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V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais PRODUÇÃO DE BIOMASSA AÉREA DE TIME!Ó (Ateleia glazioveana) E OS EFEITOS DA SUA APLlCAÇAO NO SOLO Amilton João Baggio\ Maria Izabel Badomski", Arnaldo de Oliveira soares' 1 Embrapa Florestas - [email protected]; [email protected]; 2FCA-UNESP Botucatu- [email protected] 1 Introdução A necessidade de produção de adubos verdes é uma preocupação constante no desenvolvimento de sistemas agroflorestais que permitam, aos agricultores familiares, a sustentabilidade ambiental e econômica, a partir da produção de matéria orgânica e ciclagem de nutrientes na propriedade. Na região sul do Brasil, grande parte das espécies utilizadas para adubação verde é de ciclo curto, com necessidade de plantio anual. Isto implica em custos na aquisição de sementes e no plantio, ou então, na capacidade de produção própria de sementes, o que nem sempre é possível nas pequenas propriedades. A utilização de espécies lenhosas, de ciclos mais longos, é uma oportunidade de redução destes custos, proporcionando uma maior autonomia do agricultor em relação à necessidade de aquisição de insumos. Normalmente, as espécies perenes selecionadas para adubação verde são fixadoras de nitrogênio, e que, além deste elemento, também podem contribuir com a ciclagem de outros nutrientes essenciais, como fósforo, potássio, cálcio e magnésio. o timbó (Ateleia glazioveana) é uma espécie da família FABACEAE, fixadora de nitrogênio e nativa do Sul do Brasil, ocorrendo mais expressivamente nas regiões noroeste do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e extremo sudoeste do Paraná. Tem por característica a perda espontânea de folhas no período do outono/inverno, com rebrota de novas folhas a partir de setembro (Baggio, 2002). As pesquisas desenvolvidas com a espécie têm se concentrado principalmente na avaliação da capacidade de produção de biomassa, ciclagem de nutrientes e seu efeito como adubação verde em espécies hortícolas (Baggio et aI., 2002a e b; Baggio e Soares, 2002; Baggio, 2002). Alguns destes estudos têm sido realizados em parceria com agricultores familiares do Estado do Paraná, de modo a conciliar as necessidades da pesquisa com a realidade prática destes agricultores. As informações apresentadas neste trabalho referem-se ao acompanhamento da produção de timbó em cinco propriedades familiares, de 2000 a 2004. Também são discutidos os efeitos da aplicação da biomassa do timbó no solo, com base em monitoramento realizado em uma propriedade selecionada para este fim. 2 Metodologia Nos anos de 1998 e 1999, foram implantadas unidades de avaliação do timbó em propriedades de agricultores familiares nos municípios de Mangueirinha (região sudoeste) e Turvo (região centro), no Paraná. Em Mangueirinha foram instaladas quatro unidades no Assentamento Segredo 111, sendo que a partir de 2002 apenas três têm sido acompanhadas; em Turvo estão sendo efetuadas observações em duas propriedades, no Faxinal Saudade Santa Anita e no Alto Turvo, sendo que nesta também se está monitorando o efeito da aplicação da biomassa do timbó no solo. As áreas de plantio variaram entre os agricultores, em função da disponibilidade de terras de cada um, o que acarretou em um número variável de plantas manejadas em cada local. Em Mangueirinha foram efetuados plantios lineares ao redor de pomares e hortas, aproveitando beira de cercas e potreiros. No Turvo foram implantadas aléias em áreas de cultivos anuais. As colheitas, realizadas sempre no período do outono, iniciaram dois anos após o plantio, quando as plantas apresentavam desenvolvimento adequado para o início do manejo da biomassa. A poda das plantas foi efetuada à altura de 20 cm da superfície do solo; toda a biomassa aérea era pesada e contado o número de plantas colhidas para o cálculo do rendimento por planta. o material podado foi utilizado a critério dos agricultores (para adubação em hortas e fruteiras), mas de acordo com algumas recomendações básicas (separar os ramos com mais de 2 cm de diâmetro e utilizar como lenha; incorporar ou manter sob cobertura folhas e ramos finos podados para evitar perdas de nitrogênio). Não foram indicadas doses, já que o objetivo era apenas o acompanhamento da evolução da produção de biomassa das plantas nos diferentes locais. 256

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V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais

PRODUÇÃO DE BIOMASSA AÉREA DE TIME!Ó (Ateleia glazioveana)E OS EFEITOS DA SUA APLlCAÇAO NO SOLO

Amilton João Baggio\ Maria Izabel Badomski", Arnaldo de Oliveira soares'

1Embrapa Florestas - [email protected]; [email protected]; 2FCA-UNESP [email protected]

1 Introdução

A necessidade de produção de adubos verdes é uma preocupação constante no desenvolvimento desistemas agroflorestais que permitam, aos agricultores familiares, a sustentabilidade ambiental eeconômica, a partir da produção de matéria orgânica e ciclagem de nutrientes na propriedade. Na regiãosul do Brasil, grande parte das espécies utilizadas para adubação verde é de ciclo curto, comnecessidade de plantio anual. Isto implica em custos na aquisição de sementes e no plantio, ou então,na capacidade de produção própria de sementes, o que nem sempre é possível nas pequenaspropriedades. A utilização de espécies lenhosas, de ciclos mais longos, é uma oportunidade de reduçãodestes custos, proporcionando uma maior autonomia do agricultor em relação à necessidade deaquisição de insumos. Normalmente, as espécies perenes selecionadas para adubação verde sãofixadoras de nitrogênio, e que, além deste elemento, também podem contribuir com a ciclagem de outrosnutrientes essenciais, como fósforo, potássio, cálcio e magnésio.

o timbó (Ateleia glazioveana) é uma espécie da família FABACEAE, fixadora de nitrogênio e nativa doSul do Brasil, ocorrendo mais expressivamente nas regiões noroeste do Rio Grande do Sul, oeste deSanta Catarina e extremo sudoeste do Paraná. Tem por característica a perda espontânea de folhas noperíodo do outono/inverno, com rebrota de novas folhas a partir de setembro (Baggio, 2002). Aspesquisas desenvolvidas com a espécie têm se concentrado principalmente na avaliação da capacidadede produção de biomassa, ciclagem de nutrientes e seu efeito como adubação verde em espécieshortícolas (Baggio et aI., 2002a e b; Baggio e Soares, 2002; Baggio, 2002). Alguns destes estudos têmsido realizados em parceria com agricultores familiares do Estado do Paraná, de modo a conciliar asnecessidades da pesquisa com a realidade prática destes agricultores.

As informações apresentadas neste trabalho referem-se ao acompanhamento da produção de timbó emcinco propriedades familiares, de 2000 a 2004. Também são discutidos os efeitos da aplicação dabiomassa do timbó no solo, com base em monitoramento realizado em uma propriedade selecionadapara este fim.

2 Metodologia

Nos anos de 1998 e 1999, foram implantadas unidades de avaliação do timbó em propriedades deagricultores familiares nos municípios de Mangueirinha (região sudoeste) e Turvo (região centro), noParaná. Em Mangueirinha foram instaladas quatro unidades no Assentamento Segredo 111, sendo que apartir de 2002 apenas três têm sido acompanhadas; em Turvo estão sendo efetuadas observações emduas propriedades, no Faxinal Saudade Santa Anita e no Alto Turvo, sendo que nesta também se estámonitorando o efeito da aplicação da biomassa do timbó no solo.

As áreas de plantio variaram entre os agricultores, em função da disponibilidade de terras de cada um, oque acarretou em um número variável de plantas manejadas em cada local. Em Mangueirinha foramefetuados plantios lineares ao redor de pomares e hortas, aproveitando beira de cercas e potreiros. NoTurvo foram implantadas aléias em áreas de cultivos anuais. As colheitas, realizadas sempre no períododo outono, iniciaram dois anos após o plantio, quando as plantas apresentavam desenvolvimentoadequado para o início do manejo da biomassa. A poda das plantas foi efetuada à altura de 20 cm dasuperfície do solo; toda a biomassa aérea era pesada e contado o número de plantas colhidas para ocálculo do rendimento por planta.

o material podado foi utilizado a critério dos agricultores (para adubação em hortas e fruteiras), mas deacordo com algumas recomendações básicas (separar os ramos com mais de 2 cm de diâmetro e utilizarcomo lenha; incorporar ou manter sob cobertura folhas e ramos finos podados para evitar perdas denitrogênio). Não foram indicadas doses, já que o objetivo era apenas o acompanhamento da evolução daprodução de biomassa das plantas nos diferentes locais.

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Em Turvo, para o monitoramento do solo, foram coletadas amostras em um canteiro de 90 m2 onde abiomassa do timbó era incorporada após moagem em um forrageiro. No local foram cultivadas, noprimeiro ano após a primeira incorporação (outono de 2002 a outono de 2003), alcachofra e camomila(inverno) e sálvia (verão); após a segunda incorporação (outono de 2003) foi implantada a menta, quepermanece na área até o presente momento.

3 Resultados e discussão

Na Tabela 1 encontram-se os valores referentes à biomassa de timbó produzida nas diferentes unidadesde observação. Apesar da recomendação restringir o período de colheita à época do outono, algunsagricultores, por necessidade e niciativa própria, realizaram podas no verão. Apesar da recomendaçãode apenas uma poda por ano, já que o timbó rebrota a partir de setembro e atinge o auge da produçãode biomassa justamente no início do outono quando é efetuada a colheita, seria interessante testarplantas para colheita no verão (janeiro/fevereiro) e plantas para colheita no outono (abril/maio), de modoa verificar a viabilidade de produção escalonada de biomassa, em função das necessidades dosagricultores.

Tabela 1 - Biomassa da parte aérea e rendimento médio de plantas de timbó (peso verde) em. . Manos consecutivos, nos munlciolos de anquelrlnha e Turvo-PR.

Local/ano No. plantas colhidas Peso total da biomassa Rendimento médioaérea (kg) por planta (kg)

MANGUEIRINHAPropriedade 1 - 2000 99 82 0,83

2001 53 107 2,022002 62 266,5 4,302003 58 147,5 2,542004 29 76 2,60

Média =2,46Propriedade 2 - 2000 210 125,5 0,60

2001 139 261,6 1,902002 143 520 3,632003 138 430 3,122004 126 357 2,83

Média = 2,42Propriedade 3 - 2000 168 199 1,202001 131 266,8 2,042002 82 119

2003 135 3001,45

2004 10 662,226,60Média =2 70

TURVOAlto Turvo- 2002 53 252,10 4,76

2003 50 271,00 5,422004 53 205,50 3,87

Média = 4,68Faxinal SaudadeSanta Anita - 2002 12/942 48/71 4,0/0,752003 952 245,00

2004 91 395,502,604,30Média3 = 3 63

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Legenda. plantas podadas no outono, plantas podadas no verao e no outono, média apenas dasplantas podadas no outono.

Os valores médios de rendimento de biomassa por planta, em Mangueiirinha, foram, semelhantes paraas três propriedades acompanhadas, e inferiores se comparados às médias de Turvo. Este fato podeestar relacionado às características dos solos sobre os quais foram implantadas as unidades. Em Turvoos solos já apresentavam um manejo diferenciado, principalmente em função da presença de matériaorgânica oriunda de cultivos anuais. Em Mangueirinha, de acordo com o mapa de aptidão de solos,grande parte da área apresenta solos com baixa fertilidade natural e alta saturação em alumínio(COPEL, 1992); considerando que os plantios de timbó foram efetuados em áreas sem manejo (potreiros

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e beiras de cercas) era de se esperar que as plantas apresentassem uma resposta relativamente inferior.Cabe considerar que em condições experimentais, o rendimento médio, de dez anos de colheitas, obtidopor planta foi de 2,8 kg (Baggio, 2002).

Na Tabela 2 encontram-se as características químicas do solo, antes e após dois anos de incorporaçãodo timbó. Pode-se verificar um efeito positivo da biomassa, em especial sobre os teores de cálcio emagnésio, o que resultou em um aumento da saturação de bases (V%) e conseqüente diminuição dasaturação em alumínio (m%). É interessante observar o comportamento do fósforo, que apresentou umincremento logo após a t". aplicação do timbó e uma posterior redução. Dois fatos podem explicar estesvalores; primeiro deve-se considerar que o solo em questão apresenta altos teores de argila, causando afixação do fósforo; por outro lado, a diminuição também pode estar relacionada ao cultivo da menta, umacultura bastante exigente neste nutriente.

Os resultados aqui apresentados indicam o potencial de produção do timbó em diferentes condições eseus efeitos positivos sobre as características químicas do solo. Deve-se salientar a necessidade denovos estudos, em especial sobre o efeito da sua aplicação contínua sobre outras características dosolo, em especial da meso e microfauna.

Tabela 2 - Características químicas do solo, antes e após duas aplicações de biomassa do timbó.Alt T ... d T PRo urvo, murucrpro e urvo-

Epoca de pH K+ Ca"+ Mg"+ AI'H H++AI"+ M.O. P V marnostraoern CaCI2 ---------------------- crnot/drn" ----------------- q/drn" rnq/drn" ______ O/o ______

20021 4,05 0,18 1,64 1,38 1,4 9,15 55 1,8 26,0 30,42003" 5,28 0,18 8,07 4,97 0,0 1,01 55,3 10,4 92,9 0,002004" 5,70 0,15 6,69 6,29 0,3 3,30 57,2 5,6 79,9 2,23- . " ' . a - . " ' .Legenda. Primeira apllcaçao, Analise efetuada 1 ano apos a 1 . aplicação; Analise efetuada 1 anoapós a 2a. aplicação.

4 Referências bibliográficas

• BAGGIO, AJ.; MONTOVA VILCAHUAMAN, L.J.; MASAGUER, A Potencialidades dei timbó (Ateleiaglazioveana) y dei maricá (Mimosa bimucronata) para Ia producción de biomassa verde en zonas declima subtropical. I - Persistencia y productividad. Investigación Agraria: Série Producción y ProtecciónVegetales, Madrid, v.17, n.2, p.101-112. 2002a.• BAGGIO, A.J.; CARPANEZZI, AA.; MASAGUER, A Potencialidades dei timbó (Ateleia glazioveana) ydei maricá (Mimosa bimucronata) para Ia producción de biomassa verde en zonas de clima subtropical. "- Decomposición y calidad. Investigación Agraria: Série Producción y Protección Vegetales, Madrid,v.17, n.2, p.195-215. 2002b.• BAGGIO, AJ.; SOARES, AO. Comportamento do morango sob adubação verde com timbó(Ateteia gtazioveana). Colombo: Embrapa Florestas, 2002. (Embrapa Florestas. Comunicado Técnico,74).• BAGGIO, AJ. Timbó: uma alternativa para a produção perene de adubo verde. Colombo: EmbrapaFlorestas, 2002. (Embrapa Florestas, Circular Técnica, 68).• COPEL (Companhia Paranaense de Energia). Caracterização dos recursos de solos da GlebaChapecó. COPEL, 1992. 19p.

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