protagonismo juvenil e educação contextualizada ampliando a convivência com o semiárido
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Marcelo Silva Lima, 17 anos, mora em Roça Velha, Frecheirinha-CE e é estudante da Escola Família Agrícola Chico Antônio Bié (EFA Ibiapaba) onde recebe uma educação contextualizada, uma formação política, participativa e cidadã voltada para a convivência e permanência no Semiárido.TRANSCRIPT
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº1638
Protagonismo juvenil e educação contextualizada ampliando a convivência com o semiárido
O jovem Marcelo Silva Lima de 17 anos é um dos filhos de Dona Graça e do
Senhor Antônio, moradores da comunidade de Roça Velha no município
de Frecheirinha-CE. Marcelo é estudante da Escola Família Agrícola
Chico Antônio Bié (EFA Ibiapaba). A educação contextualizada promovida pela
EFA dá possibilidades de uma boa convivência com o semiárido, promove um
real conhecimento do meio em que vivem e une teoria e prática com formação
política, participativa e cidadã. Os 25 estudantes da EFA aprendem não apenas
os conteúdos referentes ao Ensino Médio Regular, mas disciplinas como
Zootecnia, Agricultura, Agroindústria, Construções e Instalações Rurais,
Planejamento e Projeto. A Agroecologia é tema transversal de todas elas. Os
alunos também têm aulas de teatro, capoeira e informática.
Num regime de semi-internato as/os estudantes da EFA passam duas
semanas na escola e duas semanas em casa. Essa metodologia é chamada de
Pedagogia da Alternância, onde o processo de ensino-aprendizagem se dá tanto
no ambiente escolar como no ambiente familiar de forma cíclica. Os aprendizados da sala de aula podem ser
aplicados em casa e os resultados das experiências e relatos das descobertas são levados para a sala de aula.
A família de Marcelo está sendo contemplada com a implementação de uma cisterna-calçadão pelo
Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), executado pelo Centro
de Estudos e Apoio ao Trabalhador e à Trabalhadora (CEAT) e financiado pela Fundação Banco do Brasil. A
cisterna será de fundamental importância para a família, pois possibilitará a ampliação e diversificação da
produção e da criação de animais. Atualmente eles produzem apenas milho, feijão e mandioca, mas
pretendem diversificar mais sua produção com frutíferas e hortaliças. Além da pequena criação de galinhas
eles também pretendem criar cabras.
Marcelo fala sobre a importância do conhecimento adquirido na
EFA, da cisterna-calçadão e do gosto pela agricultura: “vai ajudar muito,
porque o conhecimento que eu tô adquirindo no meu colégio juntamente
com o gosto do meu pai, que ele gosta muito de trabalhar com o plantio.
(...) O meu conhecimento com o querer do meu pai nós vamos ter uma
produção boa”.
Antes de entrar na EFA, Marcelo já cursava o 2º ano do Ensino
Médio convencional, a entrada na escola o fez voltar ao 1º ano. A decisão
tomada por ele foi permeada por diversas críticas dos colegas, mas o que
mais pesou foi a sua vontade e o apoio de seus pais. “Pra mim, foi difícil
porque eu fui muito criticado na minha escola convencional lá de
Frecheirinha. (...) Mas eu sempre dizia (...) um sonho meu era ter uma
formação numa coisa que eu gosto. (...) e eu acho que eu sou uma pessoa
privilegiada por ter pais tão compreensíveis como eu tenho. (...) eles
gostaram da ideia e eles, meus pais, eles até hoje eles tão me apoiando
pra eu tá estudando”.
Frecheirinha
Julho/2014
Marcelo
Senhor Antônio e Dona Graça, pais de Marcelo
Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Por se identificar com agricultura, Marcelo não sente falta da
escola convencional nem se arrepende de ter voltado para o 1º ano
“pra falar real, em nenhum momento! (...) porque eu acho que eu não
fiz errado não, porque no ensino médio quando cê termina, beleza,
cê tem o ensino médio. Agora, já esse colégio você vai ter o ensino
médio e algo a mais que é o curso, né, que você vai poder, você vai
poder exercer uma profissão”.
Na educação contextualizada o centro do processo
educacional é o aluno e sua realidade, eles são instigados à reflexão e
ao pensamento crítico e participativo, o que os deixa menos presos
aos padrões de rigidez da escola convencional e oportuniza a
liberdade de expressão. Nas palavras de Marcelo estão contidas a
satisfação por poder expressar sua opinião: “na EFA cê tem o momento de vez, o professor quando
explica a aula ele para, pergunta, quer sua opinião. (...) basicamente toda hora você pode dar sua opinião,
todo mundo lá, todo mundo tem o direito de dar sua opinião e todo mundo escuta, sabe? A sua opinião vale.
Vale! Se você falar, der sua opinião, ninguém vai falar, ninguém vai mangar, ninguém vai falar nada, porque
cada um tem a sua opinião (...) tem que respeitar a opinião do, do próximo. (...) lá nós somos uma família (...)
é uma coisa mais dinâmica, mais interativa, é... os alunos juntamente com os professores se interagem um
com os outros.”
Marcelo, enquanto autor de sua trajetória, sempre se mobilizou com pioneirismo para a melhoria da
qualidade de vida de sua família através do fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia. “Eu já
me identificava com a agricultura, que eu já trabalhava com o meu pai na agricultura, também já tinha um
pensamento mais voltado pra parte ecológica (...) foi eu que dei o primeiro passo do meu querer ir pra
escola”. Hoje ele é o representante dos alunos na EFA e foi ele mesmo que incentivou sua família para a
construção da cisterna, “quem foi que deu a ideia da cisterna ser construída foi eu. Eu comecei conhecer,
gostei, vi que era um projeto bacana da cisterna de 52 mil litros de água.”
Sobre sua experiência na EFA, Marcelo fala: “ pra mim, cada sessão que eu tô na EFA eu tô
conhecendo mais, mais agricultura. E... já conhecia bastante, sabe, por eu já trabalhar com o meu pai e já
perguntava como era as atividades agrícolas que ele fazia, assim, no nosso plantio, né. Aí com o tempo eu
fui aprimorando mais no colégio. (...) pra mim tá, eu tô com uma experiência nova por eu ta estudando
agricultura, tô vendo a agricultura de outro olhar. Eu já gostava já de agricultura, agora eu tô gostando mais
ainda por conta que eu tô aprendendo que mexer com a terra, não é obrigado só, só trabalhar com ela, mas
sim trabalhar junto com ela”.
Marcelo tem muitos sonhos e planos. “Eu sempre disse que meu sonho era ser um Engenheiro
Agrônomo. (...) Aí um dos pontos que eu quero é me formar e quem sabe eu dar continuidade ao trabalho na
EFA. (...) eu tenho um plano de vida de abrir um negócio de, assim, tipo uma agroindústria pra mexer com o
ramo da agroecologia, pra beneficiar aqui nós em Frecheirinha. Esse é meu sonho”.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Realização Apoio
Marcelo e seus/suas colegas da EFA
Marcelo, seus pais e seu irmão