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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
PROFa Dra BERENICE CARPIGIANI Diretora do CCBS
PROF. Dr. ERICH MONTANAR FRANCO
Coordenador do Curso de Psicologia
PROF. Dr. MARCOS VINICIUS DE ARAÚJO Coordenadora de Pesquisa e Extensão do CCBS
PROF. Dr. JOSÉ ESTEVAM SALGUEIRO Resp. pela Área de Estágios Supervisionados
Organização
Profª Drª Claudia Stella
Prof. Dr. José Estevam Salgueiro
v.5,n.2.ago./dez. 2015
ANAIS
XXII SEMINÁRIO DE PRÁTICAS
SUPERVISIONADAS
IISSSSNN 11998844--88554444
CCeennttrroo ddee CCiiêênncciiaass BBiioollóóggiiccaass ee ddaa SSaaúúddee-- CCCCBBSS
CCuurrssoo ddee PPssiiccoollooggiiaa
CCeennttrroo ddee CCiiêênncciiaass BBiioollóóggiiccaass ee ddaa SSaaúúddee-- CCCCBBSS
CCuurrssoo ddee PPssiiccoollooggiiaa
PRÁTICAS EM TEXTOS:
Relatórios de estágios em
Psicologia
psicologia
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia
XXII Seminário de Práticas Supervisionadas
V. 5, n. 2. jul./dez. 2015. ISSN 1984-8544
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INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE
ENTIDADE MANTENEDORA
Diretor-Presidente Mauricio Melo de Meneses
Diretor de Finanças e Planejamento Anaor D. Carneiro Silva
Diretor de Educacional Francisco Solano Portela Neto
Diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios José Paulo Fernandes Júnior
Diretor de Administração e Gestão de Pessoas Wallace Tesch Sabaini
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Chanceler Rev. Dr Davi Charles Gomes
Reitor Dr Benedito Guimarães Aguiar Neto
Vice-Reitor Dr Marcel Mendes
Secretário Geral Eng Nelson Callegari
PRÓ-REITORIA DECANATO DE GRADUAÇÃO E ASSUNTOS ACADÊMICOS
Dr Cleverson Pereira de Almeida
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA
Dr. Sergio Lex
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Drª Helena Bonito Couto Pereira
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
Drª Berenice Carpigiani – Diretora do CCBS
Dr. Erich Montanar Franco – Coordenador do Curso de Psicologia
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Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia
XXII Seminário de Práticas Supervisionadas
V. 5, n. 2. jul./dez. 2015. ISSN 1984-8544
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Conselho Científico Externo Profª Drª Elisa Medici Pizão Yoshida – PUCC Profª Drª Eliana Herzberg – IPUSP Profª Drª Leila Cury Tardivo – IPUSP Prof Dr Marcelo Afonso Ribeiro – IPUSP Profª Maria da Conceição Coropus Uvaldo – IPUSP Profª Drª Maria Salete Lopes Legname Paulo – UMESP Profª Drª Tania Maria Aielo Vaisberg – PUCC Comissão Científica Interna Profª Drª Angela Biazi Freire Prof Dr Marcos Vinicius de Araújo Profª Ms Lourdes Santina Tomazella Prof Dr Luiz Renato Rodrigues Carreiro Profª Drª Berenice Carpigiani Profª Ms Susete Figueiredo Bacchereti
Editores Acadêmicos Drª Claudia Stella Dr José Estevam Salgueiro
Endereço para correspondência Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Rua Consolação, 930 – Edifício 38 – Térreo São Paulo – SP – 01239-902 Telefone: (11) 2114-8142 e-mail: [email protected]
Práticas em texto: relatórios de estágios em psicologia. - V. 5, n. 2. jul./dez. 2015
São Paulo: Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2015.
Semestral ISSN 1984-8544
1. Psicologia. I. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Curso de Psicologia
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EDITORIAL
Apresentamos com satisfação mais um número de “Práticas em Textos: relatórios de
estágios em psicologia”, desta feita, relativo ao XXII Seminário de Práticas
Supervisionadas, apresentando trabalhos feitos por alunos em sua última etapa de
formação. As atividades desenvolvidas em diferentes modalidades de estágios
explicitam diversidades da experiência humana e podem oferecer subsídios para a
reflexão sobre o sempre instigante desafio da atuação dos psicólogos em nossa
sociedade. Por essa reflexão, tomam forma os versos dos poetas Milton Nascimento e
Fernando Brant:
Falo assim por saber
Se muito vale o já feito,
Mais vale o que será
E o que foi feito é preciso
Conhecer para melhor prosseguir.
Boa leitura a todos!
Claudia Stella
José Estevam Salgueiro
Editores Acadêmicos
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SUMÁRIO
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: A RAINHA E SEU PEQUENO
PRÍNCIPE. 7
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL: INTERVENÇÃO EM
UMA ESCOLA INTEGRAL: ORIENTAÇÃO E REDUÇÃO DO ESTRESSE NAS REUNIÕES
PEDAGÓGICAS. 11
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO: STRESS NO
AMBIENTE DE TRABALHO: UMA PROPOSTA DE RESSIGNIFICAÇÃO COLETIVA. 20
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO: PACIENTE EAC. 27
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA: O EU E OS OUTROS: DA
ALIENAÇÃO EGÓICA AOS DIÁLOGOS INTERIORES. 34
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA: ESTÁGIO NA VARA DA INFÂNCIA E DA
JUVENTUDE. 38
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL: A DEPRESSÃO SOB O
ENFOQUE ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL. 43
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: CAPS, REDES E PROMOÇÃO DE
SAÚDE: O CUIDADO DE SI. 48
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE: “CUIDANDO DO CUIDADOR” – UMA
EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM UM CENTRO-DIA PARA IDOSOS FRAGILIZADOS. 54
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADOLESCENTES: ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL E REMALHAGEM: ESTUDO DE UM CASO. 58
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UMA EXPERIÊNCIA DE
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO ENSINO MÉDIO. 62
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DO ESPORTE: RELATO DE UMA INTERVENÇÃO
EM PSICOLOGIA DO ESPORTE COM ATLETAS DE TIRO COM ARCO. 66
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ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL1
A RAINHA E SEU PEQUENO PRÍNCIPE
Sergio Paik
Thatiane Cardim Cesar Pestana
Profª Ms. Lourdes Santina Tomazella
A Psicoterapia Breve Infantil, PBI, sempre esteve comprometida com os aspectos bio
psico sociais necessários à visão do profissional de saúde mental. Assim, não apenas a
criança é considerada e atendida pelo Serviço-Escola, mas também seus pais, sua
escola e outros profissionais envolvidos em seus cuidados. Neste aspecto, sobretudo
os pais ou seus substitutos, como no caso de crianças institucionalizadas,
sistematicamente são atendidos, acreditando-se que esta inclusão é indispensável
para se atingir qualquer objetivo. Atualmente, percebe-se que pais e educadores
estimulados por fundamentações apenas fisiológicas dos sintomas infantis, cada vez
mais tendem a "culpar" a criança por seu adoecimento psíquico, isentando-se de seus
envolvimentos e "livrando-se" de qualquer culpa ou responsabilidade pelo processo.
Assim, este estágio, além de iniciar o aluno em uma modalidade psicoterapêutica,
procura ampliar sua visão sobre a clínica psicológica da criança considerando seu meio
social e familiar, propondo uma constante reflexão sobre quem é o "cliente" da PBI.
Introdução teórica
De acordo com a teoria transgeracional, muitas vezes o adoecimento psíquico infantil
é fruto de projeções dos pais sobre a criança de conflitos próprios não elaborados.
(Cramer, 1974; Mito e Yoshida, 2004). Assim, a criança torna-se uma "porta-voz" de
angústias compartilhadas, sendo necessário quebrar este jogo de projeção e introjeção
para libertá-la de seus sintomas. Neste aspecto, como referido por Tsu (2015), torna-se
importante questionar quem é o cliente dos atendimentos infantis. Além disso,
levando-se em conta a inserção social da clínica psicológica contemporânea, os
atendimentos de PBI propostos em nosso Serviço-Escola, sempre almejaram ampliar o
"olhar clínico" a parcelas da população carentes do acolhimento e atendimento à dor
psíquica (Tomazella, Albertini e Barros, 2014).
Objetivos
Este trabalho pretende, através da apresentação de um caso de PBI atendido na Clínica
Escola, refletir sobre as especificidades deste processo; assim como, indagar sobre
quem é "o cliente" da psicoterapia infantil e a postura clínica implicada nesta resposta.
1 Supervisores da área: Lourdes Santina Tomazella, Lucia Cunha Lee, Maria Regina Brecht Albertini.
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Método
Histórias de vida e históricos clínicos: A mãe, uma mulher solteira na faixa dos 30
anos, procurou a Clínica-Escola em 2013. Sem problemas nas áreas de produtividade e
orgânica, porém com conflitos na área afetivo-relacional, realizou PBA durante um
semestre. Foi então encaminhada para uma psicoterapia de longo prazo com uma
profissional do mercado, a quem não procurou. Após alguns meses deste
encerramento inscreveu seu filho, na época com 5 anos, para atendimento, com a
queixa de agressividade e grande competitividade. Esta criança, vinda de um breve
relacionamento da mãe, foi registrada pelo pai, mas tem com o mesmo pouco contato.
Após um psicodiagnóstico, mãe e criança foram encaminhadas para PBI, processo
realizado em 2014 por duas terapeutas estagiárias (uma da mãe e outra da criança).
Neste atendimento, ficou evidente o quanto a mãe "misturava-se" com o filho, vendo-
o como uma extensão de si mesma, uma "prova" de sua capacidade de ser mãe e pai
ao mesmo tempo. Exigia do filho comportamentos e realizações inadequadas para sua
idade, alegando que ele era superdotado cognitivamente, porém, ensinava-lhe
antecipadamente o conteúdo escolar, garantindo seu rendimento. Mostrava-se
autoritária, agressiva e competitiva com a criança e também com sua terapeuta, uma
"rainha" que não podia ser contrariada. Enfocou-se então, como ela "confundia-se"
com o filho.
Com o menino foi trabalhado seu baixo limiar à frustração, sendo que, durante as
sessões, ele não admitia derrotas e contrariedades, mostrando-se um "déspota", um
"pequeno príncipe" autoritário e agressivo em suas brincadeiras. Além desses
atendimentos, foram realizadas duas tentativas de aproximação, mal sucedidas, com o
pai; assim como, foi realizado um acompanhamento com a escola. Ao final de 2014,
concluiu-se que os objetivos haviam sido parcialmente alcançados e o caso foi
reencaminhado para PBI, com orientação da mesma supervisora.
O processo de PBI em 2015: No início deste ano assumiram o processo dois novos
estagiários, sendo escolhido um terapeuta do sexo masculino para atendimento do
menino, em função de suas resistências frente à figura feminina e também, pela
ausência da figura paterna em sua vida. A mãe novamente foi atendida por uma
terapeuta do sexo feminino e demonstrou-se, inicialmente, resistente a perceber sua
influência nos sintomas do filho. Com o estabelecimento de uma transferência positiva
foi trazendo questões emocionais que dificultavam seus relacionamentos, inclusive
com o filho, e foi possível "separá-la" psiquicamente do mesmo. Contudo, ficou claro
seu grande comprometimento psíquico e afetivo, e ela retornou no segundo semestre
de 2015, "cobrando" da terapeuta sua ausência durante as férias. Esta volta evidenciou
uma grande modificação da mãe, que já não se identifica projetivamente com o filho,
que diminuiu consideravelmente sua agressividade e exigência em relação ao mesmo,
e que conseguiu perceber suas próprias questões, antes projetadas na criança. Porém,
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ela não quer mais trazer para as sessões dificuldades da relação mãe-criança, objetivo
de seu atendimento, mas sim, espera da terapeuta acolhimento apenas para suas
questões, sobretudo referentes à sua procura por um relacionamento amoroso.
Quando isto lhe foi apontado, mostrando sua contrariedade "resiste" ao processo,
atrasando ou faltando às sessões, fatos inéditos em seus atendimentos e do filho.
Neste momento, em meados de outubro, os estagiários visitam a escola e são
informados de grandes modificações da criança. Porém, também são informados de
"negligências" da mãe, que parecia esperar da escola cuidados "maternos" em relação
à criança. Pode-se pensar, que esta mãe que antes só se via e vivia através do filho,
agora "desligara-se" do mesmo e do esperado ao papel materno. Assim, conciliar
estes dois papéis, de mãe e mulher, transformou-se no foco dos atendimentos desta
mãe até seu encerramento no final de 2015.
Quanto à criança, seus comportamentos agressivos e agitados se intensificaram após o
término do processo em 2014 e a escola levantou a hipótese de TDAH, já descartada
no Psicodiagnóstico, que concluiu que os sintomas infantis eram demandados por
conflitos emocionais. Assim, a terapia da criança durante o primeiro semestre de 2015,
foi marcada por manifestações de conflitos evidenciados por grande agressividade
presente nas brincadeiras. Além disso, os comportamentos competitivos do menino
pareciam mais intensos frente a um terapeuta do sexo masculino. Com o passar do
primeiro semestre o vínculo se fortaleceu e se estabeleceu uma "cumplicidade
masculina" na relação, propiciando avanços terapêuticos. À diferença da mãe e de seu
retorno no final de 2014, a criança volta segura e confiante para a continuidade do
processo no segundo semestre de 2015. Suas atuações continuavam marcadas por
desafios ao terapeuta, continuamente "mexido" contratransferencialmente, mas
através de criativas atividades que sempre tiveram o terapeuta como importante
coadjuvante, o menino foi utilizando o brincar como um importante instrumento de
elaboração para suas angústias.
Discussão
Consideramos que se a demanda da mãe tivesse norteado o planejamento e a
estratégia terapêutica, e o atendimento tivesse se centrado apenas nos sintomas
infantis, a criança poderia ter sido "penalizada" por seu próprio sofrimento. Além
disso, psicodinamicamente, deixaríamos de lado o importante jogo de projeções e
introjeções mãe-criança, responsável em grande parte pelas queixas trazidas. Levando-
se em conta a necessidade de cuidar da "sincronia" de atendimentos paralelos que
possam acontecer em uma psicoterapia infantil, e a constante revisão dos focos e
objetivos propostos, acreditamos imprescindível considerar como "cliente" não só a
criança, mas também seus pais e outros agentes de seu meio social.
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Considerações finais
Ao final do processo, consideramos como atingidos a maior parte dos objetivos da PBI
com a criança. Mas, se por um lado, a mãe pode entender o quanto suas questões
pessoais demandavam conflitos no filho e na sua relação com o mesmo, por outro
lado, mostrou-se pouco permeável a mudanças. Sua resistência ao final do processo,
evidenciou sua grande dificuldade de separar-se da terapeuta, e de conciliar aspectos
de sua vida pessoal com o papel materno. Em 2013, após 6 meses de PBA, esta mãe
havia sido encaminhada para uma psicoterapia individual a longo prazo, mas ao invés
de fazer esta procura, projetando-se no filho e negando suas dificuldades, inscreveu a
criança para tratamento aqui na Clínica. Acreditando que, após seus atendimentos em
PBI ela estivesse mais preparada e motivada, novamente a encaminhamos para um
atendimento de longa duração. Quanto ao menino, apesar de seus avanços, tem se
mantido mais organizado e sem sintomas por ter na terapia um continente para suas
angústias. Em função disto, e também por sua dependência em relação à figura
materna, optamos por encaminhá-lo para uma psicoterapia individual de longo prazo.
Palavras-chaves: Psicoterapia breve infantil, transgeracionalidade, atendimento à pais
Referências
CRAMER, B. Interventions thérapeutiques brèves avec parents et enfants. In: CRAMER,
B. La psychiatrie de L’enfant. Paris: Presses Universitaires de France, 1974, v. 17, n. 1,
p. 53-117.
MITO, T. I. H.; YOSHIDA, E. M. P. Psicoterapia Breve Infantil: a prática com pais e
crianças. In: YOSHIDA, E. M. P.; ENÉAS, M. L. E. (Org). Psicoterapias Psicodinâmicas
Breves: propostas atuais. Campinas: Alínea, 2004. p. 259-292.
TOMAZELLA, L. S.; ALBERTINI, M. R. B.; BARROS, I. P. M. A clínica com crianças e os
desafios da formação. In: CARPIGIANI, B.; LOPES, S. R. A. (Org). Espaço de formação do
psicólogo no Brasil: vinte anos da Clínica Psicológica Alvino Augusto de Sá. São Paulo:
Editora Mackenzie, 2014. p. 39-48.
TSU, T. M. J. A.; A relação psicólogo-cliente no psicodiagnóstico infantil. In: TRINCA, W.
(Org). Diagnóstico Psicológico da Criança: A prática clínica. São Paulo: E. P. U., 2015, p.
34-50.
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ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL2
INTERVENÇÃO EM UMA ESCOLA INTEGRAL: ORIENTAÇÃO E REDUÇÃO DO
ESTRESSE NAS REUNIÕES PEDAGÓGICAS
Thaís Mari Luongo
Jessica Aquino Kadri
Letícia Ribeiro da Silva Feitosa
Prof. Dr. Rinaldo Molina
Historicamente a relação entre educação e psicologia tem se modificado
intensamente. O trabalho dos profissionais envolvidos na área tem como foco atual
uma prática relacional, que enfatiza uma visão global da instituição e uma análise
crítica da educação. Tais práticas incluem pesquisa, diagnóstico e intervenção
preventiva ou corretiva, envolvendo todos os segmentos do sistema educacional
participantes do processo ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, o psicólogo que adentra a instituição escolar pode ser visto como uma
figura que: 1) atua no sentido de proporcionar zonas de reflexão junto à equipe
escolar; 2) cria condições mais favoráveis de desenvolvimento, tanto para os
profissionais, quanto para os alunos; 3) contribui para a elaboração de projetos e
programas educacionais; e 4) media as relações estabelecidas entre a equipe escolar.
Introdução teórica
Como parte da formação em Psicologia é necessário estagiar em uma instituição, o que
coloca os alunos e alunas do curso em contato com a prática do que foi estudado ao
longo dos anos. Foi escolhido por nós trabalhar durante um ano em uma escola de
período integral da cidade de São Paulo. A proposta inicial do estágio era ter contato
com a escola integral e suas singularidades e participar, intervindo, nas reuniões dos
professores, chamadas de ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Específico). No entanto,
diante do que verificamos no dia-a-dia escolar, este foco se ampliou e envolveu a
relação entre eles e o coordenador. Deste modo, o projeto teve como objetivo tanto
ajudar a equipe a ter mais qualidade em sua jornada de trabalho, como mediar a
relação do coordenador com os professores, orientando-o em questões inter-
relacionais.
2 Supervisores da área: Marcos Vinicius de Araújo; Rinaldo Molina; Roseli Fernandes Lins Caldas; Susete
Figueiredo Bacchereti.
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Objetivos
Este artigo tem como objetivo relatar a experiência do trabalho de estagiárias do
último ano do curso de psicologia em uma escola estadual de período integral e as
formas de mediação e intervenção utilizadas.
Método
O trabalho teve duração de dois semestres (ano de 2015), 29 encontros de
aproximadamente 4 horas por encontro, que totalizaram 112 horas. A intervenção foi
realizada em dois momentos: 1) encontros periódicos com o coordenador e, 2)
participação junto aos professores e o coordenador nas Aulas de Trabalho Pedagógico
Coletivo (ATPC). Nos dois momentos as estagiárias ocuparam o lugar de mediadoras
(VYGOTSKY, 1999) na resolução de conflitos, além disso, nas reuniões semanais, foi
introduzida a técnica de Atenção Plena -Mindfulness (LITTLE, [ca.2014]).
Discussão
Após as primeiras observações feitas na instituição, propusemos ao coordenador que
nos reuníssemos individual e semanalmente para auxiliá-lo, por meio de orientações, a
romper as barreiras de relacionamento entre ele e os professores o que inviabilizava a
reunião de ATPC que acontecia semanalmente. Assim a partir da mediação “processo
que caracteriza a relação do homem com o mundo e com outros homens” (BERNI,
2006, p. 2539) nosso trabalho consistiu em, por meio dessa, auxiliar o coordenador na
organização e condução das reuniões. Ao realizar esta ação atuamos na zona de
desenvolvimento proximal que é caracterizada pelo conjunto de funções que ainda
estão em processo de amadurecimento no indivíduo (VYGOTSKY, 1998). E, uma vez
que o coordenador mostrou-se aberto às propostas levadas, também pediu para que
falássemos sobre todas as nossas impressões ao longo do processo.
Os temas colocados em pauta nestas reuniões referiram-se à importância de dar voz
aos professores, obtendo maior consciência sobre a visão deles (e dos alunos) sobre a
escola; a utilidade de relembrá-los sobre as leis e papeis nos quais a escola e a equipe
devem basear-se, explicitando seus deveres; a necessidade de incentivá-los a pensar
com foco em soluções, ao invés de emitir reclamações, sem soluções, e a necessidade
de compreender o histórico dos professores para entender seus posicionamentos,
pois, assim como colocado por Huberman (2000, p. 38), é necessário estudar a carreira
de um profissional para compreender como as “características dessa pessoa que
exercem influência sobre a organização e são, ao mesmo tempo, influenciadas por
ela”.
Após tais discussões, foi notável a melhoria em seu comportamento diante de diversas
situações, por exemplo no manejo com os professores durante as reuniões e a criação
de um espaço para a manifestação de suas ideias. No entanto, a falta objetividade na
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resolução dos assuntos discutidos em reunião intensificou-se, portanto sugerimos que
o coordenador agisse como centralizador de todas as ideias expostas, organizando-as e
impedindo que a discussão se tornasse improdutiva; desta forma, ele atuou como uma
espécie de filtro, “[...] através do qual o sujeito é capaz de ver o mundo e operar sobre
ele [...]” (RIBEIRO, 2007, p. 31), exercendo o papel de mediador, eliciando o sujeito ao
objeto. Paralelamente a isso, ele deveria refletir anteriormente à reunião, sobre
algumas soluções para os problemas que seriam expostos nestas, evitando que a
reunião se tornasse um espaço de divagações e reclamações. O coordenador percebeu
e relatou que houve uma melhora efetiva em seu relacionamento com os professores
ao longo do ano.
Para os professores, apresentamos um projeto de inserção da prática de meditação
Mindfulness (atenção plena) no início das reuniões - ao invés de propor, como outras
intervenções na escola, dinâmicas de grupo – as quais eles relataram estar fartos. A
ideia propõe que a atividade dure no máximo 15 minutos. Esta prática foi escolhida
com o intuito de diminuir os níveis de estresse e ansiedade dos professores diante da
alta demanda de tarefas e atritos, alcançando, através da respiração e percepção
corporal, a atenção plena no momento presente, aumentando o foco. Com isso,
mesmo diante de uma rotina com muitas tarefas, atividades e prazos, o indivíduo
consegue estar por inteiro em tudo o que faz, pois com a atenção plena, a
produtividade aumenta e o estresse e a ansiedade diminuem (LITTLE, [ca.2014]).
O projeto foi exposto em uma das reuniões e teve aceitação da maioria dos
professores presentes. Ao longo do semestre, alguns professores que estavam céticos
de início aderiram à prática, no entanto, tiveram alguns poucos que permaneceram
resistentes até o fim. No geral, a maioria deles disse que a prática ajudou muito a
trazer “leveza” (sic) para a reunião; a aumentar o respeito entre os colegas;
tranquilizar os ânimos; diminuir a hostilidade; garantir maior produtividade; e discutir
os assuntos propostos pelo coordenador mais sensatamente. Todos que participaram
gostariam que esta intervenção continuasse no ano seguinte.
Com o objetivo de minimizar a indisciplina e o desinteresse dos alunos pela escola,
uma das primeiras atividades propostas pelo coordenador foi pedir para os
professores observarem e anotarem os comportamentos mais prejudiciais para o
ensino em sala de aula. Sua ideia era conduzir a reflexão para a necessidade dos
próprios professores (principalmente aqueles com mais anos de experiência) reverem
e atualizarem seus métodos de ensino, rompendo com a ideia da psicopedagogia
tradicional de culpar apenas o aluno pelo seu fracasso, buscando mudanças de
comportamento que resolveriam sua inadequação na escola (COLELLO, 2011).
No entanto, orientamos o coordenador a abordar o assunto de maneira cautelosa, sem
promover uma desvalorização da experiência de alguns professores, o que poderia
desrespeitá-los e gerar uma oposição mais forte às suas propostas. Para Huberman
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(2000, p. 45) há relação existente entre idade e “conservantismo”, o que evidencia a
tendência a “[...] uma maior rigidez e dogmatismo [...], uma prudência acentuada [...],
uma resistência mais firme às inovações [...], uma nostalgia do passado”, as quais
fazem parte da história do professor e devem ser levadas em consideração nesse
momento de discussão. Durante tais, pôde-se notar a dificuldade dos professores de
olhar para si mesmos e repensar suas práticas educativas, sendo comum a investigação
de justificativas não relacionadas à escola, voltando o foco nos comportamentos
nocivos dos alunos.
Uma das reuniões contou com a participação do pai de um aluno com Síndrome de
Down, pretendendo conscientizar os professores sobre as particularidades deste
adolescente, propondo maneiras mais efetivas de trabalhar com a aprendizagem em
casos como este. A maioria dos professores concordaram com as ideias apresentadas,
ressaltando através de depoimentos, que infelizmente o processo não ocorre de
acordo com o modelo do que é ideal, seja no funcionamento do ensino, da escola, da
Secretaria da Educação, etc.
Diante disto, o coordenador pediu nosso auxílio no intuito de trazer propostas de
atuação da escola com este adolescente, e também perguntou a nossa impressão
sobre as diversas reações dos professores. Com o intuito de auxiliá-lo com tais
questões, pesquisamos juntamente ao nosso supervisor, e sugerimos alguns textos
para leitura; também ressaltamos o direito garantido por lei, que este aluno possui de
ter um ensino adaptado às suas necessidades, o que exige mudanças por parte dos
professores na maneira com que lidam com ele em classe. Juntos, também pensamos
em uma estratégia de ação que possibilitasse tal adequação; primeiramente,
introduziríamos nas ATPC’s as características da pessoa com Síndrome de Down e a
diversidade funcional de sua aprendizagem e, paralelamente a isso, os professores
discutiriam nas Aulas de Trabalho Pedagógico por Área (ATPA) possíveis atividades
adaptadas para o aluno em questão – questões que impactariam nos interesses da
empresa investidora da escola.
Berni (2006) discorre sobre isso ressaltando que a existência das diferentes visões de
mundo, de educação, de escola e de aprendizagem no contexto da educação são
decorrentes dos interesses políticos de cada época/grupo de indivíduos; “[...] não se
trata aqui de política partidária, mas sim dos valores e interesses que acompanham as
ações humanas, principalmente dos grupos hegemônicos, ou seja, daqueles que de
alguma forma detêm o poder” (BERNI, 2006, p. 2536).
Ademais, considerando as principais dificuldades encontradas no desenvolvimento do
nosso trabalho na instituição, sobressaem-se aquelas relacionadas à falta (de tempo de
modo geral) – tanto na reunião particular semanal que temos com o coordenador,
quanto nas ATPCs. Outro aspecto que interferiu de maneira negativa foram as diversas
interrupções ocorridas em ambos os momentos.
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Considerações finais
O trabalho realizado na escola foi produtivo e proveitoso para todas as estagiárias
envolvidas, cumprindo a proposta de expor os alunos ao cotidiano e à prática escolar.
A autonomia cedida pelo supervisor e pelo coordenador impactou na riqueza da
experiência e na qualidade do trabalho exercido, pois houve espaço para propor novas
ideias e intervenções, as quais resultaram em um feedback unanimemente positivo.
Desta forma, foi possível perceber a importância do olhar que o psicólogo escolar
proporciona à um ambiente que, geralmente, encontra-se permeado de vícios de
pensamento e de comportamento.
Palavras-chave: Intervenção; Mindfulness; Escola Integral; Escola Pública; Ensino
Médio
Referências
ANDRADA, E.G.C. Novos paradigmas na prática do psicólogo escolar. Psicologia:
Reflexão e Crítica, 2005, 18(2), pp.196-199.
BERNI, R.I.G. Mediação: o conceito vygotskyano e suas implicações na prática
pedagógica. In: Anais do XI Simpósio Nacional de Letras e Linguística / I Simpósio
Internacional de Letras e Linguística (SILEL), 2006, p. 2533–2542,
. Acesso em: 09 out. 2015.
COLELLO, S.M.G. A Formação de Professores na Perspectiva do Fracasso Escolar. In:
Anais do 6º Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores. Águas de
Lindóia, São Paulo: UNESP, 2001.
HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (Org.).
Vidas de professores. 2. ed. Porto: Porto, 2000. p.31-61.
LITTLE, S. O que é Atenção Plena? Programa de Redução de Estresse e Autocuidado
Baseada em Atenção Plena. São Paulo, [ca.2014].
RIBEIRO, E.C. A prática pedagógica do professor mediador na perspectiva de Vygotsky.
2007. Trabalho de monografia de conclusão de curso. Universidade Candido Mendes.
Rio de Janeiro. 2007.
VIGOTSKI, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO3
GESTÃO DE PROXIMIDADE: ESCUTANDO ESTAGIÁRIOS
Ana Paula Bezerra Mariano
Profª Ms Andréia De Conto Garbin
O estágio em Psicologia Organizacional e do Trabalho tem a finalidade de proporcionar
o desenvolvimento de competências para o exercício profissional em instituições
empresariais, sindicais, cooperativas, organizações não governamentais, associações e
entidades públicas. As experiências práticas objetivam compreender e analisar as
demandas das instituições, articulando aspectos teórico-conceituais; desenvolver a
prática do atendimento institucional a partir da observação e da entrevista, da
experiência direta, das discussões grupais; valorizar e atender aos preceitos éticos e
legais nas suas intervenções e relações referentes ao estágio. Este campo comporta
diversas modalidades interventivas, tais como: elaboração de programas de prevenção
à saúde e de gestão de pessoas; intervenções nos processos de trabalho; análises
psicossociais e dos fenômenos de nível micro e macro no âmbito do trabalho e dos
processos organizativos. Por fim, proporcionar atividades práticas relativas à seleção,
escolha e recolocação profissional, à capacitação e desenvolvimento de estagiários,
trabalhadores e lideranças/gestores, à inclusão de pessoas com deficiências, pesquisas
de satisfação e de impacto, dentre outras.
Introdução
O presente trabalho refere-se à experiência de estágio em Psicologia Organizacional e
do Trabalho, do Curso de Psicologia, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O
mesmo foi desenvolvido em uma empresa multinacional, na qual a aluna já realizava
estágio extracurricular. A empresa tem sede na região metropolitana de São Paulo.
Atua no setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos e no segmento de venda
direta e conta com aproximadamente 7 mil trabalhadores.
O estágio extracurricular é desenvolvido no segmento de Recursos Humanos de área
(R.H.), conhecido como Business Partners, cujas atividades envolvem consultoria
interna ao cliente e mediação com a área corporativa de gestão de pessoas. As
demandas referem-se à agregação, manutenção, desenvolvimento e monitoramento
(GIL, 2001).
3 Supervisores da área: Andréia de Conto Garbin, Daniel Branchini, Liliane de Paula Toledo
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No início de 2015 foi apresentada a proposta de estágio curricular à empresa com a
seguinte diretriz: o aluno deverá, juntamente com a gestora, identificar demandas da
área para elaboração de um diagnóstico e estruturação de uma proposta de
intervenção no decorrer do ano letivo. A proposta foi aceita pela coordenadora de RH,
sendo possível apresentar meu interesse com o campo de práticas profissionais e
pactuar um projeto de gestão de pessoas com foco em estagiários.
O projeto definido chamou-se Gestão de Proximidade e foi direcionado aos estagiários
da área de tecnologia da informação com os seguintes objetivos: identificar demandas
advindas dos estagiários quanto à inserção no mercado de trabalho; analisar as
percepções em relação ao ambiente de trabalho, à gestão e ao relacionamento
interpessoal no trabalho; refletir sobre sua trajetória de estágio e reconhecer as
competências necessárias para o desenvolvimento de sua experiência profissional.
Para subsidiar o projeto buscou-se fundamentação legal referente ao campo das
práticas profissionais, considerando o disposto na Lei de Estágio:
estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no
ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho
produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular
em instituições de educação superior, de educação profissional, de
ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino
fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e
adultos (BRASIL, 2008).
O estágio deve propiciar o conhecimento de determinadas técnicas e métodos de
ensino, mas fundamentalmente uma vivência de aprimoramento e desenvolvimento
de habilidades e competências baseados em uma postura crítico-reflexiva (MARRAN;
LIMA, 2011).
Do ponto vista crítico, Segnini (2000) problematiza a relação entre trabalho e
educação, no contexto da reestruturação produtiva e do desemprego da década de 90,
e a premissa da qualificação profissional proporcionar a inserção dos jovens no
mercado de trabalho. Também Corrochano (2013) tece considerações críticas sobre a
transição escola-trabalho, diz: “a juventude brasileira é uma juventude trabalhadora”
(p. 29) e pontua a visão economicista presente na educação superior. O presente
relato considera a experiência de estágio uma estratégia de prática profissional
significativa, no entanto permeada por discursos ideológicos que atendem os
interesses do mercado.
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Objetivos
Os objetivos do estágio foram estruturar e implementar atividades de integração e
suporte aos estagiários da área de tecnologia da informação. Ainda, oferecer um
espaço de escuta para atender as demandas e orientar quanto ao desenvolvimento da
carreira profissional.
Método
Para a estruturação do projeto de intervenção Gestão de Proximidade para os
estagiários da área de tecnologia da informação, primeiramente, foi lido o projeto
anterior implantando em outra área, no qual foram destacados pontos relativos ao
tratamento das informações obtidas, visto que após triar o que era dito estava
contemplada uma etapa de socialização das informações com os gestores. Em seguida,
foi entrevistada a analista júnior que já desenvolveu o projeto anteriormente em outra
área.
Foi elaborado um roteiro de perguntas para realização de entrevistas com os
estagiários com foco na sua trajetória, na organização e na sua percepção do cenário
em que está inserido. Foi consultado o livro de Lombardo & Eichinger (2009) para
elaboração das perguntas a partir das competências requeridas na área.
No segundo semestre letivo, foram iniciados os contatos com os estagiários, via email,
nos quais estes foram convidados a participar do projeto e realizada a primeira
entrevista com um estagiário e revisto o roteiro das perguntas, pois estava extenso e
repetitivo.
No decorrer do desenvolvimento do projeto surgiu uma nova demanda, realizar a
integração dos novos estagiários admitidos. Para tanto, foram realizadas algumas
reuniões com dois estagiários e o gerente de comunicação da área de T. I. e planejada
uma dinâmica grupal.
Discussão
A discussão desta experiência de estágio curricular nos remete aos autores WERNECK,
et al. (2010), para quem a vivência do estágio deve se configurar como uma estratégia
de transformação da formação profissional. Assim, em que medida essa experiência
superou modelos antigos e se apresentou como transformadora no processo de
ensino-aprendizagem?
O desenvolvimento do estágio na área de RH de uma grande empresa não apresenta,
em princípio, uma possibilidade de intervenção, pois se caracteriza como um espaço já
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predeterminado de práticas e processos organizacionais. No entanto, o diferencial
apresentado, neste relato, centra-se na experiência de estruturar e desenvolver um
projeto de intervenção com autonomia. É preciso caracterizar essa autonomia, pois
não se trata de fazer o que se quer, mas de um exercício de pactuações, com postura
crítico-reflexiva, revisitando as práticas estudadas e integrando os saberes adquiridos
ao longo da formação. Considera-se que
a área de formação de um indivíduo não pode se caracterizar por
uma instrumentalização mecanicista de um trabalho produtivo
para a execução, que marginaliza as contribuições epistemológicas
historicamente situadas e perpetua a dicotomia entre trabalho
material e imaterial (MARRAN; LIMA & BAGNATO, 2015, p. 102).
No processo inicial de estruturação do Projeto Gestão de Proximidade houve um
dilema ético, pois ao revisar o projeto implantado em outra área, foi constatado que as
informações fornecidas pelos participantes eram repassadas aos gestores. A reflexão
crítica permitiu reformular essa etapa e assegurar aos participantes um sigilo ético.
As conversas com os gestores possibilitaram demonstrar o conhecimento de todas as
etapas do projeto, a coordenação das atividades e assumir os feedbacks necessários,
afastando a experiência de um trabalho fragmentado, repetitivo e burocratizado,
levando ao real enfrentamento da vida profissional. Marran; Lima & Bagnato (2015, p.
102) apontam que o estágio “é o local do amadurecimento do savoir faire (saber-fazer)
necessário para a autonomia interventiva do ator social”.
O planejamento de uma atividade de integração para recepcionar os novos estagiários
possibilitou uma escuta qualificada frente às ansiedades e perspectivas profissionais
e/ou pessoais. Esta experiência representou um momento significativo de
aprendizagem, no qual foi necessário recuperar conhecimentos teóricos e articulá-los
com a prática. “Assim, a práxis requer movimento, interação e a dialogicidade
necessária para o aprofundamento do fazer reflexivo e refletido” (MARRAN; LIMA &
BAGNATO, 2015, p. 102).
Por fim, as entrevistas com os estagiários, no denominado Projeto Gestão de
Proximidade, trouxeram a oportunidade de entender os entrevistados nas suas
particularidades, por exemplo: dificuldades de verbalizar suas percepções. As questões
éticas emergiram novamente frente à preocupação dos estagiários com as
informações solicitadas, por exemplo: sua visão em relação à atual gestão; sugestões
de possíveis pontos de melhorias.
As considerações apresentadas coadunam com o disposto pelos autores, conforme
segue:
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A contribuição do estágio na formação profissional a partir do saber-
fazer não se reduz ao conhecimento de um punhado de técnicas e
metodologias de ensino, mas amplia-se ao que fazer para a
promoção da qualidade da intervenção, resultando numa
aprendizagem significativa por conta do aprimoramento e
desenvolvimento de habilidades e competências discentes à luz de
uma postura crítico-reflexiva (MARRAN; LIMA & BAGNATO (2015, p.
102).
Werneck et al. (2010) salientam que o objetivo do estágio é construir a capacidade de
autonomia profissional, neste caso, constitui-se na linha mestra da experiência
vivenciada.
Considerações finais
O desenvolvimento do estágio curricular na área de Psicologia Organizacional e do
Trabalho possibilitou a articulação teórico-prática e a vivência favoreceu o
aprimoramento de qualificações do “saber-fazer”.
Ocorreu em uma empresa privada, constituindo-se como parte do estágio
extracurricular, sendo este um desafio a ser superado, pois as demandas cotidianas
poderiam dificultar o desenvolvimento da estratégia do estágio curricular.
A experiência teve foco específico em um projeto direcionado aos estagiários, na qual
foi possível desenvolver a autonomia e o aprendizado no contexto de estágio
curricular no campo organizacional.
Palavras-chave: gestão de pessoas, estagiários, estágio curricular
Referências
BRASIL. Lei 11.788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio de estudantes
e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 26 de set. de 2008.
Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007 -2010/2008/Lei/L11788.htm.
Acesso em: 01 nov. 2015.
CORROCHANO, M. C. Jovens trabalhadores: expectativas de acesso ao ensino
superior. Avaliação. Campinas [online], v. 18, n. 1, p. 23-44, 2013.
GIL, A. C. Gestão de Pessoas: Enfoque nos papeis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001.
LOMBARDO, M. M. EICHINGER, W. R. FYI for your improvement (Para o seu
aperfeiçoamento). Um Guia para Desenvolvimento e Treinamento. Para Aprendizes,
Gerentes, Mentores, e Fornecedores de Feedback. Lominger International. 2009.
http://www.scielo.br/www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007%20-2010/2008/Lei/L11788.htm
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22
MARRAN, A. L.; LIMA, P. G. Estágio curricular supervisionado no ensino superior
brasileiro: algumas reflexões. Revista e-curriculum, São Paulo, v. 7 n. 2, P. 4, 2011.
MARRAN, A. L.; LIMA, P. G.; BAGNATO, M. H. As políticas educacionais e o estágio
curricular supervisionado no curso de graduação em enfermagem. Trab. educ.
saúde [online]. v. 13, n. 1, p. 89-108, jan/abr, 2015.
SEGNINI, L. R. P. Educação e trabalho: uma relação tão necessária quanto
insuficiente. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 72-81, 2000.
WERNECK, M. A. F. et al. Nem tudo é estágio: contribuições para o debate. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 221-231, 2010.
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ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO4
O PASSADO NO PRESENTE: UMA COMPREENSÃO PSICODINÂMICA
Caroline Masijah Preter
Prof.ª Dr.ª Rosa Maria Lopes Affonso
Introdução
A Psicoterapia Breve surgiu na época de 1930 quando alguns psicanalistas e teóricos
começaram a verificar a necessidade de um processo psicoterapêutico mais breve
(GILLIIÈRON, 1983/1986). Verificaram também a necessidade da mudança da atitude
do terapeuta no processo como, por exemplo, a postura ativa do terapeuta em
contraposição à neutralidade e passividade do psicanalista tradicional e a maior
flexibilidade contra a cristalização da técnica que imperava sobre a Psicanálise nos
anos 40 (SANTEIRO, 2005).
Ao longo da psicoterapia podem ser utilizados alguns métodos para que haja uma
compreensão maior sobre o paciente, sendo alguns destes, os testes psicológicos para
conseguir alcançar algumas questões que estão no inconsciente. Um teste muito
conhecido é o T.A.T- Teste de Apercepção Temática que é um instrumento da
Psicologia Psicodinâmica que informa sobre as defesas, condutas, impulsos, imagos,
entre outros, possibilitando assim uma análise da estrutura de personalidade de um
indivíduo além disto pode fornecer material relativo as atitudes e conflitos reais
(SILVA, 1965).
O T.A.T., é um teste projetivo, que foi originalmente descrita por Morgan e Murray em
1935, consiste em 31 pranchas, em que o psicólogo seleciona algumas imagens, sendo
em média 10 para mostrar para o cliente para que assim ele conte uma historia com
começo meio e fim, a partir disto as histórias passam a ser interpretadas de acordo
com as relações do sujeito com figuras de autoridade, com pessoas de ambos os sexos
e em termos dos ajustes entre o id, o ego e o superego, e as necessidades de cada uma
dessas instâncias (SILVA,1965).
A utilização de testes ao longo dos atendimentos auxilia na compreensão
psicodinâmica do cliente que é utilizado para avaliar todo o funcionamento do sujeito
nas suas relações objetais, como ele dirigi os seus impulsos, se possui controle em
relação aos seus conflitos, neste sentido, se os soluciona e se usa os seus mecanismos
de defesa para solucioná-los (BRAYER, 2000).
4 Supervisores da área: Aurélio Fabrício T. de Melo, Fernando da Silveira, Leila Dutra Paiva, Maria Alice
Barbosa Lapastini, Maria Leonor Espinosa Enéas, Martha Serôdio Dantas.
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Objetivo
O objetivo deste trabalho é investigar a contribuição do T.A.T (Teste de apercepção
temática) no processo de psicoterapia breve de adulto
Método
Através de um estudo de caso, onde além de sessões clinicas de psicoterapia foi
aplicado o teste de T.A.T. Portando trata-se de uma pesquisa qualitativa.
Sujeito
Mulher, de 22 anos, buscou a clínica com uma queixa de Fobia Social, dificuldade de
realizar atividades em público, por exemplo, apresentar trabalhos em sala de aula.
Teme ser julgada e não faz perguntas em sala de aula. Não se veste bem por medo de
que as pessoas vão notá-la e fazer críticas ou comentários de como está vestida. As
crises tiveram início quando se mudou para São Paulo, com 17 anos.
Desistiu de duas faculdades, primeira faculdade, Administração, porque no primeiro
semestre percebeu que apenas tinha feito o que os irmãos tinham escolhido. Optou
por Engenharia porque achava que não teria que lidar com pessoas. Além disso, por
achar que se relaciona melhor com homens do que com mulheres. Desistiu no terceiro
ano de Engenharia pois percebeu que não tinha habilidade lógica que um Engenheiro
requer. Optou então por Ciências da Computação pois o namorado frequentava e ela
achou interessante.
Morava numa cidade pequena, em ambiente rural, no interior de outro estado até os
17 anos, quando se mudaram para São Paulo. Os pais sempre foram rígidos e religiosos
com muitas regras. Só saia para atividades da igreja ou escola. Suas brincadeiras eram
sempre em casa e sozinha, pois os irmãos ou já tinham se mudado de casa ou tinham
os afazeres domésticos. Ela foi fruto de uma gravidez não desejada pelos pais. Não saia
para as excursões da escola, nunca pôde ir na casa de amigas, pois os pais não
deixavam, nunca pôde discutir nada e nunca pôde questionar nada.
Instrumento e procedimento
Para realizar a análise, a metodologia escolhida foram 8 atendimentos em psicoterapia
breve, além da aplicação do teste projetivo T.AT, e mais de dois encontros de
devolutiva, onde foram utilizados como instrumento de intervenção, as estórias do
T.A.T estabelecendo relações com as dificuldades atuais relacionada a sua fobia social.
O T.A.T foi utilizado como facilitador no atendimento além de uma estratégia lúdica
para ela interagir com ela mesma e bem aceito pela cliente quando sugerido.
Resultados
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Imagem 1 T.A.T :“O menino tinha que aprender violino, então deram para ele
aprender, mais ele está entediado com isto e ele não quer aprender, a escola que deu
o violino, os pais não dariam. Os pais obrigaram ele a fazer aula de violino. Ele ganhou
e não quis ir, porém os pais obrigaram e ele passou um tempo fazendo aula e
aprendeu a tocar. O menino está se sentindo sem opinião, forcado, entediado,
sozinho, pensativo “
Mostrando assim uma obrigatoriedade de conduta, além disto da cobrança dos pais e
estes não estão do lado dele, parte do pressuposto que as pessoas são inimigas,
trazendo um pouco de fobia social, acaba tendo o que fazer o que não quer, as coisas
são mais obrigadas e você acaba tendo uma dificuldade de lidar com isto, bloqueando
a capacidade de lidar com as expressões
Imagem 3 T.A.T: “Nossa, quando eu tenho crise esta é a minha posição. Uma pessoa
que passou por momentos difíceis não tinha ninguém e começava a chorar de
desespero até que passe ou não. Ela se desentendeu com alguém, próxima que era
uma referencia e ficou totalmente sozinha, desesperada, angustiada, solidão, medo,
tristeza, abandono e no fim ela acabou melhorando sozinha, não tinha ninguém para
lhe ajudar e auxiliar, sensação de peso”.
Mostrando que não vê recursos dentro de si para melhorar, não se sente acolhida,
então a única coisa que a resta é chorar, demostrando o seu próprio estado.
Mostrando que ela não vê as suas conquistas e sim a dos outros, precisa passar olhar
para si mesma.
Imagem 16 T.A.T: “Menino que morava com os pais e 2 irmãos e ele é o do meio. Ele
ajudava o irmão mais novo e era amigo do irmão mais velho. Eles viviam em um lugar
mais calmo e tranquilo, era uma cidade mais não era São Paulo. Os pais participavam
da vida deles e eles se dedicavam e se esforçaram para dar o melhor. Eles tiveram uma
ótima educação, tanto escolar quanto educação humana. Eles possuíam dificuldades
como de transporte até a escola, mais eram dificuldades normais. Esses irmãos
cresceram e se davam bem com toda a família. Cada um com uma profissão mais
sempre um ajudando o outro, eles fizeram intercâmbio e hoje em dia possuem ótimos
empregos e assim ajudavam os pais a ter uma qualidade melhor ainda. Todos
começaram a namorar pessoas legais, o do meio namorava uma menina que amava
muito ele, que fazia tudo por ele, que cuidava dele e ele também amava muito ela e
estava sempre presente, ele estava sempre tentando aproximar as famílias depois eles
compraram a própria casa, saíram da casa dos pais, mais estavam sempre em contato
com eles e sempre indo ver eles. Ele se tornou bem-sucedido, o casal ficou junto,
superando tudo. Eles tiveram um final feliz, casal com um filho, irmãos namorando,
todos próximos e sempre com os pais juntos, morando em uma cidade tranquila e
sofisticada.
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Esta é uma família que eu gostaria de ter, queria ser o irmão do meio e queria que meu
namorado fosse o do meio para ter uma relação melhor com a minha família, se unir
mais. Como não me dou bem com imagens femininas me fiz como um menino, só
irmãos homens pois dão menos problema”.
Mostrando o quanto ela imagina que os pais fazem diferença pois ela é menina, se
fosse um homem possivelmente ela viveria melhor, seria melhor tratada pela família.
Discussão
A partir dos atendimentos e da aplicação do teste foi possível observar que a
compreensão psicodinâmica da cliente se refere ao medo de ser abandonada, além
disto evita situações que corre o risco de ser rejeitada ou se expor, teme ser julgada
pelos outros, assim passa a ser mais rigorosa com si mesma e possui uma necessidade
de controlar os outros pois há um desejo de ser valorizada e reconhecida. Em relação
ao seu modo de funcionamento foi possível observar uma necessidade de controlar
tudo para ser sempre valorizada, estabelece relações objetais primárias com o outro,
evita situações que perde o controle e assim procura evitar ser julgada pelos outros,
sente-se insatisfeita pois não consegue expressar ou evita situações e acaba
sobrecarregando os relacionamentos mais próximos, pois possui dificuldade para
ampliar suas relações sociais.
Além disto ao longo do teste acabou sendo percebido uma obrigatoriedade a conduta,
as pessoas são vistas como inimigas, faz as coisas obrigada e não sabe lidar com isto,
não soluciona o próprio conflito. Se mantém na exigência familiar, ao longo do teste
foi possível observar também uma dificuldade para encontrar recursos para conseguir
melhorar alguma situação em que está passando e um desejo de ser homem
acreditando que se fosse um homem possivelmente sua vida acabaria sendo mais fácil.
Melhoras ao longo do processo
Ao longo de todo o processo de atendimento que a paciente permaneceu na clínica
foi possível observar algumas melhoras como por exemplo passou a comer em público,
com as pessoas do trabalho, algo que no início do tratamento era muito difícil, assim
mostrando uma melhora nos sintomas fóbicos. Além disto passou a buscar um cuidado
maior sobre si mesma, como por exemplo, passou a fazer a unha, com cores mais
fortes e passou a usar mais maquiagem.
Considerações finais
Verificou-se que na psicoterapia breve psicodiagnóstico de adulto é possível utilizar na
modalidade de intervenção com o objetivo de colaborar com o cliente na elaboração
de uma dificuldade. Refletimos que a utilização de estratégias deve estar de acordo
com o modelo psicodinâmico da técnica. No caso deste trabalho verificamos que o
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T.A.T pode, enquanto instrumento psicodinâmico, ser útil no processo de intervenção
psicoterapêutica.
Referências
AMPARO, D. M.; et al. Métodos projetivos e avaliação psicológica: atualizações,
avanços e perspectivas. Brasilia, 2012, cap 8.
CARLOS Martinez Arango, en colaboración con Jose I. Malaga Travieso, Psicoterapia
basada en el T.A.T. La Habana, s/d. Cfr. José I. Lasaga Travieso, en colaboracion con
Carlos Martinez Amango, Algunas Sugerencias sobre la administracion e interpretacion
del T.A.T. La habana, 1946.
CLARKIN, J. F.; FONAGY, P.; GABBARD, G. O. Psicoterapia psicodinâmica para
transtornos da personalidade: um manual clínico. Porto Alegre: Artmed, 2013.
GILLIÈRON, E. As Psicoterapias Breves. (V. Ribeiro, Tradução) Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1983.
SANTEIRO,T.V. Psicoterapias Breves Psicodinâmicas: produção científica em periódicos
nacionais e estrangeiros (1980/2002). Campinas: PUC‐Campinas, 2005.
SILVA, E. F. O T.A.T e a psicoterapia. Arquivos Brasileiros de psicotécnica,V 17,N 1,
1965.
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ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOTERAPIA ANALITICA5
DANDO VOZ AOS CONFLITOS COTIDIANOS: RELAÇÃO COM OS COMPLEXOS EM
PSICOTERAPIA
Alyson Gomes Ribeiro de Barros
Prof. Dr. Guilherme Scandiucci
Sobre a área de Estágio Supervisionado em Psicoterapia Analítica
O estágio psicoterapia analítica proporciona o desenvolvimento de habilidades e
competências para a aplicação dos conhecimentos teóricos e técnicos na condução de
processo psicoterápico individual dentro da abordagem da psicologia analítica,
inaugurada por Carl G. Jung (1875-1961). Tem como objetivos desenvolver e apurar o
raciocínio clínico através da prática clínica e de discussões grupais; desenvolver a
capacidade de elaboração de documentos técnicos; prestar atendimentos adequados
às demandas da comunidade; e desenvolver atendimento clínico de acordo com
preceitos éticos e legais.
Introdução Teórica
Durante os atendimentos alguns conceitos da Psicologia Analítica foram trabalhados,
porém o presente artigo terá como foco os conceitos de complexo materno negativo e
análise de sonhos, que se faz como técnica da mesma teoria.
Segundo algumas observações de Jung, descritas por Stein (pág. 97, 2011), “a psique
consiste em muitas partes e centros de consciência. Nesse universo interior, não existe
simplesmente um planeta, mas todo um sistema solar e mais do que isso”. Isso
demonstra então que para um processo analítico o indivíduo é visto então como
detentor não apenas de uma personalidade, mas de um grupo de subpersonalidades.
A construção destes complexos não possuiu período específico, de modo que eles
estão em constante mudança e poderio de influência emocional no indíviduo, no
entanto, Kast (1997, p.32) sinaliza que “a primeira infância é naturalmente uma
situação marcante especialmente sensível para o surgimento dos complexos, contudo,
os complexos podem surgir a qualquer momento, enquanto vivemos”. Um desses
complexos que podem ser identificados de forma marcante do desenvolver da infância
para a vida adulta é chamado de complexo materno positivo ou negativo.
5 Supervisores da área: Ana Lucia R. Pandini, Guilherme Scandiucci, Sandra Amorim.
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Objetivos
O objetivo das sessões foi trabalhar como a imagem arquetípica materna tem
influenciado a vida da paciente, de modo que o complexo materno negativo se mostra
em grande intensidade em seu viver, além de trabalhar a simbologia trazida pela
paciente através de sonhos e imagens criadas para a descrição de situações e
vivências.
Método
A paciente é uma mulher branca de 31 anos, heterossexual. Procurou a clínica com a
queixa de sofrer com a dificuldade em separar sua vida pessoal da profissional, além
de ver traços muitos semelhantes de sua mãe com sua atual chefe, com as quais
possuiu grandes dificuldades de relacionamento.
Os instrumentos utilizados foram interpretação das narrativas verbais e análise e
interpretação de sonhos. O procedimento consistiu em sessões semanais de 50
minutos, totalizando ao todo 23 sessões em dois semestres letivos.
Discussão
Durante as primeiras sessões a paciente relata que sua infância foi muito conturbada e
que, logo quando pequena, vivenciou a separação dos pais, o que lhe trouxe grande
pesar. N. é a filha mais nova de três filhos e acredita que sua criação teve grande
influência em sua personalidade. Traz referências dos irmãos mais velhos como
pessoas de difícil convívio e entregues aos sonhos de carreira, constituição de família,
etc.
Diz ainda que nos últimos meses vem sentindo uma grande tristeza em seu emprego –
o que era bem diferente em momentos anteriores, já que sentia alegria no ambiente
de trabalho. Crê que o clima em seu local de ofício não proporciona a ela um
desenvolvimento de sua qualidade de vida e brincadeiras por parte dos colegas de
equipe, além de uma chefe sem “papas na língua” e muito rígida são exemplos de
situações descritas como infelizes.
Sobre seu futuro e sonhos pessoais, N. diz se sentir muito angustiada e aflita, pois tudo
pelo que tinha lutado está se desestruturando. Antes sonhava em fazer cursos e
especializações, mas agora não possui motivação. Em uma das sessões, trouxe a
dúvida de que talvez fosse melhor mudar de emprego ou de setor, o que lhe traria
muita dor, mas de certa forma aliviaria seu sofrimento. Jung (2011, p. 104) apresenta
que “a vida passa por ela (a paciente) como um sonho, uma fonte enfadonha de
ilusões, desapontamentos e irritações, que repousam unicamente em sua
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incapacidade de olhar para frente” como uma das características de um complexo
materno negativo. Neste complexo a paciente acaba por buscar uma separação da
mãe, de modo essa relação também é vista com sua chefe.
O controle das situações e o receio da perda do mesmo junto com a falta de influência
em seus colegas de equipe e familiares são outros aspectos muitos presentes nas
sessões com N. Ela se descreve sempre como uma mulher muito inteligente e
consciente das situações. Há sinais de ansiedade e angústia em relação ao tempo, e
quase sempre a paciente demonstra irritação por não sair no seu horário oficial por
causa de trabalhos inesperados que surgem em seu setor. Jung (2011, p. 105) expõe
que um embate simbólico com a mãe, pode proporcionar a este tipo de paciente “[...]
uma consciência mais elevada, arriscando-se a lesar o mundo instintivo, pois ao negar
a mãe ela também repudia tudo o que é obscuro, instintivo, ambíguo, inconsciente de
seu próprio ser”.
Com o questionamento sobre suas responsabilidades e as dos demais, além dos traços
que possui da sua personalidade que para ela são frutos da sua criação na infância, a
paciente foi tendo a chance de avaliar mudanças de comportamento que antes eram
muito difíceis.
Tal processo é bem caracterizado quando N. traz em uma de suas sessões o sonho que
teve em que se vê andando com sua mãe e uma pequena menina. Com o passar do
tempo essa criança acaba tropeçando sozinha e sua mãe, na tentativa de erguê-la pela
mão e não perder a caminhada acaba por pisotear a criança. Numa atitude rápida, N.
afasta sua mãe de cima da menina. A mãe agora da criança surge e começa a
questionar quem irá se responsabilizar pelo fato, além de buscar um suporte para as
despesas. A paciente descreve que naquele momento apenas estava focada na criança
e sua recuperação a qual sentia que seria rápida. Quando questionada sobre o
significado de seu sonho, N. relata que se vê como a menina pisoteada e que agora
não sente culpa ao retirar sua mãe de cima de si, a qual antes lhe trazia a sensação de
sufocamento. Também descreve que não sentiu medo pela sua atitude em relação à
mãe, o que antes era muito presente em sua vida. Agora se vê mais autônoma e
responsável pela própria história. Também descreve a mãe da criança como sua
maneira de ser antes do processo, sendo muito explosiva e angustiada com as
situações, mas que agora vê as mesmas situações de forma mais clara e sem tanto o
sofrer do perder o controle.
Considerações finais
Ter contato com sua própria história pode parecer algo simples e fácil, porém quando
percebemos a influência de nossos complexos criados durante todo o viver é de suma
importância notar que o desejo do paciente de mudança, junto com conscientização
da ação que eles possuem em nosso cotidiano, faz do processo psicoterápico, um dos
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participantes na transformação do sujeito em seu processo de assimilação de
conteúdos inconscientes e consequente maior qualidade de vida psíquica.
Palavras-chave: Complexo materno negativo; Sonhos; Psicoterapia Analítica.
Referências
JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2011.
KAST, V. Pais e filhas mães e filhos: caminhos para a auto-identidade a partir dos
complexos materno e paterno. São Paulo: Loyola, 1997.
STEIN, M. Jung: o mapa da alma: uma introdução. São Paulo: Cultrix, 2011.
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ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA6
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NAS VARAS DE FAMÍLIA: UMA GARANTIA DE DIREITOS
DAS CRIANÇAS
Gislaine Ângela da Silva
Ligia Alberto
Prof.ª Dr.ª Vânia Conselheiro Sequeira
Apresentação
A Psicologia Jurídica é um dos ramos emergentes da Psicologia, com atuação específica
e relação estreita com o Direito, buscando responder às demandas trazidas pelas
instituições jurídicas em seus diversos âmbitos. No Brasil, a atuação do psicólogo na
área jurídica teve seu início marcado pelo enfoque tradicional da aplicação da
Psicologia Científica ao Direito Positivo, pela avaliação psicológica (BERNARDI, 2005).
Hoje o trabalho é muito mais amplo, além das avaliações psicológicas e perícias, há
orientações de pais e familiares, mediação familiar, acompanhamento de casos em
diferentes contextos com acolhimento institucional, medida socioeducativa, penas
alternativas, egressos, defensoria pública, sistema de garantia de direitos, enfim
muitas intervenções em diversas em instituições.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo apresentar o estágio realizado em uma Vara
da Família. O projeto é de Mediação Familiar.
A mediação consiste em uma prática interventiva que visa a resolução dos conflitos, na
tentativa de auxiliar os ex-cônjuges a encontrarem uma solução que seja benéfica para
ambos. O objetivo dessa prática é despertar nos pais recursos pessoais para que a
comunicação seja reestabelecida, garantindo o enfrentamento e a prevenção de
futuros conflitos. Quem realiza tal processo é o mediador, uma pessoa neutra, que não
irá tomar partido de nenhuma parte e tem a função de levar os pais a refletirem que
no processo de separação ninguém perde, nem ganha, mas ambos assumem seus
devidos papeis de maneira separada, zelando sempre pelo bem-estar do filho (SOLDÁ;
OUTRAMARI, 2011).
O projeto foi elaborado pela Profª. Drª. Vania Conselheiro Sequeira, em 2006, com o
objetivo de oferecer auxílio às partes envolvidas em conflitos judiciais, por meio da
mediação de conflitos, buscando o reestabelecimento da comunicação entre os pais,
6 Supervisores da área: Fernando da Silveira, Leila Sueli Dutra Paiva, Marcelo Moreira Neumann, Vânia
Conselheiro Sequeira.
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visando a garantia de direitos das crianças. Em 2015 o projeto foi readaptado pela
professora e pelas estagiárias que realizavam o trabalho neste ano. O novo modelo
consiste em três momentos, sendo eles, a pré-mediação, seguida de atendimento
individual com cada uma das partes e, por fim, um atendimento conjunto para a
efetivação da mediação, caso as partes aceitem a proposta de conversarem para
chegarem a um acordo que vise à garantia dos filhos de terem acesso a ambos os pais.
A pré-mediação é um momento de sensibilização de ambas as partes, separadamente,
sobre os efeitos do litígio nos filhos. É feita em grupo, primeiro com grupo de
requerentes, depois com grupo de requeridos. As estagiárias usaram as seguintes
estratégias: passaram vídeos que mostravam cenas de brigas de casais e reações das
crianças, para levar os pais a refletirem sobre a maneira como estão lidando com a
separação, e, para que os pais percebessem as dores dos filhos envolvidos nos
conflitos do ex-casal. Nesse momento, também, houve discussão sobre o vídeo e
reflexões sobre o sofrimento das crianças. Houve apresentação da Lei da guarda
compartilhada (BRASIL, 2014) e também informações sobre mediação de conflitos. As
pessoas foram convidadas a participar do projeto. A adesão foi espontânea logo após o
encerramento da atividade grupal.
O segundo momento consistiu em um atendimento individual, com acolhimento de
cada uma das partes, visando sensibilizá-los sobre o bem-estar dos filhos, além de
esclarecer dúvidas sobre o processo de mediação e guarda compartilhada.
Por fim, foi realizado o terceiro momento com atendimento em conjunto com ambas
as partes para a proposta do acordo, visando o melhor para os filhos, garantindo
tenham contato com ambos os pais, de maneira que nenhuma relação fique defasada.
O novo modelo, proposto em 2015, foi muito bem aceito pela equipe técnica e foi
perceptível que para os pais, a pré-mediação foi um importante espaço para
sensibilização e reflexão. Portanto, através deste projeto, almeja-se que os pais
possam deixar de lado os conflitos e mágoas conjugais que permeiam o processo de
separação e passem a ter um olhar mais atento e cuidadoso aos filhos que sofrem com
a separação conjugal, levando-os a tomar consciência que a conjugalidade acabou,
mas a parentalidade não, pois ela é um vínculo que eles sempre terão e precisarão
saber lidar com isso pelo bem dos filhos.
Objetivo
Auxiliar as partes na consolidação de um acordo para solução dos conflitos judiciais,
por meio do restabelecimento da comunicação entre os membros da família,
adequando-se às necessidades e direitos da criança.
Método
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Seleção dos casos por parte da equipe técnica do fórum, com ajuda das
estagiárias na leitura dos autos. O critério de exclusão foi situações de
violência contra criança, uso abusivo de álcool e drogas ou outras situações de
risco para as crianças.
As estagiárias leem os processos a fim de conhecerem detalhes dos casos.
Pré-mediação com os grupos, primeiro com os requerentes e em seguida com
os requeridos.
Atendimento individual de cada uma das partes
Intervenção conjunta para a realização do acordo.
Foram escolhidos dois casos para serem relatados neste trabalho. Os casos escolhidos
mostram que os pais reagem de maneiras diferentes. No primeiro observa-se que os
pais conseguem desenvolver uma comunicação saudável pelo bem-estar dos filhos,
enquanto no segundo caso, os pais, ainda tomados pelas mágoas e frustrações do
término do relacionamento, não conseguem nem permanecer no mesmo ambiente,
sem que haja discussões e brigas, inviabilizando não apenas o processo de mediação,
como a primazia pelo melhor interesse da criança.
Caso 1: Ação: Divórcio Litigioso. Requerente: E. L. Requerida: R. C. D. C. Crianças: E. e
T.
A mediação resultou em frutífera, o casal demonstrou boa relação entre si, visando
sempre o melhor para os filhos. Alegaram que inicialmente, devido a mágoas geradas
pelo processo de separação, não conseguiam perceber que os filhos estavam sofrendo,
no entanto, após uma conversa com a assistente social e sua participação no grupo de
pré-mediação conseguiram perceber o sofrimento dos filhos e pensar mais neles.
Em comum acordo, decidiram pela guarda compartilhada, no caso deles, a residência
fixa é na casa do pai, porém a mãe tem liberdade para buscar os filhos quando quiser.
As responsabilidades são exercidas em conjunto, sendo que tanto o pai quanto a mãe
se dividem para isso, levam ao médico, vão às reuniões escolares. Com isso, ambos os
pais têm igual participação na vida dos filhos.
As partes alegaram estar em comum acordo pela finalização do processo, dando
continuidade apenas ao processo de divórcio.
Caso 2: Ação: Regulamentação de visita. Requerente: R. R. S. Requerida: B. R. M
Criança: B. M. S.
As partes chegaram no horário combinado, no entanto, na sala de espera ambos
estavam sentados em uma distância considerável do outro. R.R.S. entrou primeiro e
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comentou com a estagiária “não acredito que terei que passar por isso, você verá
como ela é uma pessoa difícil” (sic). G. disse que ela concordou com o acordo e,
portanto, deveriam esperar algo positivo e, em seguida, mudou de assunto falando do
clima, não deixando espaço para comentários sobre a outra parte.
L. chegou com B.R.M. que de imediato se recusou a sentar ao lado de R.R.S., então L.
sentou ao lado de R.R.S. e G. ao lado de B.R.M. As estagiárias perguntaram se eles
haviam pensado em algum acordo, imediatamente B.R.M. em tom agressivo disse “ele
que proponha, foi ele que procurou e eu quero saber o que ele quer com a minha filha
e o que ele pretende fazer com a minha filha na casa dele” (sic). As estagiárias
interromperam dizendo que a filha era de ambos e não apenas de um, lembrando-os
de que eles aceitaram vir conversar por acordo pelo bem da criança e que, portanto,
apenas caberiam as questões referentes à filha e que seria importante que ambos
participassem da proposta de acordo.
B.R.M. começou a ataca-lo novamente dizendo que o pai só pediu a regulamentação
de visita após ter sido preso por não pagar a pensão e R.R.S. retrucou dizendo que foi
preso injustamente, pois sempre contribuiu financeiramente com a filha. A mãe
reclamou dizendo que a criança deveria estar presente e ser escutada alegando que
B.M.S. desconhece o pai e o mesmo a chama de “bastarda” (sic), R.R.S. disse que não
era verdade e perguntou se ela queria que ele mostrasse o celular com as conversas
que tinha a filha. A mãe ficou irritada e disse que já tinha pesquisado e o pai só veria a
filha sob visita assistida, começando a falar mal do pai e colocando o corpo para frente,
num tom agressivo, nesse momento R.R.S. ficava ainda mais vermelho, sorrindo
ironicamente, fazendo barulhos com a boca e balançando a cabeça em negativa.
Em diversos momentos as estagiárias interromperam ambos, na tentativa de trazê-los
novamente para o objetivo da mediação, falando da garantia de direitos da criança em
ter acesso a ambos os pais, lembrando que para a mediação ocorrer eles precisariam
deixar de lado as mágoas e colocar em primeiro lugar a criança e seu bem-estar,
B.R.M. disse que não teria problema e que se ele quisesse ter acesso à B.M.S. teria que
esperar o processo “rolar” (sic) o que demoraria em média mais dois anos. Mas em
seguida disse que era para R.R.S. propor um acordo, no entanto quando o pai disse
que queria ter convívio com a filha e que ela também participasse da família dele,
B.R.M. se alterou jogando o corpo para frente novamente e começando a insultar
R.R.S., que respondeu mandando B.R.M. “crescer” (sic), ambos discutiram e tiveram
falas pejorativas.
As estagiárias, depois de muitas tentativas de restabelecer um clima amigável,
perceberam que não seria possível um acordo entre as partes, e, interromperam a
mediação e informaram as partes sobre a data para a avaliação psicológica.
Discussão
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O fim do relacionamento gera mágoas, frustrações e desavenças, devido a isso muitas
vezes o casal usa a criança para atingir um ao outro, praticando a alienação parental e
tentando impedir que a criança exerça seu direito de acessar o genitor que não tem a
guarda da criança (PINHO, 2011).
Os pais alienadores violam o direito da criança à medida que controlam seus
pensamentos, sentimentos e atitudes, e, esse comportamento leva os filhos a
acreditarem que têm o dever de se afastar do outro genitor, gerando conflitos e
intensos sofrimentos para o infante (PINHO, 2011).
A mediação vem com o objetivo de despertar recursos pessoais para que os ex-
cônjuges consigam encontrar pontos em comum, estimulando-os a exercer a
parentalidade e colocar em primeiro lugar o melhor interesse da criança.
No caso de B.R e R., ambos demonstraram estar de acordo, ter compreendido que o
bem-estar de B.M estava em primeiro lugar e, principalmente, que é direito da criança
ter acesso a ambos os pais. Entretanto, ao chegarem para a mediação na fase do
acordo ficou evidente que os conflitos e as mágoas pelo fim do casamento eram
superiores ao bem-estar da criança.
Durante a mediação, a mãe não se mostrou receptiva para um acordo e começou
dizendo que se R quisesse ver a filha teria que ser por visita assistida, visando dificultar
o acesso do pai à filha. Mesmo com as intervenções das estagiárias que buscavam
mostrar para os pais que o foco era garantir o direito da criança, levando-os a perceber
os sofrimentos que estavam causando na filha, B.R passou o tempo todo agredindo R
com palavras. Percebe-se que em alguns casos é necessário um trabalho mais intenso
com os pais, pois mesmo que a separação tenha ocorrido há bastante tempo, muitas
vezes eles ainda não foram capazes de elaborar as frustrações do fim do
relacionamento inviabilizando o processo de mediação, negligenciando o sofrimento
do filho.
Já o casal R. e E., teve um atendimento com a assistente social, que mostrou para eles
as implicações que as decisões tomadas teriam sobre as crianças e o sofrimento
gerado nelas, levando-os refletirem e a colocarem os filhos em primeiro lugar. O grupo
de pré-mediação também ajudou a esclarecer o quanto a criança está implicada no
processo de divórcio, levando os pais a ter um olhar mais atento para o sofrimento das
crianças. Assim, os pais já chegaram ao processo de mediação consciente de que
precisavam interagir e dividir as responsabilidades relacionadas aos filhos, visando
sempre gerar o menor desconforto possível para o infante. Portanto, através da
reflexão gerada no grupo e do atendimento da assistente social do fórum, os pais
repensaram suas posturas frente ao conflito conjugal e conseguiram chegar a um
acordo favorável para eles e principalmente para os filhos.
Considerações finais
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O estágio apresentado tem como proposta garantir o direito da criança, visando por
cumprir o princípio do melhor interesse da criança, entendida como sujeito de direitos.
A partir dos encontros com os responsáveis, é esperado que os mesmos passem a
refletir mais sobre como estão lidando com os filhos e se realmente estão garantindo
os direitos deles. A pré-mediação vem como um primeiro momento de sensibilização e
reflexão, além do acolhimento individual, para que posteriormente seja possível uma
conversa entre as partes, para que juntas possam pensar nos filhos.
Palavras-chave: mediação, parentalidade, conjugalidade, separação-conjugal.
Referências
BERNARDI, D. C. F. Histórico da inserção do profissional psicólogo no Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo- um capítulo da Psicologia Jurídica no Brasil. In: BRITO,
L. M. T. Temas de Psicologia Jurídica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005.
SOLDÁ, Angela Maria; OUTRAMARI, Vitor Hugo. Mediação Familiar: Tentativa de
efetivação da Guarda Compartilhada e do Pricípio do Melhor Interesse da Criança.
Doutrina, Parte Geral, n. 67, p.107-123, set. 2011
PINHO, Ana Carla. A alienação parental e a Guarda Compartilhada como forma de
prevenção. Uscs: Direito, Paraná, v. 8, n. 21, p.135-152, dez. 2011.
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SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL7
A INFLUÊNCIA DA AUDIÊNCIA NÃO PUNITIVA SOBRE A ESQUIVA EXPERIENCIAL E A
RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Alan Barbosa de Oliveira
Prof.ª Dr.ª Cássia Cunha Thomaz
Apresentação
O caso a seguir foi atendido na Clínica Psicológica da Universidade Presbiteriana
Mackenzie sob a ótica da Clínica Analítico Comportamental em um estágio do curso de
Psicologia. Os atendimentos foram realizados semanalmente e individualmente. Cada
sessão foi discutida sob supervisão semanal em um grupo destinado ao mesmo fim.
Introdução
A análise do comportamento tem como embasamento filosófico o behaviorismo
radical, e assume o comportamento como objeto de estudo, caracterizando-o como a
relação entre o homem e o ambiente. Assume-se que aquilo que uma pessoa faz
muda o ambiente que, por sua vez, muda esse homem. No contexto clínico, uma das
possibilidades de intervenção baseia-se na psicoterapia analítico funcional (FAP). Essa
tem o objetivo de usar a relação terapêutica como fonte de informações e
intervenções, visto que essa teria uma semelhança funcional com as demais relações
sociais do cliente, evocando comportamentos semelhantes ao da vida do cliente.
Dentre esses, aqueles relacionados ao sofrimento clínico são chamados de
comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) (KOHLENBERG; TSAI, 2006). Os CRBs
se dividem em CRB1: comportamento “problema” ligado a demanda; CRB2:
comportamento que denota progresso no caso, na relação com o terapeuta; CRB3:
interpretações do comportamento realizadas pelo cliente (KOHLENBERG; TSAI, 2006).
Uma das bases da terapia é a audiência não punitiva. Esta se caracteriza pela não
emissão de nenhuma consequência aversiva contingente às verbalizações do cliente. O
objetivo é estabelecer uma relação terapêutica com o cliente e proporcionar a
descrição de assuntos dolorosos e contribuir com a compreensão do caso (MEDEIROS,
2002). O uso desta técnica foi fundamental para o progresso do presente caso.
Objetivo
7 Supervisores da área: Ana Carmen de Freitas Oliveira, Cássia Roberta da Cunha Tomaz, Cristina
Moreira Fonseca,
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O presente artigo tem como objetivo descrever a forma como o uso de técnicas da FAP
contribuiu para melhora do cliente e exemplificar a forma como os conhecimentos da
análise do comportamento são aplicados em um contexto clínico.
Método
Sujeito
O cliente atendido foi J., 26 anos, com histórico de punições na infância. Nas sessões
iniciais o cliente relata não possuir nenhuma queixa específica. Contudo, relatou
dificuldades em se opor as pessoas, e motivação para “agradar a todos”. Essa
descrição apontava para uma falha na formação de seu self e ausência de repertório
assertivo. Para a Análise do Comportamento, o self seria um sistema de respostas
funcionalmente unificado sob controle de eventos privados (SKINNER, 1953). Envolve a
especificação desses estímulos (privados) controladores da resposta verbal “Eu”, e está
relacionada a um histórico de reforçamento diferencial sob controle de eventos
privados específicos que se inicia na infância (KOHLENBERG; TSAI, 2006). O
reforçamento, de acordo com Kohlenberg e Tsai (2006) é uma consequência ou
contingência que aumenta a força e a probabilidade de repetição de um determinado
comportamento.Já a assertividade pode ser definida como a emissão de respostas
descritivas que são eficientes em determinados contextos sociais. Estaria entre a
passividade e a agressividade. Envolve discriminação dos ambientes para prever
possíveis efeitos reforçadores ou aversivos (RICH; SCHROEDER, 1976).
Outra fonte de conflito seria sua sexualidade. Ocliente apresentava indícios de
conflitos com sua identidade sexual ao não descrever com precisão sua orientação
sexual e relatando os problemas que sua família tinha com sua sexualidade. Ele
descrevia suas relações intimas com homens c