produÇÃo didÁtica - oac identificaÇÃo · empregar uma criança ... ainda não tiveram um final...
TRANSCRIPT
PRODUÇÃO DIDÁTICA - OAC
IDENTIFICAÇÃO
Autor: Maria Lúcia Lopes Santos
Estabelecimento: Colégio Estadual Antonio Castro Alves – Ensino Fundamental e Médio
Ensino: Médio
Disciplina: História
Conteúdo Estruturante – Relações de Trabalho
Conteúdo Básico: Trabalho escravo, servil, assalariado e o trabalho livre.
Conteúdo Específico: Trabalho Infantil
Município: Capitão Leônidas Marques NRE Cascavel
1- RECURSO DE EXPRESSÃO
“A exploração do trabalho de crianças e adolescentes envergonha nossa história”.
PROBLEMATIZAÇÃO:
TRABALHO INFANTIL
O trabalho infantil, sempre esteve presente na história da humanidade, mesmo antes do
surgimento do capitalismo, se intensificou com a Revolução Industrial e, na atualidade
apesar da legislação que regulamenta e combate, ele ainda é empregado em vários setores
da indústria, lavoura, mercado informal e outros.
Já que o trabalho infanto/juvenil faz parte do nosso cotidiano, desenvolver este conteúdo no
AOC servirá para a implementação do projeto de pesquisa bem como contribuirá com os
professores na abordagem dos múltiplos aspectos ligados ao trabalho infantil no Brasil e em
outros países – suas origens, suas características, suas implicações e, principalmente, a
participação do Estado e da sociedade na solução dos problemas que emergem deste tipo
de trabalho. Entretanto algumas questões nos intrigam não podem deixar de ser levantadas
ao se abordar esse tema: Por que ainda se utiliza a mão-de-obra infanto/juvenil? Quais as
verdadeiras intenções na exploração dessa mão-de-obra? O que leva as crianças a entrar
tão cedo no mundo de trabalho? Será que o trabalho é uma forma de educar? Como a
sociedade pode ajudar no combate do trabalho infantil? Como a legislação tem contribuído
para amenizar a exploração do trabalho de crianças e adolescentes?
Vivemos em um sistema onde o trabalho para a humanidade tem sido um instrumento de
luta pela sobrevivência. O trabalho tornou-se meio de vida para a grande maioria e um meio
de acumulação para a minoria. Isto é serve como forma de exploração da grande maioria da
humanidade por aqueles que, ao possuírem capital, não necessitam trabalhar e podem viver
do trabalho alheio. O trabalho se torna então fonte de sobrevivência precária para tantos e
fonte de acumulação de riqueza para alguns. Esse mecanismo de exploração do trabalho,
de não remuneração por parte do capitalista do valor criado pelo trabalhador é o que Marx
chamou de “mais-valia”, o valor a mais, criado pelo trabalhador e não remunerado que
alimenta a acumulação de riquezas e alavanca o processo de reprodução do capital.
O trabalho humano é uma mercadoria como qualquer outra, comprada e vendida.
Seu valor é definido pelo salário com o qual o trabalhador é remunerado, onde a troca não é
igual. Os trabalhadores são donos de sua força de trabalho, mas não determinam o seu
valor. Segundo Braverman:
O trabalhador faz o contrato porque as condições sociais não lhes dão outra alternativa para ganhar
a vida. O empregador, por outro lado, é o possuidor de uma unidade de capital que ele se esforça
por ampliar e para isso converter parte dele em salários. (BRAVERMAN,1974, p.55)
A exploração do trabalho através da baixa remuneração exige do trabalhador a
inserção da família (mulher e crianças) no mundo do trabalho para a garantia da
sobrevivência. Isso é percebido desde a Revolução Industrial que alterou o modo de
produção expropriando camponeses e estimulando a migração para áreas urbanas, levando
um contingente de pessoas a procurarem nas fabricas uma oportunidade de sobrevivência.
Marx, em 1867, já descrevia algumas das causas do trabalho infantil. Segundo ele, com o
advento das máquinas, reduz-se a necessidade da força muscular, permitindo agora o
emprego de trabalhadores fracos ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com
membros flexíveis. Assim, emprega-se o trabalho das mulheres e das crianças. Marx
observa que o fato de a máquina reduzir o tempo necessário de trabalho, faz com que o
empregador, detendo os meios de produção, acabe reduzindo o salário dos trabalhadores e,
consequentemente, o meio de sobrevivência das famílias. A redução do salário acaba,
muitas vezes, forçando o trabalhador homem adulto a inserir toda a família no mercado de
trabalho para compensar as perdas. Diz Marx :
Tornando supérflua a força muscular, a maquinaria permite o emprego de trabalhadores sem força
muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com membros flexíveis. Por isso, a
primeira preocupação do capitalista ao empregar a maquinaria foi de utilizar o trabalho de mulheres
e das crianças. Assim, de poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores, a maquinaria
transformou-se imediatamente em meio de aumentar o número de assalariados, colocando todos os
membros da família do trabalhador, sem distinção do sexo e de idade, sob o domínio direto do
capital. O trabalho obrigatório para o capital tomou o lugar dos folguedos infantis e do trabalho
livre realizado em casa, para a própria família dentro do limite estabelecido pelos costumes.
(MARX, 2008, livro I, v.2, p.450-451).
Hoje percebemos o trabalho infanto/juvenil mais presente no setor informal, onde se
encontram empresas não registradas, subcapitalizadas, terceirizadas. Essa mão-de-obra
pode ser mais facilmente admitida do que a dos trabalhadores adultos, pois a remuneração
muitas vezes é inferior a um salário mínino, sem pagar os direitos trabalhistas, não tem
representação sindical e ainda a clandestinidade protege aqueles que a empregam.
O sistema capitalista de produção se beneficia da exploração do trabalho
infanto/juvenil ao empregar diretamente ( o emprego protegido pela legislação) a sua força
de trabalho, e indiretamente através da tercerização(desobrigação dos direitos trabalhistas
subcontratam famílias que produzem em casa) de seu trabalho na cadeia produtiva. Isto
acontece porque sua força de trabalho agrega valor na produção da mercadoria, gera mais
lucros, não há uma preocupação com os prejuízos provocados na saúde e
desenvolvimentos das crianças ocultados pelo título de “ajuda”.
É de se destacar que o trabalho infanto/juvenil é legitimado por razões culturais que
valorizam demasiadamente o trabalho como forma de realização do ser humano e que ao
empregar uma criança ou adolescente, se está prevenindo a marginalidade e ainda garante
uma ajuda no sustento de casa. Thompson faz uma referencia neste sentido quando
escreve: “É fato que os pais não só necessitavam dos salários de seus filhos, mas achavam
natural que eles trabalhassem.” (THOMPSON,1988,p.221)
No entanto, se o trabalho fosse a maneira mais apropriada de educação das
crianças, os filhos de famílias abastadas estariam trabalhando. Na verdade, o trabalho de
crianças é decorrente da desigualdade social e contribui para manter essa desigualdade,
uma vez que a criança que trabalha geralmente não consegue estudar e não tem chances
de melhores trabalhos na fase adulta, reproduzindo, assim, sua condição de pobreza e
exclusão.
O trabalho infantil continua sendo uma dura realidade, se de um lado muitos
repudiam essa prática como amoral, injusta e ilegal, de outro, muitos lucram com a
exploração desse tipo de mão-de-obra e não pretendem abrir mão dela.
REFERÊNCIAS:
BRAVERMAN. Harry , Trabalho e Capital Monopolista. “Adegradação de trabalho no
século XX”. Ed. S.A. 3ª edição, Rio de Janeiro,1987.
MARX, Karl. O Capital. Crítica da economia Política. Trad. Reginaldo Sant”Anna, 25ª ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008
THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa, “A maldição de Adão”,
vol II, Ed. Paz e Terra, 2ª edição, Rio de Janeiro,1988
HOBSBAWM, Eric J. Os trabalhadores, “Estudos Sobre a História do Operariado”, Vol.
45, Ed. Paz e Terra , Rio de Janeiro, 1981.
CORREIA, ClaudiaPeçanha, GOMES,Raquel Salinas, Trabalho infantil:as diversas faces
de uma realidade, Ed. Viana& Mosley.Petropolis, Rio de Janeiro,2003
2- RECURSOS DE INVESTIGAÇÃO
2.1- INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR:
CAPITALISMO X TRABALHO INFANTIL
Em meados do séc.XIX, o avanço da maquinaria nas fábricas inglesas tornou desnecessário
o emprego da força muscular para a produção, permitindo o uso de mão-de-obra feminina e
infantil. O emprego passou a ocupar o tempo do brinquedo e do trabalho doméstico livre. O
alto índice de acidentes de trabalho, cujas conseqüências levavam, na maioria das vezes, à
morte ou graves mutilações de crianças e adolescentes sem contar as inúmeras e
constantes doenças pulmonares, ocasionadas, entre outros fatores, pela falta de oxigênio
(ar puro e ventilação) nos ambientes de trabalho. As condições desumanas e degradantes, a
ausência de alternativas provocada pela relação de completa dependência dos
trabalhadores num regime que poderia ser comparado a escravidão, fazia com que muitas
famílias necessitassem do ganho dos filhos para se manterem.
Marx destacou:
[...] milhares de braços tornaram-se de súbito necessário. [...] Procura-se principalmente pelos pequenos e
ágeis. [...] Muitos, milhares desses pequenos seres infelizes, de sete a treze ou quatorze anos foram
despachados para o norte. O costume era o mestre(o ladrão de crianças) vesti-los, alimentá-los e aloja-los na
casa de aprendizes junto a fábrica. Foram designados supervisores para lhes vigiar o trabalho. Era interesse
destes feitores de escravos fazerem as trabalhar o máximo possível, pois sua remuneração era proporcional à
quantidade de trabalho que eles podiam extrair. [...] Os lucros dos fabricantes eram enormes, mas isso apenas
aguçava-lhes a voracidade lupina. Começaram então a prática do trabalho noturno, revezando, sem solução de
continuidade, a turma do dia pela da noite o grupo diurno ia se estender nas camas ainda quentes que o grupo
noturno ainda acabara de deixar, e vice e versa. Todo mundo diz em Lancashire, as camas nunca esfriam.
(Marx, 2008, p. 875-876)
A exploração do trabalho infantil era alarmante em meados do séc. XIX. “O censo da
Inglaterra de 1861 mostrava que quase 37% dos meninos e 21% das meninas de 10 a 14
anos trabalhavam (...) as crianças e jovens com menos de 18 anos representavam mais de
um terço dos trabalhadores nas indústrias têxteis da Inglaterra no início do século XIX e
mais de um quarto nas minas de carvão.”(Kassouf, 2007) Essas atividades eram
extremamente insalubres e exaustivas onde quer trabalhassem.
Desde lá, as concepções e costumes referentes ao trabalho infantil vêm-se modificando, e a
proteção à criança e ao adolescente, sobretudo a proteção legal, intensificou-se. As leis, os
acordos internacionais para eliminar e projetos para combater todas as formas de trabalho
infantil, considerando aquele que priva a criança de seu direito ao estudo, ao lazer, a um
desenvolvimento saudável e que ainda pode, em suas piores formas, ser uma ameaça à sua
saúde, ainda não tiveram um final feliz.
Formas antigas de exploração do trabalho permanecem no mundo contemporâneo, com
trabalhos semi-escravos que contribuem para o funcionamento do sistema capitalista, como
um fator necessário para sua manutenção e reprodução.
Hoje devido ao mercado cada vez mais globalizado, as empresas do Ocidente ou do
“Primeiro Mundo”, se instalam em países subdesenvolvidos onde a mão-de-obra é barata e
se constitui em vantagens significativas, pois produz com menor custo e assim os produtos
tornam-se mais competitivos no mercado. “É comum nas fábricas de brinquedos da
McDonald’s, Disney à Hasbro, Mattel entre outras empresas americanas instaladas na
China, empregar o trabalho das crianças, sendo usado nas piores condições, em prisões
laborais, com janelas gradeadas e portas fechadas, tem excessivas horas de trabalho, são
vigiadas por chefes severos, não podem falar nem se mover, os horários para alimentar-se ir
ao banheiro, entrar e sair são regulados, ganham salários miseráveis ou nada pelo que
executam.” in: http://www.portobelem.com.br/modules/news/print.php?storyid=16.
Percebemos então que as razões para utilizar mão-de-obra infanto/juvenil e tratamento
dado a elas continuam sendo os mesmas da Revolução Industrial, pois vivemos ainda numa
sociedade, onde a acumulação do capital é a força propulsora, que impulsiona o seu
desenvolvimento, sem se importar com os braços frágeis que executam as tarefas, os danos
a saúde e a impossibilidade de uma educação escolar adequada, pois essa é a forma mais
segura de manter a produção e os lucros.
Se trabalho escravo na atualidade é caracterizado como aquele em que o empregador
sujeita o empregado a condições de trabalho degradantes e o impede de desvincular-se de
seu "contrato", a retenção de salários, a violência física e moral, a fraude, o aliciamento, o
sistema de acumulação de dívidas (principal instrumento de aprisionamento do trabalhador),
as jornadas de trabalho longas, a supressão da liberdade de ir e vir, o não-fornecimento de
equipamentos de proteção, a inexistência de atendimento médico, a situação de
adoecimento, o fornecimento de água e alimentação inadequadas para consumo humano,
entre outros, são elementos associados ao trabalho escravo contemporâneo, podemos
então dizer que muitas crianças hoje são exploradas como escravas em muitos países,
inclusive no Brasil, trabalhando nas fábricas, olarias, carvoarias, pedreiras, bordéis, tráfico e
tantos outros. Mas o que leva crianças e adolescentes se submeterem a essa exploração
degradante? A pobreza é causa determinante para a oferta dessa mão-de-obra, onde a
própria família oferece o trabalho dos filhos, pela necessidade de contribuição na renda
familiar. Para essas famílias, a vida se torna uma luta diária pela sobrevivência. As crianças
e adolescentes são forçados a assumirem responsabilidades muito cedo, ajudando em casa
para que os pais possam trabalhar, ou indo elas mesmas trabalhar para ajudar a família no
sustento do lar, ou então quando elas mesmas são responsáveis pelo seu próprio sustendo,
e o seu trabalho é o que as mantêm. Como fazer para acabar de vez com este quadro
penoso da humanidade? O que fazer para diminuir cada vez mais os números dessa
exploração? O crime da exploração infanto/juvenil em todos os seus aspectos somente terá
fim se contar com a atuação do poder público, no sentido de acabar com as dificuldades
enfrentadas pelas famílias de baixa renda, priorizando a saúde, a educação, moradia,
saneamento básico, programas de geração de renda, treinamento profissional entre outros.
É importante também o envolvimento, a colaboração e a fiscalização permanente da
sociedade, através de grupos privados, organização não-governamental e da população no
combate a exploração do trabalho infanto/juvenil no mundo., pois é inaceitável ainda hoje,
privar as crianças de ter uma infância digna, onde posam estudar, brincar e aprender e
gozar de seus direitos de criança cidadã.
Referências:
VERONE,Josiane Rose Petry & CUSTODIO,André Viana, Trabalho Infantil – a negação de ser criança e adolescente no Brasil, Ed. OAB, Santa Catarina, 2007
MARX, Karl. O Capital. Crítica da economia Política. Trad. Reginaldo Sant”Anna, 25ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008
THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa, “A maldição de Adão”, vol II, Ed. Paz e Terra, 2ª edição, Rio de Janeiro,1988
KASSOUF, Ana Lúcia, O que conhecemos sobre o trabalho infantil? Nova economia, vol 17 no.2, Belo Horizonte, May/Aug.2007 – Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010363512007000200005&script=sci_arttext >Acesso em: 19/11/2008
2.2 – PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR
SOCIOLOGIA:
Trabalhar as questões sociais que implicam para a entrada das crianças e adolescentes no
trabalho prematuramente, assim como as demais explorações que sofrem.
Outra questão que pode ser abordada e o benefício da Bolsa Família, os condicionantes e
como esse benefício vem sendo usado no combate do trabalho infantil.
FILOSOFIA:
Nesta disciplina pode–se fazer uma reflexão sobre a premissa, “O trabalho dignifica o
homem” já que o trabalho infantil é legitimado por razões culturais e muitas vezes visto
como natural, prevenindo assim as crianças e adolescentes da marginalidade.
LÍNGUA PORTUGUESA:
Na leitura do livro Operários com dentes de leite- Histórias sobre o trabalho infantil, pode-se
nessa disciplina ser usado para analisar os diferentes tipos de linguagem empregadas nas
narrativas, seus personagem e temporalidade, já que o uso da linguagem dá voz ao texto,
define os personagens e oferece mais veracidade ao texto quando informativo.
BIOLOGIA:
Como a exploração sexual e a prostituição infantil e um fato presente em nosso País, esta
disciplina pode trabalhar as DSTs- Doenças Sexualmente Transmissíveis e os métodos
contraceptivos.
GEOGRAFIA:
Através dos dados do IBGE, o professor pode fazer a análise e evolução dos números do
trabalho infantil no Brasil, bem como os estados que mais exploram essa mão-de-obra
mirim.
2.3 - CONTEXTUALIZAÇÃO
Trabalho infanto/juvenil no Brasil
Brasil Colônia e ImpérioDesde a colônia e estendendo-se ao Império, o Brasil manteve forte tradição de utilização
da mão-de-obra infantil, tanto como recurso mantido no âmbito doméstico pelas famílias
pobres, quanto em caráter de exploração ligada às elites, em afazeres produtivos e
desgastantes nas lavouras ou nas tarefas diárias da casa grande.
Em meados de 1580, surgem as primeiras ações de caráter assistencial para resolver o
maior problema da infância na época: a orfandade. A Santa Casa de Misericórdia abrigavam
as crianças indesejadas, recebendo-as através da “Roda dos Expostos”, para posterior
encaminhamento ao brigo de uma família. A intenção das famílias que recebiam as crianças
abandonadas era, a partir dos 7 anos, começar a explorar o seu trabalho em troca de casa e
comida.
Nos anos iniciais do século XIX o Brasil sofre mudanças significavas como o aumento
demográfico e com ele, nas grandes cidades brasileiras, emergem problemas sociais, como
o aumento da pobreza e perambulação de desocupados pelas ruas. “Em meio a essa
população que dominava as ruas, as crianças e jovens representavam seus papéis de
"pequenos agentes" na luta cotidiana. Moleques de recados, vendedores ambulantes,
criados e aprendizes [...]”.( SCHUELER, 1999). Para amenizar a situação o Ministério
Imperial reconhece a necessidade de instruir a população livre, por parte dos dirigentes do
Estado Imperial. Em fevereiro 1854 foi criado o Regulamento da Instrução Primária e
Secundária do Município da Corte – Lei 1.331 A, que delimitava o público para o ensino
primário e secundário, sendo o primário de caráter obrigatório para toda criança livre,
inclusive as pobres, que após o término eram encaminhadas as oficinas para aprendizagem
de ofícios para lhes garantir o sustento e o trabalho. “[...]A atividade econômica da criança
pobre era fundamental para a família popular e, por esta razão, as escolas eram tão pouco
freqüentadas. Os alunos não podiam chegar à hora de entrada e nem dedicar tanto tempo aos
estudos. O único meio de resolver o problema seria, portanto, tornar a escola primária um
espaço completo de integração e formação das crianças pobres, incluindo a instrução primária e
profissional,[...]”.( SCHUELER, 1999). O ensino secundário não era obrigatório e se
destinava as crianças abastadas, para mais tarde exercer cargos públicos, atividades
intelectuais e as funções políticas.
Abolida a escravidão, as crianças negras começaram a ser expostas a novos tipos de
fragilidade. Uma vez que escravos libertos ficaram sem ter como sustentar seus filhos, as
crianças passam a buscar na agricultura um meio de vida, trabalhando junto com os adultos,
se submetendo a pequenos serviços nas áreas urbanas, enquanto outros que não
conseguem trabalho se lançam a marginalidade para poder sobreviver. Tornaram-se
oficialmente livres, mas continuaram presos ao trabalho, que lhes roubava a infância.
República
Com o fim do Império, marcado pela economia agrária e mão-de-obra escrava, a República
agora com mão-obra livre passa a ter muitos problemas de ordem social e vêem no trabalho
infantil uma forma de disciplinar os menores de rua. Segundo Moura(1999) os
contemporâneos da época argumentavam à necessidade de tirar as crianças das ruas, para
afastá-los dos vícios e das ilicitudes, o trabalho seria a forma de corrigir, disciplinar e educar,
transformando-os em “homens trabalhadores e úteis a sociedade” como necessário para a
ordem pública.
O trabalho infantil passa a ser regulamentado pelo Decreto nº 1.313 de 1891 que
determinava em 12 anos a idade mínima para trabalhar, no entanto, tal determinação não se
fazia valer na prática, pois o próprio estado via no trabalho uma forma de educar as
crianças, argumentado que o futuro do país estaria projetado nesses trabalhadores. A
indústria nascente e a agricultura contavam com a mão de obra infantil, principalmente filhos
de imigrantes que já cumpriam rotinas de trabalhador.
O início do século XX surge às primeiras organizações proletárias, que através da greve
geral de 1917, criam o Comitê de defesa Proletária que reivindicava, entre outras coisas, a
proibição do trabalho de menores de 14 anos e a abolição do trabalho noturno de mulheres
e de menores de 18 anos.
Em 1923, foi criado o Juizado de Menores, que no ano de 1927, promulgou o primeiro
documento legal para a população menor de 18 anos: o Código de Menores, no entanto não
era endereçado a todas as crianças, mas apenas aquelas tidas como estando em “situação
irregular”. Ele visava estabelecer diretrizes claras ao trato da infância e juventude excluídas,
regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e
liberdade vigiada.
No entanto esse período marcou o caminho para a cidadania através da inserção no mundo
do trabalho, esbarrando assim no processo de consolidação dos interesses do capital, que
passa pelo cotidiano da família operária e pela burla constante da legislação social-
trabalhista vigente da época.
Estado Novo
A revolução de 30 representou a derrubada das oligarquias rurais do poder político e o
surgimento de um estado autoritário com características corporativas, que fazia das políticas
sociais o instrumento de incorporação das populações trabalhadoras urbanas ao projeto
nacional, ele ficou marcado no campo social pela instalação do aparato executor das
políticas sociais do país. “As políticas praticadas na época aprofundavam a distinção entre
“ criança” e “menor”, sobrepondo ao conteúdo autoritário uma perspectiva ideológica, que
oferecia as bases para o controle da juventude do país, ou seja, definia um campo de
intervenção social que buscava integrar, disciplinar e tornar governáveis os membros da
classes mais pobres.” (CAMPOS & ALVERGA,2001). Dentre elas desta-se a legislação
trabalhista, que intuía a proibição de trabalhos a menores de quatorze anos, a
obrigatoriedade ao ensino e a cobertura previdenciária aos que trabalhavam.
Em 1942, período de maior autoritarismo do Estado Novo foi criado o serviço de Assistência
ao Menor – SAM. Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como
um equivalente do sistema penitenciário para a população menor de idade. Sua atuação era
correcional e repressiva. O sistema previa atendimento para o adolescente autor de ato
infracional nos internatos e casas de correção e para o menor carente e abandonado,
patronatos agrícolas e escolas de aprendizagens de ofícios urbanos.
Além do SAM, algumas entidades federais de atenção à criança e ao adolescente foram
criadas visando o campo do trabalho, tais como:
• Casa do Pequeno Jornaleiro – programa de apoio a jovens de baixa renda baseado
no trabalho informal e no apoio assistencial e sócio-educativo.
• Casa do Pequeno Lavrador – programa de assistência e aprendizagem rural para
crianças e adolescentes filhos de camponeses.
• Casa do Pequeno Trabalhador – programa de capacitação e encaminhamento ao
trabalho de crianças e adolescentes urbanos de baixa renda.
• Casa das Meninas – programa de apoio assistencial e sócio-educativo a
adolescentes do sexo feminino com problemas de conduta.
Redemocratização
Com caráter liberal, este governo estabelece uma serie de garantia democráticas que em
alguns casos haviam sido suprimidas pelo governo de Vargas.
O SAM passa a ser considerado, perante a opinião pública repressivo, desumano e
conhecido como “universidade do crime”. Porém nada foi instituído ou criado como amparo
as crianças e adolescentes.
Em 1950, foi instalado na Paraíba o primeiro escritório da UNICEF, devido o Nordeste ser
a região mais afetada, assim como hoje pelos problemas sociais que envolvem as crianças
e adolescentes desde o nascimento, portanto as primeiras iniciativas foram para o apoio e
proteção a saúde das gestantes.
Regime Militar
Em 1964 foi instituída a ditadura militar, interrompendo o avanço da democracia no país. A
presença autoritária do estado tornou-se uma realidade. Restrição à liberdade de opinião e
expressão; recuos no campo dos direitos sociais e instituição dos Atos institucionais que
permitiam punições, exclusões e marginalizações políticas eram algumas das medidas
desta nova ordem trazidas pelo golpe. Neste período a área da infância, foi pautada por
dois documentos significativos e indicadores da visão vigente:
• A Lei que criou a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (Lei 4.513 de 1/12/64
– Tinha por objetivo formular e implantar a Política Nacional de Bem-Estar do
Menor, herdando do SAM o prédio e pessoal, com isso, toda a sua cultura
organizacional. A FUNABEM propondo-se a ser grande instituição de assistência à
infância, cuja linha de ação tinha internação, tanto dos abandonados e carentes
como dos infratores.
• A Constituição Federal de 1967, estabelece o trabalho infantil a partir de 12 anos.
• O Código de Menores de 1979 (Lei 6697 de 10/10/79 – Sem romper com linha de
arbitrariedade assistencialismo e repressão junto à população infanto/juvenil. Esta
lei introduziu o conceito de “menor em situação irregular”, que reunia o conjunto de
meninos e meninas que estavam dentro do que chamavam de infância em “perigo”
e infância “perigosa”, dependendo da atividade que exerciam. Eles eram colocados
como objetos potencial da administração da Justiça de Menores, que tinham
poderes ilimitados quando ao tratamento e destino desta população. Na verdade
ela vem reforçar as discriminações e fortalecimento as desigualdades legitimando
toda ordem de exploração contra as crianças e adolescentes.
Abertura Política e nova Redemocratização
A década de 80 foi de mobilização para garantir os novos fundamentos da infância e
adolescência brasileira, que culminou com a Constituição Federal de 1988 e no estatuto da
Criança e Adolescente-ECA-(lei 8.069/90), que consolida uma grande conquista da
sociedade brasileira: a produção de um documento de direitos humanos que contempla o
que há de mais avançado na normativa internacional em respeito aos direitos da população
infanto/juvenil, assegurando à criança direito a saúde, educação, lazer, cultura, dentre
outros. in: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm. Torna-se presente a garantia de
direitos previdenciários e trabalhistas, direito a profissionalização e à capacitação
adequada para aqueles aptos a trabalhar, ou seja, segundo a Constituição Federal de 1988
que impõe a proibição expressa de “... trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores
de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
de aprendiz”(art. 7º, XXXIII) in: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm.
A legislação exerce papel preponderante para a erradição do trabalho infantil, no entanto, a
implantação integral do ECA ainda representa um desafio, há um longo caminho a ser
percorrido antes que se atinja um estado de garantia plena de direitos com instituições
sólidas e mecanismos operantes. Além da Constituição Federal, normas internacionais
envolvendo o trabalho infantil existem e devem ser cumpridas; muitas dela aprovadas pela
Organização Internacional do Trabalho-OIT. .Sabemos que somente a lei não é o bastante,
pois o trabalho infantil é conseqüência de fatores sociais e culturais, mas avanços
significativos vêm ocorrendo nos últimos anos, no combate ao trabalho infanto/juvenil, mas a
luta pelos direitos humanos no Brasil é ainda está em curso, fruto da obstinação e
perseverança dos que acreditam na possibilidade de uma sociedade menos exploradora e
na possibilidade de um mundo melhor para todos.
Referências
CAMPOS, Herculano Ricado, ALVARENGA, Alex Reinecke. Trabalho infantil e ideologia: contribuição ao estudo da crença indiscriminada na dignidade do trabalho, Universidade do Rio Grande do Norte, 2001.Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/epsic/v6n2/7276.pdf > Acesso em: 20/11/2008
CORREIA,Claudia Peçanha, GOMES,Raquel Salinas, Trabalho infantil:as diversas faces de uma realidade, Ed. Viana& Mosley.Petropolis, Rio de Janeiro,2003
COTRIM, Gilberto, História e consciência do Brasil, 7ª edição, Editora Saraiva, 1999
MOURA, Esmeralda Blanco Bolsonaro, Meninos e meninas na rua: impasse e dissonância na construção da identidade da criança e do adolescente na República Velha, Rev. Bras. de História. V.19 nº 37, São Paulo, 1999Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881999000100005&lng=pt&nrm=iso>Acesso em: 21/11/2008
DEL PRIORE, Mary. História das Crianças no Brasil. Editora Contexto, São Paulo, 1999.
SCHUELER, Alessandra F. Martinez de, Crianças e escola na passagem do Império para
a República. Ver. Brás. Hist., São Paulo, v. 19, n. 37, set, 1999,
Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881999000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em: 22/11/2008
SILVA, Francisco de Assis, História do Brasil,1ª edição, São Paulo. Editora Moderna, 1992.
VERONE, Josiane Rose Petry & CUSTODIO, André Viana, Trabalho Infantil – a negação de ser criança e adolescente no Brasil, Ed. OAB, Santa Catarina, 2007
Estatuto da Criança e Adolescente.Disponível em: <http://www.cide.rj.gov.br/Cidinho/eca/eca.asp> Acesso em: 15/11/2008
BRASIL. Constituição Federal (1988). Brasília: Senado Federal,2001Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/principal.htm> Acesso em: 16/11/2008
Organização Internacional do Trabalho. Disponível em : <http://www.oitbrasil.org.br/> Acesso em: 16/11/2008
Trabalho Infantil no Brasil: questões e políticas Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/TRABINI.HTM > Acesso em: 17/11/2008
Consolidação das Leis do Trabalho
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del5452compilado.htm > Acesso em: 16/11/2008
3- RECURSOS DIDÁTICOS
3.1- SÍTIOS:
Cidade dos Direitos
www.promenino.org.br/portals/0/cidade/index.htm
consultado em 24/09/2008
Este sítio é bem interessante e dinâmico. Ao abri-lo se depara com a Cidade dos Direitos
onde embarca no trem que o levará a visitar todas as estações. É recepcionado pelo prefeito
que vai indicando todos os serviços oferecidos pela cidade. A cidade foi projetada a partir
das diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente. O professor assim como os seus
alunos irá se deparar com uma série de medidas e linhas de ação que devem ser adotadas
pela União, estados, Distrito Federal e municípios visando atender as necessidades e
direitos das crianças e adolescentes. Entre os pontos mais importantes, destacam-se a
adoção de políticas sociais, programas de assistência social, e proteção especial e jurídica
de crianças e adolescentes.
Organização Internacional do Trabalho
www.oitbrasil.org.br/ipec
consultado em 24/09/2008
Neste sítio do Programa para a Eliminação do Trabalho Infantil, o professor terá acesso a
vários linkes que o levará a uma série de informações, desde a legislação, a mapa do Brasil
contendo em cada estado os tipos de trabalho infantil que estão sendo combatidos. Também
contém informações importantes sobre o a exploração sexual das crianças, hoje sendo este
um dos problemas mais sérios a ser combatido no Brasil.
Combate e fiscalização do Trabalho Infantil
www.mte.gov.br/trab_infantil/default.asp
consultado em 20/09/2008
Este sítio do Ministério do Trabalho e Emprego traz informações sobre como este órgão
combate e fiscaliza o trabalho infantil no Brasil, também poderá contribuir nas pesquisas do
professor pois possui uma variedade de linkes relacionados aos parceiros governamentais e
não governamentais que atuam juntamente com o ministério no combate e fiscalização de
toda e qualquer forma de trabalho infantil, retirando as crianças do trabalho e facilitando-lhes
o acesso a escola. Assim como também apresenta legislação, publicação e vídeos
relacionados ao trabalho infantil
PETI
http://www.mds.gov.br/programas/rede-suas/protecao-social-especial/programa-de-erradicacao-do-trabalho-infantil-peti
consultado em 24/09/2008
Este sítio apresenta todas as informações do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
o PETI, do Ministério de Desenvolvimento social, seus objetivos e desafios. Neste sítio o
professor poderá pesquisar quem pode integrar os benefícios como o bolsa família, quais
são os condicionantes, o valor do benefício, o sistema de controle e acompanhamento,
assim como a legislação – ECA
www.promenino.org.br
Direitos da infância e adolescência
Consultado em 23 /09/2008
Este sítio Portal Pró-Menino apresenta uma série de informações ao professor que está em
busca de conhecer as garantias dos direitos das crianças e adolescentes ele contem
informações qualificadas e oferece conteúdos para os temas de combate ao trabalho infantil
e medidas sócio educativas. Contém também a produção do documento de direitos
humanos que contempla o que há de mais avançado na normativa internacional em respeito
aos direitos infanto-juvenil o ECA. Apresenta a linha do tempo dinâmica com breves
descrições dos marcos históricos. Assim como vários artigos de ótima qualidade para leitura
que contribuirá para enriquecer suas aulas.
3.2 – SONS E VÍDEOS
FILMES:
Título: Anjos do SolDireção: Rudi LagemannProdutora Dowtown FilmesDuração 92 minLocal de publicação: BrasilAno 2006
Comentários: Uma menina de 12 anos, nordestina é vendida pelos pais que vivem em
situação de extrema pobreza a um recrutador de prostituta. É levada a um bordel que leiloa
as meninas virgens. Mais tarde vendida a um prostíbulo na região garimpeira é escravizada
pelo dono onde é obrigada a se prostituir. Como o filme aborda o trabalho infantil através da
prostituição, é importante que o professor ao trabalhar o filme, lembre que a pobreza é o
fator principal da prostituição infantil, e que as crianças são vitimas de um sistema de
exclusão social, o filme foi escrito baseado em relatos e publicações da época.
Título: GerminalDireção: Claude BerriProdução:Duração 158 minLocal de publicação: FrançaAno: 1993Comentários: “Germinal” refere-se ao processo de gestação e maturação de movimentos
grevistas e de uma atitude mais ofensiva por parte dos trabalhadores das minas de carvão,
do século XIX na França em relação aos seus patrões. O filme tem como pano de fundo o
trabalho infanto/juvenil na minas durante a Rev. Industrial. A história gira em torno de uma
família, em que o pai trabalha nas minas, juntamente com os filhos, o ganho é pouco, se
encontram em situação de miséria e penúria, resta aos trabalhadores senão a luta contra
aqueles que oprimem.
Título: DAENS- Um grito de justiçaDireção: Stijn Coninx Duração: 138 min.Local de publicação: Holanda/França e BélgicaAno: 1992Comentário: O filme é passado na virada do século, no norte da Bélgica, em plena
Revolução Industrial. A história é desenvolvida em torno da vida dos trabalhadores de uma
fábrica de tecidos, na cidade de Aalst. Naquele momento as pessoas estavam condenadas
a um estado de miséria absoluta. A imagem da exploração de crianças e mulheres nas
fábricas é o ponto alto da trama. A vida da sociedade local passa a ter uma nova direção
com a chegada de Daens, um padre revolucionário.
Título: Oliver TwistDireção: David LeanProdutora Eagle-Liaon Filmes Inc. United ArtistsDuração- 111 minLocal de publicação: InglaterraAno 1948
Comentários- Oliver Twist é um menino órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o
trabalho escravo na Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, devido aos maus tratos
foge, passa a viver nas ruas, mas logo é recrutado por um velho que explora crianças
através de atividades ilícitas. O filme mostra como as crianças eram tratadas na Inglaterra
inclusive eram julgadas com penas severas pelas atividades irregulares que cometiam.
VÍDEOS
Título: Cadeados exploração do trabalho infantilProdutora: Bhimsain - CLIMB FILMSDuração: 5 min.Local de Publicação: CanadáAno: 1997
Neste vídeo em desenho animado, mostra que a felicidade das crianças e o direito a escola,
muitas vezes são interrompidos pela ação dos exploradores do trabalho infantil, onde as
crianças através de trabalhos exaustivos se mutilam nas máquinas e se intoxicam com os
produtos usados nas fábricas. O vídeo mostra que as crianças trabalhadoras sonham com o
direito de ser criança, as brincadeiras e o estudo, lhe é tirado pela imposição do trabalho
que lhe é exigido.
Título: Diga não ao trabalho infantil domésticoDireção: DamartinsProdutora: Fundação AbrinqDuração: min.Local de Publicação: BrasilAno: 2007
Disponível em:< http://www.youtube.com/watch?v=Jf5f2tOBGR0 > acesso em: 17/10/2008
Este vídeo mostra o trabalho doméstico, que explora a criança em tempo integral sem direito a escola e a
Título: Trabalho infantil Direção: Produtora: De BrazilNation AD Video -Fundação TelefônicaDuração: 6 min.Local de Publicação: BrasilAno: 2007
Disponível em:< http://www.youtube.com/watch?v=zXEeK_iRlRw > acesso em: 17/10/2008
O vídeo é uma animação com três histórias: Karina que no serviço doméstico sonha com o
mundo mágico e feliz das crianças, Gabriel um menino trabalhador de rua que se encontra e
se realiza na escola., André, um menino dividido entre o bem e o mal descobre a internet e
viaja descobrindo um novo mundo
SONS:Renato Russo na letra de Música de Trabalho expõe sua consciência crítica aos valores morais e à injustiça da sociedade brasileira quando pensa sobre o mundo do trabalho
Música de TrabalhoRenato Russo, Legião Urbana, 1996
Sem trabalho eu não sou nadaNão tenho dignidadeNão sinto o meu valorNão tenho identidadeMas o que eu tenho é só um empregoE um salário miserávelEu tenho o meu ofícioQue me cansa de verdadeTem gente que não tem nadaE outros que têm mais do que precisamTem gente que não quer saber de trabalharMas quando chega o fim do diaEu só penso em descansarE voltar pra casa, pros teus braçosQuem sabe esquecer um pouco Todo o meu cansaçoNossa vida não é boaE nem podemos reclamar Sei que existe injustiçaEu sei o que aconteceTenho medo da polícia Eu sei o que aconteceSe você não segue as ordens Se você não obedeceE não suporta sofrimentoEstá destinado à misériaMas isso eu não aceitoEu sei o que aconteceE quando chega o fim do diaEu só penso em descansarE voltar pra casa, pros teus braçosQuem sabe esquecer um poucoDo pouco que não temosQuem sabe esquecer um poucoDe tudo que não sabemos
Extraído de : Legião Urbana. A tempestade. Rio de Janeiro. Ed. Corações Perfeitos, EMI, 1996.
3.3- PROPOSTA DE ATIVIDADES
Filme: DAENS- Um grito de justiça:
1-Analise
O professor deverá analisar e discutir com a turma os seguintes pontos após assistir o filme:
• Motivos que levavam as crianças ao trabalho.
• Quais eram as condições de trabalho.
• Analisando o filme quais são as mudanças e permanências no trabalho Infantil.
• Quando a burguesia se sente ameaçada como ela se organiza para se proteger.
• O filme mostra o movimento socialista que incita o povo a lutar pelos seus direitos.
Por quais direitos lutavam e esses direitos hoje já estão legitimados?
2- Debate- Após assistir o filme e pelo menos dois vídeos indicados no OAC fazer um
debate com a turma sobre os prós e contra o trabalho infantil.
3- Pesquisa
Como o filme apresenta a participação da Igreja no movimento dos trabalhadores e o padre
Daens se baseia na encíclica de Leão XIII, Rerum Novarun para pregar em favor dos
operários, fazer uma pesquisa com os alunos sobre a encíclica que foi o marco da doutrina
social da Igreja. O que ela trata em relação, trabalho e capital, patrão e empregado.
Livro- Operários com dentes de leite- História sobre o trabalho infantil.
Seminário:
Como o livro aborda três histórias do trabalho infantil em diferentes temporalidades e
lugares. Dividir a turma em três grupos onde cada um ficará com um dos relatos para leitura
• Professora que aos poucos descobre que suas alunas (Song e Chai) trabalham em
uma oficina clandestina de tecidos na França;
• Relato de uma criança trabalhadora no século XIX;
• Memórias de uma cozinheira (Naila), que quando criança trabalhava em uma oficina
de tapetes em Marrocos.
Como leitura obrigatória para todos um Dossiê (elaborado pelo professor) sobre o trabalho
infantil no Brasil, legislação, combate, etc.
Após a leitura pelos grupos (em casa) cada grupo apresenta a sua história em forma de
seminário. Os alunos devem ser orientados pelo professor, os demais colegas devem
sempre fazer anotações e se engajar na avaliação da comunicação oral de seus colegas.
Como conclusão o professor poderá solicitar dos alunos a produção de um texto sobre a
visão deles sobre o trabalho infantil.
3.4- IMAGENS
As imagens nos levam a refletir:
“Quando privamos uma criança da doce fantasia que rege a infância, aniquilamos
toda a porção de sonho que, um dia, a faria crescer diante do mundo. E quando nos
recusamos a aceitar que, nessa idade, diversão é tão importante quanto nossos maiores
compromissos, atribuindo à criança tarefas que mal cabem em suas mão, estamos, de fato,
pulando a etapa mais importante de sua vida. Porque é justamente nessa época que se
aprende a sorrir e a despertar sorrisos; a vencer e a aceitar derrotas; a cair e a levantar com
delicadeza. Transbordando esperança coragem e fé.”
Fernanda Lins Lima Leal
4- RECURSO DE INFORMAÇÃO
4.1-- SUGESTÕES DE LEITURA:A Formação da Classe operária Inglesa “A maldição de AdãoEdward J. Thompson
Neste livro no capítulo IV, Thompson aborda o trabalho infantil entre os anos de 1780 e 1840
na Inglaterra, durante a Revolução Industrial, onde as crianças eram parte intrínseca da
economia industrial e agrícola. Ele expõe o trabalho árduo e estafante das longas jornadas
em que as crianças eram submetidas assim como os abusos cometidos a elas e o
abandono da humanização dos empregadores, no trato com os seus trabalhadores.
THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa, “A maldição de Adão”, vol II, Ed. Paz e Terra, 2ª edição, Rio de Janeiro,1988
Trabalho Infantil – A negação de ser criança e adolescente no Brasil.
Josiane Rosew Petry Veronese e André Viana Custodio
Esta obra focaliza a compreensão do trabalho Infantil como um fenômeno interdependente
de complexas relações culturais e sociais, nas quais o Direito se apresenta como um dos
elementos constitutivos da realidade. A perspectiva teórica apontada evidencia as relações
políticas, econômicas, culturais e jurídicas subjacentes à realidade histórica pela qual se
consubstanciou o direito de proteção a criança e ao adolescente contra a exploração do
trabalho infantil.
Referência:VERONE,Josiane Rose Petry & CUSTODIO,André Viana, Trabalho Infantil – a negação de ser criança e adolescente no Brasil, Ed. OAB, Santa Catarina, 2007
Os operários com dentes de leite – Histórias sobre o trabalho infantilSigrid Baffert
Este livro aborda três relatos de diferentes épocas sobre o trabalho infantil: duas meninas
coreanas numa tecelagem na França nos dias atuais; a infância de uma marroquina entre os
teares em Fez-el-Bali; e um menino de onze anos numa tecelagem na França no século
XIX. É pertinente o professor ao trabalhar com os alunos fazer uma comparação entre o
trabalho infantil nas diferentes épocas e lugares e perceber que a realidade das crianças
que trabalham e têm sua infância roubada vem de muito tempo.
Referências:BAFFERT, Sigrid, tradução, Marcos Bagno Os Operários com Dentes de Leite - Histórias sobre o Trabalho Infantil, Ed. SM, Brasil, 2007
Trabalho infantil – O difícil sonho de ser criançaCristina Porto, Iolanda Huzak e Jô Azevedo
O livro é da literatura infanto/juvenil que a partir da história de Madalena o leitor entra em
contato com o mundo que envolve o trabalho infantil. Madalena e as colegas de escola se
animam em editar um jornalzinho que alerta a todos o quão é indecente pertencer a um
grupo social que tolera a exploração de milhões de braços infantis. Nele está presente a
denuncia da profunda chaga social brasileira: o trabalho, na maioria dos casos infame e
exaustivo, a que crianças se submetem em todo o país.
Referências:PORTO,Cristina, HUZAK,Iolanda e AZEVEDO,Jô, Trabalho Infantil – O Difícil Sonho de Ser Criança, Ed.Ática, São Paulo, 2003
4.2- NOTíCIAS:
Exploração infantil vai da reciclagem ao tráfico
Tráf ico empregou diretamente 85 adolescentes este ano, e no ano passado 71 menores foram apreendidos por venda de drogas
Publicado em: 23/11/2008 Gisele Wardani de Castro
Pesquisas nacionais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que
no ano passado 4,8 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, estavam em
situação de exploração do trabalho. Em Ponta Grossa não há um diagnóstico sobre este
quadro, apesar da preocupação das autoridades com o assunto. Apesar da falta de
estatísticas reais, ao passear pela região central é fácil encontrar crianças esmolando,
coletando material reciclável e trabalhando como guardadores de carros. Todas essas
atividades são ilegais e os pais ou empregadores podem ser punidos criminalmente por
exploração do trabalho infantil. Muito além dessa exploração escancarada, ainda é mais
preocupante o número de crianças e adolescentes que estão sendo empregados nos
setores da prostituição e do tráfico de drogas.
No Brasil mais de 100 mil crianças e adolescentes são exploradas sexualmente, e nas
rodovias brasileiras são mais de 1,2 mil pontos de prostituição. Já o tráfico de drogas, em
Ponta Grossa empregou diretamente, no ano passado 71 meninos e meninas. Este ano o
número já é maior, foram 85 crianças e adolescentes apreendidos por envolvimento com o
tráfico. Os dados são do Sistema 181 - Narcodenúncia. Na Delegacia do Adolescente, os
números também são preocupantes. No ano passado 115 adolescentes estiveram
envolvidos com furtos e roubos. Este ano já são 126 apreendidos por infrações dessa
natureza. De acordo com os Conselhos Tutelares, no ano passado 200 crianças cometeram
furtos, este ano, o número foi de 39. "Indiretamente eles estão trabalhando para o tráfico,
pois estão cometendo crimes para conseguir dinheiro para sustentar o vício", detalha o
delegado Flávio Zanin Gaia.
Conforme levantamentos dos conselhos tutelares Leste e Oeste, no ano passado 1,2 mil
crianças foram retiradas de situações e práticas irregulares. O dado se refere aos casos de
aliciamento à mendicância. Este ano, conforme as estatísticas contabilizadas até setembro,
691 crianças foram encontradas na rua, esmolando. No levantamento sobre crianças
encontradas em condições adversas de trabalho, foram 22 casos. A situação mais comum é
de crianças trabalhando na coleta de material reciclável, mas também há casos de trabalho
doméstico, panfletagens, flanelinhas, vendedores ambulantes de doces e sorvetes. Ainda
conforme os dois conselhos, em 453 casos foram constatados que as crianças não
encontram condições materiais adequadas no convívio familiar.
Peti retira 107 crianças do trabalho
O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) atende, este ano, 107 crianças e
adolescentes de 7 a 16 anos, que foram retirados de situações de exploração do trabalho.
"Eles participam de atividades sócio-educativas, lúdicas, esportivas e de lazer, no
contraturno escolar", explica Célia Maria dos Santos, técnica do Peti. O programa existe em
Ponta Grossa desde 2002, com inventivo financeiro do governo federal e a meta é atender
219 crianças. "Hoje não há diagnóstico de quantas são realmente as crianças em situações
de trabalho, mas o projeto já está sendo confeccionado e no próximo ano teremos estas
estatísticas que serão base para ampliação do programa", completa.
Empresas devem contratar aprendizes
O promotor da Infância e da Juventude, Carlos Alberto Baptista, revela que a 'cifra oculta' da
exploração infantil é muito maior que os números oficiais. "Para as famílias a
complementação da renda que as crianças e os adolescentes proporcionam é interessante,
sob o falso discurso de que é melhor estar trabalhando do que roubando, porque a criança
não pode ser usada para suprir uma necessidade momentânea da família, ela precisa de um
futuro". O adolescente pode trabalhar como aprendiz a partir
dos 14 anos, desde que não seja em condições insalubres, locais perigosos ou trabalho
noturno.
A Procuradora do Trabalho, Patrícia Blanc Gaidex, responsável por 21 municípios da região,
preside 18 procedimentos sobre exploração do trabalho infantil, oito deles focam as
prefeituras, na cobrança de desenvolvimento de políticas públicas. Este ano, acionou 61
empresas do comércio ponta-grossense, que não estavam cumprindo a lei que obriga a
contratação de 10 a 15% do quadro de funcionários de adolescentes aprendizes.
"Estaremos acionando também indústrias da região e precisamos do apoio da comunidade
nas denúncias", destaca.
Disponível em:< http://www.jmnews.com.br/index.php?setor=NOTICIAS&nid=167411> Acesso em: 28/11/2008
Mães-Menininhas: Elas não brincam em serviço
Revista Marie Claire Danieka Chiaretti e Iolanda Huzak
O título desta reportagem é o de um cartaz de uma ong de Recife que combate o trabalho
infantil doméstico, o cotidiano perverso de mais de 500 mil crianças e jovens brasileiras. As
páginas que seguem mostram a história de quatro dessas meninas. Cíntia, Juliana, Gisele e
Vanessa passaram a infância brincando de casinha para que os pais pudessem sustentar a
família -só que, na brincadeira delas, as Barbies eram as irmãs mais novas e a papinha, o
feijão que cozinhavam na panela. Do dia em que estas fotos foram feitas até hoje se
passaram 8 anos e as meninas agora são mulheres. Uma entrou na faculdade, outra virou
mãe. Todas continuam correndo atrás dos sonhos. Todas sobreviveram com garra a seu
destino de exclusão.
Esta é uma história sem fim no Brasil. Passa de mãe para filha e da filha mais velha para a
irmã mais nova. Dados do IBGE gritam o que todo mundo sabe e que tem a ver com nossa
herança escravocrata e machista – são milhares de meninas de 5 a 17 anos de idade
lavando, passando, arrumando, cozinhando todos os dias, na própria casa ou na de outros.
Não são crianças dividindo tarefas, que fazem a própria cama ou ajudam a tirar a mesa,
mas é um batalhão de gente pequena que ganha pouco ou nada para fazer trabalho de
gente grande.
A fotógrafa paulista Iolanda Huzak é conhecida no Brasil pelas fotos contundentes que
colocam foco neste tema. Há dois anos ela veio à redação de Marie Claire com a proposta
de tentar reencontrar algumas meninas da periferia de São Paulo que havia fotografado seis
anos antes. Queria mostrar que destino haviam trilhado. "Quando se fala em trabalho
infantil, geralmente se pensa em crianças dando duro no campo, nas fábricas. Mas também
é trabalho infantil o que as meninas executam entre as quatro paredes dos lares. Fui atrás
destas histórias procurando as meninas em suas casas, escolas, centros comunitários",
conta Iolanda.
Pelo caminho, foi encontrando Kélias e Kênias, Sabrinas e Daianes, Cosmas e Milenes,
todas pequenas donas de casa vivendo em bolsões de pobreza onde tudo falta -áreas de
lazer, boas escolas, tranqüilidade, carinho, futuro. Viu meninos fazendo trabalhos
domésticos em suas casas, mas só quando não havia uma menina entre os irmãos ou
quando a garota ainda era muito nova -sobre a filha mais velha recai quase uma praga
bíblica. "O que determina a idade do trabalho para a menina não é o seu tamanho, mas o
tamanho da sua pobreza. Ela pode estrear aos 4 anos, cuidando de irmãozinhos e da casa.
No papel de dona de casa, assume riscos, responsabilidades e contribui para evitar a
desagregação da família", diz a fotógrafa.
O cenário que Iolanda encontrava era sempre o mesmo: violência e miséria, esgoto a céu
aberto, adolescentes viciados em crack. Viu muitas famílias chefiadas por mulheres -os
homens fugiram com outra, viraram alcoólatras, estão doentes, foram mortos. Lugares e
gente esquecidos pelo poder público. "Mas encontrei também adultos e jovens lutando para
superar o descaso das autoridades e melhorar suas condições de vida."
Tudo começou em julho de 1995. Iolanda soube de Cíntia Lopes Ferreira pela faxineira de
uma amiga. No extremo leste da cidade, em Guaianases, morava uma menina de 5 anos e
8 meses de idade e um ano de experiência em cuidar de casa e ser babá de dois irmãos.
Era uma manhã fria de inverno quando a fotógrafa saiu em busca dela.
De Guaianases foi dar em uma escola de madeira no Itaim Paulista, bairro a 30 quilômetros
do centro que não tem nada a ver com o rico Itaim Bibi, da zona sul. Foi lá, na Madre
Paulina, que conheceu a professora Sonia Maria Rodrigues Romão. Na escola estudavam
374 meninas de 7 a 15 anos de idade. Com o apoio da direção, aplicaram um questionário
para saber quantas meninas faziam algum trabalho em casa ou na casa de outras famílias.
"As professoras perguntaram nas salas de aula: 'Quem trabalha levanta a mão!'. As
mãozinhas se levantaram e a gente concluiu que eram quase 30%. Todo mundo se
assustou", conta Iolanda.
A maioria das meninas que ergueram a mão trabalhava nas suas casas ou cuidavam dos
irmãos menores, ou faziam as duas coisas porque as mães estavam fora, trabalhando. De
cada quatro meninas, uma já tinha sido babá ou faxineira. Quinze meninas que trabalhavam
fora de casa naquele momento só ganhavam entre R$ 10 e R$ 50 por mês.
As justificativas do trabalho apareciam assim "para ajudar a mãe", "porque todos em casa
trabalham". As mães eram empregadas domésticas, costureiras, operárias. Os pais,
pedreiros, motoristas, seguranças, mecânicos, desempregados. Uma em cada três meninas
não tinha pai em casa.
A professora Sonia disse que também vivia este problema, que a filha ficava em casa
porque ela tinha que trabalhar, o marido também, e alguém tinha que cuidar das menores.
"Ela está lá em casa, se você quiser conversar com ela..." Iolanda foi, e assim conheceu
Juliana, de 9 anos de idade. Depois foi à casa de outras alunas, fez entrevistas, tirou fotos.
Em maio de 2002, a reportagem de Marie Claire voltou com a fotógrafa ao Itaim Paulista, na
tentativa de encontrar algumas das meninas. A escola mudou de endereço e aparência, tem
portões, grades e janelas quebradas por toda a parte. Antes, o pano social que mais
assustava a região era a falta de trabalho; agora, a isso se soma a violência.
Trabalho doméstico não tem jornada. Essas meninas se acostumaram a acordar cedo e
dormir tarde, depois de dar um duro danado. A vida acontece ali, nas redondezas, elas se
deslocam pouco. Nos últimos tempos, a paisagem melhorou – os ônibus são mais novos, as
ruas começam a ser pavimentadas, os projetos de mutirão fazem prédios mais bonitos.
Cíntia, Juliana, Vanessa e Gisele foram estruturando suas vidas. Não sentem que perderam
nada, não se ressentem pela infância roubada. Aqui, a trajetória delas é contada em vários
tempos, ao longo de oito anos, como numa ficção. Só que é tudo verdade.
Trabalho infantil doméstico está entre as piores formas de trabalho infantilO decreto foi assinado pelo presidente Lula e inclui o serviço doméstico na Lista TIP da
Organização Internacional do Trabalho
Reportagem Gabriella Pita
Coordenação Iasa Monique
Link para download do arquivo
A Organização Mundial do Trabalho (OIT) lista como as piores formas de trabalho
infantil:
(a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico
de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive
recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos
armados;
(b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de material
pornográfico ou espetáculos pornográficos;
(c) utilização, demanda e oferta de criança para atividades ilícitas, particularmente para a
produção e tráfico de drogas conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes;
(d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são
susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.
Denúncias podem ser feitas através do site do Ministério do Trabalho e Emprego.
Jornal on-line: http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/5165
Combate à exploração sexual infantil requer articulação de governos, afirma Vannuchi
Paula Laboissière Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao comentar o combate à exploração infantil no país, o ministro da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos (SEDH), Paulo Vannuchi, disse hoje (9) que a prática é
antiga e que não pode ser vencida “da noite para o dia”.
O ministro disse que está confiante no avanço do combate desse crime, principalmente em
regiões de fronteira – como em Mato Grosso do Sul, por exemplo. Segundo ele, é
necessário investir em articulações com países vizinhos e dentro do próprio governo.
“[É preciso] insistir em uma articulação de todas as forças. Chamar os governos estadual,
municipal, federal e as autoridades públicas para enfrentar um problema que existe há muito
tempo, um tipo de vergonha nacional", disse ao participar do programa Bom Dia, Ministro
nos estúdios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
De acordo com Vannuchi, muitos brasileiros ainda convivem com a violência sexual de
crianças dentro do próprio lar. A família, segundo ele, deve ser reconhecida como “o reduto
mais fundamental e sagrado de defesa da vida e dos direitos das crianças”. Ele citou casos
em que as próprias mães de meninas menores de idade tinham conhecimento da
exploração das filhas, mas passaram décadas em silêncio.
“A prostituição é um problema sempre mas, acima dos 18 anos, são pessoas adultas e
responsáveis perante a lei. Abaixo dos 18 anos se trata de uma violação insuportável de
direitos humanos. É preciso que toda a sociedade ajude a coibir."
Em referência à possibilidade de agravar a punição em casos de exploração infantil e
também de pedofilia, Vannuchi avaliou que “as penas já são muito elevadas” e que o país
precisa “partir para a certeza da punição”, por meio de mudanças no Poder Judiciário.
“No Brasil, a morosidade se constitui em um dos mais graves desafios para a afirmação dos
direitos humanos. Além da mídia, o parceiro mais importante é o membro do Judiciário.
Ainda existe essa posição de um juiz que sabe que o problema existe mas retarda a tomada
de decisões. Quando os juízes e procuradores se engajarem nessa ações, não haverá mais
impunidade.”
Firma chinesa admite usar trabalho infantil para OlimpíadaUOL-Ultimas notícia http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/06/13/ult1766u22241.jhtm
Pequim, 14 Jun (Lusa) - Uma empresa do sul da China que fabrica produtos oficiais para os
Jogos Olímpicos admitiu que contratou crianças de uma escola primária para a produção
das mercadorias, afirma o jornal independente South China Morning Post, de Hong Kong.
A empresa chama-se Lekit Stationary e situa-se na cidade de Dongguan, na província de
Guangdong (também conhecida como Cantão), informa o diário.
A Lekit Stationary é uma das quatro empresas chinesas que a aliança de sindicatos e
organizações não-governamentais Playfair 2008 acusou recentemente em Bruxelas de
utilizarem mão-de-obra infantil para produzir artigos promocionais para a organização dos
Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
Uma investigação das autoridades da província descobriu que a Lekit, que obteve em julho
de 2006 contratos para fabricar produtos olímpicos, subcontratou outra companhia, a Leter
Stationary.
A Leter empregou alunos de uma escola primária local para empacotar e completar as
encomendas da companhia, pagando-lhes US$ 2,6 (R$ 5) por dia.
Após as acusações da Playfair 2008, a organização dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008
ressaltou que o uso de mão-de-obra infantil é "estritamente proibido" na produção de
material olímpico licenciado e prometeram investigar todas as denúncias sobre abusos no
trabalho.
pequena parte. Pelos seus cálculos, há mais de mil menores que trabalham em condições
desumanas.
As crianças e os adultos escravizados saíram de diversas províncias pobres da China.
Foram enganados e seqüestrados em estações de trens, de ônibus ou em outros locais
públicos.
As crianças eram vendidas a capatazes de fábricas por cerca de 500 iuanes (US$ 65),
segundo a imprensa chinesa.
4.3- DESTAQUES:
Jovem de favela do Rio ganha prêmio na Holanda
Reportagem de: Saskia van Reenen
08-12-2008
Na Ridderzaal, antiga sala na sede do governo holandês, em Haia, o bispo sul-africano
Desmond Tutu entregou o Prêmio Infantil da Paz 2008 a brasileira Mayra Avellar
Neves. A jovem de 17 anos nasceu e cresceu na favela Vila Cruzeiro, do Rio de
Janeiro, palco de uma guerra de poder entre traficantes.
Por causa do perigo que representam as balas perdidas, as crianças não podem ir à escola
da comunidade, às vezes, por meses. Mayra organizou uma mobilização exigindo educação
digna para todas as crianças e jovens desse bairro marginalizado.
Escolas fechadas
"Na nossa favela ocorrem muitos enfrentamentos armados, por isso, sair à rua é muito
perigoso. No ano passado, a escola da minha favela, a Vila Cruzeiro, esteve fechada
durante sete meses por causa do tráfico de drogas. A polícia está combatendo esta máfia
com mãos duras há vários anos. Fazem barricadas e os professores que vivem em outros
bairros não podem chegar ao trabalho. Há dois anos, organizei uma marcha pela paz com
300 crianças pedindo que a polícia não utilizasse tanta violência e deixasse de patrulhar a
área perto da escola para termos aulas. As crianças têm o direito à educação porque senão
correrão mais riscos de serem recrutadas pelos traficantes". As palavras de Mayra, que
cresceu num ambiente de violência, mostram a esperança que a menina traz nos olhos.
Liderança
O holandês Nanko van Buuren, diretor da Fundação Ibiss, trabalha há alguns anos com
moradores de favelas brasileiras e crianças que vivem nas ruas. Ele tomou a iniciativa de
indicar Mayra para receber o Prêmio Infantil da Paz. Van Buuren diz que fez isso porque "ela
sempre é a primeira da fila, organiza mobilizações, coloca em prática o que se promove com
esse tipo de premiação". Segundo ele, Mayra é um retrato da juventude no Brasil, sempre
muito atuante desde a ditadura militar, que se estendeu até meados dos anos 80.
"Os brasileiros estão muito politizados, incluindo as crianças nascidas depois de 1984, como
Mayra. Ela tem a sorte de ter os pais vivos. Na maioria das famílias das favelas, um dos pais
geralmente não vive mais, pois ou foi morto por uma bala perdida, ou porque integrava uma
quadrilha de traficantes". Os pais de Mayra quiseram dar a ela uma boa educação,
mandando-a estudar fora da favela.
Van Buuren lembra que, apesar de morar na Vila Cruzeiro, Mayra freqüentava uma escola
boa no que chamam de "asfalto", isto é, o território fora da área da favela. Com isso, ela
pôde ver claramente as diferenças e se negava a aceitar que as pessoas fora da favela
tivessem mais direitos que os moradores do bairro marginalizado. Por isso, desde muito
jovem, começou a exigir os mesmos direitos para as crianças e jovens da favela, relata Van
Buuren.
O prêmio
A escola da favela Cruzeiro reabriu as portas. Com esse prêmio Mayra espera poder ajudar
mais as crianças e jovens das favelas. O prêmio é uma iniciativa da organização Kidsrights
(Direitos da Criança, em inglês), que apóia jovens que defendem os direitos básicos de
meninos e meninas em seus próprios países, que lutam contra o trabalho infantil e a
prostituição e que defendem os direitos das crianças refugiadas.
A cada ano o prêmio é entregue por uma pessoa que representa a luta pela paz. Nesse ano,
a premiação foi entregue pelo bispo sul-africano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel
da Paz em 1984. Na edição anterior, o Prêmio Infantil da Paz foi outorgado a Thandiwe
Chama, da Zâmbia, que, tal como a brasileira Mayra, defende o direito à educação.
Esperança
Após receber o prêmio na Holanda, Mayra Avellar Neves iria se encontrar com o governador
do Rio de Janeiro e com os ministros brasileiros da Educação e do Desenvolvimento Social,
além do Secretário de Segurança fluminense. A jovem disse ter esperança de convencê-los
de que é necessário oferecer melhores perspectivas de futuro à juventude para evitar que se
una ao crime organizado.
"Muitas crianças nas favelas crêem que o destino, por ser negro e pobre, seja conviver com
a violência. Quero mostrar que podem lutar para sair dessa situação", afirma Mayra.
A ganhadora do Prêmio Infantil da Paz participa também de um grupo de teatro da favela.
Com dança e teatro, o grupo tenta melhorar a auto-estima das crianças e ensinar, através
de jogos, a encontrar oportunidades. Os pais de Mayra prefeririam mudar-se para outro
bairro, mas a menina não quer abandonar a favela. Ela acabou de passar nos exames para
entrar na universidade e quer servir de modelo para as outras crianças.
Disponível em:< http://www.parceria.nl/Holanda/20081208-ho-premio> Acesso em 08/12/2008
O MÁRTIR DOS “PEQUENOS ESCRAVOS”
Fonte Jornal Missão Jovem
Iqbal nasceu em 1983 e aos 4 anos foi vendido pelo pai a um artesão de tapetes para saldar
uma dívida de 12 dólares. Refém de seu patrão, o menino era constrangido a trabalhar ao
tear de joelhos, algumas vezes acorrentado, por mais de 12 horas ao dia longe dos jogos,
da escola e do carinho dos pais. Gullah, o patrão, não tinha nenhuma piedade. Não tinha
escrúpulos em bater em seus pequenos escravos.
Até o dia em que Iqbal conseguiu fugir e chegar a uma das sedes do BLLF (Frente de
Libertação dos trabalhadores Escravizados), uma organização que combate a escravidão
por dívidas. Lá, o menino teve a sorte de conhecer Ehsan Ullah Khan, um advogado da
organização que, daquele momento em diante, o teve sob proteção. Iqbal conseguiu libertar-
se. Começou a estudar e queria ser um advogado para defender os pequenos escravos.
Mas a coisa não foi bem assim.
Iqbal parou de estudar e começou a viajar pelo seu país, pela Suíça e Estados Unidos,
contando sua experiência e mostrando a perversidade do trabalho infantil. Um verdadeiro e
perigoso testemunho contra os fabricantes de tapetes que viram em Iqbal uma ameaça. Sua
família passou a ser submetida a ameaças contínuas.
Em 16 de abril de 1995, Iqbal voltou para casa e, enquanto brincava com dois primos,
correndo de bicicleta, um matador de aluguel atirou nele e o matou. Sua morte teve um eco
profundo no mundo inteiro. Assim, o corajoso Iqbal, ainda criança, transformou-se num
grande exemplo de luta contra o trabalho infantil.
http://www.pime.org.br/missaojovem/mjcriancasnossos.htm
Clipping: TRABALHO INFANTIL-Reportagem do Observatório é premiada
Observatório Social está entre os vencedores do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de
Anistia e Direitos Humanos. Reportagem que denunciou a existência de trabalho infantil
na cadeia produtiva de multinacionais receberá menção honrosa na categoria revista.
A reportagem A Idade da Pedra, publicada em fevereiro de 2006 pela revista do
Observatório Social, será agraciada com a Menção Honrosa do Prêmio Jornalístico Vladimir
Herzog de Anistia e Direitos Humanos - categoria revista. A cerimônia acontecerá no
próximo dia 25 de outubro no Parlamento Latino americano, em São Paulo.
O Herzog é a principal premiação do jornalismo brasileiro na área de direitos humanos.
Foi criado três anos após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog por agentes da
repressão política, em 1975. O objetivo é reconhecer e premiar os jornalistas que, através
de seu trabalho, colaboraram com a promoção da cidadania e dos direitos
humanos e sociais. E também reverenciar a memória de Herzog,preso, torturado e morto
pela ditadura militar.
A reportagem premiada é de autoria do jornalista Marques Casara. As fotos são de Sérvio
Vignes e a edição de Dauro Veras.
Esta edição foi a que mais teve inscrições em seus 28 anos de existência. Concorreram
412 trabalhos em 10 categorias. O prêmio é promovido pelo Sindicato dos Jornalistas
Profissionais no Estado de São Paulo, em parceria com a Federação Nacional dos
Jornalistas, Associação Brasileira de Imprensa, Comissão de Direitos Humanos da Ordem
dos Advogados do Brasil (seção SP) e Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São
Paulo.
Multinacionais
A reportagem, cuja apuração durou quatro meses, revela como empresas multinacionais
se beneficiavam da exploração de trabalho infantil na cadeia produtiva do talco. Em jazidas
localizadas em Ouro Preto (MG), crianças eram recrutadas para catar e empilhar o minério
para a empresa Minas Talco, que revendia o produto para as empresas Basf (Tintas Suvinil),
Faber Castell e ICI Paints (Tintas Coral).
Após a denúncia, Faber Castell e ICI suspenderam imediatamente a compra do minério,
enquanto a Basf nega a ocorrência de trabalho infantil nas áreas de mineração.
Devido a repercussão do caso, o Ministério do Desenvolvimento Social aumentou, em Ouro
Preto, de 60 para 280 o número de bolsas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.
A prefeitura da cidade se comprometeu um programa de desenvolvimento social e
econômico nas áreas afetadas pelo trabalho infantil.
Censura
Em agosto de 2006, os exemplares ainda não distribuídos foram apreendidos por ordem
da juíza Lúcia de Fátima Magalhães Albuquerque Silva, da Comarca de Ouro Preto,
acatando ação civil pública do Ministério Público do Estadode Minas Gerais. A juíza
concordou com a versão da promotora Luiza Helena Trócilo Fonseca de que a revista
"publicou matéria forjada expondo indevidamente menores".
O Observatório Social, que considera a medida um ato de censura, entrou com uma ação
de suspeição contra a juíza. A juíza também é alvo de uma representação ajuizada pela
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.
Após o ato de censura, o Observatório Social recebeu apoio da Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e dos Repórteres Sem Fronteira.
Para o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, "além do absurdo de determinar a
apreensão da revista, a decisão da juíza mineira faz um questionamento inaceitável sobre a
seriedade da publicação do Observatório Social e a integridade ética de dois respeitados e
conceituados jornalistas".
No âmbito federal, a procuradora do Ministério Público do Trabalho, Adriana Augusta de
Moura Souza, instaurou um procedimento investigatório para apurar a responsabilidade das
empresas. A procuradora prometeu um relatório preliminar para os próximos dias.
http://www.reporterbrasil.org.br/clipping.php?id=162
4.4- PARANÁ: Jornal - Hoje Centro Sul
Reportagem televisiva sobre trabalho infantil causa repercussão na regiãoReportagem que foi ao ar no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, mostrou
crianças trabalhando em galpões da fumicultura na região Centro Sul
Irati - Uma reportagem do programa Fantástico, que foi ao ar na Rede Globo de Televisão
no dia 18 de maio causou repercussão em Irati e região Centro Sul do Paraná. As imagens
da matéria mostram crianças manejando folhas de fumo em galpões de lavouras
identificadas como sendo de Irati, Rebouças, Rio Azul e Prudentópolis.
A reportagem filmou crianças fazendo a separação das folhas do tabaco, a chamada fase de
classificação, antes do fumo ser entregue para as indústrias compradoras. A matéria
também abordou as conseqüências do contato direto com estas folhas í saúde da criança e
do trabalhador, ao entrarem em contato com a folha verde na colheita e absorverem grandes
quantidades de nicotina. Apresentou conclusões de estudos da Universidade de Brasília e
Johns Hopkins que apontam ser a quantidade de nicotina no organismo das crianças ao
manejarem as folhas compatível com a de uma pessoa fumante.
A matéria da Rede Globo também falou sobre as ações que o Ministério Público entrou
contras as fumageiras. Dentre os argumentos expostos, o MP diz que os pais são
praticamente obrigados a colocar os filhos para trabalhar, por causa dos contratos impostos
pela indústria aos agricultores, e que as empresas são as principais beneficiadas com o
trabalho das crianças. A relação entre agricultores e fumaceiras foi ilustrada com falas dos
fumicultores sobre suas dívidas.
Após a veiculação da reportagem e os desdobramentos mostrados nos telejornais estaduais
da emissora, diversas pessoas se manifestaram sobre o assunto. A primeira destas
manifestações registradas pelo Hoje Centro Sul, em artigo veiculado já na edição anterior,
foi do diretor do Escritório Regional da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e
Promoção Social (SETP), Robson Miguel Camargo. Para ele, o registro das imagens é a
prova concreta de um crime, mas destacou que é responsabilidade primeira dos pais
assegurarem a proteção aos direitos da criança e que seria necessário também mostrar o
contexto de consolidação das políticas públicas de combate a esta realidade, com o que
vem ocorrendo de positivo e transformador, envolvendo a participação da população.
O Conselho Tutelar de Irati é um dos órgãos que fiscaliza o cumprimento dos direitos da
criança e adolescente. Após a divulgação da reportagem, os conselheiros divulgaram um
relatório no qual afirmam ter entrado em contato com a redação da Rede Paranaense de
Comunicação (RPC), afiliada da Rede Globo no estado. Solicitaram informações acerca da
identificação da família das três crianças vítimas de exploração do trabalho infantil
mostradas na matéria, a fim de aplicar medidas de proteção í s mesmas. Segundo o
relatório do Conselho, o jornalista Tiago Eltz se recusou a identificar a família, justificando
obedecer a princípios de sigilo e ética profissional, pois declarou ter prometido não divulgar
nomes e endereço dos entrevistados. O Conselho fez buscas para encontrar os menores
divulgados na matéria, ainda solicitará informações por escrito RPC e encaminhará notícia
dos fatos ao Ministério Público.
Os cinco conselheiros que compõem o órgão têm realizado um trabalho de verificação na
área rural. O trabalho tem sido intensificado, principalmente nos períodos de safra nas
culturas de feijão, batata, cebola e tabaco, afirmam. Mas têm encontrado dificuldades para
flagrar a exploração do trabalho infantil, barreiras sócio-econômicas, culturais e poucas
denúncias. As crianças normalmente não contam que estão sendo exploradas pelos
próprios pais e se não há o flagrante no local, dificilmente comprova-se o fato, não sendo
possível aplicar as medidas de proteção. O que se nota é que as crianças vitimizadas vivem
num clima de terror entre o medo e culpa diante da exploração, pois na maior parte dos
casos sofrem coação dos próprios pais, afirmam. Além de tudo isso, o que se observa por
parte de grande parte da população é a omissão diante de situações de exploração do
trabalho infantil, por acharem normal que crianças e adolescentes trabalhem. É muito
comum em nosso município ouvirmos frases do tipo: É melhor a criança trabalhar, do que
roubar, ou ainda: O Trabalhar não mata ninguém, completam.
Nos casos que ocorrem o flagrante, o Conselho Tutelar adota medidas como
encaminhamento de crianças ao PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil,
executado em parceria com a Secretaria Municipal de Bem Estar Social, que atende
atualmente 125 crianças na área urbana e 135 na área rural); verificação se estão
freqüentando a escola; encaminhamento médico. Os pais, num primeiro momento, são
inseridos em programas de orientação e de acompanhamento; advertência; assinam termo
de responsabilidade pelo zelo í saúde dos filhos. Os casos de reincidência são
encaminhados ao Ministério Público e podem ser condenados a pagamento de multa de 3 a
20 salários mínimos. Se o problema persistir, a multa aplicada na primeira vez é dobrada.
Referência: Jornal Centro Sul
http://www.hojecentrosul.com.br/hoje/node/1129
Trabalho infantil persiste nas imediações de Curitiba
O Estado do Paraná - 19 de novembro de 2006
Por Nájia Furlan
Na última semana, a reportagem de O Estado percorreu alguns municípios da Região
Metropolitana de Curitiba para verificar como está a realidade do trabalho infantil e do
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Em Almirante Tamandaré, são 150
crianças atendidas na área urbana, mas o programa precisa ser ampliado. Em Colombo, o
Peti ainda não chegou. Por fim, em Tunas do Paraná, o programa atende 88 crianças da
área rural e parece estar bem estruturado. Nos três municípios, porém, o trabalho infantil
persiste.
Essa é uma realidade, ao mesmo tempo, cruel e delicada. Ao tentar encontrar a causa,
pesam questões econômicas, sociais e culturais, na mesma intensidade. Ao tentar chegar
ao responsável, os mesmos agentes que podem ser responsabilizados parecem ter
justificativas consideráveis. Independente da pluralidade, o fato é que trabalho infantil é
crime e deve ser combatido.
Para o delegado regional do trabalho no Paraná, Geraldo Serathiuk, as localidades em
que o trabalho infantil persiste geralmente são as que têm baixo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e problemas de renda. Apesar de aspectos culturais pesarem, ele alerta:
“Seja onde for, no campo ou na cidade, na agricultura familiar ou em outra atividade, o
trabalho infantil é proibido”.
Uma ferramenta eficaz na luta contra o trabalho infantil surgiu em 1996. O Peti, do
governo federal, tem o objetivo de impedir que as crianças trabalhem, com oferta de
atividades de contra-turno. Pelo programa, os pais recebem uma bolsa mensal para que
mantenham o filho de 7 a 14 anos inserido nas atividades e longe do trabalho. De acordo
com Serathiuk, o programa já mostra resultados, mas pode ser melhorado se as
coordenações municipais forem melhor estruturadas.
Segundo o secretário de Estado do Emprego, Trabalho e Promoção Social, Emerson José
Nerone, o Peti atinge 198 dos 399 municípios do Paraná. São mais de 47 mil crianças
atendidas. A bolsa que o estado repassa aos municípios é de R$ 40 na área urbana e R$ 25
na área rural. “A desculpa das famílias é que não têm como manter as crianças na escola.
Essa bolsa vem ao encontro disso. O Peti é uma política de transferência de renda e
também de obrigações, principalmente com a criação da cultura de conscientização e
educação”, explica. Segundo Nerone, há um apelo constante para que os municípios
apliquem o programa, “mas muitos não têm isso como prioridade absoluta”.
Flagras na carvoaria e agricultura
Em Tunas do Paraná, ao contrário dos outros dois municípios visitados pela reportagem,
falar de trabalho infantil é bastante complicado. Muitos não admitem, alguns consideram
normal e poucos afirmam abertamente que o problema existe.
Segundo o presidente do Conselho Tutelar, Nei do Nascimento, na região muitas crianças
trabalhavam nas carvoarias e madeireiras, mas com a implantação do Peti o problema
reduziu. “Diminiu muito depois do Peti, mas não podemos afirmar que eles não vão voltar
para lá. Criança é criança, muitas preferem ficar na carvoaria do que ir à escola”, diz.
Segundo ele, a desestrutura familiar contribui para o problema. “O pai trabalha e a mãe
tem muitos filhos. Por isso, fica em casa e acaba concordando com o que não se deve
concordar. Somente a fiscalização impede esse tipo de atividade, mas é difícil pegar. Nunca
termina. O que posso afirmar é que, se não tivéssemos o programa que oferece atividades
culturais, de lazer, esporte e reforço escolar, estaríamos piores”, afirma.
Em Tunas, é possível encontrar muitas crianças que trabalham na agricultura desde cedo,
com os pais. A equipe de O Estado também flagrou menor trabalhando em carvoaria. Ele
colocava tijolos no forno e, quando nos viu, se escondeu. Um jovem de 19 anos, que não
quis se identificar, trabalha atualmente em outro ramo, mas aos 15 anos trabalhou com o
carvão. “Comecei na roça quando tinha 12, 13 anos. Com 15 anos trabalhei com o carvão
por um ano e meio. É perigoso. Tem que cuidar muito. A fumaça e o pó que saem do forno
fazem mal até para adulto, imagine para criança. É pouco, mas sempre tem criança
trabalhando no carvão”, conta.
Uma criança de 10 anos diz que não trabalha porque não pode, pois o certo é estudar.
Porém, ele conhece muita gente, com a mesma idade ou até menor, que já trabalha. “No
ônibus da escola tem muito amigo que trabalha. Tem de dez, oito, sete. Os pais trabalham e
os meninos vão ajudar. Alguns trabalham na carvoaria e outros carpem ou cortam vara”, diz
ele.
Segundo o procurador do Trabalho, Ricardo Tadeu da Fonseca, esses casos devem ser
encaminhados ao Ministério Público, pois trata-se de uma prática irregular. “Combater isso
não é algo fácil. Temos que reverter séculos de tradição. No entanto, é uma coisa de
aprendizado: não pode e pronto. A criança que trabalha não pode ter um futuro melhor. O
Brasil padece do vício do trabalho precoce e, para acabar com isso, é preciso um trabalho
persistente com políticas públicas”, conclui.
Em Colombo, Peti está na promessa
Em Colombo, o Peti ainda não foi implantado, mas segundo a presidente do Conselho
Tutelar local, Greice Bodziak, os órgãos competentes estão trabalhando por isso. “Aqui o
trabalho infantil existe, mas não em grande quantidade. O que cresce muito é o número de
crianças que ficam na rua, cuidando de carro, os flanelinhas”, afirma. Principalmente no
centro do município, as crianças passam horas nas calçadas, esperando algum “trocado”.
“Para esse problema, as pessoas contribuem. Muitos dão dinheiro, R$ 0,50, e essas
crianças chegam a tirar R$ 10 ou R$ 15 por dia”, explica Greice. “Essa situação faz com que
a evasão escolar, um grande problema do município, aumente. Para muitos pais, é melhor
que a criança esteja na rua, ganhando dinheiro, do que fique na escola. Não há o que fazer,
a não ser tentar educar as crianças e melhorar as políticas públicas”.
Crianças se prostituem na beira da rodovia
“A gente tem a situação de trabalho infantil, mas não acontece aqui. Eles moram aqui e
ficam em Curitiba: são catadores de material reciclável, ficam esmolando nos sinaleiros.
Aqui tem o Peti e nós tentamos fazer a inclusão de boa parte das crianças. Atendemos 150,
mas não é só isso de criança que tem. Aqui somos mais de cem mil habitantes, 67% é
população infanto-juvenil”, afirma a presidente do Conselho Tutelar de Almirante Tamandaré,
Ana Cristina de Carvalho. Segundo ela, Tamandaré está tentando ampliar o Peti. Eles ainda
não têm sede própria. “Erradicar o trabalho infantil aqui é inviável, mas podemos amenizar
se conseguirmos pelo menos um local próprio”, diz ela.
Entre as duas formas ainda muito comuns de trabalho infantil no município estão o
trabalho doméstico e a prostituição infantil. “Aqui há muitas famílias pobres, que têm muitos
filhos. O que acontece é que as crianças mais velhas não podem ir para a escola porque
têm que ficar com as mais novas e cuidar da casa para os pais trabalharem. Por conta da
Rodovia dos Minérios, a exploração sexual infantil também é um problema no município. É
muito freqüente. São crianças de até nove anos que ficam na beira da rodovia. Geralmente,
estão acompanhadas por adultas. Em dias diversificados, isso acontece principalmente à
noite. A situação aqui é crítica. É uma mistura de desestrutura familiar, cultura e falta de
conscientização”, afirma Cristina.