principio da individualização da pena

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PRINCIPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA Tendo como preceito pesquisar o princípio da individualização da pena, é visto que este principio é direito subjetivo dos condenados, previsto no art. 5º, LXVI da Constituição Federal. Trata-se de garantia fundamental para que se alcance a efetiva recuperação social e moral dos presos, e guarda estreita relação com o princípio da dignidade da pessoa humana. A Lei de Execução Penal se encontra em harmonia com os ideais individualizadores e está tambem assegura para que seja feita a individualização da pena. O princípio da individualização da pena em conjunto com o princípio da dignidade da pessoa humana, passou a ser utilizado constantemente com o objetivo de minimizar os efeitos da privação de liberdade e garantir que o Estado não se utilize de penas padronizadas ou automáticas para seus infratores. O princípio da Individualização da pena é considerado como direito fundamental do homem, conforme se prevê na Constituição Cidadã de 1988, visto que cada infrator

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Page 1: Principio da individualização da pena

PRINCIPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

Tendo como preceito pesquisar o princípio da individualização da pena, é visto que este principio é

direito subjetivo dos condenados, previsto no art. 5º, LXVI da Constituição Federal. Trata-se de garantia

fundamental para que se alcance a efetiva recuperação social e moral dos presos, e guarda estreita relação

com o princípio da dignidade da pessoa humana. A Lei de Execução Penal se encontra em harmonia com

os ideais individualizadores e está tambem assegura para que seja feita a individualização da pena.

O princípio da individualização da pena em conjunto com o princípio da dignidade da pessoa

humana, passou a ser utilizado constantemente com o objetivo de minimizar os efeitos da

privação de liberdade e garantir que o Estado não se utilize de penas padronizadas ou

automáticas para seus infratores. O princípio da Individualização da pena é considerado como

direito fundamental do homem, conforme se prevê na Constituição Cidadã de 1988, visto que

cada infrator possui características próprias e deve ser considerado em sua individualidade

Este estudo tem o preceito de pesquisar o principio da individualização da pena, o seu conceito, a sua

aplicabilidade e, por conseguinte a ligação com o principio da proporcionalidade, legalidade, pessoalidade,

culpabilidade, legalidade e da dignidade da pessoa humana e como deveria funcionar a classificação dos

presos conforme a lei de execução penal. Para tanto, o estudo tomou por base a pesquisa de cunho

bibliográfico. O presente estudo esta dividido em: conceito da individualização, fundamentação

constitucional, incidência do principio da individualização da pena e suas fases, individualização na

execução penal e a classificação do apenado, com uma linguagem clara e sucinta para facilitar o

entendimento.

Existem vários conceitos abordados pelos doutrinadores sobre a individualização. Abordaremos alguns

deles:

Page 2: Principio da individualização da pena

Tendo como base as doutrinas pode-se dizer que a individualização da pena é um assunto

representativo do direito humano fundamental onde o apenado tem o direito a obter uma pena

justa e individualizada.

Como aborda Nucci (2004, p.31):

[...] individualizar significa tornar individual uma situação algo ou alguém, quer dizer particularizar o que antes era genérico, tem o prisma de especializar o geral, enfim, possui o enfoque de, evitando a estandardização, distinguir algo ou alguém, dentre de um contexto.

A nossa constituição federal traz consigo em seu artigo 1º: de que todos somos iguais

perante a lei. Mas como seremos iguais com a individualização da pena, parece que é

inconstitucional este principio de individualização da pena. Mas não, pois, este principio trata

que a pena deve ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e executório, para que se

evite a padronização da sanção penal. Onde cada crime tem a sua pena que irá variar de

acordo com a personalidade do individuo, o meio de execução, entre outros.

A fundamentação esta nos artigos 5, inciso XLVI, da Constituição Federal. Artigos 5], 8º, 41,

XII e 92, parágrafo único, II da LEP. E os artigos 34, 59 e 68 do CP.

A constituição federal em seu artigo 5º, inciso XLVI, apregoa:

Art.5º todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.

Para ser aplicada a individualização da pena, deve-se respeitar o preceito constitucional nas suas três fases

que são: a fase legislativa, a fase judiciária e a fase executória que serão abordadas a seguir.

A individualização da pena no legislativo é operada pelo legislador quando comina a pena

abstrata, de acordo com a maior ou menor gravidade do delito, como nos diz Barros (2008,

p.445)

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O principio da individualização esta ligado ao principio da legalidade, da necessidade e da

proporcionalidade como nos ensina Barros (2001, p.112): “Todo processo de

individualização, de adequação da pena ao fato e a pessoa concreta, esta limitado pelos

princípios da legalidade, da necessidade e da proporcionalidade.”

Quando se fala em proporcionalidade é por que está implica na necessidade de adequar-se

a sanção penal ao fato delituoso cometido, está proporcionalidade entre o fato e crime

ocorrido, acaba influenciando em um limite de individualização da pena.

O principio da legalidade está ligado à individualização da pena, por que é indispensável

que este esteja previsto em lei, bem como todos os passos a ser seguido para a sua aplicação e

execução.

Segundo Prado (2007, p.145) o princípio da individualização da pena obriga o julgador a

fixar à pena, conforme a cominação legal (espécie e quantidade) e a determinar a forma de sua

execução.

No que se refere à fase legislativa pode se disser que para uma aplicação correta e justa na

individualização da pena têm que se respeitarem os princípios a cima comentados.

A individualização judicial é feita pelo magistrado por ocasião da sentença condenatória,

valendo-se dos vários elementos ofertados pelo Código Penal, principalmente os arts. 59 a 68

como aborda Nucci (2007, p.950).

Então para se aplicar uma sentença condenatória tem que se respeitar o Código penal.

Já Barros (2001, p.116-117) nos ensina que:

A individualização judicial da pena vem limitada pelo principio da legalidade e pelo principio da culpabilidade. O principio da legalidade vincula o juiz à lei quanto à tipicidade do fato e o quantum da pena, enquanto o principio da culpabilidade vincula o juiz a determinar a pena de acordo com a culpabilidade individualizada.

Acaba-se ressaltando que na fase executória, o poder do juiz é nítido ao determinar o

quantum imposto ao condenado, sempre respeitando os limites pré-estabelecidos pelo

legislador. É tambem nesta fase em que o tribunal ou magistrado acaba determinando qual

será a sanção penal, o regime de cumprimento da Pena Privativa de Liberdade.

Page 4: Principio da individualização da pena

A individualização executiva se concretizada na faze de execução da pena, que é quando

se confere para cada apenado um tratamento especifico dentro dos estabelecimentos

prisionais. Mas sempre respeitando a dignidade da pessoa humana que esta assegurada pela

nossa Constituição Federal de 1988.

Como ressalva Nucci (2007, p.950):

Aquela que é feita pelo juiz da execução criminal, promovendo a devida adequação da pena aplicada à progressão de regime, permitindo que o sentenciado seja transferido, conforme o seu merecimento, de um regime mais severo ao mais brando, elem de lhe proporcionar outros benefícios, como livramento condicional, bem como o reconhecimento da remição,(...).

Porem, como já vimos à individualização da pena não é feita apenas na fase judicial, mas

bem como a fase executória é um relevante estagio da individualização da pena, uma vez que

onde é efetivamente executada.

Conforme determina o art. 5º da Lei nº 7.210\84 (Lei de Execução Penal) assim redigido:

“Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para

orientar a individualização da execução penal.”

O nosso doutrinador Marques (2002, p.269) ensina que: “individualizar a pena é aplica - lá

de acordo com o individuo que praticou a ação penal”.

Na individualização executória ocorre que os condenados podem ter recebidos a mesma

pena, mas a progressão

Consoante Mirabete (2004, p.48) diz que: “individualizar a pena na execução, consiste em

dar a cada preso as oportunidades e os elementos necessários para lograr sua reinserção social,

posto que seja pessoa, ser distinto”.

No que tange o princípio da individualização da pena, é ele que apregoa a garantia de que

as penas não sejam iguais, mesmo que os indivíduos tenham praticado crimes idênticos. Isto

porque, independente da prática de conduta igual, cada indivíduo traz consigo um histórico

pessoal, assim cada indivíduo deve ser punido pelo que lhe é devido. Devendo o juiz

respeitando a cominação legal, adaptar a sanção penal ao delinqüente, ou seja, aplicar a pena,

quantidade necessária para recuperar o delinqüente.

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Cabe ainda fundamentar que a pena não pode ser transmitida a outrem como, por

exemplo: de pai para filho, isto, por causa do principio da pessoalidade que diz que a pena não

pode ser transmitida aos herdeiros nem em caso de multa e sanção penal. É diferente da

sentença penal condenatória que executada no cívil pode alcançar os herdeiros no limite da

força da herança. Ditos o artigo 5º, incisos XLX, da Constituição Federal “nenhuma pena

passará da pessoa do condenado, podendo a obrigaçao reparar o dano e a decretaçao do

perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,

até o limite do valor do patrimonio transferido”.

 A individualização da pena, e conseqüentemente do apenado, se dá no momento da

elaboração da lei penal, passando pela atividade do judiciário e finalmente ao momento

executório. Momento este de suma importância, diante das conseqüências que trazem para a

dignidade do ser humano.

Após a prolatação da sentença, e a expedição da devida guia de recolhimento, o apenado

vai de encontro ao sistema prisional. E nesse momento deve ser individualizado, de modo a

serem considerados os traços da sua personalidade e seus antecedentes.

A Lei de Execução Penal, em seu art. 5° assim determina: “Os condenados serão

classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização

da execução penal.”

Não pode se deixar de verificar que a exigência da classificação do apenado é letra de lei,

e assim sendo, deve ser cumprida.

O órgão responsável pela classificação do apenado é a Comissão Técnica de Classificação,

conforme se extrai do art. 6° da Lei de Execução Penal: “Art. 6º: A classificação será feita por

Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena

privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório.”

Ao analisar a personalidade do agente, irá se verificar se este possui algum desvio de

caráter, ou algum traço que demonstre alteração comportamental. Seus antecedentes são

analisados com o propósito de que seja apurada a vida social do apenado, assim como se é

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reincidente ou responde a algum inquérito ou processo judicial conforme nos explana o

doutrinador Mirabete.

A Lei de Execução Penal determina, conforme o regime inicial do condenado, quando ele

deverá ou poderá ser submetido a exame criminológico.

Em relação ao exame criminológico, MIRABETE (2004, p.58) pontua: “exame de

personalidade comum para a classificação dos criminosos e a individualização da execução da

pena.”

Pode-se afirmar que, o exame criminológico caracteriza-se como um instrumento

individualizador do apenado e conseqüentemente da execução da pena, pois assim é

considerado pela legislação (art. 8°, LEP).

Outro notável fator que garante a correta individualização do apenado é a correta

separação dos mesmos, provisórios de condenados, civis de criminais, etc.

Essa medida é prevista em lei, devidamente descrita no art. 84, da Lei de Execução Penal:

Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em julgado.§ 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada para os reincidentes.§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal ficará em dependência separada.

Analisando a referida lei, é visto que além da separação de apenados condenados de

provisórios, tambem deverá haver separação de apenados primários de reincidentes, para que

seja evitado que os primários sejam de alguma forma influenciados pelos reincidentes.

Compactuando com esta idéia NUCCI nos diz: 

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“Torna-se fundamental separar os presos, determinando o melhor lugar para que

cumpram suas penas, de modo a evitar o contato negativo entre reincidentes e

primários, pessoas com elevadas penas e outros, com penas brandas, dentre outros

fatores. Em suma, não se deve mesclar, num mesmo espaço, condenados

diferenciados.”

Após a referida pesquisa, conclui-se que o principio da individualização da pena é de

suma importância, para que não haja uma padronização das penas e ao seu lado está a lei de

execução penal que caminha junto para que haja a individualização da pena, pois na referida

lei, em seu artigo nº 84 trata especialmente sobre a separação dos apenados, ou seja, a

classificação deles, e se está classificação fosse feita correta acredita-se que o índice de

reincidência seria menor, pois, muitos são influenciados por detentos, para quando sair, ir

trabalhar no trafico para eles e tantos outros exemplos. Alem de uma boa classificação,

deveria haver projetos para ajudar o apenado a mudar, a se recolocar na sua vida, como no

mercado de trabalho novamente.

No tocante ao princípio da individualização da pena, nota-se claramente a utilização da

dignidade humana em suas três fases de aplicação, seja pelo valor dado pela sociedade em

relação ao dano cometido, seja pela aplicação da pena pelo magistrado e, finalmente pela

maneira de como ocorrerá o cumprimento da sanção imposta. As expressões dignidade

humana, liberdade, igualdade, cidadania, privacidade, bem comum, e outros termos que se

relacionam aos direitos humanos fundamentais possuem caráter político e social e não apenas

jurídico.

A efetividade da individualização penal é dever constitucional fundamental do Estado, no

entanto, muitas vezes é utilizada por governantes e autoridade competentes como meio de

concessão de privilégios, não havendo efetividade na realização do Direito.

REFERÊNCIAS:

BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal, parte geral: volume 1, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

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BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a lei de execução penal. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm>. Acesso em: 01 de setembro de 2011.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1: parte geral: 15 ed.. São Paulo: Saraiva, 2011.

GRECO, Rogerio. Curso de Direito Penal, vol.1: parte geral arts 1º a 120 do código penal: 12 ed. Rev. atual. e amp. Niteroi: Ímpetus, 2010.

JESUS, Damásio E. de. Direito Penal vol. 1: parte geral. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal, vol. III. Ed. rev. at. e amp. Campinas: Millennium, 2002.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal: Comentários à Lei n° 7210, de 11-7-1984. 11ª Ed. rev. e amp. São Paulo: Atlas, 2004.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 5 ed. Rev. atual. e ampl. São Paulo: revista dos tribunais, 2005.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 5. ed. rev. at. e amp. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

PRADO, Regis Luis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume 1: parte geral, arts. 1º a 120. 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.