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PROGRAMA GUANABARA VIVA Avaliação dos programas de prevenção (ecobarreiras) e retirada do lixo flutuante (ecobarcos) na Baía de Guanabara, visando os Jogos Olímpicos Rio 2016 e proposição do Programa Guanabara Viva, um novo plano de ação com ênfase no legado olímpico. Relatório produzido pelo Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael), com o apoio do Instituto Baía de Guanabara (IBG), da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) e outros colaboradores. Elaborado por Axel Grael Parceria:

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Avaliação dos programas de prevenção (ecobarreiras) e retirada do lixo flutuante (ecobarcos) na Baía de Guanabara, visando os Jogos Olímpicos Rio 2016 e proposição do Programa Guanabara Viva, um novo plano de ação com ênfase no legado olímpico

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PROGRAMA GUANABARA VIVA

Avaliação dos programas de prevenção (ecobarreiras) e retirada do lixo flutuante (ecobarcos) na Baía de Guanabara, visando os Jogos Olímpicos Rio 2016 e proposição do Programa Guanabara Viva, um novo plano de ação com ênfase no legado olímpico.

Relatório produzido pelo Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael), com o apoio do Instituto Baía de Guanabara (IBG), da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) e outros colaboradores.

Elaborado por Axel Grael

Parceria:

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“LIMPAR A BAÍA DE GUANABARA É FÁCIL. DIFÍCIL É PARAR DE SUJA-LA.”

É preciso fazer as duas coisas, mas o desafio está em “parar de sujar”. Saneamento e educação!

Frase de Dora Hees Negreiros.

Engenheira química e ambientalista.

Fundadora e membro do Conselho Diretor do Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro do Conselho

Diretor do Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael)

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Sumário

1 Considerações iniciais 5

2 Experiência do Projeto Grael relacionada ao problema do lixo na Baía de Guanabara

6

2.1 Projeto Águas Limpas 6 2.2 Jogos Pan-Americanos 2007 8 2.3 Jogos Mundiais Militares 9 2.4 Outras atividades com a participação do Projeto Grael 10

3 Atuação do Instituto Baía de Guanabara (IBG): Projetos Realizados 12 3.1 Projeto Aguadeira 12 3.2 Projeto Catação 12 3.3 Projeto Arsenal do Bem 13 3.4 Projeto Faraó 13 3.5 Projeto Oleiros e Olarias 13 3.6 Projeto H2O Orla Marinha 14

PARTE 1 – SINTESE DA SITUAÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA

4 Saneamento na Baía de Guanabara 16 4.1 Situação atual do saneamento 21 4.2 Prejuízos da falta de saneamento 23 4.3 Lixo 26

5 Lixo flutuante na Baía de Guanabara 28 5.1 Capacidade de carreamento do lixo pelos rios

28 5.2 Quanto lixo chega à Baía de Guanabara? 29 5.3 Mobilidade do lixo flutuante na Baía de Guanabara 29 5.4 Padrão de concentração do lixo na Baía de Guanabara 31 5.5 O lixo flutuante chega às praias 34 5.6 Problemas causados pelo lixo flutuante 39

6 Quanto se ganharia com uma Baía de Guanabara despoluída? 42

7 Iniciativas realizadas ou em andamento para a despoluição da Baía de Guanabara

44

7.1 Programa de Despoluição de Baía de Guanabara – PDBG 44 7.2 Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno

da Baía de Guanabara – PSAM 44

7.3 Plano Guanabara Limpa 46 7.3.1 – Ampliação dos sistemas de tratamento de Esgoto 46

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7.3.2 – Compromissos ambientais pela Baía de Guanabara (COMPERJ, REDUC, etc

47

7.3.3 – Programa de Revitalização do Canal do Fundão 47 7.3.4 – Programa Sena Limpa 47 7.3.5 – Governança 48 7.3.6 – Programa Baía sem lixo 50 7.3.7 – Programa Enseada Limpa 50

PARTE 2 – O COMPROMISSO OLÍMPICO DO RIO DE JANEIRO E A BAÍA DE GUANABARA

8 O legado da Rio 2016 para a Baía de Guanabara 52 8.1 – O lixo flutuante e as competições de vela 56

PARTE 3 – AVALIAÇÃO DO PROGRAMA GUANABARA SEM LIXO 9 Avaliação do Programa Baía sem Lixo 59 9.1 Situação das Ecobarreiras 59 9.1.1 – Rios do lado leste da Baía de Guanabara (Niterói e São

Gonçalo) 60

9.1.2 – Rios do lado oeste da Baía de Guanabara 63 9.1.3 – Tecnologia 67 9.1.4 – Planos de implantação de ecobarreiras já desenvolvidos

pela SEA 69

9.2 Operação atual dos Ecobarcos 71 9.2.1 – Fotos da atividade de coleta do lixo flutuante 73

PARTE 4 – PROGRAMA GUANABARA VIVA

10 PROGRAMA GUANABARA VIVA – Novo Plano de ação para o lixo flutuante

77

10.1 Estratégia de Mobilização (Etapas) 78 ETAPA 1 - Ações Emergenciais: Evento teste de Agosto de 2015 78 ETAPA 2 - Ações visando os Jogos Olímpicos de 2016 78 ETAPA 3 – Ações estruturantes e de longo prazo 78 10.2 Gerenciamento das operações dos ecobarcos 79 10.2.1 – Monitoramento e modelagem da deriva do lixo 79 10.2.2 – Rede de observadores e atualização de dados do

sistema 81

10.2.3 – Dimensão educativa (Museu do Lixo na Baía de Guanabara)

82

10.3 Novo sistema de ecobarreiras 83 10.3.1 – Tecnologias sugeridas (exemplos) 83 10.3.2 – Solução para a instalação de ecobarreiras em rios de

maior porte 88

10.3.3 – Solução para recolhimento mecanizado do lixo e transporte hidroviário

88

10.4 Etapas de implantação e gestão de ecobarreiras 92

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ETAPA 1 – Instalação das ecobarreiras emergenciais 92 ETAPA 2 - Implantação das demais ecobarreiras 98 ETAPA 3 – Legado Olímpico das ecobarreiras 99 10.4.1 – Operação das ecobarreiras 100 10.4.2 – Plano de emergência em caso de rompimento de

ecobarreira 101

10.4.3 – Relação com a comunidade 101

11 Baía Nota 10: Mobilização da Sociedade 103

12 Programa Terra a Vista 104

13 Projetos Modelo 105 13.1 Enseada Limpa 105 13.2 Edital 108 13.3 Ranking da gestão do lixo 108

14 Comparativo entre as ações do Programa Baía Sem Lixo (SEA) e as propostas do Programa Guanabara Viva (Projeto Grael e IBG)

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15 CONCLUSÃO

110

16 Bibliografia 111

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PROGRAMA GUANABARA VIVA

Avaliação dos programas de prevenção (ecobarreiras) e retirada do lixo flutuante (ecobarcos) na Baía de Guanabara, visando os Jogos Olímpicos Rio 2016 e proposição do Programa

Guanabara Viva, um novo plano de ação com ênfase no legado olímpico.

Elaborado por Axel Schmidt Grael Estudo realizado pelo Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael), com o apoio do Instituto Baía de

Guanabara (IBG), da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) e outros colaboradores.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Baía de Guanabara será o palco das regatas olímpicas de vela da Rio 2016 e, nessa condição, tem atraído as atenções internacionais de atletas, técnicos e dirigentes esportivos, a medida que o evento se aproxima. A preocupação com a poluição da Baía vem crescendo com a proximidade do evento e com o crescimento do número de velejadores em fase de treinamento e aclimatação na raia olímpica. E as atenções cada vez mais se concentram no problema do lixo flutuante e, por consequência a cobrança sobre as autoridades locais para a solução do problema. O presente relatório foi elaborado em atendimento a uma solicitação do recém-empossado secretário da Secretaria de Estado do Ambiente, André Corrêa, apresentada ao velejador Torben Grael, presidente do Instituto Rumo Náutico (conhecido como Projeto Grael), em reunião realizada no Gabinete da SEA, em 02 de janeiro de 2015, para tratar de ações visando os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Para atender à solicitação, desenvolvemos uma breve compilação de informações técnicas e gerenciais sobre a Baía de Guanabara, bem como a análise das políticas públicas, experiências e de projetos em andamento na Secretaria de Estado do Ambiente – SEA, além de uma avaliação crítica dos esforços que estão sendo realizados para enfrentar o problema do lixo flutuante (Resíduos Sólidos Flutuantes – RSF) na Baía de Guanabara. A partir deste estudo, são apresentadas algumas recomendações e a proposição de soluções.

Para a realização do presente estudo, a equipe do Projeto Grael contou com o seu reconhecido expertise sobre o ecossistema da Baía de Guanabara, nas questões náuticas relacionadas à Baía e a sua experiência pioneira no desenvolvimento de projetos ambientais voltados para a despoluição da Baía e o recolhimento do lixo flutuante.

O Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael) é reconhecido pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e possui uma sede própria na Avenida Carlos Ermelindo Marins, 494, Jurujuba, Niterói.

Ao longo de sua história, o Projeto Grael recebeu prêmios, chancelas e reconhecimento da International Sailing Federation – ISAF, do UNICEF, da UNESCO, dentre outros.

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O Projeto Grael começou a ser idealizado em 1996 e iniciou a sua atividade em 1998, a partir da iniciativa de um grupo de velejadores liderados pelos irmãos Torben, Lars e Axel Grael, com o objetivo de desenvolver um programa educativo, de iniciação aos esportes náuticos e capacitação profissionalizante, voltado especificamente para atender estudantes da rede pública de educação. Para os cursos citados, o Projeto Grael oferece cerca de 350 vagas por semestre.

Considerando a complexidade do trabalho a que se propõe, o Projeto Grael convidou o Instituto Baía de Guanabara – IBG, também uma OSCIP, com reconhecida capacidade técnica e histórico de atuação na Baía de Guanabara, para atuar em conjunto no presente estudo.

O IBG possui experiência diversificada em programas ambientais na Baía de Guanabara, tendo atuado em programas educacionais, na realização do Plano de Manejo da APA de Guapimirim, no apoio ao trabalho de cooperativas de catadores, na governança da Baía de Guanabara e no desenvolvimento de outros estudos específicos. Apesar de ter a sua sede em Niterói, o IBG mantém um foco mais específico na Região Leste da Baía e já desenvolveu muitos trabalhos nas bacias dos rios Macacu, Caceribu e Alcântara.

2. EXPERIÊNCIA DO PROJETO GRAEL RELACIONADA AO PROBLEMA DO LIXO NA BAIA DE GUANABARA

Fundado por velejadores, o Projeto Grael reúne a experiência prática de um grupo de atletas – como os medalhistas olímpicos Torben e Lars Grael - que se relaciona quase que diariamente com a Baía de Guanabara, em um esporte em que a capacidade de percepção dos fenômenos naturais é decisivo para os bons resultados. Além disso, o Instituto conta com uma equipe de profissionais especializados na condução de seus projetos ambientais.

Desde o seu início, o programa educativo do Projeto Grael incluiu ações práticas ambientais voltadas para um maior conhecimento de seus participantes quanto ao funcionamento e as ameaças sobre os ecossistemas da Baía de Guanabara. Os principais projetos ambientais denominam-se: Projeto Águas Limpas (recolhimento do lixo flutuante), Projeto Baía de Guanabara (monitoramento das correntes da Baía) e Terra a Vista (programas educativos com os alunos).

Como pode-se verificar, o tema prioritário das iniciativas ambientais do Projeto Grael sempre foi o lixo na cidade e o lixo flutuante.

Como exemplo disso, são realizadas, a cada semestre, gincanas ecológicas em que todos os alunos participam de uma “competição” de limpeza de uma praia, na Enseada de Jurujuba.

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Alunos do Projeto Grael dirigem-se para o local de coleta do lixo na praia. Foto Fred Hoffmann.

Alunos do Projeto Grael com o resultado de coleta do lixo durante a Gincana Ecológica. Foto Fred

Hoffmann.

2.1. Projeto Águas Limpas

Em 2006, o Projeto Grael mobilizou os seus alunos e iniciou o Projeto Águas Limpas – Fase I, de monitoramento do lixo flutuante na orla de Niterói, no trecho compreendido entre o Gragoatá e a Praia de Icaraí. O programa foi realizado com o patrocínio da empresa Águas de Niterói, em parceria com o Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense – UFF e com o apoio do Instituto Baía de Guanabara, da UFRJ e da Companhia de Limpeza de Niterói (CLIN).

O objetivo era definir um padrão de movimentação do lixo na água em diferentes condições de marés e ventos, além de identificar os possíveis pontos de concentração do lixo, para subsidiar um futuro trabalho de recolhimento do mesmo.

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Alunos do Projeto Grael, participantes do projeto Águas Limpas – Fase I (2006), desenvolvem trabalho de monitoramento do lixo flutuante na orla de Niterói. Foto acervo Projeto Grael.

Em 2010, após estes levantamentos iniciais, uma nova parceria entre o Projeto Grael, a empresa Águas de Niterói (patrocinadora) e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, deu início ao Projeto Águas Limpas Fase II. Providenciou-se a importação da França de uma embarcação, modelo Cataglop Light, especialmente desenhada para executar o recolhimento do lixo flutuante e que tem capacidade de armazenamento de até cerca de 500 kg de lixo a bordo. A embarcação foi batizada de “Águas Limpas”.

Embarcação modelo Cataglop Light “Águas Limpas”, do Projeto Grael e operado por pessoal formado

pela própria instituição. O “Águas Limpas” atua retirando o lixo flutuante na orla de Niterói desde 2010.

A embarcação, que entrou em operação no dia 10 de agosto de 2010, é operada por jovens formados pelo Projeto Grael, devidamente habilitados e contratados para esta finalidade. Os trabalhos do Projeto Grael concentraram-se na área compreendida pelo alinhamento entre o Morro do Morcego e a Ilha da Boa Viagem, compreendendo as praias da Boa Viagem, Praia das Flechas e Praia de Icaraí, além de toda a Enseada de Jurujuba, em Niterói.

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2.2. Jogos Pan-Americanos 2007

Em 2007, numa iniciativa pioneira e que criou parâmetros para as futuras ações, um dos fundadores do Projeto Grael, Axel Grael, então presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), coordenou os esforços para controlar a presença do lixo flutuante na raia das provas de vela dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, na mesma região da Baía de Guanabara que sediará a Raia Olímpica em 2016.

Na ocasião, não havendo a disponibilidade de equipamentos específicos para a operação de retirada do lixo flutuante, a FEEMA mobilizou os recursos do então Plano de Emergência da Baía de Guanabara - PEBG, hoje Plano de Área da Baía de Guanabara - PABG.

Foram, portanto, improvisadas barreiras específicas para a contenção de manchas de óleo para a contenção do lixo. Também, contamos com a disponibilização de um grande número de embarcações das empresas que faziam parte, na ocasião, do Plano de Emergência da Baía de Guanabara.

Uso improvisado de embarcações do Plano de Emergência da Baía de Guanabara e de barreiras de

contenção de óleo para o cerco do lixo flutuante na Baía de Guanabara. É possível notar a forte predominância de plásticos. Operação de retirada de lixo durante os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007.

Foto Axel Grael.

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Operação de retirada de lixo flutuante na Baía de Guanabara, por ocasião do primeiro dia de provas de vela nos Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Na cena, um conjunto de duas embarcações concentra uma

quantidade de lixo no mar. Como pode ser observado, a velocidade excessiva das embarcações e o uso improvisado da barreira fez com que parte do lixo se perdesse sob a barreira. O lixo acumulado era

retirado pela terceira embarcação, menor. Foto Axel Grael.

Durante os Jogos Pan-Americanos, as operações se concentraram prioritariamente na área ao Sul da Ponte Rio-Niterói, incluindo a Enseada de Jurujuba, região onde também ocorreram as competições de vela.

Em função dos Jogos Pan-Americanos, a Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas – SERLA implantou as primeiras ecobarreiras na Baía de Guanabara.

Cabe registrar que nos meses preparatórios antes dos Jogos Pan-Americanos, argumentava-se que os riscos da presença de uma grande quantidade de lixo seriam pequenos, uma vez que era período de estiagem. Conforme alertávamos, na ocasião, ocorreu o pior. Poucos dias antes do início das provas de vela, uma forte chuva fez com as quantidades de lixo que se acumulavam nos rios durante a estiagem descessem para a Baía de Guanabara de uma só vez.

O esquema de recolhimento de lixo preparado trabalhou com muito empenho e conseguiu manter a Raia Olímpica em condições razoáveis de para a competição. Não foram registrados maiores incidentes com os competidores.

2.3. Jogos Mundiais Militares

Em 2011, outro grande evento de porte mundial aconteceu na Baía de Guanabara, também na mesma área das competições de vela da Rio 2016. Os Jogos Mundiais Militares, organizados pelo Conselho Internacional de Esporte Militar.

O Projeto Grael foi convidado pela Escola Naval, responsável pela organização das competições de vela, para ajudar na estruturação da operação de retirada do lixo flutuante. Durante o evento, o Projeto Grael disponibilizou a embarcação “Águas Limpas”, e atuou em

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conjunto com barcos das empresas Ecoboat e Brissoneau, além de embarcações disponibilizadas pela própria Marinha do Brasil.

Mais uma vez, o esforço de coleta ocorreu nas proximidades das raias de regata.

2.4. Outras atividades com a participação do Projeto Grael

ABLM - Ao longo de 2013, o Projeto Grael sediou vários encontros de especialistas em Lixo Marinho. Destes encontros, surgiu a iniciativa de criação da Associação Brasileira do Lixo Marinho. No dia 30 de julho de 2013, a ABLM promoveu a Conferência Livre do Lixo Marinho na sede do Projeto Grael, reunindo especialistas no tema. O encontro ocorreu no contexto da 4ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (4ª CNMA), com objetivo de definir ações prioritárias para o combate e redução do lixo marinho, relacionando-se à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), tema central da 4ª CNMA.

Microplásticos - Também merece destaque o apoio do Projeto Grael, no dia 22 de agosto de 2014, aos primeiros testes para o levantamento de dados sobre microplásticos na Enseada de Jurujuba – Baía de Guanabara.

A iniciativa que surgiu por uma demanda de pesquisadores da UERJ, UFF e da Associação Brasileira de Lixo Marinho (ABLM) por dados sobre microplásticos flutuantes no Brasil e em especifico na Baía de Guanabara.

Pesquisadores a bordo da embarcação “Águas Limpas”. Foto acervo Projeto Grael.

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Rede para coleta de amostras de microplásticos. Foto acervo do Projeto Grael.

Microplásticos são pequenas partículas de matéria plástica com menos de 5 milímetros de diâmetro, também chamados de “pellets”. Segundo a organização Global Garbage, pelas características granulométricas diminutas, essas partículas são um problema em potencial aos organismos vivos, uma vez que a ingestão de plástico pode gerar bloqueio intestinal ou úlceras no estômago, reduzindo a absorção de nutrientes, além de provocar uma falsa sensação de saciedade e alterações hormonais prejudiciais à reprodução dos animais.

Formação profissionalizante - Finalmente, registramos que o Projeto Grael mantém uma parceria com a Marinha do Brasil para a capacitação de interessados em obter a habilitação de Marinheiro Auxiliar de Convés - MAC que permite a condução e operação profissional de embarcações, ressalvadas as limitações legais para a atividade.

Assim, muitos dos profissionais hoje atuantes no mercado são formados pelo Projeto Grael. É o caso de muitos dos operadores das embarcações da empresa Ecoboat, que presta serviços atualmente para a SEA na coleta do lixo flutuante da Baía de Guanabara.

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Jovens formados pelo Projeto Grael e que hoje prestam serviços profissionais à empresa Ecoboat. Foto

Ecoboat.

3. ATUAÇÃO DO INSTITUTO BAÍA DE GUANABARA (IBG): PROJETOS REALIZADOS O Instituto Baía de Guanabara - IBG é uma associação civil, de direito privado, sem fins lucrativos, reconhecida como OSCIP. Fundado em 30 de julho de 1993, tem como objetivos o estudo, a pesquisa e a solução dos problemas ambientais, sociais e urbanos, com prioridade na Região Hidrográfica drenante para a Baía de Guanabara. Ao longo de sua trajetória, desenvolveu importantes projetos relacionados à Baía de Guanabara, dos quais citamos aqui alguns deles:

3.1. Projeto Aguadeira Como parte do projeto "Planejamento Estratégico das bacias hidrográficas dos rios Guapi-Macacu e Caceribu" contemplado no edital da Petrobras em 2007 pela UFF em parceria com o IBG, o "Projeto Aguadeira" visou desenvolver a gestão participativa da população através da educação ambiental. Professores e alunos de 10 escolas próximas dos rios, nos municípios de Cachoeiras de Macacu, Itaboraí e Tanguá, foram capacitados para monitorar a qualidade ecológica dos rios, utilizando como bioindicadores organismos macroinvertebrados bentônicos.

3.2. Projeto CatAÇÃO – Rio O projeto CatAÇÃO-RIO teve como objetivo principal fomentar a formação de uma rede de cooperativa de catadores de materiais recicláveis na cidade do Rio de Janeiro, a partir de grupos de pessoas que na sua maioria já possuíam uma breve experiência de trabalho coletivo, porém sem a organização devida para atingir a sustentabilidade do empreendimento.

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3.3. Projeto Arsenal do Bem O Arsenal do Bem objetivou contribui para a formação de jovens matriculados no último ano do ensino médio do Colégio Estadual Professora Dalila de Oliveira Costa, no bairro do Arsenal em São Gonçalo, desenvolvendo atividades de natureza socioambiental, educativa e de capacitação profissional, estas através do SENAI/RJ. O Projeto Arsenal do Bem é patrocinado pelo Fundo para o Desenvolvimento Social Firjan/IAF - Interamerican Foundation e pelos Laboratórios B.Braun que são vizinhos da escola, em São Gonçalo, RJ.

3.4. Projeto Faraó O Projeto Faraó foi desenvolvido na microbacia do Rio Faraó (afluente do Rio Macacu) onde residem cerca de 400 famílias de Bom Jardim, Faraó de Cima, Faraó de Baixo, Bananal e Porto do Taboado. É patrocinado pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, e tem as parcerias do Instituto Vital Brasil - IVB, da Associação de Lavradores e Amigos do Faraó - ALAF, da Associação de Preservação de Rios e Serras do Vale do Rio Macacu - PRISMA e da Rádio Cultura FM de Cachoeiras de Macacu.

3.5. Projeto Oleiros e Olarias O Projeto Oleiros e Olarias: Tradição da Arte Cerâmica de Itaboraí foi realizado em 2008 no âmbito do Programa Monumenta/Iphan do Ministério da Cultura. Contou com a participação financeira da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan e Ministério da Cultura - Minc, além do apoio do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro - Inepac; das Secretarias de Planejamento e Coordenação, de Educação e Cultura de Itaboraí; da Sociedade dos Amigos da Cultura de Itaboraí - SACI e do Sindicato das Indústrias Cerâmicas - Sindicer/RJ - Delegacia de Itaboraí. Teve como objetivo conhecer, destacar e valorizar a singularidade de uma tradição cultural da região - o saber fazer cerâmica. Os resultados alcançados demonstraram que o reconhecimento e a valorização desse ofício já reforçaram a identidade dos profissionais e está possibilitando ganhos culturais e sociais para a comunidade de oleiros de Itaboraí. Foram também levantadas as raízes da milenar tradição ceramista no território fluminense, através

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de narrativas sobre as culturas do barro praticadas pelas tribos pertencentes aos troncos linguísticos Tupi e Macro-Jê que habitavam nosso solo antes da chegada dos europeus.

3.6. Projeto H2Orla Marinha Com o apoio da Fundação AVINA, das empresas Hultec, Docol e Tigre e as parcerias da ONG Água e Cidade e da empresa Águas de Niterói, o IBG realizou o Projeto H2Orla Marinha, voltado para capacitar professores e alunos para o uso sustentável da água e transformá-los em agentes multiplicadores nas escolas e na comunidade da região. O Projeto teve seu foco nas bacias hidrográficas da orla oceânica do município de Niterói, Rio de Janeiro. Procurou integrar em um espaço físico urbano, a metodologia de mobilização para o consumo consciente da água, já consolidada pela ONG Água e Cidade, com as informações sobre o sistema hidrográfico local assim como sobre a origem e qualidade da água de abastecimento. Além do material didático fornecido pela ONG Água e Cidade, o IBG produziu o documento "A água na Região Oceânica de Niterói" que foi distribuído para os professores e alunos participantes.

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Parte 1 – Síntese da situação da Baía de Guanabara

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4. SANEAMENTO NA BAÍA DE GUANABARA

A Baía de Guanabara e sua bacia hidrográfica sofreram uma rápida e intensa transformação, principalmente ao longo do Século XX, com a expansão urbana, com a implantação do parque industrial, com a atividade naval e portuária e, mais recentemente, com a chegada da enorme demanda por espaços para a logística offshore.

Enseada de Jurujuba, em 1907, com as praias de São Francisco e Charitas ao fundo. A orla da Baía de Guanabara ainda com baixíssima ocupação urbana e com pequena alteração nos seus ecossistemas.

Imagem da internet.

Hoje, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro abriga uma população de cerca de 12 milhões de habitantes. A densidade populacional é particularmente alta na parte oeste da bacia — a população do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis representa cerca de 80% da população total da bacia — onde a contribuição de efluentes domésticos e industriais é significativa, com uma pequena parcela de esgotos sanitários sendo tratada adequadamente.

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Distribuição da população. Fonte EGP-RJ

A bacia hidrográfica da Baía abrange uma área aproximada de 4.000 km2, e contribui por meio de 35 rios principais com elevada poluição por efluentes domésticos brutos ou parcialmente tratados de cerca de 10 milhões de habitantes e efluentes industriais de mais de 12.000 indústrias (FEEMA, 1998; in Lima, 2006).

Os principais fatores de degradação ambiental na Baía de Guanabara são:

• Lançamento de esgoto sanitário: uma carga poluidora de ordem de 453 toneladas de DBO

por dia é lançada nos rios da região.

• Lançamentos de afluentes industriais: no entorno da Baía de Guanabara está instalado o

segundo maior parque industrial do País, incluindo empresas de grande porte, como a

Refinaria de Duque de Caxias (REDUC).

• Terminais marítimos, instalações militares da Marinha do Brasil, estaleiros e portos

comerciais, com a liberação eventual de óleo e outros poluentes.

• Disposição final de resíduos sólidos: vale lembrar o recente esforço de fechar os lixões de

entorno da Baía de Guanabara.

• Desmatamento – erosão – assoreamento: o processo histórico de ocupação da região fez

com que a cobertura vegetal original fosse, em grande parte removida, causando processos

erosivos e assoreamento.

Aproximadamente 70% das indústrias do Estado do Rio de Janeiro e do PIB da produção desse

setor localizam-se na Bacia Hidrográfica da BG.

No ano de 2000, para as 60 principais indústrias poluidoras (ver tabela abaixo), responsáveis

por 80% da poluição industrial por efluentes, estimou-se uma vazão média de efluentes

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lançados na bacia na ordem de 0,266 m3/s com uma concentração média de 134,5 mg/l de

DBO e 283,4 mg/l de DQO (Consórcio Ecologus-Agrar, 2005).

Consumo, descarte e qualidade de efluentes por indústria.

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Apesar da renovação cíclica (sistema de autodepuração) das águas da BG com o oceano ser

relativamente rápida (tempo médio de renovação de 50% das águas da BG é de apenas 11,4

dias) o elevado aporte de poluentes na Baía compromete a qualidade das suas águas.

Em relação às condições de vida da população, dados ainda de 2000 mostram a existência de

parcela significativa das populações dos municípios de entorno da BG vivendo em condições

de pobreza, conforme mostra a tabela abaixo. Por outro lado, o nível de alfabetização, já com

dados mais recentes, é superior a 91% em todos os municípios.

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Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), com dados de 2000, a

maioria dos municípios está na faixa média (IDH entre 0,500 a 0,799), como pode ser

observado na tabela apresentada a seguir. Niterói aparece com o melhor índice e Tanguá com

o pior. Na maioria dos casos a renda constitui a pior parcela do IDH e a educação a melhor.

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4.1. Situação atual do saneamento

Segundo dados de Kelman e Canedo, dos 20.000 l/segundo de esgoto doméstico produzido em toda a Bacia da Baía de Guanabara, apenas 33,9% recebe algum tratamento, 26% do esgoto não recebe qualquer tratamento e 40,1% sequer é coletado.

Por este motivo, a Baía de Guanabara, um dos símbolos naturais do Rio de Janeiro e do Brasil, é considerada um dos corpos hídricos mais degradados do país e esta situação acontece devido ao grande atraso na implantação de um sistema de saneamento básico para a região.

Hoje, existem sete Estações de Tratamento de Esgotos nas bacias que drenam diretamente para a Baía de Guanabara. Destas, como se pode verificar nos dados do PSAM relativos ao ano de 2012, todas operam muito abaixo da capacidade projetada pera estas ETE’s.

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Fonte: PSAM.

O mapa abaixo, publicado pelo INEA, mostra a situação dos principais rios da Baía de Guanabara quanto à qualidade das águas. E o principal problema dos rios é o excesso de carga orgânica e outros nutrientes carreados para os rios. A causa principal é a falta de saneamento básico, que provoca a descarga de grande quantidade de efluentes domésticos e industriais nas drenagens naturais.

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O déficit de saneamento nos municípios da região da Baía de Guanabara totalizou 626,4 mil moradias sem acesso à água tratada e 1,612 milhão de habitações sem acesso à coleta de esgoto. Em termos relativos, ou seja, considerando o total de residências da região, o déficit de coleta de esgoto atingia 42% das moradias.

Tomando por referência os valores históricos de custo do investimento por acesso conforme dispostos no banco de dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações do Saneamento), estima-se que a universalização do saneamento na região custaria algo em torno de R$ 27,7 bilhões. Para dar uma ideia da dimensão dos investimentos, vale mencionar que eles correspondem a aproximadamente 9,3% do PIB da Baía de Guanabara – a soma das rendas dos municípios. (Instituto Trata Brasil, 2014).

4.2. Prejuízos da falta de saneamento

Ainda, segundo os dados do Instituto Trata Brasil (2014), além dos danos ambientais, os prejuízos com a falta de saneamento foram analisados da seguinte forma:

Saúde: Em 2013 foram notificadas quase 2.745 internações por infecções gastrintestinais nos municípios do entorno da Baía de Guanabara (DataSus), principalmente nas cidades de Duque de Caxias, Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João do Miriti. Desse total, 1.340 foram classificados pelos médicos como “diarreia e gastrenterite origem infecciosa presumível”. Cerca de 90% das internações envolveu crianças e jovens até 14 anos. O saneamento reduziria os gastos em R$ 150 mil por ano.

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Produtividade e trabalho: Em 2012, a falta de saneamento nos municípios do entorno da Baía de Guanabara causou a perda de 36,8 mil dias de trabalho, num valor global de R$ 66,6 milhões em horas pagas, mas não trabalhadas. A universalização do saneamento possibilitaria uma redução de 13,6% com redução de custo de R$ 9 milhões por ano nas cidades envolvidas. Se o acesso à coleta de esgoto e à água tratada fosse universalizado haveria também um incremento médio de R$ 74,86 na renda mensal do trabalhador da região, ou seja, mais R$ 4,7 bilhões na economia local.

Educação: O saneamento reduziria o atraso escolar e a falta das crianças na escola proporcionando melhor formação aos adultos. Estima-se que a universalização do saneamento traria um incremento de R$ 3,3 bilhões na folha de rendimentos dos futuros trabalhadores.

Valorização imobiliária: Os ganhos de valorização dos imóveis devem chegar a R$ 4,1 bilhões na região como um todo. O aumento de valor dos ativos estaria concentrado nas grandes cidades da região, como é o caso do Rio de Janeiro, que teria um ganho patrimonial de R$ 2,1 bilhões.

Balanço: Em valores correntes, os investimentos para universalização do saneamento (água e esgoto) seria de R$ 27,7 bilhões e os benefícios de R$ 60,2 bilhões em trinta anos. Em valores presentes, os investimentos seriam de R$ 17,5 bilhões para um ganho em benefícios de R$ 31,3 bilhões. O ganho seria de R$ 13,8 bilhões, ou seja, R$ 460 milhões/ano.

Fonte: Instituto Trata Brasil, 2014

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Fonte: Instituto Trata Brasil, 2014

Dos 16 municípios que fazem parte desta Bacia Hidrográfica, cinco foram listados entre os 15 piores do Ranking do Saneamento 2012, publicado pelo Instituto Trata Brasil em 2014, analisando a situação das 100 maiores cidades brasileiras.

Ranking do Saneamento das 100 maiores cidades brasileiras (dados de 2012) Instituto Trata Brasil (2014)

Cidades da Bacia da Baía de Guanabara Colocação

Niterói 14

Rio de Janeiro 56

Belfort Roxo 86

São Gonçalo 90

Duque de Caxias 93

São João de Meriti 94

Nova Iguaçu 95

Como pode ser verificado acima, Niterói é o único município da bacia a figurar entre as 15 melhores cidades em saneamento do país. Com os investimentos iniciados em 2014, através

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da Concessionária Águas de Niterói, a cidade será a primeira a chegar à universalização do saneamento, o que deve ocorrer em 2017. Com este resultado, Niterói disputará a liderança nacional em saneamento.

4.3. Lixo

Assim como no caso do saneamento, no que se refere ao lixo, os números também são muito desfavoráveis para a Baía de Guanabara.

Na cidade do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2008, foram produzidos 0,68 kg/hab/dia de lixo domiciliar e 0,56 kg/hab/dia de lixo público (IPP, 2011).

Ao longo de 11 anos, um grupo da COMLURB especializado em retirar o lixo lançado em encostas do Rio de Janeiro sacou 300 toneladas de resíduos. Entre 1986 e 1999, este lixo acumulado nas encostas da cidade do Rio de Janeiro provocou 21 acidentes significativos, com a morte de 60 pessoas (GeoRio, 1996). De tão recorrente nas encostas ocupadas da cidade, a GeoRio passou a considerar o lixo material geológico e criou o termo “lixúvio” para designa-lo. (Franz, 2011).

Na tabela abaixo, do estudo de Gabriela Franz, baseado em dados do Instituto Pereira Passos (IPP), verifica-se que no município do Rio de Janeiro, o custo per capita de gerenciamento de lixo sobe a cada ano, tendo chegado a 2007 ao valor de R$ 86,6/habitante. Contraditoriamente, no mesmo ano (2007), a quantidade de lixo recolhido por coleta seletiva, caiu a menos de 10% do que foi recolhido quatro anos antes!

Segundo o IBGE (Censo, 2000), em toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 73% dos domicílios são atendidos por serviços de limpeza e coleta de lixo doméstico. Cerca de 7% dos moradores que não eram atendidos por serviços de coleta afirmaram que depositavam o seu lixo em caçambas e 3,5% afirmaram que queimavam, enterravam ou lançavam em rios.

É este lixo doméstico que declaradamente vai para os rios que, somado a outras fontes de lixo urbano, acaba se tornando o lixo que chega à Baía de Guanabara.

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Em 2000, os dois piores municípios da Região Metropolitana em termos de qualidade dos serviços de coleta eram Japeri e Itaboraí. Este último, um dos municípios com uma taxa de crescimento demográfico, em virtude da implantação do COMPERJ.

Um avanço importante nos últimos anos no Estado do Rio de Janeiro foi o fim dos lixões e o encontro de soluções mais adequadas para o resíduo. O quadro abaixo indica a reversão da situação em anos recentes.

Fonte EGP-Rio

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5. LIXO FLUTUANTE NA BAÍA DE GUANABARA

Para uma melhor compreensão do problema do lixo flutuante na Baía de Guanabara, fazemos as seguintes considerações:

5.1. Capacidade de carreamento do lixo pelos rios

A maior parte do lixo que chega à Baía de Guanabara vem através dos rios. Por sua vez, o lixo chega aos rios através de escoamento superficial, das drenagens urbanas ou lançamento irregular pela própria população. Para que se tenha uma ideia da capacidade que os rios têm de transportar o lixo, um estudo realizado no Rio Grande do Sul estimou que quatro garrafas plásticas pequenas levaram 100 a 128 dias para percorrer 1,5 km (Neves, 2006; in Franz, 2011).

Segundo Kjerfve (1997), a vazão de todos os rios da Baía de Guanabara somados aporta 100 m3/s de água doce, aí incluídos também os 25 m3/s de descarga doméstica (esgoto). A variação sazonal da vazão média é de 33 m3/s em julho (estiagem: vazão mínima) a uma média de 186 m3/s em janeiro (cheias: vazão máxima).

Esta sazonalidade faz com que também haja uma capacidade de transporte do lixo diferenciado ao longo da estação, em função da precipitação, e consequente, vazão dos rios. Seis rios contribuem com 85,5% do aporte de águas para a Baía de Guanabara (vide mapa abaixo).

Os rios acima são os que apresentam a maior vazão e, por consequência, maior capacidade de

transporte de lixo. O índice de urbanização de cada bacia hidrográfica dos referidos rios influi no quantitativo potencial de lixo. Os rios Meriti, Sarapuí e Iguaçu, possuem uma densidade urbana muito

maior do que os demais.

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5.2. Quanto lixo chega à Baía de Guanabara?

Segundo dados publicados em artigo de Emanuel Alencar (“Palco de competições olímpicas em 2016, Baía de Guanabara sofre com acúmulo de lixo”, O Globo, 28/04/2013), além de Victor Coelho (“Baía de Guanabara: uma história de agressão ambiental”, pág. 118.) outras fontes, os dados referentes sobre a quantidade de lixo na Baía de Guanabara são apresentados no quadro, a seguir:

Informação Quantitativo Fonte Dados de Emanuel Alencar (O Globo)

Quantidade de lixo que chega à Baía de Guanabara (estimativa diária)

80 t/dia (2008) Elmo Amador, ambientalista e pesquisador

100 t/dia (2013) Marilene Ramos, presidente do INEA

Lixo coletado em 11 ecobarreiras (anual)

4.714 t (2011) INEA

4.246 t (2012)

Quantidade de pneus coletados (2011 + 2012)

Total: 2.878 pneus

Em média, 4 por dia

Prejuízo causado em Barcas S.A. (gastos em limpeza, equipes de mergulho, substituição de filtros, pintura, energia e manutenção)

R$ 2,3 milhões/ano, CCR Barcas

Dados de Victor Coelho (2007)

Lixo na Baía de Guanabara 274 t/dia de lixo Observações e estimativas do próprio autor 542 t/dia de balseiras

(macrófitas)

Total: 816 t/dia

5.3. Mobilidade do lixo flutuante na Baía de Guanabara

Uma vez chegando à Baía de Guanabara, o lixo tende a ser carreado pelas correntes de marés e pelos ventos. A mobilidade do lixo é majoritariamente associada ao peso e à flutuabilidade dos itens, bem como à susceptibilidade à ação dos ventos e das correntes. Conforme observaram Neto e Fonseca (2011), itens como calçados, considerados pelos autores como exemplo de lixo pesados, tende a ficar retido próximo à foz dos rios. Foi o que observaram nos rios em São Gonçalo.

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Desenho esquemático (por observação pessoal) da deriva do lixo flutuante em direção à entrada da Baía

de Guanabara, local onde ocorrerão as regatas olímpicas. Por Axel Grael.

O Projeto Grael, com o patrocínio da empresa BG Brasil, e com a parceria da empresa Prooceano e os laboratórios LAMCE e LAMMA, da UFRJ, desenvolveu o Projeto Baía de Guanabara, com o objetivo de estudar a dinâmica das correntes e definir um padrão de deriva do lixo flutuante na Baía de Guanabara.

Para tanto, com a participação de pessoal formado nos cursos profissionalizantes do Projeto Grael, implantou-se uma rotina de lançamento de derivadores nas águas da Baía de Guanabara, para a coleta de dados sobre a deriva em diferentes condições de vento e marés.

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Jovens formados pelo Projeto Grael participam de atividade do Projeto Baía de Guanabara, lançando

derivadores nas águas, próximo à entrada da barra da Baía. Foto acervo do Projeto Grael.

Confirmou-se que o lixo não se espalha pelo espelho d’água da Baía de Guanabara de forma aleatória, mas tende a se acumular em certos pontos, influenciado pelo tipo de material, sua origem (de qual rio), pelo regime de ventos e movimento de marés.

Conforme é de conhecimento comum de velejadores, pescadores e demais pessoas relacionadas às atividades náuticas, um comportamento típico do lixo flutuante é posicionar-se ao longo das chamadas “trocas de marés”, ou linhas de contato entre diferentes correntes superficiais. Nestas áreas formam-se as chamadas estrias de lixo, como é exemplificado na foto abaixo:

5.4. Padrão de concentração do lixo na Baía de Guanabara.

O lixo flutuante proveniente majoritariamente dos rios e outras fontes de descarte tende a se acumular de diferentes formas, conforme padrões exemplificados a seguir, utilizando-se a nomenclatura mais comumente utilizada para defini-las:

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Na forma de “estrias de lixo”

As “estrias de lixo” ocorrem tipicamente nos limites entre correntes de maré, concentrando o lixo de forma linear. É uma situação em que o recolhimento do lixo por ecobarcos é mais facilitada, embora as estrias tenham grande dinâmica de deslocamento.

Exemplo de acúmulo de resíduos flutuantes na forma das chamadas “estrias de lixo”. Foto de Axel Grael.

Acúmulo junto à orla.

Quantidades de lixo podem se acumular junto às margens da Baía, nas reentrâncias do recorte litorâneo, influenciado principalmente pelo regime de vento, mas também pelas correntes de maré.

Em áreas de aterro, com a ruptura da linha natural de costa, a concentração do lixo pode ser maior, como se verifica em área de aterro realizado pelo Iate Clube Brasileiro, sobre o espelho d’água da Enseada de Jurujuba, em Niterói.

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Lixo acumulado junto à praia e dispersando-se mediante ação de corrente de maré, na forma de estria. Foto Axel Grael.

Lixo acumulado próximo à orla do Gragoatá, em Niterói. Foto IBG.

“Manchas de lixo”

São grandes concentrações de lixo em um determinado local. Estes acúmulos de detritos surgem normalmente poucas horas ou poucos dias (dependendo do local) após chuvas fortes. São ainda mais comuns em situação de chuvas fortes após período de estiagem.

Mancha de lixo. Foto internet.

Lixo disperso

São concentrações de lixo, podendo ser em grande quantidade, mas dispersas por áreas mais extensas, portanto apresentando baixa concentração. É a situação que oferece maior dificuldade e baixa produtividade para os ecobarcos.

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Lixo disperso. Foto cedida por Lourenço Ravazzano.

5.5. O lixo flutuante chega às praias

Os 70 milhões de habitantes das áreas costeiras geram 56 mil toneladas diárias de lixo. Estima-se que, em escala global, até 80% do lixo encontrado em praias chega à costa através dos rios próximos, dependendo dos padrões de circulação das águas costeiras. Os frequentadores das praias também contribuem, às vezes de forma alarmante, ao deixar resíduos na areia (LAIST, 1987, in Guimaraes Farias, 2014).

Um estudo publicado em 2011, desenvolvido pelos pesquisadores José Antônio Baptista Neto e Estefan Monteiro da Fonseca, ambos da UFF, consideraram que praias como Charitas, em Niterói, pelas características do material encontrado, uma boa parte do lixo foi gerado pelos próprios usuários da praia e não trazido pelo mar.

Para que se tenha ideia de quanto lixo pode ser produzido pelos usuários das praias, só no dia 01 de janeiro de 2015, após o Réveillon, a Companhia de Limpeza de Niterói – CLIN recolheu 100 toneladas de lixo nas áreas públicas da cidade, principalmente nas areias e ruas próximas à praia de Icaraí. Na mesma data, a Comlurb recolheu 680 toneladas de lixo decorrentes das festividades de final de ano. O volume foi celebrado como sendo 4,36% inferior às 711 toneladas de lixo recolhidas depois do réveillon 2013/2014, redução atribuída às campanhas educativas contra a geração de lixo. Só em Copacabana, cerca de 1,2 mil garis recolheram mais de 370 toneladas (saiba mais).

Neto e Fonseca (2011) também apresentaram dados interessantes sobre a influência da sazonalidade do ciclo meteorológico (inverno/estiagem e verão/chuvas), e consequente vazão dos rios, na quantidade de lixo encontrado nas praias de Niterói e São Gonçalo. Os dados, referentes ao lixo catalogado entre os anos 1999 a 2008, são apresentados na figura abaixo:

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Quantidade de lixo nas praias estudadas e variação por área e por estação do ano. (Neto e Fonseca,

2011)

Com relação à quantidade anual de lixo encontrado nas praias de Niterói e São Gonçalo, os

resultados de Neto e Fonseca foram os seguintes:

Quantidade de lixo nas praias estudadas e variação por ano e por estação do ano. (Neto e Fonseca,

2011)

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Lixo nas praias dos municípios de Niterói e São Gonçalo

Composição do lixo, com concentração total no verão e inverno, por praia estudada. Neto e Fonseca, 2011.

Em termos percentuais de material identificado, os dados obtidos por Neto e Fonseca (2011) são:

Tipo de material %

Plásticos 70,0%

Sacolas plásticas 56,5%

Outros plásticos(embalagens, canudos, etc.) 14,1%

Fragmentos de material de construção (*) 10,0%

Vidro 8,1%

Isopor 7,0%

Papel 6,7%

Lata 4,8%

Restos de material de pesca 1,3%

(*) Deste total, 67% foi registrado no Rio Brandoas, onde há a prática ilegal de lançamento frequente de entulho nas margens do rio.

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O estudo mostrou ainda que a maior parte do lixo tende a se acumular nas praias da orla de

São Gonçalo:

Município % do total do lixo

catalogado Praia %

São Gonçalo 73%

Brandoas 52%

Pedrinhas 16,2%

Praia da Luz 8,7%

Niterói 27%

Boa Viagem 9,3%

Charitas 8,4%

São Francisco 5,3%

Além de Neto e Fonseca, que tiveram o foco da pesquisa no litoral leste da Baía de Guanabara

(Niterói e São Gonçalo), a pesquisadora Barbara Franz (2011) estudou o lixo encontrado nas

praias do município do Rio de Janeiro na Baía de Guanabara.

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Lixo em praias da Baía de Guanabara no município do Rio de Janeiro

Médias e desvios-padrão percentuais da composição das categorias primárias e secundárias obtidas em cada campanha. Fonte: Franz, 2011

ESJ: Estação Ecobarreira Rio Meriti EIR: Ecobarreira Rio Irajá EAF: Ecobarreira Canal Arroio Fundo (Jacarepaguá)

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5.6. Problemas causados pelo lixo flutuante

O lixo marítimo já é reconhecido como um problema planetário e se tornou uma preocupação de organismos da ONU e outras agências internacionais que dedicam estudos e iniciativas mundiais para buscar soluções para o problema. A International Maritime Organization – IMO, por exemplo, estabeleceu regras para controlar o problema do lixo lançado ao mar por navios. Órgãos renomados, como a National Ocean and Atmospheric Administration – NOAA, do governo americano, também têm dedicado estudos e estabelecido guias para orientar portos, marinas e autoridades de rios e baías para lidar com o problema. A presença do lixo na Baía de Guanabara, seja na orla, no fundo do mar ou flutuando nas suas águas, causa muitos problemas, em diversos aspectos, e é hoje o grande fator de percepção pública dos problemas ambientais da Baía. No Rio de Janeiro, o problema ganhou uma relevância ainda maior devido à proximidade dos Jogos Olímpicos de 2016, que terão as provas de vela nas águas da Baía de Guanabara.

Foto da velejadora Martine Soffiatti Grael, campeã mundial da classe 49erFX, eleita a melhor velejadora do ano pela ISAF e Atleta do Ano pelo COB, em 2014, repercutiu na mídia. A atleta registrou com humor o momento em que encontrou um monitor flutuando na Baía de Guanabara enquanto praticava Stand

up paddle (SUP).

Jogos Olímpicos: as provas de vela dos Jogos Olímpicos de 2016 serão realizadas na Baía de Guanabara e a presença do lixo flutuante tem sido um dos principais motivos de crítica e de publicidade negativa na mídia internacional.

Atletas que têm participado de eventos ou treinado na Baía de Guanabara têm se mostrado muito mal impressionados com o problema do lixo e declarado isso em entrevistas que acabam repercutindo negativamente mundo afora.

A grande preocupação é que, caso um competidor tenha um lixo (plástico, galho, etc.) preso à bolina ou leme do barco, pode perder posições numa regata e, por consequência, pode perder a chance de conquistar uma medalha.

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Lixo e dragagem: Outro grave problema é a deposição do lixo no fundo dos rios e de

ambientes costeiros como a Baía de Guanabara. Resíduos como pneus, sofás,

eletrodomésticos e outros materiais mais pesados tendem a afundar e a se concentrar,

principalmente nos rios e nas áreas próximo à foz, considerando a menor mobilidade destes

resíduos.

Lixo entranhado em equipamento de dragagem. Rio Gravataí, Porto Alegre, RS.

Além dos danos ambientais, o lixo no sedimento é de difícil remoção e representa um dos

grandes problemas para as operações de dragagem e deposição de sedimentos. Como pode

ser visto na foto acima, o lixo acaba se entranhando nos equipamentos, obrigando a

constantes interrupções na dragagem, aumentando os custos da operação.

Nas constantes dragagens realizadas na Baía de Guanabara, o lixo associado ao sedimento

removido tem sido considerado uma das grandes preocupações e foco de inúmeras

reclamações nas áreas próximas aos pontos de descarte no oceano ao sul da barra da Baía.

Mesmo evitando-se o lixo no sedimento dragado, através de equipamentos próprios, ainda

verifica-se a presença dos resíduos no material descartado.

Segundo ambientalistas e pescadores esse lixo tem chegado às praias da Região Oceânica de

Niterói, carreado pelos ventos e correntes.

Em função destes problemas, os locais de descarte do material dragado têm sido definidos

para pontos cada vez mais afastados, onerando a operação e, ainda assim, gerando dúvidas

quanto à segurança ambiental da solução adotada.

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Outros problemas causados pela presença do lixo na Baía de Guanabara são listados a seguir:

• Danos à fauna por asfixia, ingestão de plásticos, etc.

• Danos aos habitats bentônicos por deposição e soterramento

• Danos aos manguezais

• Contaminação

Riscos à saúde humana

• A ingestão ou a exposição a animais peçonhentos carregados em acúmulos de lixo

podem causar acidentes.

• Propagação de vetores de doenças.

Prejuízos ao lazer e à recreação nas praias

• Interfere nos índices de balneabilidade e na qualidade das praias

Danos à paisagem

• Deterioração de espaços urbanos

• Depreciação de imóveis

• Prejuízo ao turismo e ao lazer

Prejuízos ao transporte e ao tráfego marítimo e fluvial

• O lixo prende-se aos hélices, é absorvido por motores, etc.

Prejuízos à pesca

• Redes de pesca são danificadas ou acabam cheias de lixo, etc.

Dentre outros...

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6. QUANTO SE GANHARIA COM UMA BAÍA DE GUANABARA DESPOLUÍDA?

Além dos danos ecológicos e ambientais, a poluição causa prejuízos à saúde da população, ao turismo, à recreação e ao lazer, etc.

Em outubro de 2014, o Instituto Trata Brasil lançou o documento “Benefícios econômicos da expansão do saneamento na Baía de Guanabara: qualidade de vida, produtividade e educação - Valorização ambiental”.

Segundo estimativa do estudo, com a universalização do saneamento, os ganhos alcançariam R$ 31,3 bilhões em 30 anos, ou seja, até 2043. Isso significa que se todas as moradias tiverem água tratada e esgoto coletado, a Baía de Guanabara terá um aumento do fluxo anual de riqueza de R$ 1,0 bilhão por ano em média. Esse fluxo equivale a 0,4% do PIB dos municípios do entorno da Baía de Guanabara em 2012.

Fonte: Instituto Trata Brasil, 2014.

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Fonte: Instituto Trata Brasil, 2014.

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7. INICIATIVAS REALIZADAS OU EM ANDAMENTO PARA A DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA

7.1. Programa de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG

Embora com vários antecedentes, a implementação de políticas públicas para a despoluição da Baía de Guanabara começou a ser estruturada no início da década de 1990, através do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG, iniciativa que foi financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, com recursos de contrapartida financiada pelo Japan Bank for International Cooperation – JBIC e do próprio Governo do Estado do Rio de Janeiro. O PDBG foi lançado em 1994 e as obras começaram um ano depois.

Inicialmente previstas para serem concluídas no ano 2000 a um custo de US$ 793 milhões, as obras desta primeira fase sofreram sucessivos atrasos e, em dezembro de 2005, o valor total do programa havia sido revisto para US$ 1.169 milhões.

Após doze anos de execução do PDBG, no entanto, as estações de tratamento de esgoto (ETEs) construídas funcionavam bem abaixo de sua capacidade, problema que persiste até os dias atuais. Os baixos índices são decorrentes da não conclusão das redes coletoras, cuja maior parte do financiamento era de responsabilidade do governo estadual. Os recursos do JBIC foram destinados para financiar 100% das estações de tratamento de esgoto (ETEs) e 35% da implantação das redes coletoras de esgoto. Os demais 65% dos investimentos na rede coletora provinham da contrapartida do governo do estado do Rio de Janeiro. Como a contrapartida estadual não foi cumprida, as estações construídas passaram a operar abaixo de sua capacidade. A não conclusão dos coletores de esgoto, necessários para a coleta e o transporte de esgotos às ETEs, comprometeu os resultados do programa como um todo. Com isto, o PDBG não logrou alcançar suas funções social e ambiental. (IPEA).

7.2. Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara – PSAM

Em 2011, o Governo do Estado firmou contrato com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID para a captação de recursos para um segundo projeto para a despoluição da Baía de Guanabara.

O Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara – PSAM tem a seguinte composição orçamentária:

US$ 452 milhões de empréstimo do BID

US$ 188 milhões de contrapartida do Estado do Rio de Janeiro

US$ 640 milhões – TOTAL

A prioridade de aplicação destes recursos é, como aconteceu com o PDBG, o saneamento da Bacia da Baía de Guanabara, com a implantação de redes coletoras, a construção de novas ETE’s e a ampliação do aporte de esgoto para tratamento das ETE’s existentes.

Os três componentes do PSAM são:

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Implantação de Sistemas de Esgotamento Sanitário

Fortalecimento Institucional

Promoção das Políticas Públicas Municipais de Saneamento

O quadro abaixo apresenta as metas acordadas com o BID.

Fonte: PSAM

O mapa, a seguir, apresenta as áreas de implantação das novas redes de coleta de esgoto e suas respectivas estações de tratamento.

Fonte: PSAM.

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No mapa acima, as áreas em verde claro indicam as áreas com cobertura de rede de esgoto previamente ao PSAM. As áreas em cores (roxo, laranja ou avermelhado) são as novas áreas a receber redes de esgoto.

7.3. PLANO GUANABARA LIMPA

O governo estadual reuniu diversas iniciativas ambientais no que foi denominado Plano Guanabara Limpa, articulando iniciativas da SEA, da CEDAE, compromissos oriundos de Compensações Ambientais (caso do Comperj), e outras. Os programas são transcritos, a seguir, conforme estão expostas no site oficial do Plano Guanabara Limpa: www.guanabaralimpa.eco.br

7.3.1. Ampliação dos Sistemas de Tratamento de Esgoto Além das ações de tratamento de esgoto previstas no Psam, o Projeto de Ampliação do Sistema Alegria – a cargo da Cedae e da Secretaria de Estado de Obras (Seobras) – é o maior investimento do Governo do Estado para aumentar os sistemas de tratamento do esgoto despejado na baía. O Projeto de Ampliação do Sistema Alegria inclui a construção de novos troncos coletores de esgoto e a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Alegria, no bairro do Caju, na Zona Portuária do Rio. Outras três importantes obras que contribuirão para melhorar as águas da Baía de Guanabara, também a cargo da Cedae, são a reconstrução das ETEs Pavuna e Sarapuí, a modernização do sistema de tratamento de esgoto da Ilha de Paquetá e a ampliação e melhorias operacionais da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de São Gonçalo. Construída pelo Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), a Estação de Tratamento de Esgoto de São Gonçalo passa por obras de ampliação, adequação e melhorias operacionais com recursos de cerca de R$ 25 milhões, oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. Com a conclusão das obras, a ETE de São Gonçalo passará a tratar 300 litros de esgoto por segundo em regime primário devendo alcançar 800 l/s em regime secundário até o final de 2015. Esta iniciativa resolve um dos problemas criados pela má condução do PGBG: no passado, a ETE foi “inaugurada” sem estar conectada a rede de esgoto. Ou seja: não recebia esgoto para tratar. Resultado: ficou abandonada e se deteriorou. Mas agora, além da recuperação da ETE de São Gonçalo - que já opera parcialmente com 300 litros de esgoto por segundo - este importante e populoso município terá seu sistema de esgotamento sanitário ampliado pela SEA, com a construção da Estação de Tratamento de Esgoto de Alcântara, com capacidade para tratar 800 litros de esgoto por segundo, dos bairros Colubandê, Mutondo, Trindade e Galo Branco. Cerca de 220 mil pessoas serão beneficiadas inicialmente.

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7.3.2. Compromissos ambientais pela Baía de Guanabara (COMPERJ, REDUC, etc.)

A Petrobras tem de investir R$ 1,45 bilhão em ações ambientais e de melhorias da área operacional da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense, e na área de influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí. As condicionantes ambientais foram definidas no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Reduc e no Termo de Compromisso Ambiental (TCA) do Comperj. As ações previstas no TAC da Reduc não só melhorarão a qualidade do ar da região – em especial do Município de Duque de Caxias – como contribuirão para o avanço do saneamento e da melhoria da qualidade das águas da Baía de Guanabara. Como parte do TAC da Reduc, a SEA construiu a Unidade de Tratamento do Rio Irajá. A SEA e o Inea estabeleceram condicionantes ambientais à Petrobras para o licenciamento do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que está em construção em Itaboraí, no entorno da Baía de Guanabara. Dentre elas, o plantio de sete milhões de mudas de Mata Atlântica em áreas vizinhas ao Comperj, a implantação de um parque municipal em Guapimirim e obras de coleta e tratamento de esgoto nos municípios de Itaboraí e Maricá, já em execução.

7.3.3. Programa de Revitalização do Canal do Fundão

Em 2012, a SEA concluiu uma de suas obras de recuperação ambiental do Estado do Rio de Janeiro: a revitalização do Canal do Fundão – localizado entre a Ilha do Fundão e o continente, ao longo da Linha Vermelha. O Programa de Revitalização e Recuperação Ambiental do Canal do Fundão integra as ações previstas no Plano Guanabara Limpa. No processo de dragagem do Canal do Fundão, os trechos contaminados com metais pesados passaram por processo de separação de areia. Os sedimentos restantes foram então dispostos em cápsulas de geotêxtil. Com a dragagem do canal e ações de replantio em suas margens, a indústria naval na região foi impulsionada, com a criação de empregos, e pássaros voltaram a fazer pouso na região. Além disso, com a construção da Ponte do Saber, foi desafogado o intenso tráfego de saída da Cidade Universitária.

7.3.4. Programa Sena Limpa Lançado em 2012, o Programa Sena Limpa, do Governo do Estado em parceria com a Prefeitura do Rio, vai despoluir seis das principais praias do Rio. Em diferentes etapas, vêm sendo executadas obras de recuperação ambiental das praias de São Conrado, Leblon, Ipanema, Leme e Urca, na Zona Sul, e da Bica, na Ilha do Governador. Duas dessas praias – Urca e Bica – ficam dentro da Baía de Guanabara. O Sena Limpa contribui assim para o avanço da recuperação ambiental das águas da baía, sendo parte do Plano Guanabara Limpa. A cargo da Cedae, as intervenções na Praia da Urca abrangem a reforma de estação elevatória de esgotos, troca de linha de recalque e reforma da rede coletora.

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A intervenção na Urca abrange também a Praia Vermelha, que dá para o alto mar, mas fica junto à entrada da Baía de Guanabara, contribuindo assim para a melhoria da qualidade das águas da baía. Com ações como implantação de dois novos coletores de esgoto sanitário e a modernização das estações elevatórias da Urca e do Forte de São João, a Praia Vermelha já se encontra balneável ao longo de 95% do ano. A segunda fase do Programa Sena Limpa irá incluir mais seis praias da cidade do Rio de Janeiro, quatro delas dentro da Baía de Guanabara: Botafogo; Flamengo; a orla da Ilha de Paquetá; a Praia da Guanabara, na Ilha do Governador; Copacabana e Pepê, na Barra da Tijuca.

7.3.5. Governança

Merece registro alguns avanços recentes que tem se alcançado num dos temas mais críticos e que talvez seja uma das maiores carências da Baía de Guanabara: GOVERNANÇA. COMITÊS: Após algumas tentativas iniciais de se criar um colegiado formal para a Baía de Guanabara, somente a partir de 2001 as primeiras iniciativas começaram a sair do papel, com a criação de duas Comissões, uma para cada lado da Baía de Guanabara, sendo elas: Comissão Pró-Comitê do Leste da Guanabara e a Comissão Pró-Comitê do Oeste da Guanabara. Segundo o histórico publicado no site do Comitê Baía de Guanabara, a Comissão Pró-Comitê do Leste teve mais sucesso em sua estruturação, tendo o Instituto Baía de Guanabara, como um dos principais agentes catalisadores na sua criação. A Comissão Pró-Comitê do Leste da Guanabara iniciou seus trabalhos pelas bacias dos rios Caceribu e Macacu, participando da reunião de lançamento representantes da sociedade civil e dos governos municipais de Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Rio Bonito, São Gonçalo e Tanguá. Em seguida, as bacias dos rios Alcântara/Guaxindiba abrangendo o Município de Niterói. Foram constituídas três Câmaras Técnicas – de governo, da sociedade civil e dos usuários –, com o objetivo de identificar e agregar os interessados em participar do processo, sendo realizadas várias reuniões de mobilização para cada um dos segmentos. Foram realizadas várias reuniões da Comissão Pró-Comitê do Leste da Guanabara e de mobilização que se revezavam entre seus vários municípios. O ponto alto de todo trabalho ocorreu em 15 de maio de 2002, quando foi realizado, um seminário para discutir os principais problemas do Leste da Guanabara. Participaram representantes de todos os governos municipais, dos usuários e da sociedade civil. O resultado deste evento foi à elaboração do documento “Carta do Leste”. O trabalho iniciado, em 2001, pela Comissão Pró-Comitê do Leste da Guanabara foi recompensado, em 13 de novembro de 2003, quando o Conselho Estadual de Recursos Hídricos em sua 7ª reunião Ordinária aprovou a criação do Comitê do Leste da Guanabara.

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Porém, somente no ano de 2005, foi que o Governo do Estado do Rio de Janeiro institui oficialmente, através de decreto, o Comitê da Baía de Guanabara, expandido a área de atuação para além do lado leste, incluindo as áreas do oeste, dos sistemas lagunares de Jacarepaguá, Lagoa Rodrigo de Freitas, Itaipu/Piratininga e Maricá-Guarapina. Criando seis regiões hidrográficas distintas, possibilitando a estas regiões a se organizarem em subcomitês, sob o comando do Comitê da Baía de Guanabara. O grande problema do modelo dos Comitês é que os mesmos não foram devidamente valorizados pelo poder público e acabaram tendo um papel secundário no estabelecimento das prioridades estratégicas e no planejamento dos investimentos. Como exemplo disso, verifica-se que os Comitês não tiveram participação no processo de idealização e na negociação do PSAM. PARCERIA GUANABARA – CHESAPEAKE: Há muitos anos, o Comitê Rio de Janeiro – Maryland, da organização Companheiros da Américas, vem trabalhando a colaboração e a troca de experiências entre organizações públicas e privadas que atuam em defesa das duas baías. Deste intercâmbio, em 30 de julho de 1993, surgiu o Instituto Baía de Guanabara, que, de certa forma, inspirou-se na experiência e no modelo da Chesapeake Bay Foundation, organização ativa pela defesa daquela baía. A partir de 2011, a cooperação entre gestores das duas baías foi formalizado pelo Memorando de Entendimentos, assinado pelos governadores Sérgio Cabral Filho (Rio de Janeiro) e Martin O’Malley (Maryland), em 30 de março de 2011. Em dezembro de 2013, o governador retribuiu a visita de Cabral a Maryland e, esteve no Rio de Janeiro, com dirigentes ambientais de seu governo e alavancando a troca de experiências. As duas baías são muito diferentes entre si, tanto em termos físicos (geomorfológicos), quanto ecológicos e ambientais. Mas há muito a aprender com o trabalho desenvolvido na Baía de Chesapeake. Dentre as muitas áreas de interesse no intercâmbio das duas experiências de despoluição de ambientes estuarinos, estão a concepção e o gerenciamento do programa de despoluição. Na concepção, chama a atenção o caráter menos estatal da iniciativa: o programa é da sociedade, tendo várias esferas do governo, bem como a sociedade civil, um papel relevante nas iniciativas de recuperação dos ecossistemas da baía. No caso da Baía de Guanabara, como vimos, a iniciativa de despoluição tem sido quase que unicamente estatal, ficando a sociedade civil com um papel secundário. No gerenciamento, merece destaque o foco no estabelecimento de metas de qualidade ambiental como instrumento de mobilização da sociedade e o programa Baystat, como instrumento de gerenciamento do programa. ENTIDADE DELEGATÁRIA: um passo decisivo para a melhoria do processo de governança da Baía de Guanabara foi dado recentemente pela RESOLUÇÃO CERHI-RJ AD REFERENDUM nº 128, de 28 de outubro de 2014, que DISPÕE SOBRE A INDICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ÁGUAS DA BAÍA DE GUANABARA – AABG COMO ENTIDADE DELEGATÁRIA DAS FUNÇÕES DE AGÊNCIA DE ÁGUA, TENDO COMO INTERVENIENTE O COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DA BAÍA DE GUANABARA, REGIÃO HIDROGRÁFICA V.

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A iniciativa é um marco da gestão da Baía de Guanabara, pois estebelece um processo mais participativo na tomada de decisão e na ação de gestão da Baía, ao descentralizar a ação para a Agência Delegatária, no caso a Associação Águas da Baía de Guanabara, e finalmente reconhece um protagonismo muito maior para o Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara.

7.3.6. Programa Baía Sem Lixo O Projeto Baía sem Lixo, a cargo da SEA em parceria com o Inea, visa a retenção de resíduos sólidos na foz de rios e canais e a coleta desse lixo flutuante no espelho da água da baía. O projeto atua em duas frentes: na instalação de estruturas feitas a partir de materiais reciclados, como garrafas PET, na foz de rios e canais, as chamadas ecobarreiras, com a finalidade de reter os resíduos sólidos e através da operação de embarcações especiais de coleta de lixo flutuante, os ecobarcos. Para reforçar o trabalho de coleta, a SEA contratou em 2014 dez embarcações que recolhem diariamente 1.5 tonelada de lixo flutuante nas águas da Baía de Guanabara, dando-lhe destinação correta em ecopontos. O material que não pode ser reciclado é levado ao aterro sanitário mais próximo. Quatro ecopontos foram instalados para receber os resíduos recolhidos por essas embarcações. O presente relatório visa dar prosseguimento para o Programa Baía Sem Lixo, aperfeiçoando a sua ação e melhorando a eficiência.

7.3.7. Programa Enseada Limpa (Niterói) Cabe destacar a experiência desenvolvida na Enseada de Jurujuba, em Niterói, também conhecida como Enseada de São Francisco ou Saco de São Francisco. A Prefeitura Municipal de Niterói desenvolve, com o apoio da empresa Águas de Niterói e a participação de vários órgãos municipais, o Programa Enseada Limpa, que visa reduzir os índices de poluição e da presença do lixo naquela aprazível parte da orla niteroiense. A Enseada de Jurujuba é o berço da vela no país e uma das mais tradicionais para os esportes náuticos no Brasil, além de ser um importante polo de lazer/gastronomia e uma das maiores atrações turísticas da cidade. O programa se iniciou em 2013 e já investiu mais de R$ 22.400.000 em obras de melhoria da rede de saneamento na bacia da Enseada e em programas ambientais com foco na questão do lixo. A meta é recuperar a balneabilidade da Enseada de Jurujuba, que poderá se tornar a primeira parte da Baía de Guanabara a ser declarada despoluída.

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Parte 2

O COMPROMISSO OLÍMPICO DO RIO DE

JANEIRO E A BAÍA DE GUANABARA

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8. O LEGADO DA RIO 2016 PARA A BAÍA DE GUANABARA

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que ocorrerão em meados de 2016 e que terão as provas de vela nas águas da Baía de Guanabara, foram vistos como uma grande oportunidade para que fosse dada a devida prioridade para a despoluição, para que fossem convergidos os recursos necessários para as intervenções em saneamento e outras obras necessárias.

Quando a cidade do Rio de Janeiro logrou êxito na sua candidatura olímpica, assumiu compromissos perante as autoridades do Comitê Olímpico Internacional, atletas e a comunidade desportiva mundial (todos os milhões de pessoas que se interessam pelo evento olímpico) a reduzir a carga poluente da Baía de Guanabara em 80%.

Desde a escolha do Rio de Janeiro para a sede olímpica de 2016, esperou-se ansiosamente pelos resultados, que vieram de forma muito mais lenta do que outros investimentos. Recentemente, o governador Luiz Fernando Pezão afirmou-se que a meta de 80% de despoluição não estava descartada, mas que seria difícil alcança-la, e anunciou que o estágio atual da despoluição estaria em 49%.

Localização das raias olímpicas para as provas de vela dos Jogos Olímpicos de 2016. Reprodução da Rio

2016.

Independente dos números, o que se verifica é uma percepção geral de que a poluição ainda é um problema e que a Baía de Guanabara será um ponto frágil no evento olímpico do Rio.

Ocorre que, mesmo que fosse atingida a meta de 80%, os 20% restantes de poluição ainda fariam da Baía de Guanabara uma das raias olímpicas com a qualidade ambiental mais comprometida da história das Olimpíadas.

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Diferente dos especialistas em meio ambiente que medem a qualidade ambiental da Baía através de complexos parâmetros (colimetria, DBO, OD, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes), a percepção do público em geral baseia-se principalmente nos aspectos de cor, turbidez e, principalmente, a presença de lixo flutuante.

O mesmo acontece com relação a muitos jornalistas, atletas e dirigentes de esportivos. O

relato destes tem tido grande repercussão na mídia internacional, como vemos abaixo.

Matéria do jornal inglês The Independent faz duras críticas às condições ambientais, apresenta fotos do

lixo e alerta para riscos à saúde dos atletas.

Matéria da revista Sports Illustrated estampa imagem do lixo na Baía de Guanabara em matéria crítica contra as condições da raia de vela da Rio 2016. Acesse a matéria aqui.

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Veículo de comunicação canadense repercute avaria em embarcação de atletas austríacos devido ao lixo

na Baía de Guanabara. Acesse a matéria aqui.

Na matéria acima, publicada pela agência Reuters (acesse aqui), considerou-se surpreendente a qualidade da água na Baía de Guanabara durante o evento Aquece Rio, organizado pela Federação Brasileira de Vela – CBVela, com caráter de evento-teste para os Jogos Olímpicos. É interessante o destaque para a qualidade da água! Trazemos para análise alguns aspectos interessantes:

O evento foi realizado no mesmo período que ocorrerão as provas oficiais dos Jogos

Olímpicos de 2016.

Durante o Aquece Rio, as condições meteorológicas e oceanográficas foram muito

favoráveis: sem chuva e pouca amplitude de maré.

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As equipes dos ecobarcos (dados Ecoboat/PSAM), em esforço concentrado, retiraram

uma quantidade recorde de lixo das águas da Baía de Guanabara: 114.023 kg de lixo

(vide tabela no item 9.2. Operação dos ecobarcos). A quantidade corresponde a cerca

de 25% do que foi coletado ao longo do ano todo.

Na matéria, a velejadora neozelandesa Jo Aleh, vencedora da competição e muito crítica

quanto às condições da Baía de Guanabara, disse que: “notou uma grande diferença, havia

muito menos lixo do que um ano antes...”. A atleta acrescentou que o Rio “não será a única

raia olímpica importante do mundo a ter problemas com a qualidade da água. Algas

alimentadas pela poluição ameaçaram os Jogos de Pequim, na raia de Qindao, em 2008, e o

problema só foi resolvido poucas semanas antes do evento começar”.

Trecho da matéria da Reuters. Acesse a matéria completa aqui.

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Como pode ser visto, então, com a ajuda das marés e do clima, e com um esforço concentrado

de coleta do lixo flutuante, a quantidade de lixo foi muito reduzido e, tanto velejadores como

observadores (imprensa, inclusive), tiveram uma boa impressão da Baía de Guanabara.

Não queremos, com os comentários acima, minimizar o problema, mas mostrar que um

resultado melhor pode ser alcançado no que se refere ao lixo flutuante!

8.1. O lixo flutuante e as competições de vela

O lixo flutuante na Baía de Guanabara é realmente um problema crítico e ainda pode causar

muitos constrangimentos para a realização das provas de vela e, é obrigação dos

organizadores dos Jogos e do governo estadual - que assumiram esse compromisso - mitigar o

problema.

Muitas cidades do mundo, mesmo as que usufruem de águas de muito melhor qualidade do

que as nossas, também mantém permanentemente serviços de retirada do lixo flutuante

(Baltimore, Londres, Roterdam, etc). E, como foi dito acima, outras cidades olímpicas também

tiveram que gerenciar problemas com resíduos nas águas de competição. Foi o que aconteceu

com a cidade de Qindao, sede das provas de vela dos Jogos de Pequim.

Nas fotos acima, grande contingente de militares chineses limpam as praias de Qindao no período das provas olímpicas de vela na cidade.

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O problema lá era lixo, mas principalmente algas. O problema da proliferação das algas é potencializado pelo elevado teor de nutrientes nas águas dos rios que desaguam naquele ambiente estuarino. As mazelas de outras sedes olímpicas não nos permitem esmorecer com as nossas obrigações, mas mostram que outras cidades olímpicas também passaram por dificuldades e, de uma forma ou de outra, superaram o desafio.

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Parte 3

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA BAÍA SEM

LIXO

Iniciativa anterior, até dezembro de 2014.

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9. AVALIAÇÃO DO PROGRAMA BAÍA SEM LIXO Como vimos acima, o Programa Baía Sem Lixo é um dos componentes do Plano Baía Limpa e é o principal foco do presente levantamento, considerando a necessidade de implementa-lo de forma efetiva visando os compromissos do Rio de Janeiro com os Jogos Olímpicos de 2016. É consenso que a solução para a redução da presença do lixo flutuante na Baía de Guanabara é uma política de gestão de resíduos mais eficiente nas cidades do seu entorno e uma atitude mais responsável por parte do cidadão para evitar o descarte indevido do lixo. Também é decisivo que políticas nacionais estruturantes sejam implementadas, como a adoção no Brasil de uma legislação para a logística reversa, prática já consolidada em diversos países. O assunto vem se arrastando há anos, aguardando a regulamentação da Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos e a conclusão de intermináveis negociações setoriais para a sua operacionalização. Como já vimos, a gestão adequada dos resíduos sólidos ainda é uma realidade distante em uma larga parcela da área urbana na Bacia da Baía de Guanabara. Diante deste cenário, a iniciativa de implantação de ecobarreiras nos rios de maior aporte de lixo para o espelho d’água da Baía de Guanabara é um paliativo à carência dos serviços de coleta e limpeza pública. Da mesma forma, podemos considerar que a utilização dos ecobarcos é “o paliativo do paliativo”, uma vez que torna-se necessário diante da deficiência dos serviços de coleta de lixo nas cidades e às falhas da estratégia das ecobarreiras. São paliativos, mas são indispensáveis diante da realidade que é a presença de toneladas diárias de lixo que chegam à Baía de Guanabara. Diante da relevância do problema do lixo flutuante, seus impactos ambientais e as consequências da presença do lixo para o lazer, o turismo e para as provas de vela dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, a SEA implantou um programa denominado Baía Sem Lixo, que providenciou a implantação de ecobarreiras e o serviço de uma flotilha de embarcações que mantém uma rotina de retirada do lixo flutuante que passa pelas ecobarreiras ou que são oriundos de rios não protegidos.

9.1 SITUAÇÃO DAS ECOBARREIRAS

Como parte do trabalho inicial de diagnóstico da situação das ecobarreiras, uma equipe de técnicos mobilizados pela SEA, IBG e pelo Projeto Grael percorreu vários rios onde existem, já existiram no passado ou foram planejados a implantação das ecobarreiras.

Do registro fotográfico realizado, incluímos a seguir algumas imagens:

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9.1.1. RIOS DO LADO LESTE DA BAÍA DE GUANABARA (NITERÓI E SÃO GONÇALO)

Rio Maruí. Com acúmulo de lixo nas margens e com a presença de pequenas embarcações indicando o

uso para a navegação. Não possui ecobarreira.

Rio Bomba. Com ecobarreira, mas sem a presença de lixo no momento do registro fotográfico.

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Rio Brandoas. Sem grande presença de lixo por ocasião da visita, mas citado em referências

bibliográficas como um dos rios com o maior acúmulo de lixo na sua foz.

Rio das Pedras. Sem a presença de ecobarreira.

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Rio Imboaçu. Com estreitamento da seção do rio causando grande concentração de lixo. O problema tem sido apontado como uma das causas do alagamento sistemático do rio a montante deste local.

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9.1.2. RIOS DO LADO OESTE DA BAÍA DE GUANABARA

Canal do Cunha. Um dos tributários com maior transporte de sedimentos na Baía de Guanabara.

Canal do Cunha. Observa-se a grande quantidade de lixo retido na ecobarreira e lixo retirado

para a margem, mas não removido do local.

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Canal do Cunha. Presença de pequeno depósito para o suporte às atividades locais.

Rio Irajá. Com as instalações da ecobarreira.

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Rio Irajá. Imagem mais próxima da ecobarreira e lixo acumulado. Chamamos a atenção para uma maior

presença de macrófitas (gigoga).

Rio Meriti. Verifica-se, na margem oposta, os remanescentes da ecobarreira rompida.

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Rio Meriti. Presença de rampa e acesso à área cercada com muro. Na imagem, verifica-se muita

presença de madeira.

Rio Meriti. Verifica-se no local a presença de material de maior porte, como sofá, tv, etc.

Das observações realizadas durante a visita de campo e demais informações coletadas quanto ao estado das ecobarreiras e à sua operação, fazemos as seguintes considerações preliminares:

Ecobarreiras instaladas: Das 28 ecobarreiras inicialmente previstas, consideramos que apenas três estão presentes e funcionando, ainda que precariamente e com fracos resultados de retirada efetiva do lixo retido.

Tecnologia: Consideramos o nível tecnológico adotado nas ecobarreira bastante simples, de eficiência questionável e as mesmas aparentam ser pouco resistentes para suportar o grande acúmulo de lixo. Várias já se romperam.

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Retirada do lixo: O trabalho de retirada do lixo nas ecobarreira é insuficiente para evitar uma sobrecarga de tensão que pode estar causando o rompimento frequente das mesmas. Segundo apuramos, a retirada do lixo é feito por “catadores de lixo” vinculados a cooperativas. O trabalho parece ser feito quase sempre a mão, sem mecanização.

Destino final do lixo: a concepção original das ecobarreiras é que a retirada do lixo seria feito por “catadores”, considerando a possibilidade de reciclagem do material recolhido e o material não reciclável seria encaminhado para o destino final em aterros licenciados pelo órgão municipal responsável pela limpeza pública e coleta de lixo. Uma ínfima parcela do lixo retido nas ecobarreiras teriam valor comercial, inviabilizando o sistema previsto e desmotivando o trabalho dos catadores. O que verificou-se é que uma pequena quantidade de lixo é efetivamente retirado das ecobarreiras e não foi possível apurar com qual frequência e que quantitativo de resíduos é efetivamente retirado do local para o destino final.

Forma de acondicionamento dos resíduos recolhidos das ecobarreiras.

9.1.3. Tecnologia Com relação ao aspecto tecnológico adotado nas ecobarreiras, destacado acima, apesar da precariedade, deve-se considerar que a Baía de Guanabara talvez concentre a maior experiência do país nesta prática. No entanto, as ecobarreiras utilizadas são de confecção

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praticamente artesanal e apresentam baixa sofisticação tecnológica, não oferecendo a mesma eficiência, os recursos operacionais, a segurança e a qualidade sanitária que algumas equipamentos utilizados em outras baías, rios, portos e estuários do mundo oferecem. Como exemplo, apresentamos, a seguir, o chamado “Water Wheel”, que opera no “Inner Harbor”, na cidade de Baltimore, estado de Maryland, nos EUA.

O “Water Wheel” é um equipamento tecnologicamente sofisticado, embora de concepção simples, e que requer um investimento mais elevado. De certo, é um equipamento próximo ao estado da arte tecnológico, mas provavelmente, não é a solução para os problemas da Baía de Guanabara, considerando o prazo para o evento olímpico, mas poderá ser para uma perspectiva de médio prazo. Outros exemplos bem mais simples podem ser citados, como o sistema abaixo, utilizado na Austrália:

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9.1.4. Planos de implantação de ecobarreiras já desenvolvidos pela SEA No período de preparação do presente levantamento, foi possível obter informações com a equipe técnica da SEA, INEA e PSAM sobre os planejamentos para a ampliação e o aperfeiçoamento da estrutura atual de ecobarreiras. Os mapas abaixo indicam a localização da ecobarreiras implantadas inicialmente e o planejamento completo de implantação de novas unidades.

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Vale destacar a previsão de implantação de ecobarreiras não só na foz dos rios, mas também mais em posições mais a montante, em particular nos rios da Baixada, como se verifica no mapa abaixo.

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Também vale registrar os estudos e planos desenvolvidos pelo Sr. Luis Salamanca, que avaliaram até mesmo a possibilidade de uso de drones para apoiar o trabalho das ecobarreiras e ecobarcos.

9.2. OPERAÇÃO ATUAL DOS ECOBARCOS

Diferente do caso das ecobarreiras, os ecobarcos utilizados não apresentam o mesmo nível de defasagem tecnológica com o que se pratica em outros portos ou outras regiões estuarinas. Pode-se eventualmente encontrar outras embarcações com sistemas mais sofisticados de recolhimento do lixo flutuante, de acondicionamento do lixo a bordo, etc. Mas, os equipamentos (embarcações) hoje contratados pela SEA e disponíveis para a coleta do lixo permitem desenvolver um bom trabalho. O projeto é composto atualmente de:

01 (uma) embarcação grande com a capacidade de até 10 m3,

03 (três) de porte médio com a capacidade de até 5 m3 cada e

06 (seis) pequenas com a capacidade de até 500 kg cada. As Empresas contratadas pela SEA/RJ são: ECOBOAT SOLUÇÕES AMBIENTAIS e BRISSONEAU QUALITY ENGINEERING As embarcações mantém uma rotina de atuação diária de coleta de lixo, atuando com prioridade nas áreas próximas à orla do Centro de Niterói até a praia de Icaraí, Centro do Rio até o Flamengo e as duas zonas portuárias. Também conta-se com uma equipe atuando nas proximidades da Ilha do Governador.

Fonte: PSAM

As bases operacionais e locais de descarga do lixo são:

Marina da Glória

Ilha do Governador

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Gragoatá

Jurujuba.

O quadro abaixo indica os quantitativos de lixo coletado pelas embarcações no ano de 2014. Vale observar nos números que o mês de agosto teve a maior quantidade de lixo coletado. Neste mês ocorreu o evento-teste (Aquece Rio) da vela para os Jogos de 2016. Considerando-se que foi um período de poucas chuvas e de baixa intensidade de marés, o número deve referir-se a um maior esforço de coleta em função do evento.

Fonte: PSAM.

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9.2.1. FOTOS DA ATIVIDADE DE COLETA DO LIXO FLUTUANTE (FOTOS CEDIDAS PELA ECOBOAT)

Lixo a bordo de uma das embarcações participantes do projeto.

Embarcação com uma grande quantidade de embalagens de madeira.

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Grande quantidade de lixo acumulado junto ao cais do Porto do Rio de Janeiro.

Lixo no mar nas proximidades do Porto do Rio de Janeiro.

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Grande quantidade de lixo retirado pela embarcação.

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PARTE 4

PROGRAMA GUANABARA VIVA

Novo plano de ação proposto pelo Projeto Grael

para prevenir e retirar o lixo flutuante na Baía de

Guanabara

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10. PROGRAMA GUANABARA VIVA - NOVO PLANO DE AÇÃO PARA O LIXO FLUTUANTE

O presente Plano de Ação é apresentado pelo Projeto Grael, como contribuição à SEA, visando integrar e agregar qualidade e melhor performance às iniciativas iniciadas pelo Programa Baía Sem Lixo, desenvolvido até o momento. Sugerimos ao presente conjunto de iniciativas propostos no presente Plano de Ação o nome PROGRAMA GUANABARA VIVA. As ações aqui contidas tem por finalidade prover serviços de qualidade para prevenir a presença do lixo durante os eventos preparatórios e os Jogos Olímpicos de 2016, mas, acima de tudo, providenciar uma estratégia permanente que ultrapasse o momento olímpico no Rio de Janeiro e se torne um legado para a cidade e para a Baía de Guanabara. Não estamos falando, portanto, de uma ação improvisada para atender aos eventos, mas de uma ação compromissada com as buscas de soluções para o problema.

Assim, os trabalhos de retirada do lixo flutuante na Baía de Guanabara precisam ser balizados com alguns conceitos e premissas básico já citados ao longo do presente texto, mas que listamos a seguir para o devido destaque:

“Limpar a Baía de Guanabara é fácil. Difícil é parar de sujar”. (Dora Negreiros)

A grande quantidade de lixo flutuante na Baía de Guanabara precisa ser compreendida como uma consequência do atraso e na ineficiência de algumas políticas públicas, como:

Serviços públicos de coleta de lixo: a coleta e disposição adequada do lixo doméstico e urbano por parte dos municípios. Mesmo com o fim dos lixões, ainda há muito problema de disposição irregular.

Educação ambiental: a conscientização e a educação da população quanto ao descarte adequado do lixo

Logística reversa e reciclagem: a fragilidade das iniciativas de reciclagem e o atraso do país na adoção de uma legislação que obrigue setores da indústria a se comprometerem com a logística reversa.

Infraestrutura urbana: a falta de infraestrutura viária que permita que os serviços de limpeza e coleta de lixo chegue a algumas comunidades mais carentes e assentamentos subnormais.

O lixo não pode chegar ao rio. O custo da retirada do lixo dos rios pode ser seis vezes mais caro do que a sua coleta nas residências. Caso chegue à Baía de Guanabara, é ainda mais caro. A prioridade é o lixo no lugar certo. Não deve estar nem nos rios nem na Baía: ecobarreiras são um paliativo e ecobarcos são paliativos do paliativo.

ATACAR O PROBLEMA DO LIXO FLUTUANTE É IMPORTANTE, mas não em detrimento de políticas sustentáveis de prevenção do lixo e a gestão adequada de resíduos.

Embora sejam paliativos, as ecobarreiras e ecobarcos são necessários e indispensáveis. Mesmo nas baías mais limpas há a presença do lixo flutuante e existem estratégias para retira-lo.

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10.1. Estratégia de mobilização (Etapas)

ETAPA 1 - AÇÕES EMERGENCIAIS: Evento Teste de Agosto de 2015

Atividades:

ECOBARREIRAS: Implantar nos rios Cunha, Meriti, Bomba e Imboaçu

ECOBARCOS: Melhorias operacionais no programa dos ecobarcos

COMUNICAÇÃO: Implementação do programa de comunicação do projeto

CAMPANHA PUBLICITÁRIA: educação e prevenção ao lixo flutuante

ARTICULAÇÃO COMUNITÁRIA: contato com as principais lideranças nas áreas de

atuação do projeto e de implantação das ecobarreiras.

MONITORAMENTO: implantação do novo sistema de monitoramento e modelagem da

deriva do lixo flutuante

BAÍA NOTA 10: atualização da metodologia e definição do novo cenário para a Baía de

Guanabara em 2025.

ETAPA 2 – AÇÕES VISANDO OS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016

Atividades:

ECOBARREIRAS: Complementar a implantação das demais ecobarreiras (17 ecobarreiras)

ECOBARCOS: continuação das melhorias operacionais EDUCAÇÃO AMBIENTAL: implantação do museu do lixo na Baía de Guanabara BAÍA NOTA 10: Implantação do Baía Nota 10.

ETAPA 3 - AÇÕES ESTRUTURANTES E DE LONGO PRAZO (LEGADO) Estas atividades referem-se à implantação de políticas públicas para a solução das ações de saneamento, de gestão de resíduos e da melhoria do ecossistema da Baía de Guanabara.

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10.2. Gerenciamento da operação dos ecobarcos

Conforme a estrutura gerencial apresentada no item anterior, a atividade será de responsabilidade da Gerência de Atividades no Mar, que exercerá o trabalho de acompanhamento da operação dos ecobarcos e orientação técnica.

Conforme já descrevemos no item 9.2 Operação dos ecobarcos, já existe um padrão de atuação para as embarcações das duas empresas contratadas para os serviços, a saber: Ecoboat e Brissoneau.

Para melhorar os serviços e o seu gerenciamento, o Projeto Grael propõe as seguintes medidas gerenciais e operacionais:

MANTER ECOBARCOS ATUAIS: A manutenção do contrato das atuais empresas prestadoras dos serviços, otimizando a flotilha

MAIS ECOBARCOS: A ampliação do número de embarcações para a Rio 2016, verificando a disponibilidade de equipamentos

MONITORAMENTO DESLOCAMENTOS: Adoção de acompanhamento de cada embarcação por GPS.

OPERAÇÃO INTEGRADA: Otimização da operação das embarcações, aproveitando-se as embarcações maiores para a estocagem do lixo retirado pelas de porte médio e pequeno porte. Assim, aumenta-se evita-se um longo deslocamento das embarcações pequenas até o local de desembarque do lixo e otimiza-se a jornada de recolhimento efetivo do lixo.

NOVAS TECNOLOGIAS: Dar continuidade ao estudo de viabilidade iniciado pela SEA sobre o uso de tecnologias como drones e outros recursos para melhorar a capacidade de hierarquização das manchas de lixo a serem recolhidas.

DESEMBARQUE DO LIXO: avaliar melhorias na logística de desembarque do lixo coletado pelos ecobarcos.

10.2.1. Monitoramento e modelagem da deriva do lixo

Um fator fundamental para a melhoria da produtividade e da eficiência dos trabalhos é o aumento da previsibilidade dos pontos de concentração do lixo flutuante na Baía de Guanabara.

No Projeto Águas Limpas, do Projeto Grael, o monitoramento é subsidiado por outra iniciativa também do Projeto Grael, chamado Projeto Baía de Guanabara, patrocinado pela BG Brasil e desenvolvido com o apoio técnico da empresa Prooceano e os laboratórios LAMSA e LAMMA da UFRJ.

Os resultados são disponibilizados através do site www.projetobaiadeguanabara.com.br

A figura abaixo é um exemplo do resultado do trabalho de modelagem desenvolvido pelo Projeto Baía de Guanabara:

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A importância dessa iniciativa é que o lixo tende a se dispersar pelo espelho d’água da Baía de Guanabara, mas concentrar-se em alguns pontos de acordo com correntes de marés e ventos. Alguns desses pontos são bem conhecidos, mas, através de modelagem pode-se prever a formação das estrias de lixo, conforme descrevemos no item 5.2.

Recentemente, houve o contato da empresa holandesa Deltares, que já desenvolve iniciativas com instituições na Baía de Guanabara, dentre elas o INEA, a DHN e universidades.

No dia 10 de março de 2015, realizou-se o workshop "Rio e Holanda: Troca de experiências para o saneamento da Baía de Guanabara", promovido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e pelo Consulado da Holanda, no dia 10 de março de 2015. Participaram técnicos envolvidos na gestão da Baía de Guanabara e representantes de empresas privadas holandesas, envolvidas com projetos de sustentabilidade. Os participantes holandeses apresentaram tecnologias, programas e soluções para a coleta e o tratamento de resíduos que podem vir a beneficiar as águas da baía.

Durante o evento foi assinado um termo de doação pelo governo da Holanda do sistema de monitoramento da Deltares, que apresentou os resultados do trabalho desenvolvido para a Baía de Guanabara.

Realizou-se recentemente uma reunião no Projeto Grael, com a presença do pesquisador João de Lima Rego e Annette Zijderveld, ambos da Deltares, e Leonardo Marques da Cruz (Prooceano), da equipe do Projeto Baía de Guanabara para um melhor entendimento da tecnologia. Na ocasião debateu-se a possibilidade da atuação complementar entre as duas iniciativas de monitoramento, com benefício para as duas ferramentas e por consequência, para a qualidade ambiental da Baía de Guanabara.

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O importante é que o sistema de monitoramento seja capaz de oferecer, como resposta, um aumento da previsibilidade dos pontos de acúmulo do lixo na Baía de Guanabara, para a melhoria da produtividade do trabalho dos ecobarcos.

A combinação da experiência institucional da Deltares e os dados primários coletados ao longo de quatro anos na baía pelo Projeto Baía de Guanabara, poderá dar a qualidade que se pretende do monitoramento.

10.2.2. Rede de observadores e atualização de dados do sistema

Qualquer ferramenta de modelagem, como a oferecida pela Deltares, é tão boa e eficiente quanto a qualidade da informação que lhe são fornecidas. Quanto mais informação de boa qualidade, melhor a resposta. No nosso caso, melhor será a previsibilidade dos pontos de acúmulo de lixo, de modo a orientar a atuação dos ecobarcos para que atuem com mais eficiência.

Por isso, sugerimos o desenvolvimento de mecanismos de alimentação de dados no sistema Deltares com dados de volume de lixo, localização e horário da observação. Dentre as possibilidades para isso, sugerimos:

Um sistema de alimentação direta pelos operadores dos ecobarcos Voluntários cadastrados Uma Rede de Observadores composta por participantes como exemplificados na figura

abaixo:

Exemplo de Rede de Observadores. A figura acima foi idealizada com a colaboração de Lourenço

Ravazzano, da empresa Ecoboat.

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Conforme entendimentos mantidos com a Deltares, é possível planejar a entrada destas informações automaticamente no sistema através de aplicativos específicos para este fim e que podem ser utilizados através de smartphones, etc.

10.2.3. Dimensão educativa

Considerando que a presença do lixo flutuante na Baía de Guanabara tem origem na falta de políticas de coleta do lixo nas cidades e na falta de conscientização de parcela da população que descarta o lixo de forma inadequada, consideramos indispensável uma forte ênfase ao trabalho de educação ambiental associado ao projeto, bem como a comunicação dos seus resultados.

MUSEU DO LIXO NA BAÍA DE GUANABARA Sugerimos a criação de um MUSEU DO LIXO NA BAÍA DE GUANABARA, com finalidade educativa e para alerta sobre os problemas causados pela presença do lixo tanto para a saúde humana, como para os ecossistemas. No local, serão expostos itens curiosos recolhidos da Baía de Guanabara, bem como exemplos dos danos causados à saúde humana e aos ecossistemas pela presença do lixo. O Museu terá como objetivo estimular a reflexão sobre o problema do lixo, sobre a responsabilidade cidadã na prevenção, sobre as causas da presença do lixo na Baía de Guanabara e as políticas públicas e demais medidas para melhorar o problema do lixo no país e nas cidades do entorno da baía.

Bicicleta encontrada boiando na Baía de Guanabara. Após recuperação (à direita), a bicicleta foi doada.

Foto cortesia Ecoboat.

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O ideal seria a instalação do museu em local de grande visibilidade e de fácil visitação por parte de escolas e a população em geral.

10.3. NOVO SISTEMA DE ECOBARREIRAS

A presente proposição de revisão do uso das ecobarreiras foi desenvolvida em conjunto com técnicos da SEA/INEA.

Consideramos que é preciso solucionar os principais problemas verificados na fase inicial da iniciativa, com as seguintes medidas: uso de equipamentos e tecnologias mais eficientes, mecanização da retirada do lixo das ecobarreiras e melhoria operacional para o destino final do lixo.

A opção pelos novos modelos de ecobarreiras levou em consideração a durabilidade e a confiabilidade do sistema. Foram definidos quatro tipos de equipamentos, para aplicação de acordo com o desenho logístico-operacional local, as características de cada rio (vazão, largura, etc.) e do volume estimado de lixo a ser contido.

Dentre as ecobarreiras propostas, consideramos que devem ser priorizadas as opções fornecidas por empresas no Brasil, que podem atestar a sua qualidade e dar garantias de sua eficácia.

10.3.1. TECNOLOGIAS SUGERIDAS (EXEMPLOS)

São listados, a seguir, alguns exemplos de equipamentos a serem utilizados para constituir as ecobarreiras:

Equipamento 1 – Barreira de contenção

Desenvolvido com alta tecnologia, o produto é um sistema de construção de flutuantes de alta resistência e durabilidade, que se utiliza de blocos fabricados com material sintético estabilizado (Polietileno), com características anti-estática, anticorrosiva e antiderrapante.

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São módulos em diversos tamanhos, com um sistema de travamento entre peças (do tipo macho/fêmea) que proporciona maior estabilidade e economia. Por meio do princípio físico da coesão, os módulos são agrupados em 4 e unidos por um pino conector, o que proporciona uma junção perfeita e total estabilidade, além de facilitar a montagem.

Características:

Resistente a intempéries, água do mar, produtos químicos e cracas.

Modular, pode ser montado em diversos leiautes.

Pode ter o seu tamanho ampliado e reduzido a qualquer momento.

Anti-estático.

Não possui partes metálicas.

Não necessita de pintura.

Barreira de contenção de detritos e objetos.

Ilhas para sinalização.

Pontes flutuantes.

Matéria-prima: Polietileno de alta densidade.

Dimensões e peso dos módulos: 100x100x040 – 30 kg; 100x050x040 – 15 kg; e 050x050x040 – 8 kg.

Carga suportada: 370kg / m2

Cores disponíveis: azul, cinza, bege, e preto

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Equipamento 2 – Plataforma de apoio à operação

É composta por módulos de 1,50 m por 2,50 m e 38 cm de altura, o que possibilita maior facilidade e rapidez na sua montagem. O flutuante suporta mais de 1 tonelada sobre seu módulo.

Feito de Polietileno com anti-UV, é extremamente resistente, mantendo suas características iniciais, mesmo após anos emerso em água e sujeito às variações climáticas. Possui superfície plana antiderrapante. Por ser um sistema modular, pode ser montado em diversos leiautes, conforme a necessidade.

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Equipamento 3- Barreira de contenção

Barreira reforçada com aço que pode ser usado para uma variedade de aplicações, tais como contenção do lixo e detritos. É adequado para cargas pesadas ou alto fluxo de material. A construção com reforço em aço especial é feito para lidar com cargas pesadas, as seções são unidas por correntes também em aço especial.

Formada por flutuadores em PEAD sólidos, com resistência aos raios UV, com injetados com espuma de polietileno HD flutuante e parafusados em chapa de aço galvanizado. Fornecido em seções com 3m que podem ser conectados em conjunto de correntes para fazer a configuração desejada. É fornecido com amarras para o acoplamento rápido das secções para construir o comprimento necessário para a área de contenção e sendo cada seção composta por oito unidades laranjas reflexivas, Estas unidades podem ser substituídas individualmente, se necessário (em vez de substituir uma seção inteira).

APLICAÇÃO:

• Contenção de lixo e detritos • Demarcação Marinha • Barreira de Segurança • Controle Plantas aquáticas

Equipamento 4- Barreira para lixos e detritos em formato de tela.

As barreiras de exclusão para lixos e detritos reduzem o custo dos programas de limpeza caros para proteger áreas sensíveis, como para tratamento de água para consumo humano e praias.

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As barreiras de contenção ajudam no controle de resíduos, melhorando a qualidade da água, facilitando a remoção de lixo e detritos da água.

Esses produtos oferecem proteção também para locais de passagem de barcos e áreas de natação. Possuem uma linha de produtos para todas as aplicações de lixo e detritos de cargas leves e pesadas, e instalações permanentes. Essas barreiras de lixo estão disponíveis em PVC flexível, como cinturão resistente ou em formato de tela.

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10.3.2. SOLUÇÃO PARA A IMPLANTAÇÃO DAS ECOBARREIRAS EM RIOS DE MAIOR PORTE

Em rios de maior porte e que ainda sejam navegáveis, apresentamos o desenho a seguir como solução para a implantação da ecobarreiras e para que permita-se a passagem de embarcações.

A solução é apresentada no desenho esquemático abaixo:

Modelo esquemático de um sistema de ecobarreiras que permite a passagem de embarcações. Desenho

Axel Grael

10.3.3. SOLUÇÃO PARA RECOLHIMENTO MECANIZADO DO LIXO E TRANSPORTE HIDROVIÁRIO

ARMADILHAS DE LIXO: Uma solução tecnológica que nos parece interessante são os chamados “litter traps”, “garbage traps”, ou armadilhas de lixo, utilizados em diversos países. São dispositivos que retém o lixo que é captado através de ecobarreiras ou dispositivos direcionadores.

Trata-se de um flutuante com um recipiente gradeado que confina o lixo. Em alguns modelos, o lixo é retirado através da remoção do recipiente gradeado, seja através de uma balsa equipada com um “munck”, ou retirado por equipamento na margem do rio ou canal. O recipiente cheio é substituído por outro vazio, pronto para reter mais lixo.

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Outra versão reboca toda a estrutura flutuante cheia de lixo, que é substituída por outra vazia.

Veja alguns exemplos:

Sistema da empresa Bandalong International. Austrália.

Sistema da empresa Storm Waters Systems

“Armadilha de lixo”, no Rio Yarra, Victoria, Austrália. Storm Water Systems.

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WATER WHEEL: O “Water Wheel” também deve ser uma alternativa a ser levada em consideração. Através da empresa americana KCI, os fabricantes do equipamento demonstraram interesse em trazer a tecnologia para o Brasil e produzir no país uma versão adaptada para a realidade local.

A tecnologia poderá ser uma opção para rios de maior porte, como o Meriti, Sarapuí etc.

Water Wheel, no Inner Harbour da cidade de Baltimore, MD, EUA. Foto de Jennifer Morgan. Fonte:

Internet

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10.4. ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DAS ECOBARREIRAS

Para efeito de planejamento (escopo de trabalho e cronograma), o trabalho de implantação e gestão das ecobarreiras ocorrerá em três ETAPAS:

ETAPA 1 - INSTALAÇÃO DE ECOBARREIRAS EMERGENCIAIS

O cronograma de instalação emergencial de ecobarreiras tem como objetivo estabelecer um conjunto de ecobarreiras que garanta a qualidade necessária já visando o evento-teste de agosto de 2015.

Posição das ecobarreiras na área prioritária de ação.

Apesar de ter outras bacias prioritárias, conforme mapa acima, para a ETAPA 1 será dado prioridade para os seguintes rios: Canal do Cunha (ECO 2), Meriti (ECO 6), Imboaçu (ECO 22 e ECO 22-a) e Rio Bomba (ECO 26).

Após o evento-teste, será ampliada a extensão da rede de ecobarreiras para a parte norte da Baía e, também, a necessidade de implantação de outras ecobarreiras a montante, em rios já contemplados, mas que a quantidade de lixo justifique mais de uma unidade. Infraestrutura e logística

Devido às distâncias entre os pontos de operação e para a manutenção das ecobarreiras, se faz necessária a implantação de bases para apoio local, visando também a limpeza sistemática das águas e separação do material reciclado.

Foram identificados 14 posicionamentos para as ecobarreiras, utilizando 12 bases de apoio e uma base central de operações.

Os pontos de implantação devem considerar os seguintes cuidados:

Facilidade de acesso para caminhões de recolhimento do lixo.

Facilidade de acesso para equipe de trabalho

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Prevenir-se contra áreas mais sujeitas a inundação.

Evitar áreas que demandem a supressão de vegetação, como mangue

Priorizar áreas cujo solo das margens apresente maior capacidade de sustentação das ecobarreiras

Disponibilidade do terreno

Evitar pontos em comunidades de maior conflito social

Layout típico da implantação de uma Base Operacional Local de Ecobarreira

Planejamento de implantação das Ecobarreiras da ETAPA 1 (Emergencial para o Evento-Teste, agosto 2015): ECOBARREIRAS DA ETAPA 1: INFORMAÇÕES GERAIS: - 05 Ecobarreiras - 04 Locais atendidos (um local com duas barreiras: Imboaçu) - 04 bases operacionais + Base Central (Meriti) - Solução em Gabião para implantação das bases

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CANAL DO CUNHA (ECO 2)

ECO 6 - Rio Meriti - base operacional + Base Central Visão Geral

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ECO 22 e 22A – Rio Imboaçu (São Gonçalo) Visão Geral

Detalhe da base da ECO 22

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Detalhe da base da ECO 22

ECO 26 – Rio Bomba

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Cronograma de implantação das Ecobarreiras da ETAPA 1

ETAPA 2 - IMPLANTAÇÃO DAS DEMAIS ECOBARREIRAS

Como já nos referimos anteriormente, a proteção da Baía de Guanabara contra a presença do lixo será feita pela instalação de 18 ecobarreiras, sendo que cinco delas deverão ser implantadas ainda na ETAPA 1, conforme descrito nos itens acima.

As 13 ecobarreiras restantes serão implantadas em prazo adequado para que estejam operando adequadamente para os Jogos Olímpicos de 2016.

A escolha do tipo de ecobarreiras a ser adotada para cada rio e o cronograma de execução serão definidos no projeto executivo.

O quadro abaixo indica as dimensões dos rios e as coordenadas dos locais sugeridos para a implantação da rede completa de ecobarreiras:

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ETAPA 3 - LEGADO OLÍMPICO DAS ECOBARREIRAS

Com os resultados das fases anteriores e durante a ETAPA 3, que será desenvolvida na fase pós-Olimpíadas de 2016, pretende-se alcançar os seguintes objetivos:

CONSOLIDAR A TECNOLOGIA de contenção do lixo através de ecobarreiras (estruturas de contenção, retirada mecânica e transporte do lixo) na perspectiva de longo prazo.

AMPLIAÇÃO do número de ecobarreiras, complementando os rios previstos na ETAPA 2, incluindo outros em que o transporte de lixo justifiquem o investimento

IMPLANTAÇÃO DE ECOBARREIRAS A MONTANTE nos rios em que o volume de lixo sobrecarrega nas ecobarreiras a jusante, aumentando a confiabilidade do sistema.

ESTUDAR MEDIDAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS com a otimização dos sistemas de mecanização da retirada do lixo flutuante

ESTABELECER METAS de redução da quantidade de lixo que chega até as ecobarreiras através da melhoria das políticas públicas de coleta de lixo nos municípios.

IMPLANTAR O RANKING DAS POLÍTICAS MUNICIPAIS DO LIXO, estimulando um processo contínuo de melhoria das políticas públicas nos municípios e dando visibilidades para os municípios com boas práticas e melhores resultados.

IMPLANTAR O RANKING DAS MARCAS E DOS PRODUTOS mais frequentes no lixo flutuante, considerando a necessidade que as empresas exerçam a sua responsabilidade social e ambiental e avaliação da possibilidade de responsabilização das empresas mais geradoras de lixo.

AUMENTAR O ENGAJAMENTO da população nas iniciativas de prevenção do lixo nos rios e na Baía de Guanabara, através das ações de educação ambiental e campanhas de comunicação.

DESENVOLVER UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO À GERAÇÃO DE LIXO NAS PRAIAS. Sabe-se que a quantidade de lixo produzido nas praias é significativo, contribuindo para a presença do lixo flutuante. As praias de maior afluxo de banhistas na Baía de Guanabara, como as localizadas na orla de Niterói e do Rio de Janeiro (incluindo a Ilha do Governador), devem ser objeto de campanhas educativas e outras medidas para evitar que o lixo produzido pelo consumo de produtos chegue às águas da Baía de Guanabara.

FORTALECER A POLÍTICA DE LOGÍSTICA REVERSA E RECICLAGEM na região metropolitana e em todo o estado do Rio de Janeiro para prevenir o lixo

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10.4.1. OPERAÇÃO DAS ECOBARREIRAS

Como vimos acima, deverá ser implantada uma Base de Apoio Central, junto à Ecobarreira do Rio Meriti, onde haverá o escritório de apoio administrativo, manutenção dos equipamentos e todo o apoio à mão de obra operacional. Os 14 pontos iniciais para a operação e manutenção das ECOBARREIRAS se utilizarão de 12 bases de apoio, contando com 6 equipes atuando nessas bases locais, com os serviços de manutenção, limpeza das águas e separação do material reciclável. Equipamento para a retirada mecânica do lixo das ecobarreiras. O lixo será retirado das ecobarreiras de forma sistemática e mecanicamente, evitando-se o que ocorre atualmente que é o grande acúmulo de lixo, sobrecarregando as mesmas ecobarreiras e podendo causar o seu rompimento. O acúmulo de lixo nas ecobarreiras depende da ocorrência de chuvas, do tipo de urbanização e das características de cada bacia hidrográfica. Portanto, dependendo das chuvas a velocidade da concentração de lixo aumenta, demandando a maior utilização do maquinário para a retirada do lixo. Dependendo das condições de acessibilidade e a distância entre ecobarreiras, poderá ser utilizado o mesmo equipamento em mais de uma ecobarreira, desde que seja atendida a demanda de remoção a contento. Para a retirada do lixo, foi orçado a utilização de dragline 22b e retro escavadeira. Conforme estudo a ser desenvolvido na fase do Projeto Executivo, será considerado a utilização de esteiras elétrica e outros recursos que otimizem a operação. Planejamento e logística para estocagem correta do lixo coletado O lixo retirado mecanicamente das ecobarreiras será estocado no interior da Base Operacional, acondicionado em “bags” ou outro equipamento que garanta as condições ideias de higiene e de manuseio, até que o lixo seja transportado para o destino final. Transporte até o ponto de transbordo das empresas municipais de lixo O transporte do lixo retirado das ecobarreiras será transportado até as Estações de Transbordo do município onde se localiza a ecobarreiras, conforme entendimentos a serem mantidos pela SEA com a respectiva Prefeitura. Manutenção Foi orçado o serviço de manutenção dos equipamentos, a ser desenvolvido ao longo de todo o contrato. A manutenção será feita permanentemente de forma preventiva, de forma a evitar problemas operacionais, principalmente o rompimento das ecobarreiras, o que comprometeria a confiabilidade do sistema.

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Após a ocorrência de chuvas fortes, será feito uma revisão de todo o sistema, para verificar as condições de segurança dos equipamentos. Monitoramento, registros e estatísticas Considerando o pioneirismo no país do trabalho de prevenção do lixo flutuante do Programa Guanabara Viva, o potencial de replicação da experiência para outras regiões estuarinas ou rios no país, a necessidade de gerar informações para orientar a melhoria de políticas públicas e produzir dados gerenciais. Serão geradas estatísticas sobre o quantitativo diário de lixo retido e retirado das ecobarreiras e uma classificação do tipo de lixo coletado. Catadores No programa Baía Sem Lixo, contou-se com a participação de catadores na operação das ecobarreiras. É nossa opinião que os catadores são aliados naturais do Programa Guanabara Viva e a valorização da participação destes no programa seja fundamental. A atividade destes profissionais poderá ser mais eficiente caso atuem, não no recolhimento do lixo nas ecobarreiras, que passará a ser feito mecanicamente, mas de forma preventiva nas comunidades a montante, evitando-se assim que o lixo chegue ao rio. A solução evita o trabalho insalubre e pouco eficiente diretamente nas ecobarreiras e o redireciona para a atuação mais qualificada junto aos domicílios nas comunidades, mantendo o mesmo apoio financeiro previsto para as cooperativas no Baía Sem Lixo.

10.4.2. PLANO DE EMERGÊNCIA EM CASO DE ROMPIMENTO DE ECOBARREIRA

Considerando a possibilidade de ocorrência de acidentes ou de eventos climáticos que possam causar o rompimento de uma ou mais de uma ecobarreiras, principalmente em período de eventos da agenda olímpica, será organizado um plano de contingência para o recolhimento do eventual lixo perdido para o espelho d’água da Baía de Guanabara.

Da mesma forma que foi feito durante os Jogos Pan-americanos ou durante os Jogos Militares, quando também tivemos regatas nas mesmas raias dos Jogos Olímpicos, uma possibilidade será planejar a participação dos recursos do PABG.

Outras possibilidades deverão ser planejadas, envolvendo efetivos militares e outros recursos.

10.4.3. RELAÇÕES COM A COMUNIDADE

As áreas onde estão implantadas ou previstas as ecobarreiras são normalmente áreas de comunidades de baixa renda e, muitas vezes, com problemas e conflitos sociais sérios.

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Conforme exposto no organograma operacional, a Gerência de Comunicação e Relações Comunitárias fará o trabalho de interlocução com as comunidades, com outros atores sociais, como órgãos públicos, cooperativas de catadores, mídia, etc.

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11. BAÍA NOTA 10: MOBILIZAÇÃO DA SOCIEDADE

O BAÍA NOTA 10, foi um projeto de iniciativa do Instituto Baía de Guanabara, concluído em março de 2005 e desenvolvido com o apoio financeiro do Consulado Americano no Rio de Janeiro.

A metodologia foi uma adaptação para a Baía e Guanabara do “State of the Bay Report”, publicado anualmente pela Chesapeake Bay Foundation.

O Baía Nota 10 é uma metodologia que estabelece notas anuais para a Baía de Guanabara de forma que se possa medir os avanços conquistados a cada ano no processo de despoluição. A nota é conferida de acordo com critérios ambientais, sociais, urbanos, etc, atribuídos de forma participativa.

O mais importante do Baía Nota 10 é que a metodologia promove a mobilização de diferentes segmentos da sociedade e possibilita a geração de consensos quanto às prioridades e formas de resolver seus problemas.

Para ilustrar os resultados do Baía Nota 10, apresentamos a seguir, a nota que foi estabelecida para a Baía de Guanabara nas análises da equipe técnica que elaborou os estudos em 2004, e que foram debatidos em workshops específicos, com a participação de representantes de instituições acadêmicas, governamentais e da sociedade civil.

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Fonte: Baía Nota 10, Instituto Baía de Guanabara, 2005

Cabe ressaltar que a nota 4,3 que foi estabelecida naquela ocasião expressava a distância que a Baía de Guanabara estava de um cenário estabelecido para 10 anos depois, portanto para 2014. Segundo a metodologia, a nota atribuída ao alcance da meta é 7,0.

12. PROGRAMA TERRA A VISTA (Projeto Grael)

O “Terra a Vista” é um programa ambiental mantido no programa pedagógico do Projeto Grael.

Aproveitando a experiência náutica que os seus alunos adquirem para motiva-los para a temática ambiental. A temática prioritária do “Terra a Vista” é o problema do lixo flutuante.

O Projeto Grael concebeu um programa especial do “Terra a Vista” para promover uma maior participação dos alunos com as atividades desenvolvidas pela instituição no âmbito do Programa Guanabara Viva.

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13. PROJETOS MODELO

A ampla divulgação de algumas iniciativas emblemáticas, com capacidade multiplicadora e mobilizadora de outras comunidades, pode aumentar o engajamento de governos locais da sociedade civil no esforço em favor da Baía de Guanabara e da prevenção ao lixo flutuante.

Alguns exemplos são aqui citados:

13.1. PROGRAMA ENSEADA LIMPA, da Prefeitura de Niterói

Enseada de Jurujuba, Niterói. Abriga uma população de cerca de 30 mil habitantes.

Desenvolvido pela Prefeitura de Niterói, o programa Enseada Limpa fará da enseada de Jurujuba o primeiro território da Baía de Guanabara que poderá ser considerado despoluído.

A Prefeitura de Niterói e Águas de Niterói já investiram no Programa Enseada Limpa R$ 21.600.000, com o desenvolvimento das seguintes atividades:

Retirada de algumas línguas de esgoto que existiam nas praias de Charitas e Preventório

Ampliação da rede de coleta de esgoto com investimentos principais nos bairros de São Francisco, Charitas e Jurujuba (Cascarejo).

Solução para esgoto que era lançado em galerias de águas pluviais e drenagens locais

Educação ambiental com foco para o problema do lixo nas comunidades da Grota

Implantação de programa de monitores ambientais em escolas públicas da bacia hidrográfica

Implantação do Parque Municipal de Niterói – PARNIT, para a proteção das encostas e nascentes da bacia hidrográfica.

O eixo condutor do trabalho realizado na Grota é o problema do lixo e a forma de abordagem e mobilização da comunidade tem sido o combate a vetores. A comunidade apresentava

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índices alarmantes de infestação de roedores. Com a ajuda de técnicos do INEA, foi desenvolvido um trabalho de controle de roedores que reduziu a população de ratos em 90%.

Técnicos do INEA treinam operadores do Centro de Zoonoses da Prefeitura de Niterói, na aplicação de

técnicas mais eficazes de controle de vetores.

Mutirão de limpeza na comunidade da Grota, realizado pelo Programa Enseada Limpa.

Como resultado do trabalho realizado, a balneabilidade das praias da Enseada já está demonstrando melhorias, como pode ser verificado nos quadros abaixo, que mostram a evolução positiva dos resultados, de acordo com o monitoramento realizado pelo INEA:

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Resultados de balneabilidade para as praias da Enseada de Jurujuba, antes do início dos investimentos

do Projeto Enseada Limpa. As praias estavam impróprias ao longo do ano todo.

Os resultados de balneabilidade, que foram constante piorando na Enseada ao longo de décadas,

começou a mostrar uma melhora. Em 2013, após a conclusão das obras, a praia de Charitas foi considerada Própria para o banho durante cinco semanas consecutivas, nos meses de outubro e

novembro.

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Os dados do INEA para 2014 confirmaram a tendência de melhoria. Os resultados positivos foram se

repetindo, desta vez com muito mais consistência, e já se verificou também nas praias de São Francisco e de Jurujuba, além dos grandes avanços evidenciados para Charitas.

O sucesso da iniciativa poderia fomentar um processo de mobilização enseada por enseada.

A vantagem da escala local é que permite uma maior percepção das relações de causa e efeito, tanto quanto à origem da poluição, quanto ao processo de recuperação ambiental.

O sucesso da recuperação de uma enseada motivará a ação em defesa da enseada vizinha.

13.2. Edital

Sugerimos a disponibilização de recursos (ex: FECAM) para o lançamento de editais para a seleção de projetos de organizações da sociedade civil e escolas para a solução do descarte inadequado do lixo e sensibilização pública para o problema.

13.3. Ranking da gestão do lixo

A SEA deveria promover uma iniciativa semelhante ao Ranking do Saneamento promovido pelo Instituto Trata Brasil para o problema da coleta do lixo pelos municípios. Seria o Ranking da Solução para o Lixo.

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14. COMPARATIVO ENTRE AS AÇÕES DO PROGRAMA BAÍA SEM LIXO (SEA) E AS PROPOSTAS DO GUANABARA VIVA (PROJETO GRAEL e IBG)

AÇÃO BAÍA SEM LIXO GUANABARA VIVA

Gerenciamento Contratos desenvolvidos por setores diferentes da SEA

Ação integrada, coordenação única na forma de programa

Ecobarreira Só encontramos 3 instaladas Serão implantadas 18 ecobarreiras

Tecnologia Rudimentar, baixa eficiência Alta eficiência e confiabilidade

Sem Base Local Com Base Local

Sem solução para a navegação

Com solução para permitir a navegação

Não previsto Com estudo para retirada do lixo acumulado por balsas

Operação Sem mecanização na retirada do lixo

Com mecanização

Transporte do lixo por conta das prefeituras

O programa deve prever o transporte até os centros de transbordo municipais

Com a participação de cooperativas de catadores

Com a participação de cooperativas de catadores

Operação com alto nível de risco para operadores e condições insalubres

Com a mecanização, trabalhos em consonância com a legislação trabalhista e ambiental

Ecobarcos Dois contratos, com pouca articulação

Ação integrada, coordenação única na forma de programa

Tecnologia Apropriada Utiliza a mesma tecnologia

Operação Priorização da ação nas margens da Baía

Priorização da ação conforme resultados de modelo matemático

Não previsto Otimização da ação utilizando-se embarcação de maior porte como “Hub”, concentrando o lixo coletado pelas demais embarcações

Plano de contingência Não previsto Previsto

Programas de educação ambiental

Não previsto Previsto, inclusive a instalação do Museu do Lixo na Baía de Guanabara

Baía Nota 10 Não previsto Previsto

Planejamento para o legado

Não previsto Previsto

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15. Conclusão

Pelo o que discutimos até aqui, é evidente a importância de se empreender todos os esforços para prevenir e controlar o problema do lixo flutuante, seja para a integridade dos ecossistemas da Baía de Guanabara, seja para prevenir prejuízos para a saúde da população, seja para a economia das cidades no entorno da Baía de Guanabara ou ainda para a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

O lixo flutuante é o mais importante tema ambiental para a agenda olímpica da Rio 2016. É o problema ambiental que poderá impactar o resultado da competição e é por isso que trata-se do tema que mais preocupa as delegações de velejadores. Portanto, dependendo do que formos capazes de mostrar em 2016, a Baía de Guanabara será uma referência internacional para o tema do lixo flutuante, seja por ter resolvido o problema ou por não tê-lo feito. Caso tenha logrado sucesso, será um exemplo para outras baías e ambientes estuarinos. Caso fracasse, marcará negativamente a história do movimento olímpico.

Os desafios são enormes, mas, com a necessária determinação de todos os protagonistas e com a indispensável vontade política, os objetivos podem ser alcançados, tanto para o calendário olímpico, como para um legado definitivo para a Baía de Guanabara.

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