projeto de tratamento da Água do açude recreio
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Proposta de tratamento da água do Açude Recreio em Caicó-RN, localizado na Zona Norte da Cidade é considerado, o 2º mais antigo do Estado do Rio Grande do Norte. A Lei N° 3.923/2001 reconhece-o como patrimônio histórico e cultural do Município de Caicó. O uso da água e a execução deste projeto dependerão do consentimento do respectivo proprietário, além do licenciamento junto aos órgãos competentes. O efluente tratado destinar-se-á ao uso na construção civil, não incluindo seu emprego como água de amassamento de concreto, conforme NBR 15.900/2009 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.TRANSCRIPT
Projeto Executivo de um Sistema de Tratamento da Água do Açude Recreio em
Caicó-RN visando o Uso na Construção Civil
Engº. Civil Luiz Pereira de Brito
CREA N° 210286738-2
Caicó-RN, outubro/2015
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1. INTRODUÇÃO
A iniciativa de elaboração desta proposta de tratamento da água do Açude
Recreio em Caicó-RN é do mandato do Vereador José Rangel de Araújo,
parlamentar nesse Município.
O Açude Recreio é considerado o 2º mais velho do Estado do Rio Grande do
Norte. A Lei N° 3.923, de 12/12/2001 reconhece-o como patrimônio histórico e
cultural do Município de Caicó.
O referido açude pertence a uma propriedade privada situada às margens do
bairro Vila do Príncipe e do bairro Recreio, ambos localizados na Zona Norte da
cidade, consequentemente, o uso da água e a execução deste projeto
dependerão do consentimento do respectivo proprietário, além do licenciamento
junto aos órgãos competentes.
O efluente tratado destinar-se-á ao uso na construção civil, não incluindo seu
emprego como água de amassamento de concreto, conforme NBR 15.900/2009
da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
2. CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO
O sistema de tratamento proposto foi projetado para produzir uma vazão diária de
10.000 litros de água.
É composto de um alagado construído (wetland), medindo 10m de largura, 21m
de comprimento e 0,60m de profundidade útil média e utiliza como meio filtrante
brita n° 1 (9,5 a 19,0mm). A alimentação é feita por gravidade através de sifão
com diâmetro de 50mm, dotado de registro tipo esfera.
A planta macrófita a ser utilizado como cobertura vegetal da unidade de
tratamento é o capim elefante (Pennisetum purpureum) ou o capim de planta
andrequicé (Echinochloa crus-galli L. Beauv).
O efluente do wetland é encaminhado para um reservatório de água tratada com
capacidade para acumular 10.000 litros diários. Nesta unidade será realizada uma
desinfecção da água. A dosagem de cloro utilizada será definida de acordo com
análises microbiológicas a serem realizadas no efluente tratado.
Nos estudos e cálculos de dimensionamento do alagado construído levaram-se
em consideração as publicações científicas na área e particularmente os
resultados obtidos em projeto de pesquisa realizado pela UFRN na Cidade de
Parelhas-RN, financiado pelo CNPq/FINEP.
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3. DADOS DE PROJETO
Foram coletadas informações sobre o consumo de água pelo setor da construção
civil no Município, através do ofício 896/15-SCM da Câmara Municipal de
Vereadores de Caicó endereçado ao CREA-IRS.
Por meio do ofício n° 017/2015, de 23 de setembro de 2015, enviado à citada
Câmara, a Inspetoria Regional do CREA estimou o consumo mensal de água pelo
setor da construção civil na Cidade de Caicó-RN, resumido na tabela abaixo.
Consumo Mensal de Água na Construção Civil
Número Mensal de ARTS Consumo Mensal/Obra(m3) Consumo Total Mensal(m3)
57 4,00 228,00
Total Adotado no Projeto (litros) 300.000,00
Para realizar-se uma avaliação expedita da qualidade da água do Açude Recreio
foram coletadas amostras em 02 de julho de 2015, pelo Núcleo de Análises de
Águas, Alimentos e Efluentes do IFRN, tendo sido analisados os seguintes
parâmetros: pH, condutividade elétrica, sólidos totais, sólidos totais dissolvidos,
sólidos em suspensão, demanda bioquímica de oxigênio, demanda química de
oxigênio e clorofila “a”.
O corpo aquático encontra-se classificado como eutrófico, segundo o Índice do
Estado Trófico de Carlson modificado, indicando está passando por significativo
processo de eutrofização.
4. SISTEMA DE TRATAMENTO DA ÁGUA
Os sistemas de alagados construídos (wetlands) vêm sendo utilizados
amplamente na Europa, América e Austrália para o tratamento terciário de
esgotos domésticos, no tratamento de águas com baixa contaminação e são
considerados eficientes no polimento final de efluentes. Na Cidade de Parelhas-
RN foi empregado como pós-tratamento do sistema de tratamento de esgoto da
CAERN visando à utilização do efluente em irrigação agrícola.
O uso de wetland no tratamento de águas residuárias tem se apresentado como
alternativa viável tanto técnica quanto economicamente, por ser uma tecnologia
de baixo custo em termos de capital de investimento, operação e manutenção.
O wetland construído de fluxo subsuperficial é um sistema projetado para utilizar
plantas aquáticas em substratos (areia, cascalho, brita ou outros), onde de forma
natural, sob condições ambientais adequadas, ocorrem os processos de
tratamento. Entre as funções das plantas aquáticas, destacam-se: a utilização de
nutrientes e outros constituintes; a transferência de oxigênio para o substrato; e a
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presença de caules (rizomas) e raízes que servem de suporte para o crescimento
de biofilmes.
Na concepção do wetland de fluxo subsuperficial, os efluentes a serem tratados
são dispostos na parte inicial do leito, denominada zona de entrada, composta por
tubulação de PVC perfurada para facilitar a distribuição do líquido afluente por
toda a seção transversal do leito, de onde escoam vagarosamente através do
material suporte (brita n° 1) com macrófitas aquáticas até atingir na parte final,
composta por dreno de PVC e chamada zona de saída. Este escoamento tende a
seguir na horizontal e é impulsionada por uma inclinação longitudinal no fundo de
1%.
É fundamental assegurar uma distribuição uniforme da água a tratar, pois a má
distribuição do líquido afluente promove danos precoces ao sistema pela
acumulação de sólidos nos trechos iniciais e eventual perda da vegetação. Além
disso, uma boa distribuição permite a manutenção dos espaços vazios do
substrato, o que garante a manutenção da condutividade hidráulica e da
superfície para o biofilme bacteriano.
Por meio da estrutura de saída da água tratada é feito o controle do nível de água
no sistema, que deve ser mantido abaixo da superfície do substrato (brita n° 1) ,
evitando-se a formação de poças de líquido, visto que essas poças podem tornar-
se fontes de proliferação de vetores e a base para formação de massa de algas.
A partir de análises microbiológicas a serem realizadas no efluente tratado será
definida a dosagem ótima de cloro a ser empregada para desinfecção da água, no
reservatório de acumulação.
As plantas utilizadas nos sistemas do tipo wetland devem ser da família das
macrófitas, devido a alta capacidade de absorção dos nutrientes e adaptação a
lugares úmidos com elevada carga orgânica. O Capim Andrequicé (Echinochloa
crus-galli L. Beauv) ou o Capim Elefante (Pennisetum purpureum) podem ser
indicados para o sistema proposto, pois são bastante conhecidos na região.
De acordo com Queiroz (2001), filtros de brita n° 1, com profundidade de 0,60m,
taxa de aplicação de 0,04 m3/m3.dia e fluxo subsuperficial horizontal, como o
wetland, apresentaram eficiência na remoção de sólidos em suspensão de 95 a
96%; na remoção de clorofila “a” de 99%; na remoção de demanda química de
oxigênio de 65%; e na remoção de demanda bioquímica de oxigênio de 84%.
Na pesquisa realizada na Cidade de Parelhas-RN, observou-se uma eficiência do
wetland em termos de remoção de demanda química de oxigênio e sólidos em
suspensão de 73% e 85%, respectivamente.
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5. DIMENSIONAMENTO
Área requerida
Considerando-se uma taxa de aplicação superficial de 0,048 m3/m2.dia, a área
requerida do wetland pode ser dada por:
102121 xQA = 210 m2,
Q= vazão de contribuição de água = 10 m3/dia;
A= área requerida em m2.
Dimensões do wetland
Profundidade útil média: 0.60m
Largura útil: 10,0 m
Comprimento útil: 21,0 m
Volume útil do wetland (V) e volume de brita (Vb)
V = 126,00 m3 e Vb= 148,05 m3
Tempo de detenção do wetland
diasdm
m
Q
VvaziosTd 9,4
/10
14,493
3
Considerando-se um índice de vazios da brita n° 1 de 39%.
Verificação das cargas orgânica e hidráulica
Carga orgânica superficial de referência (s) 15 gDBO5/m2. dia
Carga hidráulica de referência < 30 mm/dia
DBO520 da água bruta (S0) = 18 mg/L
- Carga de DBO520 da água bruta = 18 mg/l x 10.000 l/dia = 180 gDBO5/dia
- Carga orgânica superficial (s) = Carga de DBO520 da água bruta /Área = 180g
DBO5/dia) / 210 m2 = 0,86 gDBO5/m2.dia 15 gDBO5/m2. dia.
- Carga hidráulica = Q/A = 10 m3/dia / 210 m2 = 47,6 mm/dia > 30 mm/dia.
O desenho do sistema de tratamento proposto, com planta baixa, cortes, detalhes
e todas as dimensões, são apresentados na PRANCHA 01/01 (Anexo-1).
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6. ORÇAMENTO
O orçamento para execução do alagado construído (wetland) projetado importa
em R$ 69.805,34 (SESSENTA E NOVE MIL, OITOCENTOS E CINCO REAIS E
TINTA E QUATRO CENTAVOS), foi elaborado pelo Eng°.Civil Gustavo Marques
Calazans Duarte, CREA N° 2.114.588.122 e está apresentado, juntamente com
uma estimativa de quantitativos de materiais, no Anexo - 2.
7. RECOMENDAÇÕES PARA OPERAÇÃO DO SISTEMA
O sistema concebido apresenta operação bastante simplificada, principalmente
porque não são utilizados equipamentos eletromecânicos e foi empregada
unidade de tratamento biológico de fácil operação e manutenção.
O wetland não trará qualquer inconveniente se bem construído e operado. A
operação da unidade de tratamento deve ter em vista, sobretudo, a manutenção
ou restabelecimento dos parâmetros previstos no projeto, o que se obtém por
controle das cargas hidráulica (vazão) e qualitativas (carga orgânica, sólidos,
bacteriológicas, algológicas, etc.), ou sempre que se percebam perturbações no
funcionamento ou mudanças significativas no efluente.
Requer enfim, monitoramento de rotina, com análises de laboratório
programadas, inclusive para determinação da dosagem ótima de cloro a ser
empregada na desinfecção do efluente tratado.
Embora muito simples, a manutenção do sistema de tratamento não pode ser dispensada ou negligenciada. E, como tal, deve ser mantido e operado.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Queiroz, T.R. Remoção de sólidos suspensos de efluentes de lagoas de estabilização por meio de processos naturais, 229p. Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Distrito Federal, 2001.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15900-1:2009: Água para amassamento do concreto, Parte 1: Requisitos, ISBN 978-85-07-01824-7, Rio de Janeiro, 2009.
Natal-RN, outubro de 2015
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Eng° Civil Luiz Pereira de Brito
CREA N° 210286738-2
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ANEXO – 1 (DESENHOS)
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ANEXO – 2 (ORÇAMENTO)