promotoria de justiÇa de rosana - mpsp.mp.br
TRANSCRIPT
1
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
1
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Única
da Comarca de Rosana do Estado de São Paulo
“Toda vez que a corrupção pública e
administrativa passa a constituir vício
generalizado, cria, em torno do governo, um odor
de escândalo e provoca a indignação da opinião
pública, pois cada cidadão se sente lesado pelo
enriquecimento ilícito daqueles que mantém
conduta imprópria no exercício de cargos ou
funções públicas”. (Francisco Bilac Moreira Pinto,
Enriquecimento Ilícito no Exercício de Cargo Público,
Ed. Forense, Rio de Janeiro, pág. 77).
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,
por meio do Promotor de Justiça, infra-assinado, no
exercício de suas funções legais e constitucionais, com
base no artigo 37, §4° e artigo 129, inciso III, ambos da
Constituição da República; artigos 1°, inciso IV, 5° e 21
da lei 7.347/85; artigo 25, inciso IV, alínea a, da lei
8.625/93 e artigos 9º, 10 e 11 da lei 8.429/92, vem propor
a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINSITRATIVA
COM PEDIDO LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DOS BENS E
AFASTAMENTO DO CARGO PÚBLICO CUMULADO COM DECLARAÇÃO DE
NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO
pelo rito específico da lei 8.429/92, em face dos seguintes
agentes públicos:
1. ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, conhecido por
„JÚNIOR DA SAÚDE‟, brasileiro, casado, funcionário público
2
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
2
municipal, atual vereador/Presidente pela Câmara Municipal
de Rosana, portador do RG 33.931.407-2 SSP/SP e CPF
322.608.298-13, filho de Roberto Fernandes Moya e Rosangela
da Silva Reis Moya, nascido aos 27.11.1984, natural de São
Paulo/SP, residente na Rua Cosmo Casemiro Rodrigues, nº
1435, centro, Rosana/SP, podendo ser encontrado no endereço
da Câmara Municipal de Rosana situado à Rua José Laurindo,
nº 1535, Centro, Rosana/SP;
2. ALINE ROSA APARECIDA MORAES, brasileira,
casada, do lar, inscrita no CPF nº 400.488.608-24,
residente à Rua Cosmo Casemiro Rodrigues, nº 1435, centro,
Rosana/SP;
3. CÍCERO SIMPLÍCIO, conhecido por „CIÇÃO‟,
portador do RG 9.073.362 SSP/SP e CPF 885.956.098-53,
brasileiro, casado, motorista, atual vereador pela Câmara
Municipal de Rosana, filho de José Simplício dos Santos e
Maria Umbelina de Araújo, nascido aos 03.02.1955, natural
de Rondon/PR, residente e domiciliado na Rua Descanso, Casa
122, Quadra 125, no Distrito de Primavera, município de
Rosana/SP, podendo ser encontrado no endereço da Câmara
Municipal de Rosana situado à Rua José Laurindo, nº 1535,
Centro, Rosana/SP;
4. WALTER GOMES DA SILVA, conhecido por „WALTER
DA GLEBA‟, portador do RG 3.832.163-3 SSP/SP e CPF
511.414.269-00, brasileiro, casado, atual vereador pela
Câmara Municipal de Rosana, filho de Sílvio Gomes da Silva
e Maria de Lourdes Gomes da Silva, nascido aos 06.12.1963,
natural de Nova Londrina/PR, residente e domiciliado no
Lote 03, Quadra „Q‟, Setor 04, da Gleba XV de Novembro,
3
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
3
município de Rosana/SP, podendo ser encontrado no endereço
da Câmara Municipal de Rosana situado à Rua José Laurindo,
nº 1535, Centro, Rosana/SP;
5. FILOMENO CARLOS TOSO, conhecido por „FILÓ‟,
portador do RG 17234482 SSP/SP e CPF 057.673.478-08,
brasileiro, casado, operador de máquinas – servidor público
municipal e atual vereador pela Câmara Municipal de Rosana,
filho de Elvécio Toso e Luzia Gentil Toso, nascido aos
19.08.1962, natural de Estrela do Norte/SP, residente e
domiciliado na Travessa das Damianas, Casa 44, Quadra 121,
Distrito de Primavera, município de Rosana/SP, podendo ser
encontrado no endereço da Câmara Municipal de Rosana
situado à Rua José Laurindo, nº 1535, Centro, Rosana/SP;
6. VALDEMIR SANTANA DOS SANTOS, conhecido por
„DEMI DA GLEBA‟, brasileiro, casado, e agricultor, atual
vereador pela Câmara Municipal de Rosana, portador do RG
19.523.537-SSP/SP e CPF 069.872.638-33, filho de José
Santana dos Santos e Maria de Lourdes dos Santos, nascido
aos 12.01.70, natural de Cuiabá Paulista/SP, residente na
Gleba XV de Novembro, setor „II‟, quadra „I‟, lote „8‟,
neste município de Rosana/SP, podendo ser encontrado no
endereço da Câmara Municipal de Rosana situado à Rua José
Laurindo, nº 1535, Centro, Rosana/SP;
7. EDISON ALVES DA SILVA, brasileiro, casado,
servidor público municipal comissionado, portador do RG
28.776.220-SSP/SP e inscrito no CPF nº 277.191.378-09,
filho de Erisvaldo Marques da Silva e Maria Cícera Alves
dos Santos, nascido aos 31.08.1980, natural de São
Paulo/SP, residente e domiciliado na Rua Barbado, 2244,
4
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
4
CDHU, município de Rosana/SP, podendo ser encontrado no
endereço da Câmara Municipal de Rosana situado à Rua José
Laurindo, nº 1535, Vazio, Rosana/SP;
8. ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA, brasileiro,
casado, funcionário público municipal, portador do RG
30.583.485-X-SSP-SP e do CPF 287.085.008-51, residente e
domiciliado em Primavera, Rua João Pessoa, nº 298, podendo
ser encontrado no endereço da Câmara Municipal de Rosana
situado à Rua José Laurindo, nº 1535, Vazio, Rosana/SP.
9. EDUARDO DOS SANTOS SALES, conhecido por
„JACA‟, brasileiro, portador do RG 30.065.525-3 SSP/SP e
CPF 278.983.318-42, brasileiro, amasiado, servido público
municipal, filho de Auremiro dos Santos Sales e Neusa José
Leite Sales, nascido aos 12.12.1977, natural de
Porecatu/PR, residente e domiciliado na Travessa Guaimbés,
Casa 34, Quadra 65, no Distrito de Primavera, município de
Rosana/SP, podendo ser encontrado no endereço da Câmara
Municipal de Rosana situado à Rua José Laurindo, nº 1535,
Vazio, Rosana/SP;
10. JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS, brasileiro,
casado, advogado e funcionário público municipal, portador
do RG 15552084-2-SSP-SP e do CPF 050.557.368-79, residente
e domiciliado na Rua Paula Batista Sobrinho, nº 940,
centro, município de Rosana/SP, podendo ser encontrado no
endereço da Câmara Municipal de Rosana situado à Rua José
Laurindo, nº 1535, Vazio, Rosana/SP;
11. MUNICÍPIO DE ROSANA, pessoa jurídica de
direito público, com sede situada à Avenida José Laurindo,
nº 1.540, CEP: 19.273-000, Rosana, São Paulo.
5
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
5
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
I – BREVE NARRATIVA FÁTICA – RESUMO DO QUE FOI INVESTIGADO
Por meio da Ouvidoria do Ministério Público
do Estado de São Paulo, chegou ao conhecimento desta
Promotoria de Justiça denúncia de eventuais irregularidades
praticadas pelos réus pessoas físicas acima elencados no
uso do custeio de adiantamentos de diárias para viagens.
A representação civil dirigida ao Ministério
Público informava que o número de viagens realizadas por
alguns vereadores, principalmente pelo réu ROBERTO
FERNANDES MOYA JÚNIOR, Presidente da Casa de Leis, era
assustador.
Instaurado o inquérito civil nº
14.0411.0000452/2015-7, o resultado final da investigação
foi ESTARRECEDOR!
Constatou-se que os vereadores e servidores
viajam para diversas cidades do país e, com o fito de
economizar, instalam-se no mesmo quarto em hotéis
localizados nas imediações dessas cidades e, frise-se, não
devolvem o valor economizado que receberam a título de
diárias.
Durante as diligências, foi descoberto que
os valores são depositados antes da realização das viagens
na conta pessoal do vereador e/ou do servidor, sendo certo
que tal fato gera uma confusão patrimonial em que o
vereador e/ou servidor não sabe distinguir se o que gasta
com suas questões particulares é dinheiro público ou seu
dinheiro particular.
6
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
6
Ademais, ficou certo também que somente no
ano de 2014 os réus gastaram R$ 172.978,43 (cento e setenta
e dois mil reais, novecentos e setenta e oito reais e
quarenta e três reais) com diárias para viagens, sendo que
não trouxeram nenhuma verba pública para o Município de
Rosana.
Há que se destacar que, no ano de 2014, a
dotação inicial para diárias era de R$ 80.000,00 (oitenta
mil reais), mas em razão dos evidentes desvios de verbas
públicas, houve necessidade de créditos adicionais no valor
de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais).
No ano de 2015, que nem chegou ao final, os
réus já gastaram R$ 168.502,18 (cento e sessenta e oito
mil, quinhentos e dois reais e dezoito centavos) com
viagens inúteis, sem nenhuma finalidade pública, com o
único fito de se locupletarem às custas do erário público,
conforme bem relata a testemunha EWERTON THIAGO OLIVEIRA DA
SILVA, ouvido às fls. 223/225 dos autos do inquérito civil,
in verbis:
“TRABALHOU COMO ASSESSOR DOS VEREADORES DA
CÂMARA MUNICIPAL, ISSO ATÉ INÍCIO DO MÊS
DEZEMBRO DE 2014; QUE FOI EXONERADO DAS
FUNÇÕES, MAIS OU MENOS DOIS DIAS APÓS A
REELEIÇÃO DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL, NA
QUAL SAIU VENCEDOR O VEREADOR ROBERTO FERNANDES
MOYA, CONHECIDO POR „JÚNIOR DA SAÚDE‟, QUE O
CARGO COMISSIONADO QUE OCUPAVA NA CÂMARA
MUNICIPAL ERA DE LIVRE NOMEAÇÃO E QUE FOI O
PRÓPRIO „JÚNIOR DA SAÚDE‟ QUEM LHE CONVIDOU
7
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
7
PARA ASSUMIR AS FUNÇÕES DAQUELE CARGO; QUE
SEMPRE ERA REQUISITADO PELO PRESIDENTE DA
CÂMARA MUNICIPAL, PORTANTO NÃO PODERIA NEGAR À
CONVOCAÇÃO DE ACOMPANHA-LOS A ESSAS REUNIÕES NA
CIDADE DE BRASÍLIA OU EM OUTRAS LOCALIDADES;
QUE CONFIRMA QUE REALIZOU TODAS AS VIAGENS
INDICADAS A FLS. 147, AS QUAIS FORAM SEMPRE
FEITAS EM COMPANHIA DO PRESIDENTE JÚNIOR, DE
VEREADORES OU DE SERVIDORES DA CÂMARA; A
PRIMEIRA VIAGEM QUE REALIZOU FOI PARA A CIDADE
DE BRASÍLIA; QUE, NESTA OCASIÃO, ESTAVA EM
COMPANHIA DOS VEREADORES JÚNIOR E CIÇÃO; QUE,
NESTA VIAGEM, PARTICIPARAM DE REUNIÕES, UMA
DELAS NA AMUSH; QUE SÃO REUNIÕES RÁPIDAS, NÃO
PASSANDO DE 1 HORA CADA; QUE SÃO „MONTADAS‟
EVENTOS DIÁRIOS, PARA JUSTIFICAR A PRESENÇA DOS
VEREADORES NA CIDADE DE BRASÍLIA E, POR
CONSEGUINTE, O RECEBIMENTO DAS DIÁRIAS; QUE SE
ALOJARAM EM UM HOTEL NA CIDADE DE TAGUATINGA,
DISTANTE APROXIMADAMENTE 40 KM DE BRASÍLIA; QUE
FICAM EM UM MESMO QUARTO E DIVIDIAM A DIÁRIA DE
R$ 197,00; QUE ESSA É UMA FORMA DE ECONOMIZAR A
DIÁRIA, POIS NÃO GASTANDO A DIÁRIA RECEBIDA, O
RESTANTE FICA EM PODER DO RECEBEDOR, POIS NÃO
PRECISAM PRESTAR CONTAS DO VALOR RECEBIDO; QUE
EM CADA VIAGEM O VALOR DA DIÁRIA É DE R$
750,00, SENDO REALIZADAS VIAGENS DE CINCO DIAS,
ALCANÇA-SE O VALOR DE R$ R$ 3.750,00; QUE, NO
CASO DO DECLARANTE, ESTE, POR SER RESPONSÁVEL
PELA DIREÇÃO DO VEÍCULO, RECEBIA R$ 1.000,00
PARA AS DESPESAS DO CARRO (COMBUSTÍVEL, PEDÁGIO
8
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
8
E ESTACIONAMENTO); QUE ENTENDE QUE FOI ONEROSA
AS DUAS VIAGENS QUE FEZ PARA A CIDADE DE
BRASÍLIA, POIS OS EVENTOS QUE PARTICIPOU
PODERIA SER CENTRADA EM UM MESMO DIA OU AINDA,
NO MÁXIMO EM DOIS DIAS, QUAL SEJA, DIMINUÍDA A
QUANTIDADE DE DIA DE VIAGEM, POIS PODERIA SAIR
DA CIDADE DE ROSANA EM UM DIA, PERMANECER DOIS
DIAS EM BRASÍLIA E RETORNAR NA TARDE DO ÚLTIMO
DIA DE COMPROMISSOS; QUE ISSO NÃO OCORRE, POIS,
NAS DUAS OCASIÕES, SAÍRAM DA CIDADE DE ROSANA
NO DOMINGO, CHEGAVAM NO MESMO DIA, PERNOITAVAM
EM BRASÍLIA E, NA SEGUNDA-FEIRA, TINHAM APENAS
UM COMPROMISSO, E, NOS DOIS DIAS SEGUINTES, DA
MESMA FORMA, SÓ TINHAM UM COMPROMISSO; QUE, NO
ÚLTIMO DIA EM QUE FICAVAM EM BRASÍLIA, O
COMPROMISSO ENCERRAVA APÓS O ALMOÇO, E, ENTÃO,
RETORNAVAM PARA O HOTEL E ESPERAM ATÉ O DIA
SEGUINTE PARA VIAJAR DE VOLTA, CARACTERIZANDO O
DIREITO AS CINCO DIÁRIAS; QUE CONFIRMA QUE NAS
DUAS OCASIÕES OCORRERAM ESSES MESMOS
EXPEDIENTES, QUAL SEJA, O PRESIDENTE JÚNIOR
CRIAVA COMPROMISSOS ÚNICOS DIÁRIOS E, ASSIM,
RETORNAVAM PARA A CIDADE DE ROSANA, SOMENTE NO
DIA POSTERIOR AO ÚLTIMO COMPROMISSO NA CIDADE
DE BRASÍLIA; QUE, NO RESTANTE DO DIA, FICAM
OCIOSOS NO HOTEL; QUE, QUANDO NÃO, PASSEAVAM
PELA CIDADE DE BRASÍLIA A PROCURAM DE ALGUM
GABINETE DE DEPUTADOS FEDERAIS PARA „PERGUNTAR
SE HAVIA ALGUMA VERBA DIRECIONADA PARA O
MUNICÍPIO DE ROSANA‟; QUE, EM VERDADE, ERA UMA
ESTRATÉGIA PARA „PASSAR O TEMPO‟, OU MELHOR
9
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
9
„FAZER TURISMO‟ NA CIDADE DE BRASÍLIA; QUE, NA
SEGUNDA VIAGEM À CIDADE DE BRASÍLIA, ESTAVA
SOMENTE EM COMPANHIA DO VEREADOR DEMI; QUE O
PROCEDIMENTO FOI IDÊNTICO AO ACIMA RELATA, OU
SEJA, UM COMPROMISSO VAZIO POR DIA E, NO ÚLTIMO
DIA, ESTAVAM LIBERADOS APÓS O ALMOÇO, PORÉM
PERMANECERAM O DIA TODO EM BRASÍLIA,
PERNOITANDO NO HOTEL NA CIDADE DE TAQUARITINGA
E RETORNANDO NO DIA SEGUINTE; QUE, PELO QUE
SABE, NENHUM DEPUTADO APRESENTOU EMENDA QUE
BENEFICIASSE A CIDADE DE ROSANA, APÓS AS
VISITAS EM SEUS GABINETES FEITAS PELO
PRESIDENTE JÚNIOR E DOS DEMAIS VEREADORES DA
CÂMARA MUNICIPAL DE ROSANA.”
Vale destacar que a dotação inicial para
diárias neste ano de 2015 foi de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais) e já foram creditados mais R$
30.000,00 (trinta mil reais).
A ousadia dos réus é tão grande que, mesmo
após a propositura da ação civil pública nº 0002817-
93.2013.8.26.0515, que também trata da questão das diárias,
e da instauração do inquérito civil público que embasa a
presente demanda, eles continuaram viajando e se
enriquecendo às custas do erário público, conforme deixou
certo a testemunha Agenor Rosa de Souza, ouvido às fls.
604/607, dos autos do relacionado caderno inquisitorial, in
litteris:
“É VEREADOR PELA CÂMARA MUNICIPAL DE
ROSANA, PELO QUADRIÊNIO 2013/2016; QUE,
10
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
10
ATUALMENTE, NÃO OCUPA NENHUM CARGO NAS MESAS
LEGISLATIVAS DA CÂMARA MUNICIPAL; QUE CONFIRMA
QUE O GRUPO DE VEREADORES INVESTIGADOS
PERMANECE NAS VIAGENS PARA A CIDADE DE
BRASÍLIA, ÀS VEZES, PARA A CIDADE DE SÃO PAULO;
QUE ACREDITA QUE ESSES VEREADORES QUANDO VIAJAM
PARA A CIDADE DE BRASÍLIA FICAM NO MESMO QUARTO
DE HOTEL E QUE A DIÁRIA PARA PAGAR QUARTOS
INDIVIDUAIS NÃO É DEVOLVIDA AO ERÁRIO; QUE OS
VALORES DAS DIÁRIAS SÃO DEPOSITADOS NA CONTA
BANCÁRIA PESSOAL DE CADA VEREADOR, ANTES DA
REALIZAÇÃO DA VIAGEM; QUE AS REUNIÕES EM
BRASÍLIA NÃO DEMORAM MAIS QUE 30 MINUTOS; QUE
QUANDO A DIÁRIA É DEPOSITADA NA CONTA DO
VEREADOR, HÁ UMA CONFUSÃO PATRIMONIAL, OU SEJA,
O VALOR DA DIÁRIA SE CONFUNDE COM EVENTUAL
SALDO QUE O VEREADOR TENHA NA CONTA BANCÁRIA,
NÃO SABENDO O VEREADOR SE PAGA SUAS DESPESAS
PESSOAIS COM O ERÁRIO PÚBLICO; QUE NENHUMA DAS
VIAGENS REALIZADAS PELOS VEREADORES
INVESTIGADOS TROUXE BENEFÍCIO PARA O MUNICÍPIO;
QUE, NO MEU ENTENDER, TODAS AS VIAGENS NÃO
ATENDERAM AO INTERESSE PÚBLICO; QUE SOU O ÚNICO
VEREADOR QUE TROUXE R$ 100.000,00 PARA O SETOR
DE SAÚDE MUNICÍPIO, ISSO, EM UMA ÚNICA VIAGEM
QUE FIZ ATÉ A CIDADE DE BRASÍLIA; QUE O
PRESIDENTE JÚNIOR, QUANDO DE SUA ELEIÇÃO AO
CARGO DE VEREADOR, TRAZIA UM BOM PENSAMENTO DA
ATIVIDADE LEGISLATIVA, MAS, NO PASSAR DOS
PRIMEIROS SEIS MESES, JÚNIOR PASSOU A
DISTANCIAR DO GRUPO DO PSDB E PASSOU A PRATICAR
11
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
11
ATITUDES INCOMPATÍVEIS COM A VEREANÇA; QUE
JÚNIOR PASSOU A AUTORIZAR OS VEREADORES A
VIAJAR, SEM INTERESSE PÚBLICO, PARA AS CIDADES
DE BRASÍLIA E SÃO PAULO; QUE, DIANTE DESSA
ATITUDE, NOSSO GRUPO POLÍTICO REUNIU-SE COM
ELE, JUNTAMENTE COM A PREFEITA MUNICIPAL, PARA
ACONSELHA-LO A NÃO PERMITIR TAIS VIAGENS, MAS
ELE NÃO OUVIU NOSSOS CONSELHOS E, INCLUSIVE,
PASSOU A AUTORIZAR MAIS VIAGENS SEM INTERESSE
PÚBLICO; QUE SABE DIZER QUE O SERVIDOR ALAN
PATRICK JÁ VIAJOU PARA A CIDADE DE BRASÍLIA; DA
MESMA FORMA, OS SERVIDORES EDISON E EDUARDO
(CONHECIDO POR JACA) VIAJAM MUITO PARA A CIDADE
DE BRASÍLIA E SÃO PAULO; QUE A DIÁRIA PARA A
CIDADE DE BRASÍLIA É DE R$ 750,00 E PARA A
CIDADE DE SÃO PAULO É DE R$ 500,00; QUE AS
VIAGENS QUE FAZEM SEMPRE PERDURAM DOIS OU TRÊS
DIAS; QUE É CORRENTE NOS CORREDORES DA CÂMARA
MUNICIPAL, OS VEREADORES INVESTIGADOS
COMENTAREM QUE, NAS VIAGENS QUE REALIZAM, OBTÊM
BENEFÍCIOS FINANCEIROS, POIS CONSEGUEM
ECONOMIZAR PARTE DAS DIÁRIAS EM RAZÃO DE
DORMIREM EM UM MESMO QUARTO DE HOTEL E DE
EVITAREM SE ALIMENTAR EM LOCAIS QUE COBRAM
PREÇO ACIMA DO TOLERÁVEL; QUE, DA MESMA FORMA,
ESSAS VIAGENS NÃO TRAZEM NENHUM BENEFÍCIO PARA
O MUNICÍPIO, SENÃO PARA ELES MESMOS; ENFIM,
APROVEITAM DESSAS VIAGENS PARA SE LOCUPLETAR DO
DINHEIRO PÚBLICO; QUE, HOJE, NÃO HÁ MAIS UM BOM
RELACIONAMENTO ENTRE OS VEREADORES JÚNIOR,
CIÇÃO, FILÓ, WALTER E DEMI E A PREFEITURA
12
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
12
MUNICIPAL; QUE NÃO HÁ MAIS O DIÁLOGO QUE
EXISTIA ANTES; QUE A IDEIA DE QUE TEM DO
VEREADOR JÚNIOR É UM MAL ADMINISTRADOR E MAL
PRESIDENTE; QUE, COMO VEREADOR, O SENTIMENTO
QUE EXISTE NA SOCIEDADE DE ROSANA É DE
IMPUNIDADE, TENDO EM VISTA QUE, FRENTE AOS
DIVERSOS ATOS ILÍCITOS, NADA ACONTECEU; QUE A
SOCIEDADE AGUARDA PROVIDÊNCIAS DO PODER
PÚBLICO; QUE, MORA DESDE 1979 NA CIDADE, E QUE
GOSTARIA DE VER O MUNICÍPIO CRESCER, PORÉM COM
ESSA ONDA DE COMENTÁRIO DE QUE OS VEREADORES
GASTAM DINHEIRO PÚBLICO SEM A MÍNIMA
PREOCUPAÇÃO SE SÃO NECESSÁRIOS AQUELES GASTOS;
DA MESMA FORMA, SE CHATEIA, QUANDO OUVE NAS
RUAS, COMENTÁRIOS CRÍTICOS DAS ATITUDES DO
GRUPO DE VEREADORES INVESTIGADOS E SE VÊ
LIMITADO EM SUA ATUAÇÃO DE LEGISLADOR”.
Prosseguindo nas investigações, conforme
detida análise das estimativas com adiantamentos para
despesas de viagens enviadas pela própria Câmara Municipal
e outros procedimentos relacionados, apurou-se que:
A - os réus ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR e EDISON ALVES DA
SILVA gastaram dinheiro público com prostitutas em
Brasília, conforme se infere do relatório da Medida
Cautelar de interceptação telefônica nº 0000469-
34.2015.8.26.0515, realizada com autorização judicial:
13
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
13
Não venha aqui o réu ROBERTO FERNANDES MOYA
JUNIOR alegar que nesta data não estava na cidade de
Brasília, pois, pelo demonstrativo de viagens abaixo
estampado, oriundo da própria Câmara Municipal, é certo que
ele, junto com o réu EDISON ALVES DA SILVA, permaneceram
naquela cidade entre os dias 21 e 25 de abril de 2015,
senão vejamos:
14
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
14
B - o réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR determinou depósito
bancário de diárias, dinheiro público, valor de 05 (cinco)
diárias, no valor total de R$ 3.750,00 (três mil setecentos
e cinquenta reais) na conta de sua esposa, pessoa que não
faz parte dos quadros de funcionários da Câmara Municipal;
15
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
15
C - o réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, no procedimento
76/2014, apresentou como finalidade “estar em São Paulo nos
dias 26 e 28 de novembro de 2014”, mas não apresentou os
relatórios de atividades de tais datas. Após, apresentou
cupons fiscais com despesas de veículo do dia 1 de dezembro
de 2014. Sendo certo que o dia 28 de novembro de 2014 era
uma sexta-feira, é de se concluir que ele permaneceu com o
veículo oficial durante todo aquele final de semana,
gastando dinheiro público e sem apresentar justificava para
sua permanência, até porque, como cediço, os órgãos
públicos ficam fechados neste período;
D – os vereadores comparecem nos mesmos lugares e solicitam
certidões genéricas, que não comprovam nenhuma finalidade
pública, com o intuito de comprovarem que realmente
viajaram ao local;
16
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
16
E - as diárias são pagas com base nas Resoluções nº 06/2009
e nº 03/2014, que, por seu turno, regulamentam as leis
municipais nº 270 e nº 272 de 1995. Mas as referidas
resoluções não estão disponíveis no sítio da Câmara
Municipal de Rosana de forma adequada. O que inviabiliza,
por ora, a análise de tais normas regulamentadoras e,
inclusive, torna impossível a obtenção do arquivo em sites
de buscas. Vale anotar que, da Resolução nº 05/2009 salta-
se para a Resolução nº 07/2009 e da Resolução nº 002/2014
passa direto para a Resolução nº 0025, conforme se inferem
das imagens do site da Câmara Municipal, abaixo
colacionadas, cuja matéria já está sendo apurada nos autos
do inquérito civil nº 14.0411.0001103/2015 e possivelmente
discutida em futura ação de improbidade específica, haja
vista flagrante violação à lei 15.527/2011:
17
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
17
F - A Resolução nº 03/2014, muito embora seja
manifestamente ilegal, prevê que o pedido de diárias seja
aprovado em sessão perante todos os vereadores, mas em
alguns procedimentos não há cópia da ata que aprovou a
viagem do vereador e/ou servidor (procedimentos 17, 18, 19,
20, 21, 23, 24 e 25 todos de 2015). Frise-se, contudo, que
as leis nº 270/1995, ao contrário do que estabelece a
referida resolução, determina que deve o vereador viajar
com seu dinheiro próprio e, após demonstrar comprovante de
despesas, requerer reembolso à Câmara Municipal, mediante
apresentação de documento comprobatório. OU SEJA, TODAS AS
VIAGENS DE VEREADORES AUTORIZADAS COM BASE NAS RESOLUÇÕES
Nº 03/2014 E Nº 06/2009 SÃO ILEGAIS;
G - A mesma Resolução nº 03/2014, no artigo 3º, inciso I,
dispensa o servidor de comprovar as despesas com
alimentação, hospedagem, transporte e locomoção de táxi.
18
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
18
Estabelece, todavia, a Lei nº 272/1995 que toda e qualquer
despesa deve ser comprovada mediante apresentação de
documento. OU SEJA, NOVAMENTE, TODAS AS VIAGENS DE
SERVIDORES AUTORIZADAS SÃO ILEGAIS;
H - os valores recebidos a título de diárias pelos
servidores e vereadores não estão discriminados no próprio
site da Câmara dos Vereadores, sendo certo que somente foi
possível encontrar tais importes em pesquisa no site da
Prefeitura e por meio de requisição ministerial. EM RESUMO,
O PORTAL DA TRANSPARÊNCIA EXISTENTE NA CÂMARA MUNICIPAL É
COMPLETAMENTE OMISSO;
I – importante relacionar que, nos procedimentos de
estimativa de diárias, não há relatório das atividades
realizadas, nem comprovantes com os gastos de hospedagem e
alimentação realizados, muito menos comprovante de
devolução das verbas remanescentes e, mesmo assim, os
pareceres dos controladores internos informam que tais
despesas estão comprovadas nos autos e se manifestam
favoravelmente, mesmo com evidentes e gritantes equívocos;
J - em alguns casos, os pareceres dos controladores
internos informam que a viagem foi feita de avião, quando
na verdade tal viagem foi feita de carro. O que demonstra
que há uma padronização na realização dos pareceres, eis
que dois controladores diferentes teceram parecer em casos
distintos, porém com a mesma conclusão, em total descaso
com o dinheiro público. Por exemplo, o réu JOSE FRANCISCO
DOS SANTOS deu parecer no procedimento nº 76/2014, que
tratou de viagens realizadas pelo réu ROBERTO FERNANDES
MOYA JÚNIOR, e o mesmo modelo de parecer também foi
19
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
19
apresentado pela testemunha EWERTON THIAGO OLIVEIRA DA
SILVA no procedimento nº 34/2014, que tratou de viagens
realizadas pelo mesmo réu ROBERTO, sendo certo que, se
realmente houve tal viagem, ela foi feita de carro e não de
avião, como quiseram transmitir, pois somente há
comprovante de gastos com veículo;
20
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
20
21
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
21
22
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
22
23
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
23
K - existem casos em que o próprio controlador interno foi
o beneficiado pelas diárias e ele mesmo quem assinou seu
24
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
24
parecer de forma favorável, o que chega a ser risível. Por
exemplo, o réu JOSE FRANCISCO DOS SANTOS teria viajado para
Bauru/SP e teceu parecer favorável às suas próprias contas
nos autos dos procedimentos nº 50/2014 e nº 74/2014;
25
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
25
26
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
26
27
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
27
L - em uma oportunidade os réus ROBERTO FERNANDES MOYA
JÚNIOR, JOSE FRANCISCO DOS SANTOS, ALAN PATRICK RIBEIRO
28
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
28
CORREA e EDISON ALVES DA SILVA teriam viajado em mais de um
veículo para Bauru/SP, em total desproporcionalidade, pois
poderiam ter viajado em um único veículo oficial. Frise-se,
sobre tal viagem, que não há comprovante de que o réu
ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR tenha realmente ido, porém,
naturalmente, há comprovante de que ele recebeu dinheiro
público, conforme consta no procedimento nº46/2014;
29
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
29
30
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
30
31
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
31
32
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
32
33
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
33
34
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
34
M - o réu WALTER GOMES DA SILVA diz que deveria estar em
São Paulo no dia 23 de abril de 2015. Ocorre que, neste
dia, ele apresentou passagem de ida a São Paulo, tendo o
ônibus saído de Primavera às 19h30min. Ora, se ele deve
estar em São Paulo no dia 23, deveria ter saído do
município de Rosana, no mínimo, no dia 22, uma vez que são
mais de 10 (dez) horas de viagem até a capital paulista.
Além do mais, não há apresentação de despesas nem relatório
de atividade. O que há, em verdade, é um protocolo de
petição junto à unidade do Tribunal de Contas em Presidente
Prudente, datado de 23 de março de 2015, sem qualquer nexo
com a finalidade genérica, que foi exarada;
35
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
35
36
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
36
37
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
37
N - a despesa de passagem de locomoção e a despesa com o
combustível e outros gastos do veículo (por exemplo,
pedágio) não estão incluídas no valor das diárias e quando
o valor gasto ultrapassa o importe disponibilizado, os réus
ainda pedem, e recebem, o reembolso, em evidente
desproporção com o gasto público. Por exemplo, no
procedimento nº 13/2015, o réu ROBERTO FERNANDES MOYA
JÚNIOR foi até cidade de São Paulo, recebeu diárias, e
ainda pediu reembolso do que alega ter gastado a mais;
38
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
38
39
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
39
O - os réus quando viajam à cidade de Brasília ficam
hospedados no mesmo quarto de hotel, em cidades
circunvizinhas, e com isso economizam boa parte do valor
das diárias e, pior, não reembolsam os cofres públicos:
O réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR foi
ouvido às fls. 446/448 do inquérito civil e confessou que
já se hospedou em hotéis na vizinhança da cidade de
Brasília, junto com as demais pessoas que estariam viajando
com ele, porém não devolveu o valor economizado das
diárias;
CÍCERO SIMPLÍCIO, às fls. 397/399 do
inquérito civil, disse que realmente já viajou a Brasília e
se hospedou em um único quarto com os demais que estariam
em viagem junto com ele, porém não soube dizer se houve a
devolução das diárias restantes;
FILOMENO CARLOS TOSO foi ouvido às fls.
422/424 dos autos do inquérito civil e confirmou que
diversas vezes dividiu quarto com os demais vereadores e
servidores nas viagens que fez;
VALDEMIR SANTANA DOS SANTOS, ouvido às fls.
440/442 do inquérito civil, confirma que já dividiu quarto
com os demais vereadores em Brasília;
WALTER GOMES DA SILVA confessa às fls.
443/445 do inquérito civil que “... FEZ VIAGENS PARA SÃO
PAULO E BRASÍLIA; QUE SEMPRE ESTAVA EM COMPANHIA DE OUTROS
VEREADORES; QUE, PARA BRASÍLIA, A DIÁRIA É DE R$ 750,00 E,
PARA SÃO PAULO, R$ 500,00; QUE, NA CIDADE DE BRASÍLIA,
40
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
40
GERALMENTE FICAM JUNTOS NO MESMO QUARTO DO HOTEL; QUE AS
DESPESAS DO QUARTO SÃO DIVIDIDAS ENTRE OS VEREADORES...”;
EDISON ALVES DA SILVA, ouvido às fls.
407/410 do inquérito civil, disse que já aconteceu dos
vereadores ficarem em Brasília no mesmo quarto e o que
sobrou do valor da viagem não foi devolvido;
EDUARDO DOS SANTOS SALES, ouvido às fls.
401/403 e fls. 502/503 do inquérito civil, esclareceu que o
valor das diárias é depositado na conta pessoal do vereador
e/ou servidor antes da realização da viagem, havendo uma
confusão patrimonial, na qual não se sabe se o valor gasto
com atividades particulares do vereador e/ou servidor é
dinheiro público ou dinheiro particular;
JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS foi ouvido às fls.
415/417, confessa que é o controlador interno da Câmara e
que somente viajou para realização de cursos, e;
ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA foi ouvido às
fls. 497/501 do inquérito civil e confessa que: “... É FATO
QUE O DECLARANTE E OS VEREADORES, APÓS OS COMPROMISSOS, NO
HORÁRIO NOTURNO, SAEM PARA BEBER CHOPP E/OU CERVEJAS NA
CIDADE, MAS QUE ESSES GASTOS SÃO PAGOS COM RECURSOS
PRÓPRIOS; QUE, MELHOR ESCLARECENDO, COMO O DINHEIRO DAS
DIÁRIAS É DEPOSITADO EM CONTA OU PAGO EM CHEQUE NOMINAL DE
CADA UM, NÃO TEM EXPLICAR SE O VEREADOR PAGA A CONTA COM
SEU DINHEIRO PRÓPRIO OU COM O DINHEIRO DA DIÁRIA;...”.
Daí, as bases fáticas da presente ação civil
pública por ato de improbidade administrativa, em face dos
réus acima elencados, haja vista os inúmeros atos ímprobos
41
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
41
por eles praticados, que causaram dano ao erário público,
enriquecimento sem causa e violação aos princípios da
Administração Pública.
II – ANÁLISE DOS ATOS ÍMPROBOS
II. 1 – DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU ROBERTO
FERNANDES MOYA JÚNIOR
De prima, conforme ficou certo nos autos da
Medida Cautelar de Interceptação Telefônica nº 0000469-
34.2015.8.26.0515, realizada com autorização judicial, o
réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, em viagem para Brasília,
gastou dinheiro público com prostitutas, conforme imagem
retro colacionada.
ORA, LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO QUE O VALOR
DAS DIÁRIAS É DEPOSITADO ANTERIORMENTE NA CONTA PESSOAL DO
VEREADOR, SE CONFUNDINDO COM SEU PATRIMÔNIO PESSOAL, FICA
MAIS DO QUE EVIDENTE QUE OS PAGAMENTOS DAS PROSTITUTAS
FORAM FEITOS COM DINHEIRO PÚBLICO.
Ademais, o réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR
é o Presidente da Câmara Municipal, sendo o vereador que
mais realizou viagens no transcorrer dos anos de 2014 e
2015 e que permitiu a realização das demais viagens feitas
pelos outros vereadores e/ou servidores, sem que houvesse
qualquer interesse público e posterior fiscalização.
Em todos os seus procedimentos de estimativa
de diárias, as declarações de comparecimento são emitidas
de forma genérica, sem especificar a esperada finalidade
pública.
42
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
42
O réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, somados
os anos de 2014 e 2015, viajou mais de 30 (trinta) vezes,
sem trazer nenhum benefício para a cidade de Rosana e sem
devolver qualquer valor não utilizado para despesas de
hospedagem e alimentação, conforme se infere das seguintes
informações extraídas do Portal da Transparência da
Prefeitura:
43
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
43
Em razão de tais viagens, realizadas somente
entre os anos de 2014 e até outubro de 2015, o dinheiro
público gasto de forma totalmente inútil pelo réu,
inclusive com pagamento de prostitutas, foi de R$ 88.641,76
(oitenta e oito mil, seiscentos e quarenta e um reais e
setenta e seis centavos).
No procedimento nº 46/2014, em que o réu
ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR teria viajado até a cidade de
Bauru/SP, com a finalidade de realização de curso, não há
nada nos autos que comprove que ele de fato tenha ido
àquela cidade paulista e, no parecer apresentado, ainda há
no parecer a informação de que ele foi de avião, sendo
certo que os réus JOSE FRANCISCO DOS SANTOS, ALAN PATRICK
RIBEIRO CORREA e EDISON ALVES DA SILVA estiveram no
referido curso e esclarecem que teriam ido de carro
(procedimento 47, 49 e 50 - todos de 2014).
44
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
44
No procedimento nº 63/2014, o réu ROBERTO
FERNANDES MOYA JÚNIOR requisita que o depósito do valor,
relativo às diárias, seja efetuado na conta de sua esposa,
a ré ALINE ROSA APARECIDA MORAES, com a finalidade de ir
até a cidade de Brasília, solicitando o valor de 05 (cinco)
diárias, no total de R$ 3.750,00 (três mil, setecentos e
cinquenta reais), alegando que o réu EDISON ALVES DA SILVA
iria conduzir o veículo.
Todavia, tanto no referido procedimento nº
63, quanto no procedimento nº 64/2014, relativo a mesma
viagem, em tese, feita junto com o réu EDISON ALVES DA
SILVA, não consta qualquer comprovante de despesas com
veículo. OU SEJA, NÃO HÁ COMPROVANTE DE QUE FOI FEITA A
VIAGEM. O que consta são as irrelevantes declarações
genéricas, que nada comprovam ou esclarecem.
ORA, NÃO HAVENDO COMPROVANTE DE DESPESA COM
O VEÍCULO, ENTENDE-SE FACILMENTE QUE A VIAGEM NÃO OCORREU E
QUE SE TRATA, EM VERDADE, DE ESCANCARADA APROPRIAÇÃO DO
DINHEIRO PÚBLICO.
Nessa mesma linha de fraude do dinheiro
público, no procedimento nº 76/2014, consta que o réu
ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR viajou à cidade de São Paulo,
nos dias 26 e 28 de novembro de 2014, entretanto este
apresentou cupons fiscais datados do dia 01 de dezembro de
2014, consoante se abstrai dos documentos de fls. 9 e
13/15.
Ora, qual o motivo do réu ter ficado naquela
cidade por tanto tempo e com o veículo oficial da Câmara
Municipal, senão se beneficiar do dinheiro público. Deve-se
45
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
45
levar em consideração que o dia 28 de novembro de 2014 era
uma sexta-feira, sendo certo que o réu ficou o final de
semana inteiro com o veículo oficial da Câmara Municipal de
Rosana, gastando dinheiro público em benefício próprio.
Não há relatório de atividade do dia 28 de
novembro ao dia 1 de dezembro de 2014 que justifique a
permanência do réu naquela cidade, até porque, como cediço,
os órgãos públicos são fechados durante o final de semana.
Frise-se, em todos os procedimentos do réu
ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR não constam relatórios de
atividades com finalidade públicas realizadas, relatórios
de despesas com hospedagem e alimentação nem o comprovante
da devolução de eventual valor de sobra daquelas despesas,
conforme determina a lei municipal nº 270/1995.
Desta forma, fica evidente os atos de
improbidade administrativa praticados pelo réu, eis que,
valendo-se do dinheiro público, enriqueceu-se ilicitamente,
realizando, se realmente ocorreram, viagens desnecessárias,
pagando prostitutas com dinheiro público e, no verso da
moeda, não trazendo nenhum benefício para o Município de
Rosana.
Ao contrário, vale dizer, tais gastos
causaram enorme dano ao erário público e total violação a
praticamente todos os princípios da administração pública.
II. 2 – DO ATO DE IMPROBIDADE PRATICADO POR ALINE ROSA
APARECIDA MORAES
De prima, é totalmente possível que o
particular pratique ato de improbidade administrativa,
46
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
46
desde que o cometa junto com um agente público, ocorrendo a
chamada participação improba.1
É o que ocorre nos autos, eis que a ré ALINE
ROSA APARECIDA MORAES, com sua total ciência, permitiu que
fosse depositado o valor de R$ 3.750,00 (três mil
setecentos e cinquenta reais), relativo às diárias de
viagens do marido réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR em sua
conta bancária, de modo que também se beneficiou do
dinheiro público, conforme se infere do procedimento
63/2014, às fls. 06, já acima demonstrado.
Levando-se em consideração de que não há
provas de que a viagem realmente tenha ocorrido, eis que
não foram juntadas as despesas com o veículo, fica evidente
que ela, em conluio com o réu ROBERTO FERNANDES MOYA
JÚNIOR, APROPRIOU-SE DO DINHEIRO PÚBLICO QUE FORA
DEPOSITADO INDEVIDAMENTE EM SUA CONTA BANCÁRIA.
E, ainda que a viagem realmente tenha
ocorrido, é inadmissível que o valor das diárias seja
depositado na conta da esposa do vereador, eis que ela é
pessoa estranha aos quadros públicos, tendo tal fato
violado os princípios da legalidade, moralidade e
impessoalidade.
Destarte, não há duvidar do ato ímprobo
praticado pela ré.
1Artigo 3º da lei 8.429/92 - As disposições desta lei são aplicáveis, no que
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a
prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta
ou indireta..
47
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
47
II. 3 – DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU CÍCERO
SIMPLÍCIO
Quanto ao réu CÍCERO SIMPLÍCIO, além da
existência das declarações genéricas que, em tese,
comprovariam as viagens, no procedimento nº 09/2014, consta
como finalidade a ida à cidade de São Paulo, para
participar de uma reunião na empresa Telefônica/Vivo, no
dia 09 de abril de 2014.
Todavia, não há nada nos autos que comprove
que ele realmente foi até essa reunião, havendo somente uma
declaração genérica da Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo, diametralmente contrária à justificativa
apresentada para a finalidade inicialmente apresentada.
No procedimento nº 17/2014, o réu CÍCERO
SIMPLÍCIO, junto com o réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR,
alega ter ido à cidade de Brasília, nos dias 28, 29 e 30 de
abril de 2014, para resolver assuntos de interesse do
Município.
Na declaração de fls. 9, novamente com
conteúdo genérico, no entanto, somente é mencionado que ele
esteve no setor de Atendimento ao Público no Ministério das
Comunicações para vista de processos.
Ora, qual a finalidade pública em ir até à
cidade de Brasília para fazer vista de processos e
protocolos de petições, se tais procedimentos podem ser
feitos outra forma de menor custo? Destaca-se que a
declaração não menciona o número de processo nem diz do que
se trata o referido feito, de modo que é impossível saber
48
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
48
se tal procedimento realmente existe. Ademais, pelo que se
consta o réu CÍCERO SIMPLÍCIO não possui formação jurídica
para, em tese, ter capacidade de interpretar situações de
foro legal, razão pela qual totalmente desnecessária essa
viagem.
Consta também que o réu foi até a Câmara dos
Deputados solicitar recursos para Rosana, nos dias 29 e 30
de abril de 2014.
Vale observar que foram 03 (três) dias em
Brasília, sendo recebidas 05 (cinco) diárias. Ora, não
seria possível resolver tais questões em um único dia?
No procedimento nº 11/2015, o réu CÍCERO
SIMPLÍCIO solicita e recebe diária para comparecer à cidade
de São Paulo, nos dias 17 e 20 de março de 2015.
Apresenta, entretanto, declarações genéricas
do dia 18 e 20 de março de 2015 e, para o dia 19 de março
de 2015, nenhum relatório de atividade, o que demonstra
que, nesse dia, ele nada fez na capital paulista, estando
lá, portanto, com o único propósito de fazer turismo às
custas do erário público.
Não há relatório de atividade pública, nem
relatório de despesas, nem comprovantes de reembolso dos
valores remanescentes em nenhum dos procedimentos, valendo
ressaltar que ele mesmo confessou que não lembra se
devolveu o valor da sobra do dinheiro público.
Ressalte-se que, no ano de 2014, o réu
CÍCERO SIMPLÍCIO gastou quase R$ 9.000,00 (nove mil reais)
49
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
49
com viagens e, em 2015, somente até o mês de junho, ele já
ultrapassou esse valor.
50
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
50
Somadas as despesas com viagens do réu
CÍCERO SIMPLÍCIO, durante o ano de 2014 e até o mês de
junho de 2015, chega-se ao prejuízo ao erário público de R$
18.217,00 (dezoito mil e duzentos e dezessete reais).
II. 4 – DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU WALTER GOMES
DA SILVA
No que tange ao réu WALTER GOMES DA SILVA,
as declarações apresentadas que deveriam confirmar sua
viagem, sempre com teor genéricos, geralmente são do
Ministério do Desenvolvimento Agrário e do ITESP.
Não há relatório de atividade com finalidade
pública, não há relatório com despesa com alimentação e
hospedagem nem comprovante de reembolso de eventuais
sobras.
Ademais, no procedimento nº 19/2015, o réu
WALTER GOMES DA SILVA alega que deveria estar em São Paulo
no dia 23 de abril de 2015, recebendo diária e o valor da
passagem para tanto.
Mas, verificando-se o referido procedimento,
constata-se que ele juntou cópia de passagem rodoviária,
com saída de Primavera às 19h30, daquela mesma data.
Ora, como ele estaria em São Paulo para
comparecer ao Tribunal de Contas no dia 23 de abril de
2015, se ele, em tese, teria saído de Primavera na noite
desse dia?
É notório que o percurso rodoviário entre a
cidade de Primavera e a capital paulista e realizado com
51
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
51
intervalo de mais de 10 (dez) horas, sendo inacreditável
que ele tenha saído de Primavera, na noite do dia 23 de
abril de 2015, chegado em São Paulo na mesma noite do dia
23 de abril de 2015 e ter resolvido as questões públicas
alegadas, ainda na noite do dia 23 de abril de 2015!
Destaca-se que o réu apresenta, ao referido
procedimento, um protocolo datado do dia 23 de março de
2015, obtido junto à unidade do Tribunal de Contas de
Presidente Prudente, O QUE DEMONSTRA A VERDADEIRA DESORDEM
E DESORGANIZAÇÃO NOS PROCEDIMENTOS E TOTAL DESLEIXO NA
LIBERAÇÃO DE VERBA PÚBLICA, EM FLAGRANTE VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA.
No ano de 2014, o réu WALTER GOMES DA SILVA,
causando dano ao erário público, recebeu o importe de R$
18.681,83 (dezoito mil, seiscentos e oitenta e um reais e
oitenta e três centavos) em diárias de viagens, como visto,
todas fraudulentas.
Este ano de 2015, até o mês de agosto, o réu
WALTER GOMES DA SILVA já recebeu o valor de R$ 19.192,50
(dezenove mil cento e noventa e dois reais e cinquenta
centavos).
Somados os valores recebidos, a título de
diárias, sem qualquer prestação de contas, chegamos ao
astronômico valor de R$ 37.874,33 (trinta e sete mil,
oitocentos e setenta e quatro reais e trinta e três
centavos).
52
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
52
II. 5 - DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU FILOMENO
CARLOS TOSO
No que tange ao réu FILOMENO CARLOS TOSO,
além da existência das famigeradas declarações genéricas,
53
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
53
não há relatório de atividades realizadas com finalidade
pública, relatório de despesas com alimentação e hospedagem
e reembolso de eventual valor restante da verba pública que
lhe foi concedida, valendo lembrar que ele mesmo confessa
em sua oitiva, às fls. 422/424 nos autos do inquérito
civil, que dividiu o quarto com outros vereadores também
réus neste processo.
Somando suas viagens de 2014 e até junho de
2015, o réu FILOMENO CARLOS TOSO causou prejuízo ao erário
público, no importe de R$ 14.459,94 (quatorze mil,
quatrocentos e cinquenta e nove reais e noventa e quatro
centavos).
54
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
54
II. 6 – DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU VALDEMIR
SANTANA DOS SANTOS
Quanto ao réu VALDEMIR SANTANA DOS SANTOS,
além das conhecidas declarações genéricas, consta no
procedimento nº 20/2014 que há gasto com passagem aérea,
todavia, no procedimento nº 21/2014, relativo ao réu
FILOMENO CARLOS TOSO, que também estava na mesma viagem,
ficou anotado na prestação de contas que o transporte
ocorreu em veículo oficial.
O mesmo ocorre no procedimento nº 72/2014,
eis que o parecer conclui despesa com passagem aérea, mas,
nesse procedimento, referente ao réu EDUARDO SALES DOS
SANTOS, que também estava na mesma viagem, ficou anotado na
prestação de contas que o transporte ocorreu em veículo
oficial.
Em sendo assim, pode-se concluir que, nos
dois casos, o réu VALDEMIR SANTANA DOS SANTOS apropriou-se
55
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
55
do dinheiro da passagem de avião e viajou em veículo
oficial.
No ano de 2014, o réu VALDEMIR SANTANA DOS
SANTOS gastou em viagens inúteis e sem qualquer comprovação
de finalidade pública o montante de R$ 16.913,84 (dezesseis
mil, novecentos e treze reais e oitenta e quatro centavos)
e, no ano de 2015, até o mês de setembro, o valor de R$
18.055,47 (dezoito mil, cinquenta e cinco reais e quarenta
e sete centavos), perfazendo o total absurdo de R$
34.969,31 (trinta e quatro mil, novecentos e sessenta e
nove reais e trinta e um centavos).
56
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
56
II. 7 - DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU EDISON ALVES
DA SILVA
De prima, basta lembrar que o réu EDISON
ALVES DA SILVA estava na companhia do réu ROBERTO FERNANDES
MOYA JÚNIOR quando houve o gasto de dinheiro público com o
pagamento de prostitutas em Brasília, e, por conseguinte,
já se demonstra que ele também se valeu do erário público
para cometer orgias na capital da República.
Ademais, no início do ano de 2014, o réu
EDISON ALVES DA SILVA era o controlador interno da Câmara
Municipal e, no procedimento nº 04/2014, ele não emitiu
parecer na prestação de contas do réu ROBERTO FERNANDES
MOYA JÚNIOR.
Também, no procedimento nº 05/2014,
novamente deixou de tecer parecer sobre as contas do réu
EDUARDO SALES DOS SANTOS.
57
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
57
No procedimento nº 08/2014, relativo a uma
viagem do réu CÍCERO SIMPLÍCIO à cidade de Ilha Solteira,
cidade do Estado de São Paulo, o réu EDISON ALVES DA SILVA
teceu parecer no sentido da legalidade dos gastos
realizados com passagens aéreas, mas a viagem foi feita
veículo oficial, conforme se depreende do procedimento nº
07/2014, relativo ao réu FILOMENO CARLOS TOSO, que
acompanhou o vereador Cícero naquela viagem.
De igual forma, no procedimento nº 12/2014,
relativo a uma viagem do réu WALTER GOMES DA SILVA à
capital de São Paulo, o réu EDISON ALVES DA SILVA teceu
parecer pela legalidade dos gastos com passagens aéreas,
mas a viagem foi feita de ônibus de linha, por sinal, com
indício de fraude acima relatado.
Ora, se o réu EDISON ALVES DA SILVA era o
controlador interno, tinha o dever legal de analisar de
forma pormenorizada os gastos públicos e, ao tecer parecer
de forma equivocada, demonstra desleixo com a coisa
pública, pois agiu, no mínimo, com violação ao princípio da
eficiência.
Ademais, somando todas as viagens que o réu
EDISON ALVES DA SILVA realizou no ano de 2014 até o mês de
outubro de 2015, chega-se ao importe de R$ 34.468,95
(trinta e quatro mil, quatrocentos e sessenta e oito reais
e noventa e cinco centavos), sem qualquer demonstração de
finalidade pública.
58
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
58
Em nenhum dos procedimentos do réu EDISON
ALVES DA SILVA há relatório de atividade, relatório de
despesa com alimentação e hospedagem e informações sobre
eventual reembolso das sobras.
59
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
59
II. 8 – DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU ALAN PATRICK
RIBEIRO CORREA
O réu ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA é servidor
concursado da Câmara Municipal e alega que já viajou
diversas vezes no intuito de fazer cursos de
aperfeiçoamento.
Muito embora apresente os diplomas dos
cursos que diz ter feito, não há em seus procedimentos de
estimativas de viagem relatório de atividades realizadas
com finalidade pública, relatório de despesas com
alimentação e hospedagem e reembolso de eventual valor
restante da verba pública que lhe foi concedida.
Neste passo, destaca-se que ele confessa em
sua oitiva junto ao inquérito civil, fls. 497/501, que:
“... É FATO QUE O DECLARANTE E OS VEREADORES, APÓS OS
COMPROMISSOS, NO HORÁRIO NOTURNO, SAEM PARA BEBER CHOPP
E/OU CERVEJAS NA CIDADE, MAS QUE ESSES GASTOS SÃO PAGOS COM
RECURSOS PRÓPRIOS; QUE, MELHOR ESCLARECENDO, COMO O
DINHEIRO DAS DIÁRIAS É DEPOSITADO EM CONTA OU PAGO EM
CHEQUE NOMINAL DE CADA UM, NÃO TEM EXPLICAR SE O VEREADOR
PAGA A CONTA COM SEU DINHEIRO PRÓPRIO OU COM O DINHEIRO DA
DIÁRIA; ...”.
A ousadia do réu ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA
é tamanha que ele completa em seu mesmo depoimento que “...
A REGULAMENTAÇÃO DAS DIÁRIAS NÃO OBRIGA QUE O VEREADOR QUE
RECEBA A DIÁRIA A DEVOLVA SE NÃO GASTAR ...”.
Em outras palavras, O RÉU DIZ QUE COMO A
RESOLUÇÃO, FRISE-SE, ILEGAL, QUE REGULAMENTA O PAGAMENTO DE
60
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
60
DIÁRIAS NÃO PREVÊ A OBRIGAÇÃO DE DEVOLUÇÃO DAS SOBRAS, O
VEREADOR E/OU SERVIDORES PODEM FICAR COM AS ECONOMIAS DE
TAIS IMPORTES.
Somando-se as viagens realizadas pelo réu
ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA, chega-se ao astronômico valor
de R$ 39.173,25 (trinta e nove mil, cento e setenta e três
reais e vinte e cinco centavos), no período compreendido
entre o ano de 2014 até o mês de setembro de 2015,
consoante se faz prova abaixo.
61
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
61
Ademais, analisando o áudio da interceptação
telefônica, verifica-se que era o réu ALAN PATRICK RIBEIRO
CORREA a pessoa que conversava com o réu ROBERTO FERNANDES
MOYA JÚNIOR quando da realização da ligação telefônica.
É possível perceber nitidamente que quando o
réu ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA também participava das
orgias com prostitutas bancadas pelo erário público de
Rosana.
II. 9 - DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU EDUARDO DOS
SANTOS SALES
De acordo com a análise da planilha
Pronim514, o réu EDUARDO DOS SANTOS SALES auferiu o valor
total de R$ 19.199,00 (dezenove mil, cento e noventa e nove
reais), entre o ano de 2014 até agosto de 2015, sem
qualquer relatório de atividade com finalidade pública,
relatório de despesas com hospedagem e alimentação, muito
62
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
62
menos comprovante de reembolso dos valores restantes aos
cofres públicos.
Vale lembrar que, em seu depoimento
realizado na sede desta Promotoria de Justiça, às fls.
502/503 do inquérito civil, ele diz que: “... EM OCASIÕES
EM QUE SE FAZ NECESSÁRIO FICAR EM UM MESMO QUARTO DO HOTEL,
A HOSPEDAGEM É PAGA POR TODOS, QUAL SEJA, O VALOR É
DIVIDIDO ENTRE AQUELES QUE USAREM O MESMO QUARTO; ...; QUE
OS VALORES QUE SOBRAM DAS DIÁRIAS NÃO É DEVOLVIDO; QUE AS
DIÁRIAS SÃO PAGAS ANTES DAS VIAGENS; QUE OS VALORES SÃO
DEPOSITADOS EM CONTA CORRENTE; QUE A NOITE, APÓS OS
COMPROMISSOS DO DIA, É COMUM SAÍREM PARA JANTAR E TOMAR
UMAS CERVEJAS OU CHOPP; QUE ESSES GASTOS SÃO PAGOS COM
RECURSOS PRÓPRIOS; QUE UMA VEZ O DINHEIRO DEPOSITADO NA
CONTA, OS VALORES SE CONFUNDEM; QUE NÃO SABE ESPECIFICAR SE
ESSES GASTOS SERIAM PAGOS COM O QUE SOBROU DAS DIÁRIAS
...”.
Diante desse depoimento, manifestamente
contraditório, chega-se facilmente à conclusão de que todos
gastos com noitadas regadas a cervejas e chopps pelos réus,
inclusive o pagamento das prostitutas do réu ROBERTO
FERNANDES MOYA JÚNIOR, foram custeados pelo erário público
municipal de Rosana.
II. 10 - DOS ATOS ÍMPROBOS PRATICADOS PELO RÉU JOSÉ
FRANCISCO DOS SANTOS
Quanto ao réu JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS
encontra-se uma situação, no mínimo, curiosa!
63
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
63
O réu JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS é o
controlador interno da Câmara Municipal, o qual, inclusive,
analisa suas próprias despesas, emitindo, por evidente,
parecer favorável à aprovação, segundo se infere dos
procedimentos nº50/2014 e nº 74/2014, conforme demonstrado
acima.
Além do mais, como controlador interno, ele
teceu parecer favorável no procedimento nº 46/2014, dizendo
que a vigem foi realizada de avião, quando na verdade foi
feita com veículo oficial, conforme se infere dos
procedimentos nº 48/2014 da testemunha EWERTON THIAGO
OLIVEIRA DA SILVA e nº 49/2014 do réu ALAN PATRICK RIBEIRO
CORREA, que também estavam nas respectivas viagens.
Ora, se o réu JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS era
o controlador interno, tinha o dever legal de analisar de
forma pormenorizada os gastos e, ao tecer parecer de forma
equivocada, demonstra desleixo com a coisa pública, pois
agiu, no mínimo, com violação ao princípio da eficiência.
Entre o ano de 2014 e o mês de setembro de
2015, o réu JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS recebeu a quantia de
R$ 10.138,33 (dez mil, cento e trinta e oito reais e trinta
e três centavos).
64
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
64
Destaca-se que nenhum dos seus procedimentos
de estimativa de despesas tem relatório das atividades
realizadas com finalidade pública, relatório de despesas
com alimentação e hospedagem e devolução de eventual sobra.
65
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
65
III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA A CONDENAÇÃO DE TODOS
OS RÉUS PELAS DIVERSAS IMPROBIDADES ADMINISTRATIVAS
PRATICADAS
De prima, as Leis Municipais nº 270/1995 e
nº 272/1995 regulamentam, respectivamente, as despesas de
viagens dos vereadores e servidores da Câmara Municipal de
Rosana.
A Lei Municipal nº 270/1995, que se aplica
aos vereadores, determina em seu artigo 2º, que: “AS
DESPESAS AUTORIZADAS NO ART. 1º E, EFETIVAMENTE REALIZADAS
PELOS VEREADORES, SERÃO REEMBOLSADAS AOS MESMOS, MEDIANTE A
APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO COMPROBATÓRIO”.
A Lei Municipal nº 272/1995, que se aplica
aos servidores, também determina mesma regra em seu artigo
3º.
Dessa forma, as viagens dos vereadores e
servidores são manifestamente ilegais, eis que embasadas em
normas secundárias, violadoras da norma principal.
A Resolução é um ato normativo interna
corporis que visa regulamentar uma questão interna dos
órgãos públicos, sendo certo que jamais poderia
regulamentar matérias de forma diversa do que determinam as
leis2.
Além do mais, é questão comezinha do direito
que, à Luz da pirâmide de Kelsen, uma Resolução jamais pode
violar uma lei, sob pena de total violação à hierarquia
2 Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, pág. 694, Atlas, ano 2008.
66
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
66
normativa, “POIS É A LEI QUE MATERIALIZA A EXPRESSÃO DA
VONTADE DO POVO3”.
No Município de Rosana, existem as leis
regulamentadoras, mas os valores estipulados (R$ 500,00
para São Paulo e R$ 750,00 para Brasília) não estão
previstos em tais leis, o que viola de morte o controle o
político, exercido pelo próprio povo.
Por essa razão, a consulta nº 28/2014
realizada ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de
Proteção ao Patrimônio Público do Ministério Público do
Estado do Paraná, CAOP-MPPR, deixou certo que:
“NÃO OBSTANTE ISSO, NA MEDIDA EM QUE A
RESOLUÇÃO E O DECRETO SÃO ESPÉCIES NORMATIVAS
QUE NÃO PODEM INOVAR - NO SENTIDO DE CRIAR
DIREITOS, ESTABELECER DESPESAS, POR EXEMPLO -
MAS APENAS REGULAMENTAR A LEI, ESTE CAOP
ENTENDE, SALVO MELHOR JUÍZO, COMO NECESSÁRIO
QUE OS VALORES (DESPESAS) E OS CRITÉRIOS DE
CONCESSÃO (DIREITOS) ESTEJAM PREVISTOS EM LEI
EM SENTIDO ESTRITO, EM RESPEITO AO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE (ESTRITA). AO REGULAMENTO, PORTANTO,
APENAS ESTARIA RESERVADO PREVER OS
PROCEDIMENTOS DE CONTROLE INTERNO RELATIVOS À
PRESTAÇÃO DE CONTAS, AOS PRAZOS, ÀS
AUTORIZAÇÕES HIERÁRQUICAS EXIGIDAS, AOS
RELATÓRIOS DE ATIVIDADES E AOS CERTIFICADOS DE
COMPARECIMENTO (REFERENTES ÀS VIAGENS),
REGISTROS CONTÁBEIS DA DESPESA, POR EXEMPLO -
3 Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Introdução ao Estudo do Direito, pág. 202, 6ª ed., Atlas, ano 2012.
67
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
67
OU SEJA, RELATIVOS À ORGANIZAÇÃO INTERNA,
MERAMENTE.
DADO QUE A LEGALIDADE É NORTEADORA DA
ATIVIDADE ADMINISTRATIVA DO ESTADO, PARA QUE
SEJA EXCEPCIONADA DEVE HAVER PREVISÃO EXPRESSA,
O QUE NÃO OCORRE NA ESPÉCIE. OUTROSSIM, A
AUTONOMIA DO ENTE PARA SE AUTO-ADMINISTRAR NÃO
AUTORIZA CRIAR DESPESAS NEM DIREITOS POR MEIO
DE RESOLUÇÃO OU DECRETO, “ESCAPANDO” DO
CONTROLE E DA VIGILÂNCIA RECÍPROCOS,
CARACTERÍSTICOS DO SISTEMA DE FREIOS E
CONTRAPESOS.
DITO ISSO, SALVO MELHOR JUÍZO, CONCLUI-SE:
AS DIÁRIAS DEVEM ESTAR PREVISTAS EM LEI
(VALORES E CRITÉRIOS DE CONCESSÃO), E
REGULAMENTADAS (PROCEDIMENTOS DE CONTROLE
INTERNO, MERAMENTE) POR MEIO DE DECRETO NO
ÂMBITO DO EXECUTIVO, OU RESOLUÇÃO NO ÂMBITO DO
LEGISLATIVO, DEVENDO HAVER PREVISÃO
ORÇAMENTÁRIA ESPECÍFICA.
A AUTONOMIA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA,
CONFERIDA AOS ENTES FEDERATIVOS (ART. 18), PODE
SER TRADUZIDA COMO A CAPACIDADE QUE CADA ENTE
POLÍTICO TEM PARA DECIDIR SOBRE ASSUNTOS DE SEU
INTERESSE, DENTRO DE UM CAMPO DELIMITADO NA
PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (NA ESPÉCIE,
ARTIGOS 29 E 30, DA CF). NESSE CONTEXTO ESTÁ A
PRERROGATIVA DE AUTO-ORGANIZAÇÃO (ARTIGOS 51,
IV E 84, VI), NA QUAL SE INSEREM OS
DESLOCAMENTOS DE SERVIDORES E AGENTES
POLÍTICOS, NO INTERESSE OU EM VIRTUDE DO
68
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
68
EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, PARA FORA DA SEDE,
DOS QUAIS DECORREM AS INDENIZAÇÕES (DIÁRIAS) A
ELES DEVIDAS, CUJOS CRITÉRIOS DE CONCESSÃO E
SUA FIXAÇÃO DEVEM ESTAR PREVISTOS EM LEI
ESPECÍFICA, CONFORME JÁ TRATADO ACIMA.
A FIXAÇÃO DOS VALORES DAS DIÁRIAS, ENTÃO,
DEVE SER OBJETO DE PROJETO DE LEI DE INICIATIVA
DO RESPECTIVO PODER (EXECUTIVO E LEGISLATIVO),
O QUE SE INSERE NO ÂMBITO DE SUA AUTONOMIA.
PORÉM, NÃO OBSTANTE ESSA AUTONOMIA, OS VALORES
NÃO PODEM SER DEFINIDOS SEM CRITÉRIOS, SEM
MOTIVAÇÃO, SEM PARÂMETROS, ALEATORIAMENTE, O
QUE DEIXARIA DE SER DISCRICIONARIEDADE,
PASSANDO A SER ARBITRARIEDADE. PORTANTO, SUA
FIXAÇÃO DEVE PAUTAR-SE PELA PLENA OBSERVÂNCIA
DOS PRINCÍPIOS ESTABELECIDOS NO ART. 37 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO DOS PRINCÍPIOS
DA ECONOMICIDADE E DA RAZOABILIDADE, ÍNSITOS À
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
A DIÁRIA PODE SER FIXADA POR RESOLUÇÃO DO
ENTE PÚBLICO? EM CASO NEGATIVO, MESMO SE
ESTIVEREM PREVISTO EM RESOLUÇÃO, HÁ NECESSIDADE
DE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO CASO OS
VALORES CONSTATADOS SEJAM RAZOÁVEIS? QUE
MEDIDAS TOMAR NESSE CASO, ONDE HÁ UM SIMPLES
ERRO QUANTO À FORMA DE INSTITUIÇÃO?
ESTE CAOP ENTENDE QUE LEI ESPECÍFICA DEVE
FIXAR O VALOR DAS DIÁRIAS E OS CRITÉRIOS DE
CONCESSÃO, REGULAMENTANDO-SE POR DECRETO OU
RESOLUÇÃO APENAS MATÉRIAS DE CONTROLE INTERNO,
PROCEDIMENTAIS RELACIONADAS AO TEMA.
69
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
69
ASSIM, ENTENDE-SE QUE MESMO QUE OS VALORES
SEJAM RAZOÁVEIS, DEVE-SE RECOMENDAR O
ENCAMINHAMENTO DE PROJETO DE LEI SOBRE A
MATÉRIA, PARA QUE POSSA HAVER UM CONTROLE
RECÍPROCO (SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS), O
QUE NÃO OCORRE COM A EDIÇÃO DE DECRETO OU
RESOLUÇÃO FIXANDO E CONCEDENDO VALORES”.
Seguindo essa linha de raciocínio, TODAS AS
VIAGENS REALIZADAS PELOS VEREADORES E SERVIDORES DA CÂMARA
MUNICIPAL DE ROSANA SÃO ILEGAIS, RAZÃO PELA QUAL DEVE O
ORDENADOR DE DESPESA RESSARCIR O ERÁRIO PÚBLICO PELO ENORME
DANO CAUSADO.
Ora, com base nas festas e gastos realizados
pelos réus, principalmente com o pagamento de prostitutas
pelo réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, verifica-se que as
Resoluções já foram elaboradas engendradamente com essa
finalidade, além de permitir a apropriação de verba pública
por parte dos réus.
Como o réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR
iria pedir reembolso do valor pago pelos serviços de
prostituição? Como ele iria pedir nota fiscal a elas pelo
serviço que lhe foi prestado?
Ademais, ambas as leis estabelecem que sejam
comprovados os gastos, ao passo que as Resoluções nº
06/2009 e nº 03/2014 dispensam tais comprovações, de modo
que possibilita que o vereador e/ou servidor se aproprie do
valor do que venha a economizar.
70
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
70
Por exemplo, nos procedimentos 01, 02 e 03,
todos de 2015, consta que os réus ROBERTO FERNANDES MOYA
JÚNIOR, ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA e EDISON ALVES DA SILVA
foram até à cidade de Brasília e ficaram por lá entre os
dias 26 e 29 de janeiro de 2015 e gastaram no total R$
13.500,00 (onze mil duzentos e cinquenta reais).
Levando-se em consideração que eles ficaram
no mesmo quarto, o valor que sobra das diárias foi por eles
rateados e não houve nenhuma prestação de contas sobre
essas despesas, com base nas Resoluções ilegais.
DESTA FORMA, VERIFICA-SE FACILMENTE A UNIÃO
DE DESÍGNIOS E AÇÕES CONLUIADAS DOS RÉUS COM INTUITO,
UNICAMENTE, DE DESVIAR VERBAS PÚBLICAS, COM VIAGENS
ABSOLUTAMENTE IRRELEVANTES E SEM QUALQUER FINALIDADE
SOCIAL.
Nessa linha, pode-se concluir que tais
condutas dos réus violam de morte os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, economicidade,
eficiência e razoabilidade.
Destaca-se que, em razão da ausência de
justificativa e devida prestação de contas dos gastos com
diárias, este Tribunal de Justiça Paulista é firme em
reconhecer o ato de improbidade administrativa, conforme se
infere da seguinte ementa:
“...IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DEFESA
DO PATRIMÔNIO PÚBLICO LEGITIMIDADE ATIVA
DO MINISTÉRIO PÚBLICO ART. 129, III, DA
CF, CC ART. 1º E 5º DA LEI 7.347/85 E 17,
71
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
71
"CAPUT", DA LEI 8.429/92. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA DESPESAS DE VIAGENS NÃO
JUSTIFICADAS PRESTAÇÃO DE CONTAS
INSUFICIENTE INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO E
INTERESSE PÚBLICO NA REALIZAÇÃO DAS
VIAGENS - DOLO E CULPA EVIDENCIADOS -
OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA
FINALIDADE, DA RAZOABILIDADE E DA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA, COM LESÃO AO
ERÁRIO IMPROBIDADE CONFIGURADA SANÇÕES
PREVISTAS NO ART. 12, II, BEM APLICADAS.
RECURSO NÃO PROVIDO.” (Agravo Retido na
Apelação 0007538-58.2011.8.26.0483, 6ª
Câmara de Direito Público do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, Relator o
Desembargador Reinaldo Miluzzi, jul. em
09.06.2014, reg. em 10.06.2014).
Ao propósito, também na jurisprudência de
outros Tribunais de Justiça da Federação, é tranquila a
orientação no sentido da condenação por improbidade
administrativa quando não houver comprovação das despesas,
in verbis:
“... 1. NÃO CONFIGURA MERA
IRREGULARIDADE, MAS SIM ATO ÍMPROBO
DOLOSO, O REITERADO PAGAMENTO (E TAMBÉM A
SUA AUTORIZAÇÃO, CONSIDERANDO QUE O
REQUERIDO, NA DATA DOS FATOS, ERA O
ORDENADOR DA DESPESA E O SEU BENEFICIÁRIO)
E RECEBIMENTO DE DIÁRIAS SEM APRESENTAÇÃO
72
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
72
DE COMPROVANTES DA VIAGEM E DAS DESPESAS
COM ELA INCORRIDAS (TAMBÉM DE SEU CARÁTER
INSTITUCIONAL, REGISTRE-SE)...”. (Apelação
Cível nº 30060221709, 1ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito
Santo, Relator o Desembargador Fabio Clem
de Oliveira, jul. em 13.03.2012, pub. no
DJ de 04.04.2012).
Vale ressaltar que a autorização de gastos
com diárias para viagens é um ato administrativo e,
portanto, deve ser fundamentada com motivo que expresse a
finalidade pública.
Todavia, as finalidades apresentadas pelos
réus para a realização das viagens eram, de forma genérica,
“necessidade de estar em São Paulo” (exemplo: procedimento
nº 01/2014) ou “necessidade de estar em Brasília” (exemplo:
procedimento nº 16/2014).
73
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
73
O fato de haver uma finalidade tão genérica
torna evidente o verdadeiro interesse dos réus,
especificamente do réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, qual
seja, se apropriar de verba pública, ou se realmente
viajar, fazer turismo nas cidades que visita, se divertindo
com prostitutas, gastando dinheiro público de forma ilegal
em detrimento Município de Rosana, já tão sacrificado.
A jurisprudência dos Tribunais de Justiça da
Federação, ao propósito, entende caracterizada a
ilegalidade e, por conseguinte, a improbidade
administrativa, nos casos em que a finalidade exarada para
realização da viagem seja genérica, como no caso, senão
vejamos:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO POPULAR.
PAGAMENTO DE DIÁRIAS PARA VIAGENS E
REEMBOLSOS DAS RESPECTIVAS DESPESAS PELA
CÂMARA MUNICIPAL DE UMUARAMA AOS SEUS EDIS
74
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
74
(NOS ANOS DE 1997 A 1999). MEDIANTE
AUTORIZAÇÃO DO PRESIDENTE DA CASA E DOS
PRIMEIROS SECRETÁRIOS. LIBERAÇÃO DE VERBA
PÚBLICA SEM A DEVIDA MOTIVAÇÃO, CONTENDO
APENAS A EXPRESSÃO GENÉRICA "INTERESSE DO
PODER LEGISLATIVO OU INTERESSE DA
COMUNIDADE DE UMUARAMA". INTERESSADOS NAS
DIÁRIAS QUE NÃO ESPECIFICAVAM AS RAZÕES
DAS VIAGENS A FIM DE DEMONSTRAR A
FINALIDADE E O INTERESSE PÚBLICO DO ATO.
ATOS DA MESA QUE IGUALMENTE APRESENTAVAM
MOTIVAÇÃO GENÉRICA, QUE NÃO ATENDEM À
EXIGÊNCIA LEGAL, PARA FINS DO CONTROLE DE
SUA LEGALIDADE. INFRINGÊNCIA AOS ARTIGOS
37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO ÀS
RESOLUÇÕES 4/1989 E 10/1997 DA CÂMARA
MUNICIPAL DE UMUARAMA. EXIGÊNCIA EXPLÍCITA
DE MOTIVAÇÃO PARA OS ATOS IMPUGNADOS.
PODER JUDICIÁRIO QUE TEM O DEVER RESTRITO
DE CONTROLE EXTERNO DA LEGALIDADE DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS. EVIDÊNCIA DE ILEGALIDADE
DOS ATOS IMPUGNADOS, POR FALTA DE
MOTIVAÇÃO, QUE IMPLICA EM SUA NULIDADE.
NULIDADE DOS ATOS QUE CONDUZ À CONDENAÇÃO
DOS RÉUS NO RESSARCIMENTO DOS VALORES
RECEBIDOS POR MEIO DELES. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSOS CONHECIDOS E
DESPROVIDOS.” (Apelação Cível nº 51987-3,
Relatora a Desembargadora Maria Aparecida
Blanco de Lima, 1ª Câmara Cível do
75
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
75
Tribunal de Justiça do Estado Paraná, jul.
em 04.08.2009, pub. no DJ. de 05.08.2009).
As insuficientes prestações de contas e a
inexistência de demonstração de finalidade pública para o
gasto comprova, a toda evidência, a má-fé dos réus, o que
caracteriza o dolo de causar dano ao erário público e se
enriquecer às custas do Município de Rosana.
Em verdade, o mero dispêndio de recursos,
sem a devida demonstração do interesse público a justificá-
lo, por si só, já importa em malbaratamento do patrimônio
público.
Outrossim, conforme ficou por demais
demonstrado, inclusive pelos próprios depoimento dos réus,
por diversas vezes eles pagavam seus gastos particulares
com verbas públicas, uma vez que tal importe era depositado
em suas respectivas contas bancárias pessoais, não sabendo
o vereador e/ou servidor se estava pagando seu gasto
privado com o erário público ou com seu dinheiro
particular.
Frise-se, da forma que as diárias são pagas
aos vereadores e/ou servidores da Câmara Municipal de
Rosana, MAIS PARECE UMA DOAÇÃO DE DINHEIRO PÚBLICO, SEM
QUALQUER CONOTAÇÃO COM O INTERESSE DA SOCIEDADE, DO QUE
PROPRIAMENTE CONCESSÃO DE ADIANTAMENTO OU REEMBOLSO DE
VERBAS, UMA VEZ QUE NÃO HÁ QUALQUER PRESTAÇÃO DE CONTAS,
MUITO MENOS DEVOLUÇÃO DO VALOR NÃO UTILIZADO, O QUE É
VEDADO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E PELA CONSTITUIÇÃO
BANDEIRANTES.
76
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
76
Ora, o artigo 93 do Decreto-Lei 200/67
estabelece que: “QUEM QUER QUE UTILIZE DINHEIROS PÚBLICOS
TERÁ DE JUSTIFICAR SEU BOM E REGULAR EMPREGO NA
CONFORMIDADE DAS LEIS, REGULAMENTOS E NORMAS EMANADAS DAS
AUTORIDADES ADMINISTRATIVAS COMPETENTES.”
Nessa linha, o artigo 62 da lei 4.320/60
determina que: “O PAGAMENTO DA DESPESA SÓ SERÁ EFETUADO
QUANDO ORDENADO APÓS SUA REGULAR LIQUIDAÇÃO”.
Dessa forma, mais do que demonstrada a
ilegalidade das Resoluções, sendo certo que o reiterado
pagamento de diárias sem apresentação de comprovantes das
viagens e das despesas com ela incorridas constitui ato
improbo doloso, sendo imprescindível condenação dos réus
pela sua prática.
Ademais, diante dos elementos retro
demonstrados, utilização de verba pública com noitadas
regadas com mulheres, em razão da total ausência de
controle, fica evidente o que alguns dos réus realmente
faziam na cidade de Brasília.
UTILIZAVAM-SE EM PROVEITO PRÓPRIO DE VERBAS
PÚBLICAS, ENQUANTO BOA PARTE DA POPULAÇÃO DE ROSANA VIVE DE
FORMA PRECÁRIA, SEM TER NENHUMA AJUDA ASSISTENCIAL!
Ao propósito, a jurisprudência desse Colendo
Tribunal de Justiça Paulista é firme no sentido da
condenação em improbidade administrativa quando estiver
caracterizado, como no caso, o desvio de finalidade pública
com o gasto de diárias, in verbis:
77
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
77
“APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO CIVIL PÚBLICA
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DESPESAS DE
VIAGEM IRREGULARIDADES PRELIMINARES
CARÊNCIA DA AÇÃO POR INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA E FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL A
AÇÃO CIVIL PÚBLICA É A VIA ADEQUADA PARA
SE PLEITEAR O RESSARCIMENTO DO DANO AO
ERÁRIO POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA HAVENDO INDÍCIOS DE QUE
HOUVE A PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA É DO INTERESSE PÚBLICO A
APURAÇÃO DOS FATOS E, SE FOR O CASO, A
RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES E O
RESSARCIMENTO DO DANO AO ERÁRIO
INCONSTITUCIONALIDADES FORMAL E MATERIAL
DA LEI Nº 8.429/92 INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS
NA TRAMITAÇÃO DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO
OU AFRONTA AO SISTEMA BICAMERAL ADOTADO
PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEI QUE PREVÊ
SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL, QUE SÓ PODEM
SER IMPOSTAS PELA VIA JUDICIAL MATÉRIA DA
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA
UNIÃO, NOS TERMOS DO ART. 22, INC. I, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL EX-PREFEITO MUNICIPAL
SUJEIÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS ÀS
DISPOSIÇÕES DA LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA QUESTÃO PACIFICADA PELA
JURISPRUDÊNCIA SUSPENSÃO DO FEITO ENQUANTO
SE AGUARDA DECISÃO DEFINITIVA DO TRIBUNAL
DE CONTAS SOBRE AS DESPESAS DA
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL NO PERÍODO
78
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
78
DESNECESSIDADE DECISÃO QUE NÃO VINCULA O
PODER JUDICIÁRIO A APLICAÇÃO DAS SANÇÕES
PREVISTAS NA LEI DE IMPROBIDADE INDEPENDE
DA APROVAÇÃO OU REJEIÇÃO DOS GASTOS
MUNICIPAIS PELO TRIBUNAL DE CONTAS
PRELIMINARES AFASTADAS MÉRITO VALORES
RECEBIDOS PELOS AGENTES PÚBLICOS A TÍTULO
DE ADIANTAMENTO PARA DESPESAS DE VIAGEM
PRESTAÇÕES DE CONTAS IRREGULARIDADES NOS
GASTOS APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS QUE
DENOTAM SIMULAÇÃO DE DESPESAS E
MALVERSAÇÃO DO DINHEIRO PÚBLICO,
IMPLICANDO EM PREJUÍZO DO ERÁRIO
SERVIDORES QUE SE BENEFICIARAM DOS VALORES
RECEBIDOS. CARACTERIZADA A CONDUTA DOLOSA
DOS RÉUS PRESENÇA DO ELEMENTO SUBJETIVO
QUE PERMITE ENQUADRAR OS ATOS PRATICADOS
NO TIPO PREVISTO NO ART. 11, DA LEI Nº
8.429/92 APLICAÇÃO DAS PENALIDADES
PREVISTAS NO ART. 12, INC. III, DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULAÇÃO
POSSIBILIDADE ATENÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE SENTENÇA
MANTIDA RECURSO DESPROVIDO.” (Apelação
Cível 0007895-51.2009.8.26.0602, 8ª Câmara
de Direito Público do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, Relator o
Desembargador Ponte Neto, jul. em
07.05.2014, reg. em 07.05.2015).
79
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
79
Outrossim, conforme se infere da análise das
próprias declarações, que, em tese, deveriam demonstrar a
finalidade social das viagens dos réus, em verdade, não
comprovam qualquer interesse público real, concreto e
primário, como por exemplo a declaração que consta no
procedimento 05/2014:
Em razão do caráter geral e vago de seus
termos, referidas declarações não apenas comprometem
qualquer tentativa de se verificar a correspondência de
tais viagens aos motivos que a ensejaram, como ainda, põe
80
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
80
em dúvida a própria comprovação de sua efetiva realização,
sendo certo que não há indicação de quais assuntos foram
tratados, quais reinvindicações foram realizadas em prol da
comunidade de Rosana ou mesmo detalhes sobre a
identificação da reunião.
Ademais, as fotos juntadas pelos réus em
alguns procedimentos, demonstrando que estavam no local,
também não comprovam nada, haja vista que em nenhuma das
viagens realizadas ficou caracterizado o interesse público.
Outra impropriedade realizada na Câmara
Municipal de Rosana, especificamente pelo réu ROBERTO
FERNANDES MOYA JÚNIOR, foi a solicitação e realização de
depósito, sem comprovação efetiva de viagem, somente com
declarações genéricas de comparecimento, na conta bancária
da ré ALINE ROSA APARECIDA MORAES, conforme procedimento nº
63/2014, sem prestação de contas e eventual devolução da
sobra.
Ora, é intolerável que seja depositado
dinheiro público na conta de pessoa estranha aos quadros da
Câmara Municipal, quanto mais à esposa, que nada tem a ver
com a função parlamentar exercida pelo marido.
Quanto ao réu JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS, na
qualidade de controlador interno da Câmara Municipal, ele
tinha o dever de fiscalizar efetivamente os procedimentos
relativos às diárias para viagens.
Mas, não só falhou em sua função, eis que
teceu diversos pareceres favoráveis em procedimento sem
qualquer prestação de contas ou relatório de despesas,
81
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
81
violando o princípio da eficiência, como também recebeu
verbas públicas e teceu parecer em seu próprio
procedimento, o que chega a ser inacreditável, em total
desrespeito ao princípio da impessoalidade, conforme retro
demonstrado.
Em verdade, os pareceres da Controladoria
Interna da Câmara Municipal de Rosana mais parecem modelos
padronizados em suas conclusões, em que o fiscal apenas
utiliza o “copiar/colar” do „word’, não havendo uma efetiva
fiscalização e controle do ato.
Ademais, verifica-se flagrante violação ao
princípio da razoabilidade na realização de tantas viagens
sem qualquer respaldo jurídico.
Somando todos os valores das viagens,
realizadas pelos réus nos anos de 2014 e meados de 2015,
chega-se ao absurdo e astronômico valor de R$ 341.480,61
(trezentos e quarenta e um mil, quatrocentos e oitenta
reais e sessenta e um centavos).
82
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
82
Dinheiro público gasto com absolutamente
nada de interesse público. Viagens à cidade de Brasília que
serviram somente para turismo, diversões e noitadas. FRISE-
83
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
83
SE, NENHUMA DAS VIAGENS DOS RÉUS TROUXE R$ 0,01 (UM
CENTAVO) SEQUER DE BENEFÍCIO PARA O MUNICÍPIO!
Em sendo assim, latente é a violação ao
princípio da proporcionalidade, eis tal gasto público foge,
literalmente, à ideia de bom senso e razoabilidade.
Ora, se os gastos foram em torno de R$
400.000,00 (quatrocentos mil reais), o que se espera, no
mínimo, é que o vereador consiga trazer para o Município o
dobro do valor gasto, sob pena de ser melhor não viajar.
Como cediço, “O PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE, COM MAIOR DIFUSÃO NO DIRETO ALEMÃO,
ESTABELECE QUE OS ATOS ADMINISTRATIVOS DEVEM PASSAR POR
TRÊS ANÁLISES PARA SEREM CONSIDERADOS VÁLIDOS: ADEQUAÇÃO –
O ATO ESTATAL DEVE SER APTO PARA ATINGIR O RESULTADO
PRETENDIDO; NECESSIDADE OU EXIGIBILIDADE – CASO EXISTAM
DUAS OU MAIS MEDIDAS ADEQUADAS PARA ALCANÇAR OS FINS
PERSEGUIDOS (INTERESSE PÚBLICO), O PODER PÚBLICO DEVE
ADOTAR A MEDIDA MENOS GRAVOSA; PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO
ESTRITO – ENCERRA UMA TÍPICA PONDERAÇÃO, NO CASO CONCRETO,
ENTRE O ÔNUS IMPOSTO PELA ATUAÇÃO ESTATAL E O BENEFÍCIO POR
ELA PRODUZIDO (RELAÇÃO CUSTO BENEFÍCIO DA MEDIDA).”4
Analisando o referido princípio, verifica-se
que as viagens realizadas pelos réus são inadequadas, pois
é fato notório que é muito difícil conseguir verbas
públicas junto aos parlamentares federais, até pela
situação de crise que vive o País; são absolutamente
desnecessárias, eis que eles podem muito bem articular a
4Rafael Carvalho Rezende, Princípios de Direito Administrativo, 2ª ed., pág. 125/129.
84
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
84
elaboração de leis de incentivo às instalações de empresas
privadas no Município, o que acarretará, em contrapartida,
uma maior arrecadação aos cofres públicos de Rosana; e são
totalmente desproporcionais, uma vez que, se as viagens
realmente são realizadas, gasta-se mais para ir até o local
de destino e pleitear verba pública e ser ignorado pelo
parlamentar federal ou estadual, que lhe dá somente uma
declaração genérica, do que ficar aqui no Município de
Rosana e analisar os problemas da cidade.
Caso fosse necessário realmente falar com o
parlamentar federal ou estadual, bastaria uma ligação
telefônica.
Quanto aos cursos supostamente realizados
pelos réus, são também manifestamente desnecessários, pois
em nada acrescentou para o bem estar da sociedade de
Rosana.
Em verdade, não se trata apenas de uma
questão de legalidade de cada despesa, mas sim de
economicidade, razoabilidade e moralidade de cada dispêndio
que, conforme bem demonstrado, SERVIU PARA O ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO DOS RÉUS, COMO SE FOSSE UM ACRÉSCIMO SALARIAL, E,
SE AS VIAGENS REALMENTE OCORRERAM, PARA PAGAR O TURISMO E
AS FESTAS DE ALGUNS RÉUS NA CAPITAL PAULISTA E FEDERAL.
De mais a mais, analisando a Constituição da
República, chega-se facilmente a conclusão de que não deve
o vereador viajar até Brasília com o fito de pleitear verba
pública federal para a cidade.
85
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
85
Isso porque, o Estado de São Paulo tem 70
(setenta) Deputados Federais e 03 (três) Senadores
justamente para pleitear recursos federais para o Estado,
valores que serão repassados aos Municípios, não tendo o
vereador atribuição para tal mister.
Conforme ensina o eminente cientista
político Eron Brum, “CABE AO VEREADOR ATENDER A COMUNIDADE
DA CIDADE, MANTER DIÁLOGO COM A POPULAÇÃO, VERIFICAR OS
PROBLEMAS E FISCALIZAR O PREFEITO. A HORA QUE O VEREADOR
COMEÇA A SE PREOCUPAR EM BUSCAR RECURSOS FEDERAIS, NÃO SERÁ
UM BOM VEREADOR. PARA ISSO, TEMOS DEPUTADOS FEDERAIS E
SENADORES”.
Vejamos a notícia publicada em site
especializado em política:
“NÃO É NENHUMA NOVIDADE VER FOTO DE
VEREADOR TODO ORGULHOSO NO MEIO DE AUTORIDADES
EM BRASÍLIA. AS FOTOS RODAM REDES SOCIAIS PARA
MOSTRAR TRABALHO AO ELEITOR, AINDA MAIS EM ANO
DE VÉSPERA DE ELEIÇÕES. AS VIAGENS, NO ENTANTO,
ONERAM OS COFRES PÚBLICOS, O PARLAMENTAR
EMBOLSA DIÁRIAS E, DE CONCRETO, POUCO ACONTECE,
PORQUE VEREADOR NÃO TEM “PESO POLÍTICO” EM
BRASÍLIA PARA BARGANHAR INVESTIMENTOS, AINDA
MAIS EM ÉPOCA DE CRISE. FORA, QUE SUA MISSÃO
ESTÁ BEM LONGE DO DISTRITO FEDERAL.
NESTA SEMANA, POR EXEMPLO, CINCO VEREADORES
DA PEQUENA ARAL MOREIRA, A 367 QUILÔMETROS DA
CAPITAL, ESTIVERAM EM BRASÍLIA. ELES BATERAM NA
PORTA DO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, DA SAÚDE,
86
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
86
DOS CORREIOS E DO GABINETE DO SENADOR DELCÍDIO
DO AMARAL (PT). NA MIRA, INVESTIMENTOS PARA
PAVIMENTAR A MS-165, FEDERALIZAR A RODOVIA SUL
FRONTEIRA E REATIVAR O CENTRO CIRÚRGICO DO
HOSPITAL DA CIDADE.
NINGUÉM DISCUTE A IMPORTÂNCIA DAS
REIVINDICAÇÕES. O FATO É QUE MATO GROSSO DO SUL
ELEGEU OITO DEPUTADOS FEDERAIS E TRÊS SENADORES
JUSTAMENTE PARA PLEITEAR RECURSOS FEDERAIS AO
ESTADO. ELES, AO CONTRÁRIO DOS VEREADORES, TEM
PODER DE BARGANHA COM O VOTOS NO CONGRESSO.
ALÉM DISSO, TODOS TEM ESCRITÓRIO NAS CIDADES
SUL-MATO-GROSSENSES E RECEBEM VERBA
INDENIZATÓRIA PARA PERCORRER O ESTADO E OUVIR
AS NECESSIDADES DOS VEREADORES E DA POPULAÇÃO
EM GERAL.
POR OUTRO LADO, SEGUNDO O CIENTISTA
POLÍTICO ERON BRUM, CABE AO VEREADOR “ATENDER A
COMUNIDADE DA CIDADE, MANTER DIÁLOGO COM A
POPULAÇÃO, VERIFICAR OS PROBLEMAS E FISCALIZAR
O PREFEITO”. “A HORA QUE O VEREADOR COMEÇA A SE
PREOCUPAR EM BUSCAR RECURSOS FEDERAIS NÃO SERÁ
UM BOM VEREADOR. PARA ISSO TEMOS DEPUTADOS
FEDERAIS E SENADORES”, RESSALTA.
PARA ELE, SAIR DA SUA BASE ELEITORAL PARA
VIAJAR À BRASÍLIA “É GASTAR DINHEIRO PÚBLICO DE
FORMA EQUIVOCADA”. “OU ESTÁ FAZENDO CAMPANHA
ANTECIPADA PARA DEPUTADO, QUERENDO SE PROJETAR
87
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
87
OU GASTANDO DINHEIRO DA POPULAÇÃO DE FORMA
EQUIVOCADA”, AFIRMA O CIENTÍSTICA POLÍTICO.
DOUTOR EM DIREITO CONSTITUCIONAL E
PROFESSOR DA UFMS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO
GROSSO DO SUL), SANDRO OLIVEIRA AFIRMA QUE A
VIAGEM DE UM VEREADOR À BRASÍLIA “NÃO TEM
NENHUM EFEITO PRÁTICO”. “QUEM APRESENTA AS
EMENDAS SÃO DEPUTADOS E SENADORES. NÃO TENHO
DÚVIDA QUE PEDIDO DE VEREADOR NÃO TEM PESO E
NENHUMA EFICÁCIA”, DECLARA.
PARA O ADVOGADO, VISITAS A MINISTÉRIOS PARA
CAPTAÇÃO DE VERBA “É MEDIDA INÓCUA”. PIOR AINDA
ELE CONSIDERA ENCONTROS COM PARLAMENTARES.
“TODOS ELES TEM ESCRITÓRIOS NAS CAPITAIS, NÃO
HAVERIA NECESSIDADE DA VIAGEM”, PONTUA.
“BASTARIA UM TELEFONEMA PARA PEDIR APOIO”,
COMPLETA ERON BRUM.
NA VISÃO DE OLIVEIRA, A CONFUSÃO DE FUNÇÕES
POR PARTE DOS VEREADORES É REFLEXO DE “CRISE
QUE O LEGISLATIVO LOCAL PASSA”. “ELES NÃO
CONSEGUEM LEGISLAR SEM QUE TENHA A PROVOCAÇÃO
DO EXECUTIVO, ACABAM REFERENDANDO, NÃO CRIAM
PROJETOS PRÓPRIOS, É UMA CULTURA QUE SE
INSTALOU”, ANALISA. “ACABAM FICANDO REFÉNS DO
PREFEITO POR CONTA DO DUODÉCIMO E TENTAM
88
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
88
MOSTRAR SERVIÇO À POPULAÇÃO COM VIAGENS”,
ACRESCENTA...”5
Logo, ante ao latente DANO AO ERÁRIO
PÚBLICO, EM RAZÃO DA REALIZAÇÃO DE VIAGENS TOTALMENTE
ILEGAIS, IMORAIS, DESNECESSÁRIAS, TURÍSTICAS, ILUSÓRIAS,
ALGUMAS REGADAS DE BEBIDAS E PROSTITUTAS PAGAS COM DINHEIRO
PÚBLICO E SEM QUALQUER INTERESSE SOCIAL, é mais do que
evidente o dever dos réus de ressarcir os cofres do
Município de Rosana, já destruído por tantas outras farras
com dinheiro público.
IV – DA NECESSÁRIA INCLUSÃO DO MUNICÍPIO – NULIDADE DE ATO
ADMINISTRATIVO MUNICIPAL
O pedido de condenação por atos de
improbidade, bem como os demais aqui realizados, refere-se
apenas aos réus, pessoas físicas, nesta ação civil pública.
Com efeito, há necessidade de inclusão do
Município de Rosana no feito, eis que se argui a nulidade
de atos administrativos, Resoluções nº 06/2009 e nº
03/2014.
Nesse passo, pode o Município de Rosana, se
assim o desejar, abster-se de contestar o pedido e integrar
a lide no polo ativo, ao lado do Ministério Público, a fim
de pleitear o ressarcimento dos prejuízos que lhe foram
causados e a punição dos seus responsáveis, conforme
estabelece o artigo 6º, § 3º, da Lei 4.717/65, aplicável à
5 Vereadores confundem funções e torram dinheiro público em viagens – http://www.campograndenews.com.br/politica/vereadores-confundem-
funcoes-e-torram-dinheiro-publico-em-viagens
89
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
89
ação civil pública por atos de improbidade por força do
artigo 17, § 3º, da Lei 8.429/92.
Destaca-se que, a Câmara Municipal é mero
órgão do Município de Rosana, razão pela qual não tem
personalidade jurídica, nos termos do enunciado sumular 525
da súmula da jurisprudência predominante do Superior
Tribunal de Justiça.
Desta forma, quando a ação visar anulação de
ato administrativo, deve o Município, pessoa jurídica,
figurar no polo passivo da demanda, sob pena de ausência de
pressuposto processual de validade do processo, qual seja,
a capacidade ser parte, e extinção do processo sem
resolução de mérito.
V – DA NECESSÁRIA CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS COLETIVOS DOS
RÉUS VEREADORES E/OU SERVIDORES – DANO À COLETIVIDADE EM
RAZÃO DO MENOSPREZO COM A COISA PÚBLICA
Vale ressaltar que, ao que parece, é fato
notório nesta pequena cidade de Rosana que os réus utilizam
dinheiro público para pagar suas despesas pessoais.
Tanto que o procedimento investigatório se
originou de uma denúncia oriunda de um cidadão à ouvidoria
do Ministério Público que estava se sentindo enojado com a
corrupção realizada pelos parlamentares desta cidade.
Portanto, é plenamente possível a condenação
de todos os réus ao pagamento de dano moral coletivo, haja
vista que por força de suas condutas, a imagem da
Administração Pública está arranhada, para não dizer
destruída, neste Município.
90
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
90
Analisando a nova linha de raciocínio da
jurisprudência dos Tribunais Superiores, Arnaldo Rizzardo
leciona que “O STJ ANTEVÊ A POSSIBILIDADE DE DANO MORAL
DESDE QUE HAJA COMPATIBILIDADE ENTRE ESTE E A NOÇÃO DE DOR
E SOFRIMENTO PSÍQUICA TRANSINDIVIDUALIDADE, A
DETERMINABILIDADE DO SUJEITO PASSIVO E DIVISIBILIDADE DA
OFENSA OBJETO DA REPARAÇÃO”. (Arnaldo Rizzardo, Ação Civil
Pública e ação de improbidade administrativa, 3ª ed.,
Forense, págs. 543/544).
O eminente jurisconsulto Emerson Garcia, ao
propósito, bem soluciona a questão, ensinando que:
“É INDISCUTÍVEL QUE DETERMINADOS ATOS
PODEM DIMINUIR O CONCEITO DA PESSOA
JURÍDICA JUNTO À COMUNIDADE, AINDA QUE NÃO
HAJA UMA REPERCUSSÃO IMEDIATA SOBRE O SEU
PATRIMÔNIO. EXISTINDO O DANO MORAL, DEVERÁ
SER IMPLEMENTADO O SEU RESSARCIMENTO
INTEGRAL, O QUE SERÁ FEITO COM O
ARBITRAMENTO DE NUMERÁRIO COMPATÍVEL COM A
QUALIDADE DOS ENVOLVIDOS, AS CIRCUNSTÂNCIAS
DA INFRAÇÃO E A EXTENSÃO DO DANO, TUDO SEM
PREJUÍZO DA REPARAÇÃO DAS PERDAS
PATRIMONIAIS.
...
É PLENAMENTE ADMISSÍVEL, ASSIM,
QUE O ATO DE IMPROBIDADE VENHA A MACULAR O
CONCEITO QUE GOZAM AS PESSOAS JURÍDICAS
RELACIONADAS NO ART. 1º DA LEI 8.429/1992,
91
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
91
O QUE ACARRETARÁ UM DANO DE NATUREZA NÃO-
PATRIMONIAL PASSÍVEL DE INDENIZAÇÃO.
...
EM CASO TAIS, DEVERÁ O ÓRGÃO
JURISDICIONAL CONTEXTUALIZAR O ILÍCITO
PRATICADO, TRANSCENDENDO OS LINDES DO
PROCESSO E IDENTIFICANDO A DIMENSÃO DA
MACULA CAUSADA À REPUTAÇÃO DO ENTE ESTADO,
O QUE PERMITIRA A CORRETA VALORAÇÃO DO DANO
MORAL E A JUSTA FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO
DEVIDA.
ALÉM DO DANO NÃO-PATRIMONIAL DE
NATUREZA OBJETIVA, É IMPORTANTE PERQUIRIR A
POSSIBILIDADE DE SER AFERIDA, NAS AÇÕES DE
IMPROBIDADE, A OCORRÊNCIA DO DANO NÃO
PATRIMONIAL DE NATUREZA SUBJETIVA (DOR
FÍSICA E MORAL). SENDO EVIDENTE QUE A
PESSOA JURÍDICA NÃO PODE SOFRER UMA DOR
MORAL, O PRISMA DE ANÁLISE HAVERÁ DE SER
DESLOCADO PARA A COLETIVIDADE, A QUAL
PODERÁ EXPERIMENTAR UM SOFRIMENTO COM O
DANO AOS SEUS BENS JURÍDICOS DE NATUREZA
NÃO-ECONÔMICA.
COMO FOI VISTO, A LEI Nº 8.429/92
NÃO SE DESTINA UNICAMENTE À PROTEÇÃO DO
ERÁRIO, CONCEBIDO ESTE COMO O PATRIMÔNIO
ECONÔMICO DOS SUJEITOS PASSIVOS DOS ATOS DE
IMPROBIDADE, DEVENDO ALCANÇAR, IGUALMENTE,
92
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
92
O PATRIMÔNIO PÚBLICO EM SUA ACEPÇÃO MAIS
AMPLA, INCLUINDO O PATRIMÔNIO MORAL.
... DEVE-SE OBSERVAR QUE O
PATRIMÔNIO PÚBLICO, DE NATUREZA MORAL OU
PATRIMONIAL, EM VERDADE, PERTENCE À PRÓPRIA
COLETIVIDADE, O QUE, IPSO FACTO, DEMONSTRA
QUE QUALQUER DANO CAUSADO ÀQUELE ERIGE-SE
COMO DANO CAUSADO A ESTA. ASSIM, AO SE
FALAR EM DANO À COLETIVIDADE, NÃO SE ESTÁ
INSTITUINDO UMA DICOTOMIA ENTRE OS SUJEITOS
DO ILÍCITO, MAS UNICAMENTE INVIDUALIZANDO
UMA PARCELA DO DANO EXPERIMENTADO PELO
VERDADEIRO TITULAR DO BEM JURÍDICO, O
POVO.” (Emerson Garcia e Rogério Pacheco
Alves, Improbidade Administrativa, Lumen
Juris, 4ª ed., 2008, págs. 431/434)
Aliás, a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça tem se fixado no mesmo sentido da tese defendida
na presente petição, senão vejamos:
“ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. DANO AO ERÁRIO. MULTA
CIVIL. DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
PRESCRIÇÃO. 1. AFASTADA A MULTA CIVIL COM
FUNDAMENTO NO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE, NÃO CABE SE ALEGAR
VIOLAÇÃO DO ARTIGO 12, II, DA LIA POR
DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO, SEM QUE A
TESE TENHA SIDO ANTERIORMENTE SUSCITADA.
OCORRÊNCIA DO ÓBICE DAS SÚMULAS 7 E
93
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
93
211/STJ. 2. "A NORMA CONSTANTE DO ART. 23
DA LEI Nº 8.429 REGULAMENTOU
ESPECIFICAMENTE A PRIMEIRA PARTE DO § 5º DO
ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. À SEGUNDA
PARTE, QUE DIZ RESPEITO ÀS AÇÕES DE
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO, POR CARECER DE
REGULAMENTAÇÃO, APLICA-SE A PRESCRIÇÃO
VINTENÁRIA PRECEITUADA NO CÓDIGO CIVIL
(ART. 177 DO CC DE 1916)" – RESP
601.961/MG, REL. MIN. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJU DE 21.08.07. 3. NÃO HÁ VEDAÇÃO
LEGAL AO ENTENDIMENTO DE QUE CABEM DANOS
MORAIS EM AÇÕES QUE DISCUTAM IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA SEJA PELA FRUSTRAÇÃO TRAZIDA
PELO ATO ÍMPROBO NA COMUNIDADE, SEJA PELO
DESPRESTÍGIO EFETIVO CAUSADO À ENTIDADE
PÚBLICA QUE DIFICULTE A AÇÃO ESTATAL...”
(Recurso Especial 960926/MG, Relator o
Ministro Castro Meira, 2ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, jul. em 18.03.2008,
pub. no DJ de 01.04.2008).
Destaca-se, ainda, que alguns réus desta
ação também estão sendo processados em outras ações, o que
bem demonstra a necessidade de uma maior condenação em
danos morais coleivos.
Destarte, haja vista todo o desprestígio que
os réus causaram ao Município de Rosana, o desleixo com a
coisa pública e a irresponsabilidade no exercício de suas
funções, NÃO HÁ DUVIDAR DA NECESSÁRIA CONDENAÇÃO EM DANOS
94
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
94
MORAIS COLETIVOS, ATÉ MESMO COM BASE NO CARÁTER PUNITIVO-
PEDAGÓGICO QUE TEM TAL INSTINTO.
VI – DA NECESSÁRIA INDISPONIBILIDADE DOS BENS –
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO PÚBLICO – TUTELA DE EVIDENCIA –
DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO DE PATRIMÔNIO
PARA A CONCESSÃO DA MEDIDA
Demonstradas as práticas ímprobas, mais do
que necessário a decretação de indisponibilidade dos bens
de todos os réus com o fito de assegurar o ressarcimento ao
erário público.
Saliente-se que, o artigo 7º da lei 8.429/92
determina que: “QUANDO O ATO DE IMPROBIDADE CAUSAR LESÃO AO
PATRIMÔNIO PÚBLICO OU ENSEJAR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO,
CABERÁ A AUTORIDADE ADMINISTRATIVA RESPONSÁVEL PELO
INQUÉRITO REPRESENTAR AO MINISTÉRIO PÚBLICO, PARA A
INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO INDICIADO.”
No caso dos autos, o fato dos réus terem
gastado dinheiro público com viagens ilegais e imorais, por
si só, já caracteriza fundamento mais que suficiente para a
decretação da indisponibilidade de bens, em razão do
necessário ressarcimento ao erário público.
Saliente-se que, como a indisponibilidade de
bens do artigo 7º, Parágrafo Único, da lei 8.429/92 é uma
tutela de evidência, há uma presunção de dilapidação do
patrimônio, não sendo necessária efetiva demonstração de
tal fato, conforme posição cimentada da jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
95
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
95
“PROCESSUAL CIVIL”. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. RECEBIMENTO
COMO AGRAVO REGIMENTAL. POSSIBILIDADE.
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS.
ART. 7º DA LEI 8.429/92. TUTELA DE
EVIDÊNCIA. PERICULUM IN MORA. EXCEPCIONAL
PRESUNÇÃO. PRESCINDIBILIDADE DA
DEMONSTRAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL.
FUMUS BONI IURIS. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE
ATOS ÍMPROBOS. RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL
DE ORIGEM. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. É PACÍFICA A ORIENTAÇÃO DESTA CORTE
SUPERIOR NO SENTIDO DA POSSIBILIDADE DO
RECEBIMENTO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COMO
AGRAVO REGIMENTAL QUANDO A PRETENSÃO
CONTIDA NO RECURSO INTEGRATIVO TIVER NÍTIDO
E EXCLUSIVO CARÁTER INFRINGENTE.
2. A PRIMEIRA SEÇÃO DESTA CORTE
SUPERIOR, NO JULGAMENTO DO EM JULGAMENTO DE
RESP 1.366.721/BA (REL. P/ ACÓRDÃO MIN. OG
FERNANDES, DJE DE 19.9.2014), SUBMETIDO À
SISTEMÁTICA PREVISTA NO ART. 543-C DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, FIRMOU A
ORIENTAÇÃO NO SENTIDO DE QUE A DECRETAÇÃO
DE INDISPONIBILIDADE DE BENS EM IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA DISPENSA A DEMONSTRAÇÃO DE
DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO PARA A
CONFIGURAÇÃO DE PERICULUM IN MORA, O QUAL
ESTARIA IMPLÍCITO AO COMANDO NORMATIVO DO
96
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
96
ART. 7º DA LEI 8.429/92, MAS EXIGE A
DEMONSTRAÇÃO DO FUMUS BONI IURIS QUE
CONSISTE EM INDÍCIOS DE ATOS ÍMPROBOS.
3. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.”
(Embargos de Declaração do Recurso Especial
1482497/PA, 2ª Turma do superior Tribunal
de Justiça, Relator o Ministro Mauro
Campbell Marques, jul. em 18.12.2014, pub.
no DJ de 19.12.2015).
Ao propósito, os eminentes jurisconsultos
Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, ambos membros do
Parquet Fluminense, bem esclarecem a questão, quando
ensinam que:
“QUANTO AO PERICULUM IN MORA, PARTE DA
DOUTRINA SE INCLINA NO SENTIDO DE SUA
IMPLICITUDE, DE SUA PRESUNÇÃO PELO ART. 7º
DA LEI DE IMPROBIDADE, O QUE DISPENSARIA O
AUTOR DE DEMOSTRAR A INTENÇÃO DE O AGENTE
DILAPIDAR OU DESVIAR O SEU PATRIMÔNIO COM
VISTAS A AFASTAR A REPARAÇÃO DO DANO. NESTE
SENTIDO, ARGUMENTA FÁBIO OSÓRIO MEDIDA QUE
“O PERICULUM IN MORA EMERGE, VIA DE REGRA,
DOS PRÓPRIOS TERMOS DA INICIAL, DA GRAVIDADE
DOS FATOS, DO MONTANTE, EM TESE, DOS
PREJUÍZOS CAUSADOS AO ERÁRIO”, SUSTENTANDO,
OUTROSSIM, QUE “A INDISPONIBILIDADE
PATRIMONIAL É MEDIDA OBRIGATÓRIA, POIS
TRADUZ CONSEQUÊNCIA JURÍDICA DO
PROCESSAMENTO DA AÇÃO, FORTE NO ART. 37,
97
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
97
§4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL”. DE FATO,
EXIGIR A PROVA, MESMO QUE INDICIÁRIA, ART.
37, §4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL”. DE FATO,
EXIGIR A PROVA, MESMO QUE INDICIÁRIA, DA
INTENÇÃO DO AGENTE DE FURTAR-SE À
EFETIVIDADE DA CONDENAÇÃO REPRESENTARIA, DO
PONTO DE VISTA PRÁTICO, O IRREMEDIÁVEL
ESVAZIAMENTO DA INDISPONIBILIDADE PERSEGUIDA
EM NÍVEL CONSTITUCIONAL E LEGAL. COMO MUITO
BEM PERCEBIDO POR JOSÉ ROBERTO DOS SANTOS
BEDAQUE, A INDISPONIBILIDADE PREVISTA NA LEI
DE IMPROBIDADE É UMA DAQUELAS HIPÓTESES NAS
QUAIS O PRÓPRIO LEGISLADOR DISPENSA A
DEMONSTRAÇÃO DO PERIGO DO DANO. DESSE MODO,
EM VISTA DA REDAÇÃO IMPERATIVA ADOTADA PELA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (ART. 37, §4º) E PELA
PRÓPRIA LEI DE IMPROBIDADE (ART. 7º), CREMOS
ACERTADA TAL ORIENTAÇÃO, QUE SE VÊ
CONFIRMADA PELA MELHOR JURISPRUDÊNCIA.”
(Emerson Garcia e Rogerio Pacheco Alves,
Improbidade Administrativa, 4ª ed., Lumem
Iuris, 2008, pag. 751).
Aliás, a jurisprudência desse Colendo
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo é tranquila em
determinar a indisponibilidade de bens nos casos de ação
civil pública cujo fundamento seja o dano ao erário
público, senão vejamos:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO – IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA – ACUSAÇÃO DE ENVOLVIMENTO
DE EMPRESA DE GRANDE PORTE –
98
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
98
INDISPONIBILIDADE DE BENS – DEMORA NO
AJUIZAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA NÃO
SIGNIFICA AUSÊNCIA DE ELEMENTOS
PROBATÓRIOS, MAS ANTES PRUDÊNCIA DE NÃO SE
FAZER ACUSAÇÕES EVENTUALMENTE INFUNDADAS –
É CABÍVEL A MEDIDA DE INDISPONIBILIDADE
AINDA QUE NÃO HAJA DILAPIDAÇÃO, DESDE QUE
PRESENTES OS PRESSUPOSTOS GERAIS DAS
MEDIDAS DE CAUTELA: "FUMUS BONI IURIS" E
"PERICULUM IN MORA", ESTE ÚLTIMO PRESUMIDO
PELA CF (ART. 37, § 4º) – DESNECESSÁRIO
AGUARDAR QUE O ENVOLVIDO COMECE A DILAPIDAR
SEU PATRIMÔNIO PARA, SÓ ENTÃO, AJUIZAR A
MEDIDA; TAL POSSIBILIDADE A TORNARIA INÓCUA
E ENFRAQUECERIA O OBJETIVO DO LEGISLADOR –
INDIFERENTE QUE HAJA OU NÃO FUNDADO RECEIO
DE FRAUDE OU INSOLVÊNCIA, PORQUE O PERIGO É
ÍNSITO AOS PRÓPRIOS EFEITOS DO ATO
ÍMPROBO...” (Agravo de Instrumento 2032678-
15.2015.8.26.0000, Relator o Desembargador
Pontes Neto, 8ª Câmara de Direito Público
do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, jul. em 21.07.2015, reg. em
22.07.2015).
Vale lembrar que esta Comarca tem inúmeras
ações de improbidade, a maioria em fase de execução, porém
quase todas infrutíferas, tendo em vista que tal medida não
foi deferida durante o bojo do processo de conhecimento, o
que torna mais do que evidente a necessária concessão da
indisponibilidade.
99
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
99
Ressalte-se que a indisponibilidade servirá
para garantir o futuro ressarcimento ao erário, que será
devidamente materializado em sede de liquidação de
sentença, quando da execução da sentença condenatória.
Ademais, a decretação da indisponibilidade,
caso seja deferida, não significa prejulgamento do pedido,
mas sim medida preventiva, que visa somente assegurar
futuro ressarcimento ao erário público.
Destarte, não há duvidar da necessária
decretação de indisponibilidade dos bens dos réus.
VI – DO NECESSÁRIO AFASTAMENTO DO CARGO PÚBLICO –
IMPRESCINDÍVEL ANÁLISE DE DOCUMENTOS EXISTENTES NA CÂMARA
MUNICIPAL – PROVÁVEL MAQUIAMENTO DAS CONTAS PÚBLICAS –
NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DE AFASTAMENTO POR MAIS DE 100
(CEM) METROS DO ÓRGÃO PÚBLICO
Com efeito, por tudo que foi exposto nesta
exordial, torna-se imprescindível a concessão da medida
cautelar de afastamento do cargo nos termos do artigo 20,
Parágrafo Único, da Lei 8.429/92.
Isso porque, tal medida tem o caráter de
assegurar a boa instrução probatória, sendo certo que a
permanência dos réus no cargo, por evidente, vai
atrapalhar, e muito, a análise das demais provas.
Saliente-se que, muito embora o Ministério
Público tenha requisitado os procedimentos de adiantamento
de diárias, ainda faltam muitos documentos que devem ser
analisados, de modo que a permanência dos réus no cargo
público vai inviabilizar a realização de suas análises.
100
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
100
Cumpre destacar que o réu ALAN PATRICK
RIBEIRO CORREA exerce suas funções no setor de
contabilidade da Câmara Municipal, tendo acesso a todos os
documentos relativos aos gastos do Órgão e pode muito bem,
a mando dos demais réus, maquiar o rombo aos cofres
públicos praticados por eles.
O réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR, por sua
vez, por ser o Presidente da Câmara Municipal, exerce medo
e receio aos demais servidores da Casa de Leis, sendo que
tal fato inibe os referidos funcionários de prestarem
depoimentos sólidos sobre as irregularidades que lá
ocorrem.
Os réus EDISON ALVES DA SILVA, EDUARDO DOS
SANTOS SALES e JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS são funcionários
da Casa de Leis, mas faziam parte do esquema, e podem, a
mando do Presidente, exercer algum tipo de coação aos
demais funcionários do Órgão, criando embaraços e
obstáculos para o desenrolar da instrução processual.
Cumpre destacar que, no curso do inquérito,
o Presidente da Casa de Leis tentou nitidamente atrapalhar
a investigação, expedindo ofício solicitando a devolução
dos autos originais à Câmara Municipal, o que demonstra em
concreto sua intenção de criar empecilho à boa instrução
processual, fundamentando não só seu afastamento, como
também o dos outros réus.
101
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
101
Quanto aos demais réus vereadores, também
exercem ascendência hierárquica sobre todos os servidores
102
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
102
da casa, o que incute medo e temor nas testemunhas já
ouvidas e as que prestarão esclarecimentos.
Ao propósito, a jurisprudência desse Egrégio
Tribunal de Justiça é tranquila no sentido de determinar a
afastabilidade do cargo público dos réus nos caso de
possível ameaça à instrução processual, in verbis:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL
PÚBLICA - ACUSAÇÃO DE COMETIMENTO DE ATO
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AFASTAMENTO
CAUTELAR DO PREFEITO MUNICIPAL - MEDIDA
EXCEPCIONAL, DESTINADA AO ASSEGURAMENTO DA
INSTRUÇÃO PROCESSUAL - EXEGESE DO
ARTIGO 20, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI
Nº 8.429/92 - EXCEPCIONALIDADE JUSTIFICADA
NO CASO DOS AUTOS, ANTE A NOTÍCIA DE
PRESSÃO DA DEFESA SOBRE TESTEMUNHAS
OUVIDAS NA FASE POLICIAL - FUNDADO TEMOR
NO SENTIDO DE QUE, RETORNANDO AO CARGO, O
PREFEITO POSSA ABUSAR DO PODER INERENTE AO
MANDATO ELETIVO PARA FRAUDAR E/OU
TUMULTUAR A INSTRUÇÃO PROCESSUAL
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS E
DOUTRINÁRIOS - RECURSO NÃO PROVIDO.”
(Agravo de Instrumento 0246438-
57.2010.8.26.0000, 5ª Câmara de Direito
Público do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, Relator o Desembargador
Fermino Magnani Filho, jul. em 25.10.2010,
reg. em 03.11.2010).
103
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
103
Ademais, A MANUTENÇÃO DOS RÉUS EM SEUS
RESPECTIVOS CARGOS PÚBLICOS PODE PERMITIR QUE ELES CRIEM
PROVAS FALSAS, EM PROVEITO DELES, COM O FITO DE REFUTAR AS
ALEGAÇÕES DA PRESENTE DEMANDA, O QUE TAMBÉM SERVE DE
FUNDAMENTO PARA O AFASTAMENTO.
Destarte, não há duvidar da imprescindível
decretação de afastamento do cargo público dos réus,
determinando-se que eles não possam chegar perto da Câmara
Municipal de Rosana por pelo menos 100 (cem) metros.
VII – DA CONCLUSÃO
São tais as razões, portanto, que fazem com
que o Ministério Público pugne pelo seguinte:
VII. 1 - DAS LIMINARES:
A – A concessão liminar da medida de indisponibilidade dos
bens dos réus, pessoas físicas, com base no artigo 7º,
Parágrafo Único, da lei 8.429/92, haja vista a existência
de evidentes atos de improbidade administrativa, com o fito
de assegurar o ressarcimento ao erário público, limitados a
R$ 341.480,61 (trezentos e quarenta e um mil, quatrocentos
e oitenta e sessenta e um centavos), eis que todos são
solidariamente responsáveis pelo dano causado ao erário
público;
B – A concessão liminar da medida de afastamento do cargo
público, não podendo os réus, também, se aproximarem da
Câmara Municipal de Rosana por 100 (cem) metros;
C – A concessão de liminar, a fim de que todos os
vereadores e servidores da Câmara Municipal não possam mais
104
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
104
realizar nenhuma viagem com dinheiro público, até que as
Leis Municipais nº 270/1995 e nº 272/1995 sejam devidamente
regulamentadas ou elaboradas novas leis sobre a matéria;
VII. 2 - NO MÉRITO
D - A notificação dos réus para que apresentem resposta
preliminar nos termos do artigo 17, §7º, da lei 8.429/92;
E – Após as respostas, ou ultrapassado o prazo, o
recebimento da exordial, determinando-se a citação dos réus
para que apresentem contestação;
F – A procedência do pedido, a fim de que:
- Quanto ao réu ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR:
I - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, haja vista que utilizou verbas públicas em
benefício próprio, às penas do artigo 12, inciso I, da
referida lei, ou, atuando como soldado de reserva, nas
penas do artigo 12, inciso III, da mesma lei, haja vista a
violação aos princípios da administração pública;
II – seja condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 10, inciso II, da lei
8.429/92, eis que permitiu que pessoa física utilizasse
bens e rendas públicas, sem a observância das formalidades
legais, às penas do artigo 12, inciso II, da referida lei,
ou, atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo
12, inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
105
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
105
III – seja condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 10, inciso X, da lei
8.429/92, eis que agiu de forma negligente na conservação
do patrimônio público, às penas do artigo 12, inciso II, da
referida lei ou, atuando como soldado de reserva, nas penas
do artigo 12, inciso III, da mesma lei, haja vista a
violação aos princípios da administração pública;
IV – seja condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 10, inciso XI, da lei
8.429/92, eis que liberou verba pública de forma irregular,
às penas do artigo 12, inciso II, da referida lei, ou,
atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo 12,
inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
V - seja condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 10, inciso XII, da lei
8.429/92, eis que permitiu que terceiro se enriquecesse
ilicitamente, às penas do artigo 12, inciso II, da referida
lei ou, atuando como soldado de reserva, nas penas do
artigo 12, inciso III, da mesma lei, haja vista a violação
aos princípios da administração pública;
- Quanto à ré ALINE ROSA APARECIDA MORAES:
I – seja condenada pela prática do ato de improbidade
administrava previsto no artigo 9º, inciso XI, da lei
8.429/92, pois incorporou verba pública ao seu patrimônio,
às penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou,
atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo 12,
inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
106
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
106
II - seja condenada pela prática do ato de improbidade
administrava previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou, em proveito próprio, bens, rendas,
verbas e valores integrantes do acervo público, às penas do
artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando como
soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso III, da
mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
- Quanto ao réu CÍCERO SIMPLÍCIO:
I – seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
II - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrava previsto no artigo 9º, inciso XI, da lei
8.429/92, pois incorporou verba pública ao seu patrimônio,
às penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou,
atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo 12,
inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
- Quanto ao réu WALTER GOMES DA SILVA:
I – seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
107
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
107
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
II - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrava previsto no artigo 9º, inciso XI, da lei
8.429/92, pois incorporou verba pública ao seu patrimônio,
às penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou,
atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo 12,
inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
- Quanto ao réu FILOMENO CARLOS TOSO:
I – seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
II - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrava previsto no artigo 9º, inciso XI, da lei
8.429/92, pois incorporou verba pública ao seu patrimônio,
às penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou,
atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo 12,
inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
- Quanto ao réu VALDEMIR SANTANA DOS SANTOS:
I – seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
108
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
108
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
II - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrava previsto no artigo 9º, inciso XI, da lei
8.429/92, pois incorporou verba pública ao seu patrimônio,
às penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou,
atuando como soldado de reserva, nas penas do artigo 12,
inciso III, da mesma lei, haja vista a violação aos
princípios da administração pública;
- Quanto ao réu EDISON ALVES DA SILVA:
I - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
II – seja condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 10, inciso X, da lei
8.429/92, eis que agiu de forma negligente na conservação
do patrimônio público, às penas do artigo 12, inciso II, da
referida lei ou, atuando como soldado de reserva, nas penas
do artigo 12, inciso III, da mesma lei, haja vista a
violação aos princípios da administração pública;
- Quanto ao réu ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA:
109
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
109
I - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
- Quanto ao réu EDUARDO DOS SANTOS SALES:
I - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
- Quanto ao réu JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS:
I - seja condenado pela prática do ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 9º, inciso XII, da lei
8.429/92, pois usou verba pública em benefício próprio, às
penas do artigo 12, inciso I, da referida lei, ou, atuando
como soldado de reserva, nas penas do artigo 12, inciso
III, da mesma lei, haja vista a violação aos princípios da
administração pública;
II – seja condenado pela prática de ato de improbidade
administrativa previsto no artigo 10, inciso X, da lei
8.429/92, eis que agiu de forma negligente na conservação
do patrimônio público, às penas do artigo 12, inciso II, da
referida lei ou, atuando como soldado de reserva, nas penas
110
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
110
do artigo 12, inciso III, da mesma lei, haja vista a
violação aos princípios da administração pública;
- Quanto ao MUNICÍPIO DE ROSANA
I – Que sejam declaradas nulas as Resoluções nº 06/2009 e
nº 03/2014, ambas oriundas da Câmara Municipal, órgão do
Município sem personalidade jurídica.
- Quanto aos réus ROBERTO FERNANDES MOYA JÚNIOR,
ALINE ROSA APARECIDA MORAES, CÍCERO SIMPLÍCIO, WALTER GOMES
DA SILVA, FILOMENO CARLOS TOSO, VALDEMIR SANTANA DOS
SANTOS, EDISON ALVES DA SILVA, ALAN PATRICK RIBEIRO CORREA,
EDUARDO DOS SANTOS SALES e JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS:
I – sejam condenados, de forma solidária, a pagar
indenização fixada por este eminente juízo, em valor não
inferior a R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil
reais), a título de danos morais coletivos;
E – A condenação dos réus ao pagamento de custas e demais
despesas processuais;
VIII – DAS PROVAS
Requer o Ministério Público a produção de
todas as provas admitidas pelo direito, em especial o
depoimento pessoal dos réus.
IX – DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ 2.841.480,61
(dois milhões, oitocentos e quarenta e um mil, quatrocentos
e oitenta reais e sessenta e um centavo), valor do dano
moral coletivo somado ao valor do dano ao erário praticado
111
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ROSANA
111
pelos réus, em cumprimento ao artigo 258 do Código de
Processo Civil.
Rosana, 05 de dezembro de 2015.
Renato Queiroz de Lima
Promotor de Justiça