processo n.º 43/2007 (recurso contencioso) - court.gov.mo · deliberação da comissão de...
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Processo n. 43/2007
(Recurso Contencioso)
Date : 3 de Maio de 2007
Recorrente: Comisso de Reviso (Imposto do Selo) da DSF
Recorrido: A
ACORDAM OS JUZES NO TRIBUNAL DE SEGUNDA
INSTNCIA DA R.A.E.M.:
I - RELATRIO
Tendo A interposto recurso contencioso de anulao da
deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo, de 18 de
Janeiro de 2006, foi ao mesmo dado provimento por sentena proferida
pelo Tribunal Administrativo em 29 de Setembro de 2006.
Decidindo, foi pelo Mmo Juiz daquele Tribunal anulada a
identificada deliberao, que havia rejeitado a reclamao apresentada
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pela contribuinte "A" com fundamento na sua extemporaneidade.
Deciso de anulao fundamentada no facto de tal deliberao
se ter baseado em elementos errados, de facto e de direito.
No se conformando com esta deciso foi, pelo ora recorrente,
interposto o competente recurso por Carlos Fernando de Abreu vila, na
qualidade de Presidente da Comisso de Reviso do Imposto do Selo,
concluindo as suas alegaes da seguinte forma:
A Sentena do Tribunal Administrativo proferida em 29 de Setembro de 2006,
decidindo anular a deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo com fundamento
na sua ilegalidade em virtude da suspenso do prazo para a reclamao apresentada pela
contribuinte, por aplicao analgica do n. 2 do artigo 27. do CPAC, incorre em erro de
interpretao e aplicao da lei.
A Deciso recorrida padece de erro de julgamento, que se invoca, em virtude do
fundamento em que assenta - a jurisprudncia dominante no Supremo Tribunal
Administrativo de Portugal, que faz uma interpretao e aplicao ana1gica do disposto no
artigo 31 da LPTA, cujo contedo semntico semelhante ao do artigo 27 do CPAC,
aplicando o seu efeito interruptivo em sede de recurso administrativo, impulsionado pelo
preceito constitucional do artigo 268.
Erra a Deciso recorrida no ordenamento jurdico da Regio, o artigo 70 do CPA,
que corresponde ao artigo 68 do CPA de Portugal, ressalva a previso da alnea a) que
exige que da mesma conste o texto integral do acto, cumprindo-se assim o dever de
fundamentao previsto no artigo 114 do CPA.
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Porm, esta identidade aparente porque so diversas as solues apontadas pelo
legislador em caso da notificao deficiente.
Em Portugal, o interessado pode invocar o regime do artigo 31, n 2 da LPTA,
idntico ao artigo 27, n 2 do CPAC, beneficiando da suspenso do prazo de impugnao
administrativa a partir do momento em que requer Administrao a notificao dos
elementos em falta, at notificao do requerido.
A Deciso recorrida parte do pressuposto da aplicao do artigo 27, n 2 do CPA,
com fundamento na existncia de uma lacuna no sistema jurdico da Regio.
Porm, o legislador da Regio colmatou a lacuna existente na LPTA de Portugal
atravs do artigo 108 do CPAC, que prev a aco para prestao de informao, consulta
do processo ou passagem de certido, que pode ser interposta pelos interessados quando a
notificao de actos administrativos omita as indicaes do artigo 70 do CPA conferindo a
tal interposio o efeito suspensivo da contagem dos prazos de impugnao administrativa.
Este o meio prprio e apto a efectivar as garantias da contribuinte no caso da
Administrao no cumprir o seu dever legal imposto pelo artigo 114 do CPA de expedir
uma notificao nos exactos termos do atrigo 70 do CPA.
Inexiste qualquer lacuna pelo que o recurso aplicao analgica do artigo 27, n
2 do CPAC aos prazos de impugnao administrativa, assim incorrendo a Sentena do
Tribunal Administrativo numa errada interpretao e, consequentemente, errada aplicao
da lei ao decidir pela ilegalidade da Deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo
de 18 de Janeiro de 2006.
In casu, a Administrao Fiscal fez uma correcta interpretao e aplicao da lei
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aos factos, no estrito respeito pelos princpios contidos no CPA concluindo-se, deste modo,
que o acto da Comisso de Reviso do Imposto do Selo, cuja impugnao a contribuinte, ora
recorrida requereu, legal e justo.
Nestes termos, entende que deve ser concedido provimento ao
presente recurso, revogando-se a sentena recorrida, mantendo-se a
deciso Comisso de Reviso do Imposto do Selo de 18 de Janeiro de
2006, que decidiu pela no apreciao da reclamao apresentada pela
empresa A, por extemporaneidade da mesma, com as inerentes
consequncias legais.
A contra alega, em sntese:
A Sentena do Tribunal Administrativo proferida em 29 de Setembro de 2006,
decidiu anular a deliberao da Comisso de Reviso do Imposto do Selo com fundamento na
sua ilegalidade em virtude de no ter respeitado a suspenso do prazo para a apresentao
da reclamao por parte da contribuinte.
A douta Sentena considerou que a Deliberao da Comisso de Reviso do
Imposto de Selo ao deliberar rejeitar a "reclamao" apresentada pela ora recorrente por
extemporaneidade, se baseou em elementos errados, quer de facto, quer de direito, o que
gerou a sua anulabilidade.
A douta sentena aplicou, por analogia, ao caso vertente o disposto no n 2 do art.
27 do CPAC, urna vez que existe urna lacuna no sistema jurdico de Macau, no que diz
respeito a esta matria.
Tal deciso corresponde jurisprudncia uniforme do Supremo Tribunal
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Administrativo de Portugal, que faz urna interpretao e aplicao analgica do disposto no
artigo 31 da LPTA, cujo contedo semntico semelhante ao do artigo 27 do CPAC,
aplicando-se o seu efeito suspensivo em sede de recurso administrativo, de acordo com o
preceito constitucional do art. 268.
A entidade recorrente considera que no se deve aplicar o art. 27 da CPAC por
analogia, mas sim o art. 108 e ss. do CPAC, considerando que no h lacuna na lei de
Macau.
Esta posio da recorrente totalmente incorrecta pois existe, efectivamente, uma
lacuna na lei no sistema de Macau.
A aco prevista no art. 108 e ss. do CPAC no co1matou qualquer lacuna na lei,
pois a sua aplicao exige que no tenha sido dada satisfao a um pedido de informao
anterior.
O interessado no pode recorrer imediatamente "Aco para Prestao de
Informao, Consulta de Processo ou Passagem de Certido", pois esta aco pressupe uma
recusa prvia a um pedido de informao ou esclarecimento do interessado.
A douta sentena recorrida no padece de qualquer erro quer seja de interpretao
quer seja de aplicao da lei.
Termos em que deve o presente recurso ser julgado
improcedente, mantendo-se a sentena recorrida nos seus exactos termos,
com todas as consequncias legais.
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O Digno Magistrado do MP emitiu o douto parecer seguinte:
A douta sentena em crise colocou - e bem - as duas questes essenciais a que
haveria que dar resposta no mbito do caso apresentado, ou seja,
- se a certido requerida pela aqui recorrida, contendo os elementos do processo
relativos fundamentao do acto da Comisso de Avaliao de Imveis era ou no
essencial para a mesma exercer cabalmente o seu direito de impugnao e
- em caso afirmativo, se com o requerimento de passagem dessa certido se
suspende ou no o prazo de reclamao para a Comisso de Reviso.
E contra a resposta afirmativa do Tribunal "a quo" a ambas as questes e a
congruente concluso retirada que a recorrente se insurge nas suas alegaes, pese embora
em sede de "concluses" das mesmas apenas ltima se reporte.
Entende a recorrente que, por um lado, a notificao da deliberao da Comisso
de Avaliao de Imveis enviada recorrida preenche todos os requisitos legais definidos no
art. 70, CPA, dela constando o texto da acta da reunio daquela Comisso que decidiu sobre
a liquidao adicional do Imposto de Selo sobre o terreno em questo, a identificao do
procedimento, a data do acto, bem como o rgo competente para a apreciar a impugnao e
respectivo prazo de interposio e, por outro, ainda que assim se no entendesse,
justificando-se, pois, a certido requerida, o Mmo Juz "a quo", ao lanar mo, por analogia,
ao disposto no n 2 do art. 27, CPAC, cometeu erro de julgamento, interpretao e
aplicao da lei, j que, em seu critrio, no existe no ordenamento jurdico de Macau
nenhuma lacuna a esse nvel, sendo de aplicar situao o contemplado no art. 108 do
mesmo diploma legal, onde se prev a aco para prestao de informao, consulta de
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processo ou passagem de certido, meio idneo, que no foi utilizado pelo interessado.
No que se revela essencial, cremos no assistir razo recorrente.
Desde logo, da anlise da acta da Comisso de Avaliao de Imveis, constata-se
que, apesar de a mesma conter valores de clculo do imvel para efeitos de liquidao, no
apresenta a justificao dos valores alcanados, os quais apenas se podero encontrar nas
respectivas "Notas Justificativas" que no haviam sido facultadas recorrida aquando da
respectiva notificao.
O conhecimento integral dessa justificao de valores apresenta-se como necessrio
para boa apreenso dos motivos determinantes do acto, de molde a aceit-los ou, como foi o
caso, impugn-los e, da, que o pedido de certido em causa se apresente como justificado e
no como mero expediente dilatrio.
Depois, , em nosso critrio, verdade o que sustenta a recorrente quando afirma
inexistir no ordenamento jurdico de Macau qualquer lacuna relativa ao "beneficio" de
suspenso do prazo de impugnao administrativa a partir do momento do requerimento
Administrao para passagem de certido contendo os elementos em falta, pelo que se no
justificaria, no caso, o recurso, por analogia, ao disposto no n 2 do art. 27, CPAC, fazendo
apelo a tratamento similar na lei portuguesa: s que, a nosso ver, essa previso no a
pretendida pela recorrente art. 108, CPAC - j que tal norma, reportando-se possibilidade
de aco para prestao de informao, consulta de processo ou passagem de certido
pressupe, claramente, situao em que a Administrao no d satisfao s pretenses
formuladas o que, manifestamente, no o caso, j que a certido requerida foi passada e
entregue voluntariamente, sem necessidade de recurso quele meio processual.
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A situao encontra-se, pensamos, contemplada expressa e claramente no n 1 do
art. 110 do diploma em questo que prev expressamente que "O pedido de prestao de
informao, consulta de processo ou passagem de certido dirigido a rgo administrativo,
quando se destine a permitir ao interessado o uso de meios procedimentais administrativos ou
processuais contenciosos, determina, a partir da data da sua apresentao, a suspenso da
contagem dos respectivos prazos." (sublinhado nosso).
Sendo certo que, como j se viu, o pedido de certido em causa no constituiu,
manifestamente, expediente meramente dilatrio (n. 3 do mesmo normativo), no se v onde
o eventual bice aplicao de tal disciplina.
Seja como for, a partir da mesma, no se questiona, antes se refora, o efeito
suspensivo da contagem do prazo em questo, razo fundamental que conduziu tomada de
posio agora em escrutnio.
Da que, pese embora tendo sido efectuado indevido apelo a normativos por
analogia, seja de manter a deciso recorrida, por persistir a razo ltima em que aquela se
estribou, ou seja, que, em face da suspenso de prazo anunciada, a reclamao apresentada
pela recorrida o foi em tempo, sendo que a deciso da Comisso de Reviso que a rejeitou
precisamente com fundamento na sua intempestividade assentou em errados pressupostos de
facto e de direito, justificando-se, pois, a respectiva anulao.
Somos, pois, pelo no provimento do presente recurso.
Foram colhidos os vistos legais.
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II - FACTOS
Com pertinncia, tm-se por assentes os factos seguintes:
Em 18 de Agosto de 2005, a ora recorrente apresentou a declarao modelo
M/1 para pagamento de Imposto do Selo pela transmisso de bens, in casu, do prdio
urbano sito na Estrada XXX, s/n, em Coloane, inscrito na matriz predial sob o n.
XXX e descrito na Conservatria do Registo Predial sob o n. XXX, a fls XXX, do
livro XXX, tendo, para o efeito, declarado como valor de aquisio do mesmo o
montante de MOP$30,900,000.00 (trinta milhes e novecentas mil patacas).
Na mesma data, a ora recorrente procedeu ao pagamento do respectivo
Imposto do Selo no valor de MOP$973,350.00 (novecentas e setenta e trs mil,
trezentas e cinquenta patacas), atravs da guia de pagamento n. XXX.
Em 19 de Agosto de 2005, a ora recorrente adquiriu o prdio urbano acima
identificado por escritura pblica.
Em 5 de Setembro de 2005, por despacho do Senhor Director dos Servios
de Finanas, sob proposta do chefe da Repartio de Finanas, foi autorizada a
avaliao do prdio urbano acima identificado, tendo o processo sido remetido
Comisso de Avaliao de Imveis.
Em 6 de Outubro de 2005, a Comisso de Avaliao de Imveis deliberou,
por unanimidade, fixar o valor da transmisso do imvel acima identificado em
MOP$810,692,832.00 (oitocentos e dez milhes, seiscentas e noventa e duas mil,
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oitocentas e trinta e duas patacas), com base nos fundamentos constantes das notas
justificativas a fls. 3 a 6 do PA, cujo teor aqui se d integralmente reproduzido.
Em 7 de Novembro de 2005, foi enviada contribuinte, ora recorrente, a
notificao da liquidao adicional no montante de MOP24,563,461.00 (vinte e quatro
milhes, quinhentas e sessenta e trs mil, quatrocentas e sessenta e uma patacas),
atravs do Ofcio n. 2623/RFM/DOI/NIS/2005, expedido sob registo postal, a fim de
que procedesse ao seu pagamento no prazo de 30 (trinta) dias.
Da notificao da liquidao adicional enviada contribuinte, ora recorrente,
constavam, com excepo das notas justificativas que determinaram o valor do imvel
para efeitos da liquidao, cpia da acta de reunio da Comisso de Avaliao de
Imveis, a identificao do procedimento, a identificao do autor e a data do acto,
bem como o rgo competente para apreciar a impugnao e o respectivo prazo de
interposio, cujos teores aqui se do integralmente reproduzidos.
Em 17 de Novembro de 2005, a contribuinte, ora recorrente, solicitou
Direco dos Servios de Finanas (DSF) a emisso de uma certido sobre os
elementos do processo relativo fundamentao do acto da Comisso de Avaliao de
Imveis, invocando o estipulado no artigo 27, n. 2 do CPAC.
Em 23 de Novembro de 2005, foi extrada a certido da acta da Comisso de
Avaliao de Imveis que decidiu sobre a liquidao adicional do Imposto de Selo do
terreno em causa, que foi levantada pela contribuinte, ora recorrente, no dia 2 de
Dezembro de 2005, aps a notificao, por via telefnica, da Direco dos Servios de
Finanas, no dia anterior.
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Em 7 de Dezembro de 2005, a contribuinte, ora recorrente, apresentou
Comisso de Reviso do Imposto do Selo a reclamao do acto da Comisso de
Avaliao de Imveis, que havia deliberado a liquidao adicional do Imposto do Selo
sobre o imvel acima identificado.
Em 18/01/2006, a Comisso de Reviso do Imposto de Selo deliberou em
rejeitar a reclamao acima referida, por ser extempornea.
A notificao da deliberao da Comisso de Avaliao de
Imveis em referncia tem o seguinte teor:
Fica V. Ex. notificado do teor da acta datada de 06/10/2005, cuja cpia segue
em anexo ao presente ofcio e que aqui se d por reproduzida para todos os efeitos
legais.
Mais notifico, em sntese, que nos termos dos artigos 60, 61, 62 e 66 do
Regulamento do Imposto do Selo, a Comisso de Avaliao atribuiu o valor de
MOP$810,692,382 ao imvel, inscrito na matriz predial sob o n. XXX, sendo o
valor do imposto devido resultante da liquidao adicional de $24,563,461, a pagar
na Recebedoria da Repartio de Finanas destes Servios, no prazo de 30 (trinta)
dias contado da data desta notificao.
Do presente acto de liquidao cabe reclamao para a Comisso de Reviso,
no prazo de 15 dias contado deste notificao, nos termos do artigo 92 do citado
regulamento.
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Com os melhores cumprimentos
Direco dos Servios de Finanas de Macau, aos 04 de Novembro de 2005.
A acta que se anexa a dita notificao tem o seguinte contedo:
44 93
86/2004
B C D
E F
Aos 6 de Outubro do ano 2005, pelas 17H50horas, reuniu, no Edifcio desta
Direco dos Servios, a Comisso de Avaliao de Imveis a que se refere o artigo
93 do Regulamento do Imposto do Selo, publicado no Boletim Oficial da RAEM N.
44, I Srie, de 29 de Outubro de 2001 e o Despacho N. 86/2004 do Secretrio para
a Economia e Finanas, estando presentes os seguintes membros, B, Presidente, C e
D, vogais, E e F, representantes respectivamente do Sector imobilirio e do Sector
de Construo Civil, procederam, aps recolha dos correspondentes dados,
fixao do valor de avaliao inerente ao seguinte imvel:
Processo n. XXX Matriz Predial XXX
XXX
Localizao Terreno situado na XXX Coloane
XXX XXX XXX XXX
Descrio na Conservatria do N. Folhas Livro XXX
Registo Predial
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9044.8
rea do terreno mq Situao jurdica do terreno Concesso por
arrendamento
A
Adquirente(s)
$22,000/mq
Valor de venda
9,044.80 mq
rea bruta do terreno
9,044.80 mq x 10 pisos = 90,448 mq
rea til dos pisos
$22,000 x 90,448 mq = $1,989,856,000
Rendimento da venda
30%
Lucro do Construtor
$1,989,856,000 1.3 = $1,530,658,462
Custo total
$1,530,658,462
Custo total previsto
a) $6,000 x 90,448 mq = $542,688,000
Custo de construo
b) ($6,000 x 8%) x 90,448 mq = $43,415,040
Encargo dos consultores
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c) $600 x 90,448 mq = $54,268,800
Juros previstos
d) $880 x 90,448 mq = $79,594,240
Prmio
e) $810,692,382
Valor do terreno
Aps a discusso dos argumentos levantados, foi deliberado fixar a avaliao da
transmisso efectuada pelo valor:
Valor Total : Mop$810,692,382 por mq : Mop$89,631
A, melhor identificada nos autos, interps oportunamente recurso
contencioso fiscal da deliberao da Comisso de Reviso do Imposto de Selo, de
18/01/2006, pedindo a declarao da sua nulidade, com fundamento na ilegalidade da
mesma, bem como, sem prescindir e por mera cautela patrocnio, a anulao da
deliberao da Comisso de Avaliao de Imveis, de 06/10/2005.
Devidamente citada, a entidade recorrida sustentou a legalidade do acto
recorrido, invocando ainda a excepo da irrecorribilidade da deliberao da
Comisso de Avaliao de Imveis, de 06/10/2005, por entender que a recorrente
impugnou simultaneamente dois actos..
A acta da Comisso de Avaliao de Imveis apesar de conter valores de
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clculo do imvel para efeitos de liquidao, no tem a justificao dos valores
encontrados.
As razes justificativas subjacentes deliberao tomada constam das
Notas Justificativas juntas a fls. 3 a 6 do PA, cujo teor seguidamente se transcreve:
Relativamente ao terreno sito na XXX Coloane, com a rea de 9044,8 m2,
foi fixado pela Comisso de Avaliao de Imveis o valor de $810.692.382, pelos
seguintes motivos:
1. A valorizao do prdio de $22.000/ m2 por ser de luxo. O referido valor
foi calculado com base na rea til com uma reduo de 30%.
2. Os custos de construo so de $6.000/ m2 por o prdio ser de luxo. Os
materiais de construo so de maior exigncia, em termos de qualidade.
Os estaleiros de obras esto situados num terreno rochoso inclinado havendo
necessidade de nivel-lo previamente e por tal os custos de construo so
mais elevados. Actualmente, os referidos custos variam normalmente entre
$3.500 a $4.000/m2.
3. Encargos financeiros:
Normalmente referem-se ao pagamento de juros de financiamento
resultantes de emprstimos obtidos para construo.
Os referidos juros so geralmente calculados com base no perodo de
construo (concluso em 2 anos), multiplicando o montante total do emprstimo
(custos totais de construo) pela taxa bancria, cujo resultado representa cerca de
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10% do total dos custos de construo, conforme se indica:
(90.448 m2 x $6.000) x 10% = $54.268.800
$54.268.800 = $600/ m2 (juros de custos de construo)
90.448 m2
4. Honorrio de consultor:
Segundo as estimativas para o sector de construo civil, esses honorrios
atingem geralmente cerca de 8% do total dos custos de construo, que se
discrimina:
90.448 m2 x $6.000 x 8% = $43.415.040
5. Mtodo do clculo de prmio de concesso:
Foi utilizado o Mtodo de determinao do montante do prmio de concesso
previsto no Regulamento Administrativo da RAEM N. 16/2004.
O terreno em causa situa-se na XXX, Coloane;
No se destina para a indstria. Antes da autorizao do plano de construo, o
prmio tinha sido calculado com base na finalidade habitacional.
Nos termos do Anexo III do Regulamento Administrativo N. 16/2004:
XXX, Coloane Custo de construo de habitao/comrcio = Classe C;
Nos termos da Tabela 1 do Regulamento Administrativo N. 16/2004:
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Custo de construo de habitao/comrcio de classe C (>7 pisos) - $2.500/m2.
Valorizao para habitao de classe C - $4.700/ m2
Frmula de clculo do prmio:
(valorizao custos de construo) x 40%
= ($4.700-$2.500) x 40%
= $880/m2
Pelo que, o valor do prmio de concesso do terreno em apreo foi avaliado em
$880/m2 da rea bruta de construo.
Nestes termos e atendendo situao actual do referido terreno, a Comisso fixou
unanimamente o valor de $810.692.382, que serve de base para a liquidao do
valor do imposto do selo por transmisso de bens.
XXX 9045
$810,692,382
1. $22,000/ m2
30%
2. $6,000/ m2
$3,500-$4,000.
3.
2 (2 )() x
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10%
90,448 m2 x $6,000 m2 x 10% = $54,268,800
$54,268,800/90,448 m2 = $600/ m2 ()
4.
8%
90,448 m2 x $6,000 x 8% = $43,415,040
5.
16/2004
XXX
16/2004
XXX / = C = C
16/2004
C /() -- $2,500 / 2
C -- $4,700 / 2
( ) x 40%
= (4,700-2,500) x 40%
= $880 / 2
$880
$810,692,382
IV FUNDAMENTOS
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1. H duas questes que importa apreciar, alis, bem
identificadas na sentena recorrida:
- A certido requerida pela ora recorrente ou no essencial para
ela exercer cabalmente o seu direito de impugnao?
- Em caso afirmativo, com o requerimento da passagem da
certido se suspende ou no o prazo da reclamao para a
Comisso de Reviso?
2. Sobre a primeira daquelas questes duas situaes se podem
observar: ou a certido no releva de todo para a impugnao ou se
afigura relevante.
Se no releva de todo, nesse caso, a pretenso no poder ser
atendvel, na medida em que dessa feita se estaria a praticar um acto intil
e dar-se-ia vantagem a quem pretenderia to s beneficiar de uma
estratgia dilatria, com a qual o Direito no pode pactuar.
Se, na segunda hiptese, a certido aparenta relevncia, das duas
uma: ou essa relevncia essencial e imprescindvel para se poder
desenvolver a argumentao em que se louvar a impugnao ou ser
meramente adjuvante. Se essencial e imprescindvel, est bem de ver,
sob pena de se negar a prpria via impugnatria, que a lei no pode deixar
de tutelar a suspenso ou interrupo do prazo, pois que de outra forma o
interessado estar impossibilitado de exercer o seu direito. No importar,
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neste caso, discutir aquilo que resulta como uma evidncia.
Resta, ento, a hiptese de a certido pedida adjuvar
fundamentao do recurso, situao em que se podero colocar as
possibilidades, face aos diversos interesses em jogo, de admissibilidade
ou no de suspenso da contagem do prazo.
evidente que s esta ltima hiptese assume contornos que
importa integrar, pois que nos casos de desnecessidade ou
imprescindibilidade absoluta, a resposta no sentido da recusa ou da
admissibilidade ser uma evidncia nos prprios termos. E no deixa de
se afigurar, por vezes, algo difcil, estabelecer o que seja relevante ou
essencial, ainda que no imprescindvel para fundamentar uma
impugnao.
Questo que no se deixa de prender com a perfeio e
compleitude do prprio acto de notificao do acto e saber se este
traduziu todos os elementos indispensveis a uma correcta impugnao.
3. A lei parece indicar que todos os fundamentos devem constar
da publicao - art. 70 e 113 do CPA, contrariamente ao que resultava
do anterior n. 2 do art. 30 da LPTA que apenas exigia que a
fundamentasse constasse da publicao, quando possvel, ainda que por
extracto. Ora acontece que h muitas fundamentaes extensas e
desenvolvidas que no se compadecem com a publicao integral, tendo,
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nesses casos, os destinatrios o direito de se inteirarem das partes
omitidas.1
Importa, ento, neste caso, dentro de uma ordem lgica do
conhecimento das questes, apreciar da relevncia da certido pedida.
4. A entidade recorrida sustenta que o acto de notificao da
liquidao adicional da Comisso de Avaliao de Imveis se encontra
devidamente fundamentado, no enfermando de quaisquer vcios. A
destinatria ter tido, contrariamente ao que decidido foi, acesso aos
elementos, bem como ao raciocnio argumentativo que esteve na base da
deciso da Comisso de Avaliao de Imveis. A fundamentao do acto
de liquidao adicional foi expressa de forma clara, suficiente e
congruente, preenchendo, deste modo, o dever genrico de
fundamentao dos actos administrativos previsto no artigo 114, n 1,
alnea a) do CPA.
Se assim fosse, como acima visto, intil seria a certido e intil,
porque dilatria, intil se tornando a discusso sobre a suspenso do
prazo de impugnao.
No entanto, no se deixa de observar que a prpria entidade
recorrida que no deixa de abrir a eventualidade da relevncia da certido,
dizendo que, nesse caso, o interessado particular tinha ao seu dispor o 1 - Lino Ribeiro,Manual Elementar de DPA de Macau1997, 116
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mecanismo do artigo 108 do CPAC, que prev a aco para prestao de
informao, consulta do processo ou passagem de certido, que pode ser
interposta pelos interessados quando a notificao de actos
administrativos omita as indicaes do artigo 70 do CPA, conferindo a
tal interposio o efeito suspensivo da contagem dos prazos de
impugnao administrativa.
E esta ressalva bastaria para resolver esta questo, em face da
admissibilidade de relevncia que no caso concreto no se deixa de
evidenciar, no podendo ser mais elucidativas as razes aduzidas na
sentena recorrida: entendemos que s com cpia da acta da Comisso
da Avaliao, sem as Notas Justificativas, no permite ora
recorrente exercer plenamente o seu direito de impugnao, visto que
como acima j referimos, apesar a acta da Comisso conter valores de
clculos, no tem a justificao dos valores encontrados, pelo que a
recorrente no pode saber, em concreto, quais so os fundamentos dos
valores fixados, conhecimento esse que indispensvel para a
recorrente decidir se conformar ou recorrer da deliberao da fixao
do valor do imvel para efeitos de liquidao adicional.
5. Assim se entra ento na abordagem da questo da suspenso
da contagem do prazo para a referida impugnao.
Pretende a recorrente que o Mmo Juiz ter laborado em erro ao
fundamentar a sua deciso com um acrdo do STA de Portugal numa
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situao diferente, no aplicvel ao caso, e num quadro legal diferente
daquele que vigora na RAEM.
E estende-se em douta e detalhada argumentao para explicar
das suas razes que aqui se no vo escalpelizar, pela razo simples de
que a citao do dito acrdo se deve entender como um reforo da
argumentao que aquele Mmo Juiz usou para enfatizar a necessidade de
no deixar sem resposta e enquadramento legal uma situao que urgia
um tratamento similar para cabal, substancial e efectivo exerccio do
direito de impugnao do acto.
O fundamento escolhido pelo Mmo Juiz recorrido foi o da
aplicao analgica ao presente caso do regime das situaes previstas n
2 do art 27 do CPAC. No fundo, o que o Mmo Juiz visou foi garantir a
substancialidade do exerccio do direito de impugnao. Por razes de
justia e para, por essa via, no anular a prpria admissibilidade do
direito.
Mas diz a recorrente que essa perspectiva garantstica ficaria
salvaguardada com o recurso ao mecanismo previsto no artigo 108 do
CPAC, que prev a aco para prestao de informao, consulta do
processo ou passagem de certido, que pode ser interposta pelos
interessados quando a notificao de actos administrativos omita as
indicaes do artigo 70 do CPA conferindo a tal interposio o efeito
suspensivo da contagem dos prazos de impugnao administrativa.
S que nesse caso passa-se a admitir aquilo que at a no se
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admitia, ou seja, que a notificao da deliberao da Comisso de
Avaliao de Imveis no preenchia todos os requisitos legais definidos
no art. 70 do CPA, tendo-se que admitir que houve algum vcio ou
insuficincia, recusa da concesso ou passagem de elementos ou certido,
incompleio ou imperfeio da notificao justificativa do recurso a tal
expediente. Na tese da recorrente, se tal se verificar, isto se a notificao
no contiver os requisitos legais, admissvel o recurso intimao
prevista no art. 108, em especial ao seu n.2 que remete para o n. 2 do
art. 27. Mas pergunta-se? Ento, a, j no h lacuna? que a situao,
mesmo a do n. 1 do art. 108 do CPAC rege para as situaes de falta de
resposta ou satisfao das pretenses formuladas ao abrigo dos art.s 63 a
67 do CPA ou de lei especial, o que sempre pressupe alguma
irregularidade ou recusa na resposta, o que no o caso; como o no ser
a previso do n. 2 do art. 108 do CPAC, ao recepcionar as situaes do
n.2 do art. 27, aplicvel aos casos de interposio de recurso
contencioso.
E se assim , onde reside a regulamentao directa e autnoma
da situao de suspenso de contagem dos prazos para as impugnaes
graciosas?
Aqui chegados, parece que no h dvida, antes pelo contrrio,
parece haver unanimidade, quanto necessidade de garantir o exerccio
do direito de impugnao. S que o recorrente defende que o prazo
expirou, porquanto no foi seguido o meio processual aplicvel situao
em concreto. Como se viu, a sua proposta tambm no regulava a
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situao directamente, sendo ento prefervel ratificar o entendimento
desenvolvido na sentena recorrida, porquanto meio e situao mais
directos e mais prximos do que se pretende regular, ou, usando os
termos da lei, procedendo em ambas as situaes as mesmas razes
justificativas da regulamentao do caso (art. 9, n. 2 do CC).
6. S que antes de recorrer analogia, parece descortinar-se
norma expressa reguladora da situao, aqui se acompanhando o
entendimento propugnado pelo Digno Magistrado do MP no seu douto
parecer. Na verdade, ainda que no com inteira correco de insero
sistemtica, o legislador sentiu necessidade de regular expressamente uma
situao que a todos os ttulos se impunha, como acima se viu, e, da,
aproveitando a regulao dos meios processuais, a propsito da intimao,
mas ainda num mesmo domnio e que se prende exactamente sobre os
procedimentos destinados integrao do direito informao, enquanto
pressuposto para a reaco impugnatria dos actos, previu, no n. 1 do
artigo 110 do CPAC, a suspenso da contagem dos prazos, no apenas
para os casos do art. 27, n. 2 do mesmo Cdigo, mas de forma a permitir
aos interessados o uso de meios procedimentais administrativos, para
alm dos processuais contenciosos.
Assim, com estes fundamentos, se chega ao mesmo resultado
que imps a deciso tomada, que se impunha no caso concreto e a que
sempre se teria de chegar, concluindo-se da necessidade relevante, como
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se concluiu, da obteno da peticionada certido para interpor a
pretendida impugnao ou reclamao.
Nestes termos o recurso no deixar de improceder.
IV - DECISO
Pelas apontadas razes, acordam em negar provimento ao
presente recurso contencioso.
Sem custas, vista a iseno da entidade recorrente.
Macau, 3 de Maio de 2007
Joo A. G. Gil de Oliveira
Chan Kuong Seng
Lai Kin Hong