pt 37
TRANSCRIPT
RUI GALVÃO
Pág
ina1
Escola Básica 2,3 de Taveiro
Cultura Língua e Comunicação
Proposta De Trabalho: 37
Núcleo Gerador: Saberes Fundamentais
Domínio de Referência: DR1 (contexto privado)
Tema: o Elemento
1
Caro amigo José Carlos:
Hoje assisti a um discurso do escritor José Saramago. Como sabes foi
galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Achei o discurso uma lição de
humildade. O homem fala da grande importância que os seus avós tiveram na
construção da sua obra e da sua própria pessoa, apesar de serem analfabetos.
José Saramago inspirou-se em duas humildes pessoas, e nas histórias
que elas lhe contavam, trazendo para uma cerimónia desta envergadura um
discurso sobre as suas modestas raízes.
As várias histórias dos antepassados que o avô lhe contava, debaixo
duma figueira, antes do suave adormecer, eram uma mão cheia de memórias
que lhe vieram despertar o interesse pela escrita, tendo-lhe servido de
inspiração para a criação das suas personagens literárias. Por sua vez, estas
mesmas personagens também exerceram influência sobre a sua pessoa. Com
isto, ele pretendia dizer que o grande escritor que é hoje deve-se, em grande
parte, não só à influência dos seus avós, mas também às narrações que
escreveu, sobre pessoas, ou acontecimentos, fictícios ou não. Foram a sua
grande força inspiradora.
José Saramago tem a humildade e a honestidade de dar a conhecer o
seu passado, vindo do mais comum dos mortais.
Se outros fossem, elaborariam um discurso baseado em factos que lhes
dessem um estatuto acima dos mortais.
Gostava muito que também tivesses estado presente. Quando te
encontrar contar-te-ei mais pormenores.
Um abraço deste teu amigo
Rui
RUI GALVÃO
Pág
ina2
2
Ao fazer uma retrospectiva do meu passado, não
tenho qualquer dúvida de que a minha formação geral,
pesada numa balança, pendia um pouco mais para o lado
dos saberes extra- -escola. Foi mais com base nestes
saberes que a minha vida se tem regido.
Os momentos que vou mencionar são, sem dúvida,
aqueles com que mais me identifico e que me trouxeram
uma mais-valia para a vida.
Tinha treze anos quando abandonei a escola, tendo ingressado, de
imediato, no meu primeiro emprego. Aqui apercebi-me de como tudo era
diferente, e já não havia volta a dar. O respeito pelas pessoas mais velhas era
o requisito número um a ter em conta, seguindo-se o ser responsável por
aquilo que fazia. Não foi fácil, mas com a passagem dos tempos tudo se foi
ultrapassando.
Os dias no trabalho eram passados com alguma dificuldade, mas, em
contrapartida, passava as noites à conversa com uns colegas, trocando
comentários sobre os mais variados assuntos, desde música, filmes, banda
desenhada, da possível existência de vida noutros planetas, de como seria se
vivêssemos noutro país, fumávamos uns cigarros a olhar para as estrelas
enumerando esta ou aquela constelação, dávamos uma volta pelo campo,
comíamos fruta
rapinada no momento,
ouvíamos as rãs a
cantar, e assim passei
muitas noites. Achei
esta fase muito
enriquecedora, na
medida em que todas estas conversas me davam alento até à próxima noite.
RUI GALVÃO
Pág
ina3
Destas conversas, do interesse por saber e querer fazer, aos poucos fui-
me interessando pela leitura de livros, sobretudo ligados à ciência, à Mitologia
Grega e à história de arte. Queria explicações de como é que muitos
fenómenos se passavam, de como era possível o ser humano realizar tantas
coisas belas e outras nem por isso.
Assim me fui identificando com alguns artistas, sobretudo pintores, que
eram o meu ponto de referência, e tentei imitá-los ao máximo, no que respeita
a técnicas de pintura. O simples facto de saber que na sua época não tinham
ao seu dispor os meios e materiais que existem actualmente provoca em mim a
mais profunda admiração.
Dediquei muito tempo a este assunto, lendo livros, praticando e
observando horas a fio.
Fiz algumas exposições em bares, coisa simples, tendo vendido três
quadros, o que, na altura, me incentivou bastante, pois para mim era o
reconhecimento que me davam, dum trabalho totalmente da minha autoria.
A juntar aos meus conhecimentos extra-escola, tive uma outra etapa que
considero bastante importante para a minha formação.
Juntamente com um grupo de amigos, visitei os mais variados recantos
de Portugal, conhecendo pessoas e muito boa comida. Aprendendi muito com
os saberes destas pessoas e as suas diferentes maneiras de enfrentar a vida.
Foi por esta altura que tive o meu primeiro contacto com outros países.
Com o mesmo grupo de amigos, viajei até à
Alemanha, passando por França e Espanha. Foi
para fim uma aventura enorme, pois não sei falar
outra língua que não seja o português. Vi bonitas
paisagens, que, dependendo da estação,
estavam cobertas de neve ou carregadas de um amarelo ocre; além disso,
estive em cidades com fortes particularidades históricas. Adorei.
Actualmente, a minha profissão tem-me proporcionado muitos
conhecimentos devido ao tipo de pessoas com quem trabalho, e que me
despertam sensações únicas. Muitas destas pessoas são portadoras de
deficiência, outras têm problemas de comportamentos anti-sociais. Trabalhar
com estas pessoas dá-me outra perspectiva do mundo, e permite-me tomar
contacto com um lado mais desfavorecido da sociedade; por outro lado, admiro
RUI GALVÃO
Pág
ina4
a força interior, a coragem e a vontade que estas pessoas têm de “continuar”,
apesar das suas incapacidades e dificuldades.
Penso que, duma maneira geral, consegui traçar o meu retrato.