programa de monitorizaÇÃo do patrimÓnio …programa de monitorização, o presente documento...
TRANSCRIPT
Instituto Superior de Agronomia
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves”
Programa de Monitorização do
Património Natural
Aves Estepárias
Relatório Final (2ª fase)
Dezembro 2003
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 1
PROGRAMA DE MONITORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO NATURAL: AVES ESTEPÁRIAS
Equipa técnica:
Francisco Moreira (CEABN - ISA; coordenação)
Alexandre Vaz (CEABN – ISA)
Rui Morgado (CEABN - ISA)
Ana Delgado (CEABN - ISA)
Nuno Leitão (CEABN - ISA)
Gonçalo Pessoa (CEABN - ISA)
Pedro Vaz Pinto (CEABN - ISA)
Rui Borralho (CEABN - ISA)
Pedro Beja (CEABN - ISA)
Bárbara Abelha (CEABN - ISA)
Patrícia Silva (CEABN - ISA)
Susana Dias (CEABN - ISA)
Miguel Capelo (CEABN - ISA)
Luís Reino (CEABN - ISA)
Luís Gordinho (CEABN - ISA)
Paulo Pereira (CEA - UE)
Miguel Pereira (CEA - UE)
Manuela Correia (CEA - UE)
CEABN – ISA (Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves”, Instituto Superior de
Agronomia)
CEA – UE (Centro de Ecologia Aplicada, Universidade de Évora)
Citação recomendada: Moreira, F. (Coord.) 2003. Programa de Monitorização do Património Natural na
Área de Regolfo de Alqueva: Aves Estepárias. Relatório Final - 2ª fase. Centro
de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves”, Instituto Superior de Agronomia.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 2
ÍNDICE 1. Introdução
3
2. Metodologia 3
2.1 Amostragem tipo Atlas 4
2.2 Amostragem de espécies particulares 5
2.2.1 Abetarda 5
2.2.2 Sisão 5
2.2.3 Outras espécies
6
3. Resultados da Primavera de 2003 7
3.1 Abetarda 7
3.2 Sisão 7
3.3 Cortiçol-de-barriga-preta 10
3.4 Alcaravão 10
3.5 Rolieiro 10
3.6 Perdiz-do-mar 10
3.7 Variação espacial da riqueza específica
10
4. Análise comparativa da situação pré e pós-albufeira do Alqueva 11
4.1 Abetarda 11
4.2 Sisão 12
4.3 Cortiçol-de-barriga-preta 13
4.4 Alcaravão 13
4.5 Rolieiro 14
4.6 Perdiz-do-mar 14
4.7 Grou-comum 14
4.8 Tarambola-dourada
4.9 Variação espacial da riqueza específica
5. Conclusões 6. Bibliografia citada
1515
16
16
7. Anexos 17
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 3
1. INTRODUÇÃO
O presente documento relata as actividades desenvolvidas entre Março e
Dezembro de 2003 no âmbito do contrato de prestação de serviços relativos a
acções de monitorização de Aves Estepárias na zona de influência do regolfo
de Alqueva. Paralelamente, é efectuada uma avaliação final de todo o projecto
de monitorização. De acordo com o estipulado no contrato e regulamento do
programa de monitorização, o presente documento constitui o relatório final, a
ser entregue no 4º trimestre de 2003. Inclui:
(1) uma descrição sumária das metodologias utilizadas no decorrer do projecto;
(2) o mapeamento dos locais de ocorrência (ao nível da quadrícula Gauss 1x1
Km) de cada uma das espécies consideradas prioritárias, na Primavera de
2003;
(3) uma estimativa dos efectivos populacionais reprodutores, em 2003, de
algumas das espécies estudadas;
(4) ficheiros EXCEL com as localizações exactas (coordenadas Gauss) das
espécies prioritárias observadas durante a época reprodutora de 2003, de
acordo com a solicitação da EDIA. Estes ficheiros são enviados em anexo.
(5) uma análise comparativa da situação registada na 1ª fase da monitorização
(fase pré-enchimento), comparativamente com a 2ª fase (fase pós-barragem),
ao nível das áreas de ocorrência, dimensão populacional e riqueza específica
das espécies-alvo;
2. METODOLOGIA
Nesta secção são descritas as metodologias utilizadas durante a Primavera de
2003. A metodologia de amostragem das espécies-alvo dividiu-se em duas
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 4
estratégias-base que foram descritas em relatórios anteriores (Moreira et al.
2000): (a) estratégia de tipo Atlas e (b) amostragem dirigida a espécies
particulares.
A amostragem do tipo Atlas teve como objectivo determinar o padrão
geral de ocorrência das espécies na área de estudo. Paralelamente, foram
desenvolvidas metodologias mais específicas para algumas espécies (abetarda
e sisão) com o objectivo de se efectuar uma análise mais detalhada das suas
áreas de ocorrência bem como estimativas mais rigorosas da dimensão das
suas populações na área de estudo.
2.1 Amostragem tipo Atlas A componente de Atlas das monitorizações consistiu basicamente numa
prospecção sistemática das espécies prioritárias, através de um procedimento
estandardizado, em todas as quadrículas Gauss de 1×1 km da área abrangida
pelo Programa de Monitorização. A prospecção de cada quadrícula consistiu
numa visita de 15-30 minutos, em que a área foi percorrida lentamente em
viatura automóvel, com paragens em pontos de escuta e observação. Estes
pontos eram, sempre que possível, locais com habitat favorável à ocorrência
das espécies prospectadas, ou com condições de visibilidade particularmente
adequadas para a sua detecção.
Para além dos dados recolhidos no decurso das visitas às quadrículas Gauss
de 1×1 km, foram também consideradas observações adicionais de espécies
prioritárias recolhidas no decurso do trabalho de Atlas (nomeadamente nos
percursos de e para as quadrículas a visitar) e durante as contagens dirigidas a
espécies particulares. A localização exacta de todas as observações foi
registada nas cartas 1:25000.
O trabalho de Atlas foi realizado entre 15 de Abril e 15 de Junho de 2003. Com
o fim de optimizar o esforço de campo, os censos foram coordenados com o
grupo de trabalho das rapinas.
Na sequência do processamento dos resultados do Atlas e observações
adicionais produziu-se para cada espécie prioritária uma carta de distribuição
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 5
na área de estudo com base na sua presença/ausência nas quadrículas Gauss
de 1×1km prospectadas. Para a produção desta cartografia (e à semelhança da
primeira fase do projecto), foi utilizada toda a informação recolhida
(prospecções sistemáticas e dados adicionais). De acordo com o estipulado no
contrato, os dados brutos correspondentes às observações georeferenciadas
são fornecidos à EDIA em ficheiro EXCEL. Os mapas produzidos para cada
espécie são apresentados em anexo.
2.2 Amostragem de espécies particulares 2.2.1 Abetarda
Foram repetidas as contagens dirigidas a estas espécies, na mesma área
geográfica que inclui as sub-áreas de Mourão e Granja. A metodologia de
amostragem utilizada consistiu basicamente em percorrer em veículo todo-o-
terreno um transecto previamente definido, que se assume cobrir toda a área
de estudo, apontando todas as observações destas espécies. Foram
efectuados 5 censos entre 8 de Abril e 26 de Maio de 2003, num total 626 km.
Este período corresponde à fase de conspicuidade máxima, quando os
indivíduos estão concentrados nas áreas de parada nupcial (“leks”).
2.2.2 Sisão Foram efectuadas contagens a partir de veículo todo-o-terreno, ao longo das
duas redes de transectos lineares estabelecidas anteriormente para a
monitorização desta espécie, com registo das distâncias perpendiculares de
avistamento e modelação da visibilidade do meio (ver Moreira et al. 2000).
A metodologia empregue para a definição das redes de transectos foi
apresentada no Relatório Final da primeira fase da monitorização em curso
(Moreira et al. 2000). Os transectos percorridos durante as contagens da
Primavera de 2003 situaram-se exclusivamente em áreas de habitats pseudo-
estepários, em particular em zonas de pousio/pastagens, searas, alqueives e
parcelas semeadas, e em montado aberto sem mato, uma vez que se verificou
nas contagens já efectuadas que o Sisão não ocorre nos restantes habitats
existentes da área de estudo (Moreira et al. 2000).
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 6
Como anteriormente, os recenseamentos foram efectuados nas
primeiras três horas após o nascer-do-Sol e nas últimas três antes do pôr-do-
Sol, por uma equipa de dois observadores deslocando-se a baixa velocidade
(10-20 km/hora). Registaram todos os grupos de sisões (≥1 indivíduo)
detectados ao longo dos transectos, as suas distâncias perpendiculares de
detecção ao centro geométrico aproximado dos grupos, o número dos
indivíduos que os compunham, o sexo a que pertenciam e o habitat onde se
encontravam.
Os recenseamentos populacionais foram efectuados entre os dias 22 de
Abril e 5 de Maio na área definida pelas cartas prioritárias e entre 22 de Abril e
7 de Junho na área das cartas não prioritárias. As contagens efectuadas na
área não prioritária estenderam-se por mais um mês, devido ao facto de ter
sido necessário percorrer a respectiva rede de transectos por duas vezes para
se obter um número de detecções de sisões suficiente para permitir uma
estimativa não enviesada da sua densidade nessa zona.
As estimativas de densidade foram calculadas utilizando o programa
DISTANCE (Laake et al. 1993). Os estimadores utilizados em cada caso foram
escolhidos em função do seu ajustamento aos dados, avaliado através do
Critério de Akaike (Buckland et al. 1993) disponível no programa.
Entre Abril e Junho de 2003, percorreu-se um total de 219.80 km de
transectos situados em áreas de habitats pseudo-estepários, 78.70 km dos
quais foram percorridos nas cartas prioritárias e 141.10 km nas cartas não
prioritárias. Tal como sucedeu no Inverno de 2002/2003, há que notar que
alguns dos transectos percorridos nos anos anteriores se situavam em áreas
actualmente já submersas, pelo que não foram percorridos nestas contagens.
2.2.3 Outras espécies Para o alcaravão, perdiz-do-mar, rolieiro e cortiçol-de-barriga-preta não foram
efectuadas quaisquer amostragens adicionais, pelo que a estimativa da
dimensão das suas populações na área de estudo se baseia apenas nos dados
recolhidos através da amostragem tipo ATLAS.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 7
3. RESULTADOS DA PRIMAVERA DE 2003
3.1 Abetarda À semelhança da primeira fase da monitorização, a abetarda ocorreu sobretudo
nas cartas militares 483 e 492. No entanto, comparativamente com a primeira
fase, o número e densidade de observações foram menores, mostrando que a
espécie se tornou mais escassa e localizada. A espécie deixou praticamente de
ser observada na zona de São Marcos do Campo. Para uma amostra de 44
observações (Atlas e outras), o número médio de indivíduos por bando foi de
2.3 (mediana=1.5) com um máximo de 11 aves.
O número de indivíduos observados por censo variou entre 6 e 49 (Figura 1),
sendo a média dos quatro censos de cerca de 19 indivíduos. O valor mais
elevado foi observado na primeira contagem, estando grande parte dos
indivíduos concentrados num grande “lek” em cima da linha de fronteira,
imediatamente a Norte de São Leonardo. As contagens posteriores registaram
um menor número de aves, comparativamente com a primeira fase da
monitorização. Durante os censos, para um total de 37 bandos, 54% ocorreram
em pousio e 16% em zonas lavradas/semeadas. Os restantes bandos
ocorreram sobretudo em zonas de milho, restolho e cereal.
3.2 Sisão
Continuando a ser a espécie-alvo mais comum na área de estudo, verificou-se
uma grande diminuição na sua abundância e áreas de ocorrência,
relativamente à primeira fase da monitorização. Esta diminuição é notória de
forma homogénea em toda a área geográfica estudada; o sisão parece persistir
sobretudo nas principais áreas de ocorrência anteriormente identificadas
(cartas 482, 482, 492 e 463) mas, mesmo aí, com mais “falhas” de ocorrência. Foram observados apenas 182 indivíduos durante os trabalhos de campo de
Atlas.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 8
núm
ero
de in
diví
duos
0
10
20
30
40
50
60
10 Abr 10 Mai 10 Jun Figura 1 – Variação do número de abetardas na área de Mourão-Granja durante os censos de Primavera. Linha contínua (círculos): 1999; linha tracejada (quadrados): 2003.
Na zona prioritária foram detectados 39 bandos de sisões, compostos por um
total de 41 indivíduos, enquanto que na área não prioritária foram detectados
32 bandos compreendendo 34 aves. Todas as aves avistadas ao longo dos
transectos durante a Primavera de 2003 eram machos. Estas observações
correspondem a um índice quilométrico de abundância (IKA) de 0.52 indivíduos
por km nas cartas prioritárias e de 0.24 inds/km nas não prioritárias.
A partir dos dados das contagens obtiveram-se estimativas de densidade de
sisões (machos) para cada uma das duas sub-áreas, as quais estão indicadas
na Tabela 1. O estimador que permitiu um melhor ajustamento aos dados, em
ambos os casos, foi uma função-base uniforme com ajustamento de cosenos –
Séries de Fourier (Buckland et al., 1993).
Verificou-se, assim, que a estimativa mais provável da densidade de sisões na
área definida pelas cartas prioritárias atingiu o dobro do valor obtido para as
cartas não prioritárias, sendo esta diferença quase significativa para ∝ = 0.05 (t
= 1.86, P = 0.067).
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 9
Tabela 1. Estimativas de densidade primaveril de sisões (machos) nos habitats pseudo-estepários das cartas prioritárias e não prioritárias, Primavera de 2003.
Área Densidade (machos/ha)
Erro Padrão Interv.Conf. 95%
Prioritária 0.020 0.005 0.013-0.033
Não-Prioritária 0.010 0.002 0.007-0.016
Por outro lado, os valores de densidade mais provável estimados na
Primavera de 2003 foram inferiores aos obtidos nas Primaveras de 1999 e de
2000, antes do início do enchimento da albufeira, ainda que esta diferença não
tenha sido significativa no caso das cartas não prioritárias. Na zona prioritária,
o valor de densidade calculado para a Primavera de 1999 (0.041 machos/ha ±
Erro Padrão = 0.006) foi significativamente superior ao agora obtido (t = 2.64, P
= 0.009), mas na área não prioritária a densidade obtida na Primavera de 2000
(0.015 machos/ha ± 0.002) não foi estatisticamente superior ao valor obtido na
Primavera de 2003 (t = 1.63, P = 0.108).
Há que notar que o processo de enchimento da albufeira reduz a área
disponível para os sisões, pelo que a redução de densidade registada,
particularmente na zona prioritária, implica uma redução do número total de
sisões presentes na área de estudo proporcionalmente superior ao nível de
diminuição da sua densidade. Esta variação negativa tanto poderá ter resultado
da redução da população de sisões na região, como pela deslocação de parte
da população reprodutora para zonas adjacentes não consideradas neste
estudo.
Dado que se verificou uma redução importante dos efectivos
populacionais da espécie na área monitorizada, é importante continuar a seguir
a evolução desta população, de preferência considerando também cartas
adjacentes não consideradas até agora, e acompanhar a variação do uso do
solo e das actividades humanas na região, para que se possa ter uma visão
fundamentada do que se está a passar e poder agir ao nível da gestão agrícola
e ambiental de modo a garantir a conservação desta população.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 10
3.3 Cortiçol-de-barriga-preta Esta espécie foi também observada de forma menos frequentemente, mas
geralmente nas mesmas regiões em que ocorreu na 1ª fase da monitorização.
Como alterações principais, registe-se a sua maior escassez na área de São
Marcos do Campo (carta 482) e na zona da Granja (carta 492). A população de
toda a área de estudo foi estimada em cerca de 40 indivíduos.
3.4 Alcaravão A espécie ocorreu nas mesmas zonas do que na 1ª fase da monitorização, mas
foi observada de forma menos frequente. Foram observados 81 indivíduos
durante os trabalhos de Atlas (n= 69 observações). 3.5 Rolieiro Foram efectuadas 5 observações de rolieiros, e um total de 9 indivíduos. Estes
resultados sugerem uma redução do efectivo reprodutor (estimado em 10-20
casais na 1ª fase da monitorização). O decréscimo na população desta espécie
foi particularmente evidente nas cartas 483 e 482.
3.6 Perdiz-do-mar Esta espécie ocorreu de forma mais dispersa que o observado na 1ª fase da
monitorização, onde tinha ocorrido concentrada na envolvência de uma
albufeira onde se localizava a principal colónia conhecida. Durante a Primavera
de 2003, ocorreu na mesma região (carta 482) mas foram também efectuadas
observações nas cartas 483, 492 e 491. A população observada durante o
trabalho de Atlas foi estimada em 30-40 indivíduos.
3.7 Variação espacial da riqueza específica para as espécies estepárias prioritárias O padrão de variação espacial de riqueza específica (número de espécies
prioritárias por quadrícula) durante a Primavera reflecte a diminuição
generalizada das abundâncias e áreas de ocorrência das espécies-alvo. Ainda
são identificáveis as três áreas de maior diversidade (São Marcos do Campo,
Mourão e Granja), mas a riqueza específica é globalmente menor do que o
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 11
registado na 1ª fase do projecto. Nas restantes áreas observa-se igualmente
uma diminuição na riqueza, devido ao desaparecimento local das duas
espécies mais ubíquas (sisão e alcaravão).
4. ANÁLISE COMPARATIVA DA SITUAÇÃO PRÉ E PÓS-ALBUFEIRA DO ALQUEVA
4.1 Abetarda Durante a 1ª fase do projecto a espécie ocorreu em 3 núcleos principais
durante a época reprodutora: Mourão, Granja e São Marcos do Campo. Na
monitorização posterior a espécie ocorreu de forma mais localizada, tendo-se
registado o seu desaparecimento de um dos núcleos atrás referidos (São
Marcos do Campo). Durante o Inverno a espécie ocorreu de forma mais
dispersa mas com um importante efectivo populacional concentrado na região
de Mourão. Durante a 2ª fase da monitorização houve uma diminuição no
número de observações e extensão de ocorrência da espécie.
A população média estimada para a área de estudo, durante a época de
reprodução, diminuiu de 45-55 indivíduos, na 1ª fase da monitorização, para
cerca de 20 (excluindo a primeira contagem da 2ª fase da monitorização, que
incluiu um grande “lek” sobre a linha de fronteira). Durante o Inverno aumentou
o número de abetardas ocorrentes na área de estudo (50-100 indivíduos), não
se tendo registado diferenças notórias entre as 2 fases da monitorização.
Grande parte do declínio na área de ocorrência e dimensão populacional desta
espécie deverão ter sido devidas a alterações de habitat, com destaque para a
implantação de olivais, vinhas e de outros cultivos de regadio. O efeito desta
perda de habitat reflectiu-se de forma mais evidente durante a época
reprodutora, já que parte das zonas anteriormente conhecidas de paradas
nupciais sofreram os efeitos das alterações agrícolas.
O desaparecimento da espécie da zona de São Marcos pode ter sido um
evento episódico que só futuras monitorizações poderão confirmar. Será difícil
testar a hipótese anteriormente formulada (Moreira et al. 2000), de que o
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 12
possível desaparecimento da região se poderá dever a um efeito-de-barreira da
albufeira, e que dificultaria a dispersão de indivíduos de Mourão – Granja para
esta zona.
4.2. Sisão Foi a espécie com distribuição mais ampla na área de estudo. Registou-se uma
grande diminuição na sua extensão de ocorrência, bem como área de
ocupação, da 1ª para a 2ª fase da monitorização, tendo desaparecido de várias
áreas. Este facto foi mais evidente durante a época de reprodução, em que a
espécie apresenta uma distribuição mais ampla do que durante o Inverno.
Durante o Inverno a espécie foi menos abundante durante a 2ª fase da
monitorização (663 indivíduos observados durante o Atlas, contra 1210 na 1ª
fase) e ocorreu de forma mais agregada (o número médio de indivíduos em
cada bando aumentou de 39 para 59). No entanto, as estimativas baseadas
nos transectos lineares apontam para uma estimativa de cerca de 3000 sisões
invernantes, tendo sido este número constante nas 2 fases da monitorização.
Durante a época reprodutora, foram observados apenas 180 indivíduos durante
os trabalhos de Atlas da 2ª fase da monitorização, contra 494 na 1ª fase.
As estimativas baseadas nos transectos lineares apontam para uma estimativa
de cerca de 2400 machos durante a 1ª fase, que terá sofrido uma redução para
metade (cerca 1200 machos) na 2ª fase da monitorização.
Tal como na abetarda, parte do declínio na extensão de ocorrência e dimensão
populacional desta espécie deverão ter sido devidas a alterações de habitat,
com destaque para a diminuição das áreas de pousio. Só uma análise mais
detalhada, fora do âmbito deste trabalho, poderá permitir aferir essa
possibilidade. Este declínio foi, no entanto, bastante evidente em toda a área
de ocorrência da espécie, não se podendo atribuir primariamente à construção
da albufeira.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 13
4.3. Cortiçol-de-barriga-preta Registou-se igualmente uma diminuição na sua extensão de ocorrência e área
ocupada na época reprodutora, da 1ª para a 2ª fase da monitorização. Durante
o Inverno o número de observações foi sempre bastante escasso, apesar de
ligeiramente maior durante a 2ª fase.
A população na área de estudo poderá ter diminuído ligeiramente na 2ª fase da
monitorização. O importante núcleo invernante em São Marcos do Campo,
detectado durante a 1ª fase, parece ter desaparecido.
O cortiçol-de-barriga-preta deverá ter mantido uma população relativamente
estável na área de estudo, apesar de ter diminuído a sua extensão de
ocorrência. Parte desta diminuição poderá ser explicada pela perda de habitats,
tal como mencionado anteriormente para outras espécies de estepárias.
Tal como para a abetarda, é difícil testar a hipótese anteriormente formulada
(Moreira et al. 2000), de que a diminuição observada na região de São Marcos
do Campo se poderá dever a um efeito-de-barreira da albufeira, e que
dificultaria a dispersão de indivíduos de Mourão – Granja para esta zona.
4.4. Alcaravão Ocorreu, grosso modo, nas mesmas áreas em ambas as fases da
monitorização, apesar de o número de observações ter sido menor durante a
2ª fase.
O número de indivíduos observado durante o Inverno foi menor durante a 2ª
fase da monitorização (114, contra 209 na 1ª fase). Durante a época
reprodutora, foram observados 81 indivíduos durante o trabalho de Atlas,
número semelhante ao observado durante o Atlas da 1ª fase (102 indivíduos).
Esta foi a espécie identificada na 1ª fase da monitorização como podendo ser a
que sofreria maior impacto decorrente da implementação da albufeira (Moreira
et al. 2000).
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 14
Os resultados apontam para uma ligeira diminuição do efectivo populacional, à
semelhança das restantes espécies estepárias.
4.5. Rolieiro Registou uma diminuição na sua extensão de ocorrência e área de ocupação,
da 1ª para a 2ª fase da monitorização.
Estimou-se uma diminuição do efectivo reprodutor, de 10-20 casais para cerca
de 5 casais.
A diminuição populacional ocorrida durante o período de estudo poderá ter
causas várias difíceis de diagnosticar. A perda de habitat poderá ser uma
delas, mas flutuações inter-anuais no número de indivíduos migradores de
África podem também explicar o resultado observado.
4.6. Perdiz-do-mar Registou um aumento na sua extensão de ocorrência, da 1ª para a 2ª fase da
monitorização, ocorrendo em áreas onde não tinha sido previamente
observada
Apesar do aumento na extensão de ocorrência, estimou-se uma diminuição do
efectivo reprodutor estimado, de 70-80 indivíduos para 30-40 aves.
É possível que as acções de desmatação e a subida do nível da água tenham
provocado um aumento da disponibilidade de habitat de nidificação para a
perdiz do mar. No entanto, a espécie continua a depender de sistemas
agrícolas extensivos como principal habitat de alimentação. Monitorizações
futuras poderão esclarecer a tendência populacional na região. À semelhança
do rolieiro, sendo uma espécie migradora transahariana, a diminuição
populacional observada poderá ter várias causas.
4.7. Grou-comum Manteve o seu padrão de distribuição geográfica, da 1ª para a 2ª fase da
monitorização.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 15
A dimensão da população invernante, bem com a sua flutuação ao longo do
tempo, foi semelhante entre as 2 fases da monitorização.
A espécie parece ter-se mantido numa situação estável, entre a 1ª e a 2ª fase
da monitorização.
4.8. Tarambola-dourada Manteve o seu padrão de distribuição geográfica, da 1ª para a 2ª fase da
monitorização.
O número de indivíduos observados durante o trabalho de Atlas foi ligeiramente
superior na 2ª fase da monitorização (cerca de 950 indivíduos, contra 894 na 1ª
fase).
No entanto, as estimativas baseadas nos transectos lineares apontam para um
aumento brutal no número de tarambolas na área de estudo de 3300 indivíduos
durante a 1ª fase da monitorização para 30000 aves durante a 2ª fase.
Sendo uma espécie migratória, é de esperar que uma variação da ordem de
grandeza observada seja devida a variações inter-anuais nos fluxos
migratórios.
4.9 Variação espacial da riqueza específica
Em resultado da diminuição verificada nas extensões de ocorrência para várias
das espécies estudadas, verificou-se uma diminuição generalizada na
distribuição espacial da riqueza específica, bem como nos valores máximos
registados. Durante a época reprodutora essa diminuição foi particularmente
notória nas zonas de São Marcos do Campo e Mourão. Durante o Inverno, a
diminuição foi igualmente verificada nestas duas áreas. Na zona de Mourão, as
áreas de maior riqueza passaram a concentrar-se ao longo de uma faixa
estreita adjacente à fronteira.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 16
5. CONCLUSÃO Em resumo, o estado de conservação global da avifauna estepária na área de
estudo piorou entre a 1ª e 2ª fase da monitorização. Esta degradação deveu-se
simultaneamente a uma diminuição na extensão geográfica de ocorrência e a
uma redução populacional verificada em várias espécies. O impacto directo da
desmatação e enchimento da albufeira de Alqueva poderá ter contribuído para
esta situação, mas a ter existido, possivelmente terá sido pouco significativo.
Considera-se que as razões principais para as diferenças observadas se
prendem sobretudo com as alterações agrícolas nos habitats estepários,
expressas através da intensificação agrícola em vários locais da área de
estudo.
Fica por demonstrar se a degradação verificada na zona de São Marcos do
Campo pode ser atribuída a uma diminuição da conectividade desta zona com
as principais zonas estepárias localizadas próximo da fronteira e do lado
espanhol. Esta diminuição pode ter sido provocada por um efeito-de-barreira
causado pelo braço principal da albufeira.
6. BIBLIOGRAFIA CITADA
Buckland, S.T., Anderson, D.R., Burnham, K.P. & Laake, J.L. (1993). Distance
Sampling: Estimating Abundance of Biological Populations. Chapman and
Hall, London.
Laake, J.L., Buckland, S.T., Anderson, D.R. & Burnham, K.P. (1993).
DISTANCE User's Guide. Version 2.0. Colorado Cooperative Fish and
Wildlife Research Unit, Colorado State University, Fort Collins.
Moreira, F., Morgado, R., Delgado, A., Leitão, N., Pessoa, G., Vaz Pinto, P.,
Borralho, R., Beja, P., Abelho, B., Silva, P., Dias, S., Capelo, M., Reino, L.,
Gordinho, L., Pereira, P., Pereira, M. & Correia, M. (2000). Programa de
Monitorização do Património Natural – Aves Estepárias – Relatório Final.
CEABN, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa.
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 17
ANEXOS
Mapa de ocorrência – Primavera 2003 Otis tarda
Mapa de ocorrência – Primavera 2003 Tetrax tetrax
Mapa de ocorrência – Primavera 2003 Pterocles orientalis
Mapa de ocorrência – Primavera 2003 Burhinus oedicnemus
Mapa de ocorrência – Primavera 2003 Coracias garrulus
Mapa de ocorrência – Primavera 2003 Glareola pratincola
Mapa de riqueza específica – Primavera 2003
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 18
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 19
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 20
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 21
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 22
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 23
Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” 24