procedimento em especial
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PROCEDIMENTO EM ESPECIAL
Regulamentos
Titularidade:
Órgãos com competência regulamentar resultantes da Constituição da
República Portuguesa:
(A) Governo: Tem dupla competência, ou seja, faz regulamentos de execução ou
complementares, regulados no artigo 199º/c) da CRP, e emana regulamentos
independentes, que visam introduzir disciplinas jurídicas inovadoras, regulado no
artigo 136º/3 do CPA.
Quanto aos regulamentos independentes, estes podem ser fundados nas leis,
como resulta do artigo 136º/3 do CPA; ou na Constituição da República Portuguesa,
como resulta do seu artigo 199.º, alínea g). Estes regulamentos têm uma
particularidade: só podem existir fora da reserva de lei, e nenhum órgão legislativo
regulou, correspondendo ao princípio da precedência de lei.
O Governo tem autoridade para optar por Decreto Regulamentar, por três
razões:
1. O regulamento não está sujeito a fiscalização preventiva da
constitucionalidade;
2. Não está sujeito a apreciação parlamentar, para efeitos de recusa de aprovação
(artigo 169º da CRP);
3. O procedimento do decreto regulamentar é mais célere;
4. Estão sujeitos a promulgação do PR. A falta de promulgação gera inexistência
do acto.
Decreto-simples:
Resolução do conselho de ministros: Nem sempre é um regulamento, mas pode ser
conteúdo normativo.
Despacho normativo:
Portaria;
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Despacho simples: Actos adminsitrativos, normalmente. Mas podem conter normas.
(B) Regiões Autónomas: Esta pode ser de diferentes tipos:
1. Regulamentação por decreto legislativo regional, conforme resulta do artigo
227º/1, d), 1ª parte da CRP;
2. Regulamentação das leis da República, de acordo com o artigo 227º/1, d), 2ª
parte da CRP, ou seja, se as leis da República não reservarem para o Governo
Regional o respectivo poder regulamentar;
3. Organização do funcionamento do Governo Regional, de acordo com o artigo
231º/6 da CRP.
Resoluções da assembleia legislativa com natureza regulamentar, como existem
decretos regulamentares regionais e portarias regionais.
Formas especiais: Emanam posturas municipais.
(C) Autarquias locais: Encontra-se regulada no artigo 241º da CRP, sendo esta a nível
dos municípios e das freguesias. Ver também o artigo 76º/2 da CRP.
(D) Universidades Públicas: Este consubstancia-se num direito fundamental e limita a
reserva de lei, também reconhecida como autonomia estatutária. As Associações
Públicas também detêm competência regulamentar: Artigo 267º/4 da CRP.
Regulamento universitário: Estatutos, por exemplo.
Competência regulamentar alicerçada na lei:
Princípio geral: Todas as entidades públicas têm competência regulamentar.
Artigo 142º/1 do CPA: Há o princípio nos termos do qual afirma que quem tem
competência para fazer um regulamento, tem para o interpretar, modificar ou
suspender.
Formalidades e forma:
Quanto às formalidades e à forma, a iniciativa pode ser do órgão da
Administração, ou dos particulares, segundo o artigo 97º/1 do CPA. Segundo o artigo
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98º/1 do CPA, há que conferir publicidade ao início do procedimento de todos os
regulamentos. Caso não seja cumprido, existe vício de forma.
Existe uma exigência ou uma possibilidade de participação dos interessados
porque é destinatário ou pode sofrer efeitos do regulamento, segundo os artigos 98º a
101.º do CPA.
O artigo 100º e o artigo 101º do CPA regulam ainda, respectivamente, as
situações de audiência dos interessados e consulta prévia.
Os projectos de regulamento têm de ser acompanhados de nota justificativa,
de acordo com o artigo 99º do CPA. Caso a nota não exista, a sua falta gera vício de
forma.
Os regulamentos estão sujeitos a publicação, segundo regula o artigo 135º do
CPA, cuja falta gera ineficácia.
Em relação à forma, os Decretos Regulamentares do Governo revelam-se os
mais importantes.
Consulta publica – 101º do CPA;
Publicação – 139º do CPA.
Forma: Depende da entidade que os admite.
Ilegalidade formal e procedimental:
Está sujeito ao regime do artigo 144º/2 do CPA: Passados 6 meses sem que a
ilegalidade formal tenha sido colocada em causa, consolida-se na ordem jurídica.
Ilegalidade que vira mera irregularidade. Vem aflorar que o decurso do tempo permite
que os actos anuláveis se consubstanciam na ordem jurídica se não forem postos em
causa.
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Validade e eficácia dos regulamentos:
Quanto às regras de validade e de eficácia, divide-se: 1) validade; 2) invalidade; 3)
caducidade; 4) intervenção judicial.
Em relação à validade, o artigo 143.º do Código do Procedimento
Administrativo refere que os regulamentos encontram-se sujeitos à legalidade, cuja
consequência encontra-se no artigo 143.º, números 1 e 2 do mesmo Código,
referentes à ordem externa e a ordem interna, respectivamente.
O artigo 138.º do Código do Procedimento Administrativo regula as relações
hierárquicas entre regulamentos, sendo que, segundo o número 1, os regulamentos do
Governo prevalecem sobre os Regulamentos da Regiões Autónomas e os
Regulamentos das Autarquias Locais; o número 2 refere que, face aos regulamentos
das autarquias locais, os Regulamentos dos Municípios prevalecem sobre os
Regulamentos das Freguesias; e o número 3 refere-se sobre os regulamentos
intragovernamentais. A excepção consubstancia-se quando se encontram em causa
normas especiais.
Segundo o artigo 142.º, número 2 do Código do Procedimento Administrativo,
os regulamentos não podem ser derrogados por actos administrativos individuais e
concretos, de acordo com o princípio da inderrogabilidade singular dos
regulamentos, ou seja, um regulamento não pode ser derrogado num caso concreto.
Segundo o artigo 146.º, número 2 do Código do Procedimento Administrativo,
é proibida a revogação não substitutiva dos regulamentos de execução, pois uma
revogação em termos simples provoca a inexequibilidade da lei.
Segundo o artigo 137.º do Código do Procedimento Administrativo, um
regulamento deve ser emanado, na falta de um prazo diferente, nos noventa dias
subsequentes à lei que vai dar execução, salvo se a lei fixe prazo. “Esta lei deverá ser
objecto de regulamentação no prazo de 60 dias”: O que acontece se passar o prazo e
não houver regulamentação? Inércia ou omissão ilegal. Se não fixar prazo: É o prazo de
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90 dias e se passar o prazo e estivermos perante uma inercia? O particular lesado pode
ir a tribunal pedir para que este ordene ao órgão competente para emitir o
regulamento devido (137º/2). E se o regulamento for inválido? A invalidade pode ser
por acção significa que há um desrespeito pelas proibições e há fundamentalmente
três ideias a reter:
1. A invalidade da norma regulamentar é invocável a todo o tempo (134º/1) e
pode ser declarada a todo tempo. O desvalor-rega é a nulidade;
2. Declarável a todo tempo, mas (142º/2) se a ilegalidade for formal ou
procedimental há um prazo de 6 meses. Se passar estes meses consolida-se na
ordem jurídica. Em casos de ilegalidade formal ou procedimental a regra é o
desvalor da anulabilidade;
3. Efeitos da declaração de invalidade : Artigo 144.º/3 do CPA: A ideia base tem
eficácia retroactiva e determina a repristinação (ver aulas). Excepções (144.º/4
do CPA):
a. A não retroactividade em nome da segurança jurídica salvaguarda os
casos julgados, bem como o caso decidido administrativo (decisões da
administração que se tornaram impugnáveis). Só acontece se o acto não
for desfavorável para os particulares.
A eficácia depende da publicação.
Em relação à invalidade, esta pode ser por acção ou por omissão. A invalidade
por acção é invocável a todo o tempo, segundo o artigo 144.º, número 1 do Código do
Procedimento Administrativo, salvo se exista ilegalidade formal, de acordo com o
artigo 144.º, número 2 do mesmo Código.
Quanto aos efeitos da invalidade por acção, a declaração de ilegalidade tem
efeitos retroactivos e pode determinar a repristinação do regulamento revogado.
Algumas notas: 1) só há efeito repristinatório se o regulamento ilegal for revogatório;
2) não existe efeito repristinatório se o regulamento anterior for também ilegal. Não
atinge o caso julgado, ou seja, actos administrativos ao abrigo do regulamento que foi
objecto de decisão judicial; e o caso decidido administrativo.
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Quanto à invalidade por omissão, regulada no artigo 137.º, número 2 do Código
do Procedimento Administrativo, se no prazo legal o regulamento não for emanado, os
interessados podem pedir à Administração a emissão do regulamento. Em relação aos
efeitos, em regra, não tem eficácia retroactiva, designadamente se forem
desfavoráveis, contudo o artigo 141.º do Código do Procedimento Administrativo
consubstancia uma excepção.
Quanto à cessação da vigência dos regulamentos, esta pode ocorrer por efeito
de revogação, segundo o artigo 146.º, número 1 do Código do Procedimento
Administrativo. Existe ainda o conceito de revogação proibida, ou seja, quando a
revogação se traduza quanto à execução de uma lei, de acordo com o número 2 do
mesmo artigo.
Segundo o artigo 146.º, número 1 do Código do Procedimento Administrativo,
tanto o autor como um terceiro órgão que exerça poderes de supremacia sobre o
autor podem revogar o regulamento.
O artigo 144.º, números 1 a 4 do Código do Procedimento Administrativo
regulam a decisão administrativa de invalidade.
Em relação à caducidade, esta ocorre: 1) com a verificação do termo final ou
condução resolutiva, esta encontra-se regulada pelo artigo 145.º, número 1 do Código
do Procedimento Administrativo; 2) com o desaparecimento da situação matéria ou
desaparecimento do seu objecto; 3) com o regulamento de execução quando a lei que
regulamenta é revogada, segundo o artigo 145.º, número 2 do Código do
Procedimento Administrativo.
A intervenção do legislador pode determinar a caducidade dos regulamentos, através
de intervenção na lei que a regulamenta. A revogação substitutiva da lei determina a
cessação do regulamento? Segundo o artigo 145.º, número 2 do Código do
Procedimento Administrativo, caducam com a revogação das leis que regulamentam,
salvo compatibilidade com a lei nova e cessa apenas com uma nova regulação.
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O legislador pode revogar directamente um regulamento? 1) Não é possível, se
feito pela Assembleia da República, com respeito pelo princípio da separação de
poderes; 2) O Governo não está impedido de o fazer; 3) A Assembleia da República
não poderá revogar um regulamento, mas não está impedida sobre a matéria em
causa, fazendo uma lei detalhada que origine a caducidade do regulamento.
Em relação à intervenção judicial, através da declaração de ilegalidade com
força obrigatória geral pelos Tribunais Administrativos. Se o vício for de
inconstitucionalidade, por via do Tribunal Constitucional, declarando inconstitucional
com força obrigatória geral.
Actos administrativos:
Em relação aos actos administrativos, existem vários tipos, consubstanciando-
se em actos constitutivos e actos declarativos.
Quanto aos actos constitutivos, estes distinguem-se em actos primários e actos
secundários. Face aos primeiros, identificam-se:
Actos Impositivos
São actos impositivos aqueles cujo conteúdo determina imperativamente uma
conduta ou a sujeição a certos efeitos jurídicos, podendo dividir-se: 1) actos ablativos,
sendo estes os actos mediante os quais se impõe o sacrifício de um direito a alguém
em benefício da colectividade; 2) actos obrigacionais, sendo estes os actos através dos
quais a Administração impõe a alguém uma conduta traduzida no cumprimento de
uma prestações em benefício da colectividade; 3) actos sancionatórios, sendo estes os
actos através dos quais se aplica uma sanção, sendo esta pecuniária ou não pecuniária,
a alguém por ter adoptado uma conduta contrária à legalidade.
Actos Permissivos
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São actos permissivo aqueles que permitem ou habilitam o respectivo
destinatário adoptar uma conduta ou omitir um comportamento que, em princípio, lhe
estaria vedado, podendo dividir-se: 1) autorização, sendo o acto que permite o seu
destinatário exercer um direito ou poderes legais que já anteriormente era titular; 2)
licença, sendo o acto que faculta o seu destinatário praticar um acto ou exercer uma
actividade que é relativamente proibida; 3) concessão, sendo o acto pelo qual a
Administração confere a um sujeito novas posições jurídicas activas; 4) admissão,
sendo o acto através do qual alguém ingressa numa determinada categoria, ficando
sujeita a um regime administrativo específico; 5) delegação, regulada nos artigos 44.º
a 50 do Código do Procedimento Administrativo, é o acto pelo qual o delegante
permite que o delegado exerça certos poderes cujo exercício estava, inicialmente,
apenas a cargo do primeiro destes órgãos; 6) dispensa, sendo o acto mediante o qual
se permite a alguém que não cumpra um dever legal; e 7) renúncia, sendo este o acto
pelo qual, desde que a lei o permita na margem de discricionariedade, alguém da
Administração declara que não exerce uma faculdade ou não exigirá uma posição
jurídica activa face a terceiro.
Actos Propulsores
São actos propulsores aqueles que visam promover, incitar e estimular a acção
de outros órgãos da Administração ou a actividade dos particulares, dividindo-se: 1)
pedido, sendo o acto pelo qual uma autoridade solicita a outra ou ao particular
determinado comportamento; 2) proposta, sendo o acto pelo qual se solicita um
comportamento decisório de um outro órgão e, simultaneamente, exprime um juízo
sobre o conteúdo possível a dar à decisão; 3) directiva, sendo o acto mediante o qual
uma autoridade de superintendência instiga um órgão do ente superentendido a
realizar determinado comportamento, tendo em vista alcançar os fins propostos; 4)
recomendação, sendo o acto pelo qual um órgão apela a que outra estrutura decisória
adopte no âmbito da sua competência determinada providência ou certo sentido
decisório, sem criar para este último, todavia, qualquer obrigação de o fazer; 5)
advertência, sendo o acto pelo qual a Administração convida um particular ou outro
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órgão administrativo a adoptar uma certa conduta ou a abster-se de um determinado
comportamento tendo em vista a implementação de uma obrigação.
Quanto aos actos secundários, identificam-se os seguintes:
Actos Integrativos
São actos integrativos aqueles que, tendo por objecto outros actos, visam
completar estes últimos, atribuindo-lhes algo de novo, podendo ser: 1) aprovação,
sendo este o acto que exprime um juízo de conformidade em relação à legalidade ou
ao mérito do um acto da Administração ou de um particular; 2) homologação, sendo o
acto pelo qual um órgão decisório aceita a sugestão ou a proposta de outro órgão; 3)
confirmação, sendo o acto que expressa um juízo de concordância com o conteúdo de
anterior acto; 4) ratificação-confirmativa, sendo esta o acto que manifesta um juízo de
mérito sobre um (ou vários) acto(s) praticado(s) ao abrigo de uma competência
extraordinária.
Actos Desintegrativos
Os actos desintegrativos encontram-se regulados nos artigos 165.º a 172.º do
Código do Procedimento Administrativo, dividindo-se: 1) revogação; 2) anulação
administrativa.
Actos Modificativos
São actos modificativos aqueles mediante os quais a Administração altera um
acto anterior, dividindo-se em actos modificativos sem carácter saneador e actos
modificativos com carácter saneador. Face aos primeiros, estes encontram-se
regulados no artigo 173.º, número 1 do Código do Procedimento Administrativo,
sendo os actos cujas alterações efectuadas num outro acto não têm por fim sanar
qualquer ilegalidade deste último, podendo ser: 1) alteração strictu sensu, sendo este
o acto que introduz uma modificação não saneadora num anterior acto, sem que
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envolva a paralisia de efeitos ou a correcção de erros materiais; 2) suspensão, sendo
este o acto pelo qual se paralisam, temporariamente, os efeitos de um acto anterior;
3) rectificação, regulado pelo artigo 174.º do Código do Procedimento Administrativo,
sendo o acto através do qual se visam corrigir erros de cálculo e materiais de um acto
anterior, sem que os mesmos afectem a sua validade.
Quanto aos segundos, os actos modificativos com carácter saneador
encontram-se regulados nos artigos 164.º e 173.º, números 2 e 3 do Código do
Procedimento Administrativo, sendo estes os actos cujas alterações introduzidas num
outro acto visam sanar a sua ilegalidade, podendo dividir-se: 1) ratificação-sanação,
sendo o acto praticado pelo qual o órgão competente resolve sanar a incompetência
relativa de um acto praticado por um órgão incompetente sobre a competência do
primeiro destes órgãos; 2) reforma, sendo o acto pelo qual se conserva a parte de um
acto anterior não ferida de invalidade; 3) conversão, sendo o acto mediante o qual se
aproveitam os elementos válidos de um acto inválido, deles emergindo um acto legal.
Distinção entre Recomendação e Advertência
O conteúdo de uma recomendação e de uma advertência pode ser idêntico,
contudo uma advertência não só apela a uma determinada conduta, como também
insinua-se ou diz-se expressamente que a não verificação da conduta levam a perigos.
Exemplos:
1. “Vacine-se contra a gripe” – Recomendação;
“Se não se vacinar, corre perigo” – Advertência.
2. “Se beber, não conduza” – Recomendação;
“O álcool na estrada mata” – Advertência.
Os destinatários tanto podem ser o público em geral como um órgão
administrativo.
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