proposta de indicadores de desempenho utilizando o
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PROPOSTA DE INDICADORES DE
DESEMPENHO UTILIZANDO O
BALANCED SCORECARD: O CASO DE
UMA ACADEMIA DE GINÁSTICA
Bruno Dorneles de Castro (UFMG )
Maressa Nunes Ribeiro Tavares (UFOP )
Este estudo teve como principal objetivo propor um modelo de
indicadores de desempenho que englobe mais aspectos, além do
financeiro, para a mensuração da performance de uma academia
localizada em João Monlevade - MG. Atualmente, a academiaa X leva
em consideração apenas o desempenho financeiro, e uma vez que o
mercado está cada vez mais competitivo, torna-se cada vez mais
relevante mensurar outros aspectos da organização, além do
financeiro. Com base em uma pesquisa exploratória e de abordagem
qualitativa, com grandes semelhanças a um estudo de caso, foram
realizadas diversas análises dos aspectos que caracterizam a prestação
dos serviços da academia e as estratégias adotadas para o
gerenciamento do desempenho organizacional. Para a criação dos
indicadores, foi proposto o uso do Balanced Scorecard (BSC), a fim de
que houvesse um direcionamento estratégico que levasse a academia a
mensurar os aspectos mais relevantes para o atingimento de seus
objetivos estratégicos. Os indicadores propostos foram apresentados à
gerente e foram aprovados. Porém, a implementação destes ficou
condicionada a fatores financeiros e humanos, devido à necessidade de
adaptação às novas atividades e de treinamento dos envolvidos para a
correta coleta e análise de dados.
Palavras-chave: Estratégia em serviços, balanced scorecard,
indicadores de desempenho
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
O cuidado com a saúde e a busca incessante pela estética ideal são temas cada vez mais
frequentes na vida de qualquer pessoa. Por isso, através dos variados meios de comunicação,
pode-se perceber o grande número de estabelecimentos, de produtos e de profissionais
relacionados a esses temas, uma vez que há uma constante busca pessoal pelo alcance de
padrões sociais ou de satisfação e de motivação própria.
Dentro desse contexto, Corrêa e Ferreira (2009) salientam que, uma vez que as academias de
ginástica configuram uma forma de negócio, elas também enfrentam dificuldades
mercadológicas, sendo constantemente ameaçadas por novos concorrentes ou por substitutos,
como os casos de condomínios e universidades que possuem academias próprias em seu
negócio.
Com a realização de uma profunda análise sobre a situação da academia X, localizada na
cidade de João Monlevade - MG, cuja mensuração de desempenho se limita apenas a aspectos
financeiros, este estudo tem como objetivo, propor indicadores de desempenho, uma vez que,
de acordo com Falqueto (2001), a gestão de um negócio deve incluir também aspectos
internos e externos da organização, considerando informações sobre satisfação dos clientes,
desenvolvimento de competências e alinhamento da missão e da visão da empresa com o
processo de gestão.
Portanto, o presente estudo utiliza a abordagem da metodologia do Balanced Scorecard, que
conforme seus criadores, Kaplan e Norton (1997, p. 2), “mede o desempenho organizacional
sob quatro perspectivas equilibradas: financeira, do cliente, dos processos internos e do
aprendizado e crescimento”.
2. Referencial teórico
2.1. A gestão de serviços
As operações de serviço estão presentes em vários momentos da vida das pessoas, e são cada
vez mais relevantes tanto no que diz respeito à busca pela qualidade de vida quanto no
desenvolvimento da economia mundial (MELLO et al, 2010, p. 2).
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Fitzsimmons e Fitzsimmons (2010, p. 26) definem serviço como “uma experiência perecível,
intangível, desenvolvida para um consumidor que desempenha o papel de coprodutor”.
Já Gronroos (1995, apud MOURA; ALLIPRANDINI, 2004) o definem como “uma atividade
de natureza mais ou menos intangível – que normalmente, mas não necessariamente, acontece
durante as interações entre clientes e empregados de serviços.”
Segundo Corrêa e Caon (2002, p. 51), há uma busca, pelas empresas, em melhorar cada vez
mais o “pacote de valor” ofertado aos clientes. Tal pacote inclui tanto bens físicos quanto
serviços, o que dificulta o gerenciamento das operações, devido à barreira pouco aparente que
divide essas duas facetas (BUFFA, 1983 apud MELLO et al, 2010, p. 6). A Figura 1 mostra
alguns exemplos da divisão de um “pacote de valor”, que vai desde a extração de minério de
ferro (altamente ligada ao produto, com pouca ênfase no serviço), até a psicanálise, que
representa uma forma pura de serviço.
Figura 1 - Pacotes de valor entregues ao cliente variam na proporção entre produtos físicos e serviços
Fonte: Adaptado de Corrêa e Caon (2002)
Corrêa e Caon (2002, p. 52) afirmam que, tradicionalmente, as três principais características
dos serviços são:
A simultaneidade de produção e consumo;
A necessária participação do cliente para a produção;
A intangibilidade.
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Deste modo, a simultaneidade de produção e consumo dos serviços impossibilita a
estocabilidade de um serviço (CORRÊA; CAON, 2002, p. 57).
Já a questão da necessidade da presença do cliente para a prestação de um serviço é
contestada por Corrêa e Caon (2002, p. 57), pois há a necessidade de apenas “algum tipo de
contato direto com um aspecto” do serviço realizado.
Por outro lado, a intangibilidade dos serviços representa, para Gianesi e Corrêa (1994, p. 32),
uma grande dificuldade para gerentes e funcionários avaliarem os resultados e a qualidade dos
serviços ofertados, dada a subjetividade da percepção de qualidade do serviço, pelo cliente.
2.2. A estratégia em serviços
Os elementos essenciais que caracterizam a definição de uma visão estratégica em serviços
são “a ideia de um empreendedor e uma necessidade não atendida” (FITZSIMMONS;
FITZSIMMONS, 2010, p. 59).
Diante de tal cenário, Gianesi e Correa (1994, p. 106) salientam que a estratégia deve ser
formulada, necessitando de um processo lógico, procedimental e prático, para que essa tarefa
possa tornar-se sistemática garantindo o poder de competitividade da empresa.
Segundo Porter (1989, p. 1), a estratégia competitiva busca o estabelecimento de uma forma
lucrativa e sustentável para combater as forças que ditam a concorrência mercadológica.
Para classificar as empresas dentro desse contexto, Porter (1980, apud FITZSIMMONS;
FITZSIMMONS, 2010, p. 63) atestou a existência de três estratégias competitivas, cujos
conceitos se aplicam bem às empresas de serviço:
Liderança global em custos, na qual se busca eficiência em escala e custos
extremamente controlados;
Diferenciação, cujo objetivo é criar a lealdade do cliente. Nessa estratégia, o cliente
aceita pagar por um preço maior pelo serviço, dada a característica que torna o serviço
“diferente”;
Focalização, cujo objetivo é usar uma das estratégias anteriores a um determinado
segmento do mercado.
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Porter (1989, p. 31) também afirma que uma empresa conquista uma vantagem competitiva
quando executa “atividades estrategicamente importantes de uma forma mais barata ou
melhor do que a concorrência”.
Uma das formas de se investigar o cenário de uma empresa é a Análise SWOT. Criada por
Albert Humphrey, (MENSHHEIN, 2006 apud SANTOS, 2008), essa técnica, cujo nome é um
acrônimo das palavras Strenghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities
(oportunidades) e Threats (ameaças), é uma ferramenta de suporte ao planejamento
estratégico de uma empresa (ANSOFF; McDONNELL, 1984 apud TONINI; SPÍNOLA;
LAURINDO, 2007). Ela é composta por duas partes: o ambiente externo à organização,
representado pelas oportunidades e pelas ameaças; e o ambiente interno, representado pelas
forças e fraquezas da organização.
De acordo com Martins e Turrioni (2002, apud SANTOS, 2008), a análise SWOT serve para
cruzar os quatro fatores que a compõe, a fim de construir uma matriz estratégica (Figura 2).
Figura 2 – Configuração da matriz SWOT
Fonte: Bastos, 2014
2.3. O Balanced Scorecard
No ano de 1990, o Instituto Nolan Norton, a unidade de pesquisa da KPMG, financiou um
estudo com o objetivo de desenvolver um novo modelo de medição de desempenho. Assim,
David Norton e Robert Kaplan desenvolveram o Balanced Scorecard (BSC), que reflete em
um “equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazos, entre medidas financeiras e não-
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financeiras, entre indicadores de tendências e ocorrências, e entre as perspectivas interna e
externa” (KAPLAN; NORTON, 1997).
De acordo com os autores, o Balanced Scorecard “traduz a missão e a estratégia das empresas
num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um sistema de
medição e gestão estratégica”, de modo que os objetivos e as medidas de cada scorecard
evidencie o desempenho organizacional sobre quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos
processos internos e de aprendizado e crescimento.
Hora (2007, p. 50), relaciona cada perspectiva do BSC ao elo da cadeia de valor que a
perspectiva influencia, ao conceito que deve ser seguido por cada perspectiva e ao
questionamento que cada uma deve responder e esclarecer. O Quadro 1 mostra uma síntese
desta relação.
Quadro 1 - As quatro perspectivas do BSC e seus objetivos
Fonte: Adaptado de Almeida (2008)
O BSC é considerado por muitas empresas, como um sistema de gestão estratégica
(KAPLAN; NORTON, 1997, p. 9). A fim de reunir todos os scorecards estratégicos de uma
empresa, Kaplan e Norton (2000, p. 81) criaram também o mapa estratégico, que traz, numa
cadeia lógica de causa e efeito, a conexão dos indicadores com os resultados almejados por
cada um desses.
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Kaplan e Norton (2000, p. 84) afirmam também que a estratégia deve começar “com a missão
da organização, que deve ser traduzida para que as ações individuais com ela se alinhem e lhe
proporcionem apoio”. Os autores definem missão como “o ponto de partida que esclarece a
razão de ser da organização”. Além da missão, os valores essenciais e a visão da empresa, que
os autores conceituam como “o quadro do futuro que ilumina sua trajetória e ajuda a
compreender por que e como respaldar os esforços da organização”, contribuem para a
construção da estratégia. A Figura 3 mostra a relação entre esses conceitos e a cadeia lógica
para o alcance de resultados estratégicos, que servem como base para a construção do mapa
estratégico.
Figura 3 – A tradução da missão em resultados estratégicos
Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2000)
3. Metodologia
A abordagem da pesquisa é classificada como qualitativa, uma vez que não há fórmulas
predefinidas para orientar os pesquisadores e a análise dos dados depende muito da
capacidade e do estilo do pesquisador (GIL, 2008, p. 175).
No que diz respeito aos objetivos, a pesquisa é exploratória, que segundo Selltizet al, (1967,
apud GIL, 2007, p.41), “proporciona maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-
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lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Dada a sua flexibilidade, esse tipo de pesquisa
aumenta a subjetividade da análise e enaltece a percepção do pesquisador.
O trabalho realizado se assemelha a um estudo de caso, o qual Gil (2007, p. 54) define como
“um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetivos, de maneira que permita seu
amplo e detalhado conhecimento”. O Quadro 2 mostra o cronograma das atividades
desenvolvidas neste estudo, que foram divididas, basicamente, em três etapas.
Quadro 2 – Cronograma de atividades para a apresentação dos indicadores de desempenho propostos
Passo Etapas Atividades
Duração das
atividades
sequenciadas
Resultados esperados
Entrevistar a gerente para
entendimento da estratégiaPrimeira semana
Classificar objetivos sob cada
perspectiva4 semanas
Realizar análise SWOT 1 semana
Construir mapa estratégico 1 semana
Analisar indicadores de
desempenho existentes 2 semanas
Observar a prestação do serviço
sob cada perspectiva1 semana
4 Apresentação final dos indicadores
Parecer final da gerente
sobre a viabilidade e a
relevância do uso dos
indicadores
Discussão sobre os indicadores
com a gerente1 semana
3 Definição das iniciativas de melhorias
Propostas de iniciativas
estratégicas para
proporcionar o bom
desempenho dos
indicadores estabelecidos
2Definição dos indicadores de desempenho
e de suas respectivas metas
Indicadores sob cada
perspectiva, relatório
sobre os aspectos da
prestação do serviço e
discussão sobre metasElaborar proposta final dos
indicadores de desempenho1 semanas
4 semanas (uma para
cada perspectiva)
Pesquisar técnicas de melhoria dos
indicadores de desempenho
estabelecidos
1Definição e entendimento da visão
estratégica
Informações gerais da
empresa, definição dos
objetivos estratégicos,
matriz SWOT e mapa
estratégico
Fonte: Elaborado pelo autor
A academia de ginástica X, localizada na cidade de João Monlevade (MG) e fundada em
2003, é uma das referências no mercado fitness de João Monlevade e região. Localizada no
centro comercial da cidade, a academia dispõe de ótima localização para um público alvo bem
diversificado.
4. Resultados e discussões
4.1. Etapa 1: A empresa e suas estratégias
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4.1.1. A academia X
Atualmente, são ofertados diversos tipos de serviços, como musculação, dança do ventre,
entre outros. Além dos serviços, também são ofertados produtos relacionados às atividades
físicas, como hidrotônicos, camisas e sucos.
A academia não possui contratos com seus clientes, o que possibilita ao cliente poder usufruir
do serviço pelo período que preferir (podendo ser diário, semanal ou mensal). Em todos os
casos, o cliente deve pagar pelo serviço antes de usufruir o mesmo.
4.1.2. A análise SWOT
Inicialmente, foram identificados todos os aspectos que influenciam no cenário em que a
Academia X se encontra. Para tal, utilizou-se a análise SWOT, identificando os pontos fortes
e fracos da academia e as oportunidades e ameaças que a envolvem. A análise contribuiu
valiosamente para a identificação dos objetivos estratégicos da empresa (Quadro 3).
Quadro 3 – A análise SWOT da academia X
Fonte: Elaborado pelo autor
Dentre os pontos fortes, destaca-se a força do marketing da academia, uma vez que esta é
amplamente conhecida na cidade, por causa de sua localização na área central da cidade. Em
relação aos pontos fracos, salienta-se o enfoque maciço na análise de desempenho na área
financeira, excluindo outras abordagens.
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Com base nas oportunidades, considera-se a construção de outra unidade da academia, devido
à grande demanda que há na cidade por esses serviços. Já em relação às ameaças, destacam-se
as várias academias que surgiram na cidade nos últimos anos.
4.1.3 Os objetivos estratégicos
A estratégia competitiva adotada pela academia pode ser considerada como sendo de
diferenciação, uma vez que a empresa prima pela qualidade no atendimento e na
personalização do serviço.
Embora a estratégia competitiva da academia seja clara, ela não possuía missão, visão e
valores definidos explicitamente, os quais foram formulados em conjunto com o pesquisador,
a fim de dar maior legitimidade para o posicionamento estratégico da academia, perante
clientes e possíveis investidores.
Portanto, os principais valores explicitados pela empresa são “o compromisso, o respeito e o
amor pela atividade física”. Já a missão e a visão formalizadas podem ser visualizadas na
Figura 4.
Através da definição desses três fatores importantíssimos para o entendimento da estratégia da
academia, foi possível também construir o mapa estratégico, com os objetivos classificados
sob cada uma das perspectivas do Balanced Scorecard (Figura 4). Seguindo as características
do mapa estratégico, os objetivos foram estruturados em uma relação de causa e efeito.
Figura 4 – Mapa estratégico da academia X
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Fonte: Elaborado pelo autor
Os objetivos relacionados à aprendizagem e crescimento englobam o desenvolvimento de
competências, a motivação dos funcionários e o clima organizacional. Esses, por sua vez,
influenciam positivamente na qualidade dos serviços prestados e no adequado
dimensionamento e alocação de recursos humanos. Através da correta gestão da demanda,
pode-se identificar o número de clientes fidelizados, além de possibilitar um controle mais
detalhado dos inadimplentes. Por outro lado, a qualidade do serviço prestado causa grande
impacto na imagem da organização, influenciando no interesse de potenciais e atuais clientes.
Todos esses objetivos culminam na perspectiva financeira da organização, cujo objetivo é
aumentar a lucratividade e possibilitar investimentos.
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4.2. Etapa 2: Definição dos indicadores de desempenho
4.2.1. Indicadores existentes
A academia possui uma abordagem de mensuração de desempenho totalmente voltada ao
controle de custos e receitas. A realização periódica desse controle tem se mostrado eficaz,
em razão da boa situação financeira em que a academia se encontra, ainda que haja casos de
inadimplência.
Em relação às outras abordagens, a academia não possui um controle formalizado, sendo que
o único meio empregado para analisar outros aspectos da organização é o uso de pesquisas de
satisfação. Tal técnica é usada esporadicamente e, segundo a própria gerente, necessita
urgentemente de uma reestruturação.
Outro ponto importante nessa análise foi o fato de a empresa possuir um software para
gerenciamento de dados e informações. Apesar de haver várias funções em sua tela inicial,
apenas a função de relatório de informações financeiras está habilitada.
4.2.2. A prestação do serviço
Ao analisar a prestação do serviço, foi possível perceber claramente a importância do
atendimento personalizado prestado pelos funcionários, através da expressão de satisfação de
cada cliente, ao ser tratado de maneira particular. Outro aspecto percebido foi a flexibilidade
na negociação da contratação dos serviços, no que tange à pagamento e à duração.
Salienta-se também a variação na distribuição da demanda nos horários de funcionamento do
estabelecimento. A academia vivenciou uma mudança nos horários de pico e ociosidade. O
horário da manhã (entre 6 e 8 horas), que era de maior ociosidade, passou a ser o mais
frequentado, e o horário da tarde (entre 18 e 20 horas), que era o de maior demanda, passou a
ser menos movimentado. Tal fato deve-se, possivelmente, pela nova preferência de horário
das trabalhadoras domésticas.
Os funcionários são alocados de acordo com essa variação de demanda, sendo realizadas
constantes análises da ocupação do espaço físico da academia pelos clientes. Portanto,
horários de alta demanda possuem mais funcionários, e de menor demanda, poucos
funcionários trabalham.
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Assim, foram realizadas observações nos dois horários citados anteriormente. O Quadro 4
mostra os aspectos positivos e negativos sob cada uma das perspectivas, levantados nessas
pesquisas.
Quadro 4 – Aspectos da prestação do serviço da academia X, com base na variação da demanda
Fonte: Elaborado pelo autor
De acordo com as pesquisas de campo, foi possível constatar os seguintes aspectos:
Na perspectiva financeira, destaca-se a influência da variação da demanda no nível de
ociosidade dos funcionários;
Na perspectiva dos clientes, foi possível observar a influência da alta demanda na
personalização do serviço e na interação entre os clientes;
Na perspectiva dos processos internos, destaca-se a correlação entre produtividade e
qualidade do serviço (diferença entre satisfazer o cliente e atendê-lo “por obrigação”);
Na perspectiva de aprendizagem e crescimento, destaca-se a maior interação entre
clientes e funcionários, quando há baixa demanda.
4.2.3. A proposta dos indicadores de desempenho
Através da análise dos aspectos da prestação do serviço, levantados nas pesquisas de campo, e
de pesquisas bibliográficas sobre indicadores de desempenho utilizados em outras academias,
foram propostos dez indicadores de desempenho para a academia X. O Quadro 5 mostra tais
indicadores, sob cada uma das quatro perspectivas e as fórmulas para calculá-los.
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Quadro 5 – Indicadores propostos para a academia X
Fonte: Elaborado pelo autor
Em relação aos indicadores financeiros, além do lucro obtido pela academia, que continua a
ser, logicamente, o indicador mais importante da organização, houve a proposta de criação de
um indicador que mensurasse o quanto a academia está investindo no seu crescimento
econômico.
Os objetivos da perspectiva dos clientes têm o propósito de mensurar o nível de fidelidade dos
clientes atuais, a potencialidade de contratação de serviços pelas pessoas que visitam a
academia e o percentual de clientes que estão em débito com a academia.
Em relação aos processos internos, o índice de ocupação tem o intuito de melhorar a alocação
de funcionários. Já o índice de satisfação pelo serviço mensura, por meio de uma pesquisa de
satisfação, aspectos sobre o desempenho dos funcionários.
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Na perspectiva de aprendizagem e crescimento, o indicador de frequência de reuniões
mensura o quanto os funcionários se encontram para trocar conhecimentos e experiências
relacionadas à organização. Por outro lado, o indicador de frequência de treinamentos avalia o
desenvolvimento profissional dos funcionários. Por fim, o índice de presença em
confraternizações busca analisar o clima organizacional da academia e o grau de interação
entre os funcionários.
O uso do software Microsoft Office Excel pode ser muito útil, para que seja possível
armazenar os dados em planilhas e torná-los de fácil acesso, quando solicitados. Recomenda-
se que os indicadores propostos recebam atualizações diárias, e que sejam analisados e
comparados aos desempenhos mensais e às metas gerenciais estabelecidas.
Após a definição dos indicadores, houve uma discussão a respeito das metas. O estudo não
trouxe metas pré-estabelecidas, uma vez que a fixação das metas necessita de mais
aprofundamento teórico e prático, sugerindo a realização de outros estudos específicos. Para a
definição delas, sugere-se fixar metas com base na análise dos próprios indicadores e, através
dos resultados, analisar o que precisa (ou tem potencial) para melhorar, e o que não seria
possível de se alcançar.
4.3. Etapa 3: Iniciativas para melhorias
Após definir as estratégias e os indicadores para a academia, fez-se o levantamento de
iniciativas, a fim de ajudar a manter o alto nível dos indicadores propostos, seja de modo
preventivo ou de modo corretivo.
Esta etapa consistiu em reunir iniciativas para realizar melhorias de forma contínua na
academia, uma vez que os indicadores, apesar de mensurarem o desempenho, não trazem
melhorias concretas nos resultados sem que haja ações e iniciativas atreladas a eles. O Quadro
6 apresenta tais sugestões.
Quadro 6 – Iniciativas para a melhoria contínua da academia X
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Fonte: Elaborado pelo autor
Na perspectiva financeira, deve-se procurar erradicar os casos de inadimplência, entender as
fontes geradoras de receita e de custo e a destinação do lucro.
Já em relação aos indicadores da perspectiva dos clientes, salienta-se a importância das
promoções para atrair novos clientes e para fidelizar os atuais. Outra medida interessante seria
treinar a secretária, de modo que ela possa se portar da maneira mais apropriada possível no
momento do atendimento.
No que concerne aos processos internos, recomenda-se avaliar a frequência de uso dos objetos
e das máquinas que compõem a academia, visando melhorar sua organização espacial. Outro
ponto importante é a realização constante de uma pesquisa de satisfação, seguida de ações
para melhorias.
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Em relação à perspectiva de aprendizagem e crescimento, sugere-se que haja um
planejamento para a realização das reuniões mensais, dos treinamentos e dos eventos de
confraternização.
5. Considerações Finais
Em um ambiente fortemente marcado pela busca de padrões de beleza, as academias
enfrentam constantemente novos desafios, no que concerne à estabilidade financeira e à
fidelização de clientes. Por esse motivo, mensurar apenas o desempenho financeiro oculta
diversos pontos fracos da organização e impossibilita a identificação de diversas melhorias
potenciais.
Uma vez que o objetivo geral da pesquisa contempla a definição de um modelo de
indicadores, e não a implementação destes, esses foram apenas apresentados à gerente da
academia, que se mostrou muito interessada em utilizá-los. Porém, a gerente salientou que a
implantação dos indicadores demandará um investimento que deve ser estudado
criteriosamente, devido à estável situação financeira da academia e do momento delicado que
o país enfrenta nos últimos anos, que consequentemente influencia no poder aquisitivo dos
clientes.
O estudo foi de grande relevância no que tange a reconhecer a imprescindibilidade de se
analisar todos os fatores que compõem a organização, entendendo o que a empresa representa
para cada um dos agentes que a rodeiam. As empresas que compreendem adequadamente a
sua estrutura interna e a sua relação com o mercado possuem mais chances de se firmar no
mercado, de reagir às adversidades de maneira mais consistente e de transformar momentos
delicados em oportunidades de crescimento e de desenvolvimento.
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