producao de cistos de branchoneta

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    Revista Biotemas, 20 (2), junho de 2007

    Produo de cistos de branchoneta Dendrocephalus brasiliensis

    Produo de cistos de branchoneta Dendrocephalus brasiliensis(Crustacea: Anostraca)

    Jos Patrocnio Lopes1

    Hlio de Castro B. Gurgel2

    Alfredo Olivera Glvez3

    Cibele Soares Pontes2

    1Rua Caxias 265, CHESF 48.600-000 Paulo Afonso BA2Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Ps-Graduao em Psicobiologia Natal RN

    3Universidade Federal Rural de Pernambuco, Programa de Ps-Graduao em Aqicultura Recife PE

    *Autor para correspondncia

    [email protected]

    Submetido em 29/11/2006Aceito para publicao em 01/03/2007

    Resumo

    O trabalho objetivou desenvolver uma metodologia para produo de cistos de branchonetaDendrocephalus brasiliensis, realizada na Estao de Piscicultura da CHESF, Paulo Afonso-BA, com finalidade

    de viabilizar a branchoneta como fonte alternativa de alimento. A pesquisa constou de dois tratamentos (com esem inoculao de cistos deD.brasiliensis), realizada em duas pocas distintas (maio e outubro), com duasrepeties. Foram utilizados quatro viveiros semi-escavados de 2000 m2. Aps a ANOVA (P

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    Revista Biotemas, 20 (2), junho de 2007

    J. P. Lopes et al.

    Introduo

    Na aqicultura praticada na atualidade, um dosmaiores problemas enfrentados, principalmente nalarvicultura de camares e peixes, a demanda por ali-mento vivo (na forma de cistos, nuplios, larvas, alevinosou juvenis de artmia ou peixes) ou inerte (biomassacongelada). AArtemia sp. um alimento de sustenta-o na larvicultura de camares e peixes, porm o altocusto para cistos GSL classe A, em torno de US$ 100.00/kg, aliado escassez no mercado, restringe o cresci-mento do cultivo dessas espcies (Cmara, 2000).

    A branchoneta, Dendrocephalus brasil iensis

    (Crustacea, Anostraca) possui a sua reproduo estu-dada na Estao de Piscicultura de Paulo Afonso(EPPA), de propriedade da Companhia Hidro Eltricado So Francisco (CHESF) e poder ser mais uma im-

    portante fonte alternativa de alimento de larvas e alevinosdas diversas espcies de peixes carnvoros, pois possuivalores proticos similares e/ou superiores aos de ou-tros organismos utilizados em grande escala nalarvicultura mundial (Lopes, 1998).

    Lopes e Tenrio (2005) citam que durante o acom-

    pa nhamento da di et a al imentar de al evinos deLoph iosi lu rus al exandr i, em tanques, com D.brasiliensis, mesmo mortos, j atraia todos os alevinos

    para o consumo imediato desta dieta.

    Lopes et al. (2006), comparando o crescimento(peso e comprimento) e sobrevivncia de um grupo dealevinos da espciePterophyllum scalare durante 60dias de cultivo, alimentados comD. brasiliensis e outrogrupo de alevinos da mesma espcie, alimentados comrao floculada para peixes ornamentais, encontraram

    os seguintes resultados: peso mdio de 9,952,59g, com-primento mdio de 94,6413,02mm e sobrevivncia de88% para os alevinos alimentados comD. brasiliensise, peso mdio de 3,300,77g, comprimento mdio de58,206,82mm e sobrevivncia de 53% para os alevinosalimentados com rao floculada para peixes ornamen-tais. Tais resultados enaltecem a importncia de D.brasiliensiscomo alimento vivo destinado alimenta-o de peixes ornamentais. Os referidos autores acredi-tam que a presena de cidos graxos, como o cido

    linolnico, EPA (cido eicosapentaenico) e DHA (ci-

    do docosahexaenico), presentes em algumas espciesde anostrceos de gua doce, agem diretamente esti-mulando o crescimento larval, a sobrevivncia e aumen-

    tando a resistncia ao estresse dos peixes.O cultivo em massa de D. brasiliensis poderia

    aumentar a produtividade de alevinos, principalmente alarvicultura de peixes carnvoros. Diante do exposto eem termos gerais, este trabalho objetivou desenvolveruma metodologia de produo de cistos do anostrceo

    D. brasiliensis em larga escala.

    Material e Mtodos

    O experimento foi realizado na Estao de Pisci-cultura de Paulo Afonso (EPPA), (092238S e381358W), localizada no municpio de Paulo Afonso,Bahia, pertencente Companhia Hidro Eltrica do SoFrancisco (CHESF).

    Para realizao deste trabalho foram selecionadosquatro viveiros da EPPA, sendo escolhidos os viveirosde nmeros 12, 13, 14 e 15. Os critrios adotados paraseleo foram os seguintes: todos os quatro viveiros apre-sentavam em comum a forma (retangulares), profundi-

    dade mdia (0,80m), localizao (em srie) e superfcieinundada (2.000m2).

    Visando produo de cistos (Figura 1) em grandeescala, os viveiros de nmeros 12 e 13 foram inoculadoscom cistos deD. brasiliensis. Os viveiros de nmero 14 e15 no foram inoculados devido a constante presena de

    D. brasiliensisnestes viveiros em cultivos anteriores.

    FIGURA 1: Cistos de D. brasiliensis, escala 105,0 x 148,5mm.

    Amplitude 300x.

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    Produo de cistos de branchoneta Dendrocephalus brasiliensis

    Todos os viveiros, aps totalmente secos, foramlimpos de vegetao aqutica e efetuada fertilizaoorgnica (esterco bovino), na proporo de 150g/m2.

    Para o preparo dos viveiros, estes foram expos-tos ao sol durante trs dias, tiveram o solo revolvido paraliberao de gases e secagem mais rpida. Durante oenchimento inicial, os de no12 e 13, foram inoculadoscom 2g de cistos de branchoneta. Os viveiros de no14 e15, no foram inoculados, esperou-se apenas a criaonatural de branchonetas. A partir deste ponto foi acom-

    panhado todo seu desenvolvimento.

    As amostras de gua para anlise foram coletadassempre s 9:00h, em cinco pontos dos viveiros e a cada

    dois dias, sendo posteriormente misturadas,homogeneizadas e acondicionadas em garrafas e colo-cadas em freezer para envio ao Laboratrio deLimnologia da Universidade Federal Rural dePernambuco (UFRPE), para anlises fsicas, qumicase biolgicas, visando monitoramento da qualidade da guadurante o perodo de cultivo e conhecer as variveis ide-ais para o desenvolvimento deste animal. Paramonitoramento do oxignio dissolvido, pH e temperatu-ra da gua foi utilizado um aparelho porttil,

    multiparmetro, de leitura direta da marca YSI 556 MPS.Decorridos 15 dias do incio do cultivo, quando to-

    dos animais estavam adultos e as fmeas com ovissacoscheios de cistos, foi efetuada a coleta da biomassa total,visando a produo de cistos. Tendo em vista o tamanhodas branchonetas (entre 1,0 a 1,5cm), na captura foi uti-lizada uma rede de 0,50m x 2m, confeccionada de mate-rial de nilon com malha de 1mm e com chumbada na

    borda inferior. No foi necessria drenagem total dagua dos viveiros, naquele momento, tendo em vista a

    facilidade de captura total dos animais que ficam sem-pre agrupados. Os animais coletados foram transporta-dos at o laboratrio da EPPA e distribudos em incuba-doras onde realizada a desova e produo de cistos.Foram distribudos em doze incubadoras de fibra de vi-dro com capacidade de 200 litros de gua recebendo,cada incubadora, em torno de cinco quilos de biomassade branchoneta. Estas, ao serem colocadas nas incuba-doras permaneceram por cerca de 24 horas. Decorridoeste prazo, todas as fmeas apresentavam o ovissaco

    vazio confirmando final da desova. Com uso de uma

    mangueira de foi realizada sifonagem para retiradados cistos.

    Aps a coleta dos cistos, a biomassa de branchoneta

    foi colhida das incubadoras, sendo imediatamente lava-da e pesada numa balana Filizola com capacidade para15 quilos. A seguir, foi embalada em sacos plsticos eacondicionada emfreezerpara utilizao como alimen-to para espcies de peixes carnvoros na fase de alevinos.

    Para anlise estatstica considerou-se o desenhoexperimental 2x2x2, dois nveis de inoculao (tratamen-tos), duas pocas do ano com duas repeties. Perfa-zendo um total de oito unidades experimentais. Sendo omodelo matemtico representado por: X = m + I + E +

    I .E + e, onde:

    = Varivel resposta (grama de cistos/ha e kg de

    biomassa/ha)

    m = Mdia do modelo matemtico

    I = Efeito dos nveis de inoculao (0 g e 2 g de cistos)

    E = Efeito das pocas do ano (maio e outubro)

    I.E = Efeito da interao nvel de inoculao: poca doano

    e = Erro experimental.

    Aps os experimentos, aplicou-se a Anlise deVarincia ANOVA, com P

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    J. P. Lopes et al.

    TABELA 1: Resultados das variveis qumicas da gua dos viveiros no incio e final de cultivo por perodo estudado.

    TABELA 2: Resultados mdios das variveis fsicas da gua dos viveiros estudados.

    Viveiro/Varivel Oxignio dissolvido (mg/L) pH Temperatura (oC)

    12 7,750,29 8,470,18 27,661,15

    13 7,820,44 8,350,27 26,341,1014 7,830,39 8,560,17 27,401,0015 7,940,24 8,580,14 28,410,82

    TABELA 3: Composio (gnero ou espcie) por Diviso e nmero de organismos/L do Fitoplncton identificadonos viveiros em estudo.

    Viveiros

    Maio OutubroDiviso

    12 13 14 15 12 13 14 15CHLOROPHYTA

    Coelastrum probosciodium 120 400Cosmarium formosulim 1200 150 220Cosmarium humile 1600 1300 600Pediastrum simplex 400 600 400 250 200 150Spirogyra communis 650 400 150 200

    CYANOPHYTAAnabaena solitaria 650 800 760 450 100 530Oscillatoria sp. 400Oscillatoria communis 950 300 700 650

    BACILLARIOPHYTAFragillaria crotonensis 400 500 2200Melosira sulcata 650 400 300

    Surirela sp. 700 770 150

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    Produo de cistos de branchoneta Dendrocephalus brasiliensis

    Com relao ao zooplncton Os grupos da co-munidade zooplanctnica identificados nos viveiros 12,13, 14 e 15 estiveram representados pelos Copepoda,

    Cladocera, Ostracoda e Rotifera. Os coppodas forammais representativos com um nmero de 60 a 260 org./L, sendo seguido pelos cladceros com um nmero de15 a 98 org./L. Os rotiferos e ostracodas foram menosrepresentativos variando de 2 a 5 org./L e 2,9 a 11,6 org/L respectivamente.

    O total de cistos obtidos provenientes dos quatroviveiros e de acordo com os tratamentos, est expostona tabela 4.

    Os resultados obtidos na produo de cistos foramdiferentes em relao aos tratamentos, porm apresen-taram semelhanas quanto s pocas. A produo m-dia de cistos em viveiros inoculados foi de 20,75g2,31g/viveiro/ciclo, superior aos produzidos nos viveiros noinoculados que foi de 7,752,31g/viveiro/ciclo. Os resul-tados para os tratamentos foram semelhantes entre po-cas, observando-se uma melhor produo no ms de maio,com mdia de 152,31g/viveiro/ciclo superior a13,502,31g do ms de outubro. Tendo em vista ainterao Inoculao/poca, ressalta-se que comInoculao/Maio, apresentou melhor resultado com22,503,52g/viveiro/ciclo.

    A ANOVA com P

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    J. P. Lopes et al.

    Os valores de oxignio dissolvido corresponderama uma condio compatvel com as necessidades meta-

    blicas dos organismos aquticos, pois segundo Sipaba-

    Tavares (1995), valores acima de 4mg/L apresentam boascondies para criao de organismos aquticos.

    O pH no perodo do cultivo permaneceu na faixacompreendida entre 8 a 8,5, no sendo ideal para Rotifera,Copepoda e Cladocera, segundo Sipaba-Tavares eRocha (2001). No entanto, nesta faixa de pH teve-seum bom desenvolvimento de Dendrocephal usbrasiliensis.

    Quanto temperatura da gua, foi observado queela permaneceu entre 26 a 31oC, havendo um aumento

    no nmero de Copepodas, Cladoceras e Rotiferas, es-tando os resultados de acordo com as faixas ideais detemperatura para esses animais, de acordo com as des-critas por Sipaba -Tavares e Rocha (2001). Tais tem-

    peraturas coincidem com as identificadas por Walscheet al. (1991) como as melhores para a espcieStreptocephalus proboscideus, da mesma famlia de

    D. brasiliensis, segundo Gonalves (2001).

    Aos 13 dias de cultivo, o nmero de organismos doplncton foi reduzido consideravelmente. Esta reduopode est associada longevidade dos organismos outambm com a diminuio do alimento pela aofiltradora da branchoneta.

    No caso da carcinicultura e da piscicultura, a de-manda por alimento vivo ainda problemtica, e hojemuitos pases do mundo ainda dependem de cistos de

    Artemiasp., sendo essa demanda maior do que a ofer-ta. Nesse caso a procura influencia no preo que hoje muito alto para esse insumo, chegando a custar, depen-dendo da origem, at US$ 150.00/kg (Cmara, 1996).

    Os resultados na produo de cistos poderiam tersido mais promissores, contudo os viveiros 14 e 15 (seminoculao) produziram uma boa quantidade de

    branchonetas, 11 e 9,5kg no ms de maio e 6,5 e 5kg noms de outubro, respectivamente; porm nesta biomassaos animais apresentavam comprimentos mdios inferio-res a 1cm, isto devido a grande quantidade de branchonetasnascidas naturalmente nestes viveiros, em torno de1.000.000 de indivduos (500/m2), prejudicando a produ-

    o de cistos e biomassa. Nos viveiros 12 e 13 (com

    inoculao), em vista da quantidade de animais produzi-dos (

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    Revista Biotemas, 20 (2), junho de 2007

    Produo de cistos de branchoneta Dendrocephalus brasiliensis

    Lopes, J. P. 1998. Consideraes sobre a branchoneta,Dend roceph alus bras il iens is , (Crustacea, Anostraca,

    Thamnocephalidae) como fonte alternativa na alimentao de

    alevinos espcies carnvoras. Monografia de Especializao,Universidade Federal Rural de Pernambuco, Brasil, 45Pp.

    Lopes, J. P.; Pontes, C. S.; Arajo, A. 2006. A branchoneta napiscicultura ornamental. Panoramada Aqicultura, 94: 33-37.

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