profissÃo docente: (des)valorizaÇÃo, · o processo de desvalorização profissional, a...
TRANSCRIPT
PROFISSÃO DOCENTE: (DES)VALORIZAÇÃO,
(DES)MOTIVAÇÃO OU REFLEXOS DA
CONTEMPORANEIDADE?
Sonia Maria Macarini Radigonda
RESUMO
O processo de desvalorização profissional, a desmotivação docente e suas conseqüências na sociedade contemporânea, levam este estudo a buscar entendimento acerca dos fenômenos da motivação para a profissão docente bem como formas de enfrentamento da problemática e manutenção da saúde mental do professor. Iniciamos pela revisão crítica de trabalhos anteriores sobre o tema, buscando o entendimento das diferentes teorias da motivação passando para a instrumentalização da pesquisa através de questionário onde os professores apontaram os fatores que acreditam provocar sua desvalorização profissional e a sua desmotivação docente e quais os tipos de ações que acreditam contribuir para a superação dos problemas levantados. A partir dos resultados obtidos pelo questionário, organizamos um ciclo de estudos, composto por encontros semanais para debates, aprofundamento teórico, analise de trecho de filmes e dinâmicas de grupo com carga horária total de 40 horas. Desse modo espera-se contribuir para a (re) construção significativa das relações inter e intrapessoais em toda comunidade escolar; para a ação efetiva e comprometida dos mesmos na sua motivação profissional e na qualidade do processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
1 Introdução
A sociedade contemporânea vem enfrentando uma série de
desafios decorrentes dos avanços tecnológicos, científicos e relacionamentos
em rede, tudo sendo visto e vivido em tempo real. Assim, as inúmeras
transformações que impactam as diferentes esferas do convívio humano
requerem uma atenção especial, dada sua complexidade e as alterações que
provocam no comportamento humano e na própria definição da identidade pós-
moderna.
Entretanto, é imperceptível o ritmo deste desenvolvimento
tecnológico e suas consequências no que se refere à vida do ser humano, na
sua subjetividade, ou seja, nos seus sonhos, nas suas alegrias, suas lutas e ao
encantamento ou desencantamento profissional e vivencial, afetando
praticamente todos os contextos institucionais, entre eles, este que nos
interessa neste projeto: a escola. Paralelamente a tantas evoluções, vivemos
tempos de desencantos, frustrações e tristezas. Os professores da rede
pública, não estão alheios a tal realidade sentem-se impotentes para
desenvolver sua função de transformar a realidade de seus alunos. A escola,
que sempre foi um mecanismo refém da sociedade e sua evolução histórica,
social e política, hoje sente-se incapaz de acompanhar e mesmo compreender
seu papel diante da rapidez destas transformações. Os professores, assim
como a própria educação escolar, se isolaram numa ilha à parte, contribuindo
para este sentimento de desvalorização e desmotivação que acomete grande
parte dos professores da escola pública.
A realidade que se apresenta tem gerado muita preocupação
ao ver cada dia mais professores se mostrarem tristes, desmotivados, e até
mesmo doentes, não apresentando prazer ao fazerem o que sabem de melhor:
ministrar aulas e transmitir conhecimento. Essa preocupação é maior ainda
quando constatamos que são estes mesmos professores que atuam no ensino
médio e profissional sendo formadores de novos profissionais das áreas de
secretariado, recursos humanos e professores em curso de Formação de
Docentes.
A motivação é fruto de uma interação entre a pessoa e o
ambiente, tornando-se mais forte quanto maiores forem as necessidades e
motivos interiores de cada pessoa. O ensaio em questão vislumbra, através de
um processo de Intervenção Pedagógica, desenvolver um trabalho que norteie
o ambiente escolar, oferecendo a nós professores, à oportunidade de
refletirmos sobre o papel social de nossa função, bem como a possibilidade do
avanço real, da contribuição de um embasamento teórico sólido e consistente.
Acreditamos que a desmotivação profissional que permeia o trabalho do
professor nos dias atuais está diretamente ligada à crise social de valores
éticos na contemporaneidade. Portanto, a compreensão crítica sobre a
realidade em que estamos inseridos, pode influenciar os professores a se
perceberem enquanto agentes de transformação, para trabalharem
entusiasticamente visando sempre o alcance de sua realização pessoal,
profissional e das metas que se direcionam para o bem comum de toda a
comunidade escolar. A crise gerada pela desvalorização, a desmotivação, a
falta de entusiasmo, de prazer, de dedicação, de empenho, de autenticidade,
de comprometimento e o desinteresse efetivo da comunidade escolar estão
diretamente interligados aos fatores históricos, sociais e políticos que
perpassam nossa sociedade.
Neste sentido procuramos respostas para as seguintes
questões: De que forma o professor pode acompanhar criticamente o ritmo
acelerado da contemporaneidade? Como manter-se motivados frente a tantos
conflitos de valores éticos, sociais e históricos? Como encontrar disposição
para ser um professor tão completo e manter a auto-estima?
O objetivo deste estudo é refletir sobre os fatores que geram
a percepção do cenário de desvalorização e desmotivação dos professores,
aprofundarem as bases teóricas e aproximar da práxis no intuito de propor
ações positivas de enfrentamento e superação.
Para alcançar tal objetivo, nossa fundamentação teórica
voltou-se para os estudos sobre a desvalorização e a desmotivação e suas
conseqüências para a profissão docente, buscando o entendimento das
diferentes teorias da motivação passando para a instrumentalização da
pesquisa através de questionário onde os professores apontaram os fatores
que acreditam provocar sua desvalorização profissional e desmotivação e
quais os tipos de ações que acreditam contribuir para a superação dos
problemas levantados. A partir dos resultados obtidos pelo questionário,
organizamos um ciclo de estudos, composto por encontros semanais para
debates, aprofundamento teórico, analise de trecho de filmes e dinâmicas de
grupo com carga horária total de 40 horas. Desse modo espera-se contribuir
para a (re) construção significativa das relações inter e intrapessoais em toda
comunidade escolar; para a ação efetiva e comprometida dos mesmos; na sua
motivação profissional e na qualidade do processo de ensino e aprendizagem
dos alunos.
1.1 O Desencanto na Profissão Docente na Contemporaneidade
A temática da formação de professores em virtude da
multiplicidade de tendências e tensões que a perpassam é bastante complexa
tornando-se um campo de estudos nem sempre fácil. Na palavra “formar” está
implícita a ideia de forma, a qual mostra a existência de um molde anterior a
ser aplicado. Pensando nisto Libâneo (apud Moraes e Silva, 2009, p.7939)
busca corrigir esta ideia transformando
[...] a palavra formar em formar-se ajudando a acabar com a ideia de passividade. Formar-se é, portanto, um processo educativo que está na mão do próprio formando, que respeita sua singularidade e que busca ampliar as suas qualidades na intenção de transformar a sociedade em que vive.
Uma análise dos escritos sobre o assunto revela que não se
tem levado em conta, na maioria dos casos, o processo histórico e o teórico
acerca da formação de professores, deixando de lado vários fatores históricos
que durante décadas influenciaram na formação destes profissionais.
Entretanto, atualmente, já se manifesta positivamente, apesar
de tímida, uma mudança qualitativa na formação de professores. Porém, não
tem ainda sido suficiente para sanar as dificuldades apresentadas pelos
professores, principalmente no víeis da motivação no âmbito do trabalho.
O desencanto pela profissão, a perda da identidade, a falta de
sentido no ensinar, a falta de disposição para o trabalho, as doenças
psicossomáticas e os distúrbios psíquicos de caráter depressivos estão
fortemente instalados em nossas escolas.
A docência nunca foi uma tarefa simples, porém, a
modernidade traz novos elementos que tornam o trabalho docente ainda mais
difícil. Há exigência de profissionais competentes que acompanhem o
desenvolvimento tecnológico e as mudanças no mundo do trabalho, no entanto
não é o acúmulo de conhecimentos que garante o êxito no desempenho de
suas funções, exigindo dos professores domínio de um conjunto de habilidades
pessoais. Faz parte da tarefa do professor deparar-se cotidianamente com
mudanças de contexto sejam no âmbito da clientela, sejam no âmbito do
conhecimento e das tecnologias, ou ainda dos paradigmas.
Mas como cuidar de todas estas variáveis se o professor não
cuidar primeiro de seu eu? Como encontrar disposição para ser tão completo,
manter sua auto-estima e seu estado de espírito interior tão elevado ao ponto
de desejar de forma intrínseca ser melhor na sua prática educativa e
transformar sua própria realidade social? Temos então instalada uma situação
que Moraes e Silva (2009, p.7946) definem como crise docente que...
[...] arrasta-se ao longo dos anos provocando uma situação de “mal-estar”, visível nos professores, desmotivados, muitas vezes, essa insatisfação profissional afeta a personalidade do professor e faz com que o mesmo acabe transmitindo em atitude de indisposição e negativismo para seus alunos.
É nesse sentido que acreditamos interferir o nível de motivação
do professor na direção da construção e afirmação de sua identidade, pois,
segundo Brezezinski (2002 p. 86)
[...] a identidade do professor é fruto de interações sociais complexas nas sociedades contemporâneas é expressão sócio-psicológica que interage nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Ela define um modo de ser no mundo, num dado momento, numa dada cultura, numa história.
As mudanças na sociedade globalizada, segundo Moraes e
Silva (2002, p.7946),
[...] levam-nos a refletir sobre o papel da escola e da educação; as mudanças de valores, os modelos culturais, as referências para jovens, as transformações do mercado de trabalho, enfim, fatores que nos fazem repensar sobre o modelo educacional pelo qual trabalhamos. Esses fatores acometem os professores influenciando primeiramente sua prática em sala de aula, gerando muitas vezes tensões e conflitos, sendo estes ligados a sentimentos de desencanto e emoções negativas. Muitas mudanças tiram dos professores sua autonomia deixando-os desmotivados, [...]
As autoras concluem ainda, citando a psicóloga e escritora
Zagury (2006 p.111), que “qualquer profissional, para manter-se motivado e
com um nível mínimo de adesão ao processo, precisa sentir que sua
experiência, ideias e opiniões são ouvidas. Mais que ouvidas, consideradas”.
Porém o cotidiano do trabalho pedagógico do docente leva ao
caminho oposto. Com isto alimenta-se cada vez mais o sentimento de
impotência, de incapacidade, de não conseguir manter-se valorizado e
motivado. Possivelmente sejam estes alguns dos motivos que agravam o
estado de saúde psicossocial e físico já que estão cada vez mais presentes no
ambiente escolar.
A escola deve ser o lugar do diálogo, hoje banalizado, da
construção de uma comunicação dialógica que questiona a si e ao mundo que
a cerca. Conhecer a realidade é fundamental para que essa construção se
realize. Só assim poderemos compreendê-la e explicá-la.
Pensar a contemporaneidade nos leva a refletir sobre
características deste tempo como a “infantilização do trabalho docente”. Será
de fundamental importância buscarmos informações nos escritos de autores
como Adorno, Kant, Foucault, Benjamin, Gagnebin, e Silva, para entender o
significado dessa infantilização no contexto social, suas influências e
consequências na ação docente, bem como as possibilidades de superação.
Só desse modo começaremos a estranhar aquilo que parece natural, lutar
contra idéias cristalizadas, desejando um pensar reflexivo e filosófico que
poderá influenciar positivamente na valorização e motivação da profissão
docente.
Para Silva (2009, p. 928)
O pensamento reflexivo e criativo é elemento inerente e propulsor da atividade pedagógica, mas estamos envolvidos pelo deslumbramento do processo tecnológico e nos deixamos levar, de certa forma, pela degeneração do pensamento reflexivo, ameaçando o conteúdo ético do processo formativo em razão de sua determinação social.
A principal preocupação desta mesma autora, com a qual nós
concordamos
[...] é pensar a noção de infância pela notoriedade que ela vai ganhando na modernidade, posicionando-a como centro das
atenções, não pela sua influência na vida do homem, mas na sua vinculação com o desenvolvimento da sociedade, atrelada à idéia de menoridade e de incapacidade.
Já que, segundo Gangnebin (1994), “a menoridade é a
incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro
indivíduo” a ação docente reveste-se de uma importância especial não
podendo resumir-se ao mero cumprimento de tarefas, como tão bem alerta
Silva (2009, P.929):
A atividade docente, assim com toda a atividade do homem moderno,
transformou-se em mera técnica ou aplicação de conhecimentos
produzidos pelas ciências da educação, atendendo à necessidade
social de aumento da eficiência, a demanda de qualificação
profissional e aos padrões de consumo. Mera atividade repetidora,
incapaz de traduzir-se em experiências narráveis. SILVA (2009, p.
929).
Essa importância à qual nos referimos portanto é aquela que
rompe com alguns mitos instalados no interior da escola e da sociedade e
propõe um aprofundamento da função docente superando a mera função de
transmissores de informação. É aquela que supera esta infantilização através
da recriação do conhecimento na sua totalidade possível.
1.2 Consequências Deste Desencanto: Doenças Sociais.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o conceito
de saúde é, desde 1948, não apenas a ausência de doença ou enfermidade
mas um bem-estar físico, psíquico e social. Este conceito, no Brasil, a partir da
8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi ampliado tomando
fortes contornos sociais e saindo dos lugares clássicos como hospitais e postos
de saúde para outros como nossa casa e nossa escola, passando a ser então:
“[...] resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda,
meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e
acesso a serviço de saúde”.
Um olhar sobre a literatura da área chama a atenção pelo
elevado número de ocorrências de stress ocupacional em dois segmentos
profissionais: os da saúde e os do ensino. Os fatores que contribuem para
essa ocorrência são; além dos ambientais, alguns ligados à organização do
trabalho, fatores físicos e psicológicos e estilos de vida.
Vários estudos apontam para o surgimento de uma nova
síndrome ligada ao exercício profissional, especificamente dos professores, a
Síndrome de Burnout, citando Esteve, (1999), Carlotto (2002, p.23),
[...] adverte sobre as desastrosas tensões e desorientações provocadas nos indivíduos quando estes se veem obrigados a uma mudança excessiva em um período de tempo demasiadamente curto. Para o autor, o professor está sendo tirado de um meio cultural conhecido, em que se desenvolveu até então sua existência, e está sendo colocado em um meio completamente distinto do seu, sem esperança de voltar à antiga paisagem social de que se lembra.
Fatores estressores se persistentes, podem levar à Síndrome
de Burnout, caracterizada na Wikipédia como:
[...] um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de
esgotamento físico e mental intenso, definido por Herbert J.
Freudenberger como “(…) um estado de esgotamento físico e
mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.
Carlotto (2002, p.21) alega que:
Burnout em professores afeta o ambiente educacional e interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando estes profissionais a um processo de alienação, desumanização e apatia e ocasionando problemas de saúde e absenteísmo e intenção de abandonar a profissão.
Professores com Burnout apresentam exaustão física e
emocional advinda de um crescente sentimento de desconforto em
contrapartida à diminuição da vontade de lecionar. Apresentam também falta
de: energia, alegria, entusiasmo, satisfação, interesse, vontade, sonhos para a
vida, ideias, concentração, autoconfiança e humor.
Ainda segundo Carlotto (2002, p.27),
[...] torna-se de fundamental importância destacar que a prevenção e a erradicação de Burnout em professores não é tarefa solitária deste, mas deve contemplar uma ação conjunta entre professor, alunos, instituição de ensino e sociedade. As reflexões e ações geradas devem visar à busca de alternativas para possíveis modificações, não só na esfera microssocial de seu trabalho e de suas relações interpessoais, mas também na ampla gama de fatores macroorganizacionais que determinam aspectos constituintes da cultura organizacional e social na qual o sujeito exerce sua atividade profissional.
Concluimos assim que o Burnout de professores relaciona-se
diretamente com as condições desmotivadoras no trabalho, afetando, na
maioria dos casos, o desempenho do profissional. Embora muitos estejam
neste patamar continuam desenvolvendo suas funções sem condições de
desempenhá-las adequadamente.
No livro O Monge e o Executivo, Hunter (1998, p.25) define “a
liderança como a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem
entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para
o bem comum.”
Sabendo-se que a liderança impacta na estima e motivação
dos professores, entendendo motivação como Waal, Marcusso e Telles (2004,
p.26) “o processo psicológico que leva uma pessoa a fazer esforços para obter
certo resultado”, este aspecto deve ser estudado e analisado de modo que se
encontrem sempre formas benéficas para obter o comprometimento das
pessoas com os objetivos educacionais. Etimologicamente, motivação tem sua
raiz na palavra mover, isto é, um impulso gerador de ação, é interno e resulta
da interação entre o ser e seu ambiente. Podendo ser gerada por fatores
internos ou externos ao indivíduo.
Para Sampaio (2009, p.5), com base em Maslow pode-se
afirmar que o ser humano tem vários tipos de necessidades, que recebem a
seguinte classificação: de segurança, de pertença e amor, de estima,
fisiológicas, de autorrealização, desejos de saber e de entender, e estéticas.
1.3 Perspectivas De Superação
A revisão da literatura pertinente aponta para a superação
desses desafios. Segundo nosso entender a superação da docência solitária,
pode encontrar vazão na formação continuada desde que, além dos saberes
científicos específicos de cada disciplina, no dizer de Linhares (2010) ocorra
ainda a construção de
[...] canais onde possam expressar e debater sentimentos, percepções, reflexões e preocupações com seu trabalho, aproveitando tudo que o constrange ou potencializa para compartilhar percursos de gestação de discursos em que ressoem suas vozes, suas opiniões, suas análises e suas ações.
Segundo Severino a exigência da necessidade ética emerge no exercício da
ação interpessoal, ou seja, ela se impõe prioritariamente quando está em pauta
o agir em relação a outras pessoas. Neste sentido, para sermos coerentes
também com a dimensão histórica e social é imperativo no dizer de Severino,
impregnar a formação docente de uma radical sensibilidade ética, sem a qual
não há como esperar de sua atuação com essa mesma qualidade.
A superação se faz necessária para que não tenhamos a
perpetuação da ilusão acerca da função educativa segundo a qual “o professor
finge que ensina e o aluno finge que aprende” (Werneck H. 2002). Necessária
ainda para que a escola pública e, por conseguinte o fazer docente e discente
tornem-se plenos de significação; retomando sobre si o compromisso ético com
as classes trabalhadoras das quais fazem parte tanto alunos quanto
professores, garantindo aos últimos melhores condições de trabalho.
O tempo presente nos desafia a manter um diálogo constante
com a literatura, pois somente pelo conhecimento é possível realizarmos as
ações indicadas por Silva de
[...] pensarmos a educação atual e provocar um debate que garanta uma reflexão sobre as perspectivas da infantilização do trabalho docente e os desafios postos por eles no campo da educação, os limites e a possibilidade de se assumir a escola como espaço de produção do novo, do não-dito, do não-pensado em detrimento do que já está instituído. SILVA (2009, p. 929).
Frente ao exposto até aqui, o presente trabalho insere-se ainda
em concordância com o que preconizam as Diretrizes Curriculares para a
Educação Básica do Estado do Paraná, ilustrada nesta afirmação de Sacristán
(2000, p.41):
[...] os aspectos intelectuais, físicos, emocionais e sociais são importantes no desenvolvimento da vida do indivíduo, levando em conta, além disso, que terão de ser objeto de tratamentos coerentes para que se consigam finalidades tão diversas, ter-se-á que ponderar, como consequência inevitável, os aspectos metodológicos do ensino, já que destes depende a consecução de muitas dessas finalidades e não de conteúdos estritos de ensino. Desde então, a metodologia e a importância da experiência estão ligadas indissoluvelmente ao conceito de currículo. O importante do currículo é a experiência, a recriação da cultura em termos de vivências, a provocação de situações problemáticas.
Confirmando a necessidade de um olhar para além das
competências técnico-científicas na formação do docente, dada a importância
dos aspectos metodológicos e das ações que compõem o currículo oculto bem
como das relações inter e intrapessoais em todo o processo educativo.
2 Desenvolvimento
Na última parte deste ensaio partimos do pressuposto que o
objetivo de todo professor é realizar-se profissionalmente e contribuir para o
aumento e manutenção da qualidade do ensino. Este pressuposto deverá vir
acompanhado de visões, questionamentos e vivências mais amplas e críticas
por parte dos mesmos. Torna-se necessário um diálogo científico com os
pensadores até aqui apresentados, e outros que poderão contribuir sobre as
questões relevantes acerca da desvalorização profissional e da desmotivação
docente e todos os aspectos nelas envolvidos como a motivação e o
significado do trabalho na ação docente, emoções e afeto, saúde mental, ética,
auto-estima, realização pessoal, desejos, comprometimento, vínculos, relações
intra e inter-pessoais e qualidade de vida.
Acreditamos assim estar no caminho de respostas e saídas
mais reais e significativas para as questões que nos propusemos no início de
nosso trabalho. Encontrando formas para acompanhar criticamente o ritmo
acelerado da contemporaneidade. Mantendo-se motivados frente a tantos
conflitos de valores éticos, sociais e históricos. Tendo disposição para ser um
professor tão completo, manter a auto-estima e o estado de espírito interior
elevado ao ponto de desejar de forma intrínseca ser melhor na prática
educativa e transformar a própria realidade social.
O stress profissional, a angústia e o desgaste físico e
emocional provocado por conta destes questionamentos e pelo desejo de
encontrar respostas, estão presentes na ação docente diariamente, motivos
pelos quais fomos levados a propor uma formação significativa, sistematizada e
coerente, pautada nos conhecimentos científicos e nas trocas de experiências
vivenciais desejando a constante superação dos limites enfrentados na
profissão docente.
De posse dos dados recolhidos no questionário aplicado,
promoveremos um Ciclo de Estudos de quarenta horas com o intuito de
confrontar as percepções dos envolvidos à luz de referenciais teóricos, e
vivenciar as ações por eles sugeridas e outras que permitam o alargamento da
compreensão acerca dos problemas levantados. Oportunizaremos um
embasamento teórico sobre as questões relevantes, que se fazem necessárias
para a compreensão e reflexão sobre a crise de valores éticos, morais e
sociais, pela qual a sociedade contemporânea vem passando e,
consequentemente, influenciando a prática docente. Deste modo, acreditamos
contribuir para a (re) construção significativa das relações inter e intrapessoais
em toda comunidade escolar; para a ação efetiva e comprometida dos
mesmos; para a motivação profissional e qualidade do processo de ensino e
aprendizagem.
Os encontros do ciclo de estudos serão organizados conforme
o quadro a seguir:
Conferência de Abertura: “Motivação e Significado do Trabalho na Ação Docente.”
Profª Ana Celi Pavão – UEL Horário: 8 horas. Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr 1º Encontro “As Emoções e o Afeto no Trabalho Docente” Responsáveis: Sonia Maria Macarini Radigon a Profª Ana Celi Pavão – UEL Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr 2º Encontro “Profissão docente e Saúde mental” Responsáveis: Sonia Maria Macarini Radigonda Profª Drª Regina Marcia Brolesi de Souza - UEL Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr 3º Encontro “A síndrome de Burnout e o trabalho docente” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr 4º Encontro “A ética na formação e atuação dos professores” Responsáveis: Sonia Maria Macarini Radigonda Profª Drª Anilde Tombolato Tavares da Silva - UEL Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr 5º Encontro “A subjetividade no trabalho docente” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr 6º Encontro “Desafios contemporâneos do trabalho docente” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr
7º Encontro “Avaliação da intervenção pedagógica” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 as 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual “Olavo Bilac”Cambé-Pr
3 Contribuições Esperadas
Sendo a valorização e a motivação profissional peças
fundamentais para que o trabalho docente se concretize de forma efetiva,
criativa e comprometida na escola e esta possa cumprir sua função social, bem
como melhorar as relações entre os sujeitos nela envolvidos e oferecer um
ensino de qualidade, os temas estudados, estimularão os participantes a
atuarem em sala de aula de forma mais prazerosa e com maior encantamento
no seu fazer pedagógico. Acreditamos que a relevância deste trabalho é
contribuir para a construção identitária de um profissional da educação
comprometido eticamente e motivado intrinsecamente pelo autoconhecimento,
pelo conhecimento e compreensão de seu entorno nos fatores causadores e
conseqüências e pela esperança de transformação da realidade tanto interna
quanto externa de si e de seus alunos.
Referências
BRZEZINSKI, Iria. Profissão Professor: Identidade e Profissionalização Docente. Brasília: Plano Editora, 2002.
CARLOTTO, Mary Sandra. A Síndrome de Bournout e o Trabalho Docente. 2002. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 7, n. 1, p. 21-29, jan./jun. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a03.pdf. Acesso em: 05 out. 2010.
ESTEVE, J.M. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. In: CARLOTTO, Mary S. A Síndrome de Bournout e o Trabalho Docente.
2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a03.pdf. Acesso em: 05 out. 2010.
HUNTER, James C. O Monge e o Executivo: uma história sobre a essência da liderança. [tradução Maria da Conceição Fornos de Magalhães] Rio de Janeiro: Sextante, 2004. Disponível em: http://lillodahlan.multiply.com/journal/item/20. Acesso em 06 out. 2010. LIBÂNIO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos para quê? 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LINHARES, Célia. Desafios contemporâneos da educação docente tempo de recomeçar: Movimentos instituintes na escola e na formação docente. In DALBEN, Angela. et al. (org) Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: Didática, Formação de professores e trabalho docente. Coleção didática e prática de ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p 801 – 818.
MORAES, Valdirene M.; SILVA, Melissa R. Reflexões Sobre a Relação: Formação de Professores e Identidade Profissional. 2009. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3420_1964.pdf. Acesso em: 04 out. 2010.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad. Ernani F. da F. Rosa, Potro Alegre: Artmed, 2000. (em DCE 2009)
SAMPAIO, Jáder dos Reis. Artigo O Maslow desconhecido: uma revisão de seus principais trabalhos sobre motivação. Revista de Administração desde 1947. FEA – USP. R. Adm. São Paulo, vol. 44, nº 1, pag. 5 – 16, jan/fev/março. 2009.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Formação e atuação dos professores: Dos seus fundamentos éticos. In DALBEN, Angela. et al. (org) Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: Didática, Formação de professores e trabalho docente. Coleção didática e prática de ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p 631 – 646.
SILVA, Anilde Tombolato Tavares da. Infância, Experiência e Trabalho Docente. 2007. 160 pgs. Tese de Doutorado – Universidade Estadual Paulista, Marília. Disponível em: http://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Educacao/Dissertacoes/silva_att_dr_mar.pdf. . Acesso em 10 março 2011. _____. O Empobrecimento da Experiência e a Infantilização do Trabalho Docente. Docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Doutora pela UNESP/Marília. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2023_997.pdf. Acesso em 02 abril 2011.
WALL, Paula; MARCUSSO, Nivaldo; TELLES, Marcos. (2004). Tecnologia e Aprendizagem. Tópicos de Integração. Vol I. Bases para a Integração da Tecnologia com a Pedagogia. São Paulo: Práxis. Disponível em: http://www.slideshare.net/joaojosefonseca/tecnologia-e-aprendizagem-tpicos-de-integrao-vol-i-presentation. Acesso em 05 out. 2010.
WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina eu finjo que aprendo. 17 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.
ZAGURY, Tânia. O professor refém: para pais e professores entenderem por que fracassa a educação no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.