produÇÃo do espaÇo e as habitacÕes precÁrias …6cieta.org/arquivos-anais/eixo3/uriana...
TRANSCRIPT
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
PRODUÇÃO DO ESPAÇO E AS HABITACÕESPRECÁRIAS NAS CIDADES MEDIAS BRASILEIRAS:
O CASO DE VITORIA DA CONQUISTA BAHIA
Uriana Fernandes Curcino Ribeiro
Graduanda em Geografia Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
INTRODUÇÃO
Certamente as inúmeras mudanças na urbanização brasileira nas ultimas
décadas trouxe uma enorme segregação espacial no espaço construído trazendo a tona
uma grande ilicitude no solo brasileiro, legitimando a falta de controle do estado sobre o
ambiente construído, as desigualdades tem se intensificado principalmente em relação as
moradias, a medida em que as cidades crescem agregando pessoas que vem dos mais
variados lugares em busca de uma vida melhor, as disparidades habitacionais crescem na
mesma proporção, o contingente de seres sociais que se fixam no espaço urbano não
consegue ter acesso a cidade formal restando-lhes apenas as franjas das cidades, gerando
favelas, assentamentos e cortiços.
O direito à habitação é reconhecido no conjunto dos direitos fundamentais do
cidadão brasileiro, em março de 1999, por Emendas Constitucionais, juntamente
com os direitos à saúde e educação. Embora, na prática, o tratamento
dispensado à habitação popular ainda faz com que grande parte dos
trabalhadores não tenham outra alternativa de acesso à habitação que não a
auto construção, muitas vezes, em terrenos urbanos ocupados e onde os
equipamentos e serviços urbanos coletivos são inexistentes ou precários. Isto
revela um cenário de segregação em que torna-se evidente a luta pelo direito à
cidade, ao urbano. (Almeida, 2005, p. 52 e 53).
O município de Vitória da Conquista se configura como uma cidade media em
pleno crescimento, nota–se que o setor de serviços tem ganhado grande visibilidade e com
isso o número de pessoas que migram para o município tem aumentado na mesma
933
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
proporção em que o crescimento econômico acontece, pois a cidade tem o papel de
centralidade urbana atraindo populações da zona rural e dos municípios vizinhos,
entretanto mesmo sendo uma cidade media com todas as suas particularidades e
singularidades, ela vem se configurando com um número expressivo de habitações
precárias, ou, seja a cidade tem sido negada aqueles que não possuem renda suficiente
para adquirir uma moradia formal.
[...] uma sociedade não pode existir sem crise de habitação quando a grande
massa dos trabalhadores dispõe exclusivamente apenas do seu salário, quer
dizer, da soma de meios indispensáveis à sua reprodução; quando novos
melhoramentos mecânicos tiram incessantemente trabalho a grandes massas
de operários; quando crises industriais violentas e cíclicas determinam, por um
lado, a existência de um importante contingente de reserva de desempregados
e, por outro, lançam momentaneamente para a rua a grande massa dos
trabalhadores; quando estes são amontoados nas grandes cidades e isto a um
ritmo mais rápido que o da construção de habitações nas circunstâncias actuais
e quando aparecem sempre inquilinos, mesmo para os pardieiros mais ignóbeis;
quando, enfim, o proprietário de uma casa, na sua qualidade de capitalista, tem
não só o direito, mas também, em certa medida, graças à concorrência, o dever
de retirar da sua casa, sem escrúpulos, as rendas mais elevadas possível. Numa
tal sociedade, a crise da habitação não é um acaso, é uma instituição necessária;
ela só pode ser eliminada, tal como as suas repercussões para a saúde, etc, se
toda a ordem social de que ela decorre for completamente transformada.
(ENGELS, 1887, p. 48-49)
O DIREITO A CIDADE
O município de Vitória da Conquista tem experimentado um processo de
crescimento que traz a tona questões referentes à falta de moradia para a classe
trabalhadora, que em sua maioria não tem condições salariais para aquisição da habitação.
934
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
Figura 01 – Malha Urbana de Vitória da Conquista- BA, 2013.
Fonte: PASSOS, Ana Oliveira. 2013
Merece destaque os assentamentos precários, que nas ultimas décadas
surgiram na cidade, segundo Almeida (2005) esses assentamentos precários são resultado
da falta de moradia digna a população excluída da cidade formal, já foram identificados
treze assentamentos, contudo são localidades que recebeu pouca ou nenhuma assistência
por parte da prefeitura e que por inúmeras vezes não foram contemplados pelos
instrumentos urbanísticos do estado. Certamente que as cidades se constroem em meio as
contradições, conflitos e exclusões e Vitória da Conquista mesmo com suas particularidades
tem sido palco de segregações espaciais.
A partir de 1980 o crescimento do município se intensifica Segundo os dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 60 o município tinha
48.712 habitantes na zona urbana, em 1980 já era 127.652 e em 2000 a população era de
262.585 habitantes, em 2010 a população foi de 306.374 habitantes sendo que 274.805, na
área urbana principalmente com a população rural que migra para a cidade.
Observa-se que há um declínio da população rural e com ela a falta de
habitações para atender toda a população que se fixa na cidade, a população que migrou do
935
F o n t e : I B G E / C E I B a s e c a r t o g r á f i c a : C E I ( 1 9 9 4 )E l a b o r a ç ã o : P A S S O S , A n a C l a u d i a O l i v e i r aA n o d e E l a b o r a ç ã o : 2 0 1 3 A p o i o :
V i t ó r i a d aC o n q u i s t a
2 2 ° 1 0 ' S
2 3 ° 4 4 ' S
2 5 ° 1 7 ' S
2 6 ° 5 0 ' S
2 8 ° 2 3 ' S
2 9 ° 5 7 ' S
3 1 ° 3 0 ' S
36°4
8' W
35°1
8' W
33°4
8' W
30°4
8' W
32°1
8' W
28°0
0' W
29°1
8' W
L O C A L I Z A Ç Ã O D O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A D A C O N Q U I S T A / B A
L O C A L I Z A Ç Ã O D A B A H I AN O B R A S I L
0 1 0 0 2 0 0 3 0 0
E s c a l a e m K m
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
campo para a cidade formou uma demanda por habitação nos distintos estratos de renda,
esse acréscimo de população urbana acentuou o déficit habitacional na cidade. segundo
Kowarick o problema habitacional decorre das relações de trabalho estar intimamente
ligadas aos baixos salários.
Assim o chamado problema habitacional deve ser equacionado tendo em vista
dois processos interligados. o primeiro refere-se as condições de exploração do
trabalho propriamente ditas, ou mais precisamente as condições de
pauperização absoluta ou relativa a que estão sujeitos os diversos segmentos da
classe trabalhadora. O segundo processo, que decorre do interior e que só pode
ser plenamente entendido quando analisado em razão dos movimentos
contraditório da acumulação do capital, pode ser nomeado de espoliação
urbana: é o somatório de extorsões que se operam através da inexistência ou
precariedade de serviços de consumo coletivo, apresentados como socialmente
necessários em relação aos níveis de subsistência, e que agudizam ainda mais a
dilapidação realizada no âmbito das relações de trabalho ( Kowarick, 1993, p. 62)
Vale ressaltar que devido a todo esse processo de desigualdade espacial que
começa a se intensificar na década de 80, no final da mesma a população excluída do direito
de morar se uni, e surgi o movimento do sem teto que ocupa várias localidades no
município, o movimento nesse momento teve grande adesão daqueles que não possuía
uma moradia, que para subsistir na cidade começa a ocupar terrenos, os poderes locais se
sentem pressionados e em 1991 promulga a Lei Municipal nº 570/91e criação do (PMHP)
Programa Municipal de Habitação, as ocupações são regularizadas, ou seja, o município dá o
direito de habitar esses lotes, num total de treze assentamentos, entretanto o
reconhecimento por parte do município dessas ocupações não garante a posse definitiva,
nem uma melhoria na qualidade de vida desses moradores.
Vê-se, então, que a atuação heterogênea do Estado no espaço urbano
conquistense produziu e produz uma “valorização” diferenciada deste espaço
em que áreas serão contempladas por equipamentos coletivos e outras não,
como confirmaremos no capítulo seguinte. Assim, a cidade se reproduz de
forma heterogênea e segregada, fruto das ações desiguais no processo de
produção social do espaço urbano, mediadas pela divisão social e territorial do
trabalho que constroem áreas considerada mais “valorizadas” e menos
“valorizadas”. (Almeida, 2005, p 76)
De fato o movimento dos sem teto no município se desarticulou após a
promulgação da lei Municipal nº 570/91e criação do (PMHP) Programa Municipal de
936
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
Habitação, após essa lei quando um fiscal da prefeitura ficava sabendo que estava
ocorrendo alguma ocupação, ele se dirigia até a localidade e convencia as pessoas a irem a
prefeitura e se cadastrar no programa de habitação, entretanto o número de terrenos que o
município disponibilizou para o programa era menor que a demanda. Segundo Almeida
(2005) o município se limitou à disponibilização de alguns lotes e o reconhecimento, com a
cessão do direito especial de uso, para os lotes ocupados pelos sem-teto, mesmo assim o
número de pessoas sem moradia era maior do que o número de lotes disponibilizados,
ocasionando ainda mais ocupações.
Segundo Almeida (2005) os assentamentos oriundos do programa PMHP são
Henriqueta Prates - 1988, Recanto das Águas - 1998, Cidade Modelo - 1995, Nova Cidade - 3
etapas - 1991, Nova CAP - 1991, Vila América - 1999 e Alto do Bruno Bacelar – 1992, já os
assentamentos advindos de antigas ocupações são Alto da Conquista – 1991, Renato
Magalhães - 1992, Parque da Colina - 1996, Ubaldino Gusmão -1996, Conjunto da Vitória -
1991 e Santa Helena – 1989/93 e de ocupações Alto da Boa Vista - 1988, Alto da Conquista –
1997, Pedrinha - Nova Esperança - 2001, Nossa Senhora de Lourdes - 1999, Santa Cruz -
1988, Encosta do Conveima I - 1991, Encosta doConveima II – Copacabana II - 1994, Santa
Terezinha - 1984, Rua Paulo Rocha - 1992, Rua José Machado Costa - 1992, CGC – canteiro
central - 1999, Kadija– ao lado do cemitério - 1989, Ipanema - 1980, Lagoa do Jurema -1995,
Rua Anelita Nunes - Tanque Seco -1996 e Vila União – 1987.
Segundo o PLHIS (2013), existe na cidade cerca de 10.000 lotes irregulares,
segundo Bonduki os miseráveis são empurrados para os locais mais distantes da cidade e a
precariedade é tão constante e intensa que já não possuem uma referência do que é uma
moradia digna.
Hoje um terreninho nu e cru é a aspiração consagrada da grande maioria da
população de baixa renda. O rebaixamento das condições de habitação atingiu
tal profundidade que boa parte dos trabalhadores de pequena renda perdeu a
referência do que significa morar na cidade (BONDUKI, 1988, p. 129).
937
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
Figura 2 – Assentamento Paulo Rocha. Vitória da Conquista – BA, 2013
Fotografia do autor
Vale ressaltar que nas últimas décadas se teve muito avanço constitucional no
que diz respeito a questão urbana, entretanto a segregação espacial é contínua, o plano
diretor urbano que foi instituído em 22 de dezembro de 1976, doze anos antes da
constituição de 1988, não conseguiu exercer a função de regular o solo, a população
pauperizada moradora dos lugares precários não foi atendida.
A segregação urbana ou ambiental é uma das faces mais importantes da
desigualdade social e parte promotora da mesma. À dificuldade de acesso aos
serviços e infra-estrutura urbanos (transporte precário, saneamento deficiente,
drenagem inexistente, dificuldade de abastecimento, difícil acesso aos serviços
de saúde, educação e creches, maior exposição à ocorrência de enchentes e
desmoronamentos etc.) somam-se menos oportunidades de emprego
(particularmente do emprego formal), menos oportunidades de
profissionalização, maior exposição à violência (marginal ou policial),
discriminação racial, discriminação contra mulheres e crianças, difícil acesso à
justiça oficial, difícil acesso ao lazer. A lista é interminável. (MARICATO, p 152.
2003)
938
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
Durante a pesquisa foi constatado a presença de algumas melhorias como água
e energia fornecida pelas empresas que abastecem a cidade com a água e distribuem à
energia, entretanto quando se analisa as habitações que não obedecem às normas da
construção legal, gerando lugares não apropriados para a moradia por apresentarem
deficiências na forma como foram construídas.
Essas habitações são construções desprovidas de segurança em relação à posse,
são carentes em sua maioria de serviços públicos, a ausência de infraestrutura é algo
comum a essas ocupações como pode ser visto na Figura 3 abaixo.
Figura 03 – Assentamento Renato Magalhães. Vitória da Conquista – BA, 2013
Fotografia do autor
No que diz respeito aos imóveis, estes são construídos, na maioria das vezes, de
forma improvisada, no planejamento de curto prazo são erguidos por conta própria, apenas
para atender a necessidades imediatas, o que se traduz em construções fora do padrão, o
percurso do ônibus coletivo em sua grande maioria não contempla as ocupações e não
existem áreas de lazer como praças, os moradores utilizam a unidade de saúde e as escolas
939
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
sempre de algum conjunto habitacional mais próximo, não existe um ordenamento nas ruas
e nem mesmo o asfalto, o alinhamento das casas não obedece a um padrão, nas ruas pode
se perceber a falta do esgoto (que durante a pesquisa foi implantado em alguns
assentamentos) quando se observa as ruas tem-se córregos feitos para escoar a água de
serviços domésticos e de banho.
Não se trata de alimentar a noção da cidade dual ou fraturada. Ela pode ser
utilizada para facilitar a compreensão da segregação e da exclusão, mas pode
conduzir a uma falácia: a de que o atual modelo de desenvolvimento poderia ser
estendido a todos. Há uma relação biunívoca entre esse moderno e esse arcaico.
Os aparelhos eletroeletrônicos chegam às favelas antes da unidade sanitária
completa (e evidentemente antes da moradia digna). A relação de favor e o
clientelismo continuam a mediar as relações sociais, como há séculos. A
aplicação da lei se subordina às relações de poder. A questão fundiária urbana é
um nó não desatado, como sempre o foi no campo, ao longo dos séculos. O
latifúndio, que nos Estados Unidos foi eliminado no século XVIII, atravessou
impassível até o início do século XXI, no Brasil. A aplicação da função social da
propriedade encontra obstáculos de várias origens: pela via do Judiciário, pela
correlação de forças local, pela precariedade dos cadastros ou registros de
propriedades.( Maricato,1997, p.1)
940
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
Figura 4 – Assentamento Renato Mag.. Vitória da Conquista – BA, 2013
Fotografia do autor
A pobreza vivenciada pela parcela da população no município é vista através dos
lugares precários em que essa população mora, as ocupações são a forma que o
desenvolvimento urbano encontrou para resolver a falta de moradias.
A capacidade de atração populacional e o decorrente processo de valorização
da terra e exclusão da população mais pobre, contribuíram imensamente para o aumento
do déficit habitacional e com isso o surgimento dos assentamentos, existe uma grande parte
da população excluída do mercado de habitação, pois não possuem poder aquisitivo para
adquirir uma habitação formal. A inadequação da habitação e à ausência de infra-estrutura
urbana – saneamento e a ilegalidade da posse da terra demonstra a cidade dual que se
tornou o município, ao mesmo tempo em que ocorre a construção de grandes condomínios
acontece a precarização da habitação em outra localidade, existe uma grande diferenciação
das localidades em termos de infraestrutura e aparatos sócias.
Existe uma nítida distribuição desigual dos equipamentos de serviços urbanos
na cidade que é percebido nas contradições dos espaços, o consumo desigual gera
941
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
diferenciações, que são produzidas pelos proprietários de terras, a indústria da
construção e o capital imobiliário, produzindo assim u m campo de luta de classe.
Figura 4 – Assentamento José Machado Costa. Vitória da Conquista – BA, 2013
Fotografia do autor
AS POLITICAS HABITACIONAIS
As dinâmicas da urbanização nas cidades refletem a valorização fundiária que
propicia a exclusão dos indivíduos da cidade e, principalmente, ao direito de morar, o acesso
à urbanização só era, e é possível aos que possuíam poder de compra, as relações de
urbanização que se estabelecem no espaço giram em torno do privilégio, desencadeando a
exclusão da população mais pobre, que tem a moradia como um item quase inalcançável, e
mais ainda pela população miserável, o que leva a classe trabalhadora a uma busca
incessante para obter o item chamado casa própria, levando o trabalhador a uma luta
insana pela apropriação desse bem.
A casa própria, em suma, convida uma fração da classe trabalhadora a
comprometer sua luta inevitável pela apropriação do valor nas sociedades
capitalistas, de uma maneira muito diferente. Ela a coloca do lado do princípio
942
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
da propriedade privada e frequentemente leva a se apropriar de valores às
custas de outras facções da classe trabalhadora (HARVEY, 1982, p.14)
Em 1979 tem-se a aprovação da lei 6766 regulando o parcelamento do solo e
criminalizando o loteador irregular, e em 1988 a Constituição dos artigos 182 e 183, que
fundavam instrumentos para o controle da produção do espaço urbano e adentravam o
princípio da chamada “função social da propriedade urbana”, porém esses artigos só foram
regulamentados 11 anos depois, culminando na a aprovação da Lei 10.257, o Estatuto da
Cidade, em julho de 2001.
No ano de 2003 tem-se mais avanços na questão habitacional no país com a
criação do Ministério das Cidades, órgão de instância federal, responsável pela elaboração
da Política Nacional de Habitação (PNH), que em 2005 instituiu o Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social (SNHIS), e criou o Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social (FNHIS), esses instrumentos enfrenta um grande problema com os prazos, em que os
estados e municípios por várias vezes não cumprem, dificultando ainda mais a execução.
Entretanto, todos esses instrumentos urbanísticos não consegue resolver em
definitivo a segregação espacial existente, o problema reside na insuficiente renda da
população em acessar uma solução habitacional, além da divida enorme que o país possui
na questão da habitação por ter postergado durante muito tempo ações para a resolução
da dinâmica habitacional, deixando livre a especulação imobiliária, dificultando a terra para
habitação de interesse social.
Com a explosão do preço dos terrenos, a tendência é acentuar a expulsão da
população para as periferias, onde, distante dos locais de trabalho, se avolumam
barracos e casas precárias. (Kowarick, 1993,p. 42)
Em 2009 foi lançado o programa minha casa minha vida. No governo de Dilma
Rousseff foi reformulando com a meta de se construir 2 milhões de casas até 2014, mas não
consegue acompanhar o crescimento da demanda por moradia, ao analisar os dados do
IBGE do censo de 2010 se percebe a grande dívida do país na questão da habitação,
segundo o censo são 11,42 milhões de pessoas vivendo em favelas, assentamentos
irregulares e outros, os dados de 1991 era de 4,48 milhões e em 2000 6,53 milhões, fica
claro o crescimento desses lugares sem infraestrutura, dos 57 milhões de domicílios
brasileiros só 30 milhões são considerados adequados ou seja 52,5%.
943
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos anos o município passou por mudanças populacionais que
interferem no espaço urbano. Vitória da Conquista é a terceira maior cidade da Bahia sendo
considerada uma cidade média, nas últimas décadas teve um crescimento acelerado
segundo o PLHIS (2013) entre 2010 a 2013 a cidade teve um crescimento de 21,81%, se
destacando com um comércio forte, o aumento do número de escolas, faculdades e clínicas,
em contrapartida o número de miseráveis aumentou, cerca de 43,8% da população é de
baixa renda, o aumento da população é atrelado ao aumento da pobreza e essa pobreza é
refletida de várias formas e uma delas é a precariedade habitacional.
Ao longo dos anos esse crescimento populacional urbano esteve atrelado a uma
política de habitação voltada para pessoas de baixa renda ou sem nenhuma, entretanto não
contribuiu para diminuir a crise da habitação que sempre vem acompanhando o
crescimento da cidade, a partir daí se percebe no município é inúmeros projetos, na maioria
das vezes, homologados somente em função das verbas recebidas via implantação desses
projetos para a habitação.
Todavia não há a execução, fazendo com que os problemas com habitação
aumente, a exemplo de toda essa crise no município tem o PLHIS (plano local de habitação
de interesse social) que inúmeras vezes se tentou realizar no município, mas só veio a se
realizar e homologar em abril de 2013 devido as pressões do governo que instituiu esse
prazo para todos os municípios do brasil homologarem o PLHIS.
Na atualidade, vê-se uma tentativa de garantir a função social ao solo urbano,
como visto em páginas anteriores, por meio da Lei nº. 10.257/01, denominada
Estatuto da Cidade, que regulamenta o capítulo da política urbana da
Constituição Federal, estabelecendo diretrizes gerais da Política Urbana,
propondo normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da
propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos
cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental, a exemplo dos mecanismos que
estão previstos, dentre eles, o IPTU progressivo no tempo podem vir a ajudar no
controle da especulação imobiliária e na garantia da função social do espaço
urbano evitando ou reduzindo a segregação socioespacial. Contudo, o Estatuto
da Cidade não elimina o direito da propriedade privada instituído pela
Constituição Brasileira, fato que gera controvérsias quanto à sua aplicação e
exeqüibilidade, no sentido de minorar os efeitos do capital na produção desigual
do espaço urbano. (Almeida,2005, p. 108 )
944
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
Para a análise das habitações precárias é necessário compreender todo o
processo histórico da sociedade, haja vista que os assentamentos são resultado de toda a
produção do espaço que vem sendo vivenciada de forma deformada, na medida em que as
cidades experimentam um crescimento as contradições crescem também, se concretizando
com o surgimento de favelas, assentamentos e cortiços.
Ao analisar a condição das habitações se percebe a extrema carência de
infraestrura o que denota a falta de planejamento, a falta de serviços essenciais como
esgoto é um dos problemas enfrentado pelos moradores, a precariedade do transporte, da
escola, posto de saúde, e todos os aparatos urbanísticos revelam a condição precária desta
população que é excluída da cidade formal, fato é que enquanto a moradia estiver ligada ao
poder de compra uma parcela da população continuará a ser excluída.
REFERÊNCIAS
BONDUKI, Nabil. Habitar São Paulo. Reflexõessobre a questão urbana. São Paulo: EstaçãoLiberdade, 2000.
ALMEIDA, Miriam C. Produção Sócio Espacial eHabitação Popular nas Áreas deAssentamentos e Ocupações na cidade deVitória da Conquista – BA. Salvador:dissertação de mestrado, 2005.
BRASIL. Estatuto das Cidades n.10257 de Julho de2001- estabelece diretrizes gerais da PolíticaUrbana.
BRASIL. Ministério das Cidades. Curso a Distância:Planos Locais de Habitação de Interesse Social.Brasília, DF, 2009.
CARLOS, A. F. A. A metrópole de São Paulo nocontexto da urbanização contemporânea.Estudos Avançados. São Paulo: USP, 23 (66):303-14 2009.
DAMIANI, M. L. Geografia da população. São Paulo:Contexto, 2001.
ENGELS, Friedrich. O Problema da Habitação.Tradução Antonio Pescada. São Paulo:Estampa, (sd). Original de 1887.
FERNANDES,Edésio. Foco em Políticas Fundiárias.Regularização de assentamentos informais na
América latina. Lincoln Institute Of Land Policy,2011.
FERRAZ, Ana Emilia de Q. O Urbano emConstrução. Vitória da Conquista: Um Retratode duas Décadas. Vitória da Conquista: EdiçõesUESB, 2001.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA EESTATISTICA ( IBGE). Censos Demográficos doBrasil – Bahia. 1940 a 2010.
KOWARICK, Lúcio. A Espoliação Urbana. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1993.
MARICATO, Erminia, metrópole, legislação edesigualdade. ESTUDOS AVANÇADOS 17 (48),2003.
MARICATO, Ermínia. Habitação e cidade. São Paulo:atual,1997.
MARICATO, Ermínia. São Paulo. Metrópole naperiferia do capitalismo: ilegalidadedesigualdade e violência. 1995.
RAMOS, Maria Helena R. e SÀ, Maria Elvira Rocha.Avaliação da política de habitação popularsegundo critérios de eficácia societal. In:RAMOS, Maria Helena R. (org) Metamorfosessociais e políticas urbanas. Rio de Janeiro:DP&A, 2003.
945
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas cidadesbrasileiras. 2 ed. São Paulo, contexto, 1990.
SOUZA, Ângela G.Limites do habitar: segregaçãoeexclusão na configuração urbanacontemporânea de Salvador e perspectivas nofinal do século XX.Salvador: EDUFBA, 2000.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: umaintrodução critica ao planejamento e a gestãourbana. Rio de Janeiro: 2002.
VILLAÇA. Flavio. Espaço intra- urbano no Brasil. 2ed. São Paulo: NOBEL, 2001.
946
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
PRODUÇÃO DO ESPAÇO E AS HABITACÕES PRECÁRIAS NAS CIDADESMEDIAS BRASILEIRAS: O CASO DE VITORIA DA CONQUISTA BAHIA
EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas.
RESUMO
O presente trabalho permeia a questão habitacional nas cidades medias no sentido de evidenciar
problemas atuais relacionados a condições de moradia, a urbanização acelerada produz um
crescimento sem o desenvolvimento urbano, que faz com que a população de menor renda ocupe
as áreas com precárias estruturas por serem na maior parte sem valor imobiliário, havendo o
crescimento dos assentamentos precários, que são moradias sem nenhum planejamento e
infraestrutura. Busca-se mostrar o crescimento e perpetuação dos assentamentos precários e a
ineficiência da política habitacional encontrada no município de Vitoria da conquista BA. Os
procedimentos utilizados iniciaram com a leitura das referências bibliográficas em habitação e
utilização de conceitos do Ministério das Cidades acerca de assentamentos precários. A área foi
analisada tomando os dados do IBGE e trabalhos anteriores de pesquisadores locais como
Almeida (2005) e Ferraz (2001), além da pesquisa de campo. A partir do final da década de 80
tem–se o surgimento dos assentamentos precários no município oriundos de invasões em função
da falta de moradia, ao mesmo tempo em que ocorre um crescimento da cidade, houve a
implantação de algumas politicas e implementação de leis municipais para frear o crescimento e
surgimento dos assentamentos, entretanto já se passaram mais de vinte anos e essas localidades
receberam pouca ou nenhuma infraestrutura.
Palavras-chave: cidades medias. Habitação. Assentamentos precários.
947