projeto_de_pesquisa - a vitimologia frente ao direito penal

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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE PROJETO DE PESQUISA A VITIMOLOGIA FRENTE AO DIREITO PENAL ANDRÉA GONÇALVES PROFESSORA JAIDETTE FARIAS KLUG Metodologia da Pesquisa Jurídica (Projeto)

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Page 1: Projeto_de_pesquisa - A Vitimologia Frente Ao Direito Penal

UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE

PROJETO DE PESQUISA

A VITIMOLOGIA FRENTE AO DIREITO PENAL

ANDRÉA GONÇALVES

PROFESSORA JAIDETTE FARIAS KLUG

Metodologia da Pesquisa Jurídica (Projeto)

JOINVILLE

2012

Page 2: Projeto_de_pesquisa - A Vitimologia Frente Ao Direito Penal

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA.......................................... 03

2. ABORDAGEM GERAL DO PROBLEMA........................................................ 04

3. QUESTÕES DE PESQUISA........................................................................... 05

4. HIPÓTESES................................................................................................... 05

5. OBJETIVO...................................................................................................... 06

5.1. Objetivo Geral......................................................................................... 06

5.2. Objetivo Específico................................................................................. 06

6. METODOLOGIA............................................................................................. 07

6.1. Tipo de Pesquisa.................................................................................... 07

7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 07

8. CRONOGRAMA............................................................................................. 09

9. REFERÊNCIAS ............................................................................................. 11

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1. APRESENTAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA

A Vitimologia tem se caracterizado principalmente pelo estudo da vítima, do

ponto de vista biológico, psicológico e social, como meio de prevenção de delitos, e o

modo de disciplinar à maneira de precaver a sociedade contra a periculosidade dos

indivíduos, bem como as vítimas em potencial contra os prováveis autores dos crimes,

revelando-se como uma espécie de chave quanto à gênese do delito.

Nascida inicialmente como uma ciência incorporada à Criminologia, a Vitimologia

tem como principal meta estudar a vítima, seu comportamento, sua participação no

delito sofrido, suas tipologias e a reparação dos danos por elas sofridos1.

Analisando-se a Escola Clássica impulsionada por Beccaria e Feuberbach,

passando pela Escola Eclética de Impalomeni e Alimena e Escola Positiva de Lombroso

e Garafalo, observa-se que o Direito Penal sempre teve como meta o estudo do delito,

do delinquente e da pena, nada se mencionando quanto à vítima, que só veio a ter sua

importância reconhecida após o Holocausto2.

Contudo, apesar do trabalho desenvolvido pelos vitimólogos a partir da década

de 1940, e do avanço obtido a partir da década de 1960, o sistema penal ainda não

trouxe uma solução convincente para o problema da vítima no cenário punitivo,

ocorrendo uma total marginalização nos últimos séculos3.

Os movimentos que tratam sobre os direitos das vítimas lembram que elas

continuam merecendo um papel mais relevante junto ao direito penal, sendo

exatamente sobre esse problema que a justiça restaurativa tem o seu enfoque,

realçando a vítima e o seu sofrimento a fim de preencher essa lacuna teórica e

encontrar mecanismos que confiram um maior senso de realidade e humanismo à

justiça penal.

A importância desse estudo para todos que estão envoltos nos diversos ramos

do Direito Penal, da Psicologia e da Sociologia, dá-se justamente na descoberta das

circunstâncias que levam o cidadão a se vitimizar ou se tornar vítima de qualquer delito,

sendo um dos pontos mais relevantes do estudo do chamado processo de vitimização a

1 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Vitimologia. Brasília Juríric, 2006. Brasília-DF. P. 15.2 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Vitimologia. Brasília Juríric, 2006. Brasília-DF. P.15.3 NEGREIROS, Felipe. Vitimologia: estudos que reforçam a proteção dos diferentes. Revista de Estudos Criminais 44. Janeiro/Março 2012. P. 155.

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constatação de que nem sempre a vítima e o autor do crime caminham em lados

opostos.

Assim, o estudo do comportamento da vítima, suas tipologias sob os diversos

ramos das ciências criminais, sua contribuição consciente ou inconscientemente para a

prática do delito criminoso, o cabimento da excludente de antijuridicidade, a melhor

forma de reparar os danos causados e os mecanismos que configurariam um maior

senso de realidade e humanismo à justiça penal é medida que se impõe, frente a uma

lacuna teórica existente há praticamente setenta e dois anos.

Logo, é inconteste a importância da Vitimologia hoje para o Direito Penal e os

outros ramos das ciências sociais, pois pode fazer compreender muitas situações

complexas encontradas pelos operadores do Direito na atualidade e, ainda, realizar um

trabalho de prevenção vitimária.

2. ABORDAGEM GERAL DO PROBLEMA

Em razão dos estudos empreendidos por Lombroso, que contribuíram para a

formação da Escola Positiva, e que muito se concentrou na análise do delinquente,

durante muito tempo a vítima passou a ser quase que totalmente esquecida na etiologia

do crime4.

Contudo, mais recentemente, por conta do desenvolvimento de estudos sobre o

papel da vítima a ocorrência delituosa, o assunto tomou proporções de verdadeira

descoberta científica, mas, em realidade, o que se pode afirmar é que ocorreu uma

renovação, em termos de valoração, de pesquisas e observações em torno da vítima e

do fenômeno vitimal, pois o trato do assunto nas ciências penais é de longa data.

Percebe-se, atualmente, a necessidade de sistematização dos estudos da

relação criminoso-vítima, pois estes não são apresentados de maneira metódica, mas

sim como uma tentativa de um estudo mais completo possível, chegando-se às

diversas classificações ou grupos de vítimas.

4 NEGREIROS, Felipe. Vitimologia: estudos que reforçam a proteção dos diferentes. Revista de Estudos Criminais 44. Janeiro/Março 2012. P. 161.

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Outro ponto atacado é quanto ao alvo da Vitimologia, suscitando se as suas

preocupações visam apenas à vítima do crime ou de qualquer outro evento vitimizador.

Verifica-se, também, uma grande indagação quanto à necessidade de se

estabelecer um sistema de apoio às vítimas de crimes e de outros danos, como

mecanismos de assistência e prevenção ao processo de vitimização.

Da análise do sistema penal, pode-se constatar o enfoque dado à reabilitação do

delinquente e à proteção de seus direitos constitucionais, permanecendo marginalizada

a vítima que, via de regra, só pode ver os danos compensados através da esfera cível.

Por fim, critica-se veemente o fato do Estado praticamente não destinar recursos

ou serviços às vítimas de crimes, que em virtude do fato delituoso, enfrentam uma série

de despesas sem qualquer ajuda e acabam, muitas vezes, por não cooperar com o

processo penal, recusando-se a testemunhar ou mesmo a denunciar o delito, gerando

um sério impacto no sistema de justiça penal.

Assim, o impacto desse esquecimento no sistema de justiça penal é preocupante

e demonstra de forma latente a necessidade de estudos que visem a sua inserção.

Diante dessa problemática, surgem as seguintes questões de pesquisa:

3. QUESTÕES DE PESQUISA

a) Quais as possíveis causas para a marginalização da vítima no Direito Penal?

b) Quais os meios para inserir a vítima na Justiça Penal?

c) Como reparar o dano causado à vítima de forma efetiva?

4. HIPÓTESES

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a) Acredita-se que a vítima não tem mais relevância em um direito que visa prevenir

o crime por meio de uma intimidação que decorre da aplicação de penas. O viés

utilitário assumido pela doutrina pós-Beccaria afastou para lá da vítima o próprio

homem do Direito Penal, pois não é o ato violento em si que prepondera, mas as

razões político-criminais. Assim, vê-se que tudo no ambiente dogmático passou

a girar entre o infrator e o Estado, voltando-se para o autor do fato como alvo

real de preocupação.

b) Entende-se que através de programas de atendimento e proteção às vítimas se

conseguiria inseri-las na Justiça Penal, melhorando, até mesmo, a qualidade da

justiça e aumentando o nível de cooperação das vítimas com a Polícia e o Poder

Judiciário.

c) Crê-se que, com uma maior destinação de recursos ou serviços para as vítimas

de crimes e a criação de programas de atendimento e proteção às vítimas por

parte do Estado, estar-se-ia reconhecendo reparando de forma mais efetiva, pois

além de se reconhecer os danos materiais sofridos, ver-se-ia os danos

psicológicos e a sensibilidade do ofendido frente ao fato ocorrido.

5. OBJETIVOS

5.1.Objetivo Geral

O presente trabalho visa conhecer as teorias sobre o Instituto da Vitimologia

frente ao Direito Penal e apontar suas falhas.

5.2. Objetivos Específicos

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a) Mostrar a importância da inserção da vítima no Direito Penal para um maior senso

de realidade e humanismo a esse seguimento da Justiça.

b) Buscar mecanismos à melhor inserção da vítima no Direito Penal.

c) Encontrar a melhor maneira de reparar o dano causado à vítima de forma efetiva.

6. METODOLOGIA

6.1. Tipo de pesquisa

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde serão analisadas as referências a

respeito do assunto em livros, jornais, revistas e internet.

7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Originada logo após a II Guerra Mundial, quando o mundo assistiu o extermínio

de seis milhões de judeus nos campos de concentração nazistas, o termo “Vitimologia”

etimologicamente derivado do latim “victima” e da raiz grega “logos”, foi empregado

pela primeira vez por Benjamin Mendelsohn, no ano de 1947, na Universidade de

Bucareste, em sua conferência “Um horizonte novo na ciência Biopsicossocial -

Vitimologia”5.

5 A pesar da discussão acerca do precursor nos estudos vitimológicos, o relato de Elias Neuman não deixa qualquer dúvida: “Desde que conheci Mendelsohn em 1973 e li seus trabalhos, convenci-me que ele foi o precursor da Vitimologia, pois um ano antes de aparecer o livro de Von Hentig, Mendelsohn já havia falado em uma conferência sobre o assunto, em 29 de março de 1947, convidado pela sociedade de Psiquiatria de Bucarest” (NEUMAN, Elías. Victimologia, 1984, p. 29).

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Bittencourt, um dos pioneiros nos estudos vitimológicos no Brasil, define-a como

sendo “o estudo do comportamento da vítima frente à lei, através de seus componentes

biossociológicos e psicológicos, para a apuração das condições em que o indivíduo

pode apresentar tendência a ser vítima de uma terceira pessoa (o delinquente) ou de

processos decorrentes dos próprios atos, tais como os acidentes de trabalho ou de

circulação”.6

Já para Piedade Júnior, a Vitimologia é uma ciência ou um ramo da Criminologia,

que tem como objetivo prioritário o estudo do comportamento da pessoa vitimizada, de

sua gênese, de seu desenvolvimento, e o estudo do processo de vitimização, na

dinâmica entre o vitimizador e sua vítima, do exame e sua classificação doutrinária.7

Ainda, Maggio, conceitua a Vitimologia como sendo o estudo da pessoa do

sujeito passivo da infração penal e sua contribuição para a existência do crime.8

Logo, apesar das inúmeras definições atribuídas a Vitimologia, pode-se observar,

em suma, que esta se caracteriza principalmente pelo estudo da vítima, do ponto de

vista biológico e social, como meio de prevenção de delitos, e modo de disciplinar à

maneira de precaver a sociedade contra a periculosidade dos indivíduos, bem como as

vítimas em potencial contra os prováveis autores dos crimes.

O objetivo da Vitimologia, segundo Castro, pode ser sintetizado nos seguintes

itens:

1º) estudo da personalidade da vítima, tanto vítima de delinquente, quanto

vítima de outros fatores, como consequência de suas inclinações

subconscientes;

2º) o descobrimento dos elementos psíquicos do “complexo criminógeno”

existente na “dupla penal”, que determina a aproximação entre a vítima e o

criminoso, quer dizer: o potencial de receptividade vitimal”;

3º) a análise da personalidade das vítimas sem invenção de um terceiro estudo

que tem mais alcance do que o feito na Criminologia, pois abrange assuntos tão

diferentes como os suicídios e os acidentes de trabalho;

4º) estudo dos meios de identificação dos indivíduos com tendência a se

tornarem vítimas. Seria possível a investigação estatística de tabelas de

previsão, como as que foram feitas com os delinquentes pelo casal Glueck, o

6 BITTENCOURT, Edgard de Moura. Vitimologia com Ciência, in Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal, ano I, n. 1, abril-junho – 19637 PIEDADE JÚNIOR, Heitor. Reflexões sobre Vitimologia e Direitos Humanos. P. 1.8 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Resumo de Direito Penal – Parte Geral, p. 21.

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que permitiria incluir os métodos psicoeducativos necessários para organizar a

sua própria defesa;

5º) a importantíssima busca dos meios de tratamento curativo, a fim de prevenir

a recidiva da vítima.9

Ressalte-se que ainda não há unanimidade quanto a sua autonomia frente à

criminologia. Assim, para diversos autores, como o próprio Benjamin Mendelson, há

autonomia científica10. Porém, o entendimento majoritário é o de que permanece como

uma ramo da Criminologia que estuda cientificamente as vítimas visando adverti-las,

orienta-las, protegê-las e repara-las.

Assim, tem-se que:

“A vitimologia interage com a criminologia, pois, é uma ciência fundamentada na

observação, na teoria e na prática, mais que em conceitos e julgamentos, se

relacionando com as demais ciências e disciplinas, tais como a biologia, a

psicopatologia, a sociologia, política, etc. não estudando apenas o crime, mas o

delinquente, a vítima e o controle social do delito. Portanto, os crimes e os

criminosos são estudados pela criminologia. O estudo se aprofunda, quando se

estuda também os motivos que levam o delinquente, ou um grupo de

delinquentes a cometerem certos tipos de delitos, porque há uma mudança

radical no comportamento das pessoas, pois agem de acordo com as

circunstâncias (a ocasião faz o ladrão). Esses delitos não são mais próprios e

nem único de uma classe social”.11

Logo, seu estudo é de vital importância para todos os que estão envoltos nos

diversos ramos do Direito Penal, da Psicologia e da Sociologia, pois é através deste,

que poderemos saber quais as circunstâncias que levaram o cidadão a se vitimizar – a

tornar vítima de qualquer delito.12

8. CRONOGRAMA (2013)

9 CASTRO, Lola Aniar de. Tese de Doutorado, apud Lúcio Ronaldo Pereira Ribeiro. Vitimologia, p. 37.10 Israel Drapkin, ex-diretor do Instituto de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade Hebraica de Jerusalém, entende que Vitimologia, basicamente, refere-se ao estudo da vítima, e é precisamente essa definição plural que a que credencia a possibilidade do sujeito desde um grande número de aspectos diferentes e antagônicos (cf. Vitimology: a New Focus, v. I, p. 13).11 MAESTRI, Neiva Buratto. O tratamento dispensado à vítima sob a ótica da Legislação Penal e Processual Penal brasileira. Trabalho de Monografia. 2009. P. 5.12 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Vitimologia. Brasília Juríric, 2006. Brasília-DF. P. 9.

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MES/ETAPAS 03/13 04/13 06/13 07/13 08/13 09/13 10/13 11/13

Apresentação do Projeto ao

Orientador Específico

X

Levantamento bibliográfico

X

Leitura e Fichamento

X

Definição da Metodologia

Elaboração do Questionário

X

X

Apresentação do quest.

X

Coleta de dados X

Análise dos dados

X

Redação do trabalho

X X

Revisão e redação final

X

Apresentação X

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9. REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Edgard de Moura. Vitimologia com Ciência, in Revista Brasileira de

Criminologia e Direito Penal, ano I, n. 1, abril-junho – 1963

CASTRO, Lola Aniar de. Tese de Doutorado, apud Lúcio Ronaldo Pereira Ribeiro.

Vitimologia.

DRAPKIN, Israel. Vitimology: a New Focus, v. I.

MAESTRI, Neiva Buratto. O tratamento dispensado à vítima sob a ótica da Legislação

Penal e Processual Penal brasileira. Trabalho de Monografia. 2009. P. 5.

MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Resumo de Direito Penal – Parte Geral.

NEGREIROS, Felipe. Vitimologia: estudos que reforçam a proteção dos diferentes.

Revista de Estudos Criminais 44. Janeiro/Março 2012.

NEUMAN, Elías. Victimologia, 1984.

NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Vitimologia. Brasília Juríric, 2006. Brasília-DF. P. 9.

PIEDADE JÚNIOR, Heitor. Reflexões sobre Vitimologia e Direitos Humanos.