primeiro dia de aulas internacional
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Trabalho criativo elaborado pela turma de 4º ano (CM1) da Secção Portuguesa da Escola Primária Internacional de Saint-Germain-en-Laye (França), apresentado no concurso Correntes d'Escrita/PE em 2009TRANSCRIPT
Olá, eu sou a Inês e este ano vou estudar numa escola internacional
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NOTA PRÉVIA
O trabalho que aqui se apresenta foi elaborado colectivamente pela turma
de 4º ano (CM1) da Secção Portuguesa da Escola Primária Internacional de
Saint-Germain-en-Laye (França) com o intuito de participar no PRÉMIO
CONTO INFANTIL CORRENTES D’ESCRITAS /PORTO EDITORA
2009. Este prémio foi instituído no dia 1 de Setembro de 2008 e destina-se
a galardoar, anualmente, um Conto Ilustrado inédito, em língua portuguesa,
escrito por alunos que frequentem o 4º ano de escolaridade do 1º Ciclo do
Ensino Básico. O objectivo é o de estimular a criação literária,
especialmente o desenvolvimento da comunicação escrita. Os alunos
tinham de apresentar um trabalho colectivo com um mínimo de três e um
máximo de 10 páginas (letra times new roman 11 a espaço e meio) com
ilustração integrada no texto ou em documento à parte. O trabalho foi
visionado por mim, professora de português da turma, e foi enviado antes
de 15 de Dezembro de 2008. As informações que acabam de ser transcritas
foram retiradas do regulamento do concurso em Outubro de 2008 no portal
municipal da Câmara Municipal da Póvoa do Varzim, www.cm-
pvarzim.pt.. Os resultados foram divulgados em Fevereiro de 2009 -
http://www.cm-pvarzim.pt/go/correntesdescritas/ - e, mesmo se não saímos
vitoriosos, faço questão de publicar o trabalho que foi a concurso no nosso
blogue http://os-novos-leitores.blogspot.com . Estão de parabéns os alunos
que tentaram perceber e descrever os sentimentos dos alunos FS que
chegam directamente do estrangeiro para frequentarem a nossa escola
internacional, com alguma apreensão que o tempo vai apagando.
Boa leitura a todos!
A professora
Isabel Pereira da Costa
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Primeiro dia de aulas internacional
Esta história é a história do primeiro dia de aulas
em França de uma menina chamada Inês. A Inês tem
nove anos e acaba de chegar de Portugal com a sua
família. O pai resolveu aceitar uma proposta de
trabalho fora do país e veio viver com a família para
Saint-Germain-en-Laye, nos arredores de Paris. A Inês
tem dois irmãos gémeos, mais crescidos, de 18 anos. A
mãe, veterinária, está desempregada e procura novo
trabalho. Vivem os cinco perto da escola da Inês. Hoje
é dia 2 de Setembro de 2008…
Às sete da manhã toca o despertador e a Inês levanta-se da cama. Toma um duche
rápido. Enfia o vestido amarelo, cor-de-rosa, verde, laranja e azul que a tia lhe oferecera. Calça
os collants vermelhos da madrinha e apanha o cabelo, num belo totó, com um lindo elástico
branco, prenda de anos da mãe. Desce as escadas de madeira e vai tomar o pequeno-almoço na
cozinha com os irmãos. Na mesa há cereais, leite, pão e manteiga. Come sem apetite. A culpa é
deste regresso às aulas, num novo país: a França. Sente-se feliz, mas ao mesmo tempo triste,
inquieta e com medo. Dormira mal nessa noite só de pensar na nova escola. O que a sossega é
que a Mãe vai acompanhá-la neste primeiro dia.
A sua nova escola faz parte do Liceu Internacional. Isso significa que vai ter aulas em
francês e noutra língua. No caso da Inês essa língua é o português. A Escola Primária
Internacional é branquinha, enorme e tem muitos alunos. É uma das melhores escolas francesas,
mas isso não tem importância nenhuma para a Inês que se sente muito sozinha e perdida neste
país bem diferente de Portugal.
Ao sair de casa, lembra-se da sua terra natal, a Póvoa do Varzim, e começa a chorar.
Tem saudades… Não conhece ninguém na nova escola. No recreio vai estar sozinha a olhar para
os outros… Já sabe que na nova turma há onze alunos de várias nacionalidades: o americano
Harry, três italianos – Pietro, Francesco e Brando -, um espanhol chamado Diego, dois
japoneses – Oshi e Okuni -, e três inglesas – a Marie, a Ingrid e a Anaïs. É uma turma
internacional, por isso há alunos de tantas nacionalidades. Os novos colegas da Inês, tal como
ela, não sabem falar francês e por isso estão numa turma de adaptação, a turma FS (Francês
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Especial). Todos têm aulas em francês e nas suas línguas maternas. No início do ano, todos
estes alunos preferem as seis horas semanais em que têm aula na língua materna. Nesse dia à
tarde, a Inês iria conhecer a sua turma de português. Mas antes disso a manhã ia ser toda em
francês!
Não se sente bem porque não conhece ninguém, está nervosa, não fala francês, tem
medo de não perceber nada… dói-lhe a barriga! No caminho para a escola, a Inês fala dos seus
medos à mãe:
- Mãe, e se os outros alunos não forem simpáticos? Como vou conseguir aguentar um
dia inteiro?
- Não te preocupes, vocês estão todos na mesma situação e a professora está
acostumada. Vai explicar-vos como vão aprender esta nova língua com actividades diversas. E
farás amigos muito depressa.
- Dizes isso porque não és tu. Sempre te queria ver no meu lugar!
- Ó Inês…
- É verdade, mãe, vocês quiseram vir viver para aqui, mas não nos perguntaram, a mim
e aos manos, se nós queríamos deixar Portugal.
- Ó Inês, que disparate!
- Disparate? Porquê disparate? Quem é que vos disse que queríamos vir viver para aqui?
Sabes o que é andar numa escola onde ninguém fala português?
- Isso não é verdade! Pára de te lamentares. Vais para a melhor escola pública francesa!
- Quero lá saber disso para alguma coisa! Preferia ter os meus amigos! Se a escola é boa
ou não…
- Inês!
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- Estou a dizer a verdade e tu não gostas de ouvir. Sabes uma coisa: nunca vou dizer
uma palavra em francês. Sou portuguesa e chega! Ainda se fosse inglês…
- Ui, que asneiras são essas? Por favor, Inês, tens de ser razoável! Além disso, continuas
a ter aulas de português aqui. Sabes que esta escola é quase única em França? Aqui ensinam-te o
português como se estivesses em Portugal. Vais ter duas turmas, duas professoras e duas
línguas. Não tens de deixar de ser portuguesa… Esta escola é interessante por isso mesmo: aqui
respeitam-se as outras culturas.
- Mas…
- Não, agora vais deixar-me acabar! Tens muita sorte, isso é que é. Ninguém vos
perguntou se queriam deixar Portugal porque na realidade não tínhamos escolha. Sabes que eu
perdi o meu emprego e o papá, se recusasse esta oferta de trabalho, também ia para o
desemprego. E como nós muita gente. A escolha não foi nossa. Já estás a ficar crescida e podes
entender o que te digo.
Iam tão concentradas na discussão que chegaram ao portão da escola sem darem por
isso. A mãe entrou com a Inês no recreio e às nove menos um quarto a campainha toca. A Inês
sobe com a mãe até à sala de aula. Tinham recebido a autorização do director, Monsieur Roger
Desbois, para subirem juntas. A professora, Madame Janon, disse que podiam entrar e que a
Inês podia sentar-se onde quisesse. Ela senta-se no fundo da sala, ao lado do Harry que era
americano. A mãe ficou contente porque achou que se tornariam rapidamente amigos.
Despediu-se da filha e foi-se embora deixando atrás uma Inês amuada.
Com os alunos todos na sala, a professora francesa, Madame Janon, começa a sua aula
com as apresentações:
- Je m’appelle Anne Janon.
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Ao ouvir estas palavras, a Inês não compreende nada. Volta-se para o Harry e pergunta-lhe:
- Tu compreendeste o que ela disse?
Perante esta pergunta o seu colega de carteira americano encolhe os ombros. Nesse mesmo
instante, nas carteiras da frente, Pietro e Francesco abanam a cabeça afirmativamente:
- Io mi chiamo Anne Janon. – pronunciaram ao mesmo tempo.
A Inês compreende então o que a professora acabara de dizer. Põe o dedo no ar e, sem esperar
que a Madame Janon lhe diga para falar, diz sem hesitar:
- Je m’appelle Inês.
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Os colegas ficaram espantados, alguns riram, e a Inês
encheu-se de vaidade perante uma professora
maravilhada e feliz. O que sempre lhe acontecia quando
punha os alunos estrangeiros a falar.
A jovem sentiu-se tão contente por ter
conseguido dizer qualquer coisa em francês que achava
que ia aprender essa nova língua muito mais depressa do
que tinha imaginado. Estava em pulgas para contar tudo
à mãe. Já tinha esquecido por completo a discussão da
manhã.
Quando tocou para o intervalo, a dor de barriga
da Inês tinha desaparecido. A fúria contra a nova escola
e o novo país também. Até conseguiu brincar com os
colegas da turma: jogaram à bola! Era bem fácil
entenderem-se: bastava dizer «passe!», praticamente
como em português.
À tarde, depois de almoçar na cantina com os novos colegas, conheceu a turma de
português onde tudo era mais fácil porque já não havia a barreira da língua. O regresso a casa
foi cheio de alegria e a Inês pôde enfim contar o primeiro dia de aulas de um ano lectivo que se
apresentava cheio de desafios!
ENTRECÁELÁ
(pseudónimo da turma de 4º ano/2008-2009)
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NB: Os desenhos inseridos na capa do trabalho e na contracapa, bem como no final das
páginas 5 e 6 do trabalho não estavam presentes na versão apresentada a concurso.
FIM