projetos de autoria coletiva em ambientes educacionais on-line
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As coisas so coisasAt que os jovens em rede
provem o contrrio
MARIA APPARECIDA MAMEDE-NEVES&
MAURCIO CASTANHEIRA
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EDITORA ARARA AZUL
Rua das Accias, casa 20 - Condomnio Vale da UnioAraras - Petrpolis - RJ - CEP: 25.725-020Telefone: (24) 2225-8397Endereo Eletrnico: www.editora-arara-azul.com.br
Copyright 2008 por Maria Apparecida Mamede-Neves eAntonio Mauricio Castanheira das NevesTtulo Original: Coisas so coisas at que os jovens em rede provem
o contrrio
EditorAndr Figueiredo
Editorao eletrnicaLuciana Lima de Albuquerque
Concepo de criao de capaFlavia Nizia Ribeiro
Montagem de capaRamon Gil
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Sumrio
APRESENTAO ......................................................................... 7Apparecida e Castanheira
PARTE IAS COISAS COMO ACTANTES
1. A CONCEPO DE OBJETO E A INTERAO
HUMANA EM BRUNO LATOUR .......................................... 15 Maurcio Castanheira
2. DO DIREITO DAS COISAS ................................................. 25Agenor Pereira da Costa
3. HOMO LUDENS ENCONTRA O COMPUTADOR .... 55
Gabriel Bezerra Neves
PARTE IIDO REAL S IMAGENS, FOTOGRAFIAS E
REPRESENTAES
FORMA, IMAGEM E REPRESENTAO .......................... 67
Flavia Nizia da Fonseca Ribeiro
5. DAS REPRESENTAES SOCIAIS REDESOCIOTCNICA: TRADUES DE UMA TRADIO ... 111Stella Maria Peixoto de Azevedo Pedrosa
6. VENDO AS PROFESSORAS DA PRIMEIRA
REPBLICA PELA ANLISE FOTOGRFICA ............ 141Ana Valria de Figueiredo-da-Costa
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PARTE III -JUVENTUDE E PROFESSORES AS COISAS QUE OS
UNEM
7. VALORES E PROBLEMAS DA JUVENTUDE PELALENTE DE JOVENS ................................................................ 179Maria Apparecida Mamede-Neves e Fernando Vidal
8. PERCEPES DA FORMAO DOCENTE FACE TECNOLOGIA........................................................................... 195
Helena Rodrigues de S e Mnica Machado Guimares de Magalhes
9. TRABALHO DOCENTE E PROCESSOS DE CRIAO:A ARTE COMO ESTRATGIA DE EQUILBRIO ........ 223Arlena Maria Cruz de Carvalho
10. ANIMANDO IDIAS: UMA EXPERINCIA ESCOLAR
COM JOVENS EM ARTE E INFORMTICA...................... 243Angelice Marins de Farias Barcellos
PARTE IVE A WEB CHEGOU ALARGAMENTO DOS MUROS
ESCOLARES
11. O MEDO E OS APELOS DAS NOVASTECNOLOGIAS PARA O ESPAO ESCOLAR ............... 261Elisa Maria Pinheiro de Souza
12. A TERCEIRA MARGEM DO RIO: ENTRE ATRADIO E A TRANSGRESSO BREVESCONSIDERAES SOBRE A CIBERCULTURA E ALEITURA. ..................................................................................... 275Maria Vitria C.M. Maia .............................................................. 275
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13. NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS EDUCAO:CRIANDO NOVOS PROFESSORES E APRENDIZES..... 281Denise G. Bandeira de Mello
14. RESSIGNIFICANDO O CONCEITO DE EDUCAOA DISTNCIA EM AMBIENTES VIRTUAIS DEAPRENDIZAGEM EM BUSCA DE UM NOVOPARADIGMA UM EDUCACIONAL ................................... 289Marcela Afonso Fernandez
15. PROJETOS DE AUTORIA COLETIVA EM AMBIEN-TES EDUCACIONAIS ON-LINE: PROPONDO ALGUNSPRINCPIOS NORTEADORES ............................................ 305Luiz Alexandre da Silva Rosado
16. NAS LAN HOUSES: NOVAS REDES SOCIAISJUVENIS, NOVAS SUBJETIVIDADES, NOVOS ESPAOS
DE CONSTRUO DO SABER ............................................ 343Rita de Cssia Souza Leal
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PARTE IV
E A WEB CHEGOU ALARGAMENTO
DOS MUROS ESCOLARES
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15. PROJETOS DE AUTORIA COLETIVAEM AMBIENTES EDUCACIONAIS ON-
LINE: PROPONDO ALGUNS PRINCPIOSNORTEADORES 110
Luiz Alexandre da Silva Rosado
Iniciando a conversa...
A partir do hipertexto,
toda leitura tornou-se um ato de escrita
(Lvy, 1996, p. 46)
O objetivo principal deste artigo expor um conjunto de princpiosnorteadorespara que sirva de base, como sugesto, para atividadeseducacionais que envolvam autoria textual coletiva111 em ambientes
educacionais on-line, seja dentro de ambientes virtuais de aprendiza-gem (AVAs) ou fora deles atravs de softwares independentes. Essesprincpios tambm so vlidos para atividades mistas, que integremsuporte on-line com atividades presenciais. Com este objetivo emmente, considerei importante dividir o artigo em duas partes.
Na primeira parte procuro responder algumas perguntas arespeito dessesprincpios norteadores que so propostos, tais como:
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110 Este artigo conta com resultados extrados da dissertao Autoria textual coletivafora do mbito acadmico e institucional: anlise da comunidade virtual Wikipdia esuas contribuies para a Educao. A realizao do mestrado contou com bolsaPROSUP concedida pela CAPES entre os anos de 2006 e 2008. A dissertao poderser baixada na ntegra atravs do site do autor: 111 Ser enfatizado neste artigo a autoria coletiva na categoria de textos, pois existemoutros tipos de autoria coletiva hoje em andamento na internet e que no so enfatizadas
neste estudo, a exemplo da autoria de programas de radio (podcasting), de videos(videocasting), de imagens e de inmeros outros tipos de bases de dados compartilhadas.
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(a) a base terica adotada, (b) a origem emprica a partir do qualforam construdos esses princpios, (c) o que significa um modelowikie quais so os seus elementos bsicos, (d) as diferenas em
relao a outros modelos de autoria em ambiente digital, assimcomo o (e) contexto maior em que as tecnologias de autoriatextual coletiva esto inseridas.
Na segunda parte procurei explicitar alguns dos pr-requisitosnecessrios, ou seja, a infra-estrutura tcnica e metodolgicanecessria aos princpios propriamente ditos, para em seguida osdetalhar um a um.
Primeira parte: respondendo questes essenciais
1. Qual a razo deste artigo?
No incomum hoje a presena desta modalidade de ferramentade co-autoria em AVAs como oMoodle112 (Rosado, 2007), assim comoa existncia de ferramentas wikiautomatizadas, em que facilmente
pode-se cadastrar um usurio e comear a utilizao, tendo comoexemplo os sites Zoho Wiki113 e Wikispaces114 (Rosado, 2008c).
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112 OMoodleouModular object-oriented dynamic learning environment(Ambiente de apren-dizagem dinmica modular orientada a objetos) pode ser acessado em . Nele usa-se um modulo wiki derivado doErfurt wiki, sendo que sua principal deficincia a ausncia de um espao paradiscusso coletiva dos textos, presente no MediaWikiatravs da aba Discusso,encontrada em cada artigo criado pelo internauta.113 Endereo de acesso: http://wiki.zoho.com/114 O Wikispacescontava em outubro de 2008 com aproximadamente 600 mil wikis,inclusive as de contedo escolar que passavam de 118 mil. Endereo de acesso:. A vantagem dos sitesbaseados em cadastro estna atualizao do software que fica a cargo da equipe do site e no do usuriocadastrado, sendo frequente a implementao de novos recursos, como por exem-plo a existncia de discusso estruturada na forma de fruns no Wikispacese naforma de comentrios no Zoho Wiki, assim como interface para edio de textos
mais amigvel e familiar, semelhante aos editores de texto convencionais, presentetanto no Wikispacesquanto no Zoho Wiki.
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Essa proliferao de ferramentas leva a uma necessidade dese construir itens que sirvam de roteiros de ao, no significando,de maneira alguma, um engessamento ou uma rigidez de proce-
dimentos, mas sim um auxlio sistematizado aos educadores, apartir de um quadro terico derivado essencialmente da concepoconstrutivista a respeito da cognio humana e de um paradigmade aprendizagem renovado, que valorize a cooperao, as trocase as interaes dos estudantes em rede.
Figura 1. Exemplo de ferramenta para autoria coletiva no ambiente virtual deaprendizagem Moodle.
Conforme sejam implementadas novas funcionalidadesnesses softwares e trabalhos de autoria coletiva forem sendodesenvolvidos em escolas, universidades e outros centros de ensino,novos itens podero surgir a partir tambm de outros referenciais
tericos adotados.
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1.2 Qual o enfoque terico adotado na definio dos
princpios norteadores?
Neste trabalho adoto a concepo construtivista de aprendizagemque parte, portanto, de um conceito dinmico de aprendizagem,em que os saberes esto em permanente construo por parte dosujeito aprendente em interao mtua(em via de mo dupla) como meio que o cerca, com os objetos que entra em contato e,principalmente, com as pessoas que convive.
O que ocorre, de acordo com esta teoria, uma construo
permanentede conhecimento feita por meio da elaborao mentalbaseada em interaes, ou seja, em aes do sujeito nos objetos doambiente e junto a outras pessoas, as quais formam uma rede designificaes que buscam dar sentido ao mundo desse sujeito.Em ambientes on-line esta abordagem se torna bastante adequa-da, atravs do uso de ferramentas que potencializam as trocas einteraes entre os pares, tais como fruns, chats, blogse no caso
desse trabalho as wikis. Para Jonassen (1996, p. 70):
Os princpios construtivistas fornecem um conjunto de
diretrizes a fim de auxiliar projetistas e professores na
criao de meios ambientes colaboracionistas
direcionados ao ensino, que apiem experincias autnticas,
atraentes e reflexivas. Os estudantes podem trabalhar
juntos na construo do entendimento e do significado
atravs de prticas relevantes.
Tal concepo resulta na abordagem da autoria coletiva pelocaminho da aprendizagem cooperativa(Campos et al., 2003), que ocorreatravs da interao e ajuda mtua dos pares estudante-estudanteeestudante-professor compartilhando objetivos comuns em atividadesde co-autoria, visando a resoluo de tarefas propostas em que acomplementao de competncias e habilidades dos membros
do grupo se torna fator motivador.
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O professor nesse caso se torna um propositor de tarefas,participando da coordenao dos trabalhos (sem autoritarismoou ameaas de punio), sendo capaz de administrar o grupo e
promover a cooperao entre os estudantes, mantendo o foco datarefa proposta e a objetividade nas discusses ao longo do processocooperativo, atuando na resoluo de conflitos quando essessurgem e ameaam o processo cooperativo da comunidade deaprendizes (Queiroz & Oliveira, 2004; Campos et al., 2003).
Uma segunda caracterstica de projetos coletivosconstrutivistas a busca pela aprendizagem significativa, que acontece
quando o objeto de estudo e os objetivos das atividades propos-tas tm correlaes significativas com a vida cotidiana do aluno,levando-o a criar sentido prprio (significaes prticas) para oscontedos tericos abordados pelo professor. Nos dois tipos deaprendizagem importante aprtica da negociao e do dilogo com ospares, objetivando a troca de pontos de vistadiferentes, assim como mo-mentos de reflexo e crtica a respeito dos contedos trabalhados.
Indo por este caminho metaterico, de construo do conheci-mento, rejeita-se o uso da repetio e da memorizao mecnicascomoformas eficazes de aprendizagem, ou seja, os meios digitais no po-dem ser utilizados como meros repositrios de dadosservindo a umaeducao bancriacom alunos arquivadoresde informaes (Freire, 1987).
Esse arquivamento se torna ainda mais obsoleto quandopercebemos que as informaes, os dados e os saberes com-
partilhados nos ambientes digitais modificam-se o tempo todo,acompanhando as transformaes sociais e as descobertas cientficas,cada vez mais aceleradas e disseminadas no ciberespao, contrastandocom as fontes impressas, mais estveis e portadoras de informaessequenciais e lineares. O meio digital desafia o modelo de transmis-so de contedoscaracterstico da mdia de massa do sculo XX,embora no o elimine, oferecendo novas oportunidades relacionais
atravs da interao mediada por computador (Primo, 2007).
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Embora a sala de aula se constitua um espao social, com apresena simultnea de inmeros alunos, se torna tambm obso-leta a idia de que todos eles devem aprender de maneira igual,
ao mesmo tempo e na mesma sequncia os assuntos propostos.De certa maneira, o paradigma tradicional de ensino acabou porseguir as limitaes apresentadas pelo meio impresso, representadoprincipalmente pelo livro115 , em que informaes so apresentadassequencialmente, com percurso previamente definido e semmuitas possibilidades de interferncia por parte dos leitores.
A partir das pesquisas de Roger Chartier (2002) resgatamos a
importncia que o livro tem como meio de concentrao e difusode conhecimentos, um artefato que vem registrando a autoria hsculos. O livro tambm se constitui um complexo de tecnologiasagregadas ao longo do tempo, como o formato cdexque substituio formato em rolo, por volta dos sculos II e IV da era crist, aimprensa a partir da inveno dos tipos mveis e outras inven-es estruturais tais como os ndices, a numerao das pginas, a
subdiviso em captulos e subcaptulos, as notas de rodap, ossistemas de citaes de obras de outros autores e os complexosbibliotecrios para indexao e busca de obras de referncia.Conclui-se portanto que as limitaes apontadas neste artigoaparecem quando comparamos o livro com o formato digital dohipertexto, que trouxe novas maneiras de se lidar com o texto,mais flexveis e maleveis que a escrita em suporte impresso.
Lembremos de alguns pontos doparadigma tradicional(Behrens& Oliari, 2007) que acabaram por influenciar o ensino namodernidade, forjado durante o perodo iluminista: (a)fragmentaoda realidadeem partes menores visando a observao, a mensuraoe o estudo minucioso dos fatos (perda do referencial de rede); (b)
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E suas variaes, tais como apostilas, cadernos de exerccios, fichrios, entreoutros.
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enfoque nas cincias exatascom o uso da matemtica para descrevera natureza (valorizao da mensurao); (c) inteno de controlaresubmeter a natureza vontade do homem (ausncia da noco de
interdependncia).Neste paradigma so eliminados os aspectos ambguos,
imprecisos e contraditrios, ou seja, a sala de aula se torna umlugar previsvel, com alunos dceis, enfileirados em suas carteiras,contidos em suas aes e com mnimo espao para criao e origi-nalidade, prevalecendo a figura do professor que detm o saberhistoricamente acumulado, devendo repassa-lo intacto aos demais.
Sob o enfoque do paradigma tradicional, cartesiano, as ativi-dades implementadas pelo professor desfavorecem a interao,sendo de ordem mais individualista, solitria, visando a aprendiza-gem competitiva, em que os alunos procuram se sobressair em relaoaos demais. Predomina a avaliao somativa, na qual a mensuraoe a quantificao so evidenciadas nas notas das avaliaes finaisdos alunos e o imprevisto, simbolizado pelos erros, punido
severamente (Behrens & Oliari, 2007). As mudanas miditicas recentes trazem novas formas de
exerccio da autoria (autoria hipertextual ), que antes de excluir omeio impresso e a sala de aula presencial tradicional, ampliamsuas possibilidades e desafiam esses espaos a se modificar e atrabalhar com a criao e a originalidade dos alunos, convidan-do-os ao exerccio da co-criao atravs da cooperao. Sobre
esse novo enfoque, podemos recorrer a Silva (2006, p. 192) arespeito da co-autoria do professor:
Esta disposio co-autoria requer do professor a morte
do sujeito narcisisticamente investido do poder, alm da
sintonia fina com a lgica da comunicao. Ao propor um co-
nhecimento, ele disponibiliza entendimentos em estados
potenciais que levam a marca de sua opo crtica. E,
expor sua opo crtica interveno, modificao,
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requer humildade, disposio profundamente favorvel
interatividade. (...) O professor percebe que o conhecimento
no mais o fruto de sua autoria somente. Percebe que, em
nosso tempo, os atores da comunicao tendem imbricao, a partilhar a mesma situao, e no separa-
o, a distncia, tal como na cultura da escrita, quando
autor e leitor no esto em interao direta. (...) Esta a
sua autoria redimensionada. No mais a prevalncia do falar-
ditar, da distribuio, mas a perspectiva da proposio
complexa do conhecimento, da participao ativa dos
alunos como co-autoria.
Para atingir essa meta, devemos considerar os aspectos donovo paradigma emergente(Behrens & Oliari, 2007) aplicado satividades de ensino aprendizagem, ou seja, levarmos em conta acomplexidadee instabilidadedos fenmenos da natureza; a interligaodos saberes (inter e transdisciplinaridade); a interconexo do homemcom a natureza (redes / ecologia) que esto em permanente estadode construo e mudana; a viso do homem como ser integral, que
utiliza a razo, os sentimentos e intuies enquanto participa econstri seu conhecimento com e sobre o mundo (dialogicidade).
Esse estado de mudana permanente, gerada pela interaode seus componentes, de evidenciao dos ns de interconexeseredes de informaes, possibilitado pelo meio digital e principal-mente pelo advento do hipertexto. A essncia do hipertexto a nolinearidade e sua instantaneidade derivada da rpida velocidade de
acesso, atravs da navegao realizada atravs de seus ns. SegundoLvy (1993, p. 33), navegar em um hipertexto significa, portanto,desenhar um percurso em uma rede que pode ser to complicadaquanto possvel. Porque cada n pode, por sua vez, conter umarede inteira.
Esse novo modo de leitura (e escrita), segundo Santaella(2004, p. 33) nos trouxe um novo tipo de leitor, o leitor imersivo,
sendo que:
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(...) no se trata mais de um leitor que tropea, esbarra em
signos fsicos, materiais, como o caso desse segundo tipo
de leitor [comparando ao leitor movente], mas de um leitor
que navega numa tela, programando leituras, num univer-so de signos evanescentes e eternamente disponveis,
contanto que no se perca a rota que se leva a eles. No
mais tampouco um leitor contemplativo que segue as
sequncias de um texto, virando pginas, manuseando vo-
lumes, percorrendo com passos lentos a biblioteca, mas
um leitor em estado de prontido, conectando-se entre ns
e nexos, num roteiro multilinear, multissequncial e
labirntico que ele prprio ajudou a construir ao interagircom ns entre palavras, imagens, documentao, msicas,
vdeo etc.
No difcil imaginar que, mesmo com todo o potencialapresentado pelo ambiente wiki para promover a cooperaoentre os pares, ele prprio pode se tornar mero instrumento derepetio e resumo de informaes coletadas pelos estudantes, caso
um novo paradigma de ao voltado para a autoria efetiva doaluno no seja formulado e aplicado.
1.3 De onde partiram esses princpios norteadores?
Esse quadro de princpios norteadores foi concebido a partirda anlise das atividades dos membros da comunidade virtual116
constituda em torno da Wikipdia117
(Rosado, 2008a), denomina-
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116 Entende-se como comunidade virtualum conjunto de indivduos que possueminteresses e conhecimentos em comum e que se renem atravs de ferramentasna internet para realizao de projetos mtuos atravs de cooperao e trocas,independente do espao geogrfico em que se localizam fisicamente (Lvy, 1999,p. 127-130).117 A Wikipdia pode ser acessada no endereo . Em
maio de 2008 possua cerca de 13.600 editores cadastrados e cerca de 420 milverbetes abertos por seus membros.
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dos wikipedistas, em que foram analisados, sobretudo, os fatoresque levaram ao xito do projeto.
A Wikipdia uma enciclopdia construda na internet que fun-
ciona desde o ano de 2001 em mais de 200 idiomas (incluindo oportugus), possuindo larga experincia traduzida em suas inme-ras regras, princpios e acordos de autoria coletiva, freqentementetestados a modificados medida que o projeto se amplia. Nessacomunidade virtual, inmeros casos so vivenciados e acumuladospelos membros da comunidade, constituindo uma memria coletivade xitos e fracassosregistrada nos fruns de discusso do site118 .
Na anlise que empreendi desta comunidade virtual, apliqueium amplo questionrio, disponibilizado on-line, com a finalidadede poder formar umperfil geraldos wikipedistas (Rosado, 2008a;2008b), e tambm observar suas concepes a respeito do projeto.Comparei os resultados com a prtica observada no Portal Comunit-rio do site e em alguns verbetes selecionados (mais longos e commaior nmero de intervenes-edies). Fiz ainda entrevistas livres
e observao de conversas no canal de bate-papo do site a fim decomplementar os outros meios de coleta de dados.
A partir da anlise estatstica dos resultados, assim como decontedo das respostas dissertativas e de discusses observadasno site, realizei o entrecruzamento com o referencial terico adotado,chegando, ao final, na construo de princpios norteadores paraautoria textual coletiva em ambientes on-line.
Semelhantes ao projeto Wikipdia, esto os projetosWikcionrio para construo coletiva de um dicionrio, Wikilivrospara escrita de livros e manuais para estudantes e a Wikiversidadepara o trabalho de pesquisadores e professores que disponibilizam
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118 As normas, regras e acordos de autoria podem ser acessados no Portal Comunit-rio do site, local este que ocorrem debates assim como julgamentos de usurios que
transgrediram de algum modo os acordos da comunidade. Endereo de acesso:http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Portal_comunit%C3%A1rio
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cursos on-line, entre outras iniciativas nos quais so criadosespaos coletivos de compartilhamento de saberes. Todos osprojetos so gerenciados pela Fundao Wikimedia, organizao
sem fins lucrativos, sediada na cidade de So Francisco, Califrnia,que se sustenta atravs de campanhas de doaes destinadas aosseus usurios (segundo descrio do prprio site da Fundao)119 .
1.4 Como funciona o modelo de autoria coletiva na
Wikipdia?
Na Wikipdia, existe uma forma de escrita que possibilita aautoria coletiva de textos, usualmente chamada de wiki. Isso querdizer que h uma opo para que qualquer internauta interfira ecrie o contedo dos textos disponibilizados no site, com exceode algumas pginas protegidas pelos administradores do sistema.Estes artigos/verbetes esto em constante crescimento (a partirdas contribuies dos wikipedistas) e so classificados em inmeras
categorias que abrangem grande parte das reas do conhecimentohumano: biologia, geografia, histria, medicina, entre inmerasoutras, incluindo temas convencionais e outros nem tanto.
Cada artigo possui 3 instncias bsicas: (a) o texto do artigo propria-mente dito, (b) a discusso sobre o contedo do texto do artigo e (c) ohistrico do artigo; todos representados por abaspresentes logo acimado texto. Esta estrutura permite que o usurio, ao detectar algum equ-
voco de contedo, possa apagar, comentar, editar ou restaurar umaverso anterior do verbete/artigo. Essa forma de construo inibeatos de vandalismo, pois, quem destri algum contedo no podedestruir o arquivo de verses anteriores do texto.
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119 Para maiores informaes til a consulta ao site . Sobre os projetos recomendamos entrar no site principal da
Wikipdia e rolar a pgina at o final, consultando o quadro Projetos Paralelosonde possvel acessar cada um deles em particular.
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Quando nos deparamos com a autoria na Wikipdia, per-cebemos um jogo de negociaes de sentido e de mensagens
visando precisar, ajustar, transformar o contexto compartilhado
pelos parceiros (Lvy, 1993, p. 22), expresso e concretizado nosdiferentes registros da aba histrico de edies dos artigos e nosregistros de discusses sobre os contedos desses artigos. Na
Wikipdia, as alteraes de contexto (contedos textuais) soregistradas e percebe-se que o ambiente informacional do instanteatual no o mesmo do momento anterior120 . O processo autoral levado ao extremo do ao vivo e do tempo real.
Portanto, no h um momento definido para a publicao da obra,aobra publicada a cada vez que a acessamos, caracterstica essa derivada daextrema maleabilidade do suporte informtico e de sua capacidade derecriao a cada vez que o leitor-autor-interventormodifica alguma de suaspropriedades. Na hora que a autoria ocorre, ela j pode ser acessada emodificada pelos outros leitores-autores-interventores.
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120 Segundo Lvy (1996, p. 48), assim, como o rio de Herclito, o hipertexto ja-
mais duas vezes o mesmo. Alimentado por captadores, ele abre uma janela para ofluxo csmico e a instabilidade social.
Figura 2. Verbete Alimento da Wikipdia com suas abas em destaque.
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Igual ao projeto da Wikipdia outros podem surgir atravsdo uso de seu software-base, oMediaWiki121 , um software livre(decdigo aberto), que pode ser utilizado gratuitamente, til em
projetos educacionais em que a autoria coletiva de alunos setorna um meio fundamental de construo do conhecimento.
A construo deprincpios norteadoresse torna importante, poisso eles que ajudam no momento em que tais projetos soconcebidos pelos educadores e posteriormente aplicados comseus alunos, evitando tropeos comuns por parte daqueles aindapouco familiarizados com a estrutura da Web 2.0. Evidentemen-
te, a aplicao de tais princpios exeqvel atravs doMediaWiki,porm no podemos garantir tal eficcia com outros softwaressemelhantes tais como o ETC122 Editor de Texto Coletivo oumesmo o mdulo wikipresente no AVAMoodle.
1.5 Qual o diferencial do modelo wiki em relao a
outras ferramentas digitais?
(...) o suporte digital permite novos tipos de leituras (e de
escritas) coletivas. Um continuumvariado se estende assim
entre a leitura individual de um texto preciso e a navegao
em vastas redes digitais no interior das quais um grande
nmero de pessoas anota, aumenta, conecta os textos uns aos
outros por meio de ligaes hipertextuais. (Lvy, 1996, p. 43)
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121 Endereo de acesso: 122 Software desenvolvido no Programa de Ps-Graduao em Informtica naEducao da UFRGS a partir do editor de texto coletivo EQUITEXT. O ETC integrante do AVA ROODA (Rede Cooperativa de Aprendizagem), trabalha comedio de pargrafos (unidade bsica) e permite a criao de grupos de trabalhoque constroem seus textos de maneira particular, ou seja, os textos podem serfechados e restritos a grupos de trabalho especficos. De resto possui estrutura
semelhante ao MediaWiki, porm inclui a funcionalidade de inserir comentriosdiretamente no pargrafo em construo (Behar et al., 2006).
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Consideramos neste trabalho que a autoria textual coletiva sedistingue das atividades at agora realizadas em outras ferramentas,tais como frum, lista de discusso, chat, e-mail, blogou editores
de texto convencionais, por utilizar de maneira radical amaleabilidadepermitida pelo ambiente digital, atravs da ediototalmente aberta e coletiva de textos suportada diretamente emuma pgina de internet.
A maleabilidade tambm pode ser chamada de princpio dametamorfose, conforme denomina Pierre Lvy (1993) em seulivro Tecnologias da Inteligncia, ao elencar seis princpios referentes
rede hipertextual. O termo maleabilidade parece refletir me-lhor essa capacidade de metamorfose dos dados digitais e servepara designar o carter de simulao, transformao e rearranjopermitido pelos bits, uma das caractersticas mais marcantes doformato digital que permite o surgimento de diferentes expressesdo pensamento e da imaginao, potencialidade esta amplificadaquando os dados digitais passam a ser compartilhados na internet.
Como exemplo ilustrativo, podemos pensar em um editorconvencional de texto (Wordpad, Bloco de Notas,Microsoft Word),em que a escrita conjunta depender do envio e reenvio sucessivode verses do texto, facilmente gerencivel com poucos autores,mas extremamente trabalhoso e lento quando feito em equipe,mesmo que a pessoa responsvel pelo gerenciamento e compilaodas revises seja bastante habilidosa e dedicada. Blogse editores
convencionais so bastante teis na autoria individual e em certonvel permitem a interferncia de revisores e comentaristas,porm no so adequados para a construo coletiva de textos(Rosado, 2008a, p. 89-91).
O autogerenciamento do ambiente wiki, entendido como acapacidade dos internautas em eleger suas lideranas, votar e de-finir suas regras de ao, inserir informaes nos textos e serem
corrigidos por outros, pode ser apontado como o diferencial desse
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tipo de sistema autoral, pois ele permite um resultado formadopelo equilbrio das interaes ocorridas ao longo do processo deconstruo dos textos (autoria negociada).
Obviamente, tais relaes no so sempre harmnicas, ocor-rendo conflitos de interesse entre os membros da comunidadeque podem resultar da interrupo desse processo (Rosado,2008b). A respeito dos desequilbrios e instabilidades em ambienteson-line, Primo (2005, p. 67-68) considera errnea a oposio entreconflito e cooperao, considerando que os dois termos so teis emsua separao conceitual, abstrao esta que jamais pode ser
vista como retrato possvel da interao humana, sendo impor-tante ir alm das imagens de unio e felicidade, to presentesnos discursos sobre a vida comunitria na Internet, sugerindo-se dessa forma:
(...) uma viso desencantada da cooperao, vendo-a no
como uma sequncia cumulativa de aes altrustas, mas
como um laboroso processo de interao a partir das dife-
renas. Ou seja, os embates a partir do contraditrio no
so obstculos cooperao, nem so os desequilbrios uma
barreira ao desenvolvimento intelectual e comunicao.
Pelo contrrio, so a prpria condio que faz mover tais
processos.
O processo comunitrio ir depender de como os seusmembros lidam com a ausncia de um controle central, visto
que nos wikisno existe um lder com poder de aceitar ou rejei-tar as alteraes textuais realizadas por seus membros, cabendoa todos uma postura de negociao com os pares na busca deconsensos temporrios.
Talvez seja esse processo de autogerenciamento o que maissurpreende aqueles que se deparam com a Wikipdia, pois o site,a princpio, teria tudo para fracassar e ser um espao de confuso
e desorganizao, que tenderia ao desaparecimento ou descaso.
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Porm ocorreu justamente o contrrio; a ausncia de um podercontrolador no gerou desordem, mas sim uma espcie deautogoverno atravs da criao de regras e normas de convivncia e
conduta por seus prprios usurios.Aqui cabe enfatizar que o modo de escrita wikitraz tona o
que Primo & Recuero (2003, p. 2) denominaram de hipertexto coopera-tivo, ou seja, aquele em que todos os envolvidos compartilham ainveno do texto comum, medida que exercem e recebem impactodo grupo, do relacionamento que constroem e do prprio produtocriativo em andamento, em contraste com o hipertexto potencial, no
qual os caminhos j esto dados, definidos pelo organizador do site,restando ao internauta somente a opo de percorr-los de dife-rentes maneiras, sem nenhuma interveno em seus contedos.
As wikispossuem como caracterstica bsica, voltamos a enfatizar,a permanente condio de obra aberta e malevel, no fixa, e escritaa muitas mos ao mesmo tempo (obra coletiva).
1.6 Em que momento histrico se situa a autoria textualcoletiva em ambientes digitais?
De um modo mais amplo, podemos situar a autoria coletivaem ambiente digital como um movimento recente derivado dasmudanas tecnolgicas sofridas pela internet nos anos 1990.Embora os dispositivos informticos, derivados da
microeletrnica, tenham uma exploso em seu uso nos anos 1970-80 atravs das redes digitais de dados (primeiro no mbito militare depois no civil) e do aperfeioamento das interfaces grficas(Johnson, 2001) atravs do desenvolvimento de programas quesimulam janelas, botes e cones, na dcada seguinte que asaplicaes da chamada Web 2.0 (Fortes, 2006) de fato surgem.
A Web 2.0 definida como um conjunto de aplicaes que
permitem atividades colaborativas (ou cooperativas) entre os
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internautas, que transformam e alimentam bases coletivas de da-dos. Exemplos populares so as redes de relacionamentos (Orkut,Myspace, Hi5), os repositrios de vdeos enviados e comentados
(YouTube, Google video) e os sites de construo textual coletiva ourestrita (Blogs, wikis).
Esta nova configurao da web vai ser marcada pelo uso doque Andr Lemos (2002, p. 112) denominou CC123 (Computa-dor Conectado) aliado aos potenciais de interveno em bases dedados coletivas124 , ou seja, a possibilidade tcnica da bidirecionalidadenascomunicaes on-line no modelo denominado de todos-todospor
Lvy (1999). nesse novo modelo de comunicao, em que existea possibilidade do internauta manipular e transferir dados digitaisem mo dupla com todos que participam do ambiente que vaipossibilitar novas formas de se lidar com a produo textual.
Basta lembrarmos que, antes da Web 2.0 (anos 1980 e inciodos anos 90), as pginas de internet eram estticas para quem asacessava, no permitiam interveno do internauta que as visita-
vam, obedecendo ainda ao modelo de transmisso da mdia demassa (Jornal, Livro, TV, rdio e cinema analgicos), com umplo emitindo informaespara um grande contingente de receptores
__________________________________________
123 O Computador Conectado uma evoluo do PC, o Personal Computerou ComputadorPessoal, desprovido de conexo em rede (intranet ou internet), tpico da dcada de1980 e incio da dcada de 90 no Brasil. O Computador Conectado reflete a passa-gem do PC, visto como hardware de uso pessoal, para uma pea dentro de umarede coletiva que se expande e permite novas formas de relaes sociais, expandin-do tambm as relaes de comrcio, de trabalho, de educao e de entretenimento.Lemos (2003) vai denominar esse fenmeno de Era da Conexo Generalizada, impul-sionada ainda mais pelo acesso s redes Wi-Fi(sem fio).124 Essas bases de dados so suportadas por linguagens de programao ao mododo XML (eXtensible Markup Language), PHP (PHP Hypertext Preprocessor), ASP (ActiveServer Pages) eAjax. Estas linguagens possibilitam a criao de websitesdinmicos, ouseja, pginas de internet capazes de armazenar informaes emitidas pelos usuri-
os-clientes, trat-las e devolve-las junto a outras informaes emitidas por outrosusurios do mesmo site.
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passivos. Quanto ao binmio emissor-receptor, para Lemos (2002,p. 114) o ciberespao fez com que qualquer um possa no sser consumidor, mas tambm produtor de informao, emissor.
Essa mesclagem de papis, representada nas palavras de Lemoscomo liberao do plo de emisso vai marcar a cibercultura, ou seja, acultura contempornea permeada pelas tecnologias digitais, em ummundo que a cada dia apresenta um maior estado de interconexono qual as memrias e aes humanas so registradas e compartilha-das em tempo real, formando uma inteligncia coletiva digitalizada. Nesseponto concordamos com Lvy (1999, p. 127) quando nos diz que:
(...) uma das idias, ou talvez devssemos dizer uma das
pulses mais fortes na origem do ciberespao a da
interconexo. Para a cibercultura, a conexo sempre prefe-
rvel ao isolamento. (...) o horizonte tcnico do movimento
da cibercultura a comunicao universal: cada computador
do planeta, cada aparelho, cada mquina, do automvel
torradeira, devepossuir um endereo na Internet. Este o
imperativo categrico da cibercultura.
A escrita antes da codificao digital estava condicionada pelapublicao analgica em papel, com alto custo de impresso e di-
vulgao, e conseqentemente acessvel a poucos autores, em geralsubmetidos ao filtro de editores que patrocinavam a edio de suasobras. O texto digitalizado e compartilhado em rede passou a oferecernovas possibilidades de interveno e editorao para serem explora-
das, e tudo indica que estamos somente no incio dessa nova fase(Targino, 2005), sendo importante os professores se apropriaremdesses novos meios, aproveitando seus potenciais para o desenvolvi-mento de atividades e projetos de aprendizagem com seus alunos.
De maneira geral, percebemos pelo menos 4 mudanas geradaspelas NTICs (Novas Tecnologias de Informao e Comunicao)nos ltimos anos que se entrelaam e fazem parte hoje dos siste-
mas de autoria coletiva digital:
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Tabela 1. Quatro mudanas na autoria trazidas pela NTICs.
Segunda parte: propondo alguns princpios norteadores
para a autoria textual coletiva em ambientes on-line
Antes de mais nada, vamos enumerar alguns pr-requisitospara o educador verificar em seu futuro trabalho com a autoriatextual coletiva, visto que muitas das dificuldades iniciais quandose trabalha com informtica na educao a carncia de recursosmateriais disponveis. So requisitos estruturais que podem serobservados junto equipe tcnica e direo da escola (item b) e
podem ser estudados tambm pelo prprio educador (item c).
CARACTERSTICA DESCRIOVelocidade(instantaneidade)
A mudana da autoria individual lenta
veiculada atravs da mdia impressa (livros,
jornais, revistas cientficas) para a autoriacoletiva rpida possibilitada pelo ambiente
digital (Web 2.0; sites dinmicos), com todas as
consequncias que tal fato acarreta.
Comunidade(interatividade)
A mudana da autoria predominantemente
particular, pessoal e esttica, para a autoria
coletiva e malevel em comunidades virtuais,
permitida pela digitalizao, com todas as
consequncias que tal fato acarreta.
Rede (conectividade) A mudana da autoria permitida apoucospara aautoria coletiva conectada em rede digital e
permitida a muitos atravs do uso de
programas de suporte a atividades em grupo,
os chamados groupwares, com todas as
consequncias que tal fato acarreta.
Liberdade(maleabilidade)
A mudana da autoria limitadapelo volume de
papel e seus altos custos para a autoria quase
ilimitada em espao praticamente infinito emambiente digital, com todas as consequncias
que tal fato acarreta.
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2.1 Pr-requisitos estruturais necessrios antes de
comear o projeto
a) Tempo para familiarizao com o ambiente: temposuficiente para que o aluno tenha contato e se envolvacom o ambiente wiki.
a. Tipos de editores: Segundo Bryant et al. (2005)o usurio de uma wiki, quando no desiste departicipar de um projeto, tem sua fase de usurionovato que pouco interfere nos contedos dos
textos. Conforme amplia o tempo de uso, elepassa para a condio de usurio experiente queinterfere nos contedos e participa ativamentedos debates e da criao de regras para a comu-nidade virtual trabalhar.
b. Perodo mnimo: Um perodo mnimo de 6meses (um semestre) seria o ideal para se alcan-
ar uma condio satisfatria de desembaraodos alunos-autores, que se acostumariam com aidia de intervir na produo textual do compa-nheiro, sem receio de ofender ou causar algummal estar em seu grupo.
b) Ambiente educacional on-line: instalar e configurar
um ambiente adequado para a autoria textual coletiva(software e hardware).
a. Elementos bsicos: significa que na esco-lha do software-base do projeto devam exis-tir os elementos bsicos para uma autoriacoletiva eficaz, ou seja: um espao para edi-
o do textual, outro com histrico de edies
identificando cada participante e por fim um
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espao de discusso da produo textualcoletiva125 .
b. Elementos avanados: durante a construo da
autoria podem-se criar outros espaos de comu-nicao informais(alm do espaoformalde cons-truo textual) para que os estudantes possamdebater e enriquecer os textos. Exemplo: sala debate-papo para conversas sncronas, banco debibliografias e hiperlinks recomendados e utili-zados, rea para discusso de regras e acordos
de autoria para a comunidade virtual (ao mododo Portal Comunitrio da Wikipdia).
c. Evitaes: No so recomendados softwaresque no possuam espaos de discusso dos tex-tos, pois dessa forma cria-se um obstculo paraa negociao e troca de pontos de vista entre osautores do projeto. Recomendamos a instalao
do software MediaWikiou o cadastro em sitesque j oferecem sistemas wiki prontos para uso,em especial o Wikispaces, editor on-line que, emnossa avaliao, se encontra mais amadurecido,conforme comentado na introduo desse artigo.
__________________________________________
125 Em trabalho anterior (Rosado, 2007, p. 13), chamei ateno sobre este aspecto
ao analisar a ferramenta wiki do Moodle: A maior ausncia na wiki do Moodle a
da aba Discusso, o que dificulta observaes extra-texto, debates entre usurios
e acrscimo de informaes especficas que poderiam ser anexadas para outros
usurios trabalharem antes de inserir no texto oficial. Perde-se em eficincia, pois a
comunicao entre usurios sobre a wiki dever acontecer por outras vias o que
dificulta a organizao das discusses em um ambiente s. Tambm falta o recurso
de Vigiar a pgina, recurso este que permite ao usurio acompanhar as alteraes
e ser avisado quando estas ocorrem. Enfim, certas wikis limitam a dialogicidade(trocas, debates) durante a criao textual coletiva.
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d. Disponibilidade: a construo da autoria um processo lento, que exige esforo de negociao,pesquisa, leituras e argumentao, com acom-
panhamento constante das intervenes dosoutros colegas. Portanto, quando for montadoum projeto de autoria coletiva em uma escola importante a disponibilidade de um ambientecom acesso internet em horrios extras, almdo tempo dedicado reunio presencial dos alunos.Um site na internet, ao invs de hospedado
localmente em servidor da escola, ajuda os alu-nos no acesso fora do espao escolar, em casade amigos, lan-housesou na prpria residncia.
c) Aprendizagem baseada em projetos: reservar um pero-do para elaborao cuidadosa do projeto a ser desenvolvidocom os alunos, incluindo os mesmos nessa fase de elabora-o, objetivando tornar o projeto significativo e estimulante
para todos de acordo com o conceito de aprendizagem significa-tiva. Se for o caso, os professores podem pensar em conjuntoum projeto que estimule a aplicao de conceitos de diversasdisciplinas, uma tarefa ou problemtica que integre conheci-mentos e caminhe a favor de uma viso interdisciplinar, emrede, conforme a concepo doparadigma emergentevisto ante-riormente. Os princpios norteadores servem para embasar
essa fase inicial e a fase executiva do projeto.
2.2 Princpios norteadores para autoria textual coletiva
em ambientes on-line
Respondidas algumas das perguntas que envolvem os princpiosnorteadores e elencados alguns pr-requisitos, consideramos
importante comentar aqueles que, em nossa experincia, se mos-traram os mais importantes.
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1 Promover a liberdade de aes de todos os alunos
Sntese:Promover maior liberdade de aes e explorao do ambiente
digital, abrindo-se para o imprevisto, sem represses ou controles rgidos porparte dos professores.
No paradigma tradicional de ensino comum a criao decontroles rgidos a serem aplicados pelo professor durante oprocesso de aprendizagem dos alunos. Diversas medidas so to-madas para conter os excessos e o imprevisto, inclusive atravsde ameaas de diminuio de nota caso o aluno continue com o
comportamento indesejado, oferecendo pequena margem paraque o aluno explore oportunidades e chegue a solues originaispor conta prpria.
Dessa forma, a primeira medida de um projeto de aprendizagemcooperativa e significativa dar tempo ao tempo e, a partir daatividade proposta, dar espao para que o aluno busque soluesem outros meios (diversas fontes de dados), realize experincias
e promova intercmbio com outros agentes envolvidos naproblemtica que objetiva resolver.
A aprendizagem no um processo exclusivo dos espaosescolares; pode acontecer em diversos ambientes (profissional,familiar, lazer), incluindo o ciberespao, e com diversos agentes,especialmente junto aos outros colegas de classe, trabalhandoem equipe (cooperao). O conhecimento construdo perma-
nentemente atravs de interaes com o meio.
2 Incentivar a diversidade de pontos de vista de todos
os alunos
Sntese:Permitir a existncia de pontos de vista divergentes que geremdesequilibraes estimulantes a partir da diversidade representada pelo
histrico de vida de cada participante.
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Quando abordamos o estudante atravs do paradigma emer-gente da complexidade percebemos que cada pessoa, cada apren-diz, possui habilidades, estruturas de operao e competncias
particulares, nicas, adquiridas em diversos ambientes alm doescolar. Quando cada um deles forma, em conjunto, uma rede deaprendizagem, a tendncia que as trocas e os modos de abordara tarefa proposta sejam diversos.
Constatado esse fato, natural existirem divergncias equestionamentos entre os alunos durante o processo de negociaoda autoria (conflitos), cabendo ao professor estimular o processo
de trocas de idias, abrindo espao para que, atravs da manifes-tao de mltiplos pontos de vista, ocorra a reflexo e a revisode pensamento do aluno, ou seja, que as trocam resultem em umaluno e um professor mais flexveis.
Conforme a concepo de aprendizagem dentro da concep-o construtivista, nenhum autor possui viso de mundo ou his-tria de vida igual. Cada autor procura atualizar as virtualidades
de um texto da maneira que considera mais adequada, de acordo comsuas redes de significados estabelecidas dinamicamente a partirde todos os contatos, leituras e vivncias prvias (Lvy, 1996).
3 Perceber que o erro tambm importante para a
aprendizagem
Sntese:Permitir a existncia de tentativas e erros nas aes dos autores.O processo de aprendizagem ocorre via tentativas e erros, de
exploraes bem sucedidas e tambm mal sucedidas. Oferecerprocedimentos ou respostas prontas pode acabar por desmotivaro aluno, que se torna um receptor passivo de contedos j definidospreviamente por outra pessoa (transmisso de contedos).
Em um projeto de aprendizagem com autoria coletiva
importante saber que surgiro problemas, existiro lacunas que
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sero maisou menosrapidamenterespondidas. Nesse ponto o pro-fessor deve estar ao lado para ajudar, porm no para resolvertodos os obstculos encontrados por seus alunos.
4 A responsabilidade deve ser compartilhada por todos
Sntese:Possibilitar o compartilhamento da responsabilidade do tra-balho proposto, visando tomadas de decises em conjunto e maior autonomiados participantes na gerncia do projeto.
Um projeto deve ser feito pensando-se na possibilidade de
todos os envolvidos participarem dele, para que seja concludoda melhor maneira possvel, mesmo que alguns tomem a lideranadurante o processo de trabalho, o que bastante normal.
Exemplo: um professor de ingls pode propor aos seus alu-nos que, durante um semestre, seja feita uma wikia respeito dacultura inglesa e da cultura americana, escrevendo-se os textosem ingls. Tal desafio pode levar o grupo a se organizar para que
todos criem da melhor maneira possvel essa base de dados.A responsabilidade tambm inclui o compartilhamento en-
tre todos da vigilncia para que a tarefa seja cumprida, cabendo atodos o compromisso de respeitar as regras acordadas e de fazercumprir sanses para aqueles que as desrespeitarem. Tambmcombinar com os alunos que o resultado da wikiser avaliado emseu conjunto e no somente em partes separadas, motivando todos
a participarem de todaconstruo do projeto, e no somente co-lando partes individuais (feudos autorais), sem interfernciados demais.
5 Construir mecanismos de resoluo de conflitos
Sntese:Embora importantes, no permitir que os conflitos cheguem a
ponto de desestruturar a comunidade e provocar a sada de seus membros.
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Assuntos sensveis so mais sujeitos a conflitos e devem ser tratados pormediadores com suficiente distanciamento.
Embora, como j dissemos, o conflito seja natural em relaes
de negociao da autoria (nem sempre ocorre cooperao de ma-neira harmoniosa), em uma comunidade virtual importante seconstruir regras para melhor convivncia e resoluo de conflitos.
Uma regra bsica, vlida para toda comunidade virtual : seum aluno sofrer agresso por parte de algum outro exaltado, nodever reagir da mesma forma. No caso Wikipdia, foi comumencontrarmos atos de agresso que procuravam desqualificar o
texto de um outro wikipedista, a partir da defesa de um ponto devista considerado o mais correto.
Nesses casos de conflito mais srio, recomendvel, primeiro, aprocura de um consenso pelo dilogo, como por exemplo: corrigirrudos de comunicao, admitir falhas na argumentao, mostrar arre-pendimento por algo grave dito durante um momento de exaltao,fazer uma pausa quando a discusso no chegar a um consenso.
Em ltimo caso, a comunidade virtual pode definir por vota-o a existncia de uma mediao para a resoluo de casos in-solveis. Um terceiro ponto de vista, mais neutro, pode ajudarambos os lados a olhar a situao sob outro ngulo. Na Wikipdia,os processos de mediao so classificados como novo, aber-to (em andamento) e fechado (resolvido).
6 Construir sistemas bsicos de funcionamento e ad-
ministrao
Sntese:Definir no projeto sistemas bsicos para suporte e ajuda, normasde conduta, edio e reviso, tomada de deciso, resoluo de conflitos e punio.
Nem toda comunidade virtual ser to complexa quanto aWikipdia. Porm, alguns sistemas bsicos para o bom fun-
cionamento do projeto proposto podem ser implementados de
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acordo com o desenvolvimento do projeto e da complexidadedos objetivos propostos.
Um deles foi destacado no tpico anterior, a respeito da reso-
luo de conflitos. Outro sistema que pode ser implementado ode suporte e ajuda aos usurios novatos. Ser comum em umacomunidade virtual mais amadurecida que alunos, com o passardo tempo, estejam mais integrados ao sistema wiki, por j teremparticipado de projetos anteriores. Dessa forma, a tutoriaajudaria onovato a ganhar maior desenvoltura na wikiem menor tempo.
Outro sistema que pode ser criado o de votaes, a fim de
permitir maior agilidade na tomada de decises que envolvam todacomunidade. Um sistema de votaes servir para modificar regrasexistentes ou criar novas, a partir de propostas emitidas pelosmembros da comunidade. Importante tambm ser a definio deum conjunto de regras para redao dos textos, um sistema de redao,incluindo as sees principais e alguns acordos de formatao dostextos (manual de estilo) garantindo maior uniformidade dos trabalhos.
Exponho a seguir um grfico com um resumo geral dossistemas encontrados na Wikipdia: 126
__________________________________________
126
Maiores detalhes podero ser encontrados na dissertao de mestrado que servecomo referncia a este artigo (Rosado, 2008a)
Figura 3. Principais sistemas de funcionamento divididos em fluxo de entrada e
sada da Wikipdia.
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Vale observar que, no quadro exposto acima, o nico sistemaincompatvel com atividades educacionais o ltimo, ou seja, obanimento de membros da comunidade. Dessa forma, deve-se
investir ao mximo em um bom conjunto de normas de conduta(no proferir ameaas; no constranger os novatos; no fazerataques pessoais; assumir em primeiro lugar a boa inteno docolega) e em um bom sistema de mediao e resoluo de conflitos.
7 Coordenadores tambm devem cumprir as regras
Sntese:Estar atento para as alianas e protees entre coordenadoresdo projeto, visando o cumprimento efetivo das regras acordadas em grupo,
para todos os participantes.Embora seja natural a nomeao de lideranas em um projeto
de autoria textual coletiva (atravs do sistema de votaes), essaliderana tambm deve estar sujeita a todas as regras da comuni-dade, no existindo nenhum privilgio. Nesse caso, a criao de
um conjunto de atribuies especficas do lder pode ser pensada,para que antes de se buscar posio privilegiada, o lder estejaciente de suas responsabilidades e obrigaes com o grupo.
Tais atribuies, se bem definidas, minimizam outros fatoresque levam muitas vezes a atos injustos, baseados em critrioscomo: tempo de convvio com o colega, relaes afetivasestabelecidas dentro e fora da wikie nvel de participao do
colega no texto em questo. Esses critrios, no to objetivos emais subjetivos, muitas vezes geram em comunidades virtuaisdiscusses srias, a partir dos usurios que optam por fazer valeras regras estabelecidas.
Dessa forma, o professor deve acompanhar a atuao desselder e, caso a comunidade de alunos seja extensa, dois ou maislderes-administradores podem se fazer necessrios. Nesse caso
um sistema de avaliao da liderana com feedback constantedeve ser
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criado para que os membros da comunidade virtual possam semanifestar, como, por exemplo, um espao para registro dedivergncias e questionamentos da comunidade.
8 Saber que sempre existiro subjetividade e divergncia
de opinies
Sntese:Levar em considerao que apesar dos sistemas criados sempreexistem as interpretaes pessoais e as divergncias de opinies.
Este princpio serve, antes de mais nada, para eliminar expec-
tativas do propositor de um projeto de autoria textual coletiva.Os erros, os imprevistos, as ms interpretaes e os desvios doescopo inicial so naturais de ocorrer, fazem parte do processode aprendizagem em qualquer trabalho que envolva uma comu-nidade. Cada pessoa possui uma bagagem de aprendizado, dereferenciais, de valores que acabam por influenciar o modo comoos sistemas e os itens do projeto so interpretados.
Nesse caso, cabe ao professor atuar como agente de esclareci-mento das metas e objetivos propostos inicialmente, para que a auto-regulao esperada da comunidade seja realizada com sucesso.Para isso, o projeto dever ser amplamente discutido com o grupode alunos antes de seu incio, visando equalizar ao mximo o enten-dimento, diminuindo o ndice de divergncias e mal entendidos.
9 Definir no projeto os tipos de aprendizagem a serem
alcanados
Sntese:Definir que tipo de aprendizagem se espera do projeto comwiki: (1) exerccio da cooperao, (2) da autoria textual ou (3) aprendiza-
gem dos contedos trabalhados (ou os 3 ao mesmo tempo).No projeto Wikipdia, algumas formais de aprendizagem
foram observadas durante o processo de escrita coletiva da enci-clopdia e devem ser pensadas na concepo inicial do projeto:
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(1) Exerccio da cooperao atravs da co-autoria (relao autor-autor): a aprendizagem que ocorre a partir das relaes decooperao junto aos outros colegas. nessa relao que o
aluno deve aprender a respeitar o trabalho escrito pelo outro econseguir conciliar seus pontos de vista com as vises, opiniese interpretaes dos demais. As relaes de conflitos e suas formasde resoluo tambm fazem parte desse aprendizado. nesseexerccio que se criam, so propostas e passam por discusso nacomunidade (ou por votaes) as regras e acordos de convivnciana escrita dos textos. O principal ponto de negociao em uma
wiki a sua aba de Discusso, presente em cada texto e depoiso espao dedicado s relaes comunitrias (a ser definido noprojeto com o professor).
(2) Exerccio da autoria textual e da pesquisa(relao autor-texto): a aprendizagem que resulta da pesquisa derivada do exercciode escrita, de autoria, que impulsiona o aluno na busca de fontes deinformaes durante as contribuies e refinamentos de contedo
dos textos. durante esta atividade que o aluno dever observar asregras, recomendaes e normas de conduta acordadas pelo grupo,assim como o manual de estilo adotado, procurando seguir o estiloe a coerncia geral dos textos. Dessa forma, o aluno amplia odomnio sobre a lngua escrita, os conceitos trabalhados nos textose amplia seu vocabulrio e conjunto de expresses conhecidas,transpondo sua aprendizagem para outras situaes em que a
escrita e o domnio conceitual se fazem necessrias.(3) Aprendizagem dos contedos trabalhados(relao autor-texto):
o aprendizado sobre o prprio tema em si que foi proposto noprojeto junto ao professor. Esse aprendizado ocorre durante eaps o levantamento de materiais e fontes de informaes a respeitoda temtica proposta. Deve-se primeiro apreender os significa-dos das informaes acessadas para depois poder condens-las e
resumi-las em um texto coerente, com boa argumentao.
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10 Aproveitar as regras e acordos pr-existentes de
comunidades avanadas
Sntese:Procurar partir de regras e acordos de autoria coletiva jconsolidados em comunidades virtuais mais experientes, a exemplo daWikipdia.
A maioria dos princpios norteadores elencados neste artigofoi proveniente de observaes das relaes de autoria da comuni-dade virtual em torno da Wikipdia. Iguais Wikipdia existemmuitos outros projetos em andamento que podem servir de base e
ponto de partida, conforme citamos na primeira parte desse artigo.Vale sempre pena buscar comunidades virtuais de referncia,mais amadurecidas, para saber o modo de gerenciamento de suasrelaes de autoria. Os doze pontos abordados nesse artigo servemcomo ponto de partida, mas no so definitivos.
11 Criar projetos com autoria autntica
Sntese:Criar um projeto de autoria autntica, voltado para umpblico especfico, alm do professor.
comum, em sala de aula, a escrita para um nico leitor: oprofessor. Em projetos wikinaturalmente a escrita aberta e vis-ta por um pblico amplo, mesmo que sejam somente os prpriosalunos. Em certos casos, de wikis pblicas, os leitores podem
extrapolar a sala de aula e se estender para usurios reaisdostextos produzidos pelos alunos.
Esse retorno, se bem administrado, pode servir de fatorincentivador para os alunos, pois, a partir do momento que outraspessoas, externas sala de aula, acessam os textos, a atividade setorna significativa. Exemplo de atitudes que tal fato pode acarretar:ficarem mais atentos clareza dos textos escritos, assim como a
obedincia norma culta da lngua portuguesa e a realizao de
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pesquisa em bases de dados mais qualificadas (revistas cientficas,sitesespecializados, livros bem embasados).
Uma rea de contato pode ser estabelecida na wiki, como,
por exemplo, um e-mail de contato para os leitores.
12 Definir objetivos claros no projeto
Sntese:Apresentar de maneira clara os objetivos e metas do projeto,aprovado pelos participantes, propondo um desafio que seja estimulante(significativo) e provoque desequilibraes.
Talvez essa seja a parte mais sensvel. A definio de umobjetivo claro em um projeto no tarefa das mais fceis e temrelao direta com a proposta da aprendizagem significativa. Muitasvezes, aquilo que extremamente significativo para o professorno possui a mesma significao ou prioridade no contexto devida de seus alunos. comum o caso do professor que, j cienteda importncia do tema, da utilidade em seu dia a dia, considere
que o aluno possua o mesmo cabedal de experincias e de vida queele possui. O resultado um projeto que se torna interessante so-mente para o professor, e desestimulante para o grupo de alunos.
Uma boa tcnica a ser aplicada a utilizao de brainstorm, noqual o professor coleta junto aos alunos os temas de maior inte-resse, os problemas mais instigantes que gostariam de resolver.Dessa forma, a escrita coletiva se torna estimulante e ponto de
partida para a aplicao dos conceitos trabalhados em uma oumais disciplinas escolares. Segundo Jonassen (1996, p. 74), umdos aspectos da aprendizagem significativa a intencionalidade,ou seja, quando os alunos esto ativa e obstinadamente tentandoatingir um objetivo cognitivo, pensam e aprendem mais.
a partir do projeto proposto que os alunos procuraromobilizar seus esforos, criando mtodos de trabalho, regras de con-
vivncia, levantando fontes de informaes teis, compartilhando
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talentos em comunidade, para que o objetivo do projeto seja con-cretizado, mesmo sabendo-se que nunca chegaro a um estadode acabamento e perfeio.
Concluindo a conversa...
Este artigo objetivou trilhar um caminho mais prtico para aimplementao da autoria textual coletiva em ambientes educa-cionais on-line, a partir do surgimento nos ltimos anos de in-meros softwares de co-autoria na web 2.0. Para isso, indicamos
uma base terica que valoriza a construo do conhecimentopor parte do aluno em detrimento de uma abordagemtransmissionista no trato com informaes e bases de dados,tpica dos meios de comunicao de massa.
Esse enfoque se deve ao fato de ser muito comum a abordagemda construo textual atravs da reproduo e da memorizao decontedos, a chamada pesquisa realizada pelo estudante a partir de
uma temtica indicada pelo professor, em que se levantam infor-maes e dados e os copiam para um texto nico (compilao decontedos), muitas vezes derivado de corte e colagem de materiaisprovenientes da prpria internet (Control + Ce Control + V), com ointuito de resumi-los e reproduzi-los em alguma espcie de avaliao(prova escrita individual, prova oral individual, apresentaes em gru-po). Esse processo resulta em alguma nota dada pelo professor que
indica somente o grau de reprodutibilidade alcanado pelo estudante.Nesta modalidade de uso, o estudante tem baixa probabilida-
de de ressignificar o contedo pesquisado em novas situaes,a atividade proposta gera um nvel baixo de significao e asinformaes pesquisadas provavelmente sero logo esquecidas.A atividade de autoria, neste caso, serve mais para cumprir umatarefa com resultados previsveis, com nvel baixo de desafio para
o estudante (e para o professor).
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Dessa forma, recusando este modelo tradicional de ensino,viemos trazer uma proposta de trabalho um pouco mais complexa,tendo como benefcio a existncia de inmeras possibilidades
que a autoria textual coletiva nos traz (aprendizagem via cooperaoe significao), ao mesmo tempo com uma srie de requisitosnecessrios para que tais projetos sejam bem sucedidos e respeitema criatividade e originalidade dos alunos.
Temos em mente que so requisitos exeqveis, a partir deum projeto que seja realmente til e estimulante para os estudan-tes, incentivando-os a trabalhar em equipe e usar a criatividade
para a realizao de um objetivo compartilhado pelo grupo. Talobjetivo deve ser traduzido em aes que gerem algum nvel deproblemtica a ser resolvida durante o exerccio da autoria textualcoletiva (aprendizagem por projetos), ou seja, que gerem oportu-nidades para a ocorrncia de desequilibraes e reequilibraesde suas estruturas cognitivas.
Tambm vimos que recomendvel algum nvel de cone-
xo do projeto proposto com a vida cotidiana, com os saberesadquiridos pelos estudantes fora do espao educacional for-mal que possam ser incorporados na realizao do projeto.Neste tipo de atividade o resultado final menos previsvelpara o educador, sendo preciso gerenciar conflitos e aceitaros erros durante o processo de aprendizagem, porm se tornamuito mais recompensador, visto que a durabilidade e
aplicabilidade do conhecimento adquirido tende a ser bemmaior devido significao dada aos saberes. Incentivando-semais a cooperao os laos criados com os colegas de turmase fortalecem, assim como o professor tente a se tornar maisprximo do aluno visando auxili-lo na resoluo de proble-mticas e tarefas, deixando de exercer o papel de agente depunio dos erros cometidos.
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Luiz Alexandre da Silva Rosado Mestre em Educao pelaUNESA, graduado em Comunicao Social pela UGF e apro-vado no Programa de Ps-graduao ( Doutorado )em Educao
para 2009 na Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro. membro da equipe Jovens em Rede do Departamento deEducao PUC-Rio. [email protected]://alexandrerosado.net78.net
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