produÇÃo de energia no estado do amapÁ: cenÁrios e...
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PRODUÇÃO DE ENERGIA NO ESTADO
DO AMAPÁ: CENÁRIOS E
PERSPECTIVAS
Euclere Junior Conceicao Souza (UEAP )
Emili Miranda Pantoja (UEAP )
EVEN FIGUEIRREDO BARROS (UEAP )
Manuela Barbosa Pereira (UEAP )
Wylckson Machado Costa (UEAP )
O presente artigo busca analisar as questões envolvidas com a
geração/oferta de energia elétrica no estado do Amapá. Analisa-se a
atual infra-estrutura energética instalada, e os entraves ao
crescimento/desenvolvimento econômico decorrentes de sua baixa
capacidade de oferta de energia elétrica industrial. Também se analisa
as possibilidades de mudança nesse cenário decorrentes da chegada
do “Linhão de Tucuruí” - interligação do sistema local de produção de
energia ao Sistema Integrado Nacional de produção de energia - SIN.
Também se busca analisar, o impacto da implantação das três
hidrelétricas privadas em construção no estado - Hidrelétrica Ferreira
Gomes 252 MW, Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão 219 MW e
Hidrelétrica de Santo Antônio do Jarí 373,4 MW. As questões
orientadoras envolvem: como e porque, o atual sistema regional
amapaense de produção de energia, não oferece espaço de crescimento
econômico para as empresas instaladas no estado do Amapá, e de
desenvolvimento regional? E como e porque, a integração do sistema
regional amapaense de produção de energia ao sistema nacional, pode
oferecer espaço para o crescimento das empresas e o desenvolvimento
regional? Este artigo é composto por três capítulos - Fundamentação
teórica, Situação atual da infra-estrutura energética instalada no
Amapá e Novas possibilidades de geração /oferta de energia elétrica
no estado do Amapá - além de Introdução, Considerações finais e
Referências.
Palavras-chaves: Energia, crescimento, desenvolvimento
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Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
O presente artigo é resultado da pesquisa desenvolvida pelos acadêmicos do curso de
Engenharia de produção, da Universidade do Estado do Amapá – UEAP, cujo problema
pesquisado buscou focar na pergunta: a montagem da infraestrutura de apoio ao setor
econômico, especialmente a capacidade de ampla geração/oferta de energia, é fator de
desenvolvimento econômico no estado do Amapá. A hipótese na qual se baseia o artigo afirma
que sim, a montagem da infraestrutura de apoio ao setor econômico, especialmente a
capacidade de ampla geração /oferta de energia, é fator desencadeador de significativo
desenvolvimento regional, pela capacidade de atração das empresas para esses locais
privilegiados – com abundancia de energia - e pelos efeitos decorrentes do processo de
transferência de renda para o Estado, pela via tributaria.
Os objetivos deste estudo consistem em: a) Analisar a atual infraestrutura energética
instalada no estado do Amapá, e os entraves ao desenvolvimento decorrentes de sua baixa
capacidade de oferta de energia elétrica industrial; e b) Analisar as recentes possibilidades de
desenvolvimento regional, decorrentes da expansão da geração/oferta de energia elétrica
industrial, proporcionada pela chegada do “Linhão de Tucuruí” – interligação do sistema local
de produção de energia ao Sistema Integrado Nacional - SIN.
Ao final deste trabalho pretende-se responder as seguintes questões orientadoras:
a) Como e porque, o atual sistema regional amapaense de produção de
energia, não oferece espaço de crescimento econômico para as empresas instaladas
no estado do Amapá, e de desenvolvimento regional;
b) Como e porque, a integração do sistema regional amapaense de produção
de energia ao sistema nacional, pode oferecer espaço para o crescimento das
empresas e o desenvolvimento regional.
A justificativa para esse trabalho decorre das evidências empíricas sobre o tema e do
momento privilegiado de análise ocupado pelo Amapá, nesse período de transição de um
sistema para outro; da carência de pesquisas sobre o tema, e; da oportunidade de debate pelo
contexto. Assim sendo, surgiu o interesse em aprofundar esta análise contribuindo para uma
abordagem científica qualificada sobre os temas.
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2. Fundamentação teórica
O Amapá é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Historicamente, o território
ocupado atualmente pelo Amapá denominava-se Guiana Portuguesa.
Figura 01 – Mapa do Brasil
Fonte: IBGE
Segundo o IBGE (2010) o Amapá está localizado no extremo norte do país e é um dos
nove estados que compõe a Amazônia brasileira. Situado na Amazônia oriental, o Amapá
limita-se ao norte com a Guiana Francesa (pelo rio Oiapoque e Serra do Tumucumaque), a
noroeste com o Suriname (pela Serra do Tumucumaque), a leste com o Oceano Atlântico e ao
sul (pelo rio Amazonas) e a oeste (pelo rio Jarí) com o estado do Pará. Possui 1.691 km de
fronteira nacional e 707 de fronteira internacional, é atravessado pela Linha do Equador e
ocupa uma área de 142.814 km2, que corresponde a 3,71% da região norte e 1,68% da área
nacional. O estado é dividido em 16 municípios.
Figura 02 – Mapa do Amapá
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Fonte: IBGE
O Amapá é fisicamente isolado dos demais estados brasileiros, pela inexistência de
interligações físicas - pontes - que atravessem o Rio Amazonas no limite interestadual sul
com o estado do Pará; o Rio Jarí no limite interestadual oeste, também com o estado do Pará.
Na fronteira internacional norte, com a Guiana Francesa e sobre o Rio Oiapoque, esta sendo
finalizada a obra da ponte binacional que interligara o Amapá a Guiana Francesa.
2.1. Caracterização econômica do estado do Amapá
Segundo Abrantes (2010), o estado do Amapá é um importador da maioria dos produtos
que são comercializados localmente, face principalmente a incipiência dos setores produtivos
da sua economia, especialmente os segmentos agropecuário e industrial. Destaca-se, ainda, o
baixo dinamismo do seu mercado interno e o isolamento do estado em relação às demais
unidades da Federação, já que este não possui ligação rodoviária com os principais centros
produtores e consumidores do país.
A estrutura produtiva do Amapá está principalmente concentrada no setor terciário,
responsável pela maior ocupação da PEA (População Economicamente Ativa) e pela maior
participação do PIB (Produto Interno Bruto) estadual, particularmente quando comparado aos
setores produtivos: setor primário e secundário, demasiadamente incipientes. O setor primário
é caracterizado por baixo nível tecnológico, crédito restrito (principalmente em razão de
problemas fundiários) e por contingente populacional reduzido. O setor secundário está
concentrado nas atividades do extrativismo mineral, da construção civil e da indústria de
transformação e tem sua capacidade de expansão limitada pela oferta de energia e por outras
deficiências de infraestrutura. O setor terciário, incluído a administração pública, é o mais
representativo da economia amapaense, conforme comprovado por Chelala (2008).
2.2. Desenvolvimento econômico
A análise dos mecanismos que promovem e aceleram o processo de desenvolvimento
econômico em uma região é de suma importância para aquelas regiões que ainda estão em
busca de respostas para seus problemas econômicos.
Bresser-Pereira (2006) analisa que o desenvolvimento econômico é um processo
histórico deliberado de elevação dos padrões de vida que ocorre dentro de cada Estado ou
região. É o crescimento sustentado na renda dos trabalhadores, derivado, principalmente, da
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transferência de parte dos lucros empresariais para os salários, implicando a melhoria do
padrão de consumo desses indivíduos; acompanhado por melhorias na qualidade de vida
dessas pessoas.
Drucker (1991) analisa que o mundo pós-revolução industrial encontra-se dividido em
dois segmentos. De um lado os países e regiões desenvolvidas caracterizados pela posse do
capital e das tecnologias, com baixos níveis de pobreza, distribuição de renda desconcentrada,
e usufruto por parte da população de boa qualidade de vida; de outro lado, países e regiões
subdesenvolvidas caracterizados pela dependência de investimentos e de tecnologias
estrangeiras, elevado endividamento externo, altos níveis de pobreza, elevada concentração de
renda, elevados níveis de corrupção, e usufruto por parte da população de uma baixa
qualidade de vida.
Segundo a análise de Sicsu (2005), o novo-desenvolvimentismo tem sua origem, na
visão de Keynes (1986) e de economistas keynesianos contemporâneos, como Davidson
(1994) e Stiglitz (1999), que analisaram o processo de complementaridade entre Estado e
mercado, e por outro lado, da visão cepalina neo-estruturalista que, tomando como ponto de
partida que a industrialização latino-americana não foi suficiente para resolver os problemas
da desigualdade social na região, defende a adoção de uma estratégia de transformação
produtiva com equidade social, que permita compatibilizar um crescimento econômico
sustentável com uma melhor distribuição de renda.
2.3. Produção de energia por fonte hidráulica
A energia elétrica produzida pelas hidrelétricas tem um papel importante no
desenvolvimento do país, proporcionando autossuficiência na geração de energia elétrica a
baixos custos. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (2014), a produção de energia
hidráulica, ou energia proveniente de usinas hidrelétricas, é a que mais contribui para o
cenário atual, contando com 73,1% de produção no país.
O Brasil faz parte do grupo de países em que a produção de eletricidade é derivada,
em sua maior parte, de usinas hidrelétricas por conta de seu potencial hidráulico. Em virtude
de sua grande extensão territorial, apresenta 12 grandes bacias hidrográficas, de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH).
2.4. Bacia Amazônica
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Segundo o Ministério dos Transportes (2012), a maior bacia hidrográfica é a Bacia
Amazônica com sete milhões de quilômetros quadrados, ela compreende uma área de
3.870.000 km², estando presente nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Roraima,
Rondônia, Mato Grosso e Pará. Como mostra a mapa a seguir:
Porto (2003) analisa que o estado Amapá possui uma bacia hidrográfica constituída de
vários rios que se destacam pela seu potencial. Cerca de 39% da bacia hidrográfica do estado
faz parte da Bacia do Amazonas, porém, muitos rios do Amapá também deságuam no Oceano
Atlântico. Dessa forma, o estado possui duas bacias hidrográficas: a Bacia Amazônica e a
Bacia do Atlântico Ocidental/Norte.
O Estado, entretanto, produz uma diminuta quantidade de energia elétrica de base
hidráulica, se comparado aos demais estados da Região Norte, porém com significativas
possibilidades de expandir esses números, devido a sua vasta bacia hidrográfica. Uma
pesquisa feita pela Eletrobrás - Eletronorte (2012) mostra que a produção do estado na
atualidade totaliza em 78 MW, através da Hidrelétrica Coaracy Nunes.
2.5. Situação atual da infraestrutura energética instalada no amapá
Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), o estado do Amapá dispõe, no que se
refere a capacidade de geração de energia elétrica, uma potência instalada de 256,1 MW. São
combinadas geração hidráulica e térmica. Em relação a geração de energia proveniente de
hidrelétricas, a potência instalada na Hidrelétrica de Coaracy Nunes é de 78 MW, que são
complementados por 178,1 MW da Usina Termoelétrica Santana. No período de seca no
reservatório de Coaracy Nunes, entre setembro e dezembro, a Térmica Santana supre a
necessidade de energia elétrica no Estado. No período chuvoso, quando a hidrelétrica opera a
plena carga, a usina térmica atua como complemento de carga.
Segundo dados da Eletrobrás-Eletronorte (2012) a energia gerada por ela é distribuída
no Estado pela Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA, que atende 13 dos 16
municípios do estado. Os outros três municípios - Oiapoque, Laranjal do Jarí e Vitoria do Jarí
- são atendidos por polos de geração descentralizada da Companhia de Eletricidade do
Amapá.
A Eletrobrás-Eletronorte chegou ao Amapá em 1974, 13 meses depois de sua criação,
com o objetivo de concluir as obras da Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes no Rio Araguari. A
hidrelétrica de Coaracy Nunes foi a primeira usina da Empresa na Amazônia, sua inauguração
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foi em janeiro de 1976, marcando o início da trajetória da Eletronorte na região, com a missão
de gerar e transmitir energia no sistema isolado do estado do Amapá.
O sistema de transmissão que transporta a energia elétrica no Estado foi estruturado a
partir da entrada em operação de Coaracy Nunes, e conta com 505 km de linhas de
transmissão em 69 kV e 138 kV, nove subestações e capacidade de transformação de 672
MVA.
Os municípios de Macapá, Santana, Ferreira Gomes, Serra do Navio, Tartarugalzinho,
Amapá e Calçoene são interligados por linhas de transmissão e neles encontram-se
subestações com ramificadores e alimentadores, que transmitem a energia gerada pela
hidrelétrica de Coaracy Nunes e pela termelétrica de Santana para as demais localidades,
como podemos observar no quadro a seguir:
Figura 04 – Linhas de transmissão no Amapá
Fonte: Eletrobrás - Eletronorte
Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), o sistema de geração de energia no estado
do Amapá apresenta desvantagem em relação ao chamado Sistema Elétrico Interligado
Nacional, ou SIN, em função dos custos de produção/geração da usina térmica, o que
representa um aspecto negativo do ponto de vista da competitividade dos investimentos
empresariais, que alavancam o desenvolvimento e permitem a geração de emprego e renda em
larga escala.
No processo de geração de energia termoelétrica no Amapá a principal matéria-prima
utilizada como combustível é o óleo diesel, cuja queima gera uma série de problemas ao meio
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ambiente. A quantidade e o tipo de efluentes gerados no processo variam conforme a
tecnologia utilizada, mas em geral predominam gases e material particulado. Estima-se que
esse consumo seja da ordem de 600.000 a 1.000.000 litros/dia.
Ao longo dos últimos anos, o Estado do Amapá vem conseguindo suprir sua demanda
residencial por energia elétrica com a atual matriz instalada, porém com o desenvolvimento
econômico, o potencial instalado da UHE de Coaracy Nunes e da Termoelétrica de Santana se
tonaram inferiores às necessidades do empresariado, no que se refere a energia para as
industrias. Analisado o momento que o estado passa e visando uma melhoria, foi aprovada a
vinda do linhão de Tucuruí para o estado e a implantação de novas hidrelétricas.
3. Novas possibilidades de geração de energia elétrica no estado do Amapá
Segundo Amapá (2009), o Amapá é o Estado mais preservado do Brasil, mas também
é um dos menos desenvolvidos. Rico em recursos naturais, a falta de energia elétrica
industrial é um gargalo que impede seu desenvolvimento e provoca a estagnação econômica e
social do Amapá.
As principais obras em execução no Amapá, e que permitem mudanças nas
perspectivas futuras de desenvolvimento são:
3.1. Linhão de Tucuruí
A capacidade de geração de energia elétrica, por parte da empresa Eletrobrás -
Eletronorte, no estado do Amapá, na atualidade, é de 256,1 MW (sendo 78 MW na Usina
hidrelétrica de Coaracy Nunes e 178,1 MW na Usina Térmica de Santana) com um consumo
total, nos momentos de pico, aproximando-se de180 MW.
A baixa capacidade de oferta de energia elétrica para o setor industrial, que acontece
na atualidade, e um gargalo problemático para os planos de atração de empresas para o estado,
que marcarão o processo de implementação da Zona Franca Verde do Amapá.
Segundo a Eletrobrás - Eletronorte (2012), a opção mais viável para a expansão da
oferta de energia elétrica no estado, e a interligação do sistema isolado amapaense ao sistema
nacional via Hidrelétrica de Tucuruí. Essa interligação exigiu a construção de linhas de
transmissão entre as cidades de Tucuruí – Altamira – Almerim – Laranjal do Jarí – Macapá,
as quais foram concluídas em finais de 2013. Na atualidade, estão sendo construídas as usinas
de rebaixamento, com previsão de entrega em finais de 2014.
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Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), a principal geradora do sistema Norte-Nordeste,
a Hidrelétrica de Tucuruí, passou a fazer parte do Sistema Interligado Nacional - SIN em
março de 1999, com a conclusão da Interligação Norte-Sul. Essa linha permite a preservação
de reservatórios hidrelétricos em outras regiões durante o período hidrológico favorável no
Rio Tocantins.
A energia de Tucuruí é escoada por linhas de transmissão em 69 kV, 138 kV, 230 kV
e 500 kV. Além de atender os mercados do Pará, Maranhão e Tocantins, com cerca de 3.500
MW médios mensais, a Usina exporta ou vai exportar energia para os sistemas Norte,
Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
Figura 05 – "Linhão de Tucuruí"
Fonte: Eletrobrás - Eletronorte
A linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus permite a ligação dos estados do
Amazonas, Amapá e do oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Com
aproximadamente 1.800 quilômetros de extensão total, em tensões de 500 e 230 kV, em
circuito duplo, ela passa por trechos de florestas e atravessa o Rio Amazonas.
Além de interligar sistemas isolados do extremo norte do Brasil, a nova linha diminui
o custo com geração termelétrica. O “linhão”, como é chamada a linha de transmissão,
possibilita ao País uma economia de R$ 2 bilhões por ano.
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Foram avaliadas várias alternativas para o traçado da linha para encontrar a que
ofereceria menor impacto ambiental. O tipo de vegetação e o uso do solo foram pontos
decisivos na escolha. Quando havia interferência em áreas legalmente protegidas, como terras
indígenas e unidades de conservação, foi feita mudança no traçado.
3.2. Bacia do Rio Araguari e suas usinas
Segundo a Eletrobrás – Eletronorte (2012), a Bacia do Rio Araguari tem área total
42.711,18 km², ela é uma das mais importantes no Estado do Amapá,tanto por sua
proximidade da capital Macapá, como também pela sua potencial contribuição em geração de
Energia .
No Rio Araguari já esta instalada a Hidroelétrica de Coaracy Nunes e, futuramente,
mais duas hidrelétricas serão instaladas, a Hidrelétrica Ferreira Gomes e a Hidrelétrica
Cachoeira Caldeirão.
Figura 06 - Hidrelétricas no Rio Araguari
Fonte: Eletrobrás - Eletronorte
3.3. Hidrelétrica Ferreira Gomes
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Segundo a FGE- Ferreira Gomes Energia (2012), a Usina Hidrelétrica (UHE) Ferreira
Gomes pretende contribuir para o desenvolvimento do Estado do Amapá gerando energia, que
poderá ser utilizada por consumidores residenciais, comerciais e industriais; e também
gerando tributos e empregos.
A UHE terá capacidade de gerar 252 MW de energia elétrica, o suficiente para atender
a uma cidade de cerca de 700 mil habitantes.
O cronograma oficial prevê o início da operação em 2015, mas a empresa está
trabalhando para antecipar este cronograma.
3.4. UHE Ferreira Gomes - Informações Técnicas
Distância da foz: 224,3 km;
Área de drenagem: 30.850 km²;
Localização: Bacia do Rio Araguari, em Ferreira Gomes (AP);
Coordenadas geográficas: 51º11’41,071ºW / 00o51’20,126ºN;
- Vazão: 938 m³/s;
- Área Alagada: 17,7 km²;
- Queda d’água: 18,04 metros;
- Nível de montante: 21,3 metros;
- Nível de jusante: 4,12 m;
- Potência: 252 MW;
- Energia firme: 149,16 MW;
- Turbinas: 03 turbinas Kaplan de eixo vertical;
- Reservatório: 17,72 km².
Com a interligação do Amapá ao SIN, a energia gerada na região irá compor o
volume total disponível no Brasil. Essa energia local estará acessível a todas as regiões, o que
fará com que o Amapá possa vir a se tornar um exportador de energia.
Pelo contrato de concessão com o Governo Federal, a Hidrelétrica Ferreira Gomes
está obrigada a disponibilizar para o SIN 70% da energia que produzir. Os outros 30%
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poderão ser vendidos no chamado Mercado Livre para grandes consumidores como indústrias
e/ou a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA).
3.5. Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão
Segundo a EDP – Energias de Portugal (2013),o investimento para a obra de
construção da hidrelétrica de Cachoeira Caldeirão, no Rio Araguari, estado do Amapá, está
estimado em 1,1 bilhão de reais.
A hidrelétrica Cachoeira Caldeirão será construída entre os municípios de Ferreira
Gomes e Porto Grande, com capacidade de geração de 219 megawatts. A EDP do Brasil
pretende investir no projeto, nos próximos anos, R$ 1,1 bilhão, do quais já foram
investidos16% em 2013; 43% estão sendo investidos em 2014; 35% será investido em 2015 e
6% em 2016. O início da comercialização de energia da usina está previsto para janeiro de
2017, e o prazo do contrato com o governo é de 30 anos.
A hidrelétrica faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para
aumentar a capacidade de geração de energia no Brasil. A UHE Cachoeira Caldeirão será
ligada à rede nacional através da Subestação Ferreira Gomes, com uma linha de transmissão
de 230 KV com cerca de 10 km de comprimento.
Segundo Amapá (2013), o Governo do Estado vem discutindo com a diretoria da EDP
um amplo quadro de ações estruturantes, para compensar as comunidades atingidas pelos
impactos causados a partir da instalação da Usina Hidrelétrica Cachoeira Caldeirão, que será
construída no Rio Araguari.
3.6. Rio Jarí e a Hidrelétrica de Santo Antônio do Jarí
Segundo a EDP – Energias de Portugal (2013), esta em fase adiantada de construção da
hidrelétrica de Santo António do Jarí, que deverá começar a produzir energia em meados de
2015.
Localizada no Rio Jarí – sul do Amapá - na divisa dos estados do Pará e Amapá, entre
os municípios de Almeirim e Laranjal do Jarí, a UHE Santo Antônio do Jarí terá 373,4 MW
de potência, energia suficiente para abastecer uma cidade com cerca de 3 milhões de
habitantes (5 vezes a cidade de Macapá), e será interligada ao SIN – Sistema Interligado
Nacional.
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Na UHE Santo Antônio do Jarí, em 2014, no auge das obras, a geração de empregos é
de cerca de mil e quatrocentos empregos diretos, e aproximadamente 3.000 indiretos. Os
municípios de Laranjal do Jari e Almeirim estão tendo um significativo aumento na
arrecadação de ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), um reforço
importante nos orçamentos municipais.
As capacitações profissionais fazem parte do Projeto Básico Ambiental da empresa,
tendo como objetivo a qualificação profissional dos trabalhadores de Laranjal do Jarí, Vitória
do Jarí, Almerim e Monte Dourado, facilitando o acesso aos postos de trabalho gerados pelo
empreendimento. Todas as ações do Programa estão sendo realizadas através de parceria entre
a CESBE - construtora das obras - Fundação Orsa e as Prefeituras de Laranjal do Jarí, Vitória
do Jarí e Almerim.
4. Considerações finais
Este artigo se propôs a analisar, em primeiro lugar, a atual infraestrutura de geração de
energia instalada no estado do Amapá e os entraves ao crescimento econômico das empresas e
ao desenvolvimento regional. Ficou caracterizado que ao longo dos últimos anos, o Estado do
Amapá vem conseguindo suprir sua demanda residencial por energia elétrica com a atual
matriz instalada, utilizando o potencial instalado da UHE de Coaracy Nunes e da
Termoelétrica de Santana.
No que se refere às demandas das empresas por energia elétrica industrial, também
ficou caracterizado que a atual matriz energética instalada não tem condições de atender às
necessidades decorrentes do crescimento das empresas já instaladas na região, e muito menos
de novas empresas atraídas para a região.
Com o advento da Zona Franca Industrial, prestes a ser instalada no estado, a situação
se tornaria crítica, já que no projeto da Zona Franca, esta contemplado a isenção do Imposto
sobre Produtos Industrializados – IPI - isenção condicionada a instalação das empresas na
região amapaense. Essa desoneração fiscal tende a representar um forte incentivo para a
atração de empresas para a região amapaense, promovendo o crescimento econômico e o
desenvolvimento regional. A assinatura do processo de crescimento econômico se caracteriza
pela expansão das atividades das empresas já instaladas no Estado ou na região ou pelo
surgimento/instalação de novas empresas, sendo os principais efeitos decorrentes: a) Expansão
na geração de empregos; b) Expansão nos níveis de renda dos indivíduos, com reflexos no
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consumo; c) Expansão na geração de tributos, com reflexos no Tesouro do Estado; e d)
Expansão na qualidade/diversidade de produtos para consumo.
Analisando o momento que o estado do Amapá atravessa no tocante a produção de
energia, e visando melhorias, foi aprovado pelo Governo Federal a vinda do "Linhão de
Tucuruí' para o estado e a implantação de novas hidrelétricas privadas. O segundo objeto de
análise desse artigo é, como e porque, a interligação do sistema isolado amapaense de geração
de energia ao SIN – Sistema Integrado Nacional, pode oferecer espaço para o crescimento
econômico das empresas e o desenvolvimento regional.
Num primeiro momento a interligação com o SIN, tornará o estado do Amapá um
importador de energia, que equilibrará, com a energia de Tucuruí, as deficiências do sistema
de geração local de energia. Também deixaremos de queimar o caro e poluente óleo diesel,
que abastece a UTE de Santana. Finalmente, a médio prazo, findado o período de implantação
das três hidrelétricas em construção – Hidrelétrica Ferreira Gomes 252 MW, Hidrelétrica
Cachoeira Caldeirão 219 MW e Hidrelétrica de Santo Antônio do Jari 373,4 MW – o estado
do Amapá se tornará um exportador de energia, sendo capaz de prover energia elétrica
residencial e industrial de maneira abundante para o mercado local – vencendo um dos
entraves a instalação de industrias no estado – e com o Estado recebendo significativa parcela
de tributos, capitalizando-se, e podendo investir em melhorias sociais na região amapaense.
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5. Referências
AMAPÁ, Governo do estado do. Amapá: Construindo uma economia sustentável.
Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Mineração, 2009.
AMAPÁ, Governo do estado do. Relatório de atividades - 2012. Secretaria de Estado da
Indústria, Comércio e Mineração, 2013.
ABRANTES, Joselito S. Desenvolvimento local em regiões periféricas. Tese doutoral.
NAEA-UFPA, 2010.
BOBIO, Norberto. Estado, Governo e Sociedade: Para uma teoria geral da política. São
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