processo nº 1997 - mp-go · 1777/1781. ofício de encaminhamento dos autos ao centro de apoio...
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA
PÚBLICA DE JATAÍ-GO.
“Cumprir a lei simplesmente na frieza de seu texto não é o mesmo
que atendê-la na sua letra e no seu espírito. A administração, por isso,
deve ser orientada pelos princípios do Direito e da Moral, para que ao
legal se ajunte o honesto e o conveniente aos interesses sociais” (Hely
Lopes Meirelles)
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,
através de sua representante legal, titular da Curadoria do Patrimônio Público, com
fulcro na Constituição Federal, artigos 37, caput e parágrafo 4.º; 129, inciso III; na Lei
Federal n.º 7.347/85 ( Lei da Ação Civil Pública); na Lei Federal n.º 8.429/92 (Lei de
Improbidade Administrativa); Lei Federal n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público); no Código Civil Brasileiro, artigo 186; na Constituição do Estado
de Goiás, art. 92, caput e parágrafo 4.º; e, artigo 117, inciso III; e, ainda, com base no
Inquérito Civil Público n.º 008/06 , em anexo, vem ajuizar a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DEAÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE AGENTES PÚBLICOS IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE AGENTES PÚBLICOS
em desfavor de:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí
1) ALODIO SARATE DE SOUZA, brasileiro, casado,
publicitário, vereador, portador do RG n.º 768960
SSP/MS, residente e domiciliado na Rua Caraíba, Qd.
09, Lt. 10, Setor Expansão, Chapadão do Céu-GO;
2) CLEONÉSIO VENDRÚSCULO, brasileiro,
divorciado, motorista, portador do RG n.º 2606689
SSP/GO e CPF n.º 544.493.160-53, residente e
domiciliado na Rua Guapeva, Qd. 40, Lt. 03,
Chapadão do Céu-GO.
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.
I – DO RELATÓRIO DO INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO N. 008/06:
Chegou ao conhecimento do Ministério Público do
Estado de Goiás, através de representação ofertada pela Constelação Associação
Cultural – Movimento da Transparência (fls. 05/62), que após a análise das contas da
Câmara de Chapadão do Céu-GO relativos aos meses de janeiro, fevereiro e março
de 2005, constatou-se a ocorrência de aquisições que não atendem a necessidade do
exercício das atribuições do poder legislativo municipal.
Ante essas informações, foi instaurado o Inquérito Civil
Público n.º 008/06 para apurar os fatos.
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Durante a investigação, foram ouvidas as testemunhas
Mauro Hoff Sobrinho (fls. 70/71) e Lucimeire Camargo (fls. 72/73), juntadas pela
representante cópia da Resolução n. 01249-06 do Tribunal de Contas dos
Municípios, cópia da denúncia encaminhada à Delegacia da Fazenda Pública, cópia
da denúncia apresentada ao Tribunal de Contas dos Municípios, um CD com a
gravação de entrevistas do Vereador Alodio Sarate de Souza, cópia do folheto de
propaganda da escola de informática do vereador Alodio usando o telefone da
Câmara e cópia da conta telefônica do referido telefone em nome da Câmara
Municipal (fls. 75/81).
Determinou-se a extração de cópia da conta telefônica e
do aludido panfleto para posterior juntada em procedimento próprio (Inquérito
Civil n. 005/06), que já apura irregularidades na aquisição de celulares pela Câmara
Municipal de Chapadão do Céu, bem como expedição de ofício ao Presidente do
T.C.M., através do Procurador-Geral de Justiça, requisitando cópia dos autos n.
11.852/2005 (fls. 82).
Ofício ao Procurador-Geral de Justiça a fls. 83.
Pedido de dilação de prazo ao Procurador-Geral de
Justiça para conclusão do procedimento, ofício a fls. 85.
Ofício da Chefia de Gabinete do Ministério Público
encaminhando cópias do processo n. 11852/2005 originário do T.C.M. a fls. 86/330.
Despacho a fls. 331, determinando a expedição de ofício
ao vereador Alodio Sarate de Souza requisitando informações e justificativas para
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aquisição dos produtos relacionados nos cupons fiscais de fls. 29/44, haja vista que
inúmeras mercadorias não condizem com os produtos normalmente adquiridos por
uma Câmara Municipal, bem como a relação de pessoas que consumiram os
mencionados produtos e qual a necessidade que justificou as aquisições.
Determinou-se, outrossim, informações acerca do panfleto de fls. 80, o qual faz
propaganda de determinado curso de computação promovido pelo vereador Alodio
usando o número de celulares da Câmara.
Expedição de Ofício a fls. 332.
Recebimento de representação a fls. 333/337.
Despacho da Procuradoria-Geral de Justiça indeferindo a
dilação de prazo, com sugestão de conversão do procedimento para Inquérito Civil
Público (fls. 338).
Conversão de Procedimento Administrativo em Inquérito
Civil Público a fls. 339.
Despacho a fls. 340, determinando a expedição de ofício
ao Presidente da Câmara Municipal de Chapadão do Céu, no prazo de quinze dias,
relação de todas as mercadorias adquiridas no comércio local nos últimos quatro
meses. Ofício expedido a fls. 341.
Recebimento de representação da Constelação
Associação Cultural a fls. 342/343 e documentos a fls. 344/471.
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Ofício do Presidente da Câmara de Chapadão do Céu
Cleonésio Vendrúsculo encaminhando cópia das notas fiscais de todas as
mercadorias adquiridas nos últimos quatro meses (fls. 472/643).
Oferta de resposta por Alodio Sarate de Souza a fls.
644/648.
Despacho a fls. 649 determinando expedição de ofício ao
Presidente da Câmara Municipal de Chapadão do Céu requisitando, no prazo
máximo de 10 (dez) dias, cópia das ordens de pagamento de despesas e notas de
empenho de mercadorias adquiridas no comércio local nos últimos quatro meses.
Determinou-se, outrossim, a requisição em igual prazo dos extratos das contas
telefônicas referentes ao período de janeiro a novembro de 2006, bem como a relação
de gastos com combustíveis com ordem de pagamento, nota de empenho e notas
fiscais correspondente ao mesmo período. Ofício a fls. 650.
Ofício do Presidente da Câmara de Vereadores de
Chapadão do Céu encaminhando os documentos solicitados pelo Ministério Público
a fls. 651/831 – volume III, 832/973 – volume IV , 974/1243 – volume V, 1244/1438 –
volume VI, 1439/1631 – volume VII, 1632/1773 – volume VIII.
Despacho a fls. 1774, determinando a remessa dos autos
ao Centro de Apoio Operacional do Patrimônio Público e Social para que seja
nomeado profissional técnico em verificação de contas, com o fim de promover a
análise dos valores gastos pela Câmara Municipal de Chapadão do Céu em cotejo
com os gastos com combustíveis e tarifas telefônicas de outras Câmaras com repasse
semelhante. Determinou-se, ainda, a expedição de ofício ao vereador Cleonésio
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Vendrúsculo requisitando em cinco dias, informações e justificativas para aquisição
pela Câmara de Chapadão do Ceú no ano de 2005, de produtos relacionados nos
cupons fiscais de fls. 400/471, haja vista que inúmeras mercadorias não condizem
com produtos normalmente adquiridos por uma Câmara Municipal, bem como as
pessoas que consumiram os mencionados produtos e qual a necessidade que
justifique as aquisições. Determinou-se, outrossim, a requisição de informações
acerca da existência de eventual procedimento licitatório para aquisição de móveis,
objetos de decoração e outros utensílios e/ou qualquer outro critério adotado para
aquisição dos produtos no estabelecimento “Silvane Modas”, esclarecendo-se a
necessidade que justificou a aquisição dos produtos grifados nas notas fiscais
juntadas aos autos, bem como a especificação do produto adquirido, haja vista o alto
custo daqueles.
Na oportunidade, determinou-se, outrossim, a extração
de cópias dos documentos de fls. 343-345 e o desentranhamento dos dois CD’s
constantes a fls. 345, para posterior instauração de procedimento próprio no que diz
respeito à denúncia envolvendo o vereador Marcos Antônio Navarini, o qual
confessa expressamente que paga contas médicas e tarifas de água da população
(fls. 1775).
Determinou-se, ainda, a extração de cópias dos
documentos de fls. 342/343 e 383/399 para posterior juntada nos autos de Inquérito
Civil n. 009/06, considerando a existência de procedimento próprio para apurar
irregularidades em diárias na Câmara Municipal de Chapadão do Céu.
Ofício expedido a fls. 1776.
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Resposta do vereador Cleonésio Vendrúsculo a fls.
1777/1781.
Ofício de encaminhamento dos autos ao Centro de Apoio
Operacional do Patrimônio Público a fls. 1782.
Resposta da análise técnica elaborada pelo Centro de
Apoio Operacional de Patrimônio Público e Social e Defesa da Probidade
Administrativa a fls. 1783/1909.
Despacho determinado a expedição de ofício ao atual
Presidente da Câmara requisitando cópia das notas fiscais de todas as mercadorias
adquiridas no comércio local no período de janeiro de 2005 até junho de 2006, bem
como ordens de pagamento de notas de empenho relativas ao pagamento -
1910/1913.
Pedido de informações ao vereador Cleonésio
Vendrúsculo acerca da aquisição de alguns produtos, bem como determinação de
realização de inspeção in loco com relatório circunstanciado pelo Oficial de
promotoria, com especificação e levantamento fotográfico de alguns produtos
adquiridos.
Resposta do Presidente da Câmara José Wilson
Arcângelo pedindo concessão de prazo para a requisição a fls. 1922/1923.
Resposta do vereador Cleonésio Vendrúsculo a fls.
1924/1926.
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Concessão de prazo a fls. 1927.
Relatório circunstanciado apresentado pelo Oficial de
Promotoria a fls. 1929/1953.
Despacho determinando a realização de perícia pelo
Núcleo Regional da polícia Técnica Científica de Jataí nos objetos descritos e
relacionados no relatório circunstanciado e levantamento fotográfico – fls. 1954.
Laudo de avaliação de objetos a fls. 1956/1979.
Relatório final a fls. 1981/1986, concluindo pelo ingresso
da ação civil pública por ato de improbidade administrativa em desfavor de Alodio
Sarate e Cleonésio Vendrúsculo pelas compras irregulares, bem como pelo
arquivamento em relação aos gastos com combustíveis e tarifas telefônicas.
É o escorço dos autos de Inquérito Civil Público n. 008/06.
II- DOS FATOS E DAS PROVAS:
Conforme já foi exposto no item anterior, chegou ao
conhecimento do Ministério Público do Estado de Goiás, através de representação
ofertada pela Constelação Associação Cultural – Movimento da Transparência (fls.
05/62), que após a análise das contas da Câmara de Chapadão do Céu-GO relativos
aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2005, na administração do Vereador
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Alodio Sarate, constatou-se a ocorrência de aquisições que não atendem a
necessidade do exercício das atribuições do poder legislativo municipal.
No curso das investigações pelo Ministério Público, o
Movimento da Transparência ofereceu nova representação, informando que o então
Presidente da Câmara naquela época, Cleonésio Vendrúsculo, também adquiriu
mercadorias desnecessárias ao exercício das atribuições do legislativo municipal,
incomuns aos gastos normais de uma Câmara Municipal, bem como adquiriu
móveis e utensílios no ano de 2006 com valores acima do custo real.
No comunicado feito pelo Movimento da Transparência
constante a fls. 333/337, endereçado à população de Chapadão do Céu, também há
menção de altos gastos realizados pela Câmara de Chapadão do Céu no que tange
aos combustíveis e tarifas telefônicas.
Visando apurar a veracidade das denúncias, o
Ministério Público requisitou da Câmara Municipal de Chapadão do Céu cópia
das ordens de pagamento de despesas e notas de empenho de mercadorias
adquiridas no comércio local nos últimos quatro meses, bem como os extratos das
contas telefônicas referentes ao período de janeiro a novembro de 2006, e a relação
de gastos com combustíveis com ordem de pagamento, nota de empenho e notas
fiscais correspondente ao mesmo período.
A fls. 651/1.774 foram apresentados pela Câmara
Municipal de Chapadão do Céu os documentos requeridos.
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Empreendendo detida análise dos documentos juntados,
percebe-se uma série de aquisições, no mínimo, “estranhas” à uma Câmara de
Vereadores, como por exemplo:
• uma bolsa executiva (fls. 759), chiclete buzzy (fls.
785), pasta executiva marron (fls. 805), biscoitos de
todos os sabores (fls. 823, 825), 06 isqueiros bique (fls.
829), doce cremoso pasta (fls. 958), uma antena
parabólica century (fls. 974);
• queijo colonial (fls. 406/407), frutas diversas (fls.
408/409), castanha de caju (fls. 409), panetone (fls.
417), cachorro quente (fls. 422), natu chá
emagrecedor (fls. 425), escova de dentes e creme
dental (fls. 429), geléia (fls. 433), maionese (fls. 436),
chicle ping pong (fls. 436), doce (fls. 437), iogurte (fls.
442), vinho lambrusco, lingüiça calabresa, arroz,
farofa, sal refinado, sal para churrasco, feijão,
azeitona, costelinha, carne de porco sem pele, bacon
em manta, cupim bovino, picanha, contra-filé (fls.
443);
• salgado (fls. 444), salsicha, catchup (fls. 448), trident
cereja (fls. 452), ginkgo biloba, pó digestivo,
camisinha para chimarrão (fls. 453), alho, milho para
pipoca, lentilha, alho, chiclete tridente tutti-frutti (fls.
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457), nugget superbranco, protetor labial (fls. 458),
“cueca virada” (???) (fls. 459);
• doce goiabada (fls. 487), requeijão (fls. 499), fruteira
(fls. 523), balla toffer (fls. 526), jogo de prato (fls. 531),
pipoca de vários sabores (fls. 541), namoradeira (fls.
543), porta-retrato, maleta (fls. 545), 14 porta-revista
(fls. 547), bomba chimarrão, chá para chimarrão, cuia
para chimarrão (fls. 549);
• sanduicheira (fls. 565), caixa de fogos (fls. 583), batata
palha, carne moída, milho refogado (fls. 587), aroma
de flores para chimarrão (fls. 596), amendoim caipira
(fls. 606), pegador de massa inox (fls. 626), cerveja
skol garrafa (fls. 627), gengibre (fls. 639);
• batata whaw, cebola, creme de leite, chocolate
hersheys (fls. 22), doce abóbora, salame milano,
atum, (fls. 23) chiclete (fls. 30), pera caqui, manga
(fls. 31), lima, ameixa importada, nectarina (fls. 32),
moranguinho, bala c/chocolate, c/ café, c/ leite (fls.
33), alface importada (fls. 37), batata ruffles
churrasco (fls. 39), pêssego, uva, maçã (fls. 44);
Assim, pergunta-se, qual foi a necessidade que justificou
tais aquisições, sendo que a maioria destes produtos foram adquiridos mais de
uma vez ?
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Como se explica, sem subterfúgios e desculpas vazias, a
aquisição de vinho lambrusco, chicletes, chocolate hersheys, batata ruffles e doces
variados ?
Tanto a resposta apresentada pelo vereador Alodio
Sarate, quanto pelo vereador Cleonésio Vendrúsculo não são satisfatórias, sendo
que este último até reconhece a irregularidade de alguns gastos, justificando que
foram adquiridos por uma servidora sem o seu conhecimento. Todavia, ambos os
vereadores eram os ordenadores de despesas, sendo responsáveis pelos gastos
efetuados.
Ademais, a alegação de que muitas das despesas foram
realizadas na época da inauguração do novo prédio da Câmara Municipal de
Chapadão do Céu, bem como na confraternização de final de ano, oportunidades
em que estavam presentes várias autoridades, também não se justifica, haja vista
que as datas das notas fiscais são variadas (desde janeiro de 2005 até dezembro de
2006).
Nem há que se argumentar que não foram adquiridos
tais produtos, haja vista que há comprovantes do pagamento, como notas de
empenho e ordens de pagamento de todas as aquisições estapafúrdias.
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Não é intenção do Ministério Público determinar como
deve ser gasto o duodécimo da Câmara, contudo, é obrigação deste órgão
ministerial velar pela obediência aos princípios da Administração Pública e pelo
combate ao enriquecimento ilícito e prejuízo ao erário pelos servidores públicos.
Por certo, em uma pequena comunidade de
aproximadamente cinco mil habitantes, gastos excessivos e descabidos como os
que aqui são mencionados traz revolta à sociedade e descrédito nos agentes
políticos, haja vista que se tem a impressão que ao usar o dinheiro público, o
desiderato é se “dar bem a qualquer custo”, inclusive fazendo compras para uso
pessoal dos vereadores e de seus apadrinhados.
Não é crível e compreensível que o duodécimo
originado do suado dinheiro pago em impostos pelo contribuinte seja usado para
pagar produtos como cerveja, costelinha, chiclete, ameixa importada, cuia, bomba
e chá para chimarrão para os vereadores e seus servidores, enquanto a maioria da
população trabalha severamente para ter o arroz e feijão de cada dia!!
É um abuso por parte do ordenador de despesas
autorizar tais gastos e outros descabidos, como por exemplo, namoradeira, porta-
retrato e sanduicheira, ciente de que tais produtos são supérfluos e de luxo !!
Ademais, sabe-se que os vereadores não trabalham todos os dias, em período
integral, de modo a justificar as aquisições de tais produtos !!
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Em verdade, o desenfreado gasto do dinheiro público
com produtos que demonstram tanto desprezo à moralidade administrativa,
incrementa a idéia de que a coisa pública não é de ninguém e não merece respeito,
quando, na verdade, os verdadeiros donos que são os contribuintes, sequer já
provaram a maioria dos produtos que “bancam” para os vereadores da Câmara
Municipal de Chapadão de Céu.
É vergonhoso e revoltante!!
Não bastasse a pequenez das condutas que demonstram,
na verdade, que “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”,
denotando total despreparo para o trato com a coisa pública, verifica-se, ainda, a
aquisição de produtos totalmente desnecessários como cinzeiros, sendo que no
local é proibido fumar.
III )- DO DIREITO
III.1 )- DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
No artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988,
estão relacionados os princípios em que devem se pautar todos os atos da
Administração Pública, verbis :
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
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Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(omissis) ”
III.2 ) DO PRINCÍPIO DA MORALIDADE - CONSIDERAÇÕES.
É imperioso afirmar que aparente legalidade não implica
necessariamente em moralidade.
“Por considerações de Direito e de Moral, o ato
administrativo não terá que obedecer somente à lei
jurídica, mas também à ética da própria instituição,
porque nem tudo que é legal é honesto, conforme já
proclamavam os romanos ‘nom omne quod licet
honestum est’. A moral comum, remata Hauriou é
imposta ao homem por sua conduta externa; a moral
administrativa é imposta ao agente público para sua
conduta interna, segundo as exigências da instituição a
que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum.(...)
Princípio da Moralidade Administrativa. De acordo
com ele a Administração e seus agentes têm de atuar na
conformidade de princípios éticos. Violá-los implicará
violação ao próprio direito, configurando ilicitude que
assujeita a conduta viciada a invalidação, porquanto tal
princípio assumiu foros de pauta jurídica. ( ... )
Segundo os Cânones da lealdade e da boa fé a
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Administração haverá de proceder em relação aos
administrados com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe
interdito qualquer comportamento astucioso, eivado de
malícia, produzido de maneira a confundir, dificultar
ou minimizar o exercício de direito por parte dos
cidadãos” . (grifos nossos) ( Celso Antônio Bandeira de
Melo, op. cit. p. 69
Segundo José Augusto Delgado:
“o valor jurídico do ato administrativo não pode se
afastado de seu valor moral, implicando isso um
policiamento ético na administração. A motivação e o
modo de agir do agente público submetem-no a
controles, especialmente ante o princípio da moralidade
administrativa. Ações maliciosas ou imprudentes
devem ser reprimidas. A doutrina há de buscar alcance
largo ao princípio da moralidade” (O princípio da
moralidade administrativa e a Constituição Federal de
1988, in RT 680/38, junho de 1992, apud Fábio Osório
Medina, Improbidade Administrativa, 2.ª ed. , Porto
Alegre, Síntese, 1998, p. 144 )
III.3 ) DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Diz o artigo 37, caput, e parágrafo 4º, da Constituição
Federal:
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“Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
...
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível”.
Para atender ao comando constitucional, foi erigida a Lei
n.º 8.429, de 02.06.92, que “dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos
nos casos de enriquecimento ilícito, no exercício de mandato, cargo, emprego ou
função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras
providências”.
Conferindo na obra de De Plácido e Silva o verbete
Improbidade Administrativa, encontra-se:
“Improbidade. Derivado do latim improbitas ( má
qualidade, imoralidade, malícia), juridicamente, liga-se
ao sentido de desonestidade, má fama, incorreção, má
condução, má índole, mau caráter. Desse modo,
improbidade revela a qualidade do homem que não se
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procede bem, por não ser honesto, que age indignamente,
por não ter caráter, que não atua com decência, por ser
amoral. Improbidade é a qualidade do ímprobo. E
ímprobo é o mau moralmente, é o incorreto, o
transgressor das regras da lei e da moral. Para os
romanos, a improbidade impunha a ausência de
existimatio , que atribui ao bom conceito. E sem a
existimatio, os homens se convertem em homines
intestabiles, tornando-se inábeis, portanto, sem
capacidade ou idoneidade para a prática de certos
atos” (Vocabulário Jurídico, vol. II e III, 12.ª edição,
Editora Forense, págs. 431 e 210”)
A Lei n.º 8.429/92 surgiu para impor sanções aos agentes
ímprobos e desta forma, tutelar o bem jurídico de interesse coletivo que é a
probidade administrativa. Não conceituou o que seria ato de improbidade
administrativa, mas enunciou três categorias de atos administrativos e elencou,
numerus apertus, algumas condutas a fim de facilitar a aplicação da norma.
As categorias dos atos de improbidade administrativa
podem ser visualizadas a partir da leitura das seções do Capítulo II da referida Lei,
que trata dos atos de improbidade administrativa.
a ) Os atos de improbidade administrativa que importem Enriquecimento
Ilícito, conforme caput do artigo 9º, verbis:
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“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer
tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no art. 1.º desta
Lei, e notadamente: ...”.
b ) Os atos de improbidade administrativa que causam Prejuízo ao Erário,
conforme caput do artigo 10, verbis:
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa
que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres das entidades no art. 1º desta Lei, e
notadamente: ...”.
c ) Os atos de improbidade administrativa que atentam contra os Princípios
da Administração Pública, conforme caput do artigo 11, verbis:
“Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão
que viole os deveres de honestidade,
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imparcialidade, legalidade e lealdade às
instituições, e notadamente: ...”.
III. 4 ) DAS MEDIDAS JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS AGENTES ÍMPROBOS
Também houve a atenção do legislador na Lei n.º
8.429/92 em definir quem seriam os sujeitos passivos das sanções
nela previstas, isto é, quais as pessoas que podem figurar como agentes
ímprobos passíveis de suas sanções:
“Art. 1º Os atos de improbidade praticados por
qualquer agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de
empresa incorporada ao patrimônio público ou de
entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta por
cento) do patrimônio ou da receita anual, serão punidos
na forma desta lei.
...
Art. 2.º . Reputa-se agente público, para os efeitos desta
Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de
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investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3.º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma
direta ou indireta”.
A referida Lei elencou todas as sanções cabíveis aos
agentes públicos ímprobos, em seu artigo 12, verbis :
“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas, previstas na legislação específica, está
o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações:
I – na hipótese do art. 9º, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento
integral do dano, quando houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10
(dez) anos, pagamento de multa civil de até 3 (três)
vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10
(dez) anos;
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II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
função pública, suspensão dos direitos políticos de 5
(cinco) a 8 (oito) anos, pagamento de multa civil de até 2
(duas) vezes o valor do dano e proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefício ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de 5 (cinco) anos;
III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do
dano, se houver, perda da função pública, suspensão
dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos,
pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor
da remuneração percebida pelo agente e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3
(três) anos.”
III. 5 ) DO PREJUÍZO AO ERÁRIO E DA NECESSIDADE DE RESSARCIR
Ato de improbidade lesivo ao erário levado a efeito pelo
titular do vínculo administrativo é qualquer conduta ilegal que ofenda a
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integridade do patrimônio público econômico, compreendidos os três setores em
que há gerenciamento e destinação de valores e bens públicos.
O ressarcimento do erário em caso de prejuízo, não só
decorre dos artigos 186 e 927 do Código Civil, mas também de disposição expressa
da Lei de Improbidade Administrativa, conforme disposição de seu artigo 5.º:
“Art. 5º Ocorrendo lesão ao patrimônio público por
ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de
terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano”.
Argumenta-se que o pedido de reparação de dano não
precisa ser estabelecido de forma definitiva, sendo lícito o pedido genérico, quando
não for possível, num primeiro momento, estabelecer a extensão do dano, conforme
art. 286, II, do CPC.
No caso em apreço, ainda não há a quantificação exata do
prejuízo e da quantia que deverá ser ressarcida aos cofres públicos, haja vista a
efetivação de inúmeras despesas com data e valores variados, tanto pelo requerido
Alodio Sarate quanto pelo requerido Cleonésio Vendrúsculo. Assim, os valores
deverão ser apurados no curso do processo e na fase de execução.
Sobre o tema:
“Neste passo, a nosso juízo, devem incidir as regras
contidas nos arts. 286, II, do CPC (O pedido deve ser
certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido
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genérico: II – quando não for possível determinar, de
modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato
ilícito) e 14 da lei da Ação Popular (Se o valor da lesão
ficar provado no curso da causa, será indicado na
sentença; se depender de avaliação ou perícia, será
apurado na execução), sendo importante notar que a
imprecisão, no caso, não recai sobre a ocorrência do
dano, mas sim sobre o seu preciso valor, o que poderá ser
objeto de apuração no curso do processo ou mesmo na
fase de execução.” (Emerson Garcia e Rogério Pacheco
Alves in Improbidade Administrativa -Ed. Lumen Juris- 3ª
ed. - p. 708)
III.6 ) DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMIISTRATIVA NO CASO CONCRETO.
A conduta dos vereadores Alodio Sarate e Cleonésio
Vendrúsculo descritas na primeira seção, importaram em violação de princípios da
legalidade, da impessoalidade e da moralidade da Administração Pública, e
causaram prejuízo ao erário, encontrando subsunção nas hipóteses de atos de
improbidade definidas na Lei n.º 8.429/92. Vejamos.
Primeiro é de se destacar que a finalidade dos entes
políticos é o interesse público. Desse modo, moradores do município de Chapadão
do Céu criaram uma entidade não governamental denominada Constelação
Associação Cultural, a qual tem como objetivo acompanhar o desempenho
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orçamentário e financeiro do município de acordo com a Lei de Responsabilidade
Fiscal e fiscalizar, como cidadãos, o alcance da finalidade dos entes públicos.
Em uma análise acurada das contas do Legislativo
municipal, observou-se, com constância, aquisições que aparentemente não
atendiam a necessidade do exercício das atribuições do poder legislativo de
Chapadão do Céu.
A despeito da alegação dos vereadores Alodio Sarati e
Cleonésio Vendrúsculo de que os gêneros alimentícios foram adquiridos e
consumidos por vereadores e servidores na Câmara Municipal de Chapadão do
Céu, insta salientar que tais aquisições foram desnecessárias e altamente onerosas
para o Poder Legislativo, causando, deste forma, lesão ao erário público.
Outrossim, cumpre esclarecer que o argumento utilizado
por Alodio Sarate de que a Câmara de Chapadão do Céu economizou no ano de
2005, vez que no período compreendido entre janeiro a agosto de 2005 foi devolvido
ao Poder executivo a importância de R$ 177.500,00 (cento e setenta e sete mil e
quinhentos reais), não é suficiente para descaracterizar a improbidade
administrativa, haja vista que não foram observados os princípios da razoabilidade
e economicidade, posto que a quantia devolvida teria sido ainda maior.
Destarte, a manobra utilizada pelos representados para
demostrar a legalidade no fornecimento de lanches aos funcionários e membros do
legislativo municipal, tem como objetivo esconder o procedimento astucioso e
malicioso de buscar infringir a norma constitucional, haja vista serem condutas
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imorais, que caracterizam, indiscutivelmente, o ato de improbidade administrativa
nos termos da Constituição Federal e da Lei 8.429/92.
No tocante à aprovação de contas pelo Tribunal de
Contas do Município, é imperioso destacar que tal fato levou os membros do
legislativo daquela municipalidade a dar continuidade as aquisições de mercadorias
que não condizem com produtos normalmente adquiridos por uma Câmara
Municipal, gerando uma espécie de “incentivo”.
Por tais razões a Lei de Improbidade Administrativa é
clara:
“Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta Lei
independe:
I- da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público;
II- da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de
controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de
Contas.”
Não fossem somente os lanches oferecidos aos
funcionários, no ano de 2006, o então presidente Cleonésio Vendrúsculo também
adquiriu objetos como peças decorativas no valor total de R$ 5.308,51 (cinco mil
trezentos e oito reais e cinqüenta e um centavos), e embora seja proibido fumar em
qualquer ambiente da Câmara, conforme avisos expostos naquele local, foram
adquiridos 16 (dezesseis) cinzeiros com preço unitário de R$ 30,06 (trinta reais e seis
centavos) totalizando R$ 481,10 (quatrocentos e oitenta e um reais e dez centavos) –
fls. 470/471, bem como vinhos, morangos, nugget superbranco, chiclete, chocolate, dentre
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outras, conforme inúmeros documentos acostados aos autos, em clara deliberação
de causar prejuízo ao erário e ferir o princípio da moralidade.
É de se frisar que as aquisições eram perfeitamente
dispensáveis, não trouxe ganho algum a administração pública. Ao contrário, trata-
se de um gasto supérfluo, cabendo àqueles que deram causa a este gasto ressarcir
integralmente o erário, já que o investimento poderia ter sido empregado em prol da
coletividade e dos contribuintes.
Insta frisar que o dinheiro público não pode ser
desperdiçado por quem tem a obrigação de administrá-lo com eficiência e
economicidade, exigindo-se do administrador uma eficiência mínima.
Oportuno, neste ponto, colacionar a lição de Fábio
Medina Osório que expõe.
“... a improbidade decorre da quebra do dever de
probidade administrativa, que descende, diretamente, do
princípio da moralidade administrativa, traduzindo dois
deveres fundamentais aos agentes públicos: honestidade
e eficiência funcional mínima. Daí decorre a idéia de que
improbidade revela violação aos deveres de honestidade
“lato sensu” e eficiência profissional em sentido amplo.
Ímprobo é o agente desonesto, tanto que se fala, de modo
pouco técnico, em lei anti-corrupção (terminologia
impregnada de conteúdo do direito penal), indicando-se
que a falta de honestidade é causa de improbidade; mas
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também ímprobo o agente incompetente, aquele que, por
culpa, viola comandos legais, causando lesão ao erário,
demonstrando ineficiência intolerável no desempenho de
suas funções. (grifo nosso) ( Improbidade Administrativa,
Observações sobre a Lei 8.429/92, Editora Síntese, 2ª
edição )
Neste sentido, trago posicionamento dos juristas Sérgio
Ferraz e Lúcia Valle Figueiredo:
“quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo por
sua conta, risco e perigos. Pois, impugnada a despesa, a
quantia gasta irregularmente terá que retornar ao erário
público. Não caberá a invocação, assaz de vezes
realizada, de enriquecimento da Administração.”
( Dispensa e Inexigibilidade de Licitação, Malheiros
Editores, São Paulo, Sarraiva, 1994, p. 93 ).
Do exposto, deflui que a conduta dos requeridos foi
imoral e abjeta encontrando perfeita adequação nos artigos 10, caput da Lei de
Improbidade Administrativa (Lei n.º 8.492/92). Vejamos.
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa
que causa lesão ao erário, qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
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desta Lei, e notadamente :(...)
XI – liberar verba pública sem a estrita observância das
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para
sua aplicação irregular; “(grifamos)
Inegavelmente, também se subsume a conduta dos
Vereadores na violação dos deveres da honestidade e legalidade, o que também
configura ato de improbidade administrativa nos termos do artigos 11, I da Lei de
Improbidade Administrativa (Lei n.º 8.492/92). Vejamos.
“Art. 10. “Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que
viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto na regra de
competência;”.
Deste modo, configurado o ato de improbidade
administrativa praticado pelos requeridos Alodio Sarate e Cleonésio Vendrúsculo,
consoante demonstram os documentos integrantes do Inquérito Civil Público n.
008/06, impõe-se a condenação daqueles nas penas pertinentes.
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III.7 ) DA NECESSIDADE DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS DOS
REQUERIDOS.
Sem dúvida, um dos maiores problemas enfrentados em
casos como o presente é a existência de condenação, e contraditoriamente, a
inocuidade da sentença no que se refere ao ressarcimento dos prejuízos causados ao
Patrimônio Público, haja vista o complexo procedimento previsto para a tramitação
da ação civil pública.
Com o fim de evitar tal fato, o legislador pátrio vem
criando mecanismos para assegurar a devolução de quantias apropriadas ou
prejuízos causados ao Erário.
Uma das inovações surgidas no que se refere aos atos de
improbidade por agentes públicos encontra-se caracterizada na indisponibilidade
dos bens, visando posterior ressarcimento.
Esse é o ensinamento do emérito doutrinador Marcelo
Figueiredo:
“A indisponibilidade é medida de cunho emergencial e
transitório. Sem dúvida, com ela, procura a lei assegurar
condições para a garantia do futuro ressarcimento civil.
O dispositivo não exige prova cabal (muita vez
inexistente nessa fase, como é de se supor), mas
razoáveis elementos configuradores da lesão, por isso a
redação legal ‘quando o ato de improbidade causar lesão
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ao patrimônio’. Exige-se, portanto, s.m.j., não uma prova
definitiva da lesão (já que estamos no terreno
preparatório), mas ao contrário, razoáveis provas para
que o pedido de indisponibilidade tenha trânsito e seja
deferido. De outra parte, o enriquecimento ilícito
também autoriza a indisponibilidade dos bens do
indiciado. Também aqui a exigência de documentação
hábil a comprovar a figura do enriquecimento ilícito; do
contrário, será arbitrário seu deferimento. Sem tais
requisitos será impossível dar trânsito ao pedido de
indisponibilidade” ( Probidade Administrativa, 2.ª ed.,
São Paulo, Malheiros, 1997, págs. 33/34).”
Para tanto, dispõe a Lei n.º 8.429/92, em seu artigo 7º e
parágrafo único:
“Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao
patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,
caberá a autoridade administrativa responsável pelo
inquérito representar ao Ministério Público, para a
indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
caput deste artigo recairá sobre os bens que assegurem
o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”
Importante destacar que as multas previstas no artigo 12
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da Lei n.º 8.429/92 também têm o caráter punitivo e devem ser consideradas para
se compor no conjunto de bens colocados indisponíveis.
Destaque-se que a indisponibilidade prevista no artigo 7.º
prescinde da existência do periculum in mora eis que ele é presumido. Neste sentido,
é a doutrina mais balizada:
“O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios
termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante,
em tese, de prejuízos causados ao erário (...) a
indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória,
pois traduz conseqüência jurídica do processamento da
ação, forte no art. 37, §4º, da Constituição Federal.”
(FÁBIO MEDINA OSÓRIO, ob. citada, p. 240/241)
“Razoável o argumento que exonera a presença do fumus
boni iuris e do periculum in mora para a concessão da
indisponibilidade dos bens (... ) a lei presume a estes
requisitos ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a
medida acautelatória tende à garantia da execução da
sentença, tendo como requisitos específicos evidências de
enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo
indiferente que haja fundado receio de fraude ou
insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos
do ato hostilizado. Exsurge, assim, a indisponibilidade
como medida de segurança obrigatória nessas
hipóteses.” ( WALLACE PAIVA MARTINS JÚNIOR
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-Probidade Administrativa, São Paulo, Saraiva, 2001, p.
329 )
Nesta seara, há julgados no Tribunal Regional Federal da
1.ª Região e, por exemplo, o Acórdão do Tribunal de Justiça do Mato Grosso,
colacionado na obra acima.
“Exsurgindo dos autos da ação civil pública provas
convincentes da improbidade administrativa, pode o
Juiz determinar, a requerimento do autor, a
indisponibilidade dos envolvidos, à vista do periculum
in mora ínsito do artigo 7.º da Lei 8.429/92, devendo,
contudo, guardar proporcionalidade com a reparação
civil perseguida ( 1.ª Câm., AgI 8.234, Paranatinga, Rel.
Des. Orlando de Almeida Perri, 20-4-1998, RT, 759:319 )
Por fim, lembra-se que decretada a indisponibilidade
continuará o Réu na posse dos bens, não acarretando qualquer prejuízo a não ser a
necessidade de autorização judicial para qualquer ato de disposição.
Destarte, no caso em voga, faz-se necessária a decretação
da indisponibilidade dos bens dos requeridos, ex-Presidentes da Câmara Municipal
de Chapadão do Céu, ainda vereadores, ante a latente constatação da efetiva prática
dos atos narrados e de sua lesividade.
Urge observar que a indisponibilidade dos bens deve
ser o bastante para cobrir o prejuízo ao Erário, bem como o pagamento da multa
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civil prevista na Lei de Improbidade, nos incisos do artigo 12 que pode ser de até
duas vezes o valor do dano ( inciso II ), ou ainda até cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente ( inciso III ).
Assim, muito embora não se tenha definido o valor real
do prejuízo causado ao erário pelos requeridos, há estimativa de que o valor do
prejuízo causado por cada um, tenha sido próximo de R$ 8.000,00 (oito mil reais).
Considerando que a pena de multa prevista para a infringência do art. 10, da Lei de
Improbidade Administrativa, é de duas vezes o valor do dano, requer seja decretada
a indisponibilidade de bens até o valor de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) para
cada um dos requeridos, recaindo sobre qualquer bem daqueles.
IV ) DOS PEDIDOS:
Em face do exposto, requer o Ministério Público do
Estado de Goiás:
a) liminarmente, que Vossa Excelência determine a indisponibilidade dos
bens dos requeridos até o limite de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) para
cada um, expedindo-se mandado aos Cartórios de Registros de Imóveis de
Chapadão do Ceú e Jataí, bem como ao DETRAN, para que informem a
existência de bens e o valor;
b) reconhecer a devida forma desta exordial, determinar sua autuação,
juntamente com a do Inquérito Civil Público n. 008/06 e a notificação dos
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requeridos para oferecer manifestação por escrito, no prazo legal ( Art. 17,
§ 7.º, da Lei 8.429/92, com a redação dada pela MP 2.225-45, de 4.9.2001 );
c) após decorrido o prazo para manifestação acima, com ou sem a
apresentação dela, que Vossa Excelência, em decisão fundamentada, receba
a petição inicial1 e determine a citação dos requeridos para apresentarem
contestação, se quiserem ( Art. 17, § 8.º e § 9.º da Lei 8.429/92, com a
redação dada pela MP 2.225-45 de 4.9.2001 );
d) a intimação do Município de Chapadão do Céu, através de seu Prefeito2,
para facultativamente, intervir para os fins do art. 17, § 3º , da Lei n.º
8.429/92;3
e) que a comunicação pessoal dos atos processuais se proceda, nos termos do
art. 236, § 2º, do Código de Processo Civil, e do art. 41, inciso IV, da Lei n.º
8.625/93;
f) seja julgado procedente o pedido para reconhecer a existência do ato de
improbidade administrativa;
g) seja julgado procedente o pedido de condenação dos requeridos nas
sanções civis, nos termos do artigo 12, II da Lei 8.429/92;
1 Isto é, reconheça a relação jurídico-processual, condições da ação e pressupostos processuais.2Segundo Emerson Garcia, ob. citada, “no caso da ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no §3º do art. 6º da Lei n. 4717/65.” 3 Para a 1.ª Câm. de Direito Público do TJ-SP, AC 31.194-5/4, Rel. Scarance Fernandes, 9-3-1999, v.u., “ou ingressa pessoa jurídica no pólo ativo, ou não ingressa em nenhum dos pólos, permanecendo inerte.
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h) em não sendo reconhecido o dano ao patrimônio público, que aos
ímprobos, ao menos, sejam aplicadas as sanções do art. 12, III, da Lei 8.429
por infração aos princípios regentes da atividade estatal;
i) que sejam os requeridos condenados nos ônus da sucumbência.
O Ministério Público do Estado de Goiás indica e requer
como meio de provar o alegado, além dos documentos anexos, depoimentos
pessoais e perícias, sob pena de confesso, que ficam desde já requeridos, as
demais provas admitidas em direito e que se fizerem necessárias ao pleno
esclarecimento desse Juízo.
Dá-se a presente o valor de R$ 16.000,00 (dezesseis mil
reais).
Nestes termos, pede DEFERIMENTO.
Jataí, 19 de fevereiro de 2008.
KEILA MARTINS FERREIRA GARCIA
Promotora de Justiça
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