produtividade naval: um estudo empirico da...
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PRODUTIVIDADE NAVAL: UM ESTUDO
EMPIRICO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA II
Maria de Lara Moutta Calado de Oliveira (UFPE )
GABRIELA BARROS DE ANDRADE (FMGR )
JONATAS DA SILVA JUNIOR (FMGR )
Daniela Didier Nunes Moser (UFPE )
Elidiane Suane Dias de Melo (UFRPE )
Com a retomada recente da indústria naval brasileira foi necessária à quebra
da inércia em que o país vivia nesse setor, após cerca de 10 anos
praticamente sem desenvolvimento. Os financiamentos do FMM, bem como
as demandas crescentes advindas dos programas da TRANSPETRO o PROMEF
I e II, além do crescimento do pré-sal, foram essenciais para essa mudança de
cenário. Este trabalho tem por objetivo uma análise de índices de
produtividade relacionados com a indústria de construção naval nacional.
Foram utilizados dados envolvendo os principais estaleiros brasileiros
distribuídos em todas as regiões com os diversos tipos de embarcações
produzidas ao longo dos últimos seis anos. Como variáveis de análise foram
definidos os quantitativos de Hora-Homem de trabalho (HH), peso do aço
processado em Toneladas (Ton) e a relação entre essas variáveis, (HH/Ton).
Foram comparadas as produtividades de diversos tipos de embarcações com
graus de dificuldade de construção diferentes, em estaleiros diversos, com
capacidades tecnológicas distintas. Os resultados obtidos foram aplicados na
elaboração de uma proposta de sistema de classificação de produtividade
para algumas embarcações construídas no Brasil no período de 2006 a 2012,
definindo a produtividade de acordo com uma escala Likert como ótima, boa,
média, ruim e péssima. Resultados preliminares mostraram que a região
Norte, que produz em sua maioria embarcações para navegação interior,
tem uma produtividade ótima; enquanto que, nas regiões Nordeste e
Sudeste, que produzem embarcações de longo curso e de apoio marítimo e
portuário, este índice ainda esta muito longe de ser considerado bom. Isto
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Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
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demonstra que a produtividade para embarcações mais complexas
representa um grande campo de estudos empíricos e melhorias a serem
desenvolvidas na construção naval brasileira. Este estudo corrobora a
necessidade da continuidade de pesquisas na área de produtividade,
sobretudo na construção das grandes embarcações, foco da retomada da
construção naval brasileira. Sugerimos como trabalhos futuros comparações
de dados da produtividade nacional com a base de dados internacional sobre
produtividade naval e análise na divergências dos dados.
Palavras-chaves: Produtividade, Construção Naval,
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1. Introdução
A indústria naval está crescendo novamente no Brasil. Após um longo período de declínio, o
país esta se erguendo graças a demanda da indústria de petróleo e gás natural offshore, além
da demanda crescente por serviços de transporte marítimo. Porém, a indústria naval brasileira
ainda não atingiu toda grandiosidade que tinha nos anos 80, quando produzia 5% da produção
mundial.
As encomendas constantes da Petrobrás, da Transpetro e o incentivo do governo em forma de
empréstimos vêm ajudando o Brasil a quebrar a inércia em que o país vivia na indústria naval
e retomar seu poderio mediante esse seguimento. Muitos autores acadêmicos relacionam
competitividade com eficiência, inovação, qualidade do produto, produtividade, flexibilidade
e preço final coerente. O conjunto desses itens tornam o produto/serviço competitivo ou não
(ABDI, 2009).
Em especial, a produtividade baixa e os preços extravagantes diante do cenário internacional
chamam atenção para a realidade na construção naval brasileira. Estes itens são normalmente
definidos na fase de projeto, antes do começo da construção da embarcação, porém mediante
toda dificuldade na fase de execução do projeto, os quantitativos previstos ficam muito aquém
do valor realizado. Para que o Brasil represente novamente uma potência mundial da indústria
naval é necessário quantificar a situação atual e, a partir daí, identificar os problemas atuais e
propor soluções com o objetivo de alcançar a produtividade e como consequência a
competitividade internacional (ABDI, 2009).
A produtividade apresenta sinais de melhoria e a influência da mesma com relação ao valor
total da embarcação está associado ao nível de complexidade da embarcação (alta, média e
baixa). As embarcações de alta complexidade (petroleiro, apoio marítimo e portuário)
apresentam 27,7% do preço de venda associado à mão de obra direta. As embarcações de
média complexidade (empurrador fluvial e marítimo) apresentam 16,1% do preço de venda
associado à mão de obra direta; e as embarcações de baixa complexidade (barcaças)
apresentam uma média de 6,2% para os custos de mão de obra operacional, (CALADO et al
2013).
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Este artigo tem como propósito estudar o cenário naval brasileiro atual, dando continuidade as
pesquisas preliminares já publicadas por Calado et al (2013), apresentando um diagnóstico da
produtividade de acordo com os tipos de embarcações e a região Brasileira de construção da
embarcação, contribuindo para o entendimento das relações entre produtividade, tipos de
embarcação com sua complexidade e região de construção das embarcações.
2. Revisão bibliográfica
Segundo Slack (2008), para qualquer organização que deseja ser bem sucedida à longo prazo,
é vital a contribuição da função produção. O mesmo autor, a partir do modelo das prioridades
competitivas descrito inicialmente por Hayes e Wheelwright (1984), apresentou uma relação
entre os cinco objetivos de desempenho da produção (qualidade, rapidez, confiança,
flexibilidade e custo) e as vantagens competitivas proporcionadas por estes, através das ações
abaixo:
Fazer certo as coisas. Isto é, não desejar cometer erros. Desejar satisfazer aos
consumidores fornecendo bens e serviços isentos de erro, adequados a seus propósitos.
Se a produção for bem sucedida em proporcionar isso, estará dando uma vantagem
competitiva de qualidade para a empresa;
Fazer as coisas com rapidez. Desejar minimizar o tempo entre o consumidor, solicitar
os bens e serviços e recebê-los. Fazendo isso, aumentaria a disponibilidade de seus
bens e serviços para os consumidores e estaria dando a empresa uma vantagem
competitiva em rapidez;
Fazer as coisas em tempo para manter os compromissos de entrega assumidos com os
consumidores. Isso pode significar estar preparado para estimar, rigorosamente, uma
data de entrega, comunica-la claramente ao consumidor e, depois entregar exatamente
em tempo. Se a produção puder fazer isso, estará proporcionando aos consumidores a
vantagem competitiva em confiança;
Preparar para mudar o que faz, isto é, estar em condições de mudar ou de adaptar as
atividades de produção para enfrentar circunstâncias inesperadas (um consumidor
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mudando de ideia ou talvez, consumidores além do esperado exigindo seus serviços)
ou porque os consumidores exigem tratamento exclusivo, de maneira que a variedade
de bens e serviços produzidos precisam ser amplos o suficiente para satisfazer a todos
eles. Estar em condições de mudar rapidamente para atender as exigências dos
consumidores dá à empresa a vantagem competitiva em flexibilidade;
Fazer as coisas o mais barato possível, isto é, produzir bens e serviços a um custo que
possibilite fixar preços apropriados ao mercado e ainda permitir retorno para a
organização. Alternativamente, se for uma organização que não vise o lucro, fazer as
coisas baratas significa dar bom valor aos pagadores de impostos ou aos responsáveis
pela operação. Quando a organização procura fazer isso, está proporcionando
vantagem competitiva de custo a seus consumidores.
2.1. Produtividade
A produtividade é a eficiência com a qual os insumos são transformados em produção. As
empresas precisam constantemente aprimorar produtividade, qualidade e eficiência, o que
exige bom estruturamento, comunicação fácil e ambiente de valorização do ser humano.
Tornou-se necessário sincronizar estratégias das empresas com o mercado e a manufatura, que
atendam clientes, usuários e aqueles que os representam e os influenciam (LONGENECKER;
MOORE; PETTY 1997).
A produtividade é a relação entre os resultados da produção e os recursos produtivos a ela
aplicados sendo medida em três níveis: da operação, da empresa e da nação. No nível da
operação, reflete o conceito taylorista de aumento da capacidade produtiva dos recursos
envolvidos numa operação. No nível de toda empresa, reflete a relação entre o faturamento e
os custos totais e inclui toda a cadeia produtiva, desde os fornecedores até os clientes. No
nível da nação, reflete o conceito de renda per capita, (LONGENECKER; MOORE; PETTY
1997).
A produtividade é a razão de tudo o que o sistema produz de valor, ou seja as entregas do
estaleiro, por tudo que o sistema consome e utiliza, no caso os diversos recursos e insumos de
produção.
Na construção naval é mais usual a utilização de indicadores parciais de desempenho, que
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permitem a avaliação mais direcionada da parcela da produtividade que mais interessa aos
tomadores de decisão. Para identificação desses indicadores existem diversas metodologias
destacando a metodologia CGT (Compensated Gross Tonnage), onde é utilizado um fator de
correção de acordo com a complexidade da embarcação. Este método tem sido utilizado na
indústria naval internacional. Nesta metodologia o cálculo da produtividade parcial é dado por
o valor total de Horas Homem trabalhada (HH) pelo peso bruto da embarcação em toneladas
(Ton), dividido pelo índice CGT resultando no índice HH /CGT.
Outra metodologia usada é Gross Tonnage (GT), onde o peso bruto da embarcação é rateado
pelos recursos humanos utilizados (HH/Ton), neste caso o peso da embarcação é a principal
variável da produção.
No trabalho será adotado o índice GT como índice de produtividade considerado usando as
unidade de Homens Hora (HH) pelo peso bruto da embarcação (Ton).
2.2. Mão de obra e níveis tecnológicos
A mão de obra esta associada a dois pilares fundamentais que são posição na curva de
aprendizado (associado à produtividade), e nível o tecnológico, (associado ao grau de
mecanização dos processos) (CALADO et al, 2013).
A curva de aprendizado é proporcional ao quantitativo em série produzido. Na Coréia e Japão,
o histórico de aprendizado na indústria naval mostrou uma declividade dessa curva de 70%,
ou seja, a cada vez que a produção dobra. Particularmente nesses países, existiram
investimentos que aumentaram o índice de mecanização de forma acelerada e implantaram
conceitos de melhoria contínua, que respondem parte dos ganhos de produtividade da mão de
obra (CEGN, 2007).
O nível tecnológico de um estaleiro é definido pelo conjunto de ativos e sistemas de
informação disponíveis. Estaleiros com nível de tecnologia elevado apresentam maior grau de
automação e, portanto, fazem sentido em países com alto custo de mão de obra. A tabela
abaixo classifica o nível tecnológico, associando aos níveis de produtividade (BAITELLO,
2012).
Tabela 1- Classificação dos níveis tecnológicos
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Níveis
tecnológicos
Característica
Primeiro Estaleiros antigos, a construção é feita uma peça por vez em uma carreira, demandando enorme
quantidade de mão de obra. As oficinas de aço e de acabamento completamente separadas.
Segundo Introdução da construção por blocos com grande redução da quantidade de carreiras por
estaleiro, uma vez que maior parte do trabalho de montagem passa a ser feito em grandes
oficinas.
Terceiro Mecanização da montagem de blocos, com aumento do tamanho de blocos, redução do tempo
de montagem e redução dos locais de montagem. Oficinas de aço e acabamento ainda separadas,
porém com pré-acabamento iniciado antes do lançamento do navio.
Quarta Automação da montagem de blocos, com múltiplas linhas de processo combinadas sob um
único galpão industrial. Blocos ainda maiores e já produzidos com acabamento avançado,
apesar de separação das oficinas de aço. Tempos de produção reduzido e especialização dos
estaleiros e um determinado produto.
Quinta Filosofia de construção orientada ao produto, com instalações industriais flexíveis para a
construção de uma ampla variedade de produtos, com rápida aprendizagem para cada novo tipo
de embarcação. Oficinas de aço e acabamento totalmente integralizado.
Fonte: adaptado de Baba (2000)
Outra forma de classificação dos níveis tecnológicos é a associação a alguns elementos do
processo construtivo das embarcações como: à estrutura principal, a movimentação de carga,
ao processamento de aço e a informatização, conforme proposto na figura 01 abaixo.
Figura 1 – Níveis tecnológicos
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Fonte: CEGN(2007)
Outro fator importante a ser considerado é o custo de mão de obra que muitas vezes esconde
baixos índices de produtividade.
No Brasil, o custo da mão de obra é inferior ao coreano, japonês e europeu, mas superior ao
chinês. Isso deve orientar ao país um nível tecnológico intermediário, de forma que o custo
total seja equivalente ao dos principais concorrentes mundiais. O custo total é o produto da
produtividade pelo custo unitário da mão de obra. Quanto maior o custo unitário, maior a
produtividade requerida para igualar-se com estaleiros internacionais e para o aumento dessa
produtividade é necessário investimentos no nível tecnológico dos estaleiros.
Para definir o nível tecnológico ideal de um novo estaleiro no Brasil deve-se considerar a
equivalência em custos com o caso benchmark na indústria: a Coréia. No Brasil, o custo
homens-hora (HH) varia entre 10 e 15 USD/HH, enquanto na Coréia entre 13 USD/HH e 17
USD/HH, dados que ratificam a necessidade do Brasil melhorar gradativamente a
produtividade (SINAVAL, 2013).
2.3. Estaleiro, embarcações tipos de embarcações
O estaleiro é um sistema. Mais que um lugar onde se constroem navios, é uma organização
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industrial que emprega milhares de trabalhadores organizados em uma estrutura hierárquica
formada por vários grupos de trabalho, (BAITELLO, 2012). A embarcação pode ser
considerada qualquer construção, inclusive as plataformas flutuantes e, quando rebocadas, as
fixas, sujeita à inscrição na Autoridade Marítima e suscetível de se locomover na água, por
meios próprios ou não, transportando pessoas ou cargas (NORMAN 01, 2013).
Em relação aos tipos de navegação, a portaria MT 072 (2008) classifica como:
Navegação de longo curso é aquela realizada entre portos brasileiros e portos
estrangeiros, sejam marítimos, fluviais ou lacustres;
Navegação de cabotagem é aquela realizada entre portos ou pontos do território
brasileiro, utilizando exclusivamente a via marítima ou a via marítima e as interiores;
Navegação interior é aquela realizada entre portos brasileiros, utilizando
exclusivamente as vias interiores;
Navegação de apoio portuário é aquela realizada exclusivamente nos portos e
terminais aquaviários, para atendimento a embarcações e instalações portuárias;
Navegação de apoio marítimo é aquela realizada para o apoio logístico a embarcações
e instalações em águas territoriais nacionais e na Zona Econômica, que atuam nas
atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos.
3. Metodologia
A metodologia utilizada para desenvolvimento do estudo foi através de pesquisa qualitativa e
quantitativa.
Segundo Demo (1995), a pesquisa qualitativa permite analisar os aspectos implícitos ao
desenvolvimento das práticas organizacionais, e a abordagem descritiva é praticada quando o
que se pretende buscar é o conhecimento de determinadas informações e por ser um método
capaz de descrever com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade.
Por sua vez, a abordagem comparativa, conforme Lakatos;. Marconi (1995) permite analisar
dados concretos deduzindo dos mesmos os elementos constantes, abstratos e gerais. Esta
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abordagem, segundo Gil (1994), é muito utilizada em pesquisas no campo das ciências
sociais, possibilitando comparar e ressaltar diferenças e similaridades, consistindo em levantar
dados e informações embasados em bibliografia especializada sobre conceitos teóricos e em
documentos que relatam um caso específico.
Segundo Roesch (1999, p. 40), na pesquisa de caráter quantitativo os processos de coleta e
análise de dados são separados no tempo. A coleta antecede a análise, ao contrário da
pesquisa qualitativa, em que ambos os processos se combinam (...) a maneira como os dados
são coletados determina o tipo de análise que é possível realizar.
3.1. Técnica de coleta de dados
Na pesquisa qualitativa, foi utilizada como técnica de coleta de dados a pesquisa bibliográfica,
a análise documental e a observação participativa.
A pesquisa bibliográfica foi considerada fundamental, usando a contribuição de diversos
autores, sobre os temas relacionados ao objeto de estudo, enquanto a análise documental e
observação participativa foram realizadas através das visitas de campo nos diversos estaleiros
brasileiros.
Na análise quantitativa, foi definida uma amostra direcionada e não probabilística das
embarcações entregues de 2009 a 2013 de acordo com os dados do SINAVAL (2013). O total
de embarcações analisadas foram 116 embarcações entregues em todo território nacional. Foi
definido como produtividade a razão entre a quantidade de Horas Homem (HH) gastas na
construção total da embarcação pelo peso bruto da embarcação em Toneladas (Ton), optando
dessa forma pela metodologia GT.
A partir desses valores foi proposta uma classificação da produtividade usando uma escala de
intervalos conforme tabela proposta abaixo.
Tabela 2- Classificação dos níveis de produtividade
Produtividade HH/Ton Atributo
0-100 (ótima)
101-200 (Boa)
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201-300 (Média)
301-400 (Ruim)
Acima de 400 (péssima)
Fonte: Elaborada pelos autores.
Esta tabela partiu da observação participativa, bem como do conhecimento à priori dos
gestores dos estaleiros pesquisados. Partindo da premissa da classificação da produtividade,
foi feita uma análise considerando os tipos de navegação já apresentados no referencial
teórico e a região onde fica instalado o estaleiro produtor da embarcação (sudeste, sul,
nordeste, norte), analisando a produtividade sobre diversos focos.
4. Resultados
Inicialmente foi feito um levantamento de todas as embarcações entregues no período de 2009
a 2013. A partir da identificação dessas embarcações realizou-se uma pesquisa para conhecer
o estaleiro construtor, a região de localização do estaleiro e a produtividade das 116
embarcações entregues. Estes dados permitiram gerar uma base de dados que será analisada
abaixo.
A primeira análise realizada foi a significativa variação dos valores da produtividade das
embarcações, ratificando a necessidade da classificação em 05 grupos de análise que
permitiram um maior entendimento da especificidade das diversas produtividades. A média
de produtividade foi de 285,5 HH/Ton, mas os valares máximos e mínimos foram muito
divergentes variando de 1876,24 HH/Tton até o valor de 49,1 HH/Ton, conforme proposto na
figura abaixo.
Figura 2 – Tendência da produtividade
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Fonte: Elaborada pelos autores.
Nessa perspectiva, muitas perguntas foram realizadas: por que tanta variação do valor
máximo de produtividade para o valor mínimo? O que gera esta variação? Os critérios de
tipos de embarcação e região do estaleiro produtor explicariam alguma tendência?
Com intuito de compreender os dados, foi montado a tabela 3 abaixo, que apresentou a
quantidade de embarcações de acordo com cada classificação e as respectivas médias de
produtividade encontrada em cada classificação. Quando analisada por classes a média de
produtividade continuou variando significativamente, porém apresentando uma maior
uniformidade de acordo com cada classe. A produtividade apresentou um percentual de
53,8% entre ótima e boa, porém o restante dos dados muito aquém dos valores aceitáveis,
conforme figura 03 abaixo.
Tabela 3- Média de produtividade por classificação
Limites de HH/ton Classificação QTD de embarcações Média de Produtividade HH/ Ton Percentual
Total 116 285,50
50 -100 Ótimo 26 78,700 24,0%
101-200 Boa 36 145,30 29,8%
201-300 Média 19 245,96 15,7%
301-400 Ruim 13 335,36 10,7%
acima de 400 Péssima 22 879,26 19,8%
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Fonte: Elaborada pelos autores.
Figura 3 – Percentual de produtividade por classes
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
0-100 (ótima) 100-200 ( Boa) 200-300 ( Média)
300-400(Ruim) acima de 400 (péssima)
24,0%
29,8%
15,7%
10,7%
19,8%
Fonte: Elaborada pelos autores
A tabela acima gerou algumas perguntas que também precisariam ser respondidas como: que
tipos de embarcação possuem uma ótima e boa produtividade? De forma semelhante qual o
tipos de embarcação que possui índices de produtividade ruins e péssimos? A próxima etapa
do trabalho analisa cada classe dos cinco grupos de acordo com o tipo de embarcação
construída.
4.1. Produtividade nos grupos da classificação
A classificação ótima define a produtividade em um intervalo de 50 a 100 HH/Ton,
apresentando uma média de 78,7 HH/Ton. O gráfico de tendência apresenta uma grande
variação do processo, apresentando sinais de estabilidade no final das entregas de 2013,
conforme apresentado na figura 4 abaixo
Figura 4 – Tendência de produtividade na classificação ótima
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Fonte: Elaborada pelos autores.
A classificação boa define a produtividade em um intervalo de 101 a 200 HH/Ton,
apresentando uma média de 145,3 HH/Ton, bem superior ao grupo anterior. O gráfico de
tendência apresenta uma grande variação do processo, onde os comportamentos estão longe
da previsibilidade. A tendência não é satisfatória, apresentando sinais de piora nos dados de
entregas finais e uma descontinuidade no processo de melhoria da produtividade, conforme
apresentado na figura 5 abaixo.
Figura 5 – Tendência de produtividade na classificação boa
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Fonte: Elaborada pelos autores.
A classificação média define a produtividade em um intervalo de 201 a 300 HH/Ton,
apresentando uma média de 245,3 HH/Ton, bem superior ao grupo anterior. O gráfico de
tendência apresenta uma grande variação do processo, onde os comportamentos estão longe
de ser previsíveis. Porém, a tendência nesta classificação é satisfatória, apresentando sinais de
melhoria dos dados das embarcações nas entregas finais e uma descontinuidade no processo
de melhoria da produtividade, conforme apresentado na figura 6 abaixo.
Figura 6 – Tendência de produtividade na classificação média
Fonte: Elaborada pelos autores.
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A classificação ruim considera a produtividade em um intervalo de 301 a 400 HH/Ton,
apresentando uma média de 335,356 HH/Ton, bem superior ao grupo anterior. O gráfico de
tendência apresenta uma grande variação do processo, onde os comportamentos estão longe
de estarem previsíveis, conforme apresentado na figura 7 abaixo.
Figura 7 – Tendência de produtividade na classificação ruim
Fonte: Elaborada pelos autores.
A classificação péssima define a produtividade em um intervalo acima de 400HH/Ton, bem
superior ao grupo anterior. O gráfico de tendência apresenta uma grande variação do
processo, onde os comportamentos estão tendendo a uma estabilidade e previsibilidade do
processo, conforme apresentado na figura 08.
Figura 8 – Tendência de produtividade na classificação péssima
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Fonte: Elaborada pelos autores.
Com intuito de quantificar a produtividade média por tipo de embarcação, também foi levado
em conta apenas o tipo de embarcação e sua respectiva produtividade dentro das 116
embarcações. A figura 09 demonstra que as embarcações de longo curso apresentam as piores
produtividades (458 HH/Ton), seguidas do apoio marítimo (285,5 HH/Ton) e finalmente a
navegação interior (146,7 HH/Ton) que representa os melhores índices de produtividade,
ratificando as conclusões sugeridas por Calado et al (2013). Ou seja, a existência de uma
relação entre a complexidade da embarcação e sua a produtividade.
Figura 9 - Produtividade por tipo de embarcação
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Fonte: Elaborada pelos autores.
Ainda neste contexto, a figura 10 abaixo aponta que as ótimas produtividades são encontradas
nas embarcações de apoio marítimo e portuário e na navegação interior, mas as piores
produtividades foram encontradas nas embarcações de longo curso e também, em sua maioria,
nas embarcações de apoio marítimo e portuário.Visto que as embarcações de apoio marítimo
e portuário apresentam tanto os melhores, quanto os piores índices de produtividade, seriam
os valores analisados inconclusivos? Estariam erradas as premissas de análise? O que
justificaria esta divergência? Neste momento fica claro a necessidade de análise do segundo
critério da pesquisa, que está associado a região do estaleiro produtor.
Figura 10 – Produtividade por tipo de embarcação
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Fonte: Elaborada pelos autores.
4.2. Produtividade por região
Para a classe ótima, a região em destaque é a norte, onde são produzidos, sobretudo,
embarcações de navegação interior que apresentam produtividade dentro de parâmetros
aceitáveis da construção naval. Vale a pena destacar que a região Norte apresenta uma
demanda própria de embarcações, seja de barcaças, empurradores, embarcações de
passageiros, em virtude da especificidade da região.
Já na classificação de boa produtividade, destaca-se a região sul, com estaleiros que focam
exclusivamente embarcações de apoio marítimo e apoio portuário. Finalmente, tanto a região
sudeste, quanto a região nordeste, se destacam negativamente com os índices de
produtividade. As causas das duas regiões podem ser consideradas distintas, a região sudeste
associada a baixos níveis tecnológicos, já a região nordeste associada a curva de
aprendizagem, em virtude dos estaleiros novos que se implantaram na região.
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Figura 11 - Produtividade por região
Fonte: Elaborada pelos autores
5. Considerações finais
Os dados acima sugerem considerações importantes com relação à produtividade no segmento
empírico da construção naval, apresentando assim uma continuidade ao trabalho anterior que
sugeria as análises apresentadas neste trabalho.
A metodologia de análise por GT, usando o HH/Ton, facilita a análise e o entendimento de
todos os atores envolvidos, sobretudo os gestores dos estaleiros e a mão de obra direta
operacional, permitindo a criação de documentos internos de controle ao longo do processo
produtivo dos estaleiros.
A produtividade por tipo de embarcação gera um norteamento de como estamos internamente,
podendo haver comparações entre estaleiros e entre regiões, mas é necessário a criação de
indicadores com benchmarking internacionais para o entendimento de onde queremos chegar.
Logo, como trabalho futuro, sugerimos a comparação desses dados com bases de dados
internacionais, que possibilitem apresentar qual a distância da produtividade nacional em
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Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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relação a produtividade internacional. Outro estudo importante é o detalhamento da causa
desses valores serem tão divergentes, usando o mapeamento do processo construtivo das
embarcações.
Mais um passo foi dado no entendimento da produtividade da construção naval no Brasil,
sabemos que os tipos de embarcações apresentam médias de produtividade bem divergentes,
sendo importante a delimitação de estudos específicos. O baixo nível de tecnologia nos
estaleiros do sudeste e a curva de aprendizagem no nordeste deveriam representar o principal
foco das ações e decisões no que tange à melhoria de produtividade.
Acreditamos, dessa forma, que nosso trabalho contribuiu com mais um tijolo na grande
construção do saber.
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