenas de miúdos daquela formosa cidade, narrada por eles mesmos, com lágrimas belas a rolar nas suas faces angélicas. Sabia das suas privações, dos seus tormentos, do seu abandono, a dormirem nos portais das casas, corridos de toda a gente. E conhecia, sobretudo, os vícios de que eram portadores. Sem pedir licença a ninguém e com dinheiro emprestado, comprei para eles uma pequenina quinta e casa de moradia, a dois passos daquela vila. Arranjei a indispensável mobília. Falei a uma governanta. Dei à nossa Casa toda a graça possível. E, no dia 7 de Janeiro daquele mesmo ano, instalei os três primeiros pequeninos que pela primeira vez na vida se deitaram e dormiram num leito de lençóis lavados! Tão fracos do estômago por hábitos de má alimentação que não foram capazes de comer a ceia muito bem feita que se lhes havia preparado! É muito vulgar este fenómeno em nossas Casas. Temos de lhes servir doses muito pequenas, para os habituar pouco a pouco à comida racional, própria da espécie humana. Muitos são verdadeiros animaizinhos. Só depois de muitos dias de trabalho é que eles começam a tomar o gosto de dormir em camas e de usar talher à mesa.
OS pequeninos pioneiros de Miranda do Corvo começaram a en·
contrar dias felizes, alguns meses depois de viverem no que é hoje a Casa deles. No fim do primeiro ano éramos já um rancho de dezoito; e, no ano seguinte, tínhamos trinta e cinco camas armadas e ocupadas. Todo o trabalho da Casa, segundo o nosso sistema, é obra das suas mãos. Tínhamos uma pequenina casa agrícola com dois hectares de terreno, cultivado pelos ontem vadios da rua, na obediência do seu chefe, tamanho como os chefiados. A iniciativa de cada um trouxe para dentro dos muros da nossa pequenina quinta toda a sorte de aves e animais domésticos que eles zelam com verdadeiro amor. Não faltam as ferramentas, as alfaias agrícolas. Comprou-se um boi para lavrar as jeiras. O chefe la nça a semente às terras. A vida desenrola-se em nuvens de alegria infantil. Os cozinheiros, os refeitoreiros, o padeiro, tudo no seu posto a tempo e horas. Temos uma Escola!
~-~.1
(Do livro Pão dos Pobres - 4.0 vol .)
pa ra os rapazes de Angola, do Padre Telmo.
Como podemos pouco para tanto sofril/lento e necessidades ...
Que o Senhor continue a ajudar-vos e a mim também, e aos meus doentes, irmão a perder a vida e tios muito velhinhos. Não preciso de recibo.
Assinante 46739».
<<}unto cheque para participar na "partilha". Obrigado pelo vosso O GA IATO, pois, infelizmente, ainda é dos poucos veículos que me acordam a consciência adormecida e instalada no descontentamento de l'iver neste mundo violento, injusto e desalllCido. Desculpem tanta palavra para tão pouca partilha. Deus vos mantenha e ajude.
Assinante 16024».
<<É com muito prazer que me tomei uma amiga da Casa do Gaiato. Com o meu pequeno donativo é mais um grãozinho que se vai juntando a outros que vos ajudam. Recebo o vosso Jornal e quero continuar a ser uma admiradora dessa tão grande Obra.
Assinante 75255».
4/ O GAIATO 4 de OUTUBRO de 2003
, BENGUELA SETUBAL
Problemas resolvidos
estão à espera de entrar. Todos, porém, trazem na sua história cenas proibidas, gravadas no seu inconsciente. É preciso apagá- las, a todo o custo, com muito amor do qual a perseverança e a paciência são qualidades. Estou a lembrar-me, por exemplo, do Serdique, com sete anos, vindo d o Ruanda, a fugir do massacre da guerra com os seus pais e suas irmãs. A mais velha, com quinze anos, está no Lar das Irmãs. A mais nova foi acolhida no Abrigo dos Pequeninos. Outro dia, num sarau cultural fam iliar, saíram poesias que retratavam o estado de alma, sobretudo da menina mais velha. O sofrimento e a saudade de seus pais estavam presentes. Assistiram à morte deles, quando atravessavam a fronteira. O Serdique, que vive connosco, respira confiança e serenidade, frutos do carinho da Teresa e do ambiente que lhe c riamos.
A Escola tes do desenvolvimento do País. Que orgulho mais saudável pode haver do que a colocação destes filhos nos lugares da reconstrução da sua Pátria? Tinham sido abandonados. A Casa do Gaiato ajudou-os a descobrir o manancial de riqueza que guardavam. Agora é altura de a porem a render ao serviço de todos.
comecou ... , P
ARA alguns ... Os mais novos, principiaram-na mal. Entre estes está o lgor que vai à Escola pela pri
meira vez. A professora que lhe foi destinada, passa por trabalhos de gravidez, o que a impede de leccio- , nar. O pequeno, que inicia lmente ficou muito admirado por já ir à escola, passou depois a uma postura de importância pelo mesmo facto. Agora, depois da decepção, não sei avaliar o que o Igor sentirá por afinal ainda não ter um professor para si. No mínimo, que em breve venha um professor substituto.
Os problemas de hoje foram resolvidos. A mãe, o marido e os filhos já não dormem ao
frio, no cacimba; à chuva, no tempo de calor. As quatro paredes receberam as chapas de cobertura, mais as portas e janelas. Todos ficámos consolados. As famílias contempladas foram três. Amanhã serão muitas mais. O processo da habitação condigna da maioria do povo está no princípio, podemos dizer. Da nossa parte tudo faremos dando as nossas mãos, bem amarradas às vossas que nos acompanham de longe. Ai de nós e daqueles para quem nós somos se a atrofia chegasse ao vosso coração!
Mas quero ir mais além. Há pouco tempo recebemos a visita de uma delegação de estudantes e responsáveis da Universidade Lusíada, do pólo do Lobito. Não conheciam a Casa do Gaiato. Prometeram não querer esquecer o e ncontro. Da minha parte, fi z o propósito de retribuir a visita com um interesse muito especial guardado na a lgibeira: pedir algum lugar para os estudantes que terminaram o ensino médio com bom aproveitamento e querem ingressar na Universidade. Enquanto esperam, estão a dar o seu contributo como professores na escola do terceiro nível. Não será esta uma forma de aproveitar a riqueza do potencial humano destes filhos que perderam tudo menos o direito de ajudar a desenvolver a sua Terra? Vamos ver qual será a resposta.
Afinal, quem é o mais importante? Vivemos na era da especialização. Procura-se mesmo dar um particular cuidado a cada situação pontual diferente da comum. Não precisam os nossos rapazes dessa particular atenção em referência ao geral dos estudantes?
Que riqueza maior de uma Nação do que o potencial humano bem aproveitado? Não se pode ignorar a fonte de e nergia e riqueza que está na «humanização» da vida de todas as pessoas. Quem dera seja esta a grande paixão dos homens grandes a quem está confiado o encargo de dirigir os destinos da Nação!
Quem são os maiores? Onde estão os fac tores decisivos para o progresso de uma Nação? Os que mais servem. Os que mais ajudam. Os que estão ao serviço das camadas mais pobres. Os que dão atenção aos mais débeis. Estou a lembrar-me, a propósito, daquela mãe com dois filhos. Quer muito aos dois. Um deles, porém, é deficiente. Para este vai todo um mundo de atenções, porque é mais débil. Por isso, necessita mais.
Façamos também o mesmo.
Na nossa escola foram colocados dois professores para vi nte e dois alunos. Já o mesmo se havia verificado no ano transacto. Acresce ainda que mais alguns rapazes se lhes irão juntar no decorrer do ano lectivo. Não precisamos nós de mais professores pela particularidade dos alunos que compõem a nossa escola? Eu não tenho dúvidas que sim. Porque quero seguir à risca os dita
mes da consciência, tenho andado a bater à porta das grandes empresas a pedir emprego para os meus rapazes mais velhos. São consideradas baluar- O utros estão a crescer. Outros ainda Padre Manuel António
Com toda a conveniência nossa, damos as instalações onde funciona a escola. Se pudesse, daria com todo o gosto um professor para que o Igor pudesse começar bem a sua vida escolar.
Moçambique Continuação da página 1
de capulana e camiseta com emblema da União Africana, pintado na véspera pelos nossos professores, mais o símbolo da luta contra a s ida. Estavam os rapazes e al un os da Escola; os mais pequeninos ostentando bandeiras de todos os países de África.
Cumprimentada a nossa Primeira Dama, o Vasquinho, da casa-mãe, fez entrega de uma belíssima rosa de porcelana, colhida no nosso jardim. Mas o menino não queria largar a flor, talvez porque a Senhora não lhe desse a mão. Após breve troca de apresentações, iniciou-se a visita à casa-mãe. Desta à casa um onde, como estivessem a jeito as cadeiras e a nossa Primeira Dama com dificuldade em andar, logo, quem pôde, sentou-se e começou aí um diálogo interessado sobre o que era a Casa do Gaiato, como funcionava, quem mandava e quantos os responsáveis com poder de decisão e por aí fora. Perguntas de quem estava interessado. As respostas eram traduzidas em francês, inglês e árabe.
Só que a Casa não é funcional para quase trezentos vis itantes em simultâneo, o que causou constrangimentos, como querer sai r e não ter por onde, porque os espaços estavam literalmente entupidos. Como se prolongasse o diálogo, não houve tempo de e ntrar na Escola .. A nossa Capela devidamente preparada, nessa hora, já se encontrava cheia. O programa previa apenas meia hora de actuação e c re io que não ultrapassaria se muitas das Senhoras não mostrassem interesse em experimentar um instrumento que se chama gulula muito semelhante, no formato, à cuica brasileira, tocado pelo grupo de Ndividuane.
Acabada a sessão todos desceram ao refeitório para a refeição, onde o Protocolo do Estado se limitou a indicar os lugares às Senhoras e todos mais por afinidades de língua. A refeição desde os salgados frios até aos principais pratos, confeccionados principalmente com os produtos da nossa quinta, primou pelo uso da mandioca. O cálc ulo foi de quinhentas refeições. Todos os nossos rapazes, para além dos que serviram às mesas ou na cozinha, comeram em suas casas.
Sobraram os doces, porque o discurso da nossa Primeira Dama era traduzido em mais três línguas. Não cabe aqui
PENSAMENTO
Os males sociais são ideias em marcha.
PA I AMÉ RI CO
dizer o que então foi dito de apreço pela Casa que as soube receber. Mas era momento oportuno para dar ênfase à Associação das Primeiras Damas da União Africana organizadas na luta contra a sida, a que preside a primeira Dama do Togo, entre todas, talvez, a mais e legantemente vestida. Houve quem reparasse num grande diamante, que deve valer uma fortuna . Mas foi ela que teve a iniciativa de passar um envelope por todas e recol heu a passar de três mil dólares. Fez um apelo para que se empenhassem nessa luta: «porque afinal foi demonstrado aqui, que a primeira coisa não é o dinheiro. São os gestos que desencadeiam outros gestos».
No fim de contas, a insatisfação é mútua, para professores e alunos. Para nós é tempo perdido e também de um grande desgosto por não vermos os rapazes a avançar; bem pior que uma reprovação que pode consolidar uma fase para se empreender o início de outra mais avançada.
Esta fonte de desenvolvimento que é a Escola, merece uma maior atenção e que se lhe atribua mais importância.
Não estamos a dotar os nossos rapazes da oportunidade de se capacitarem melhor para o exercício da sua vida futura. Restringir-lhes oportunidades não é justo no contexto social em que vivemos.
O povo diz que «vozes de burro não chegam ao céu!» Eu queria tanto que a minha chegasse.
Padre José Maria
O Banqueiro dos POBRES NESTA al tura em que há ainda
tanto para revelar acerca do espírito, dos métodos e da
extensão deste Trabalho nascido no Bangladesh há trinta anos, parece-me prioritário informar que ele migrou para todos os Continentes, já faz sentir a sua presença benéfica até em países ricos do Norte do mundo como: os Estados Unidos, a França, a Escandinávia ... e também já rumoreja em Portugal. Alegra-me o facto porque sendo nós, economicamente, se cal har, mais do Sul que do Norte, poderemos vir a ser alvo de procedimentos que noutros lugares já deram suas provas; e desde agora, de uma renovação de mentalidades que vai produzindo seus efeitos em povos de muito maior prosperidade.
Não sei há quantos anos existe entre nós a Associação Nacional de Direito ao Crédito que, na lógica de responder à sugestão que o seu nome é, se debruça sobre a solução de micro-empresas para várias situações de debilidade económica que afecta largo leque de c idadãos. O micro-crédito é a sua especialidade. E o boletim informativo que publica, de que tenho o número 9, chama-se mesmo MICRO-CRÉDITO.
O papel da Associação é «incentivar», directamente ou mediante outras Instituições, «desempregados a concretizarem projec tos de auto-emprego»;
ajudar a prepará-los, nomeadamente nas re lações com a banca ou na candidatura a eventuais apoios públicos; acompanhá-los ao longo do seu desenvo lv ime nto, espec ialmente quando acontecem acidentes de percurso; também divulgar os casos de sucesso e as dificuldades mais prováveis. E, relativamente ao público em geral: «dinamizar o debate sobre o papel do crédito na luta contra a exclusão, a pobreza e o desemprego»; e «suscitar a consciência da importância do crédito na dignificação das pessoas pelo exercíc io au tónomo da sua actividade, em vez de sujeitá-las à subsídiodependência» .
Para que a Associação possa exercer o seu papel, são necessários apoios:
- «Uma instituição financeira que concretize os empréstimos seleccionados. Por protocolo é o BCP esta ins ti tuição.
- Aforradores solidários que financiem a actividade da Associação e o 'fundo de garantia'.
- Instituições locais que propõem as pessoas detentoras de um projecto pe lo qual pretendem superar a sua situação de exclusão.
- Organizações estrangeiras congéneres que, pela experiência adquirida, ajudam a conceber metodologias para o desenvolvimento do micro-crédito.
- Políticas públicas de luta contra
Padre Júlio
a pobreza e exclusão social que sirvam de contexto e também de apoio financeiro à Associação».
«0 processo de concessão do micro-crédito começa com a apresentação à Associação por uma Instituição local da pessoa e do respectivo projecto de acti vidade económica.
Uma equipa da Associação entra em contacto com a pessoa e certifica-se que não tem possibilidade de recorrer ao crédito comercial normal.
Se a act ividade projectada parece rentável e capaz de potenciar a inclusão social da pessoa, a Associação propõe ao banco a concessão do empréstimo e nomeia um animador local para acompanhar o início da actividade nos primeiros meses» .
Resta-me dizer aos nossos Leitores que, porventura, achem interesse nesta modalidade bancária às avessas de que o Doutor Yunus teve a inspiração e queiram saber m ais, que o contacto desta Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) é: Rua Castilho, 6/, 2. o D. 10
- 1250-068 Lisboa. Telefone 213863699; telefax 213865278; e mail ANDC@mail. telepac.pt.
Qualquer pessoa pode ser apoio da ANDC como aforrador solidário. E, se ti ver tempo e competência para tal, pode também ser animador local - e assim participará nas dores e alegrias de parto de um projecto libertador, comunhão que com certeza a enriquecerá.
Padre Carlos