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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS HARRY POTTER: UM CHAMADO AO LEITOR Ana Cláudia Munari Domingos Pelisoli

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

HARRY POTTER: UM CHAMADO AO LEITOR

Ana Cláudia Munari Domingos Pelisoli

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL

FACULDADE DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

HARRY POTTER: UM CHAMADO AO LEITOR

Ana Cláudia Munari Domingos Pelisoli

Projeto de Doutorado

Professor: Dr. Vera Teixeira de Aguiar

Porto Alegre, setembro de 2006.

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SUMÁRIO

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO...........................................................................................7

1.1 INSTITUIÇÃO..........................................................................................................................7 1.2 ORIENTADORA ......................................................................................................................7 1.3 ALUNA..................................................................................................................................7 1.4 PROJETO................................................................................................................................8

2 TEMA .....................................................................................................................................9

2.1 DELIMITAÇÃO ........................................................................................................................9 2.2 ÁREA TEMÁTICA ..................................................................................................................15 2.1 JUSTIFICATIVA .....................................................................................................................25

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..........................................................................................33

4 HIPÓTESE E QUESTÕES NORTEADORAS ................................................................41

5 OBJETIVOS ........................................................................................................................43

6 METODOLOGIA................................................................................................................44

7 CRONOGRAMA.................................................................................................................49

8 SUMÁRIO POSSÍVEL .......................................................................................................51

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................53

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1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1.1 INSTITUIÇÃO

Nome: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Reitor: Dr. Ir. Joaquim Clotet Endereço: Av. Ipiranga, 6681 Porto Alegre (RS) E-mail: [email protected] Unidade: Faculdade de Letras Diretora: Dr. Eunice Moreira Órgão: Programa de Pós-Graduação em Letras Coordenadora: Dr. Regina Lampert

1.2 ORIENTADORA

Nome: Dr. Vera Teixeira de Aguiar Endereço: Rua Luís de Camões, 124 Porto Alegre (RS) E-mail: [email protected]

1.3 ALUNA

Nome: Ana Cláudia Munari Domingos Pelisoli Endereço: R. Dr. Barros Cassal, 666/502 Porto Alegre (RS) E-mail: [email protected]

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1.4 PROJETO

Título: Harry Potter: um chamado ao leitor Área de concentração: Teoria da Literatura Linha de pesquisa: Literatura Infanto-Juvenil, Leitura e Ensino

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2 TEMA

2.1 DELIMITAÇÃO

Os estudos da recepção dependem, em tese, dos testemunhos do leitor, à medida que

investigam a apreensão dos textos literários, seja através de métodos histórico-sociológicos,

por meio da análise dessa recepção, ou ainda teorético-textuais, em que o texto se configura

como possibilidade de efeito – efeito esse que estaria ligado às concretizações possíveis por

um receptor; no entanto, que métodos seriam capazes de dar conta da assimilação por um

leitor como este que, hoje, nos primeiros anos do século XXI, navega por páginas virtuais?

Se, como diz Barthes (2003), não é possível conceber escritores realistas como Zola e Proust

em nosso tempo, visto estarmos em um mundo diferente daquele que os viu escrever, da

mesma forma devemos imaginar que existe um novo leitor: um leitor que, como o próprio

Barthes (2003) já proclamava, não é apenas um consumidor, mas um produtor de textos.

O que dizer de um leitor que utiliza a imaginação não apenas para ler o texto, mas para

escrevê-lo? É com a intenção de alcançar esse novo receptor – um leitor-escritor – que este

estudo pretende percorrer os seus caminhos, buscando revelar as concretizações que ele

realiza através de sua escrita e ao preencher as lacunas do texto.

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O objeto de estudo deste trabalho é a série de narrativas Harry Potter, de Joanne

Kathlen Rowling – que, em 2007, pretende-se um total de sete volumes –, visto não apenas

terem alcançado um grande número de leitores, mas justamente porque sua recepção

configura-se de forma peculiar.

O primeiro livro de J. K. Rowling, Harry Potter and the Philosopher’s Stone (Harry

Potter e a Pedra Filosofal), foi escrito entre os anos de 1991 e 1995, sobre uma idéia que a

autora teve, em 1990, quando fazia uma viagem de trem entre Manchester e Londres. Quando

ela chegou na estação King’s Cross, a história do menino que descobre que é um bruxo aos

onze anos de idade já estava mentalmente organizada. Ela imaginou dividir a história em sete

livros, cada um deles contando um ano que Harry passaria na Escola de Hogwarts para

completar o curso de bruxaria. Até hoje, seis já foram escritos e publicados. O primeiro livro,

depois de ser rejeitado por nove editoras, foi editado pela Bloomsbury, na Grã-Bretanha, em

1997, logo depois, pela Scholastic, nos Estados Unidos, e rapidamente tornou-se o livro mais

vendido nesses países.

Harry Potter é a personagem principal de toda a saga imaginada por Rowling. Quando

a história do primeiro livro começa, ele está completando onze anos de idade e, justamente no

dia de seu aniversário, 31 de julho (aliás, o mesmo dia em que a autora comemora o seu),

descobre que é um bruxo, como eram seus pais, que não morreram de acidente como seus tios

lhe contaram, mas foram assassinados pelo bruxo mais poderoso do mundo, Lord Voldemort,

o responsável pela cicatriz em forma de raio em sua testa. Nesse dia, Harry é convocado para

a Escola de Magia de Hogwarts, um lugar misterioso para onde somente os bruxos escolhidos

podem ir para serem educados nas artes mágicas. A partir daí, são narradas as aventuras de

Harry, desde a partida da Estação King’s Cross, plataforma 9 ¾ (9 ½ na tradução), pelo

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Expresso Hogwarts, rumo à escola para o ano letivo, até a volta à casa dos tios para as férias

de verão.

O segundo livro, Harry Potter and the Chamber of Secrets (Harry Potter e a Câmara

Secreta), cujos direitos de publicação já tinham sido vendidos juntamente com os cinco livros

que ainda seriam escritos, foi publicado simultaneamente na Inglaterra e nos Estados Unidos,

em 1998. A essa altura, a pottermania já estava instalada, e muitas crianças, jovens e adultos

aguardavam a continuação da história.

Depois de três anos de espera, quando a autora diz que se deu umas férias, o quinto

livro, Harry Potter and the Order of the Phoenix (Harry Potter e a Ordem da Fênix) chegou às

livrarias de todo o mundo, em 2003, batendo recordes mundiais – foi o livro que atingiu o

maior número de pré-vendas da história, além de ocupar o primeiro lugar na lista dos mais

vendidos. Da mesma forma, rapidamente as questões do quinto livro tornaram-se preferência

do leitor na produção de fan fictions1, agora extensamente publicadas na internet, em sites

específicos, em links do mais diversos portais e em blogs.

Em 1999, chegou às livrarias inglesas e norte-americanas o terceiro livro da série,

Harry Potter and Prisoner of Azkaban (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban). Nunca o

mercado editorial tinha presenciado tamanha busca por um livro, que já então tinha dia e hora

marcados para o lançamento, com as livrarias organizando listas de reserva, e os fãs

aguardando na porta, fantasiados de bruxos. O terceiro livro foi capa da revista Time e

resenhado por Stephen King, um dos fãs da série.

1 Histórias criadas por fãs de narrativas das mais diferentes formas e tipos – histórias em quadrinhos, romances, séries televisivas, filmes, etc., como explicaremos no decorrer deste projeto.

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À época do lançamento do terceiro livro, intensificaram-se as traduções e publicações

em outros países. No Brasil, os três primeiros livros foram editados em 2000, quando já

estava sendo lançado o quarto, Harry Potter and the Globe of Fire (Harry Potter e o Cálice de

Fogo), na Inglaterra e nos Estados Unidos, que aqui chegou em 2001. Foi nessa época que

surgiram na internet as primeiras fan fictions brasileiras sobre o bruxinho (fenômeno que já

vinha ocorrendo nos países de língua inglesa desde 1998) – em 2001 foi criado o website

Edwigeshomepage, e, em 2002, surgiu a livraria virtual Floreioseborroes, a seção de fics do

site Potterish, especializado em Harry Potter.

O sexto livro, cuja conclusão pela autora no dia 20 de dezembro de 2004 foi alardeada

pelos quatro cantos do mundo, foi lançado, nos países de língua inglesa, simultaneamente, no

dia 16 de julho de 2005, exatamente à meia-noite (20h em Brasília), quando as portas das

livrarias foram abertas para receber leitores de todas as idades, raças e credos – devidamente

paramentados para a ocasião: longas vestes negras, capas púrpuras, chapéus e vassouras. Em

Edimburgo, onde vive, Rowling reuniu crianças de todo o mundo, que ganharam um concurso

promovido para esse fim, para a leitura do primeiro capítulo do novo livro, o que ela mesma

fez logo depois da meia-noite. A expectativa de vendas era de que a última aventura de Harry

ultrapassasse os números do quinto livro, alcançando 10 milhões de cópias nas primeiras 24

horas do lançamento, o que quase se confirmou: só nos Estados Unidos, foram vendidos 6,9

milhões nesse período. As vendas on-line também surpreenderam, o sexto livro bateu o

recorde do livro anterior e atingiu a impressionante marca de 1,5 milhões de livros vendidos,

apenas no site Amazon.com, nas primeira horas da madrugada de sábado.2 No Brasil, a

livraria Cultura, que vende livros importados e adquiriu 18.000 cópias, registrou 3.000 pré-

vendas do sexto livro em inglês, e também promoveu atividades para o lançamento.

2 Agência AFP. Disponível em: <http://criancas.terra.com.br/harrypotter/interna/0,,OI595219-EI4249,00.html e http://criancas.terra.com.br/harrypotter/interna/0,,OI594087-EI4249,00.html>. Acesso em: 18 jun de 2005.

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A peculiaridade da recepção da série de Rowling é verificável na atitude do leitor, que

tem manifestado uma resposta material à leitura: a produção de textos sobre Harry Potter.

Essa produção invadiu a internet, por enquanto seu único suporte, e vem atraindo novos

adeptos a cada dia. As fanfics3 são narrativas que os internautas escrevem e publicam na rede

sobre suas histórias preferidas, sejam elas romances, histórias em quadrinhos, séries,

telenovelas, filmes, jogos, músicas, etc.

Atualmente, grande parte dessas fanfics fala sobre as personagens da obra de Rowling

– às vezes, inventando novos acontecimentos no mesmo espaço e tempo; em outras,

procurando preencher os vazios do texto original, seja fazendo relações ou de forma criativa –

e são postadas na rede em websites específicos ou naqueles cujo tema seja a própria série

Harry Potter. O maior site do gênero, o norte-americano fanfiction.net, tem como única

finalidade a postagem de fan fictions nas categorias anime/manga, book, cartoon, comic,

game, misc, movie e tele show, e reúne um grande número de textos em várias línguas,

dependendo da origem do escritor. Na categoria livro, há 255 nomes de obras ou autores cujos

fãs têm suas histórias publicadas, de Peter Pan a Jane Austen. A quantidade de títulos para

cada uma dessas obras varia muito, vai de apenas 1 a 37.854 (esse é o número de fics de O

Senhor dos Anéis, o vice-campeão da lista, que inclui as 788 de Shakespeare, as 344 de

Stephen King, as 142 de Alice no País das Maravilhas, as 1.786 de Artemis Fowl e as

recentes 106 de O código Da Vinci). Cada categoria apresenta temas e títulos de acordo com

originais pré-existentes, no caso de movie, por exemplo, são 356 nomes. O campeão de

postagens, nessa categoria, atualmente, é Star wars, com 15.832 fanfics. Nas outras

categorias, os primeiros lugares apresentam: 61.826 – Inuyasha, em anime/manga; 13.441 –

Final Fantasy, em game; 9.754 – Wrestling, em misc; 16.8644 – Teen Titans, em cartoon;

3 Espécie de forma apocopada de fanatic fiction, ou fan fiction, que, na tradução literal, significa ficção de fã ou histórias ficcionais criadas por fãs. As duas formas, fan fiction, ou fanfic, são igualmente utilizadas. O

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7.172 – X-Men, em comic; e 29.109 textos – Buffy: the vampire slayer, em tv-show. Os filmes

sobre Harry Potter não estão incluídos na categoria movie, assim como nenhum livro que

tenha sido adaptado ao cinema, pois o que parece valer é o original, embora Superman esteja

representado, além de em comics, também em movie, mas com apenas um texto. Ao

analisarmos a quantidade de fan fictions em cada categoria, incluindo aí aquelas que têm o

maior número de postagens, torna-se evidente e surpreendente a diferença entre essas e a

quantia apresentada pelo fandon de Harry Potter: são 251.033 fics em 29 línguas. Há uma

relação entre esse dado e o número de leitores, certamente, mas é possível a existência de

outro elemento que leve os receptores de Harry Potter a serem aqueles que publicam o maior

número de fanfics?

Buscando compreender esse acontecimento, este trabalho envolve, portanto, dois

aspectos que se completam: (a) optando por métodos teorético-textuais, busca, de um lado,

identificar no texto de J. K. Rowling os elementos que motivam essa resposta do leitor, tal

como sugere Iser (1999a):

É que a leitura só se torna um prazer no momento em que nossa produtividade entra em jogo, ou seja, quando os textos nos oferecem a possibilidade de exercer as nossas capacidades (p.10).

Ainda conforme Iser, são os vazios do texto os responsáveis por invocar a

participação do leitor, prevendo, assim, determinado efeito. Esse efeito, o segundo aspecto a

ser examinado neste trabalho (b), tem como objeto a produção escrita do leitor, ou as

possibilidades que ele elabora para os vazios do texto através das fan fictions. Tais lacunas

seriam justamente as possibilidades que o texto Harry Potter oferece ao seu leitor, permitindo

diminutivo fic também tem o mesmo sentido.

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as suas entradas e que, aqui, serão verificadas a partir do exame das zonas de indeterminação.

Orientada pelo texto, esta análise elege a Teoria do Efeito, de Wolfgang Iser, como substrato

para a interpretação. É no caminho de suas idéias que este trabalho tem como tema a

participação do leitor de Harry Potter: análise da recepção através do exame da produção de

fan fictions.

2.2 ÁREA TEMÁTICA

Apenas ao final do século XVII é que surgiram os primeiros livros infantis, quando o

modelo de núcleo familiar do qual se compunha a classe burguesa passou a vigorar

(Zilberman, 2003). Escritos por educadores, eles tinham a finalidade de suprir as escolas de

material pedagógico e, para tanto, traziam histórias repletas de ensinamentos e preceitos

morais. Esse pragmatismo arraigado ao nascimento da literatura infantil ainda hoje é objeto de

discussão por grande parte dos teóricos da literatura, para quem a Arte não deve ter essa

finalidade. O fato de que as narrativas infantis são escritas pelos adultos só vem a reforçar o

caráter ideológico do gênero, como descreve Zilberman (2003):

Nessa medida, também a obra literária pode reproduzir o mundo adulto: seja pela atuação de um narrador que bloqueia ou censura a ação de suas personagens infantis; seja pela veiculação de conceitos e padrões comportamentais que estejam em consonância com os valores sociais prediletos; seja pela utilização de uma norma lingüística ainda não atingida por seu leitor, devido à falta de experiência mais complexa na manipulação com a linguagem (p.23).

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Se o fim prático afasta a Literatura Infantil da Arte, por outro lado, a escola permanece

como espaço propício ao seu desenvolvimento, seja para oferecer, através das bibliotecas, um

extenso rol de títulos, seja para a compreensão e a troca de sugestões em sala de aula.

Afastadas as discussões que cercam a Literatura Infantil, desde o próprio conceito de

gênero atrelado ao seu receptor até a definição de seu objeto – obras eleitas pelo seu leitor ou

por instituições educacionais, textos que se identifiquem com o mundo infantil ou a visão

adultocêntrica do mundo adaptada para a criança, suporte para a experimentação e para o

deleite da infância ou instrumento de formação –, restam ainda outras mais urgentes à medida

que investigam a aproximação entre Literatura Infantil e seu receptor. Aqui, as perguntas

estão relacionadas tanto às questões primeiras de gênero e cânone quanto, e

consecutivamente, para os temas que dizem respeito à formação desse leitor. Afinal, o que

separa a literatura capaz de atrair o jovem e contribuir para sua formação daquela que não tem

esse rótulo? A literatura infantil diferencia-se apenas por trazer a marca de seu receptor? É o

jovem o responsável por fazer essa delimitação, elegendo o acervo que a compõe? E aqui se

misturam as duas questões – leitura como atividade pedagógica e cânone literário: a quem

cabe selecionar as obras dirigidas, e indicadas, ao leitor infanto-juvenil – a escola ou o próprio

receptor? Ou seja, cabe pensar não apenas que livros integram a Literatura Infantil, mas, sim,

que livros agradam aos leitores infantis e, principalmente, tornam-no um leitor hábil,

constante e crítico.

A imposição da leitura, dada pela escola ao educando logo que alfabetizado, costuma

ativar reações muito próximas, que podem começar com “Uma chatice!”, “Detesto este livro”,

“Odeio esse autor”, e terminar com “Não gosto de ler”, e ponto final. São freqüentes os

debates entre pedagogos, professores, especialistas em educação e até críticos literários, sobre

os temas que dizem respeito à presença do livro na escola: dos pedagógicos aos literários,

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passando pelos paradidáticos, muito já foi discutido em relação à obrigatoriedade, formas,

interpretação e valor da leitura. Atualmente, esses estudos têm levado à noção de que o ato de

ler deve gerir-se pelo princípio do prazer que evoca – o resto seria conseqüência. A

compreensão da qualidade estética pressupõe, antes, a fruição. E aqui o resultado dessa

relação entre texto e leitor pode enveredar por dois caminhos: para Barthes (2004), o prazer

que o texto provoca está relacionado ao deleite e ao conforto; já a fruição emana do texto que

importuna, desacomoda ao ultrapassar os horizontes do leitor. Se a escola tem um dever a

cumprir na formação de leitores, que este seja o de possuir uma instigante biblioteca, recheada

de livros para o prazer e a fruição de diferentes indivíduos. E o papel dos educadores nesse

entremeio está em conhecer, gostar de, e apresentar a literatura aos seus pupilos.

Nessa verdadeira cruzada pela formação de leitores, outra questão tem sido foco de

constantes discussões entre os educadores: os clássicos – oferecê-los, exigi-los, ignorá-los?

Antes: que vem a ser um clássico? Para alguns estudiosos, o clássico é aquela obra que

ultrapassa fronteiras: se interessa e agrada a leitores entre oito e oitenta anos, ultrapassa a

fronteira da idade; se é traduzido em vários idiomas e lido em várias partes do mundo,

conquistando pessoas de costumes e culturas heterogêneos, ultrapassa a fronteira do espaço;

se o livro, escrito e lido por gerações passadas, ainda é capaz de fazer surtir no leitor aquela

fruição de que falava Barthes, permanecendo atual e ainda conquistando leitores, ultrapassa a

fronteira do tempo. Esses seriam os clássicos. Ou ainda aquelas obras que são freqüentemente

citadas por outros autores, ou aquelas que são editadas repetidamente, ou, nas palavras de

Ítalo Calvino (1993):

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Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual (p.10,11).

Sobre a pergunta que naturalmente surge – por que ler os clássicos? – Calvino (1993)

nos responde que é simplesmente melhor lê-los do que não os ler. No entanto, se retornamos à

sua afirmação de que o clássico se institui pela memória e perpassa o inconsciente coletivo ou

individual – e aqui nos interessa essa última alternativa, o indivíduo – cabe-nos pensar que a

eleição de um clássico entre obras infanto-juvenis transita por uma instância pessoal: o

julgamento de um adulto. Novamente, se à escola cabe o papel de estabelecer as leituras que

alguém deve realizar para conhecer e apreciar a literatura, é o professor quem vai eleger e

indicar os seus clássicos, além daqueles já eleitos pela humanidade. E quais seriam esses

clássicos? Monteiro Lobato em prosa e Cecília Meireles em verso, para os pequenos?

Seguindo a direção nacionalista, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, para os

maiores? Irmãos Grimm, Charles Perrault e Hans Christian Andersen para as crianças

ocidentais? Júlio Verne, C. S. Lewis, Mark Twain? Seguindo a orientação do rompimento de

fronteiras, já poderíamos chamar os livros de Ruth Rocha de clássicos? Lygia Bojunga?

Werner Zotz? Pedro Bandeira? E Joanne Kathleen Rowling?

Harry Potter, a série de Rowling, já ultrapassou algumas fronteiras: suas narrativas

conquistaram leitores de várias idades, foram traduzidas em 62 idiomas, publicadas e re-

editadas em vários países e já venderam mais do que qualquer clássico da literatura. São

campeãs de referência nos websites de busca na internet e citadas nas mais diversas mídias:

desenhos animados, histórias em quadrinhos, filmes, músicas, livros. Nesse sentido, já entrou

para a História da Literatura Infanto-Juvenil. Resta-nos aguardar a passagem do tempo e a

inconstância da memória humana.

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Conquistar leitores não é tarefa fácil, principalmente ultrapassar a fronteira cultural e

lingüística, como Rowling foi capaz. Suas narrativas tornaram-se um fenômeno mundial de

leitura em três anos – entre 1997 e 2000, quando apenas três livros haviam sido editados. O

grande número de leitores que ela tem conquistado desperta uma grande curiosidade em

relação aos motivos desse sucesso. No universo brasileiro atual, em que a leitura não é uma

atividade que ocupa a preferência dos jovens – de um lado porque o livro não está ao alcance

de grande parte da população, de outro porque concorre com outras opções um tanto atrativas

para essa faixa etária, como a música, o esporte, ou mais modernas, como os vídeo-games, a

internet e as lan houses – por que, então, Harry Potter é tão lido?

Em artigo para a revista Superinteressante, “Os sete segredos de Harry Potter”, o

escritor Luís Augusto Fischer (2004) relaciona alguns motivos que podem justificar o

prestígio popular de Harry Potter, que vão desde a temática até as jogadas de marketing da

editora. Para Fischer, os livros de J. K. Rowling são boa literatura, afirmação essa que ele

justifica pela composição dos elementos da trama: a escolha e caracterização das personagens,

a estrutura do enredo e o manejo do tempo. A definição autêntica das personagens, que

ostentam qualidades e defeitos, tanto aquelas que estão do lado do bem quanto as que

antagonizam Harry, torna-as extremamente humanas e nítidas para o leitor. A escolha por

uma narrativa de suspense dividida em volumes atrai pela curiosidade em conhecer o

desfecho, embora cada história tenha um nó singular a desvendar. A trama vai ficando cada

vez mais densa à medida que novas personagens vão surgindo, enigmas vão sendo

desvendados e outros mistérios se multiplicam, porque cresce o suspense em relação ao fio

que conduz todas as histórias. Essa densidade, no entanto, não implica detrimento da fruição

da leitura, porque, conforme Fischer, a autora sabe muito bem manejar as relações entre as

personagens, os vários subenredos e a diversidade mitológica com a qual lida. E o tempo é

outro elemento que corrobora para esse fluir, pois, embora trate de elementos universais e de

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uma mescla de culturas – lendas, tradições e mitos –, ele se desenrola em torno de uma vida

única, a de Harry.

Além da qualidade literária, Fischer enumera ainda características inerentes ao enredo

que contribuem para o sucesso da obra de Rowling: a escola como microcosmo, a realidade

fantástica, a presença justificada de sexo e alguma droga e a jornada do herói. O espaço da

escola impele naturalmente o leitor à identificação e ao entendimento de certas estruturas e

papéis comuns a toda sociedade, o que também exime a autora de muitas explicações. Essa

mesma identificação ocorre quando a história apresenta elementos da vida real revestidos de

fantasia; assim, há espaço para a criatividade e a imaginação, mas não se rompe a relação com

o mundo concreto: os alunos de Hogwarts vão para a escola, como toda criança, mas em

carruagens puxadas por testrálios4. Lá, embora entre mágicas, seres estranhos e aulas

mirabolantes, todos têm deveres e direitos que correspondem aos de nossa sociedade; há

estudo, amizade, ciúme, preguiça, temor, namoro, decepção. São atitudes, pensamentos,

desejos e reações comuns a qualquer ser humano. A magia é uma tarefa do dia-a-dia, uma

posição a ser conquistada com dedicação e trabalho, como qualquer profissão ou emprego,

não uma bênção ou uma maldição. O protagonista, Harry, apesar da cicatriz em sua testa,

herança de uma batalha vencida que o distingue dos outros, sofre as agruras de ser órfão e de

ter que conquistar seu espaço em meio a uma sociedade que espera muito dele. E comete

erros, aflige-se, sente-se incapaz, sonha, decepciona-se e realiza.

O leitor sempre espera que Harry seja vitorioso no final, o que acontece, mas

desconhece que vitória será essa. Os ensinamentos virtuosos das histórias de Rowling são

outra qualidade que, conforme Fischer, agradam ao leitor. Para ele, a autora soube desviar da

4 Seres inventados pela autora, uma espécie de cavalo alado que só é visto por quem já viu a morte de perto.

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moral maniqueísta ao apresentar um mundo em que bem e mal estão misturados; há tentações,

erros e acertos. Aqueles que buscam o poder a qualquer custo também possuem virtudes,

mesmo que apenas astúcia e inteligência, enquanto que Harry e seus amigos, por outro lado,

não são exemplos de perfeição e altruísmo, pois fazem escolhas baseadas em seu próprio

benefício, descumprem regras, e têm emoções como raiva, inveja e desconfiança. Os

ensinamentos surgem à medida que os heróis existem, imperfeitos, mas bons exemplos de

gente que deseja vencer por suas próprias virtudes, unidos por um bem comum.

Finalmente, Fischer coloca a força de mercado como impulsora do sucesso das

narrativas de Rowling. Embora diga que “algo maior pareça estar em jogo aqui” (2004, p.67),

o autor entende que a estratégia do lançamento individual de cada livro e a grande quantidade

de produtos associados à obra contribuem fortemente para a conquista desses mais de 320

milhões de leitores (um clássico pode instituir-se através do marketing?). O lançamento de

filmes, cds, jogos, multimídias e brinquedos não diminui, no entanto, o apreço pelos livros de

Harry Potter, que permanecem conquistando muitos leitores. Qual é a magia que atrai tantos

admiradores? O que há nas narrativas de Rowling que provoca a participação de seu leitor de

forma tão peculiar?

Mesmo antes de ser publicado em língua portuguesa, e ainda sem título definitivo, o

sexto volume já era tema para muitas histórias de seus leitores, que já haviam postado uma

tradução na internet apenas três dias depois do lançamento em inglês. Versões para as

possíveis localizações das horcruxes – uma lacuna do original – corriam de tecla em tecla,

gerando uma série de narrativas capazes de explicar o que nem mesmo Harry conseguia

entender. A morte de um dos personagens principais também promoveu uma série de

especulações que envolviam encontrar nos volumes anteriores provas de que ele poderia estar

vivo, como desejava o leitor.

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Em seguida ao lançamento do sexto livro em português, em novembro de 2005, o

volume de postagens de fics sobre Harry Potter foi tão intenso que provocou

congestionamentos na rede, obrigando, inclusive, que um dos websites zerasse, em fevereiro

de 2006, seu arquivo de fan fictions, passando a recadastrar seus escritores e usuários. Uma

prova, talvez, das desvantagens provocadas pela efemeridade do suporte.

As fanfics nasceram dos fanzines5, narrativas que “roubam” personagens ou enredos

de outras histórias e, normalmente, também copiam o formato – história em quadrinhos, por

exemplo –, escritas geralmente por fãs decepcionados com o final de suas séries preferidas.

Na era digital, coube à fan fiction essa tarefa. Esse tipo de narrativa sobre Harry Potter surgiu

em meados do ano 2000, principalmente nos Estados Unidos, e rapidamente se espalhou pelo

mundo, acompanhando o sucesso dos livros. Um dos sites de busca mais utilizados pelos

internautas, o Google, registra 59.100 páginas em português sobre fanfics “harry potter”6; em

novembro de 2004, eram apenas 911 páginas.7

A produção de textos pelos leitores está proporcionalmente relacionada ao sucesso da

obra de J. K. Rowling: é após alguns dias do lançamento de mais um livro que há um grande

número de publicações de fanfics. Hoje, quando mais de 320 milhões de livros foram

5 Fanzine é toda publicação de caráter amador feita por um fã sobre livro, filme, história em quadrinhos, etc. Esse termo vem da contração entre duas palavras inglesas – fanatic magazine – e significa, literalmente, revista do fã. 6 O Google é um dos sites de busca mais utilizados pelos internautas. Esses números foram referenciados através da pesquisa avançada, digitando-se “fanfics” no item “com todas as palavras, e "harry potter” em “com a expressão”. Disponível em: http://www.google.com.br/search?as_q=fanfiction+&num=10&hl=pt-BR&btnG=Pesquisa+Google &as_epq=harry+Potter&as_oq=&as_eq=&lr=lang_pt&as_ft=i&as_filetype=&as_qdr=all&as_occt=any&as_dt=i&as_sitesearch=&as_rights=&safe=images. Acesso em: 20 jun. 2006. 7 Mesma pesquisa. Disponível em: <www.google.com.br>. Acesso em: 12 nov. 2004..

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vendidos, em mais de 200 países e em 62 línguas8, pode-se chamar tal acontecimento de um

verdadeiro fenômeno, ainda mais em se tratando de uma obra que foi inicialmente dirigida ao

público infanto-juvenil. Enquanto o sétimo livro não chega às livrarias, o leitor se encarrega

de preencher o vazio causado pelo fim da história e pelas muitas perguntas sem resposta

escrevendo suas fanfics.

Poderíamos, como na forma pensada por Fischer, investigar as causas da síndrome

Harry Potter em vários aspectos da obra de J. K. Rowling: o universo mágico, a temática

humana, o herói que se desenvolve ao lado do leitor, o misto de aventura, suspense e fantasia,

a caricatura social escondida no mundo bruxo, a campanha de marketing, a passagem para o

cinema, a transformação em produto, a leitura palimpsêstica e envolvente, a divisão em sete

livros, enfim, poderíamos procurar as razões desse fenômeno sob várias óticas – a

psicológica, sociológica, cultural, imanente, etc. No entanto, talvez seja mais apropriado

superestimar o apelo mercadológico apenas quando falamos do acontecimento editorial, mas

não quando relacionamos aqueles sintomas, aqui já referidos, que mostram, empiricamente, a

existência de algo novo no mundo da literatura infanto-juvenil – e da leitura, portanto.

Buscando compreender questões como essas, é natural que se percorra o caminho da

recepção, mas a proximidade com o fenômeno impede uma análise de sua evolução, no

momento ainda comprometida pelo caráter inacabado da série. No entanto, é justamente no

exame de certos contornos dessa recepção que mais claramente apreende-se a peculiaridade

do sucesso dos livros de J. K. Rowling. A análise do universo da leitura, através dos estudos

da Estética da Recepção é, portanto, uma forma coerente de encontrar respostas.

8 Essa informação é amplamente divulgada na Internet, embora ainda não sejam conhecidos dados mais atuais. Esses números também foram citados pela autora em uma entrevista em seu site. No entanto, é através da publicação na revista Times que esses valores se tornaram oficiais. Disponível em: <www.potterish.com.br>. Acesso em: 21 jul. 2004. Enviamos e-mail para a agência literária da autora, a Christopher Little, e para a Editora Rocco, e estamos aguardando resposta.

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A idéia de que o leitor é uma instância ativa na configuração de sentido da obra

literária tomou força com os estudos da Estética da Recepção, quando Hans Robert Jauss deu

os primeiros passos para uma prática da crítica baseada no receptor, em sua aula inaugural na

Universidade de Constança, em 1967 (Costa Lima, 2002). O próprio Jauss afirmou, naquela

ocasião, tratar-se da quebra de um paradigma, já que a sua conferência seria uma reação à

crítica tradicional – à época: marxista, formalista, estruturalista –, que ora considerava o leitor

apenas por sua posição em determinada classe social, ora ignorava-o em prol de uma análise

puramente imanentista, ora relegava-lhe o papel da percepção, em que o sentido do texto

surgiria meramente como um reflexo da produção do autor, captada pelo receptor.

O foco de atenção da Estética da Recepção são os procedimentos de leitura, tomando o

objeto estético como um acontecimento provocado pela relação entre sujeito e obra, em que a

constituição de sentido se daria em função das orientações do texto, de um lado, e, de outro,

dos horizontes de expectativa de um sujeito historicamente situado. Por tal, Jauss propunha

investigar a Literatura através da análise desse diálogo no decorrer da história, tomando-a em

função de sua recepção por sujeitos distintos e em épocas, culturas e pensamentos diferentes.

O procedimento metodológico da estética da recepção é sugerido pela hermenêutica

literária e objetiva colocar em evidência a troca da obra com o receptor, a partir da lógica da

pergunta e da resposta dentro do próprio texto. O princípio da pergunta e da resposta, que se

define metodologicamente como dialético, acompanha Jauss como seu instrumental teórico,

por possibilitar a explicitação do processo de interpretação dos textos e da natureza dialógica

da literatura.

Dentre os estudiosos da Estética da Recepção, além de seu precursor, Jauss, destacam-

se Wolfang Iser, também do grupo de Constança, Jonathan Culler, Norman Holland, Gerald

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Prince e Stanley Fish, esses, da vertente norte-americana, a Reader-Response Criticism,

(Zilberman, 2004) e, mais recentemente, Hans Ulrich Gumbretch, aluno de Jauss radicado nos

Estados Unidos desde 1989, atualmente professor de Literatura Comparada na Universidade

de Stanford. No Brasil, são os estudos de Luiz Costa Lima que têm se voltado mais

expressivamente aos temas da Estética da Recepção.

Wolfgang Iser , ao lado de Jauss, também foi um dos precursores da escola ao lançar,

em 1970, seu ensaio Die Appelstruktur der Texte (A estrutura apelativa dos textos) (Costa

Lima, 2002), em que dava os primeiros acordes na sua Teoria do Efeito. Enquanto os estudos

de Jauss dirigiam-se para uma reconstrução histórica da recepção, em que os juízos de leitores

eram analisados em contextos e momentos específicos, numa perspectiva diacrônica, Iser

buscava descrever o processo de interação entre o texto e o leitor, partindo da noção que a

própria estrutura do texto conforma e controla essa interação. Para Iser, a análise da estrutura

de apelo do texto se configura como eixo fundamental no processo de compreensão dos atos

de leitura.

A Teoria do Efeito, portanto, oferece um modo concreto de examinar a recepção de

Harry Potter, já que permite buscar o leitor dentro do próprio texto, através do exame das

estruturas que condicionam a sua participação, os lugares vazios, que, aqui, julgamos serem

uma das razões principais que tornam a série de Rowling esse fenômeno de leitura.

2.1 JUSTIFICATIVA

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A pesquisa que proponho para tese de Doutorado justifica-se pelo inédito

acontecimento da recepção da série Harry Potter, cuja configuração peculiar tem quebrado

certos paradigmas da Literatura Infanto-Juvenil, conforme desenvolvo a seguir:

A série Harry Potter tornou-se um fenômeno editorial que atingiu um patamar nunca

visto na literatura, sendo superada, em vendas, apenas pela Bíblia e acompanhada de longe

pelo best seller O Código Da Vinci, que vendeu 7 milhões de exemplares.9 Os livros de Harry

Potter – classificados como Literatura Infanto-Juvenil – figuram durante meses no topo das

listas dos mais vendidos, que abrangem obras ficcionais de todos os gêneros e que não

costumam incluir publicações voltadas para o público infanto-juvenil. O sexto livro, lançado

em português em novembro de 2006, bateu um novo recorde: é a obra que atingiu o maior

número de pré-vendas da história, desbancando o volume anterior, que, em seis meses,

vendeu 12 milhões de cópias – 5 milhões nas primeiras 24 horas de seu lançamento.10 No

Brasil, a primeira edição de Harry Potter e o enigma do príncipe, versão em português do

sexto volume, foi de 350.000 cópias.11

Todavia, não são apenas esses números que mostram a peculiaridade do sucesso da

série; há, além deles, uma série de indícios de que algo realmente diferente ocorre no universo

da literatura infanto-juvenil: as narrativas de Rowling agradam a leitores heterogêneos –

idades, classes, gostos distintos; a ansiedade com que os leitores aguardam o lançamento e a

avidez com que realizam a leitura – uma corrida frenética para chegar primeiro ao final e

descobrir os mistérios para os quais ninguém se cansa de criar suposições; a rede de

informações – os leitores trocam interpretações entre eles, procurando saber se algum detalhe

9 Veja online. Disponível em: veja.abril.com.br/070404/p_112.html. Acesso em: 20 jun. 2006. 10 Agência Reuters. Disponível em:<http:// www.crianças.terra.com.br/harrypotter/ultimas>. Acesso em: 9 mar. 2005.

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da história lhes passou despercebido, ou se realmente conseguiram fazer todas as conexões.

Além disso, não satisfeitos com a leitura da última página, seus leitores relêem os textos

anteriores, buscam informações na Internet e em outras mídias, ou até mesmo em outros

livros que falam da série, como os publicados pela autora, que imitam os manuais escolares

utilizados pela personagem principal, Harry.

Neste universo em que a leitura não é uma atividade que ocupa a preferência dos

jovens, o fato de um livro conquistar tantos leitores gera uma série de questionamentos sobre

os motivos desse sucesso: estariam no texto – na temática, na composição da trama, nas

personagens, nos procedimentos do narrador? Estariam nas estratégias mercadológicas? Ou

estariam justamente na resposta de seu leitor, que, atendendo a um chamado do texto,

evidencia uma nova forma de concretização da leitura, coerente com a era em que vivemos?

A característica inusitada dessa resposta é a forma com que o leitor contemporâneo a

realiza: escrevendo suas próprias histórias e publicando-as na internet, as fanfictions. Se no

final do século XIX ainda não era muito comum enviar cartas aos autores dos romances de

folhetim, no século XXI a proposta é coerente com a nova era, e a tecnologia permite ao leitor

uma resposta material, muito rápida e abrangente.

Em português, são quase 8.000 fics em apenas um dos sites existentes, escritas, em sua

maioria, por jovens entre 10 e 18 anos. Essa quantia aumenta dia-a-dia e numa escala maior

logo após a publicação de uma nova história, quando a criatividade é renovada pelas novas

perspectivas que o texto apresenta e, conseqüentemente, pelos vazios que são por elas

introduzidos. Alguns desses textos têm até 40 capítulos e chegam a alcançar o número de

11 Programação à espera de Harry. Zero-hora. Porto Alegre, 25 nov. 2005, Infantil, Fim de semana, Segundo Caderno, p.10.

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páginas do original. É espantoso pensar que muitos desses autores mirins escrevem um grande

volume de histórias, alguns com até vinte títulos, páginas e páginas de narrativas criativas,

enquanto nas escolas se discute o declínio pelo gosto da redação e da leitura. Outro detalhe

interessante é que a linguagem, diferentemente dos chats,12 não contém aquelas abreviações

características da comunicação virtual, embora muitos não sejam um exemplo de correção

gramatical. Ainda que seja discutível a qualidade desses textos – e aqui certamente não se está

falando em literariedade13 – é visível o esmero na tentativa de atingir essa qualidade. Todos

querem ser lidos, e muitos são felizes nesse objetivo, alcançando grande número de leitores e

muitos elogios da crítica virtual.

A crítica, aliás, é outro setor em que se manifestam as mudanças do panorama literário

causadas pelo surgimento da rede e sua utilização como suporte para a literatura. Em A

aventura do livro, Roger Chartier (1999) comenta essa modificação do espaço do crítico,

papel que, atualmente, pode ser assumido por qualquer leitor de forma espontânea, bastando o

clic do mouse para anexar sua opinião a um blog,14 coluna de uma página ou qualquer outro

texto eletrônico disponível na internet:

Evidentemente, as redes eletrônicas ampliam essa possibilidade, tornando mais fáceis as intervenções no espaço de discussão constituído graças à rede. Deste ponto de vista, pode-se dizer que a produção dos juízos pessoais e a atividade crítica se colocam ao alcance de todo mundo (p.18).

12 Sites muito populares entre os jovens em que os internautas comunicam-se on-line uns com os outros através de salas de bate-papo. A linguagem utilizada nesses diálogos é peculiar ao mundo virtual, composta de abreviaturas e símbolos conhecidos apenas pelos usuários iniciados. 13 Embora os formalistas russos tenham definido certos preceitos que conformam a natureza do que é literário – a literariedade, os estudos posteriores da Teoria da Literatura fazem crer que não é possível que a literariedade de um texto seja reduzida a uma fórmula concreta. Mas é coerente afirmar que tal idéia estabelece o marco em que se incluem os textos ficcionais na esfera da própria Literatura. O juízo que cerca esse conceito na análise das fan fictions supõe que não há interesse em pensá-las literárias e buscar, dessa forma, examinar as perspectivas e os procedimentos que poderiam levá-las a tal classificação. 14 Texto eletrônico disponibilizado em sites específicos que tem o formato similar ao de um diário pessoal.

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Se foi preciso uma revolução para que o escritor perdesse o monopólio da palavra15,

que evidências se conflagram, agora, quando o leitor, insatisfeito talvez com a virtualidade de

sua escritura, reveste-se também da função de indutor de ambigüidades, recusando seu lugar

no texto – justamente esse: o de revertê-las. Barthes propunha que fosse a crítica uma segunda

escrita a partir da primeira escrita do texto16, ainda assim a linguagem seria o único recurso do

texto crítico, resguardada a substância do texto literário. No entanto, talvez seja possível

pensar em uma crítica que se realiza não apenas pela linguagem enquanto procedimento de

comunicação, mas enquanto gênero – uma segunda escrita guiada não apenas pelo prazer

rompido, mas pelo desejo de realizar as possibilidades do texto servindo-se da mesma matéria

que o escritor usou. Assim, o texto crítico serve-se dos mesmos objeto, meio, modo e mito17

daquele que o originou e busca, ainda – e bem explicitamente no caso da fanfiction – o

mesmo efeito, ao dirigir-se a um leitor pré-definido pela existência de um texto anterior. Ou

talvez o escritor de fan fiction seja apenas um falante cuja linguagem seja a mesma de que se

valeu o texto para lhe fazer perguntas.

Tais questões evidenciam as mudanças no papel do leitor frente à experiência da

leitura; o gesto de abrir, folhear e fechar o livro pode equivaler não mais apenas a gerar um

significado ou uma possível concretização individual de uma obra, mas ser o início de um

processo que pode culminar na transformação do seu sentido e interferir nos procedimentos de

sua escritura. A recepção abrangeria a participação do leitor na criação – e não apenas na

decodificação – do texto. Ou, como já supomos, o leitor utilizaria as mesmas ferramentas do

escritor para responder ao texto – linguagem, forma e conteúdo.

15 Conforme Barthes, em Crítica e verdade, foi após a Revolução Francesa que, através principalmente do discurso político, o escritor deixou de ser o único a falar. 16 Crítica e verdade. Perspectiva: 2003. 17 Conforme Aristóteles, em sua Poética, essas são as partes que compõem a poesia – ou os gêneros épico, trágico e dramático, em que ele classificou os textos literários.

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Em pesquisa realizada como dissertação de Mestrado para esta Universidade, fiz a

leitura de 346 fanfics sobre a série Harry Potter, buscando compreender se a produção desse

tipo de texto, ao ser considerada como um elemento da recepção, seria uma forma de o leitor

infanto-juvenil preencher as indeterminações da narrativa original. Utilizando as teorias da

Estética do Efeito, de Wolfgang Iser, realizei uma análise do primeiro volume da série, Harry

Potter e a pedra filosofal, com a finalidade de descrever de que forma as perspectivas geridas

pelo texto introduzem indeterminações. A seguir, confrontei esses vazios com a resposta do

leitor, através do exame da sua produção na internet – as fanfictions – que se revelaram,

enfim, uma evidente tentativa de alcançar o sentido final da obra.

No entanto, entre os entraves que se interpuseram na busca por respostas, um deles

acabou por afetar os estudos que me dispunha a realizar. Na formatação do corpus, percebi

que os leitores-escritores dão preferência aos temas do último volume e costumam retirar da

rede virtual aqueles textos cujas teorias tenham sido suplantadas pelas novas perspectivas

apontadas pelo original. Haveria uma possível ligação entre esse fato e a hipótese sugerida por

esta pesquisa? Ou seja, pensar que as fanfics que permanecem postadas devem apresentar

coerência com o original não significaria que estaria correta a suposição de que a escrita do

leitor é motivada pelas lacunas do texto e tem como objetivo principal o seu preenchimento

pelas perspectivas desse leitor?

A estrutura de apelo de Harry Potter e a pedra filosofal está fundada, principalmente,

em duas estratégias: a segmentação do texto promovida pela autora e os procedimentos do

narrador. A divisão da história em sete capítulos introduz indeterminação no texto de duas

formas: primeiro pelo momento em que é realizado o corte, depois, porque insere um vazio

pela suspensão de informações. Ambas formas mobilizam a entrada das estratégias do leitor,

incentivando-o a produzir as conexões capazes de formar uma representação do que foi lido.

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O momento em que é efetuado o corte na narrativa é importante na medida em que estabelece

um marco na seqüência de perspectivas apontadas pelo texto, gerando significado. Na série

Harry Potter, esse corte é sempre efetuado após o confronto entre o protagonista e o vilão,

que consegue escapar, apontando para um determinado horizonte de sentido que evoca tanto o

retorno do mal, quanto suposições de quais novas perspectivas são necessárias para que seja

possível esse retorno. Voldemort sempre sai da luta perdendo alguma coisa, o que sugere que

novos elementos vão entrar na trama a fim de justificar o temor por um novo combate, em que

ele estará renovado e cause risco a Harry e a seu mundo, pois o herói precisa de novos

desafios. Esse espaço sugere que não apenas o leitor precisa pensar, mas que também o herói

necessita refletir sobre os últimos acontecimentos. A partir daí, a suspensão de informações

ocasionada pela lacuna entre uma publicação e outra permitirá as inferências do leitor.

É nesse momento que são produzidas e publicadas a maioria das fanfictions – a

ocasião em que o leitor estabelece relações não apenas entre as perspectivas do volume mais

recente, mas, principalmente, entre as apontadas pelos outros livros. Imaginemos que a

história fosse contada em apenas um volume: todos aqueles textos nascidos da intenção de

promover e apresentar teorias para os vazios do texto existiriam? Não estou dizendo, com

isso, que a escrita de fanfictions desapareceria, mas que certamente tanto o volume quanto o

conteúdo desses textos sofreria uma drástica mudança. Para uma conclusão mais efetiva, seria

necessária a análise da série completa.

Esta pesquisa origina-se, pois, na intenção de realizar a análise de toda a série de

Harry Potter, cujo último volume deverá ser publicado em 2007, e completar as lacunas do

primeiro trabalho. Considerando todas essas questões, este projeto se justifica pela

aproximação entre suportes tão diferentes – livro e internet –, corroborando a idéia de que

ambos podem coexistir; depois, porque possibilita a aplicação da teoria de um consagrado

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estudioso da recepção como Wolfgang Iser na análise de uma obra de sucesso comprovado

junto ao público infanto-juvenil; e, finalmente, justifica-se por enquadrar-se em uma das

linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Teoria da Literatura desta Instituição

de Ensino, na Área da Literatura Infanto-Juvenil.

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3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

No prefácio de O ato de leitura, Iser (1996a, p. 15) diz que o “texto literário só produz

seu efeito quando é lido”. Esse efeito estético, de acordo com ele, deveria ser analisado na

“relação dialética entre texto, leitor e sua interação” . Porque só se realiza na convergência do

texto com o leitor, a obra tem um caráter virtual – é um processo que ocorre desde sua escrita

até o ato da leitura. Da mesma forma, ele vê esse processo da leitura como dinâmico, embora

não comprovado empiricamente, uma via dupla.

Esse dinamismo, pois, parece ter chegado às vias reais, e o caráter virtual da obra

passou a ter novos significados. Então, surge a pergunta: o que há no texto de J. K. Rowling

que provoca esse efeito? E, como o texto é a prefiguração do efeito, conforme Iser, a sua

elaboração é um dos elementos que desejamos explorar nesse trabalho: que estruturas textuais

estão configuradas na obra de J. K. Rowling que provocam a participação do leitor.

No entanto, para a teoria fenomenológica – continua Iser (Ibid., p. 50), “o estudo de

uma obra literária não pode dedicar-se apenas à configuração do texto, mas na mesma medida

aos atos de sua apreensão”, e, por tal, os modos de concretização. Esses, por sua vez, estão

estreitamente relacionados não apenas aos aspectos esquematizados que compõem a obra,

mas principalmente aos elementos de indeterminação, os vazios – ativadores da interação

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entre texto e leitor. Os aspectos esquematizados relacionam-se com a significação da obra,

que é discursiva; já as indeterminações ligam-se ao sentido, que só existe na experiência da

leitura, e se constituem em quesito fundamental para promover a participação do leitor na

produção da intenção textual. Portanto, de um lado – o pólo artístico – os aspectos textuais

serão objeto deste estudo, e em que medida a estrutura do texto provoca a participação do

leitor. Sobre isso, diz Iser (1999a):

Apenas a imaginação é capaz de captar o não-dado, de modo que a estrutura do texto, ao estimular uma seqüência de imagens, se traduz na consciência receptiva do leitor (p.79).

Porque não é uma interação diádica18, a comunicação entre texto e leitor necessita de

certas condições que a impulsionem e a controlem, garantindo o êxito – o estabelecimento de

sentido – sem permitir que a leitura se perca na subjetividade. É a assimetria entre as

instâncias do texto e do receptor que estabelece essa interação, tal como a contingência no

caso da comunicação social, permitindo a entrada das projeções do leitor para garantir o

equilíbrio. O jogo comunicativo se estabelece à medida que o texto contém mecanismos de

controle, em que aquilo que não é dito estimula o ato de constituição, e o que é dito controla o

processo de preenchimento pelo leitor.

Iser distingue lugares indeterminados, da teoria proposta por Ingarden, de lugares

vazios. Os primeiros constituem-se de uma carência na determinação do objeto e exigem uma

complementação por parte do leitor para que o sentido seja completo; os lugares vazios não

exigem essa determinação, e sim uma combinação entre os esquemas do texto a fim de gerar

18 Comunicação face-a-face, em que locutor e interlocutor podem diminuir as assimetrias na base da resposta e da contra-resposta.

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novas representações. Os vazios do texto literários são uma possibilidade de conexão entre os

segmentos textuais, o estímulo para que entre em funcionamento a seleção, o raciocínio e a

articulação do leitor. Ambos conceitos levam ao acontecimento da indeterminação no texto,

que aqui trato como a qualidade do não-determinado na constituição do objeto literário, a

motivação para a interação entre o texto e o leitor. Para Ingarden, o preenchimento do lugar

indeterminado possibilita a concretização do texto; este, por sua vez, deve aproximar o objeto

intencional da obra de arte aos objetos reais no processo de determinação. De acordo com

essa teoria, existe apenas uma concretização adequada na configuração do objeto, o que a

afasta das idéias de Iser, para quem as lacunas do texto justamente possibilitam a entrada do

repertório do leitor e o estímulo para suas próprias representações, permitindo, portanto,

múltiplas configurações de sentido.

Embora Iser também utilize a nominação dada por Ingarden concomitantemente aos

termos vazio e lacuna, o sentido dado por ele a esses termos difere daquele também à medida

que designam os locais em que há uma quebra de conectabilidade entre os segmentos do

texto, sinalizando a necessidade de uma recombinação. O papel do leitor está em inter-

relacionar os esquemas do texto, seguindo as regras por eles colocadas, e fazer as seleções e

as conexões pelas quais o texto adquire coerência (Iser, 1979).

O texto oferece, através de seu repertório e de suas estratégias, um quadro de

referências em que suas perspectivas apontam ao leitor os pontos de vista possíveis. Essas

perspectivas, a que Ingarden chama de aspectos esquematizados, são os desdobramentos das

objetividades apresentadas pelo texto em estágios – a história, seus temas, ações, personagens,

etc. – que regulam a atividade do leitor ao inserirem os vazios.

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Iser enumera algumas condições formais que propiciam o surgimento de

indeterminação no texto; a primeira delas é a organização da história em partes, capítulos ou

séries, recortados e disponibilizados ao leitor em porções capazes de despertar o desejo pela

continuação. Essa forma de publicação era usual no século XIX, como os folhetins, e Iser

(1999b) cita o caso de Dickens, que buscava a reação de seus leitores no período entre cada

texto de uma história. No Brasil, temos vários exemplos, entre eles o de Machado de Assis,

que publicou grande parte de seus romances através de jornais, mantendo em suspense seus

leitores semana a semana. Mas não basta apenas secionar a história; para aumentar o grau de

indeterminação, é necessário saber o momento exato de fazer o corte, interrompendo a ação

justamente quando há a necessidade de um desfecho ou reviravolta.

Além da estratégia do corte e segmentação – a quebra da continuidade, os ganchos que

desencadeiam outros significados, o suspense que incita ao prosseguimento da leitura –, Iser

enumera outros procedimentos que podem favorecer o surgimento de indeterminação no

texto: a introdução repentina de novos personagens, a entrada inesperada de novas linhas de

enredo, os comentários do narrador, as mudanças de atitude, a confiabilidade, a contradição.

Todos esses artifícios podem ser percebidos nas narrativas de Rowling mobilizando a

imaginação do leitor ao inserirem lacunas, conforme a idéia de Iser (1999b, p.140):.

Daí resulta todo um complexo tecido de possíveis ligações que incentivam o leitor a que ele mesmo produza as conexões ainda não totalmente formuladas.

Os lugares vazios regulam a oscilação do ponto do vista do leitor, estimulando a

transformação dos segmentos do texto de tema para horizonte. O tema é uma perspectiva que

está sendo enfocada pelo leitor que, ao entrar em choque com outra, cede seu espaço para o

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segmento seguinte, passando ao status de horizonte; este, ultrapassado por novos elementos

inseridos pelo texto, fica à margem da zona de sentido. Conforme Iser (1996a), esse tipo de

lugar vazio funciona no eixo sintagmático da leitura:

[...] porque aqui os lugares vazios regulam apenas a mudança de perspectivas, sem dizer nada sobre as modificações a que os conteúdos das posições são necessariamente submetidos em tal interação.

No eixo paradigmático da leitura, Iser apresenta a negação como a outra estrutura

básica da indeterminação do texto literário. Ela ocorre quando o repertório do texto, familiar

ao do leitor, contradiz as expectativas do mesmo, evocando uma nova formação de sentido.

Assim, quando, no processo de leitura, o leitor se depara com perspectivas que negam suas

concepções e referências, a sua capacidade de combinação dos segmentos do texto fica

paralisada em virtude da oposição entre pólos. Resta-lhe, para a produção de sentido, formar

novas representações, que não estão puramente em seu repertório nem no do texto – o leitor

formula, assim, o não-dado, aumentando a sua participação. A relevância estética do vazio

está em que, à medida que provoca a colisão entre as imagens formadas pelo leitor, dificulta a

percepção, ao mesmo tempo em que estimula a sua interação com o texto.

Por não possuírem um conteúdo determinado, os lugares vazios não podem ser

descritos, mas justamente encontram-se entre os segmentos do texto cuja combinação exige a

entrada do repertório e das estratégias do leitor – sua definição, então, resume-se a encontrar o

lugar do receptor no texto, e descrever as possibilidades de leitura, ou, de que forma a relação

entre as perspectivas e os segmentos do texto foram realizadas para a construção de sentido. É

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preciso, dessa forma, colocar-se no lugar do leitor e erigir as perguntas que o texto provoca e

que estimulam o engenho imaginativo , pois:

Os aspectos textuais implicam portanto não só um horizonte de sentido, mas ao mesmo tempo o ponto de vista do leitor a ser ocupado pelo leitor real para que o horizonte de sentido desenvolvido possa agir sobre o sujeito (Iser, 1999a, p.83).

Dessa forma, a análise é estabelecida no desmembramento do texto em seus elementos

constitutivos – o repertório e suas perspectivas – e sua estrutura de apelo – os vazios e seus

possíveis preenchimentos pelo leitor. Ao demarcar as posições desse receptor no próprio

texto, através do conceito de leitor implícito colocado por Iser (1996a, p.73)– “uma estrutura

do texto que antecipa a presença do receptor” –, também uma lacuna textual, encontramos

outra forma de descrever o momento da interação, já que essa estrutura demanda a projeção

do leitor no texto.

No outro pólo – o estético –, que se dá pela concretização da leitura, a recepção do

leitor será elemento de análise, confrontando-se a produção de fan fictions ao texto de J. K.

Rowling. De acordo com as concepções de Iser (1979) em sua Teoria do Efeito, a descrição

da interação entre texto e leitor deve refletir o processo pelo qual o texto é experienciado na

leitura; para tanto, a pergunta a ser feita é: o que ocorre ao leitor quando o sentido lhe é

alcançado pela leitura? Dessa forma, o interesse da análise volta-se mais aos atos estimulados

pelo efeito que o texto causa ao leitor do que propriamente ao significado desse texto.

É interessante notar como esse procedimento de análise da Estética da Recepção

encaixa-se nesta pesquisa, porque corrobora nossa idéia de buscar na atitude do leitor de

Harry Potter a resposta motivada pelo texto. Este é o mapa: percorrer o caminho do leitor

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para encontrar os vestígios de sua participação, as pegadas do seu repertório, as digitais de sua

estratégia – o efeito de sua jornada marcada pela indeterminação do texto.

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4 HIPÓTESE E QUESTÕES NORTEADORAS

Este projeto de pesquisa foi erigido a partir das conclusões a que cheguei através do

trabalho realizado como dissertação de Mestrado na área de Teoria da Literatura. A hipótese

de que as estruturas de indeterminação em que é fundada a narrativa Harry Potter e a pedra

filosofal, primeiro volume da série, são um dos fatores de impulsão de uma recepção

participativa foi comprovada através do exame da produção de fan fictions pelo leitor infanto-

juvenil. No entanto, após verificar as estruturas de indeterminação do texto e confrontá-las

com a produção do leitor, a proposição de que o cenário e a conformação dos textos do

receptor poderiam ser modificados com o final da série levou ao surgimento de novas

hipóteses. A perspectiva de que as conclusões seriam diferentes após o lançamento do último

volume, acrescida das conjecturas então comprovadas de que essa participação do leitor é

motivada pelas lacunas do texto, determinaram a origem deste projeto, que visa à análise da

estrutura de indeterminação de toda a série, através da aplicação das idéias propostas pela

Teoria do Efeito no texto, e o confronto entre ela e a produção do leitor, através do exame da

produção de fan fictions.

A hipótese que orienta esta pesquisa, originada pelo trabalho anterior, é de que a

segmentação do texto em sete volumes é a principal motivação para a escrita do leitor, visto

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que é a maior geradora de indeterminação. Na tentativa de confirmar essa hipótese, a análise

será norteada pelas seguintes questões:

1) De que forma as objetividades são apresentadas na série Harry Potter,

conforme a teoria de Iser?

2) De que forma as perspectivas geridas pelo texto introduzem

indeterminações nos sete volumes da série Harry Potter?

3) Que elementos textuais das fan fictions produzidas pelos leitores de Harry

Potter estão relacionados à estrutura da narrativa original?

4) De que modo e em que âmbito a estrutura de apelo do texto Harry Potter

influencia na produção de fan fictions pelo seu leitor?

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5 OBJETIVOS

Desejando comprovar a hipótese de que a indeterminação gerada pela segmentação do

texto de J. K. Rowling em sete volumes é a maior causa de uma recepção peculiar por parte

do fandon de Harry Potter, que se configura pela participação de seu leitor através da escrita

de fan fictions, este trabalho será erigido através da análise e da interpretação textual. O

objetivo principal, portanto, é explicitar de que forma são inseridas as perspectivas no texto e

determinar quais elementos, de acordo com Iser, favorecem o surgimento de indeterminação

na série Harry Potter, através do exame da sua estrutura de apelo e das perspectivas que a

compõem.

Sabendo que a obra só existe na interação entre texto e leitor, e porque este trabalho

deseja verificar justamente de que forma esses hiatos têm influenciado na recepção, a análise

dos textos produzidos pelos leitores tem o objetivo de descrever de que forma a escrita desse

leitor está relacionada à estrutura do texto original.

Finalmente, ao confrontar o texto Harry Potter à produção de seu leitor, este trabalho

objetiva identificar o efeito produzido por ele – em que grau as zonas de indeterminação

controlam a recepção e provocam a participação de seu leitor e em que nível a segmentação

do texto é geradora desse efeito.

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6 METODOLOGIA

A principal motivação para a realização do trabalho cujas conclusões deram origem a

este projeto de pesquisa surgiu da constatação de que havia um novo modelo de produção

textual circulando pela internet, e que ele é estimulado não por um impulso de criação, mas

pelo desejo da recepção – construído por um leitor inquieto e carente de histórias. É do

encontro com esses textos, que demonstram, de um lado, o quanto o leitor apreendeu da

história que a originou e, de outro, a sua necessidade de saber mais sobre ela, que surgiu o

interesse pela estrutura narrativa dos textos de J. K. Rowling. A partir da análise de fan

fictions e do confronto entre elas e o texto Harry Potter e a pedra filosofal, que as originou,

foi constatada a intenção do leitor de alcançar o sentido final do texto, preenchendo suas

lacunas. Surgiu, daí, a necessidade de confrontar novos textos à série, após sua conclusão, a

fim de verificar o grau de importância da estratégia de segmentação nesse processo de

introdução de indeterminação.

Este trabalho tem, portanto, um caráter analítico, já que se debruçará sobre essa

estrutura, confrontando-a com a produção dos leitores. Seguindo os pressupostos da Estética

da Recepção, de Wolfgang Iser, esta análise se volta ao conhecimento da estrutura de apelo

em que foram edificados os textos da série Harry Potter, através do exame das formas de

construção e colocação das perspectivas e da densidade das alusões presentes no texto, das

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técnicas de corte, montagem e segmentação, das alternâncias de padrões estilísticos e através

da apreciação dos procedimentos do narrador. Dessa forma, será possível analisar em que

nível textual e com que freqüência ocorrem as lacunas (Iser,1999) – na estratégia narrativa,

nas ações das personagens ou no papel atribuído ao leitor.

Antes de debruçar-se sobre o texto, este trabalho será desenvolvido pela leitura atenta

dos textos teóricos, através dos quais as análises posteriores serão fundadas. Dentre as teorias

estudadas, serão referidas aquelas cujo teor permita, na análise da recepção de uma obra, tanto

a percepção do leitor como pólo constituinte, como também a decomposição e compreensão

da esfera do texto como fator de pré-configuração dessa recepção.

A seguir, o trabalho será voltado ao exame da obra de J. K. Rowling, desenvolvendo

uma análise dos sete volumes da série Harry Potter para identificar, conforme as implicações

já descritas da Teoria da Recepção, de que forma as perspectivas compostas por personagens,

espaço, tempo, enredo e narrador compõem a estrutura de apelo do texto, além de examinar as

estruturas subjacentes que configuram o texto e suas zonas de indeterminação. Para erigir essa

análise, optei por um método em que meu posicionamento aproxima-se do lugar do leitor,

através de uma leitura linear, configurando as possibilidades do texto de acordo com a minha

perspectiva como receptora, o que não impede comentários verticais de análise, necessários

para a aplicação das teorias de Iser. Sobre as implicações desse modo de interpretação, que

pode ser julgado pelo subjetivismo que o envolve, observa Iser (1996a):

[...], uma crítica central à teoria do efeito estético diz que ela sacrifica o texto à arbitrariedade subjetiva da compreensão, pois o analisa à luz da sua atualização e ignora, desse modo, sua identidade (p. 56).

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Esta análise utilizará principalmente os pressupostos teóricos de Wolfgang Iser, mas

poderão ser evocados outros teóricos cujos estudos estejam voltados à Estética da Recepção –

Hans R. Jauss e Hans U. Gumbrecht –, e à Reader-Response Criticism, como Jonathan Culler

ou ainda outras teorias auxiliares, como a fenomenologia, ou aquelas que possibilitem a

interpretação do texto nas esferas em que será examinado.

Na terceira fase, será realizada uma pesquisa na internet buscando narrativas ficcionais

produzidas por leitores que narrem acontecimentos ligados às histórias da série, ou que sejam

construídas de acordo com as mesmas perspectivas, como personagens, espaço, etc. – as

chamadas fan fictions. A seleção dessa produção textual do leitor se dará de acordo com os

seguintes critérios: 1º - aqueles textos cujo título inicie com o nome do protagonista, tal como

no original (Harry Potter e...)19; 2º - aqueles textos que se configurem por analogia ao texto

em questão; 3º - aqueles textos produzidos após o lançamento do sétimo e último volume da

série 4º - aqueles textos produzidos ou publicados na rede mais recentemente20; 5º - aqueles

textos mais coerentes, coesos e concisos. O último critério será baseado no total de textos que

este trabalho vai examinar e que será definido após a configuração de um rol, através dos

quatro critérios anteriores.

A pesquisa que visa a formar o corpus de análise será realizada através de sites em que

sejam publicadas fan fictions em português, principalmente os já utilizados na dissertação de

Mestrado que originou este projeto, visto serem os mais procurados pelos fãs e possuírem o

maior número de fanfics objetos desta análise, alcançando os critérios já aqui estabelecidos.

São eles e seus respectivos endereços: Fanfiction, em http://www.fanfiction.net/,

19 Verifiquei, ao examinar as fanfics para o trabalho que originou este projeto, que esses são os textos que mais se aproximam do original. 20 Ou seja, mais próximos da época atual. Não há como delimitar datas antes de uma primeira seleção.

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EdwigesHomePage, em http://www.edwigeshomepage.com.br; Floreios e Borrões, em

http://www.floreioseborrões.com.br.

A etapa seguinte à pesquisa será aquela em que os textos escolhidos entre os

produzidos pelos leitores serão analisados tal como sucedido com o texto de Rowling na

primeira fase do trabalho. No entanto, porque se constituem de narrativas menores e mais

simples, compostas, geralmente, em torno de apenas um conflito e solução, tal análise

enfocará aqueles elementos de cada fan fiction que denotem a produção de sentido, o

preenchimento de vazios, as ligações e correlações, as conjecturas e a expectativa do leitor em

relação à narrativa Harry Potter.

Por fim, é no confronto entre as duas análises – a do pólo artístico e a do pólo estético

– que este trabalho será concluído, tal como prevê a Estética da Recepção:

Uma análise da interação resultante dos dois pólos promete evidenciar a estrutura de efeito dos textos, assim como a estrutura da reação do leitor (Iser, 1996a, p. 51,52)

O cotejo entre a narrativa de J. K. Rowling e as produções textuais do leitor vai,

portanto, verificar de que forma esse último constituiu a obra, e em que âmbito a estrutura do

texto Harry Potter instiga a participação do leitor nos moldes então relatados.

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7 CRONOGRAMA

O período correspondente ao primeiro ano do Curso de Doutorado Em Teoria da

Literatura (março a dezembro/2007) será reservado ao cumprimento dos doze (12) créditos

necessários, conforme previsto na estrutura curricular do Programa de Pós-Graduação da

Faculdade de Letras. Paralelamente, será feita uma revisão da bibliografia previamente

levantada e a leitura de alguns dos livros que constam desse arrolamento, configurando um

estudo teórico-crítico. Ainda durante esse período, inicia-se a busca pelos textos dos leitores,

as fan fictions, em seguida ao lançamento do sétimo e último volume da série Harry Potter,

previsto para o ano de 2007. Isso se faz necessário visto que, como já constatado através da

pesquisa para a dissertação de Mestrado, é na época seguinte à publicação que há uma maior

quantidade de fanfics postadas na rede.

No segundo ano (entre janeiro e dezembro/2008), serão cumpridos os seis (6) créditos

restantes, totalizando os dezoito (18) créditos mínimos que o aluno deve perfazer, distribuídos

em seis (6) disciplinas, ao longo de processo de doutoramento. Concomitantemente, terá

prosseguimento a leitura dos livros teóricos e será feito o exame do corpus de análise (pólo

artístico) – os sete volumes da série Harry Potter –, conforme descrito no capítulo anterior (6

– Metodologia). Da mesma forma, permanece o processo de busca por fan fictions, já que é

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preciso, inclusive, catalogar a evolução de publicação desses textos desde o final da série até o

início de sua análise.

No primeiro semestre do terceiro ano (janeiro a julho/2009), já terminada a análise dos

sete volumes de Harry Potter, estabelecem-se as conclusões sobre o exame do primeiro pólo

do processo de recepção, o texto. A partir de então, será iniciada a análise do pólo de efeito

desse processo, a resposta do leitor, através do exame das fan fictions, trabalho que será

concluído até dezembro de 2009. Paralelamente ao exame da produção do leitor, será erigido

o texto da tese, já que, completados os dois pólos da leitura, é possível o estabelecimento das

conclusões, através do cotejo entre ambos.

O quarto e último ano do Curso de Doutorado em Teoria da Literatura será reservado à

conclusão, revisão e formatação do texto da tese, à junção de anexos e à revisão da

bibliografia, sendo prevista a entrega para outubro de 2010.

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8 SUMÁRIO POSSÍVEL

Pretendemos organizar este trabalho em seis capítulos, incluindo o primeiro,

introdutório, com o objetivo de relacionar hipóteses, objetivos e métodos. Haveria, a seguir,

um segundo capítulo em que seriam expostos as questões teóricas que o permeiam e os

pressupostos utilizados na análise. O terceiro capítulo abrangeria dados sobre a série e

resumos; no quarto, seriam analisados os textos dos sete volumes da obra Harry Potter; no

quinto capítulo, o universo das fan fictions seria apresentado, discutindo-se algumas feições

desse suporte que estejam ligadas à literariedade e, finalmente, ainda nesse capítulo, seriam

analisadas as fanfics produzidas pelos leitores. No sexto capítulo, conclusivo, seria

estabelecido o cotejo entre as análises e a formulação de respostas às questões que nortearam

este trabalho, seguido de referências e anexos. Dessa forma, fica assim estabelecido um

sumário possível:

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SUMÁRIO

1 CAPÍTULO INTRODUTÓRIO .......................................................................................................................................................

2 QUESTÕES TEÓRICAS

3 A SÉRIE HARRY POTTER .......................................................................................................................................................

4 ANÁLISE DOS TEXTOS DE HARRY

POTTER CONFORME A TEORIA DE

WOLFGANG ISER

...................................................................................................................................

5 FAN FICTIONS .............................................................................................................................................................................

6 CAPÍTULO CONCLUSIVO .............................................................................................................................................................

REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................................................................

ANEXOS .........................................................................................................................................................................................

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REFERÊNCIAS

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Fontes de pesquisa previamente levantadas

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