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Este livro é resultado da Publicação Científica do Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO”, em sua Linha Verde e Amarela. Saiba mais pelo Blog do Programa: http://documentoculturalmetro.ning.com/

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Page 1: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO
Page 2: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 2

CAPITULO 1 – O PROJETO DE PESQUISA ................................................................. 3

1.1 Diretrizes ciêntíficas ............................................................................................ 3

1.2 Project Design .................................................................................................. 11

CAPÍTULO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO REGIONAL ................................................ 15

2.1 Por trilhas e rios: O início da ocupação histórica de São Paulo ........................ 15

2.2 O café e a São Paulo railway: um vetor de ocupação da cidade ....................... 31

CAPÍTULO 3 - PESQUISAS NA LINHA 02/VERDE – lote 8 ....................................... 36

3.1 O Contexto Histórico da Vila Prudente ............................................................. 37

3.2 As pesquisas na Companhia Industrial Paulista de papéis e papelão ............... 57

3.3 Estudos de cultura material................................................................................ 71

3.4 Resgate da memória: patrimônio edificado........................................................ 78

CAPÍTULO 4 – PESQUISAS NA LINHA 04/ AMARELA .............................................. 96

4.1 Estação Luz ....................................................................................................... 96

4.1.2 Pesquisas arqueológicas .......................................................................... 97

4.3 VSE Waldemar Ferreira ................................................................................. 187

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 229

CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 234

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INTRODUÇÃO

As atividades de pesquisa realizadas no decorrer do “Plano de Gestão do

Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural nas Obras de Implantação do

Metropolitano de São Paulo” em sua Linha 02/Verde Lote 08 e em sua Linha

04/Amarela resultaram na pesquisa de um patrimônio arqueológico e histórico que visa

ser divulgado através desta publicação.

Tais pesquisas tiveram início em 2004, incluindo desde os estudos

diagnósticos, passando posteriormente para a etapa de prospecção e, finalmente,

resgate arqueológico. Foram desenvolvidas pela empresa DOCUMENTO – Patrimônio

Cultural Ltda.

Na divulgação dos trabalhos que ora se apresenta, através desta publicação

foram selecionados resultados de interesse científico, obtidos em ambas as Linhas do

Metrô acima citadas, visando contribuir para uma melhor compreensão de diferentes

processos de ocupação humana que ocorreram no município de São Paulo, ontem e

hoje.

Conforme será detalhado ao longo do texto, os patrimônios revelados pelas

pesquisas na Linha 02/Verde e na Linha 04/Amarela são de natureza distinta, ao

mesmo tempo complementar. Para a Linha 02/Verde trabalhou-se com as instalações

de uma fábrica de papelão e celulose na zona leste da capital paulista, com

oportunidade de conjugar um rico patrimônio material e imaterial ainda vivo em meio à

comunidade do bairro. Já para a Linha 04/Amarela contou-se com a presença de

vestígios arqueológicos, ora dispersos, ora estruturados em meio à complexa

estratigrafia do subsolo urbano.

A divulgação destes resultados pode ser também, acompanhada através de

plataformas e Mídias Sociais que ampliam a dinâmica dos trabalhos, como o Arqueo

Parque e o Blog da Comunidade. Nestes locais estarão disponíveis bancos de

imagens, pesquisas históricas, todas as fases do desenvolvimento do programa

(diagnóstico, prospecção e resgate), além de cadastros de patrimônio edificado,

material e imaterial, inclusive ampliando e detalhando aspectos tratados por esta

publicação.

Finalmente, vale salientar que estas pesquisas contaram, ao longo de seus

diversos anos de execução, com Portarias de Pesquisa emitidas pelo IPHAN/Minc,

garantindo a legalidade dos trabalhos.

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CAPITULO 1 – O PROJETO DE PESQUISA

1.1 Diretrizes científicas

Abordar a complexidade e diversidade apresentada pelo Patrimônio Cultural

nas Obras de Implantação do Metropolitano de São Paulo (em sua Linha 02/Verde

Lote 8 e Linha 04/Amarela) demandou a realização de ações que abranjam os

diferentes elementos que lhe são relacionados, sendo eles:

Patrimônio Arqueológico, compreendendo os remanescentes físicos e

locacionais na paisagem referentes às diversas ocupações humanas que se

desenvolveram na área, em período pré-colonial.

Patrimônio Histórico, compreendendo o estudo dos diferentes cenários sociais,

econômicos e políticos de ocupação da área, em período histórico, alcançando

até as sociedades atuais.

Patrimônio Cultural Material, compreendendo os elementos físicos materiais

relacionados aos Modos de Vida da área, ou seja, os objetos que compõem o

dia a dia das comunidades. Incorpora o Patrimônio Edificado, que compreende

os bens construídos com significância histórica e/ou cultural, abrangendo

nãoapenas os edifícios que apresentam monumental idade (igrejas,

fortificações, por exemplo), mas toda e qualquer construção que represente

formas tradicionais de ocupação humana;

Patrimônio Cultural Imaterial, compreendendo os conhecimentos tradicionais e

manifestações culturais da comunidade incluindo festejos, cantos, artesanato,

medicina popular, culinária tradicional, contos, superstições etc.

Patrimônio Paisagístico, compreendendo aspectos referentes ao ambiente

físico da área ao qual se sobrepõe uma Paisagem Cultural, constituindo um

espaço socialmente concebido, percebido e transformado pelos diferentes

cenários de ocupação humana que se desenvolveram na região.

Somente através de um tratamento integrado que abranja o conjunto destes

diferentes aspectos é que se busca dar conta da diversidade e complexidade do

desenvolvimento pré-colonial, colonial e histórico regional. Por outro lado, a

abordagem destes diferentes patrimônios parte de alguns princípios basilares no

pensamento contemporâneo, no que se refere ao tratamento das questões

patrimoniais culturais:

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Democratizar as práticas para o reconhecimento e identificação do patrimônio

cultural, integrando as diversas percepções envolvidas (oficial, cientifica e da

comunidade);

Ampliar as possibilidades morfológicas que norteiam o reconhecimento do

patrimônio, respeitando as singularidades das experiências históricas de cada

cultura e de cada grupo social;

Desenvolver prática de identificação, proteção, recuperação e fomento dos

patrimônios que sejam compartilhadas entre os grupos científicos e as

comunidades, atuando de modo coordenado e solidário;

Compreender o patrimônio cultural como algo vivo e integrado as sociedades,

como elementos fundamentais na manutenção da coesão social e da

preservação das culturas;

Adotar o princípio de que somente com o envolvimento da sociedade,

sobretudo das comunidades locais (atuando como parceiros e participes de

todo o processo de desenvolvimento das pesquisas), é possível uma política

patrimonial que seja durável e sustentável.

Para que isso seja real e eficaz, o patrimônio deve ser visto e incorporado

como elemento componente das sociedades e não para alem delas, com funções

reconhecidas, como vetor de seu desenvolvimento e do bem estar coletivo. Assim, é

indispensável à integração das comunidades presentes na região, a fim de que o

trabalho incorpore a maneira como cada grupo social se relaciona com o patrimônio e

o que cada grupo observa e reconhece como tal.

Para o alcance deste objetivo, as pesquisas aqui retratadas estão, conceitual e

metodologicamente, baseadas no cruzamento de duas vertentes teóricas principais:

Arqueologia das Paisagens Culturais (Environmental Archaeology), no que se

refere à prática da pesquisa e do conhecimento científico; e

Arqueologia Publica/Colaborativa, no que se refere ao envolvimento da

comunidade.

O texto que segue detalha cada uma delas.

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Arqueologia das Paisagens Culturais (Environmental Archaeology)

A conceituação teórica da pesquisa esta apoiada no tratamento de Paisagens

Culturais, voltada para a análise dos processos e formas de apropriação do espaço ao

longo do tempo. O entendimento dispensado ao que passaremos a chamar de

“patrimônio paisagístico” necessita que recuperemos alguns elementos da

conceituação de cultura e de patrimônio, pois e a luz da confluência entre estes

conceitos que se esclarece e sustenta a definição de “paisagem”.

Emprega-se, aqui, a conceituação ampla de cultura como “forma de fazer”,

expressão múltipla do estar no mundo, ocupar, transformar, valorar, significar,

construída cotidianamente pelas pessoas, e em eterna mutação. Como “patrimônio”,

dentro da trajetória de construção e transformação do conceito, adotou-se aquilo que e

herdado, que e transmitido através do tempo e valorado por cada geração, ainda que

essa valoração seja absolutamente dinâmica.

Com isso temos a terceira dimensão da questão, a da paisagem. Paisagem e, a

priori, um conceito que advém da dimensão cultural da existência. Alguns teóricos

tendem a classifica-la como “espaços-marca” ou “espaços-matriz”, buscando encontrar

nela características consolidadas, modelares, de espaços “intocados” - portanto

“naturais” e outros espaços “apropriados” - portanto “culturais”. Todavia, e a integração

entre “natural” e “cultural” que, precisamente, estabelece a abordagem adotada neste

projeto, superando em uma visão unificada essa dicotomia que, de uma perspectiva

humanística, resulta tão frágil e insustentável.

O ato de olhar e, por si, tanto natural (por conta de suas características biológicas,

fisiológicas, etc.) quanto cultural, dada a diversidade sensorial permitida pela imensa

variabilidade cognitiva promovida pelas culturas. Em suma: nem todos os seres

humanos, vivendo num mesmo tempo, em lugares e culturas distintas, ou mesmo ao

longo do tempo, veem da mesma forma, atentam para as mesmas coisas, percebem

as mesmas nuanças ou, ate mesmo, as mesmas formas e cores.

Determinar, então, uma paisagem como “matriz”, por ser supostamente mais

“natural”, e outra como “marca”, por ser mais “cultural”, ocultaria o fato de que,

novamente, a paisagem como elemento inerente as culturas carrega “valorações” de

múltiplas ordens, materiais, simbólicas, etc., e, justamente, a presença desses valores

no conjunto de itens que compõe uma cultura que torna alguma coisa um “patrimônio”.

Natureza e cultura, assim, não podem ser compreendidas nem tratadas como

dimensões independentes, mas como interdependentes e indissociáveis.

A “paisagem” enquanto “forma”, ou “objeto”, tem ainda uma segunda esfera de

complicações, pelo fato de, embora seja formada e conformada pelo (e no) meio físico,

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só e apreensível através do filtro cognitivo do qual tratamos acima. Uma fotografia, um

quadro, um vídeo de uma paisagem não a e em si, mas somente uma “representação”

da mesma, pois, como “ambiente”, ela carrega todas as dimensões sensoriais que as

representações captam apenas de forma lacunar e fragmentada. A paisagem e

formada pela morfologia do espaço, pelas características topográficas, hidrográficas,

etc., mas, também, pelos sons, texturas, fenômenos óticos. Além disso, as paisagens

recebem valorações, significações simbólicas na estruturação das relações sociais,

econômicas e políticas, incorporam mentalidades, mitologias. As paisagens são “bens”

de valor inestimável aos povos que nelas vivem por estarem na base de suas vidas,

tocando sempre nas dimensões materiais e simbólicas delas. Portanto, não há

paisagem sem um observador.

Nessa perspectiva, os estudos buscam contar com o envolvimento da comunidade

diretamente relacionada à área de pesquisa, sobretudo no reconhecimento e

identificação dos vários elementos constituintes da paisagem, nos quais se incluem

componentes do patrimônio cultural imaterial. Para os períodos de tempo mais antigos

(estudados pela Arqueologia), as paisagens culturais são inferidas a partir da análise

dos remanescentes físicos e locacionais dos vestígios identificados (incluindo os eco

fatos), bem como pelo seu padrão de distribuição no espaço.

Em seu desenvolvimento conceitual, a ideia de paisagem passa a constituir

matéria de análise e interesse das mais diversas áreas do conhecimento como a

geografia, antropologia, arquitetura e turismo, dentre outras. Isso acaba por lhe

conferir diversas interpretações e graus de importância, tanto em seus aspectos

naturais como culturais. Como não podia deixar de ser a Arqueologia, situada na

confluência das disciplinas humanas e naturais e, por isso mesmo, dotada de uma

vocação intrínseca para a interdisciplinaridade, acabou por se constituir no campo

ideal para a convergência de todas estas perspectivas.

Considerando que a paisagem não é estática e está sujeita a constantes

processos de transformação, sobretudo pela ação do homem, ela pode ser

considerada como fonte de conhecimento histórico. Nesse caso, muitas vezes

apresenta, como comentado, várias assinaturas antrópicas que constituem, em

conjunto ou separadamente, o objeto de estudo da denominada Arqueologia da

Paisagem. “A paisagem oferece pistas materiais que permitem perceber seu caráter

histórico. São esses ‘traços fosseis’ que conduzem ao entendimento da formação

geomorfológica e social da paisagem contemporânea e de suas sucessivas

fisionomias anteriores, ao longo do tempo” (MENESES, 2002:30). Nessa diretriz,

Criado (1999:6) assinalou que a Arqueologia da Paisagem pode ser vista como uma

linha de pesquisas arqueológicas orientadas para “... El estúdio y reconstruccion de lós

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paisagem arqueológicos o, menor, El estúdio com metodologia arqueológica de lós

processo y formas de culturizacion del espacio a lo largo de la historia”.

Assim, o meio ambiente e analisado a partir do enfoque ecossistêmico, segundo o

qual existe um conjunto de relações mutuas entre os fatores de um meio ambiente e

os seres vivos que nele se encontram, caracterizando um conjunto de interações entre

os sistemas ambientais e os sistemas sociais e econômicos que delinearam o cenário

de implantação do empreendimento em estudo. Desta maneira, a abordagem

ecossistêmica encontra relação com a perspectiva holística, pois, ao invés do estudo

individualizado de cada componente do sistema, procura entender seus componentes

em interação.

Em resumo, o entendimento dos processos de ocupação humana na região do

empreendimento aqui tratado propicia reconstituições ambientais e paisagísticas a

partir da analise das formas de apropriação do meio ambiente físico-biótico em relação

ao contexto sociocultural e econômico das comunidades, ao longo do tempo, na busca

de uma convergência entre Patrimônio Natural e Patrimônio Cultural.

Arqueologia Pública/ Colaborativa

À medida que a Arqueologia foi se firmando enquanto disciplina (especialmente a

partir do século XIX), o estudo e interpretação da historia humana constitui domínio e

atribuição de profissionais cientistas, em busca de um “passado objetivo real”. A

própria terminologia cada vez mais técnica da Arqueologia, em boa parte adquirida

através da conceituação teórica da New Archaeology, já no século XX, perpetua a

mistificação da disciplina, e sua pratica pressupõe uma crescente alienação junto ao

publico, fazendo crer que pouco há para ser aprendido com a participação da

sociedade nas pesquisas.

Dos colecionadores de peças exóticas da Antiguidade aos dias atuais, a

Arqueologia não foi apenas capaz de acumular um conhecimento respeitável sobre o

passado humano; discutiu incansavelmente, também, sua responsabilidade ética

sobre esse passado, à medida que apontava novas e mais abrangentes perspectivas

de abordar o desenvolvimento das sociedades humanas ao longo do tempo.

Observou-se assim, a partir da década de 1980, uma crescente preocupação

no cenário internacional com os aspectos públicos da disciplina. Este movimento vem

sendo internacionalmente denominado “Arqueologia Publica”, voltada ao

relacionamento entre a pesquisa e o manejo de bens culturais com os grupos sociais

interessados, de forma a promover a participação da sociedade na gestão de seu

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patrimônio arqueológico, histórico e cultural. Os arqueólogos perceberam que era

preciso reconhecer não somente sua responsabilidade sobre os vestígios

arqueológicos, mas igualmente sobre os discursos acerca da herança histórica e

cultural a que estes vestígios se relacionam. Um dos benefícios públicos da

Arqueologia esta justamente em contribuir para o fortalecimento dos vínculos

existentes entre a comunidade e seu passado, ampliando o interesse da sociedade

sobre o patrimônio e criando, paralelamente, a sustentação necessária as medidas de

preservação.

No Brasil este momento apresenta uma cor especial. Isto se dá especialmente

por conta da conjuntura social e política que atravessa, na qualidade de pais em

desenvolvimento na era da globalização. A Arqueologia abrem-se oportunidades de

ocupar espaços voltados a uma abordagem mais abrangente e pluralista referentes a

herança cultural.

Essa abordagem demanda, todavia, uma mudança de postura com respeito ao

“objeto de estudo” e procedimentos de trabalho. Hoje entendemos não ser mais

possível que a Arqueologia continue voltada ao desenvolvimento de uma entidade

abstrata chamada “Ciência”, colecionando insaciavelmente novas teorias, novas

descobertas, novas abordagens, novas discussões. Assim, o tornem põem da

Arqueologia pode ser sintetizado em uma única palavra: sociedade. Tem-se, assim,

uma mudança essencial de foco, onde a Arqueologia deixa de ser uma ciência com

olhar voltado ao passado para assumir sua responsabilidade na compreensão do

presente e na promoção do futuro. Esta perspectiva e definida pela “Arqueologia

Colaborativa”, que visa desenvolver ações não mais para a comunidade, uma vez que

passa a ser feita com a comunidade.

A relação que a Arqueologia estabelece com as diferentes áreas de

conhecimento - uma vez que é uma ciência verdadeiramente transdisciplinar, fruto da

somatória de disciplinas exatas e humanísticas é mais um dos fatores que faz com

que muitas pessoas se sintam próximas a ela. Isto se aplica, por exemplo, ao caso da

estabilidade e mudança ambiental: através do conhecimento da sucessão de

experiências humanas ocorridas sobre um ecossistema, e possível refletir sobre

alternativas de gestão e manejo, trazendo uma visão mais global e tangível ao tema.

Hoje, a sociedade tem necessidade de ser competente num mundo

multicultural, e a Arqueologia e capaz de proporcionar ferramentas que auxiliem a

viver nesta sociedade crescentemente complexa, ensinando as pessoas sobre outras

culturas e tempos, fornecendo-lhes ferramentas para melhor compreender a

diversidade humana, ao expandir suas visões de mundo. Essa compreensão da

diversidade leva a tolerância, que permite a inserção de diversos segmentos da

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sociedade, tornando todos os indivíduos sujeitos plenos de direitos e deveres:

cidadãos. Assim, um dos benefícios públicos da Arqueologia e o mesmo que oferece a

historia e a ciência: a educação da cidadania.

De fato, não existe um público a considerar, mas vários. Devemos refletir sobre

a maneira como nossa sociedade se posiciona com relação ao seu passado: Qual o

passado que merece ser resgatado? Quais os mecanismos que a sociedade utiliza

para registrar e perpetuar sua própria história? Em oposição as ciências naturais, a

ciência social necessita ser, particularmente nestes tempos pós-modernos, pluralista

em essência. A admissão de diferenças não põe em cheque a autoridade da

disciplina. Ao contrário: o reconhecimento de que as ideias e interpretações são

produto de condições históricas especificas amplia o debate e sua contribuição. Se

desejarmos obter uma compreensão do passado que abranja a complexidade e

diversidade de suas mensagens possíveis, então precisamos reconhecer a existência

de um público igualmente diverso, e aprender a lidar com ele. Para assim proceder

mostra-se necessário reconhecer e respeitar todos os valores atribuídos à herança

arqueológica, incluindo a cientifica.

Por essa razão o conteúdo da mensagem a ser transmitida ao público deve

estar atrelado à história local, construindo um elo de percepção junto ao público. Isso

pode incluir objetos identificados nos locais, sítios ou vestígios mais conhecidos,

dados sobre como os grupos humanos do passado viveram naquele mesmo espaço

geográfico, entre tantos outros. Por outro lado à mensagem deve também conter

dados sobre a importância deste patrimônio, o fato dele ser único e não renovável, e

também o esforço e detalhamento da pesquisa cientifica necessária para construir o

conhecimento, visando sensibilizar o publico sobre sua valorização e necessidade de

preservação.

No caso brasileiro, assim como nos países colonizados em geral, onde a

sociedade nacional foi formada através de uma ruptura entre as ocupações indígenas

e o elemento europeu, mais tarde acrescido pela cultura africana, e frequente a

comunidade atual não reconhecer vínculos com o contexto arqueológico, embora

tenha interesse pelo seu sentido exótico. Isso se agrava pelo fato de que ate mesmo a

construção da História do Brasil tenha sido tradicionalmente feita a partir de sua classe

intelectual dominante, resultando em um baixo ou nulo reconhecimento da população

em geral como sendo esta a “sua história”. O próprio currículo escolar não inclui uma

efetiva história das minorias, apesar de sua participação fundamental na formação e

desenvolvimento da sociedade nacional.

Considerando esse conjunto de aspectos, mostra-se essencial que a pesquisa

arqueológica seja realizada em conjunto com os descendentes vivos da sociedade que

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criou ou herdou este patrimônio. Assim será possível conduzir os trabalhos a partir de

uma perspectiva de “arqueologia democrática”, como define Faulkner (2000), que

compreende a realização de trabalhos com base na comunidade, de forma não

excludente e não hierárquica, e dedicada a um desenho de pesquisa que pressuponha

interação entre os vestígios materiais, a metodologia de trabalho e a interpretação.

Trabalhando em conjunto com a comunidade o arqueólogo pode auxiliar na

reconstrução de elementos tradicionais que se perderam através do tempo, bem como

dar suporte a atividades como turismo, educação e identidade étnica, contribuindo

para o manejo sustentável da cultura.

Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento

ocorrido no Rio de Janeiro, em 1992, “desenvolvimento sustentável” se tornou palavra

chave de um discurso político internacional voltado à qualidade de vida, conservação

dos recursos naturais e responsabilidade para gerações futuras. Apesar das

discussões terem sido inicialmente voltadas às ciências naturais e analises de

crescimento populacional, relaciona-se a uma discussão baseada na definição social,

histórica e cultural do problema: a viabilidade de serem mantidas relações socialmente

definidas entre a natureza e a comunidade durante longos períodos de tempo. Desta

forma, o discurso sobre sustentabilidade e basicamente publico e estreitamente

vinculado a problemas como justiça social e regulamentação política.

Sustentabilidade ou não sustentabilidade corresponde a uma qualidade dentro

de um continuo de condições e processos possíveis. Neste sentido, não se pode

considerar a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade social de forma isolada.

Ao contrário, o foco deve recair na interação entre elas, buscando a viabilidade de

suas relações durante longos períodos de tempo. Por outro lado, considerando a

rápida transformação por que as sociedades passam atualmente, a sustentabilidade

necessita ser concebida dentro de uma perspectiva dinâmica, compreendendo o

grande desafio de uma Ciência Aplicada.

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1.2 Project Design

Para o atingimento dos objetivos científicos, o Programa foi estruturado na

intersecção de quatro grandes Matrizes de Fatores Críticos de Sucesso, que

permeiam as macro ações envolvidas desde a partida, compondo o “Start Gerd”

dinamizador do Project Design (vide Quadro 1), a saber:

Linhas Programáticas Cientificas;

Matrizes de Decisão, aplicadas nas ações previstas para o Programa;

Aspectos de integração com os Programas Socioambientais e Legislação;

Índices de Qualidade, que avaliam o grau de metas cumprido pelo Programa

com base no atendimento as recomendações e práticas de instituições nacionais

e internacionais.

A partir de cada uma das grandes matrizes são traçadas linhas de

correspondência na forma de ações de pesquisa estratégica, estabelecendo ligações

precisas de uma matriz de fator critico de sucesso a outra e tecendo, assim, uma

malha de macro atividades, onde os cruzamentos das linhas constituem os chamados

Pontos Focais. Os Pontos Focais, que constituem o núcleo da grade apresentada pelo

Quadro 1, correspondem aos problemas científicos de investigação do Programa, ou

ainda, a itens específicos estratégicos que devem receber atenção em seu

desenvolvimento.

A evolução destes pontos ocorre a partir da criação de grupo interdisciplinar de

trabalho com foco especifico de ação, o Focus Group, reunindo profissionais das

diversas áreas envolvidas pelas Grandes Matrizes de Fatores Críticos de Sucesso.

As ações deste grupo são direcionadas para os objetivos específicos do Ponto

Focal a ser desenvolvido, efetuando o atendimento direto de cada matriz cuja

intersecção originou o Ponto Focal, garantindo, assim, a evolução constante do Project

Design em um plano de renovação em sintonia com os Índices de Qualidade.

Para as macro-acões deste Programa, as Grandes Matrizes de Fatores Críticos

de Sucesso encontram-se dispostas da seguinte forma:

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Quadro 1 – Project Design (Para maiores detalhamentos do Project Design, veja Start Gerd na

Plataforma Multimídia TAG E LAB - Sustentabilidade).

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Linha Programática Abrange a conceituação teórico metodológica no tratamento cientifico aos

patrimônios envolvidos (patrimônio arqueológico, histórico, cultural e paisagístico)

apoiado nas seguintes vertentes:

Ecologia Histórica;

Arqueologia das Paisagens Culturais (ou Environmental Archaeology)

Arqueologia Pública

Arqueologia Colaborativa

Consiliência

Matrizes de Decisão Compreende um conjunto de diretrizes que auxilia as tomadas de decisão no

desenvolvimento das atividades originárias das marcações do Programa, orientando a

gestão do projeto rumo à aplicabilidade, funcionalidade e aprimoramento constante.

Este campo e formado pela sinergia das seguintes variáveis:

Planejamento estratégico

Contexto do ambiente histórico e cultural

Condições e logística

Normas específicas que regem as áreas envolvidas

Integração com Programas Socioambientais

O estudo e tratamento do patrimônio arqueológico de uma determinada região

apresentam uma série de sinergias com aspectos socioambientais, incluindo ações de

planejamento e desenvolvimento econômico regional. Este conjunto de fatores, em

grande parte apresentados pelo EIA/RIMA do empreendimento e, depois,

desenvolvidos ao longo dos diversos Programas que integram o licenciamento

ambiental da obra, trazem elementos que permitem contextualizar os patrimônios

estudados e ampliar sua compreensão, na medida em que são integrados a quadros

ecológico-sociais mais amplos e visam, como meta final, sua inserção em Planos de

Gestão que busquem o desenvolvimento sustentável. São aqui, assim, considerados

os seguintes elementos:

Legislação aplicável

Programa de Socioeconomia

Programa de Meio Físico

Programa de Meio Biótico

Planos de Gestão e Sustentabilidade

Page 15: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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Índices de Qualidade Para avaliação do grau de metas cumpridas pelo Programa, os Índices de

qualidade se baseiam no atendimento as recomendações e praticas da UNESCO, IFC

(International Finance Corporation), IAIA (International Association for Impact

Assesment) e IPHAN. Baseiam-se, ainda, nos diversos documentos e cartas

internacionais dos quais o Brasil e signatário. Para que este atendimento seja

verificado, as Macro Ações do Programa foram agrupadas nos seguintes Eixos

Temáticos:

Envolvimento da comunidade

Modos de vida

Aplicação e resultados

Gestão do conhecimento

Índices de Resiliência

Pontos Focais (Milestones) Os Pontos Focais se localizam na parte central do Gerd, compreendo

justamente os temas científicos de investigação a serem tratados pelo presente

Programa. Cada Ponto Focal apresenta relações com as demais abas do Gerd (Linha

Programática, Matrizes de Decisão, Integração com Fatores Socioambientais, Índices

de Qualidade), uma vez que o desenvolvimento das pesquisas de cada Ponto Focal e

dado a partir dos elementos e pontos de relação estabelecidos por cada aba. Assim,

compreendem os Pontos Focais deste Programa o conjunto de temas científicos

definidos, a saber:

Prospecção e Resgate Arqueológico;

Levantamento e cadastro de patrimônio material e imaterial;

Envolvimento da comunidade;

Educação Patrimonial;

Divulgação de resultados.

É importante salientar que a definição e ajuste dos Pontos Focais do Programa

compreendem processos dinâmicos a serem constantemente ampliados ao longo de

sua execução, integrando novas demandas cientificas, sociais e culturais, bem como

novas tecnologias e métodos de trabalho.

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CAPÍTULO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO REGIONAL

2.1 Por trilhas e rios: O início da ocupação histórica de São Paulo

Trabalhos de Arqueologia Histórica no município de São Paulo começaram a

ser realizados com maior frequência a partir do final da década de 1970, com as ações

do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da prefeitura de São Paulo e as

unidades que mais tarde comporiam o MAE-USP. Entretanto, as adjacências

imediatas de São Paulo, a saber, os distritos longínquos do centro (Jaraguá, Perus,

etc.) e cidades fronteiriças (Osasco, Carapicuíba, Barueri, entre outras), só mais

recentemente passaram a figurar no panorama arqueológico do Estado (ROBRAHN-

GONZÁLEZ & ZANETTINI 2002 a), graças às novas leis que regulamentam a parte

patrimonial e cultural dos EIA/RIMAs (resolução CONAMA 001/ 1986; portaria IPHAN

230/ 2002).

Grosso modo, os municípios-chave de outras áreas de grande significância

para a compreensão da ocupação humana do Estado, tais como as cabeças-de-ponte

para os vales dos principais rios paulistas da retroterra (Tietê, Pardo Paranapanema,

Paraíba do Sul), encontram-se em situação intermediária, alguns sediando programas

de pesquisas arqueológicas bastantes consistentes (Jacareí, Mogi das Cruzes, Piraju,

etc.) (ROBRAHN-GONZÁLEZ & ZANETTINI, 1999; ANDREATTA ET AL. 1999;

MORAIS, 1990) e outros com intervenções ainda pontuais (Itu, Sorocaba, Jundiaí,

Mogi-Guaçu, etc.) (ZANETTINI, 1998; ROBRAHN-GONZÁLEZ & ZANETTINI 2003 B;

MORAIS, 1995).

Entretanto, para os municípios limítrofes entre a região metropolitana de São

Paulo e esses municípios-chave, o conhecimento arqueológico vai de demasiado

reduzido a nulo. Cidades historicamente importantes, tais como São Roque,

Araçariguama, Guararema, Itapecerica da Serra, entre outras, nunca foram alvo de

pesquisas arqueológicas. Outras localidades, historicamente menos conhecidas

também figuram nesse último quadro (Itapevi, Miracatu, Biritiba-Mirim, Itupeva, etc.).

Esses picos e vales na distribuição das pesquisas são prejudiciais para a

construção da história embasada no conhecimento arqueológico, pois essas

localidades e municípios são os divisores de compartimentos geomorfológicos

distintos, os quais apresentam ocupação cultural e socialmente diferenciada,

expressada também pelos restos de cultural material (os vestígios arqueológicos). Um

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dos exemplos da diversidade da cultura material são as diferenças arquitetônicas

encontradas nas habitações paulistas coloniais e imperiais (pelo menos até meados

do século XIX) (Lemos, 1998), além da variada gama de restos de utensílios

cerâmicos, elaborados para as atividades diárias que ocorriam nessas edificações, e

que posteriormente foram descartados, sendo comumente encontrados nas lixeiras

arqueológicas enterradas nos fundos de quintal (ANDRADE LIMA et al., 1989;

ARAÚJO & CARVALHO, 1993; ZANETTINI, 1998; ZANETTINI, 2002).

O planalto de Piratininga nos séculos XV e XVI: perspectivas e sugestões a

respeito da ocupação tradicional da região de São Paulo (Etno-história). São poucas e

esparsas as informações históricas de que se dispõe sobre as comunidades indígenas

que habitaram a região do planalto paulista no período anterior e mesmo

contemporâneo ao da ocupação européia da “América Portuguesa”. Isso não quer

dizer, no entanto, que desconhecemos totalmente qualquer informação nesse sentido;

é bom lembrarmos que vários europeus do período quinhentista fizeram anotações

sobre os costumes das sociedades indígenas que aqui encontraram, deixando pistas

importantes de alguns dos lugares por eles habitados, além de nomes e de certos

costumes, principalmente aqueles que mais chocavam a sociedade européia.

Foi através desses relatos, bem como de algumas informações esparsas, que

a historiografia nacional pode chegar a algumas evidências sobre a presença indígena

na região metropolitana, ainda que o tenha feito muito timidamente. São pouco

conhecidos, por exemplo, os exatos locais de ocupação dessas comunidades

autóctones quando da chegada dos primeiros europeus na região planaltina. Alguns

estudiosos, como Pasquale Petrone, dedicaram-se a pensar a questão, tendo

alcançado significativos avanços nesse sentido, traçando a origem pré-cabralina para

alguns núcleos que marcaram presença na história européia do planalto (PETRONE,

1995:137-156). No caso específico da nossa área de interesse, existem algumas

tradições históricas que vinculam o bairro do Ipiranga a uma ocupação de índios

Guaianazes que teriam sido posteriormente expulsos com a chegada dos europeus

(www.ipiranganews.inf.br/regiao.html). Tais tradições, no entanto, não parecem estar

fundamentadas em informações históricas muito precisas e, portanto, não são

suficientes para uma identificação positiva desse local como um espaço de habitação

indígena, pelo menos por enquanto.

O mesmo não ocorre para a presença de trilhas e caminhos indígenas que

serviam de ligação entre as diferentes tribos, malocas e até mesmo nações diferentes.

No nosso caso, essa é uma informação de alta relevância na medida em que a

principal trilha sobre a qual temos informações históricas, o famoso “Caminho do

Peabirú”, possui uma íntima relação com as áreas diretamente afetadas pela atual

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pesquisa. Genericamente o que podemos dizer é que esse chamado “caminho” seria,

na verdade, um complexo sistema de trilhas que se interligavam, criando uma via

única de comunicação entre a região da “mesopotâmia paraguaia” e o litoral vicentino

(GONÇALVES, 1998).

É em grande parte devido à existência dessas trilhas e caminhos pré-

cabralinos que a maioria da historiografia credita, atualmente, a importância

estratégica da Capitania de São Vicente, considerada, já na época de Martim Afonso

de Sousa, a “porta para o sertão das novas terras descobertas”. Nesse trecho de

ligação entre o planalto paulista e o litoral vicentino, o “Caminho do Peabirú” ficou

registrado nos documentos do século XVI e XVII com o nome de “Trilha dos

Tupiniquins”, que possuía, segundo o estudo de Daniel Issa Gonçalves, duas

variantes. A primeira, saindo da atual Rua do Carmo, descendo a ladeira da

Tabatinguera até o Vale do Tamanduateí, seguindo, do outro lado, pela rua da Mooca,

Oratório, Vila Ema, Oratório outra vez, e partes da avenida Sapopemba.

A segunda, que é a que mais nos interessa, descia pela “...rua da Glória,

Lavapés, Independência, sobe o morro onde se localiza hoje um quartel, descendo

costeando pela rua do Ouvidor Portugal até chegar às margens do ribeiro do Ipiranga,

em frente ao Monumento. A partir daí, desvia para a esquerda, onde cruza a rua Bom

Pastor e segue pela rua Benjamim Jafet, atingindo a rua dos Patriotas onde

atravessava o Tamanduateí. Daí, um vale situado na direção da rua José Zapi, faz a

comunicação deste atalho com o eixo do Oratório...Não podemos afirmar porém, qual

das duas saídas da cidade é mais antiga...Pode-se admitir também que ambas eram

utilizadas em período pré-cabralino” (GONÇALVES, 1998:69).

O fato é que essa região do Ipiranga conheceu um processo de ocupação

indígena marcado por uma relação de transitoriedade, na medida em que se tratam de

“caminhos”, mas que não perde sua importância na medida em que não apenas se

caracteriza como uma forma de expressão da cultura indígena que aqui viveu no

período imediatamente anterior à conquista, mas, também, por ter deixado sua marca

no espaço urbano que formou a cidade de São Paulo. Nesse sentido, o próprio

traçado identificado pelo pesquisador pode ser visto como uma evidência material que

revela traços dessa sociedade indígena que, com sua ação moldaram parte da

paisagem urbana da metrópole atual.

A real função desses caminhos dentro das sociedades indígenas ainda é

matéria controversa dentro da historiografia. O autor citado anteriormente argumenta

em favor dos movimentos migratórios relacionados principalmente com a questão

religiosa da busca permanente pela “Terra sem Mal” (GONÇALVES, 1998:27). Não

obstante, outras possibilidades podem ser levantadas.

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Figura 1 - Cruzamento das rotas de acesso ao núcleo histórico da cidade de São Paulo: em vermelho o riacho Ipiranga, em laranja a Imigrantes, em amarelo ao fundo a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí (São Paulo Railway) e o curso do Tamanduateí e, em azul, a possível implantação do Caminho do Mar sobre a área atual da banda sul da cidade de São Paulo (região do Ipiranga e Sacomã).

Figura 2 - Detalhe da planta do Caminho do Mar na área do Ipiranga/Sacomã. Acervo MP/USP.

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Primeiramente, o conceito de tribo, diferentemente do que estamos

acostumados a imaginar, perpassa, não por uma simples comunidade isolada e

autônoma, mas sim por uma estrutura organizacional maior que “...abrangia um certo

número de unidades menores, as ‘aldeias’ ou grupos locais, distanciados no espaço

mas unidos entre si por laços de parentesco e pelos interesses comuns que eles

pressupunham, nas relações com a natureza, na preservação da integridade tribal e

na comunicação com o sagrado...em assuntos relacionados com o deslocamento da

tribo de uma região para outra, a circulação das mulheres entre as parentelas, a

realização de uma expedição guerreira, o sacrifício de inimigos etc., as ações eram

reguladas pela referida teia de interesses comuns” (FERNANDES, 1960:73).

Nesse sentido, as comunicações permanentes e constantes entre os diversos

grupos seria uma necessidade prática da vida cotidiana e não um evento esporádico

restrito. Como bem lembrou o historiador John Monteiro, “..a vida espiritual dos povos

tupi-guarani era, igualmente marcada pela eventual presença de profetas ambulantes,

chamados caraíbas..Exímios oradores, estes profetas transitavam de aldeia em aldeia,

deixando uma mensagem messiânica entre os índios” (MONTEIRO, 1995:25). A

guerra foi outra característica da sociedade indígena que colaborou para o

desenvolvimento dessas linhas de comunicação, ao fomentar a necessidade de

articulações não apenas entre aldeias, mas mesmo inter-tribais.

Assim, “Testemunhas oculares relatavam batalhas envolvendo centenas e até

milhares de combatentes...” (MONTEIRO, 1995:26), e, muito provavelmente, era por

isso que Ulrich Schmidel, cronista alemão do século, afirmava que João Ramalho,

português radicado entre os índios, “pode reunir cinco mil índios em um só dia”

(MONTEIRO, 1995:34). As trilhas e caminhos seriam imprescindíveis para que tal

mobilidade dos homens pudesse ser concretizada em tão pouco tempo. Também a

cerimônia de sacrifício “..estendia-se, igualmente, à esfera das relações inter-aldeias".

A festa que marcava o fim do cativeiro foi, muitas vezes, um evento que aglutinava

aliados e parentes de diversas unidades locais.

Segundo Nóbrega, era a matança ‘para a qual se juntam todos os da comarca

para ver a festa’. Assim, a guerra, o cativeiro e o sacrifício dos prisioneiros constituíam

as bases das relações entre aldeias tupi no Brasil pré-colonial. As batalhas

freqüentemente congregavam guerreiros de diversas unidades locais... E, após as

vitórias ou derrotas, aliados e parentes reuniam-se nas aldeias anfitriãs...”

(MONTEIRO, 1995:28). Benedito Calixto levanta a interessante possibilidade de que

os índios planaltinos dirigiam-se com regularidade ao litoral, afim de explorar os

recursos marinhos lá disponíveis, especialmente o peixe e o sal (apud: PETRONE,

1995:32). A importância desses mesmos caminhos como vias de circulação e de

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trocas de produtos ou “presentes” entre as diversas tribos ainda é um mistério e alvo

de muitas controvérsias, no entanto, tal hipótese é freqüentemente admitida e uma

possibilidade que não podemos deixar de levar em consideração.

Todas essas visões remetem a um quadro muito mais dinâmico da sociedade

indígena pré-colonial, rompendo com aquele senso-comum tradicional que insiste em

interpretar essas comunidades a partir de uma perspectiva limitada, baseada na ideia

de pequenas aldeias isoladas e autossuficientes, com pouca, senão nenhuma,

articulação exterior ao seu próprio núcleo. Nesse sentido, os caminhos indígenas

transformam-se em importantes elementos dentro dessa concepção dinâmica,

contribuindo para a superação dos preconceitos (e preconceitos) que por muito tempo

dominaram a mente dos historiadores.

No mais, os trabalhos recentes a respeito dos primeiros anos de ocupação do

planalto paulista (MONTEIRO: 1995, CASTELNAU-L’ESTOILE: 2006) indicam que os

primeiros movimentos de colonização se deram aproveitando a rede de ocupações

indígenas tradicionais. O complexo de caminhos que ligavam o litoral ao planalto e

este a diversas regiões interioranas foi efetivamente apropriado pelos colonos em suas

alianças com os chefes tribais locais. Isso explica tanto a possibilidade desses colonos

de reunirem tantos indígenas em tão pouco tempo quanto sua surpreendente

habilidade em transitar e guerrear com os nativos.

Na realidade Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes (HOLANDA:

2001, FERNANDES: 1960) já haviam atentado para o fato de que os primeiros anos

da colonização no planalto paulista foram marcados por uma intensa criação cultural,

de apropriações e trocas de técnicas e práticas entre tupis e portugueses, processo

que desembocou na criação de uma cultura mameluca, plenamente adaptada aos

desafios ecológicos do planalto. As técnicas de caminhada, de orientação, de

alimentação, de produção de gêneros, de caça, de plantio foram em grande medida

apropriadas desses grupos indígenas, associados aos colonos através do

cunhadismo, ou seja, da estrutura social que transforma em parente todo aquele que

se casar com as mulheres da aldeia. Podendo contrair quantos casamentos

conseguisse sustentar os colonos estabeleciam largos laços de parentesco que lhe

asseguravam, ás vezes, milhares de guerreiros

Portanto, pode-se dizer que a grande maioria dos caminhos estabelecidos

pelos europeus nos primeiros séculos de colonização do planalto paulista nada mais

era do que alargamentos e melhorias de antigos caminhos de grupos indígenas

falantes do Tronco Tupi, empregados para funções diversas, constituídos pelo saber

ancestral desses povos nos trânsitos pela região.

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Figura 3 - Antigos caminhos serra acima. À direita, o traçado aproximado da “Trilha dos Tupiniquins”. Fonte: Petrone, 1995, p.125.

.

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22

Não tardaram muito, os conquistadores europeus, a seguir literalmente os

passos de seus então “aliados” indígenas, galgando a serra e chegando ao planalto

paulista. Os jesuítas primeiro, provavelmente em busca de um contingente maior de

almas para evangelizar (PETRONE, 1995:42), fundando o Colégio (1554) na região

que mais tarde seria elevada à condição de vila (1560). Os colonos não muito atrás,

quando não ao mesmo tempo, talvez atraídos pelas histórias das “serras de prata”

(Peru), ou em busca da mão-de-obra indígena e das oportunidades de vastas e novas

extensões de terras (PETRONE, 1995:38-40), começaram a se instalar nessa mesma

região, dando início ao processo de ocupação do que viria ser a vila de Piratininga e

futura cidade de São Paulo.

Uma das portas de entrada desses novos contingentes populacionais não foi

outra que a nossa já conhecida região do Ipiranga, uma vez que estes indivíduos

utilizavam-se da “Trilha dos Tupiniquins”. Como bem observaram Máximo Barro e

Roney Bacelli, “É fatal que antes mesmo de ser contemplado com qualquer sesmaria,

o local já era palmilhado por viajantes ou tropeiros que usavam o porto de Santos”

(1979:27). Acontece que o próprio afluxo decorrente do processo de ocupação do

planalto provocou mudanças importantes na conformação dos caminhos.

O novo ritmo e novas demandas surgidas a partir da instalação dos processos

de exploração e transformação trazidos pelo agente europeu, seja ele laico ou

religioso, acarretaram na proliferação de novos caminhos e rotas, além de alterações

nos já existentes. Esse processo de reorganização desses espaços de passagem são

conseqüências diretas desse novo agente no cenário planaltino, e, a exemplo das

trilhas indígenas, são verdadeiros vestígios materiais desses momentos iniciais da

vida do Brasil-Colônia.

O primeiro desses caminhos foi o do “Padre José” que estaria sendo usado já a

partir de 1560 e que ficou conhecido, posteriormente, como “Caminho do Mar”, em

substituição ao antigo caminho, fechado por ordem de Mem de Sá nesse mesmo ano

(GONÇALVES, 1998:38-39; 41). Também esse caminho, que serviria de base para

todas as outras diferentes versões até os dias atuais, teria como área de chegada a

região do Ipiranga.

Segundo Daniel Issa Gonçalves, seu traçado na capital seria similar àquele da

segunda variante da “Trilha dos Tupiniquins”, partindo da Rua da Glória até a Bom

Pastor, quando, ao invés de cruzá-la em direção à Benjamim Jafet, seguiria pela Rua

Bom Pastor, até se emendar com a Estrada das Lágrimas (GONÇALVES, 1998:69).

É possível que seja desse mesmo período o ramal atual da Rua Vergueiro que

desemboca próximo à Av. Paulista, e que está diretamente associado às obras de

construção do metrô. Ora, como se sabe, a “Estrada do Vergueiro”, construída entre

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1862-64 (ZANETTINI, 1998:03), pautou-se em grande parte nos traçados do velho

“Caminho do Mar”. Esse ramal, atualmente em plena mancha urbana de São Paulo,

deveria servir de opção de ligação com a região de Pinheiros, via Ibirapuera

(ZANETTINI, Com. Pess., 2004), além de funcionar como um vetor de dispersão do

entroncamento maior, para aqueles em busca das casas e fazendas que se

espalhavam pela região.

Não se pode esquecer que a atual Rua Vergueiro foi, também, principalmente

naquele trecho que hoje se encontra mais próximo do bairro da Liberdade até a

intersecção com a Av. Domingos de Morais, um importante caminho de ligação entre o

centro da vila de São Paulo com Santo Amaro. Caminho de origem seiscentista foi

identificado como “Caminho de Ibirapuera” e, posteriormente, “Caminho do carro para

Santo Amaro”. Seu trajeto seria aproximadamente o mesmo que hoje é formado pelo

“leito da atual Avenida da Liberdade, Rua Vergueiro, Domingos de Morais, até as

vertentes dos Córregos da Traição, Vermelho e Pinheirinho” (GUIMARÃES, 1979:25).

É importante que se diga que existem várias versões sobre os possíveis

trajetos dos “caminhos do mar”, e também sobre a sua nomenclatura. Adotou-se aqui

a perspectiva de Gonçalves por entendermos que seu estudo consegue fornecer uma

explicação plausível e bem fundamentada, de qualquer forma, podemos dizer com

certeza que a região do Ipiranga foi, durante os primeiros 300 anos da colonização, a

principal via de acesso e ligação entre o litoral e a cidade de São Paulo.

Figura 4 - Noel Aimée Pissis. Vista tomada do caminho de Santos, 1841. Aquarela sobre papel. Fonte: Moura (Org.), 1998, pp.372-373.

Foi com base nesses caminhos que a sociedade paulista se estruturou desde o

princípio da sua presença no planalto. Como bem descreveu John Monteiro,

“...freqüentes expedições para o interior alimentaram uma crescente base de mão-de-

obra indígena no planalto paulista, que, por sua vez, possibilitou a produção e o

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transporte de excedentes agrícolas, articulando – ainda que de forma modesta – a

região a outras partes da colônia portuguesa e mesmo ao circuito mercantil do

Atlântico Meridional” (1995:57). Eram os “caminhos” que propiciavam o acesso ao tão

valioso braço indígena (negro da terra), eram eles também, que, ligando fazendas,

sítios e cidade, garantiam a distribuição dessa mão-de- obra, para que pudesse

produzir uma série de gêneros de primeira necessidade que, mais uma vez através

deles (caminhos), eram conduzidos serra abaixo para atender as demandas das vilas

do mar e da América portuguesa cada vez mais populosa.

Não apenas espaços geográficos, esses caminhos uniam todos os agentes

ativos que compunham a sociedade paulista colonial: europeus, índios, negros,

açúcar, gado, trigo, ouro, etc. Nas palavras do Prof. José de Souza Martins: “É

impossível estudar a história da ocupação do Planalto de Piratininga, nesse período

que vai até o século XVIII pelo menos, seguramente até o século XIX, se a gente não

conhece a história dos caminhos que houve na região, em particular o mais importante

dos caminhos que houve na região, que foi o Caminho do Mar...” (II CONGRESSO...,

2000:140). Não é de se estranhar, portanto, que a identidade paulista forjada pela

historiografia tenha se aproveitado, justamente, das figuras do “Bandeirante” e do

“Tropeiro”.

A proximidade desses caminhos de ligação provocou, quase que

imediatamente, um forte interesse pelas terras que o margeavam ou que a ele

estivessem próximas. Por isso, não é de se estranhar que o Ipiranga seja considerado

um dos bairros mais antigos da cidade (PONCIANO, 2002:97).

A primeira referência documental que se conhece sobre o Ipiranga, diz respeito

a uma carta do Padre Anchieta onde ele comenta a necessidade de rezar uma missa

em uma recém-acabada igreja erguida na propriedade de Domingos Luiz (ou Luz),

conhecido como “o carvoeiro”; posteriormente esse mesmo personagem histórico teria

se mudado pra o atual bairro da Luz, onde teria fundado uma segunda igreja

(GONÇALVES, 1998:49, PONCIANO, 2002:98, MONTEIRO, 1995:244, nota n.08).

Segundo o historiador John Monteiro, a partir de 1583 a Câmara de São Paulo havia

dado início à distribuição de terras na região do Ipiranga, cujos terrenos mediam cerca

de 12.200 m² cada, para moradia, manutenção de escravaria e a abertura de roças.

Ainda segundo o autor, um dos primeiros se beneficiar desse processo foi Antonio de

Proença, que vinha em busca de terras para a criação de gado (MONTEIRO,

1995:101-102).

A ata de 23 de maio de 1583 não deixa dúvidas quanto a essa dupla ocupação,

e fornece os nomes de pelo menos outros sete proprietários: “logo pelos ditos hofisiais

foi hordenado que ho caminho de hipiramgua que He quaminho do mar hos que la tem

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fazemdas da banda do hipiramgua // comvem a saber antô. de proença bertalomeu fiz

e belchior da costa domingos lois fr.co teixeira domingos glz guaspar nunes e fr.co de

brito he tera quarego de os chamar e dar lhe ho dia para se fazer o dito caminho”

(apud: GONÇALVES, 1998:49). Trata-se de uma referência ao então costume de se

responsabilizar os moradores locais pela manutenção dos caminhos que davam

acesso aos bairros rurais (MONTEIRO, 1995:122).

Ainda que tenhamos registrado a prática de uma produção agrícola

significativa, a atividade que parece ter impresso melhor a sua marca na região foi a

pecuária. Assim, no século XVII, um dos filhos de António Proença, Francisco

Proença, detinha cerca de 115 cabeças de gado; Lourenço Castanho, seu parente, a

metade aproximada disso, e um certo Pero Nunes, outras 90 (BARRO e BACELLI,

1979:26). Essa relação foi tão sintomática que, ainda na virada do século XIX para o

XX, fazia-se presente através dos matadouros, curtumes e “tripeiros” estabelecidos na

Vila Mariana e Vila Clementino (MASAROLO, 1979:42-43; 49), e pela nominação da

Rua Lucas Obes (Ipiranga) como “rua da boiada” (BARRO e BACELLI, 1979:81).

Todos esses exemplos são reflexos dessa tradição econômica que se estabeleceu na

região do Ipiranga ainda no século XVI.

Um documento do século XVIII nos comprova que a área em questão já se

encontrava ocupada por gerações, inclusive com o desenvolvimento de atividades de

exploração agrícola, e que sua posse gerava uma certa especulação. No texto, de

1782, Lázaro Rodrigues Piques, juiz do ofício de ferreiro, possuía uma extensa

propriedade rural que “...comprou no termo da mesma paragem chamada Piranga, de

Antonio Ferraz, do Revdo. José da Silva e do Tenente Ignácio de Lara, cujas terras

houveram por títulos de Compra de seus antepassados que a reduzirão a Cultura...”

(SANT’ANNA, 1944:198). Esse mesmo século XVIII, também trouxe consigo uma nova

postura da metrópole portuguesa que se dedicou a estender os processos de

exploração de suas possessões colônias, procurando imprimir um ritmo mais dinâmico

às atividades produtivas, aliado a um rigoroso sistema de fiscalização.

Com isso, novas culturas ganharam força, como a da cana-de-açúcar, e

procedeu-se a uma reestruturação das antigas estruturas viárias de escoamento da

produção, cujo maior expoente foi, possivelmente, a “Calçada do Lorena” (1788-1797)

(ZANETTINI, 1998:02, PETRONE, 1995:209). Como principal área de ligação com os

“caminhos do mar”, a região do Ipiranga, e entorno, sentiu o impacto dessa nova

postura que, além de acarretar em um importante aumento do fluxo de pessoas e

produtos, provocou o surgimento de novos focos de ocupação e novos “equipamentos

arquitetônicos”.

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Figura 5 - Imagem da borda do planalto de Piratininga com a implantação dos quatro caminhos principais de acesso ao núcleo da cidade de São Paulo: em azul, o Caminho do Mar; por debaixo dele a rodovia Imigrantes; em laranja, a via Anchieta; e, em amarelo, a São Paulo Railway (Santos Jundiaí).

Um desses “equipamentos” foi, exatamente, um “rancho reúno”, localizado à

beira do “Caminho do Mar”, projetado para servir de abrigo para tropeiros, viajantes e

mercadorias. Segundo Nestor Goulart Reis, esses abrigos teriam sido erguidos por

Antônio Manuel de Mello Castro e Mendonça (1797-1802), sucessor de Bernardo José

de Lorena, e fariam parte do projeto da “Calçada” (1995:21).

Não parece haver dúvidas quanto à existência desse pouso, que,

provavelmente foi aquele mesmo descrito por John Mawe, mineralogista inglês, em

1807: “Em sua vizinhança imediata (São Paulo), o rio (Tamanduateí?) corre paralelo à

estrada. à nossa esquerda, vimos grande estalagem ou hospedaria onde são

descarregadas as mulas e onde os viajantes... passam a noite” (apud: MORAES, 1979

B:110). A planta desses pontos de apoio ao viajante, que sobreviveu até os nossos

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dias, nos revela uma estrutura simples composta basicamente por dois grandes

cômodos, um, cercado por paredes e com a “presença” de seteiras, protegia os

homens das intempéries, frio, animais e de um eventual “inimigo”, o outro, protegido

apenas pelo telhado e uma mureta baixa, destinava-se ao abrigo das cargas

(MORAES, 1979 B:106).

Figura 6 - Matadouro de Vila Mariana, 1904; no primeiro plano, carros da Light adaptados para o transporte de carne verde. Fonte: A CIDADE da Light..., 1990, p.165.

Esse rancho, assim como toda a região do bairro do Ipiranga, está relacionado

com um importante episódio da história nacional que foi a declaração da

independência, em 1822. Segundo a historiografia tradicional, vindo de Santos através

do nosso já conhecido “Caminho do Mar”, e aqui temos comprovado mais uma vez a

função do Ipiranga como espaço de passagem e articulação com a região do litoral, D.

Pedro I teria buscado o referido “pouso” quando foi alcançado pelas notícias de

Portugal, que, por sua vez, o levaram a declarar a Independência do Brasil (MORAES,

1979 B).

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Figura 7 - Planta dos “Ranchos Reúnos”, edificados ao longo do Caminho do Mar. Fonte: MORAES, 1979.

O atual Parque da Independência, tombado pelo CONDEPHAAT

(PATRIMÔNIO...1998:208), preserva o espaço geográfico onde esse evento ocorreu,

e constitui-se em uma referência obrigatória para este trabalho. É imprescindível

lembrarmos que não sabemos ao certo se esse “rancho reúno” estaria propriamente

naquele mesmo local onde D. Pedro I se manifestou no sentido de declarar a

independência do Brasil.

O padre Belchior Pinheiro de Oliveira, conselheiro e confidente de D. Pedro,

além de testemunha ocular do evento, afirmou em sua versão sobre o episódio do

“grito”: “O Tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam

quase todos os dragões da guarda e com ela veio ao encontro do Príncipe, dando

vivas ao Brasil...” (apud: BARRO e BACELLI, 1979:55).

Se esse era o mesmo “rancho reúno” mencionado anteriormente, não

sabemos. A chamada “Casa do Grito”, que faz parte desse complexo do Parque da

Independência e integra o acervo de Casas Históricas sob a responsabilidade do

Departamento do Patrimônio Histórico, foi, durante muito tempo, associada ao “rancho

reúno” do Ipiranga e à “venda” mencionada pelo padre Belchior (MORAES, 1979).

Apesar disso, a postura mais aceita atualmente é de que essa seja uma edificação

posterior, do final e não do início século XIX, e cuja primeira menção documental seria

de 1884 (www.prodam.sp.gov.br/dph/museus).

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Figura 8 - Quadro de Pedro Américo retratando o grito de independência realizado por D. Pedro às margens do riacho Ipiranga. Ao fundo, à direita, pode-se observar uma edificação, associada ao “rancho reúno”, erguido por Antonio Manuel de Mello Castro e Mendonça entre 1797-1802, e posteriormente identificada, por uma parcela da historiografia, com a “Casa do Grito”, hoje preservada no Parque da Independência. Fonte: www.estadao.com.br.

Essa edificação foi alvo de uma pesquisa arqueológica desenvolvida como

parte do Programa de Arqueologia Histórica do Município de São Paulo, em 1986, que

revelou, entre outras coisas, que “Pela disposição das evidências de estacas, a área

de circulação interna no Piso 1 e o encontro da ‘porta’ na parede leste sugerem que o

cômodo 06 teria sido uma ‘venda’ provavelmente de beira de estrada, junto ao

chamado ‘Caminho do Mar’...” (DEPARTAMENTO..., 1986:161).

Assim, se não temos exatamente o “rancho reúno”, ou mesmo a “venda” que

serviu de ponto de apoio para D. Pedro I, temos uma estrutura vinculada aos

processos produtivos e aos “espaços de passagem” que tanto marcaram o processo

de ocupação do Planalto paulista, o que lhe garante uma importância significativa

enquanto evidência material dessa parcela da história.

Assim, de um modo geral, sobre essa ocupação da região que engloba o atual

bairro do Ipiranga durante os primeiros trezentos anos de conquista Planaltina, é que

ela se estruturou dentro dos moldes anteriormente descritos, ou seja, como um

subúrbio rural da vila de São Paulo de Piratininga, onde um número cada vez maior de

sítios e fazendas se organizava no sentido de produzir gêneros de primeira

necessidade e criação de gado para o abastecimento dos mercados litorâneos e para

exportação para as demais capitanias. O termo “subúrbio” aqui utilizado, não deve ser

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visto ou entendido, no entanto, a partir de uma perspectiva limitante ou depreciativa,

como poderia acontecer.

É importante destacar que era no “subúrbio” rural que se produzia a riqueza

desses tempos coloniais, era nele que se agitavam, em plena atividade, as estruturas

motrizes dessa sociedade paulista do planalto, ratificada e complementada, é verdade,

na materialidade física da “Vila”. Longe de se constituir em um ambiente de

“isolamento” e de “pobreza”, o “subúrbio” pulsava em ritmos que, por muitas vezes,

chegaram a subjugar a dinâmica do então centro administrativo (MARTINS, 1992:09-

10). Além disso, como vimos, a região foi uma dos mais importantes “espaços de

passagem” do período colonial, tendo exercido um papel importantíssimo na

conformação da sociedade paulista e colonial.

Figura 9 - Fonte: www.prodam.sp.gov.br/dph/museus.

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31

2.2 O café e a São Paulo railway: um vetor de ocupação da cidade

A partir de a segunda metade do século XIX, quando a cultura cafeeira

definitivamente expandiu-se pelo planalto, dinamizando ainda mais a economia

paulista, tornou-se evidente a precariedade das vias de acesso que ligavam a Capital

da Província e o litoral.

Vale lembrar que a implantação da cultura cafeeira no Brasil remonta a meados

do século XVIII, quando as primeiras tentativas em se cultivar o café deram-se nas

fazendas do Rio de Janeiro. Situadas num primeiro momento nesta Província, as

plantações de café paulatinamente atingiram Minas Gerais e, sobretudo, São Paulo,

que a princípio concentrou suas lavouras na região norte do vale do Paraíba, de forma

similar ao modelo posto em prática pelos empreendedores do Rio de Janeiro. Nas

décadas de 1820 e 1830 as lavouras de café agrupavam-se majoritariamente nas

terras vale-paraibanas (especialmente em Areias, Guaratinguetá e Lorena), ao passo

que por volta da segunda metade do século XIX as mesmas se espalharam pelo

Oeste Paulista, já se destacando nesse momento como a principal atividade

econômica da região e como uma das pautas de exportação fundamentais do Império

(LUNA; KLEIN, 2006: 83-84).

A expansão da lavoura cafeeira pelo planalto paulista protagonizou alterações

significativas na ocupação e acesso às terras do chamado Oeste Paulista. Se até

então a exploração das terras ainda era de certo modo rarefeita, a inserção do café

provocou uma reordenação na composição e valorização fundiárias, na medida em

que a implementação de sua lavoura implicava numa redefinição do aproveitamento

do solo e da topografia da região (MILLIET, 1982).

O alastramento das lavouras de café – desde o vale do Paraíba, passando por

Campinas, até e alcançar o Oeste Paulista –, ao trazer consigo uma alta

potencialidade econômica, impôs à Província de São Paulo uma alteração sensível em

sua infraestrutura viária, notadamente entre as áreas produtoras e o porto de Santos.

Se por um lado a estrada de ferro surgia como a maior inovação tecnológica no ramo

dos meios de transporte terrestres do século XIX, por outro, pensando-se na expansão

vertiginosa lavoura cafeeira, a ferrovia mostrava-se como a solução viária mais rápida

e eficiente. Ademais, os lucros auferidos com a valorização do café no mercado

internacional viabilizavam a importação do maquinário necessário para a implantação

das ferrovias.

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Conforme observou Odilon Nogueira de Mattos (MATTOS, 1985: 54), a ferrovia

foi alçada, em meados do século XIX, à condição de futuro baluarte do progresso

econômico paulista advindo da cafeicultura: “A necessidade da construção da grande

artéria era reconhecida por todos quantos se interessavam pelo progresso de São

Paulo. Em 1855, o Conselheiro José Antônio Saraiva, presidente da província,

calculava em dois milhões e meio de arrobas a produção do café, açúcar e outros

gêneros que deviam escoar pela estrada projetada e em um milhão de arrobas a

quantidade de gêneros importados; portanto, três milhões e quinhentas mil arrobas

transportáveis pela via férrea. Isto, sem calcular o transporte de passageiros, cujo

número seria avultado, pois passavam anualmente pela barreira do Cubatão cerca de

quarenta mil cavaleiros”.

Às formulações de ordem econômica, somavam-se fatores ideológicos mais

amplos que vislumbravam com a implantação das ferrovias um sustentáculo do

processo de civilização da sociedade brasileira. Tal substrato ideológico tinha como

ponto de partida a ideia da formação histórica do Brasil como um processo ininterrupto

de expansão territorial vinculado, em grande medida, à iniciativa do Estado. A criação

do Instituto Histórico e Geográfico (1837) exemplifica esse tipo de intenção, ao se

constituir numa agência suplantada por aparatos ideológicos que tinha como função

formular políticas e discursos legitimadores da construção da nação, com base na

integridade territorial e no processo civilizatório do Brasil. Apesar de ter possuído

diversas fases, esse modelo nunca abandonou a ideia de civilizar o país, tendo como

alvos o sertão, os índios, os posseiros, enfim, todos aqueles indivíduos ou espaços

não inseridos na lógica da civilização.

A despeito de todo aparato discursivo em favor da implementação das

ferrovias, ainda havia, até meados XIX, inúmeras dificuldades a serem vencidas para a

implementação definitiva das estradas de ferro. Em primeiro lugar, a legislação

brasileira concernente ao assunto – calcada, principalmente, na lei Feijó, de 1835 –

não detinha a precisão necessária para o trato de empreendimentos de tamanha

envergadura. Os conhecidos insucessos de Thomas Cockrane que, entre 1840 e

1852, tentou repetidamente implantar uma ferrovia que ligasse a cidade do Rio de

Janeiro ao vale do Paraíba, evidenciaram a necessidade de políticas (fiscal, de

contrato, etc.) mais adequadas, e que garantissem, sobretudo, a concessão de

garantia de juros (MATTOS, 1985: 49).

Nesse sentido, a lei nº 641, de 26 de junho de 1852, iniciou uma nova etapa na

história da ferrovia no Brasil. Baseada em princípios mais práticos que a legislação

precedente, essa lei garantia concessões mais favoráveis ao empreendedor, como o

privilégio sobre a zona de influência direta da ferrovia e a garantia de juros. Dois anos

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mais tarde, tendo como concessionário Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá,

inaugurou-se o primeiro trecho ferroviário do país. Com aproximadamente quatorze

quilômetros, o trecho ligava a capital do Império à estação de Fragoso, antes mesmo

de atingir o pé da Serra da Estrela. Pouco a pouco, outras estradas de ferro foram

surgindo pelo país, tais como a do Recife a S. Francisco (1858) e da Bahia ao S.

Francisco (1863).

Situada nesse contexto, a ferrovia que viria a ligar Santos a Jundiaí surgiu no

papel em 1856, quando se concedeu ao Marquês de Monte Alegre, ao Conselheiro

José Antônio Pimenta Bueno e ao Barão de Mauá o direito de criação de uma

sociedade direcionada para a construção de uma ferrovia que interligasse Santos, São

Paulo e Jundiaí. Os negociantes ingleses ofereceram aos concessionários diversas

vantagens, tais como: isenção de direitos para a importação de maquinário; privilégios

de zona na área de cinco léguas para cada banda da ferrovia; garantia de juros de 7%

sobre o capital aplicado; direito de explorar as minas existentes na zona de privilégio;

desapropriar os terrenos nos quais passaria a ferrovia; e direito de obtenção de terras

devolutas nos termos mais favoráveis permitidos por lei. Das negociações entre

empresários brasileiros e ingleses, nasceu a São Paulo Railway, empresa com sede

em Londres que comandaria a implementação da estrada ferro que ligaria o litoral

santista a Jundiaí. Ainda no século XIX, a São Paulo Railway passou a ser comumente

conhecida como Santos-Jundiaí.

A construção da ferrovia se iniciou em novembro de 1860, já apresentando

algumas dificuldades de ordem técnica. As barreiras formadas pela escarpa do

planalto, com uma diferença de nível de oitocentos metros, só foram atravessadas

graças à implantação do sistema de planos inclinados e de diversos túneis e viadutos.

Ainda sim, ao longo da década de 1860, outros problemas relativos à

construção da estrada afloraram com frequência. Segundo o fiscal Jesuíno Marcondes

de Oliveira Sá (SÀ, 1865: 55-56), alguns trechos da obra foram feitos em condições

precárias, comprometendo assim a eficácia da ferrovia como um todo: “[em Santos] é

insuficiente o armazém de mercadorias. A Estação de Cubatão, construída de pau a

pique, não pode ser considerada definitiva. A de São Bernardo, cujo edifício foi mal

feito, não pode ser considerada senão como provisória.”

A despeito de toda sorte de problemas técnicos referentes à construção da

ferrovia, esta foi implantada com relativa rapidez. O primeiro plano inclinado foi

inaugurado em 1864, e, dois anos mais tarde, a linha já atingia a capital paulista. A

ferrovia, inaugurada definitivamente em 1867, foi dividida em três seções que, ao todo,

compunham 139 quilômetros de extensão: de Santos até a raiz da Serra (com 21 km e

três pontes grandes); do pé da Serra até São Paulo (com 55,6 km, um viaduto, uma

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ponte e quatro planos inclinados); e da capital paulista até Jundiaí (com 62, 5 km, duas

pontes e um túnel).

Constituindo o primeiro trecho ferroviário da Província de São Paulo, a São

Paulo Railway desempenhou por mais de meio século a função de “funil” da produção

do planalto paulista, principalmente após o surgimento de outras ferrovias em terras

planatinas, tais como a Ituana, Mogiana, Paulista e Sorocabana. Assim, com a

demanda por transportes mais rápidos da economia cafeeira, a cidade de São Paulo

passou a ser cruzada por três linhas férreas: a Santos-Jundiaí, a Sorocabana e a São

Paulo-Rio de Janeiro.

Projetada para servir como escoradora da produção cafeeira do planalto

paulista para o porto de Santos, a Santos-Jundiaí ainda promoveu, juntamente com as

demais ferrovias implementadas em fins do século XIX e início do XX, alterações

significativas no processo de ocupação e desenvolvimento socioeconômico e cultural

das áreas situadas fora do eixo central da cidade, mas não tão afastadas dele. Nesse

sentido, a despeito de a expansão da cafeicultura ter sido a mola propulsora da

criação das ferrovias paulistas, sua implementação surtiu, todavia, efeitos diversos e

desvinculados do universo econômico cafeeiro.

Demandas atreladas à própria estrutura ferroviária – tais como mão de obra

para a construção civil, o comércio de matérias de construção para das linhas de trem

(carvão, lubrificantes, maquinário, etc.) – tornaram-se essenciais para a manutenção

desses empreendimentos. Conseqüentemente, os setores diretamente empregados

pelas empresas ferroviárias acabaram por configurar uma das principais categorias de

trabalhadores urbanos assalariados, que necessitavam de uma constante oferta de

alimentação, vestuário, mobiliário e moradia. Desse modo, pode se dizer que as

ferrovias foram responsáveis, direta ou indiretamente, pelo estímulo à inúmeras

atividades humanas de feição urbana.

Antes mesmo do término de todo o traçado da ferrovia, diversas indústrias

foram implantadas nas suas proximidades, tanto para escoar suas respectivas

produções como para receber equipamentos específicos para a atividade fabril. Ao

longo da ferrovia foram estabelecidos, além dos armazéns e outras estruturas ligadas

diretamente ao transporte ferroviário, fábricas e bairros de trabalhadores, configurando

assim um eixo fabril entre a Serra do Mar e a cidade de São Paulo. Inicialmente

acompanhado o percurso da estrada de ferro, as áreas sul e leste do maciço

paulistano receberam, a partir do último quartel do século XIX, inúmeros contingentes

populacionais, de modo que só a partir daí localidades como Ipiranga, Cambuci,

Mooca, Brás, Pari, Luz, Bom Retiro, Barra Funda, Água Branca e Lapa passaram a

sofrer um processo de ocupação mais sistemático, mediante a instalação de fábricas e

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habitação para seus empregados. Vale notar as cidades de São Caetano do Sul,

Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, formadoras do futuro ABC

paulista e que também se desenvolveram no entorno da ferrovia (MONBEIG, 1978).

Fundada em fins do século XIX, em meio ao primeiro surto industrial eclodido

na cidade de São Paulo, a Vila Prudente constituiu um dos principais bairros de origem

fabril e operária da capital paulista. Juntamente com Brás, Mooca, Barra Funda, Lapa,

dentre outros bairros paulistanos, a Vila Prudente surgiu num momento crucial do

processo de inserção do Brasil no capitalismo mundial, isto é, numa época em que a

agro exportação, encabeçada pela cafeicultura, ainda compunha a base da economia

nacional, as iniciativas industriais deixaram de ser empreendimentos incipientes,

dispersos e de curta duração – tal como ocorrera em meados do século XIX – para

imporem, gradualmente, um novo panorama à sociedade brasileira, notadamente aos

antigos centros urbanos do Império e suas adjacências.

A cidade de São Paulo foi pioneira nesse processo que, mesmo com suas

contradições, amalgamou os interesses agroexportadores e industriais, uma vez que a

necessidade de incorporar o Brasil na nova dinâmica econômica internacional

requeria, entre outras coisas, a implantação de uma nova infraestrutura para a nação,

seja de meios de transporte, de relações de trabalho seja de uso e ocupação do

espaço. Nesse sentido, áreas até então não povoadas ou pouco exploradas, como as

que comporiam a futura Vila Prudente (onde as pesquisas na Linha 02/Verde do Metrô

foram realizadas), passaram a ser ocupadas de diversas formas e para inúmeros fins,

servindo tanto aos interesses dos grandes cafeicultores quanto daqueles setores

vinculados às primeiras iniciativas industriais.

No caso de São Paulo, a criação da São Paulo Railway permite entrever a

pluralidade de objetivos, mas, também, de usos em torno desse empreendimento que

alterou substancialmente a economia paulista e, simultaneamente, as formas de

ocupação da cidade, cooperando assim para a fundação dos chamados “bairros

operários”, como é o caso da própria Vila Prudente.

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CAPÍTULO 3 - PESQUISAS NA LINHA 02/VERDE – LOTE 8

A Linha 02/Verde do Metropolitano de São Paulo, em seu Lote 8, está

localizada na Zona Leste da cidade de São Paulo, mais precisamente, no bairro da

Vila Prudente. As obras neste Lote compreenderam uma estação (estação Vila

Prudente), uma área de acesso (Acesso Sul), e o Poço Cavour, sendo em todos

eles realizadas prospecções preventivas, sendo que apenas na área da estação foi

identificada a presença de um patrimônio histórico/cultural positivo, que passou

então a ser objeto de pesquisas sistemáticas, aqui apresentadas.

Figura 10 - Localização regional da Linha 02/Verde – Lote 8.

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3.1 O Contexto Histórico da Vila Prudente

A industrialização em seus primórdios

Inserido no macro contexto histórico regional apresentado no Capítulo anterior,

o texto que se segue traz a história específica do bairro paulista abrangidos pela obra,

a saber, Vila Prudente.

A história do distrito e do bairro de Vila Prudente remonta ao século XVI.

Inicialmente era parte de uma sesmaria concedida a João Ramalho e Antonio Macedo.

Os terrenos da sesmaria foram transferidos aos herdeiros de João Ramalho e,

posteriormente, foram adquiridos por outros proprietários por compra ou herança.

(HONÓRIO, 2010, p.4)

Por volta da década de 1870 a economia paulista experimentou um

desenvolvimento com proporções nunca antes atingidas. O café, em sua expansão

para o oeste, transpôs Campinas e alcançou Ribeirão Preto e Jaú. O algodão se

alastrou por grandes extensões de terra de Sorocaba, Itu, Tatuí. A cana-de-açúcar,

vedete de fins do século XVIII até a primeira metade do século XIX, perdeu espaço e

importância econômica ante o café, mas ainda sim continuou sendo uma das

principais pautas de exportação de São Paulo. Já a capital paulista, por sua vez,

começou a engendrar as primeiras tentativas industriais nas proximidades da região

central.

Tal efervescência econômica trouxe consigo uma redefinição na própria

estrutura dos meios de transportes de São Paulo. Em 1867, a São Paulo Railway já

ligava Santo à Jundiaí; a Companhia Paulista, inaugurada em 1872, comunicava

Jundiaí a Campinas; no mesmo ano, a Mogiana passou a ligar São Paulo ao nordeste

paulista; a Companhia Ituana, implementada um ano depois, ligou por meio de trilhos

Jundiaí e Itu; e a Sorocabana, entrando em funcionamento em 1875, articulou a cidade

de São Paulo à região de Sorocaba e ao antigo caminho para o Sul (PINTO, 1903).

Como consequência dessa nova articulação entre a capital e os demais

territórios do planalto, São Paulo também aumentou seu intercâmbio com outras

regiões do país e com o exterior. No quinquênio de 1893 a 1897, as importações

paulistas passaram a representar mais de 17% do total importado pelo Brasil, ao

passo que sua exportação excedeu a casa dos 33,6% do todo exportado (CARONE,

2001).

Ainda que o café tenha permanecido como base da economia paulista até por

volta da década de 1930 – período no qual o segmento começou a sofrer sucessivas

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oscilações no mercado – a cidade de São Paulo, na condição de centro dessa

estrutura econômico, começou a dar mostras já em fins do século XIX e início do XX

da necessidade de se implantarem alternativas produtivas, notadamente aquelas

associadas à indústria. Longe de constituírem pólos de interesses opostos,

fazendeiros de café e industriais passaram a compor um grupo que, embora fosse

heterogêneo, compartilhava de interesses comuns, como, por exemplo, a busca por

inserir cada vez mais a economia do país na lógica do capitalismo mundial. Aliás, é no

próprio movimento de expansão e retração da cultura cafeeira em território paulista –

onde surgem figuras complexas e multifacetadas, como os irmãos Prado, que

simultaneamente representavam industriais e fazendeiros – que se encontram as

origens da concentração industrial em São Paulo da terceira década do século

(CANO, 1977).

Com relação à consolidação da cidade de São Paulo como o centro dessa

industrialização ainda incipiente, assinala Jose de Souza Martins (MARTINS, 1996:

109): “Para tratar dos negócios financeiros e comerciais, para administrar as empresas

em que aplicavam seus capitais, os chefes do movimento pioneiro eram obrigados há

residir mais tempo na cidade, junto das repartições públicas e particulares, em

contacto com os organismos políticos (...). Assim, muitos fazendeiros mudaram-se

para a cidade de São Paulo, que então oferecia uma cultura urbana mais propícia ao

desenvolvimento capitalista do que a vida agrária, patriarcal e estreita da fazenda”.

Assim, por volta de 1870, havia na cidade de São Paulo uma pequena

produção industrial, que era relacionada com a fabricação de chapéus, tecidos,

cerveja e com o beneficiamento de cereais. Ainda havia, nessa época, uma estreita

relação entre a produção fabril urbana com as demandas oriundas das áreas rurais.

No bairro do Brás, por exemplo, havia indústrias familiares direciona das para a

produção de seleiros, cangallhas, arreios, estribos e caçambas (TORRES, 1985).

Outro efeito desse processo, entre o final do século XIX e primeiras décadas do

século XX, foi à paulatina transformação da organização urbana da cidade de São

Paulo, a qual acentuou sua segmentação, sua especialização espacial. Ou seja, o

processo que dá origem aos bairros operários nas proximidades das áreas fabris,

sobretudo à margem da ferrovia São Paulo Railway, também responde pela criação da

Avenida Paulista com seus casarões pertencentes á elite econômica, já não do

estado, mas do país. O centro da cidade, a área do triângulo histórico, ao mesmo

tempo em que vê antigos prédios – do século XVIII e XIX – sendo demolidos para a

construção de edifícios comerciais esvazia seu interior de moradores, consolidando

áreas de cortiços e de sub-moradias diversas nas franjas do terreno, nas áreas da

baixada do Glicério e Liberdade. De certo modo é nesse momento que se consolida

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não o desenho do centro velho da cidade de São Paulo, mas a maioria das

características de ocupação do mesmo, as quais ainda persistem.

Um pouco mais tarde, adentrando o Brasil no período republicano, a cidade de

São Paulo já apresentava algumas iniciativas industriais que, mesmo não

configurando o dinamismo fabril do período posterior à Primeira Guerra, constituíam

uma estrutura ainda elementar subordinada à dinâmica econômica regional, em muitos

casos pautados nas necessidades do próprio núcleo urbano paulista. Destacavam-se

as fábricas de algodão (de Anhaia & Cia. e Diogo de Barros), ferro, fósforos, chapéus,

móveis e alimentos (geralmente de produtos suínos, como banha de porco e

lingüiças), assim como manufaturas mais tradicionais, tais como as olarias, que se

proliferaram em decorrência da expansão urbana e da proliferação das edificações.

Como consequência do incremento do parque industrial paulista, bairros como

o Ipiranga e a Mooca apresentaram uma das maiores taxas de crescimento da cidade,

de modo que áreas desocupadas pertencentes a esses bairros começaram a ser

povoadas com maior intensidade e a formar núcleos independentes, como foi o caso

da Vila Prudente.

Até meados do século XIX, as terras que atualmente compõem a Vila Prudente

eram conhecidas como Campo Grande, de modo que seu desmembramento se deu

apenas a partir de 1876, com a morte de Antonio Joaquim Pedroso, proprietário de

toda a área. A venda de pequenas glebas iniciou um paulatino processo de ocupação

da região, criando pequenas aglomerações populacionais, tal como a Quinta das

Paineiras (RONCO FILHO, 1989).

Fundada na década de 1890 pelos imigrantes italianos Emygdio, Pamphilio e

Bernardino Falchi, que, financiados por Serafim Corso, compraram terras de Martinha

Maria, viúva de Antonio Joaquim Pedroso e proprietária de vastos terrenos entre a

Mooca e o Ipiranga, a Vila Prudente pode ser considerada como um bairro que surgiu

na esteira do primeiro movimento industrial de São Paulo, um pouco após a

sedimentação de bairros como o Brás, Mooca e Barra Funda, mas ainda nesse

mesmo contexto.

Ao aportar em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1868, os irmãos Falchi

iniciaram empreendimentos vinculados à produção de doces até que, após passar por

Minas Gerais, instalaram-se no centro da cidade de São Paulo e abriram, em 1883,

uma pequena fábrica de doces, balas e bombons. A rápida prosperidade do negócio

fez com que os Falchi passassem a procurar um local mais adequado para a

instalação de seu empreendimento, que ao mesmo tempo fosse fora do centro da

cidade, porém não muito distante dele, e que também fornecesse espaço necessário

para a construção de uma pequena vila operária.

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Foi justamente nesse período que, com o apoio do engenheiro Antonio

Prudente de Morais – primo-irmão de Prudente José de Moraes de Barros, futuro

presidente do Brasil – os Falchi conseguiram adquirir terras relativamente altas entre

os bairros da Mooca e do Ipiranga para a construção da Fábrica de Chocolates Falchi,

a primeira indústria dessa região que, em 21 de dezembro de 1899, seria oficialmente

denominada como bairro Prudente de Moraes. Após a instalação da fábrica, iniciaram

a construção de uma capela na Praça Falchi (atual posto de Saúde do Governo do

Estado).

Paralelamente à instalação da Fábrica de Chocolates e de um conjunto de

residências operárias, outras indústrias que foram surgindo no bairro, como a indústria

de Louças Zappi, a Manufatura de Chapéus Oriente e a Fábrica de Papel e Papelão

Búfalo. A implantação da Companhia Brasileira de Telhas e Tijolos – comprada em

1910 pelo engenheiro Luis Ignácio de Anhaia Melo – constituiu outro importante

empreendimento na região, uma vez que fomentou a vinda de imigrantes italianos,

portugueses e espanhóis. A pouco e pouco, outras cerâmicas, tecelagens e fábricas

de calcados foram sendo implementadas na Vila Prudente, que por seu turno passou a

consolidar sua configuração fabril e operária.

Passado alguns anos, os irmãos Falchi começaram a se enveredar por outros

setores fabris. Associando-se aos irmãos Sacoman – que haviam estabelecido uma

fábrica de telhas de cerâmica intitulada Cerâmica Sacoman Frères, por volta de 1890,

na paragem do Moinho Velho, próxima à Estrada das Lágrimas, que ligava o bairro do

Ipiranga ao Caminho do Mar –, os Falchi inauguraram no bairro da Vila Prudente a

Cerâmica Vila Prudente, que se tornou um dos principais centros ceramistas da cidade

e do Estado São Paulo na primeira metade do século XX.

Em meio à criação de um conjunto industrial, a Vila Prudente assistiu ao

advento de uma infra-estrutura para o bairro, ainda que insipiente. Em 1895, os criou-

se o orfanato Cristóvão Colombo, cuja organização ficou sob a direção do Padre José

Marchetti. No mesmo ano, fundou-se, sob a direção de Januário Raso, o primeiro

centro comercial (hoje Praça Veiga Cabral) de armazenagem, açougue, secos e

molhados do bairro. Pouco tempo depois, foi instalada a primeira farmácia, onde hoje

se localiza a EEPG República do Paraguay, e que tinha como proprietário o

farmacêutico Ary Ferreira da Silva.

No inicio da década de 1910, a Vila Prudente já se transformara num dos

pontos de atração de empreendimento e de grupos humanos, fato esse que

desencadeou um novo processo de loteamento de terras, sobretudo ao norte e a leste

do núcleo original. A Fazenda Oratório, por exemplo, foi fragmentada em lotes que

mais tarde viriam a receber o nome de Vila Sapopemba, Vila Primavera, Vila Belém,

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Vila Abrunhosa e Jardim Grimaldi. O alastramento de indústrias de tecelagem,

papelão, cerâmica e chapéus, até pelo menos os anos vinte, promoveu um

aceleramento no processo de ocupação da região, de modo que os atuais Parque São

Lucas e Vila Ema nasceram desse movimento (SARTIORELLO, 1977).

Parte integrante desse amplo processo de desenvolvimento da Vila Prudente

foi à melhoria do conjunto dos caminhos e ruas e o desenvolvimento dos meios de

transporte. O chamado “Caminho da Mooca” (atual Paes de Barros) foi melhorado, o

que dinamizou as relações entre Vila Prudente, Mooca e Brás. Em dezembro de 1904,

foi decretada a construção da primeira rua oficial do bairro – a Estrada de Vila

Prudente –, que atualmente recebe o nome de Rua Capitão Pacheco Chaves. No que

tange aos meios de locomoção, em julho de 1912 chegou até a Vila Pudente o

primeiro bonde – o Bonde 32 –, que por sua vez vinha da Sé numa viajem que

percorria 16,2 quilômetros e demorava quase uma hora. O trajeto inicial do bonde era

o seguinte: Rua General Carneiro; Rua 25 de Maço; Rua do Hospício; Rua Glicério;

Rua Lavapés; Largo do Cambuci; Av. Dom Pedro I; Rua Seis; Rua H; e Estrada Vila

Prudente (RONCO FILHO, 1989).

O desenvolvimento industrial da Vila Prudente refletiu, paulatinamente, na sua

configuração político-administrativa dentro do cenário da capital paulista. Em 1923, o

bairro ganhou autonomia política, uma vez que até então a Vila Prudente era

subordinada ao Ipiranga. De 1920 a 1940, surgiram a Vila Zelina – que recebeu uma

das maiores contingentes de imigrantes lituanos –, Vila Alpina e Vila Industrial, esta

última composta por migrantes nordestinos e imigrantes espanhóis e italianos. Data da

década de 1940, também, o advento da primeira favela do bairro, a Favela da Vila

Prudente, constituída basicamente por nordestinos que vieram a São Paulo para a

construção civil.

Vila Prudente

Fundada em fins do século XIX, em meio ao primeiro surto industrial eclodido

na cidade de São Paulo, a Vila Prudente constituiu um dos principais bairros de

origem fabril e operária da capital paulista. Juntamente com Brás, Mooca, Barra

Funda, Lapa, dentre outros bairros paulistanos, a Vila Prudente surgiu num momento

crucial do processo de inserção do Brasil no capitalismo mundial, isto é, numa época

em que a se a agro-exportação encabeçada pela cafeicultura ainda compunha a base

da economia nacional, as iniciativas industriais deixaram de ser empreendimentos

incipientes, dispersos e de curta duração – tal como ocorrera em meados do século

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XIX –, para imporem, gradualmente, um novo panorama à sociedade brasileira,

notadamente aos antigos centros urbanos do Império e suas adjacências.

A cidade de São Paulo foi pioneira nesse processo que, mesmo com suas

contradições, amalgamou os interesses agroexportadoes e industriais, uma vez que a

necessidade de incorporar o Brasil na nova dinâmica econômica internacional

requeria, entre outras coisas, a implantação de uma nova infraestrutura para a nação,

seja de meios de transporte, de relações de trabalho seja de uso e ocupação do

espaço. Nesse sentido, áreas até então não povoadas ou pouco exploradas, como as

que comporiam a futura Vila Prudente, passaram a ser ocupadas de diversas formas e

para inúmeros fins, servindo tanto aos interesses dos grandes cafeicultores quanto

daqueles setores vinculados às primeiras iniciativas industriais. No caso de São Paulo,

a criação da São Paulo Railway permite entrevermos a pluralidade de objetivos, mas

também de usos, em torno desse empreendimento que alterou substancialmente a

economia paulista e, simultaneamente, as formas de ocupação da cidade, cooperando

assim para a fundação dos chamados “bairros operários”, como foi o caso da Vila

Prudente.

Passados mais de cem anos da chegada das primeiras levas de trabalhadores

- dentre eles muitos imigrantes, em especial italianos –, a Vila Prudente se tornou um

bairro de grande complexidade, de modo que, atualmente, seu perfil operário se

apresenta diluído em meio às tantas outras atribuições que lhe cabem. Não obstante

isso, a característica industrial e operária ainda perpassa a Vila Prudente, quer na sua

realidade concreta, do dia-a-dia do trabalhador e do industrial, quer nas formulações

identitárias ou concepções de patrimônio cultural referentes do bairro.

Um exemplo de bairro operário

A formação da classe operária ao longo da Primeira República esteve

estreitamente associada ao desenvolvimento da indústria nas principais cidades do

país. A passagem da pequena produção e artesanato para a indústria e produção em

larga escala possibilitou um maior enraizamento de contingentes humanos nas

cidades, em grande medida constituídos por imigrantes europeus. Desempenhando as

funções de artesão, operário e empresário, os imigrantes compuseram parcela

significativa do contingente humano que impulsionou o processo de industrialização da

cidade de São Paulo. No ano de 1920, 64,2% dos empreendimentos industriais

fixados no Estado de São Paulo pertenciam a imigrantes, ao passo que por volta de

dois terços dos habitantes de sua capital eram formados por estrangeiros e seus

descendentes (PETRONE, 1990).

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A inserção de famílias europeias em terras brasileiras fez parte de um amplo

processo de imigração pelo qual o país Brasil passou entre a segunda década do

século XIX, com a emancipação política frente ao Império português, e meados do

século XX, após o final da Segunda Guerra Mundial.

Se no Primeiro Reinado a vinda de imigrantes esteve principalmente atrelada

aos centros urbanos – especialmente ao Rio de Janeiro –, que carecia de profissionais

como engenheiros, médicos, ferreiros, boticários, etc., ao longo do Segundo Reinado

e, sobretudo com o advento da República, a imigração ganhou no Brasil contornos

específicos: receber mão-de-obra estrangeira para, num primeiro momento, atender às

necessidades da expansão da agricultura e especialmente da lavoura cafeeira e, num

segundo momento, preencher as vagas de trabalho oferecidas pelas recém-

instauradas fábricas dos centros urbanos em processo de industrialização (PINTO,

1994).

No caso da Província e depois Estado São Paulo, os grandes movimentos

migratórios se deram com maior força mediante a expansão econômica da região,

acentuada após 1880, em decorrência da consolidação das lavouras de café. Em seus

anos derradeiros, o Império conseguiu articular diversos setores da sociedade a fim de

estabelecer uma política de recrutamento de imigrantes. Criou-se daí o sistema de

colonato, que, em relação ao antigo sistema de parcerias, oferecia algumas

vantagens: era baseado num sistema de remuneração misto – calculado com base em

comissões nas vendas do produto agrícola, além de um salário anual – e oferecia ao

colono incentivos fiscais em relação ao transporte e a algumas necessidades básicas.

No que tange à capital paulista, a chegada maciça de mão-de-obra operária

europeia alterou significativamente não apenas a conformação economia da cidade,

mas também sua própria disposição sócio-espacial, na medida em que esse segmento

passou a habitar regiões com pouca densidade demográfica até então, constituindo

assim redutos até então inexistentes em São Paulo. A Hospedaria dos Imigrantes no

bairro do Brás, concluída em 1888, ilustra bem a importância do fluxo migratório para a

cidade de São Paulo e de seu impacto da configuração da cidade. Para o poder

público, contudo, não se tratava tão somente em fornecer espaço suficiente para o

abrigo dessa nova mão-de-obra, mas de abrigá-la em locais específicos que não

entrassem em conflito com os demais segmentos já radicados na sociedade.

Contemporâneas às intervenções feitas na cidade do Rio de Janeiro ao longo

da presidência do governo Rodrigues Alves, as atitudes do poder público paulistano

com o intuito de redefinir os espaços públicos e privados de São Paulo estavam em

estreita sintonia com a expansão da sua malha urbana – em virtude da expansão

econômica propiciada pela consolidação da cafeicultura – como também com os

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processos de delimitação e segregação sócio-espacial impostos pelas políticas de

habitação de fins do Império e início da Republica.

Uma vez que, embora singularmente complexa, a área urbanizada da capital

paulista fosse relativamente reduzida até o ultimo quartel do século XIX, a intervenção

da administração pública se favoreceu da possibilidade de poder abrir de novas áreas

de ocupação e reordenar aquelas já utilizadas (MARINS, 1998: 172-173).

É importante notar que, desde a década de 1870, algumas modificações já

vinham sendo feitas em São Paulo quando essa consolidou o processo de

centralização econômica na capital paulista ante as demais localidades da Província.

Reiterando sua condição de entroncamento de caminhos para outras regiões do

planalto e litoral, a cidade de São Paulo se tornou o eixo central das recém-

estabelecidas linhas férreas, que alinhavavam a capital paulista à Santos, ao Oeste da

Província, ao Vale do Paraíba e ao Rio de Janeiro, dinamização essa que acarretou

algumas conseqüências no cenário paulistano. Além de atrair grandes levas de

fazendeiros que passaram a fixar suas residências na cidade, novas áreas foram

abertas com intuito de abrigar os trabalhadores assalariados, cada vez mais presentes

na cidade em tempo de fim da escravidão.

A preocupação do poder público em criar bairros especificamente direcionados

para o operariado foi uma constante ao longo de fins do século XIX e o início do XX.

Segundo assinala o Relatório da Comissão de Exame e Inspeção das Habitações

Operárias e Cortiços o Distrito de Santa Ifigênia, de 1893, o estabelecimento desses

bairros deveria obedecer a certos critérios lógicos, como a facilidade de comunicação,

o baixo custo dos terrenos e boas condições de abastecimento: “A situação mais

conveniente para as vilas operárias deve ser, sem dúvida, aquela que reúna a

facilidade de comunicação à barateza dos terrenos que devem ser amplos bem como

as vantagens de um abastecimento regular. Em torno da cidade de S. Paulo, num raio

de dez a quinze quilômetros não faltam lugares preenchendo estes requisitos como

vamos rapidamente descrever. Admitindo que as vias férreas, que irradiam desta

cidade no intuito de facilitar o desenvolvimento desta e proporcionar-lhe mais

abundante suprimento dos produtos da pequena lavoura, duplicassem as suas linhas

ou pelo menos multiplicassem os desvios até a distância de quinze quilômetros, ainda

que para isso concorresse o Estado com um auxilio qualquer, as vilas operárias, as

construções destinadas ao agasalho das classes proletárias surgiriam pouco a pouco

ao longo dessas linhas, talvez sem o maior auxilio dos cofres públicos” (COMISSÃO

DE EXAME,1894).

Tendo em vista essas questões, a Comissão propôs o loteamento e a

ocupação sistemática de algumas áreas periféricas, mas não distantes do centro da

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cidade de São Paulo e dos eixos ferroviários. Embora enfatizasse múltiplas áreas de

interesse de ocupação – localidades como Santana, Pirituba, Pari, Mooca, Ipiranga,

São Caetano do Sul, São Bernardo, Penha, Aricanduva e Vila Prudente foram

indicadas como de grande interesse –, esse princípio não era inovador, dado que no

Império, indústrias como as de cerveja, materiais de construção, tecelagem e

mecânica eram implantadas em áreas distantes dos centros urbanos, próximas às

baixadas e linhas férreas, constituindo assim um indutor de ocupação.

A fábrica da Companhia Antártica Paulista, por exemplo, implantada em 1885

no bairro da Água Branca, tinha seu serviço ramais especiais da São Paulo Railway e

da Sorocabana, além de manter habitações para seus funcionários. Nesse sentido,

observa Jurgen Langenbuch (LANGENBUCH, 1971: 135): “a intensa implantação

industrial ao longo das ferrovias convidava os operários a se estabeleceram em torno

das estações ferroviárias situadas fora da cidade, onde poderiam adquirir terrenos, ou

alugar casas, a preços mais razoáveis – enquanto se beneficiavam de um meio de

transporte rápido e de preço acessível entre local de residência e local de trabalho (...)

Consequentemente, vários trechos lindeiros a ferrovias, não dotados de fábricas,

conheceram um expressivo desenvolvimento suburbano de cunho residencial,

formando-se em torno de suas estações autênticos subúrbios – dormitórios”.

Na maioria dos bairros operários formados nesse período – tais como a Mooca,

o Brás e a Vila Prudente – o assentamento dos operários se deu nas proximidades

das ferrovias e fábricas na qual trabalhavam, formando assim complexos fabris

compostos pela força de trabalho e pelos meios de produção, mas não pelo

empregador. Aliás, instaurar conjuntos habitacionais para seus operários foi uma

solução encontrada pelos empreendedores, especialmente nas primeiras três décadas

do século XX. A Cerâmica Vila Prudente, a Vidraria Santa Marina, o Cotonifício Crespi,

a Chapéus Ramenzoni e a Companhia Nacional de Tecidos da Juta foram algumas

das indústrias que criaram moradias específicas para seus trabalhadores. Essas

iniciativas, no entanto, não devem ser vistas como as únicas responsáveis pela

ocupação dessas regiões fabris. Na medida em que constituía uma inversão de capital

relativamente elevada, esse procedimento era recorrente apenas em empresas de

grande porte. Ademais, nem todas as fábricas eram compostas por funcionários cujo

grau de especialização demandava uma estratégia para situálosnas proximidades das

unidades produtivas.

Situadas em contato direto com as calçadas, apresentando portas e janelas

que estabeleciam uma continuidade entre o espaço público e o privado, as habitações

populares estabeleceram uma paisagem urbana especifica, imputando aos chamados

“bairros operários” não apenas uma diferenciação de ordem econômica, mas também

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uma configuração sócio-espacial distinta daquelas dos bairros nobres, na medida em

que seus laços de sociabilidade eram muito mais fluidos. De modo geral, as condições

dessas moradias eram precárias, fazendo com que a expansão do aparelho oficial de

fiscalização higiênica justificasse sua legitimidade.

A Vila Prudente na atualidade: um bairro plural “Quando eu deixo o burburinho da cidade.

É prá Vila Prudente que eu vou.

Bem ou mal, não vou falar em qualidade.

É da Vila Prudente que eu sou.

Eu vivo lá na Vila há tantos anos.

De quando o velho Bonde,

não passava da estação.

Desde quando aquelas ruas pobrezinhas.

Eram simples e descalças, como eu de pé no chão...”

Trecho da música “Samba da Vila Prudente”, de Lauro Miller.

A existência de terrenos baratos e a facilidade de transporte proporcionada

pela São Paulo Railway atraíram para seu entorno tanto empreendedores como

operários das fábricas estabelecidas pelos primeiros, configurando sucessivas

conurbações entre a cidade de São Paulo e seus municípios vizinhos, que por seu

turno transformar-se-iam, futuramente, num dos principais parques industriais do

Estado. Por volta de meados do século XX, São Caetano do Sul e Santo André

passaram a compor um importante núcleo fabril, abarcando algumas das principais

unidades produtivas do parque industrial paulista, tais como a Kowarick (produtora de

lãs e camisas), Generalm Motors, Rhodiaceta e Valisère de jérsei, Rhodia Química

Brasileira, Lidgerwood (máquinas), Firestone Pirelli S.A. e o Moinho São Francisco.

Na mesma época, formando um segundo eixo industrial da região, figuravam

as cidades de São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires. Em contrapartida, bairros tidos

naturalmente como “operários” – tais como Mooca, Brás e Vila Prudente –

gradualmente começaram a perder espaço entre os industriais e os grupos de

investimentos, inserindo-se num processo que recebeu o nome de

“desindustrialização” (LAURENTINO, 2002).

O deslocamento dos centros industriais da cidade de São Paulo para o ABC

paulista e outros municípios situados fora da Grande São Paulo foi um fenômeno que

ocorreu por volta da segunda metade do século XX, período em que a complexificação

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da capital paulista, já metrópole nessa altura, desempenhou um papel importante da

reconfiguração da economia paulista como um todo. Embora os empreendimentos

industriais tenham aumentado na capital paulista após a Revolução de 1930 e a

instauração do Estado Novo – movimentos que trouxeram consigo a cristalização dos

elementos econômicos, sociais e culturais das classes sociais urbana, num processo

de modernização, mesmo que precário, regionalizado e excludente, da sociedade e do

aparelho político-administrativo brasileiros –, a cidade de São Paulo aos poucos

mudou sua feição fabril para uma configuração mais cosmopolita, atrelada aos setores

de comércio e serviços e para os investimentos associados ao capital financeiro,

configurando-se muito mais como um espaço privilegiado de direção e negociação das

atividades do setor secundário do que propriamente uma centro industrial de grandes

proporções.

Somando-se a essas questões de ordem mais geral, podemos notar outras de

caráter mais específico que tornaram a cidade de São Paulo menos atrativa para os

empreendimentos industriais, tais como a alta carga tributária, a organização sindical

do operariado e a problemática do alto consumo de energia. Cooptados pelos

programas de governo que passaram a incentivar a instalação de parques industriais

situados longe dos grandes centros urbanos, os empreendedores do segundo setor

viram-se cada vez menos interessados em implementar suas fábricas em cidades

como São Paulo e Rio de Janeiro, de modo que essas cidades passaram a ser alvo de

outros grupos empresariais, como os setores bancário, hoteleiro, de comércio de bens

de consumo e de entretenimento.

Em meio a essa expansão socioeconômica, surgiu um novo cinturão de

loteamentos residenciais suburbanos, em locais ainda desocupados até meados do

século XX, que serviram de incremento aos bairros já estabelecidos, sendo que

nessas novas aglomerações populacionais verificou-se grande crescimento

demográfico. Se as ferrovias continuaram determinando o crescimento industrial, essa

perdeu um pouco de sua influência a partir da instalação do sistema rodoviário urbano,

que interligou bairros paulistanos e cidades próximas. Nesse âmbito, a especulação

imobiliária começou a se impor com mais força, impelindo a população mais pobre

para loteamentos cada vez mais periféricos, como aqueles localizados nas imediações

dos mananciais das atuais represas Billings e Guarapiranga, na região sul da cidade e

nos extremos das zonas norte, oeste e leste.

Inseridos nesse amplo processo de modernização e pluralização da economia

paulista e nacional, muitos dos antigos bairros proletários de início do século XX

deixaram de compor aglomeração eminentemente operárias, quer pela estagnação e

êxodo dos empreendimentos da capital paulista para outras regiões, pela penetração

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de investimentos diversos do terceiro setor ou pela fixação da classe trabalhadora nas

regiões periféricas da cidade. Símbolo da industrialização da cidade e da cultura

italiana em terras paulistas, o Brás transformou-se um bairro de perfil notadamente

comercial, processo ocorrido similarmente na Mooca, Ipiranga e Vila Prudente.

De pequeno bairro desmembrado do Ipiranga e da Mooca e reduto de olarias,

fábricas de materiais de construção, papel e tecelagens, a Vila Prudente se expandiu e

tornou-se um amplo distrito da capital paulistana, congregando vilas com perfis

distintos, desde aquelas mais residenciais (Vila Bela e Vila Califórnia), comerciais (Vila

Prudente e Vila Zelina) e industriais (Vila Alpina). Assim, a despeito do perfil fabril que

o bairro carregou até pelo menos metade do século XX, a Vila Prudente tem cada vez

mais pluralizado suas características socioeconômicas. Nos últimos anos, o bairro tem

sofrido um intenso processo de verticalização, fazendo com que pequenos lotes

residenciais cedam espaço para empreendimentos habitacionais de classe média, tal

como vem ocorrendo no Jardim Avelino, situado nas proximidades do Cemitério da

Vila Alpina. Diante da relativa estagnação de produção industrial, o comércio e o setor

de serviços têm ampliado seu espaço significativamente.

Todavia, concomitantemente à sua complexificação do bairro, a Vila Prudente

viu surgirem problemas sociais graves, como o advento de favelas e residências

situadas em loteamentos clandestinos. A Favela de Vila Prudente, surgida por volta de

1940 e constituída, majoritariamente, por migrantes nordestinos empregados na

construção civil, prenunciou uma realidade que se tornaria estrutural para o bairro. Se

até meados do século XX a presença de descendentes de portugueses, espanhóis e

italianos se fazia muito presente, a partir dessa época o perfil populacional da Vila

Prudente sofreu significativas alterações, na medida em que a chegada de migrantes

nordestinos passou a ser cada vez mais constante.

Diante deste cenário a memória dos diversos momentos e processos históricos

pelos quais o bairro da Vila Prudente passou manifesta-se na diversidade de suas

construções e, mesmo, na ocupação. As linhas gerais do bairro ainda são aquelas do

loteamento planejado no final do século XIX e começo do XX, embora a ocupação dos

quarteirões tenha se alterado significativamente e, um ou outro, tenha sofrido

anexações ou cortes.

Também permanecem no bairro pontos importantes para a memória de sua

população e para a vida social, como a capela de Santo Emídio e Praça Irmãos Falchi.

Nesse conjunto ainda restam grupos de moradias operárias, muito características dos

bairros operários formados nas primeiras décadas do século XX, e partes de

edificações operárias, as quais – quase todas – perderam suas funções originais

(como é o caso da própria Fábrica de Papel e Papelão). Contudo, nesse mesmo

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espaço convivem construções e estruturas bem mais recentes, como terminais de

ônibus, altos prédios de apartamentos e edificações comerciais de diversas ordens.

Assim, a Vila Prudente é bastante caracterizada pelo mosaico de elementos que se

remetem aos diversos momentos de sua história profundamente ligada à

industrialização da cidade de São Paulo e da formação de sua classe operária, com as

implicações culturais disso, obviamente.

Contando com cerca de 150 mil habitantes, a Vila Prudente atualmente

compõe a subprefeitura de mesmo nome, justamente com os distritos da Vila

Prudente, São Lucas e Sapopemba. Os bairros que formam o distrito da Vila Prudente

são: Jd. Avelino, Pq. Vila Prudente, Quinta da Paineira, Sítio da Figueira, Vila Alpina,

Vila Bela, Vila Califórnia, Vila Lúcia, Vila Prudente e Vila Zelina (PONCIANO, 2002).

O cotidiano fabril em São Paulo: do “caso de polícia” à desindustrialização

"Gioconda, pitina mia,

Vai brincar alí no mareí no fundo,

Mas atencione co os tubarone,

ouvisto Capito meu san benedito.

Piove, piove, Fa tempo que piove qua, Gigi,

E io, sempre io, Sotto la tua finestra

E vuoi senza me sentire

Ridere, ridere, ridere

Di questo infelice qui

Ti ricordi, Gioconda,

Di quella sera in guarujá

Quando il mare ti portava via

E me chiamaste

Aiuto, Marcello!

La tua Gioconda a paura di quest'onda”

Adoniran Barbosa, Samba italiano

Costuma-se afirmar que na cidade de São Paulo, entre as últimas décadas do

século XIX e as primeiras do XX, falava-se na rua não o português, mas o italiano

(BRUNO, 1953). Isso é parcialmente verdade, pois, poderia se ouvir também o

espanhol, o árabe, idiomas do leste europeu, alemão e, posteriormente, o japonês

também.

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A confusão linguística não era necessariamente uma novidade para a cidade

de São Paulo, posto que, até o período pombalino (a segunda metade do século XVIII)

mais comum do que o português no cotidiano da população paulistana era o

“nheengatú”, ou língua geral, uma adaptação do tupi elaborada com a ajuda da ação

missionária jesuítica (MONTEIRO, 1995, L’ESTOILE, 2006).

Em verdade a mistura do italiano com o português e outras línguas latinas

presentes na cidade, graças às imensas levas de imigrantes que chegaram a partir de

meados do século XIX, era um dos elementos que compunha o processo de

transformação da região da cidade de São Paulo e seu entorno no mesmo período.

Esse processo acabou por definir um novo imaginário a respeito de São Paulo desde

então, e pela primeira vez, na história do Brasil, um imaginário fundamentado na figura

do imigrante, do operário, do subúrbio e também, do trabalho. Até então São Paulo já

houvera passado por inúmeros momentos, com imaginários diferentes – do povo

inculto, rebelde e sem civilidade aos “gloriosos bandeirantes” (ABUD, 1985) -, mas

nunca outra região do Brasil consolidara um imaginário associado ao trabalho e ao

operariado. É claro, a industrialização no Brasil se deu tardiamente em relação à

Europa ocidental e aos Estados Unidos da América, porém outras regiões do Brasil

ensaiaram processos de industrialização no começo do século XX, ou até antes,

porém, em nenhuma delas consolidou-se – com a exceção da cidade do Rio de

Janeiro – uma classe operária como em São Paulo.

Mas o operariado em São Paulo em suas primeiras décadas assumiu

características bastante peculiares que, nas Américas, só possui paralelo na cidade de

Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. A presença maciça de migrantes

transformou profundamente a cultura cotidiana da cidade, dando-lhe traços que

passaram a serem vistos como “paulistas”. Entre esses traços o da própria fala.

É somente com a chegada da massa de imigrantes que a fala de São Paulo

ganha seu sotaque característico, forjado nos subúrbios e não entre as elites (a qual,

com o tempo, passa a incorporar também imigrantes como os Matarazzo, os Chofi, os

Klabin, os Scaff, os Gurgel, os Scarpa, Pignatari, Street, etc). Os bairros operários

foram, efetivamente, os locais da construção desse novo falar, com seu modo cantado

característico, cortando as letras finais, arrastando o “r”. Também da presença dos

italianos, sírios, libaneses, espanhóis e portugueses surgiu o falar alto e extremamente

gesticulado.

Alguns bairros ficaram famosos por aglutinarem essa massa de imigrantes

operários ou artesãos, como o Brás, Bixiga e Barra Funda os quais batizaram o livro

de Alcântara Machado. É claro que, de outro lado, os próprios paulistas (nesse caso a

população mais pobre que passou a dividir espaço com os imigrantes) foram à outra

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parte da constituição dessas “culturas operárias paulistas” das primeiras décadas do

século XX.

É compreensível que os italianos tenham exercido a maior influência nesse

processo, tanto pelo fato de serem a maioria absoluta quanto pelo fato de possuírem

colônias muito diversificadas e pouco fechadas, diferentemente de outros grupos de

imigrantes (como judeus, japoneses e eslavos). Os números são bastante variados e

dizem respeito a momentos diferentes e dimensões de espaço igualmente diversas,

mas dão alguma noção do processo de imigração: os judeus – em verdade de muitas

nacionalidades - representam 35.521 entre 1925 e 1935 (GRÜN, 1999: 355), sírios e

libaneses 48.326 entre 1908 e 1941 (somente em São Paulo) (TRUZZI, 1999: 320),

280.000 alemães até 1940 (SEYFERTH, 1999: 274), espanhóis 379.492 (também

somente em São Paulo) (MARTÍNEZ, 1999: 251), enquanto os italianos respondiam

por 1.400,000 dos 3.330,188 imigrantes registrados no Brasil entre 1870 e 1920

(ALVIM, 1999: 383).

São Paulo tornou-se, em meados do século XX, a maior cidade italiana fora da

Itália, a maior cidade japonesa fora do Japão e assim por diante. Mas, é sempre entre

a massa dos trabalhadores, entre a população “sens qualité” que se operam as

grandes mudanças cotidianas, as mudanças na “cultura banal” (ROCHE, 2000). A

presença desses trabalhadores de várias cores, credos, origens, inseriu passo a passo

na cidade hábitos que transitavam entre aqueles praticados em suas terras de origem

e aqueles encontrados na região.

Proliferaram-se as indústrias para atender demandas específicas como as

indústrias de alimentos de origem estrangeira, como macarrão o qual foi, passo a

passo ganhando espaço na mesa dos trabalhadores em São Paulo. A farinha branca

ganhou definitivamente a hegemonia, depois de séculos lutando pelo lugar na tabela

nutricional dos povos do planalto contra a farinha de mandioca e de milho (HOLANDA,

1995), a cerveja e o vinho se disseminaram mais rapidamente também, bem como

outros produtos, muito estranhos até então, mas que passaram a compor o cotidiano

das populações de São Paulo: o gergelim, as amêndoas, pistaches, nozes, coalhada e

muitos condimentos trazidos pelos imigrantes de ascendência árabe, as frutas

vermelhas, a batata, certos preparos da carne de porco vindas com o os imigrantes

alemães que se estabeleceram para as bandas de Santo Amaro, os frutos do mar, o

azeite, os embutidos (salames, copas, presuntos e afins), as azeitonas que ganharam

força com o aumento dos imigrantes dos povos do Mediterrâneo (espanhóis, italianos

e portugueses, embora voltados para o Atlântico), frutas, legumes e verduras, o chá

verde, os macarrões orientais, o missô e o shoyu trazidos pelos japoneses.

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Sem dúvida nenhuma o quadro nutricional dos paulistas, incluindo as classes

operárias, tornou-se o mais variado de todo o território nacional, implicando em todo

um aparato para adequar esses produtos a uma nova terra e possibilitar sua produção,

abastecimento e consumo aqui.

Isso se materializou na constituição de fábricas, lojas, importadores, produtores

agrícolas que até então inexistiam em São Paulo. Daí a criação também do imaginário,

o qual tem fundamentos na realidade, de que padeiros em São Paulo são

portugueses, donos de cantinas, pizzarias e empórios são italianos, donos de

quitandas e granjas são japoneses, de lojas de tecido são “turcos” (sírios e libaneses)

ou judeus.

Para além do universo alimentar, esse processo ocorreu analogamente nos

setores de vestuário, serviços, materiais de construção, etc, e para cada grupo de

atividades humanas novos desdobramentos, os quais, no todo, compõem uma

verdadeira revolução cultural na capital paulista entre o final do século XIX e as

primeiras décadas do século XX.

Na cidade se proliferaram igrejas católicas de santos de devoção das colônias

de imigrantes, como Nossa Senhora de Achiropita no Bixiga, San Genaro no Brás,

outras tantas dos espanhóis e portugueses. Surgiram com mais forças, também,

igrejas de outras vertentes do cristianismo, até então mal e mal toleradas na cidade de

São Paulo. Exemplos como a igreja de Nossa Senhora na região da 25 de Março

(igreja dos cristãos libaneses), ou a Igreja Ortodoxa no bairro do Paraíso, as dos

cristãos armênios no bairro da Armênia, ou ainda a luterana próxima ao largo do

Paisandú no centro da cidade.

Surgiram também as primeiras mesquitas e sinagogas (as quais, em verdade,

não tiveram mais de se esconder) nos bairros de Higienópolis e Bom Retiro. Por fim,

os templos budistas e xintoístas, alguns na Liberdade, outros nas áreas verdes – o

cinturão verde – da cidade de São Paulo, em Mogi das Cruzes, Suzano e Cotia.

Obviamente que, para as autoridades, muitas delas imersas ainda nas teorias

raciais do século XIX, a presença de tantos matizes não era percebida com muitos

bons olhos, sobretudo a presença de orientais, vistos como humanos de segunda

categoria. O próprio Sérgio Milliet via a chegada dos italianos como um momento ideal

para curar a população brasileira da preguiça e da falta de iniciativa que lhe marcava a

história (MILLIET, 1982).

Assim, o cotidiano desses trabalhadores imigrantes podia também ser marcado

pela violência das autoridades ou pela perseguição dos fiscais e policiais, sem contar

a discriminação em certas circunstâncias. O processo de integração desses novos

contingentes demográficos não se deu num universo idílico, paradisíaco e harmônico.

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O choque cultural muitas vezes norteou as relações e definiu espaços de circulação e

de integração. Povos com características culturais menos próximas às dos europeus,

de credos não cristãos, ou que não tivessem a habilidade dos comerciantes e

mascates judeus e sírio-libaneses podiam sofrer muito mais dentro do universo

multicultural de São Paulo nas primeiras décadas do século XX.

Episódio significativo e esclarecedor dessa dinâmica é o que envolve o período

da 2º. Guerra Mundial. Nenhuma outra região congregava os três grupos de

imigrantes provenientes dos países do Eixo num só lugar além de São Paulo: italianos,

alemães e japoneses. Entretanto, desses três grupos os italianos foram os que menos

sofreram retaliações da população não imigrante, e os japoneses os que mais

sofreram. Tal gradação dos atos de discriminação é compreensível tanto pelos

aspectos culturais de cada um dos povos quanto pelas concepções racistas de muitos

dos governantes.

Foi justamente no pós-guerra que o bairro da Liberdade se firmou como área

de imigrantes japoneses, pois até então eles se concentravam na Rua Conde de

Sarzedas e seu entorno, próximo a Baixada do Glicério. Contudo, durante os anos de

guerra, foram desalojados, perseguidos e muitos presos, somente podendo retornar

com o fim das hostilidades ou muitos anos depois.

No retorno optaram por se estabelecerem na região da Rua dos Estudantes e

na Rua da Glória, o coração da Liberdade. Também com essa leva de imigrantes

chegaram novas mentalidades políticas, muito distantes do universo mental até então

estabelecido em São Paulo. Foi com os imigrantes que chegou a São Paulo – e a

alguns outros núcleos urbanos do Brasil, como Rio de Janeiro e Recife – o anarquismo

e, posteriormente a 1917 (CARONE, 1991), o comunismo.

As condições de trabalho estabelecidas na capital paulista até o período

Vargas (e, sobretudo, após 1937) se remetiam à situação dos trabalhadores ingleses

do século XIX em plena Revolução Industrial. Ou seja, nenhuma estabilidade no

trabalho, o qual era acordado por jornada implicando na possibilidade imediata de

dispensa a qualquer entrevero com os superiores, o uso massivo de menores (com

oito ou dez anos de idade) nas linhas de produção, em jornadas de 12 ou até 16 horas

de trabalho. Além disso, uma ausência sistemática de qualquer estrutura de

atendimento ou de seguridade social – as quais somente seriam implantadas

sistematicamente no ocidente após a 2º. Guerra Mundial e no Brasil após 1954 –

tornava o cotidiano operário nas primeiras décadas do século XX ainda mais

desesperadores. Uma epidemia de gripe, como a “gripe espanhola” que grassou a

cidade de São Paulo entre 1917/1918, poderia simplesmente implantar o pânico entre

as massas que se aglomeravam nos cortiços e nos subúrbios da cidade.

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Os efeitos devastadores do período das grandes guerras (1914-1945,

HOBSBAWM, 2002: 29 a 60), nos quais regimes totalitários se formaram e ideologias

extremistas se fortaleceram como opção para a massa de trabalhadores

desamparados e ansiosos pela busca de “culpados” acendeu a luz amarela para os

governos que se estabeleceram após 1945. Em verdade a quantidade de turbulências

sociais que atravessou o século XX tiveram todas componentes ideológicos, classistas

e, no limite, em alguma medida operário.

Mesmo o início dos conflitos em 1914 – sempre tomado como uma reação

violenta e armada aos desejos imperialistas de várias nações – teve um componente

classista por trás. Exemplar de como os governantes viam a questão operária até

meados do século XX é o famoso comentário feito por Washington Luis quando

ocupava o cargo de prefeito da cidade de São Paulo no final da década de 1910 e

eclodiu uma greve geral (duas em verdade, justamente nos mesmos anos da gripe

espanhola, 1917 e 1918) de dimensões jamais vistas no Brasil: “Questão social é

assunto de polícia!” Contudo, diante da pressão do operariado (fortalecido

ideologicamente após 1917 com a vitória da Revolução Russa e com a afirmação da

União Soviética após o término da 2º. Guerra Mundial) e do temor dos governantes de

que o comunismo tornasse-se a nova ideologia a se espalhar entre a classe operária

ocidental (como ocorrera com o fascismo e o nazismo) paulatinamente políticas

sociais foram sendo desenvolvidas e implantadas, sobretudo entre o operariado.

O chamado “Estado do Bem Estar Social” (“wellfare state”) nada mais foi do

que uma reação das elites ocidentais aos temores de que uma nova catástrofe

pudesse se implantar, com dimensões cada vez maiores, dado o estabelecimento das

sociedades de massa.

No Brasil o processo que precedeu a implantação das políticas sociais – as

quais tiveram no governo de Getúlio Vargas seu grande momento – foi marcado pelo

paulatino estabelecimento do comunismo entre os operários cariocas e paulistanos,

substituindo o anarquismo que, vindo com os imigrantes italianos, dominara os

corações e as mentes até então. A virada se dá exatamente após 1917, tanto pelo

sucesso da Revolução Russa – de tons comunistas – quanto pelo fracasso das greves

gerais em São Paulo – de inspiração anarquista. É nisso que se dá o estabelecimento

dos partidos políticos do operariado, sobretudo o Comunista, ao passo que, até então,

a organização privilegiada pela massa trabalhadora de matizes anarquistas tivera sido

o sindicato, ou “anarco-sindicato” (HARDMAN, 2002: 39 a 66).

Em ambos os casos, tanto nos sindicatos de cores anarquistas quanto nos

partidos de inspiração comunista está implicada a necessidade de uma crescente

organização do operariado, com o fortalecimento de seus laços solidários e de suas

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práticas cotidianas. É exatamente por isso que Edward Thompson (THOMPSON,

1987: 10 e seguintes) enfatiza que a classe social é algo que se forma no processo e

não antes dele, é somente dentro da dinâmica que as consciências se desenvolvem e

as práticas se consolidam.

Por isso as práticas associadas ao mundo do trabalho na cidade de São Paulo

não só criaram uma cultura operária como criaram a própria identidade entre os

trabalhadores. Os teatros operários, as cooperativas, os jornais, as agremiações

tornaram-se elementos fundamentais na dinâmica cotidiana dos trabalhadores e de

suas demandas.

Vale lembrar que o sindicalismo no Brasil, após a tomada do poder por Vargas

em 1930, passa por cooptação pelo poder federal. Através das leis paulatinamente

implantadas o sindicalismo passa se tornar o que se denominou “peleguismo”, uma

prática comum entre os governos populistas da América Latina (CAPELATO, 1998:

141 e seguintes). Pelego é a manta que vai entre o cavalo e o cavaleiro, o que é

bastante elucidativo a respeito do papel dos sindicatos autorizados pelo governo e

com exclusividade ditada pela lei. Dessa forma autorizava-se o movimento sindical

sem, no entanto, perder totalmente o poder sobre a massa operária.

Com as redemocratizações pós 2º. Guerra Mundial os governos populistas não

só perdem apoio como são violentamente atacados por setores que viam neles

correlatos dos totalitarismos que haviam sido combatidos no conflito armado. Isso dá

origem a um novo momento na história e na cultura do operariado na América Latina.

É justamente no retorno de Getúlio Vargas ao poder, em 1950, que se inicia o

estabelecimento das políticas de Estado para o operariado (seguridade social,

previdência) e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Com o suicídio de Vargas em 1954 abriu-se uma nova possibilidade para a

classe operária brasileira, para, finalmente, adotar uma postura política que não fosse

tutelada. O governo de Juscelino Kubitschek pouca atenção deu ao operariado,

centrando sua política na idéia do desenvolvimentismo. É claro que diante das tensões

que levaram Vargas ao suicídio, antes que fosse novamente derrubado, mostraram a

JK que o ambiente na segunda metade da década de 1950 – tanto internamente

quanto externamente – não eram propícios para qualquer movimentação política que

cheirasse a aproximação com o socialismo. Com isso restou-lhe a alcunha de

“Presidente Bossa Nova”, o que não descarta algo de frívolo e alienado. O mesmo

procedimento não foi adotado por João Goulart, o qual assumindo após a renúncia de

Jânio Quadros e o curto período de parlamentarismo, tendo a frente Tancredo Neves,

adotou uma política de aproximação com o operariado e de revitalização das

instituições criadas por Vargas, não acidentalmente seu padrinho político.

Page 57: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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O resultado de sua desastrada trajetória foi à deposição no Golpe Militar de 1º.

de abril de 1964, o qual abriu um capítulo deplorável para a cultura operária no Brasil.

No período que vai de 1964 até meados dos anos de 1970 a movimentação do

operariado foi paulatinamente caçada e sufocada. As agitações culturais que

envolviam operários e estudantes no período pré 1964 – como os Centros Populares

de Cultura, os CPCs, os grupos de teatro engajados, as vanguardas artísticas, etc –

diminuíram significativamente diante de várias estratégias de sufocamento. Os

partidos políticos, colocados na ilegalidade, deixaram de ser os aglutinadores do

movimento operário nesse período, sobretudo após 1969, com a promulgação do Ato

Institucional N 5, e a instauração dos “anos de chumbo”.

Foi no esgotamento da linha dura, em meados dos anos de 1970, que o

movimento operário pode renascer, mas, dessa vez, em bases novas. Associado á ala

da Igreja Católica movida pela Teologia da Libertação o movimento operário pode se

reorganizar em torno das Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs. Até a liberação

novamente do direito de livre agremiação, ou seja, do restabelecimento de um regime

pluripartidário, os operários passaram a se organizar dentro de novos sindicatos, não

mais presos ao Estado pela força do peleguismo. Isso desembocou nas grandes

greves do começo dos anos de 1980 em Osasco, Paulínia, ABC Paulista, as quais

reagiam às constantes fraudes do governo na manipulação dos dados da economia,

os quais escondiam a inflação galopante e a constante perda de poder aquisitivo.

Associado a esse movimento operário, renasceram práticas que haviam dado o tom

do anarco-sindicalismo em São Paulo nos anos de 1910 (HARDMAN, 2002).

Contudo, se ao longo dos anos de 1980 esse novo sindicalismo e o resgate de

uma cultura operária de longa data deram o tom, os anos de 1990, com a abertura do

mercado brasileiro ao exterior e a insolúvel crise econômica nacional marcaram um

longo processo de desintrustrialização das áreas metropolitanas, e também da perda

do vigor econômico da indústria nacional. O resultado mais claro disso foi uma

fragmentação da classe operária, a perda de legitimidade das lideranças sindicais e o

enfraquecimento de uma cultura operária construída a duras penas.

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3.2 As pesquisas na Companhia Industrial Paulista de papéis e papelão

A Companhia Industrial Paulista de Papéis e Papelão: Histórico

Pouco se sabe sobre a origem da Companhia Industrial Paulista de Papéis e

Papelão (CIPA). Fundada no início do século XX por integrantes da família de

imigrantes italianos Cavalari, a CIPA já figurava no Mapeamento Topográfico do

Município de São Paulo publicado em 1928 pelo Instituto Sara Brasil, de modo que

sua origem deve residir, provavelmente, entre a primeira e segunda década do mesmo

século. Ainda que haja indícios de que haveria um estabelecimento industrial no local

da CIPA já em 1890, conforme aponta a Planta da Villa Prudente fundada pelos

Irmãos Falchi e Serafim Corso em 1890 (s/a: 2005), é difícil assinalar com precisão se

o empreendimento ali destacado compunha de fato as primeiras instalações da fábrica

de papel e papelão.

Localizada entre as ruas Cavour, Engenheiro Bemmer (hoje Itamumbuca),

Correa Barbosa (onde atualmente passa a Avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia

Melo) e Giulio Cesare (parte da atual Ibitirama), no bairro da Vila Prudente, a CIPA foi

por muito tempo conhecida como Companhia de Papéis e Papelão Búfalo, uma vez

que a marca dos papéis e papelões produzidos na CIPA tinham como o nome Búfalo

como marca. O time de futebol que ali se formou durante a década de 30 – O Búfalo

A.C – também ajudou a disseminação do nome. Este deixou de ser utilizado quando a

própria CIPA resolver extinguir a marca e o logotipo Búfalo, por volta da década de

sessenta.

Em 1964, a família Cavalari resolveu vender a CIPA, que foi comprada por

integrantes da família libanesa Salim. Esses, por seu turno, permaneceram na direção

da fábrica até seu fechamento, em 1993.

Desde que foi removida para Pindamonhangaba, em meados da década de

noventa, a CIPA não voltou a ter algum estabelecimento na Vila Prudente. A história

da CIPA, em certa medida, é um exemplo do processo de industrialização e

consolidação de uma classe operária paulista. Uma indústria que começou por

iniciativa de uma família de imigrantes italianos e que, como perceberemos pelos

sobrenomes de seus antigos operários, operou durante décadas movida pelos braços

de seus conterrâneos. Não somente italianos, é claro, mas também espanhóis e

portugueses, e depois seus filhos e netos. Das mãos dos Cavalari a CIPA passou aos

libaneses Salim, outro grupo de imigrantes que prosperou nos negócios de São Paulo.

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Com alguma frequência associa-se os imigrantes somente a lavora de café ou

ao operariado na cidade de São Paulo, contudo, na realidade, os imigrantes se

espalharam por diversas atividades econômicas, com alguma concentração, é

verdade, mas de modo bastante diversificado. Da mesma forma a rapidez com que

algumas famílias de imigrantes tornaram-se empresárias na cidade de São Paulo

explicita o equivoco de se ver toda a massa de estrangeiros como aventureiros sem

eiras nem beiras. Algumas das

famílias de imigrantes, nem tão poucas assim, chegaram ao Brasil com cabedais

suficientes para não terem de se submeter ao trabalho assalariado.

O tamanho das iniciativas desses imigrantes, obviamente, variou de acordo

com o capital que puderam amealhar e trazer para Brasil (advindo de vendas de

propriedades, terras, etc, em suas pátrias natais), uns conseguiram o suficiente para

abrir uma venda, um açougue, uma loja de roupas, outros o suficiente para comprara

algumas mercadorias e se tornarem caixeiros viajantes (como muitos sírios e

libaneses fizeram), outros, com mais posses, abriram pequenas fábricas de alimentos

e bens de consumo (como os Matarazzo).

A habilidade de alguns fez a diferença a partir de então, bem como as

oportunidades apresentadas por uma sociedade em franco crescimento demográfico e

em processo de urbanização, o que implicava numa crescente demanda por certas

ordens de produtos como materiais de construção civil (para os bairros e edifícios que

se proliferavam pela cidade, sobretudo na expansão de seus subúrbios), alimentos

(que sempre é a categoria de mercadoria primeiramente impactada por processos

demográficos), vestuário.

Cotidiano e trabalho Ao fechar suas portas, em 1993, a CIPA produzia uma grande variedade de

papéis e papelões, quer para o mercado interno quer para o externo. Tal diversidade

na produção, todavia, não existiu desde a fundação da fábrica, já que ela foi resultado

de um amplo processo de afirmação da fábrica no cenário de fabrico de papéis, do

advento de demandas de consumo específicas, bem como da paulatina ampliação e

complexificação de sua estrutura produtiva.

Para entendermos esse movimento pelo qual passou a CIPA, é necessário que

se tenha em mente, primeiramente, os processos centrais do fabrico industrial do

papel. A principal matéria-prima básica para a produção de papel advém da madeira.

Depois de serem talhados em diversos pedaços, os troncos são submetidos a um

processo de descascamento e corte, ganhando a forma de pequenas lascas, que são

chamadas de “cavacos” pelos produtores de papel.

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Após esse procedimento, os cavacos são cozidos em tanques intitulados

digestores que, juntamente com as lascas de madeira, fervem uma mistura formada

por água e agentes químicos, tais como o sulfito e o caulim, a fim de dar cor e

consistência ao que será chamado de polpa ao fim do processo.

Dentro de centrífugas e tanques, a polpa é submetida a um procedimento de

lavagem, de modo que os cavacos que não se dissolveram bem como outras

impurezas são considerados como refugo. Limpa e compacta, a polpa passa por um

tempo de repouso em outros tanques, estabelecendo uma etapa chamada de

branqueamento, que tem como fim separar a celulose de outros resíduos. Estes,

juntamente com pedaços maiores de madeiras que não foram aproveitados na

constituição da polpa, são queimados em caldeiras e transformados em energia

elétrica, que por sua vez ajuda a alimentar o próprio fabrico do papel.

Terminado esse processo, a polpa de celulose, ainda com alto teor de água,

passa por uma máquina intitulada “mesa plana”, que é responsável por transformar

essa massa úmida numa grande folha lisa e contínua. Essa fica repousada sobre uma

esteira rolante de feltro até ser enviada para rolos de prensagem e secagem com ar

quente, que têm como finalidade retirar a água em excesso, compactar o papel e alisar

a folha. De acordo com o tipo de produto que se almeja, o papel ela ainda passa por

uma “revestidora” (conhecida como coater), que constitui um rolo que aplicador de

películas às folhas de papel, a fim de protegê-lo ou dar-lhe brilho.

No fim do processo, a folha passa por uma máquina chamada “enroladeira”

bem como por “rolos de rebobinagem”, que fazem como que o papel descole da

esteira rolante e forme grandes rolos ou bobinas. A partir daí, o papel está pronto para

o corte e empacotamento.

Do início da década de 1920 até meados da década de quarenta, a CIPA

produziu apenas papel sulfite, cartolina e papelão. A celulose era comprada,

majoritariamente, de plantadores de eucalipto e pinho situados nas redondezas de

São Paulo, tal como em Mogi das Cruzes e Suzano. O eucalipto, árvore que possui

fibras curtas, é utilizado na produção de papéis de baixa resistência, utilizados em

escritórios e afins, o pinho, por sua vez, possui fibras longas, sendo, portanto,

empregado na fabricação de papelões e papéis de alta resistência, utilizados em

embalagens e correlatos. Durante esse período, a fábrica era constituída por três

unidades básicas: um escritório e dois galpões, sendo um direcionado para o

armazenamento da celulose e outro para abrigar o maquinário responsável pelo

fabrico do papel, chamado de “Máquina 1”. Esta constituía, de modo geral, um

conjunto de máquinas necessárias para o fabrico do papel, tal como foi elucidado

acima. Fora das edificações, havia também uma área aberta voltada para a secagem

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do papel e um poço, cuja água era retirada do córrego da Mooca e servia para

abastecer a fábrica.

Na segunda metade dos anos 40, a CIPA adquiriu um novo maquinário para o

fabrico de papel, mais moderno, que ficou conhecido como “Máquina 2”. Trabalhando

com duas máquinas, a CIPA passou a produzir outros tipos de papéis, em especial

novos formatos de cartolina.

Por volta de 1965 a CIPA comprou ainda outro maquinário – a “Máquina 3” –

que, dadas suas características, proporcionou a fabricação de diversos tipos de papel

(cartão, especiais, de segurança, de impressão, de embrulho) e papelão. Rótulos de

segurança para cigarros, suportes para doces e chocolates, papéis para cartões de

visitas e convites do casamento se tornaram importantes produtos da CIPA após a

instalação da Máquina 3.

Nessa época, construiu-se um almoxarifado definitivo para a fábrica. Em 1993,

ano de fechamento da fábrica, a produção variava entre 1600 e 1700 toneladas por

mês. Nesse sentido, é difícil precisar a evolução do corpo de funcionários durante todo

o período de funcionamento da fábrica, embora seja possível estabelecer alguns

números aproximados. Até a década de 50, os funcionários não excediam uma

centena, ao passo que nos anos sessenta, o número de funcionários girava em torno

de 150.

Crescendo paulatinamente, atingiu a casa dos 320 na época do fechamento da

fábrica, no inicio dos anos noventa. Tal aumente esteve atrelado tanto à ampliação da

capacidade produtiva da fábrica como da inserção da CIPA no mercado internacional,

o que demandou a criação de novos postos de trabalho.

O número de homens sempre foi bem superior ao das mulheres, sobretudo por

conta do tipo de atividade exigida pela fábrica. Enquanto os homens desempenhavam

as funções de operadores (de caldeira, filtro d’água, esteiras, revestidoras, etc.),

graxeiro, prensista, dentre outros, as mulheres ocupavam cargos nas áreas de

seleção, corte, empacotamento, ou no escritório.

Exatamente por ter passado por diversos momentos e ter constantemente

ampliado seu parque industrial a CIPA não constitui um conjunto arquitetônico

homogêneo. As fotos das décadas de 1930, 1940 e 1950 mostram uma fábrica muito

mais modesta, com a estrutura original de dois galpões e escritórios, com a torre de

energia na frente.

Atualmente o conjunto é composto por inúmeros galpões e anexos, além dos

pátios de expedição e estacionamento, além do muro externo que não havia em

tempos anteriores. A adição do muro que separa a fábrica da rua denuncia, inclusive,

uma mudança social significativa; nos relatos dos antigos operários é recorrente a

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referência à liberdade com a qual as pessoas entravam e saiam da fábrica. A relação

com a comunidade era muito intensa, reforçada tanto pelas políticas de assistência

(como o cooperativismo) quanto pela própria associação entre bairro operário e

fábrica. Essa relação, uma das constantes das primeiras décadas da industrialização

no Brasil, dissolveu-se, com o agravamento de inúmeros problemas urbanos. Se antes

o trabalhador andava dois ou três quarteirões para chegar ao seu lugar de trabalho,

hoje é obrigado a viajar por horas.

Os motivos pelos quais essa mudança ocorreu são múltiplos, desde uma

precarização de alguns setores do operariado até a fuga das fábricas da região

metropolitana, em busca de incentivos e mão de obra mais barata, mas também não

podemos excluir a especulação imobiliária e interesses paralelos no fornecimento de

serviços para as grandes aglomerações humanas. Assim a estrutura básica da

edificação original, dos anos de 1920, convive com inúmeras adições, com emprego

de materiais construtivos diversos. O prédio original é essencialmente marcado pela

onipresença do tijolo comum aparente, argamassa, telhas “francesas” (parte do

material fabricado, inclusive, na antiga Cerâmica Vila Prudente próxima dali) e

estruturas auxiliares (janelas e portas) de ferro e madeira, em modelo bem

característico dos edifícios industriais do período.

Contudo, as adições realizadas nas décadas de 1960 em diante primaram pelo

uso de tijolos “baianos”, telhas de amianto, de zinco ou de fibra, e portas e portões de

chapa de ferro. O refeitório e os banheiros – bem como algumas das estruturas de

armazenamento da pasta de celulose – receberam azulejos modernos e as janelas de

vidros com malhas internas de metal. Em suma, a CIPA acompanhou a mudança nas

estruturas edificadas industriais e a alteração nos materiais construtivos utilizados, o

que compõe, em verdade, novas mentalidades e novas práticas no cotidiano do

trabalho industrial.

O aumento gradual de funcionários fez com que a CIPA implantasse algumas

políticas de favorecimento ao operariado. Nesse sentido, criou-se uma cooperativa

para os funcionários da fábrica que, à semelhança de outras iniciativas do gênero – tal

como a cooperativa implementada pela indústria química francesa Rhodia e pela

indústria de automóveis Volkswagen –caracterizava-se por vender gêneros de primeira

necessidade aos seus funcionários (especialmente arroz, feijão, açúcar, sal e ovos)

por preços mais baixos que aqueles encontrados no mercado.

Faz-se necessário notar que se por um lado esse tipo de iniciativa beneficiava

os trabalhadores, por outro criava um laço ainda mais estreito entre o empreendedor e

o empregado, uma vez que esse via seu salário descontado de acordo com os gastos

feitos pelo operário na cooperativa, o que tornava ainda mais concentrado o capital

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gerado pela indústria. Funcionado por mais de uma década a cooperativa parou de

funcionar em meados da década de sessenta. Outra iniciativa promovida pela CIPA

em relação a seus funcionários foi à construção de casas operárias nas proximidades

da fábrica, durante as décadas de 40 e cinquenta. Uma vez que as terras situadas nas

margens do Riacho da Mooca eram pouco ocupadas, ao menos na altura da fábrica,

a direção da CIPA resolveu construir algumas moradias nessa região, que eram

alugadas ou vendidas aos funcionários.

O lazer, a festa e a identidade

Desde sua fundação, mas principalmente após a década de cinqüenta, a CIPA

se caracterizou por ser uma fábrica cujo corpo de funcionários foi alvo de poucas

alterações, o que proporcionou a manutenção de um mesmo grupo de trabalhadores

por bastante tempo. Não foram raros os casos de operários com mais de trinta anos

de trabalho na fábrica, o que fez criar laços de amizades muito estreitos entre os

funcionários e suas respectivas famílias. Assim, além de uma cultura marcadamente

operária, similar à desenvolvida em outras regiões fabris da cidade de São Paulo,

estabeleceu-se uma cultura própria da CIPA, com seus significados e singularidades.

Uma das principais manifestações culturais atreladas à CIPA foi o Bloco dos

Cabeções, grupo de carnaval surgido na década de 1930 após iniciativa de Vitorino

Pizzo, Sergio Pizzo, Miguel Lopes e Eugenio Corazza, e que obteve grande aceitação

por parte dos funcionários da CIPA.

De modo geral, o bloco era composto pelos operários da fábrica que se

fantasiavam de bonecos com grandes cabeças feitas de papel marché, que por sua

vez eram confeccionados na própria fábrica ou comprados de outras localidades,

como de Santana do Parnaíba. Além de comporem as comemorações de carnaval

organizadas dentro da fábrica, o Bloco dos Cabeções também desfilava em outras

festas da Vila Prudente, tornando-se conhecido em todo o bairro. Com o passar do

tempo, criou-se a Escola de Samba dos Cabeções, que já não estava mais

diretamente vinculada aos funcionários da CIPA. Atualmente recebe o nome de Escola

de Samba Independente.

Outra manifestação cultural significativa vinculada à CIPA foi o time de futebol

Búfalo AC., criado durante a década de 1940 e que utilizava como campo uma área

não produtiva da própria fábrica. Juntamente com outros clubes da região, tais como o

E.C Vila Ema, Grêmio Jardim Independência, E.C Quinta das Paineiras, o Búfalo

compôs o circuito de futebol de várzea da Vila Prudente nas primeiras décadas do

século XX.

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Tendo com primeiro dirigente o Sr. Idílio Bertolassi e como jogadores os

funcionários da fábrica, o Búfalo conquistou, em 1954, o campeonato Galo da Várzea

ou Galo de Ouro, tornando-se famoso diante dos demais times de várzea da cidade de

São Paulo. Numa época em que o futebol era um esporte eminentemente amador, não

foram poucos os casos de jogadores do Búfalo que ajudaram a compor equipes

paulistas de maior projeção como Corinthians e São Paulo. Na década de cinqüenta,

construiu-se a sede do Búfalo quase em frente à CIPA, na Rua Cavour, onde eram

realizadas festas de fim de ano, casamentos e comemorações relacionadas ao time de

futebol. O time permaneceu em atividade a até meados da década de sessenta, de

modo que um dos poucos resquícios materiais que ainda persistem é a própria sede

do Búfalo, atualmente utilizada como salão de festas de formatura e casamento.

As comemorações de fim de ano tinham importante significado para os

funcionários. Todos participavam das festas, que geralmente eram churrascos feitos

durante o próprio expediente. Para que a fábrica não parasse sua produção, os

trabalhadores se alternavam para comerem e beberem. A fabricação de vinho

constituía outra atividade recorrente entre os funcionários da CIPA. Produzido de

forma artesanal no fundo da fábrica, o vinho era repartido entre os funcionários. Estes,

até pelo menos a década de sessenta, também criavam porcos nas áreas mais baixas

da fábrica, abatendo-os nas vésperas de festas.

Tanto os times de futebol operários (e devemos lembrar que quase todos os

grandes clubes de futebol de São Paulo surgiram de grupos de imigrantes operários,

como o Corinthians dos espanhóis, o Palestra Itália, depois Palmeiras, dos italianos, a

Portuguesa de Desportos dos portugueses, o Germânia, depois São Paulo, de

alemães, o Juventus também dos italianos) quanto os blocos carnavalescos, além de

outras atividades correlatas (clubes de dança, cinemas, teatros operários)

compuseram um rico cenário cultural do operariado paulista.

Além do próprio fortalecimento dos laços classistas, fundamentais no trato com

o patronato, todo esse universo de atividades criou um ambiente fértil em São Paulo e

uma identidade que relacionou a cidade à cultura do trabalho. Graças a esse processo

São Paulo, talvez, seja uma das poucas cidades onde o trabalho não é algo que está

segregado em um único momento da vida e das atividades humanas, mas uma

prática, uma forma de fazer, um ethos que está presente em todas as atividades

humanas; e presente de uma forma que humaniza o homem e que é valorizada,

apesar de todos os pesares.

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O patrimônio edificado

A área da antiga CIA Paulista de Papéis e Papelão está inserida em um terreno

que ocupa uma quadra inteira, caracterizando um grande complexo de galpões que

abrigavam as dependências da empresa. Nota-se uma extensa área construída,

entretanto, trata-se de acréscimos e anexos edificados ao longo dos anos de acordo

com a necessidade de ampliação e modernização dos processos.

Ressaltam-se dois galpões e a guarita, que provavelmente são

contemporâneos ao período de fundação da empresa. Correspondendo a tipologia nos

moldes das indústrias inglesas com tijolos aparentes e com grandes vãos. As referidas

edificações, separados por um corredor de 3,65 metros, estão inseridas no centro do

terreno apresentando um recuo de aproximadamente 27 metros onde provavelmente

apresentava uma área ajardinada. O primeiro galpão e provavelmente o mais antigo é

caracterizado por fachada seccionada em duas faces espelhadas, representando duas

edificações distintas e conjugadas, com duas janelas e uma porta para cada lado,

frontões independentes formando uma cobertura com quatro águas.

Apresenta fachadas com tijolos aparentes como já mencionado; esquadrias de

metal envidraçado com a parte inferior de abertura bascular; vãos arqueados e

simétricos sempre guarnecidos por relevo na padieira e cunhais; moldura diferenciada

com relevos trabalhados com os tijolos dispostos simetricamente na horizontal e

vertical numa composição raramente observada.

Figura 11- Área da antiga CIA. Paulista de Papel e Papelão.

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Figura 12 - Construções remanescentes do período de implantação da antiga CIA. Paulista de Papel e Papelão.

Figura 13 - Galpões provavelmente remanescentes da implantação da empresa

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Figura 14 - Janela da fachada norte

Figura 15 - Detalhe da moldura

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É provável que o galpão apresente uma face sul seguindo as mesmas linhas

simétricas da fachada norte, nota-se uma ampliação na fachada promovendo

alterações na concepção primitiva. Observa-se um recorte na fachada e a ampliação

da cobertura. Tratava-se provavelmente de uma construção livre sem anexos.

Figura 16 - Detalhe da ampliação onde a fachada sul foi demolida.

O segundo galpão segue a mesma tipologia e os aspectos construtivos do

primeiro, estando somente em uma posição mais baixa, justificado talvez pelo

acentuado declive do terreno. Neste caso ressalta-se que tanto seu interior como as

fachadas laterais estão bastante descaracterizadas restando somente à fachada

frontal norte, fato que dificulta uma compreensão da concepção primitiva da

construção.

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68

Figura 17 - Planta do Galpão da CIA. Paulista de Papel e Papelão, evidenciando a concepção original.

Figura 18 - Provável conformação original do Galpão da CIA. Paulista de Papel e Papelão.

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Figura 19 - Fachada norte do galpão.

Pode-se observar ainda elemento construtivo na entrada da fábrica onde hoje

funciona a guarita de entrada. Tal elemento, embora bastante descaracterizado

dificultando uma compreensão mais clara do elemento, corresponde provavelmente à

caixa de força da fábrica. Seguindo as mesmas linhas arquitetônicas integra

juntamente com os galpões as construções do período de fundação da fábrica.

Apresenta modenatura semelhante aos galpões, possui um arremate recortado na

platibanda semelhante às construções militares.

Hoje abandonada, a antiga fábrica apresenta o restante de suas construções

com anexos e ampliações em concreto armado, tesouras metálicas e coberturas de

chapas onduladas, caracterizando elementos construtivos recentes.

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Figura 20 – Guarita.

Figura 21 - Vista interna dos galpões.

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71

3.3 Estudos de cultura material

Quando da chegada da equipe na área da Companhia, logo percebeu-se que a

forma como se encontravam as edificações, móveis, documentos e ferramentas não

tinham sofrido muitas alterações do estado em que a empresa teria sido

“abandonada”, há 14 anos atrás. Desta maneira, juntamente com os estudos históricos

da CIPA e do bairro de Vila Prudente, foi realizado um registro destes vestígios que

subsidiassem o resgate da memória da CIPA e seu cotidiano. Foram encontrados,

assim, dentro das dependências do prédio:

• moldes de madeira onde antes era a Carpintaria;

• manuais de empilhadeiras e correias dentadas onde era a Oficina Mecânica;

• EPIs e relações de funcionários na Ferramentaria;

• bancada, restos de trenas e projetos de peças na oficina mecânica;

• lousas, papéis quadriculados, formulários e informes diversos onde antes era a Sala

dos Engenheiros;

• telefones, calculadoras, escrivaninhas, divisórias e portas, poltronas, cadeiras, sofás,

notas fiscais, controles de entrada e saída de materiais nos locais onde eram

realizados os Serviços Administrativos (escritórios);

• restos do maquinário e bancadas nos grandes galpões onde funcionaram as 3

máquinas da indústria;

• artigos de confecção e tintas no Almoxarifado;

• pedaços de manequins, cabides e mesas expositoras onde antes era a Cooperativa;

• garrafas de produtos químicos e recipientes de ensaio no antigo Laboratório.

Além destes materiais, que podem ser considerados diagnósticos na análise do

funcionamento do local dentro de uma indústria, permeiam em praticamente todos os

setores e, principalmente, onde era a oficina mecânica, materiais e documentos que

indicam um pouco do cotidiano dos trabalhadores, como cartas e caixas de baralho,

jornais, calendários, holerites, declarações de imposto de renda e até um ingresso de

jogo de futebol.

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Figura 22: Fotos de materiais encontrados no

interior da fábrica de papel e papelão (CIPA).

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Figura 23: Materiais encontrados no interior

da fábrica de papel e papelão (CIPA).

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Acervo arqueológico

Durante as escavações realizadas na porção de terreno ainda preservada da

CIPA foram coletadas peças que remetem ao fim do século XIX e início do XX, até

aproximadamente a década de 1920, diagnosticado pelos fragmentos de vidro

soprado em molde duplo de uma garrafa de óleo de rícino e pelos fragmentos de

faiança. Este material abrange uma grande diversidade de itens, incluindo louça, grés,

metais, vidro, moedas, botões, cerâmica, material construtivo, entre outros.

Com relação ao comportamento estratigráfico do local, não foi percebida

nenhuma grande alteração daquele já caracterizado nas etapas anteriores, porém, foi

possível identificar que o material arqueológico coletado ocorre no horizonte superior

(Horizonte A) dos solos preservados sob o piso do antigo galpão que havia ali, sendo

arqueologicamente estéreis as camadas inferiores bruno-amarelada e argilosa

(Horizonte B) e vermelha e argilosa.

As sondagens situadas no setor Norte e Nordeste (Sondagens 4, 3 e 6) não

apresentaram fragmentos. Mesmo estando no local anteriormente caracterizado por

apresentar solos preservados, estas sondagens também não apresentaram um

Horizonte A bem preservado, estando o piso atual sobre um horizonte pedológico que,

mesmo quando aparentemente escuros, possui já tênues tons amarelados, que em

poucas profundidades já se tornam o Horizonte B arqueologicamente estéril. Portanto,

parece que as camadas superiores destes solos, que coincide com a camada

arqueológica reconhecida no local, foram decapitadas quando o terreno foi

“aplainado”.

Além da caracterização do material arqueológico em si, as escavações

permitiram a observação de outros fatos. Foi possível identificar um bolsão de entulho

com material recente na sondagem S1, até cerca de 90 cm de profundidade,

diretamente sobre a camada arqueologicamente estéril (Horizonte B do solo). Há uma

estrutura de tijolos que atravessa o setor Oeste da área em sentido Norte-Sul,

evidenciada na Quadra 1 (Trincheira 1) e na Quadra 13 (Trincheira 2). Esta estrutura

praticamente delimita um terreno à Leste com o solo preservado logo abaixo do piso

atual de outro à Oeste, onde ocorrem espessos aterros e os limites superiores do solo

preservado possuem já uma maior inclinação em direção à planície de inundação. Na

Quadra 11 (Trincheira 2) foi identificado um “bolsão” bio-perturbado no local.

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Figura 24 – Fotos de vestígios de interesse

arqueológico.

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Figura 25 - Camadas estratigráficas observadas

nas escavações.

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77

3.4 Cultura imaterial

Além das pesquisas realizadas na própria área de obras (atividades de

prospecção e resgate), e também estudos da documentação pertinente, buscou-se

complementar o Programa através da coleta de dados e depoimentos de antigos

moradores e funcionários da empresa, buscando abordar os diferentes aspectos

patrimoniais envolvidos.

Uma primeira entrevista foi realizada com o Sr. Antônio Danilevic, que foi

repórter do jornal local “Gazeta da Vila Prudente”, e que permitiu que nossa equipe

retirasse fotos de fotografias antigas que ele possui da época e que foi canalizado o

córrego da Moóca. Constitui um acervo importante para a memória do bairro.

Foram ainda realizadas filmagens de entrevistas com três pessoas da

comunidade, apresentadas no nas Mídias Sociais fornecidas na Introdução. São elas:

Sr. João Natalino Gomes (Ziza), morador da Vila Carioca. Seu

depoimento versa sobre a história e evolução do bairro, dos terrenos

hoje destinados ao Metrô e sobre a Companhia de Papel e Celulose.

Sr. Zequinha, também da Vila Carioca, e que constitui um de seus

barbeiros tradicionais. Igualmente deu depoimento sobre a história e

evolução do bairro.

Sr. Francisco de Cézare, ex-gerente de produção da CIPA, e que junto

com a equipe do presente Programa realizou uma visita em todas as

dependências das ruínas da fábrica, explicando seu funcionamento e

particularidades de cotidiano.

Estes depoimentos fornecem detalhes riquíssimos sobre a história aqui tratada

e, sem dúvida, inserem uma visão dinâmica participativa dos atores sociais envolvidos

e comprometidos com a evolução cotidiana da Vila Prudente.

Page 79: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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Prancha 1 – Entrevistas e fotos históricas

Sr. Antônio Danilevic, em depoimento ao

arqueólogo.

Obras de canalização do córrego da Moóca.

Notar edificações da CIPA.

Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Obras de canalização do córrego da Moóca.

Notar edificações da CIPA.

Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Obras de canalização do córrego da Moóca.

Notar edificações da CIPA.

Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Obras de canalização do córrego da Moóca.

Notar edificações da CIPA.

Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Antigo leito do córrego da Moóca. Acervo Sr.

Antonio Danilevic.

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79

3.4 Resgate da memória: patrimônio edificado

Esta parte do texto apresenta uma análise do patrimônio edificado ligado às

residências da Vila Prudente, mais especificamente, na chamada Vila Carioca. A

primeira parte do texto trata da história dos estilos e partidos construtivos que, de um

modo geral, ocorreram em São Paulo. A segunda parte do texto traz justamente a

análise da Vila Carioca, complementando, com a fábrica da CIPA, exemplares da

arquitetura e Modos de Vida tradicionais da Zona Leste paulista.

A urbanização de São Paulo e seus reflexos no patrimônio edificado

A ocupação colonial da região hoje politicamente constituída pela cidade de

São Paulo e municípios próximos (Grande São Paulo) se deu, a partir de 1560, a partir

de dois pilares: ocupação laica (vilas) e religiosa (aldeamentos), que vêm constituir um

cinturão de proteção ao redor da vila de Piratininga, fundada no planalto paulistano.

Ocupação de baixíssima densidade, rarefeita e incipiente, apresenta nítida supremacia

da população autóctone até meados do século XVII. Demonstra ainda ampla utilização

da rede fluvial para deslocamento, penetração e ocupação.

São Paulo, a partir do século XVIII, deixa paulatinamente de gerar expedições

desbravadoras transformando-se num ponto de convergência de tropas e tropeiros,

conectando-se com o restante da colônia através de uma nova rede de caminhos

terrestres. Trilhas indígenas serviram de base para a implantação de uma malha

intrincada de caminhos não pavimentados, convergentes para a zona central (região

do Tamanduateí).

A função primordial ocupada pela área de entorno da vila de São Paulo será,

nos primeiros séculos de colonização, a de abastecimento e produção agrícola

diversificada, funcionando como área de parada e pouso intermediário entre os

núcleos mais afastados e a vila, a partir da intensificação do ciclo de muares.

Evento de particular interesse foi à descoberta de ouro no sopé do Jaraguá

(1590), propiciando o start ao ciclo minerador em escala nacional. São

contemporâneas às minas do Jaraguá iniciativas de prospecção e mineração em

Guarulhos, Parnaíba, São Roque, Itapecerica e Carapicuíba. No caso do Jaraguá, as

minas atingem seu esgotamento no início do século XIX.

É possível estabelecer, via de regra, dois padrões urbanísticos de implantação

de vilas e povoados para este período: o Núcleos de traçado irregular, acomodando-se

aos compartimentos topográficos da paisagem a partir da ereção de capelas; o

Aldeamentos religiosos apresentando uma malha de arruamento tendendo a regular,

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de formato retangular constituído por quadras, tendo como centro de irradiação a

igreja, colégio e seu pátio, a partir dos quais se dá a expansão da malha urbana.

Do ponto de vista do estilo arquitetônico, as edificações buscam retomar aos

ideais portugueses, tendendo à uniformidade de padrões explicitados nas cartas

régias ou posturas municipais. Prevalecem, ao longo de todo o período colonial, os

padrões estéticos herdados, por um lado, da Renascença e do espírito severo da

Contra-Reforma e, por outro lado, do Barroco singelo, expresso com maior vigor nos

edifícios oficiais e de função religiosa (conventos e igrejas).

Por sua vez, as edificações de caráter popular recriam, no meio rural, a

arquitetura oficial presente nas vilas e são criadas inúmeras versões dos modelos

ibéricos, como decorrência de fatores de ordem diversa (uma maior incorporação da

herança construtiva autóctone, a disponibilidade de materiais, a posição econômica,

status social e condições de acessibilidade, entre outros).

Quanto aos materiais, observa-se a adoção generalizada do barro, quer na

forma da taipa de mão (pau-a-pique), ou na forma da taipa de pilão. Esta última

técnica construtiva caracteriza uma vertente e modelo arquitetônico próprio que se

difundiu a partir de São Paulo, irradiando pelos vales do Tietê e do Paraíba e

alcançando regiões longínquas como Mato Grosso e Goiás.

Do ponto de vista construtivo a arquitetura de “caráter popular” ou vernácula,

sobretudo na região de São Paulo, acabou mantendo inalterados partidos, soluções

técnicas e materiais adotados nos primórdios da colonização, permanecendo, em

algumas regiões, até o final do século XIX ou ainda no século XX, desaparecendo

recentemente com a expansão metropolitana.

As sedes de fazenda implantadas em São Paulo e arredores atendem ao

padrão denominado “bandeirista”, apresentando planta baixa retangular. Estas

edificações foram erguidas com a técnica da taipa de pilão no corpo principal,

apresentando elementos de pau-a-pique em divisórias internas.

No final do século XVIII procede-se a uma redefinição do papel estratégico da

região paulistana no contexto da política mercantil à época de Pombal, envolvendo

inclusive a obrigatoriedade de escoamento de bens através de Santos. Isto conduz à

melhoria e/ou pavimentação de caminhos antigos, permitindo um fluxo cada vez maior

de mercadorias ao longo do território.

Consolida-se o papel da zona oeste como região produtora agrícola e zona

intermediária de parada e pouso, convergindo rumo à vila de Piratininga, lógica que se

vê modificada com a implantação da malha ferroviária, a partir de 1870.

Surge uma série de atividades relacionadas à circulação na área em questão.

A zona oeste de São Paulo é melhor articulada à região de Sorocaba, Jundiaí, Itu e

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81

Campinas com a instauração de feiras, pousos de tropas, hospedagens e estalagens.

O relevo acidentado não favorece a expansão da malha urbana, à exceção da região

de Osasco junto ao vale do Tietê.

A formação da cidade dos barões de café, a partir de meados do século XIX

até o primeiro quartel do século XX, consolida os arredores paulistanos como zona de

abastecimento do núcleo urbano em crescimento acelerado. A região passa a atender

também a outras funções com a transferência de atividades e/ou acomodação de

atividades outrora presentes no núcleo urbano (hospital psiquiátrico do Juqueri, por

ex.). Ocorre a destinação de locais favoráveis à implantação de atividades suporte à

manutenção da cidade como geração de energia (usina Edgard de Sousa), captação

de água (Cantareira), implantação de malha ferroviária utilizando as várzeas que

conduzem à formação ou consolidação de núcleos populacionais (Osasco, Barueri,

Perus, etc). Verificam-se as primeiras iniciativas de ocupação organizada da região

com a introdução de colônias de imigrantes.

Na região do Jaraguá e entorno são implantadas algumas fazendas de café,

expandindo-se a lavoura cafeeira para o oeste paulista. Do mesmo modo, observa-se

a introdução de pequenos engenhos e manufaturas nas localidades ao redor da

cidade. Intensifica-se a atividade extrativa (pedreiras, fabrico de cal, caulim). Dentro

deste contexto, é possível estabelecer três formas de ocupação da região:

.. A expansão de núcleos coloniais com manutenção das feições herdadas do

período anterior e formação de uma cultura própria (cultura caipira);.. O surgimento de

núcleos formados a partir de paradas/pousos de tropas (séculos XVII e XVIII);.. O

surgimento de núcleos conformados ao redor de estações de linhas férreas a partir da

segunda metade do século XIX como Osasco e Nova Barueri; No plano das

habitações rurais (sedes de fazenda) observa-se, a partir de finais do século XVIII, a

convivência do padrão bandeirista com outro relacionado ao “torna Minas”. A casa

conservadora paulista passa a conviver com a “casa mineira”, de estrutura autônoma

de madeira, vãos preenchidos por adobe e posteriormente tijolos, assobradada ou

térrea, levantada do chão, vendo-se surgir porões e depósitos ao nível do chão.

No campo da arquitetura religiosa os padrões estéticos herdados do período

colonial, caracterizado pelo barroco jesuítico singelo, permanecem no meio rural

pouco modificados. A partir da Independência dissemina-se a vertente neoclássica de

inspiração francesa na arquitetura urbana. O estilo neoclássico introduzido pela

Missão Francesa irá tornar-se a arquitetura oficial do Primeiro e Segundo Impérios,

mantendo-se até mesmo após a Proclamação da República. As mudanças na

arquitetura se processam de forma rápida nas principais capitais, sendo assumidas

Page 83: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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pelas elites que passam a incorporar novos materiais importados da Europa. O

Neoclássico se dissemina por São Paulo em duas versões:

Uma de caráter urbano e oficial, importando e copiando modelos de além-mar;

E uma versão provinciana mais simplificada, produzida pela mão-de-obra

escrava, com a aplicação de elementos decorativos às sedes de fazenda e

residências.

A partir da segunda metade do século XIX, com a implantação de estradas de

ferro em várias regiões, um novo estilo será introduzido: o Ecletismo, conciliando

estilos e formas arquitetônicas de todas as épocas e países. Influenciado pelo

pensamento positivista, este estilo ganha terreno e passa a predominar, sobretudo a

partir da proclamação da República.

O Ecletismo corresponde às transformações sociais vivenciadas no Brasil com

a abolição da escravatura e a paulatina instauração de uma classe média urbana.

Constitui um momento importante em termos de inovações técnicas, trazidas com os

trilhos e a mão de obra especializada (imigrantes), refletindo os anseios da burguesia

urbana em formação. Outro padrão estético que irrompe no alvorecer do século XX,

nas edificações da área central, embora mais raro, é o art-nouveau.

A taipa cede lugar ao tijolo, a telha colonial às telhas planas ou marseille,

coberturas de flandres e assim por diante. Ladrilhos hidráulicos, azulejos e o ferro

forjado na forma de elementos construtivos e peças manufaturadas (louças sanitárias,

por ex), refletem novos padrões de higienização e sanitarização, agora difundidos,

sobretudo, em núcleos urbanos. Com eles o gás encanado, a iluminação pública, etc.

Por sua vez, as edificações de caráter popular procuram imitar, no meio rural, a

arquitetura oficial presente nas vilas e são criadas inúmeras versões dos modelos

europeus, viabilizando-se ou não em decorrência de fatores de ordem diversa (uma

maior incorporação da herança construtiva autóctone, a disponibilidade de materiais, a

posição econômica, status social e condições de acessibilidade, entre outros).

Do ponto de vista construtivo a arquitetura de caráter popular, sobretudo nas

zonas poucos dinâmicas, acabou mantendo inalterados partidos, soluções técnicas e

materiais adotados nos primórdios da colonização, permanecendo imutável em

algumas zonas da região metropolitana, até meados do século XX.

Todavia, o processo desencadeado com a consolidação do parque industrial

paulista fez desaparecer de forma acelerada a maior parte das estruturas relacionadas

ao passado colonial e tempo do Império. Costuma-se afirmar que a cidade é composta

de três estratos: o atual marcado pelo concreto, abaixo deste a cidade erguida em

tijolos herança do café e, sob esta, a cidade colonial de taipa praticamente

desaparecida. De cidade industrial São Paulo prossegue em seu crescimento no

Page 84: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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decorrer do século XX, rumo à posição de metrópole de influência nacional e

internacional.

As condições oferecidas pela Primeira Grande Guerra favoreceram o consumo

de produtos manufaturados paulistas e a efetiva instalação do parque fabril. A cidade

passa a crescer de forma acelerada tanto em extensão como em população,

dilatando-se radialmente para além de 15 quilômetros da zona central, onde

permaneceu contida ao longo dos últimos 300 anos.

Em 1918 São Paulo contava com menos de 60 mil edificações; em 1944, com

100 mil. O parque industrial paulistano saltou de 3.487 indústrias em 1937 para 8 mil

em 1941. Em 1945 São Paulo possuía mais de 11 mil estabelecimentos fabris situados

proximamente às ferrovias, formando ao seu redor grandes bairros fabris desde o

Ipiranga até a Lapa e Osasco.

Todavia, a cidade se liberta dos trilhos e passa a vivenciar a lógica do petróleo

e rodoviarismo, processo instaurado a partir de 1918. Uma década depois a cidade

conhece seus primeiros congestionamentos, obviamente ainda circunscritos à zona

central, tendo início um debate que irá varrer das ruas paulistanas o eficiente sistema

de bondes elétricos. Em 1937 a cidade recebe seu primeiro grande projeto urbanístico,

o chamado Plano de Avenidas (1937).

Em sua expansão territorial rumo à periferia os principais rios, outrora

importantes meio de circulação, tornam-se empecilhos: serão retificados ou até

mesmo aterrados, criando novos espaços a serem ocupados. Os arredores

paulistanos consolidam-se na década de 1920 como “área granjeira”, devotando-se à

produção de gêneros alimentícios. Na região Oeste se instalam, por exemplo, os

japoneses (criação da Cooperativa Agrícola de Cotia, por ex.), portugueses e

espanhóis a noroeste e Cantareira, levando à progressiva dilatação do cinturão

caipira. Do mesmo modo, essa região de entorno passa a oferecer com intensidade

cada vez maior de matérias-primas básicas para a construção, com a exploração de

jazidas minerais, além do fornecimento de lenha, seguido pela implantação de projetos

de reflorestamento (pinus e eucalipto), gerando os “ingredientes” indispensáveis à

manutenção do parque industrial em franco crescimento.

Na outra ponta do progresso industrial vemos São Paulo transformada em polo

dinâmico e intenso de atração populacional. Além do movimento interno de migração

de europeus e seus descendentes, confluindo do interior para a capital na primeira

metade do século XX, vemos a instauração de um processo de migração interna,

passando São Paulo a receber levas sucessivas de mão de obra provenientes do

Norte e Nordeste do país.

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84

A completa ausência de políticas urbanas habitacionais propiciou a ocupação

irregular de diversos bairros e zonas mais afastadas, que viriam a constituir muitos dos

bairros populares atuais, sobretudo a partir de 1950. As grandes propriedades rurais

remanescentes nas zonas suburbanas vão sendo parceladas e criados novos

loteamentos, que são conectados por meio de ônibus. Assim, as vilas operárias

originalmente implantadas junto a instalações industriais crescem em extensão na

periferia. Na zona central observa-se o surgimento de cortiços e outras modalidades

de habitações populares.

Irá predominar, até o final da década de 1970 nos arredores de São Paulo e

municípios vizinhos, a habitação precária, de caráter vernáculo, via de regra,

construída em regime de autoconstrução. Os lotes vão sendo reduzidos e a ocupação

se faz sob o completo despojamento de infra-estrutura, equipamentos e serviços. O

parcelamento do solo não atendeu a quaisquer preceitos legais e urbanísticos,

imperando o loteamento clandestino e irregular.

O aumento das favelas se dá na ordem de 1000% entre os anos de 1973 e

1987. Basta afirmar que, em 1990, a Prefeitura de São Paulo tinha em andamento a

legalização de 2500 processos de loteamentos, envolvendo 16% da área do

município.

Em resposta a essa situação observa-se a erupção de movimentos

emancipatórios, quando alguns bairros são alçados a municípios como Taboão da

Serra (1958), Osasco (1958), Barueri (1949) e assim por diante, conformando-se em

novos sub-centros no contexto da grande malha urbana.

Instaura-se na região metropolitana um emaranhado processo de

deslocamento pendular baseado no sistema rodoviário, envolvendo milhões de

pessoas. Nasce um mini-anel de circulação ao redor da metrópole (marginais) que virá

a se esgotar em algumas décadas. O sistema metropolitano implantado sobre a

estrutura radiocêntrica e o equipamento ferroviário sucateado por décadas não

atendem satisfatoriamente à demanda. A lógica do automóvel exige a proliferação de

avenidas de fundo de vale surgidas com a canalização de rios e córregos que

impermeabilizam a superfície, criando problemas de fluxo e condução de águas

pluviais e as recorrentes enchentes nas estações chuvosas.

Os vazios urbanos e estoques de áreas aguardando valorização conhecem

uma ocupação intensiva por uma cidade clandestina que se expande rumo, inclusive,

à zonas protegidas (áreas de mananciais). O mesmo se dá a partir dos subcentros

históricos, ao redor da zona central. A cidade se move e tem o seu centro deslocado

do triângulo histórico em direção à Avenida Paulista já no final dos anos cinqüenta,

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prosseguindo em sua trajetória rumo à região da marginal Pinheiros (Faria Lima e

Berrini, a partir de 1970/80).

Todavia, a partir da década de 1980 a mega metrópole passou a mostrar uma

tendência distinta daquela vivenciada nas últimas seis décadas. Embora o município

continue ganhando 300 mil novos moradores a cada ano, as taxas de crescimento

passaram a se mostrar cada vez menores. Outro fenômeno observado pelos

estudiosos foi à inversão da tendência de crescimento periférico, quando as áreas

mais centrais passaram a apresentar taxas maiores do que aquelas observadas na

periferia.

Espacialmente, a segregação social ganha uma feição distinta daquela

observada no cenário anterior, disseminando bolsões de empobrecimento ao longo da

área central com o encortiçamento de regiões inteiras. Observa-se o surgimento da

cidade murada e cercada por grades.

A “cidade industrial que não para de crescer” ganhou um novo perfil,

terceirizando-se e transformando-se em centro comercial e de serviços altamente

sofisticado e diversificado, extrapolando sua dimensão regional e nacional para uma

escala de influência continental. Internamente, a cidade de serviços reflete essa

globalização e se sofistica com a implantação de centros empresariais e shopping-

centers que tendem a se tornar um padrão hegemônico, difundido pelos demais

centros urbanos vizinhos.

A sofisticação dos métodos e formas de estocagem e distribuição, aliados a

mecanismos de financiamento, apresentam uma melhora qualitativa significativa quer

no comércio atacadista como varejista. A indústria migrou para novos pólos distantes,

contribuindo para configurar a megametrópole que se estende rumo às regiões de

Campinas e de São José dos Campos (vale do Paraíba). Esse é o quadro que se

coloca a partir dos anos 80/90, quando São Paulo passa a exibir uma nova face,

assumindo a posição de metrópole de serviços dentro da lógica global. Embora o

padrão neoclássico herdado do Império ainda persista no decorrer das primeiras

décadas do século XX, a cidade culta adota generalizadamente o ecletismo ou a

profusão de estilos na arquitetura, fundindo por vezes elementos de diversas

tendências estéticas exploradas com maestria por Ramos de Azevedo, por exemplo.

Antes da década de 1930 a cidade conhece seus primeiros edifícios inspirados no art

nouveau e, posteriormente, muitas das velhas construções submetidas a reformas

recebem frontões e detalhes dentro da estética art decot. Há espaço mesmo para a

revisitação da arquitetura colonial.

A Semana de 22 vem contribuir para a discussão de uma estética em termos

nacionais com efeitos importantes para a renovação da arquitetura em São Paulo, que

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tem como marco do chamado modernismo o arquiteto Gregori Warchawchik (1925).

Nesse sentido, a “cidade que mais cresce no mundo” verá surgir instigantes projetos

da chamada arquitetura moderna a partir da década de 1960, modeladas em concreto

aparente.

Nos edifícios de caráter público observa-se a paulatina substituição da técnica

de alvenaria de tijolos pela técnica do concreto armado, propiciando os elementos

necessários à verticalização em determinadas zonas da cidade e arredores.

A partir de 1970 a influência da arquitetura moderna de Brasília leva à adoção

de novos componentes construtivos como elementos estruturais e vedações

industrializados (telhas de amianto, placas pré-moldadas, etc), que se disseminam por

todo o país.

Dentro do modelo de crescimento apresentado a periferia do centro urbano não

vivencia essas transformações culturais, observando-se que as edificações de caráter

popular são construídas em regime de autoconstrução, contando com uma planta

básica sujeita a incorporações e acréscimos sucessivos. Além das habitações

precárias, dá-se a disseminação de habitações pluri-familiares, que chegam a abrigar

mais de 30 moradores. No extremo dessa cadeia estão as favelas.Do mesmo modo, a

arquitetura oficial dos municípios da região metropolitana absorve de forma mais lenta

as transformações promovidas na região central. Por vezes observa-se uma releitura e

adoção de elementos isolados nos edifícios públicos e edificações privadas (pilotis, por

exemplo).

O patrimônio Edificado da Vila Carioca O Bairro da Vila Carioca, nas proximidades da Vila Prudente, apresenta, na

grande maioria, imóveis construídos em meados do século XX, momento em que o

bairro sofreu um maior adensamento populacional. Entretanto, sua ocupação está

relacionada com a intensa atividade industrial que aconteceu na região, sobretudo na

Vila Prudente, no final do século XIX.

Finalmente, apresenta-se uma análise de vestígios de ferrovia identificados nas

imediações, complementando os grandes horizontes de ocupação histórica ali

ocorridos.

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Figura 26 – Rua Aída esquina com a Rua Lício de Miranda.

A Vila Carioca foi ocupada pelos trabalhadores que se instalaram no local em

função da proximidade com as indústrias que ocuparam a região nas primeiras

décadas do século XX. Embora atualmente configura-se como uma área bastante

modificada pelas sucessivas reformas e construções recentes, nota-se que as

primeiras ocupações do Bairro estão relacionadas à “Moradia Operária”, ou ainda,

“moradias populares” como são chamadas nos dias atuais.

Nomenclaturas que caracterizam a pequena casa do operário, ou do

trabalhador assalariado. A moradia operária é caracterizada principalmente pelo

tamanho reduzido das repartições, geralmente obedecendo a um mesmo partido

arquitetônico. No caso da área em questão as edificações provavelmente foram

construídas em meados do século XX, momento em que o trabalhador já possuía

condições para adquirir seu imóvel ou, ainda, comprar o terreno e fazer sua própria

casa.

Duas tipologias foram encontradas na área do Lote 5. A primeira refere-se à

casa térrea em duas águas de telhado em telha francesa; relevos decorativos no

frontão; beirais e forros executados em estuque; veneziana e guilhotina de madeira.

Pode-se observar um exemplar com essas características na Rua Aída, 87.

Neste caso a edificação está inserida isoladamente no lote com recuos laterais, área

de serviço nos fundos e jardim frontal, diferente do cortiço onde as edificações eram

conjugadas e com áreas comuns. Entretanto o exemplar supracitado encontra-se

descaracterizado podendo, na verdade, possuir porta e janela na fachada frontal, ou

ainda, somente uma janela com porta de entrada lateral.

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88

Figura 27 – Rua Aída, 87.

A segunda tipologia observada se refere à pequena casa térrea conjugada

compondo conjuntos urbanísticos semelhantes às intituladas “vilas industriais” do

início do século XX. Trata-se de residências lindeiras (edificação que ocupa todo o

limite frontal do lote) conjugadas com duas águas de telhado em telha francesa; beiral

arrematado com estuque; relevos decorativos no frontão; e esquadrias de madeira

janela de veneziana e guilhotina em conformidade com o padrão de época. Na Rua

Antonio Frederico esquina com a Rua Amadis observa-se um conjunto com essas

características.

Figura 28 – Residência aos moldes da Moradia Operária (Casa térrea conjugada).

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89

Figura 29 – Planta Modelo (Casa térrea conjugada).

A moradia operária, também classificada como a habitação popular dos dias

atuais, nada mais é do que a pequena casa da classe operária, oriunda das primeiras

instalações industriais surgidas no país. Os primórdios de tal moradia começam a

surgir nas grandes cidades a partir do final do século XIX em função de uma série de

fatores políticos e sociais que contribuíram para uma mudança significativa no

segmento da habitação, num primeiro momento, com a abolição do regime

escravocrata. Sob este aspecto configuram-se estas primeiras moradias

caracterizadas dentro daquilo que a bibliografia denomina “cortiços”, ou seja,

habitações extremamente rudimentares implantadas apenas pela necessidade do

empresário alojar sua massa operária.

Figura 30 – Conjunto de residências localizado na Rua Antônio Frederico. A evolução da Moradia Operária

Page 91: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

90

Até meados do século XIX a questão da moradia nas grandes cidades

constituía um fator relativamente definido, geralmente os centros urbanos não sofriam

grandes mudanças com uma baixa taxa de população com regime praticamente rural.

As cidades brasileiras, entre 1880 e 1890, apresentavam aos viajantes as mesmas

características que haviam sido registradas ao final do período colonial, com seus

defeitos agravados (REIS FILHO, 2001).

Durante o período do Império até o advento da abolição praticamente não

aconteceram, portanto, mudanças significativas na habitação. Geralmente a grande

massa da população era baseada principalmente no negro escravo que habitava as

senzalas, a dolorosa moradia do regime escravocrata. A população trabalhadora nos

centros urbanos não era muito numerosa, seria equivalente ao dos proprietários

urbanos e funcionários públicos (REIS FILHO, 2001). Tais trabalhadores, constituídos

de artesãos, lavadeiras, prestadores de serviços e pequenos comerciantes,

instalavam-se em pequenas casas de pau a pique cobertas com palha nas periferias,

mas sua presença era praticamente imperceptível devido ao restrito número que

representavam.

Os empregados solteiros habitavam quase sempre os locais de trabalho.

Grande parte dos trabalhadores vivia em velhos sobrados deteriorados, os chamados

cortiços, ocupados por dezenas de famílias, vivendo em extrema pobreza (REIS

FILHO, 2001). O próprio significado da palavra “cortiço” leva a entender o conceito

dessas moradias: “Como sabemos, cortiço originalmente significa a moradia coletiva

das abelhas, a colmeia, cujos alvéolos repetem-se à exaustão” (LEMOS 1989). Da

mesma forma os casarões abandonados também chamados de “cabeças de porco”,

constituam basicamente o mesmo padrão dos cortiços, ou seja, a promíscua habitação

operária (LEMOS 1989).

Mudanças significativas começam a acontecer no final do século XIX com o fim

do regime escravocrata e a maciça chegada dos imigrantes, principalmente italianos e

espanhóis, para trabalhar nas fazendas de café. Posteriormente essa mão de obra foi

necessária também nas indústrias que começaram a se instalar nas grandes capitais

(principalmente do setor têxtil) o que se convencionou caracterizar como o surto da

industrialização, principalmente no Estado de São Paulo. Um rápido crescimento

urbano em função do aumento da chegada de imigrantes, bem como os negros

libertos, mas, desempregados, migraram para as cidades engrossando subitamente os

contingentes de seus habitantes mais pobres e pressionando seus serviços, já

precários (REIS FILHO, 2001).

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91

Nesse momento principalmente os empresários do setor têxtil, impulsionados

pela grande necessidade da habitação, iniciam o processo de construção das

chamadas vilas operárias, ou cortiços.

Logo vários industriais perceberam algumas vantagens em segurarem seus

operários ao lado de suas fábricas e, numa atitude aparentemente paternalista,

construíram em grandes terrenos quarteirões de casas, de variados tamanhos,

destinados a seus empregados (LEMOS 1989).

Também classificadas como “Vilas Industriais”, esses complexos residenciais

possuíam um comércio local fornecendo para o trabalhador tudo o que necessitavam,

mas na maioria das vezes o mesmo era explorado com altos preços dos produtos que

consumia e com altos aluguéis. Os empresários mantinham seus empregados a sua

mercê em um regime muito próximo ao escravocrata. A lei do inquilinato, de 1942, foi

uma pá de cal nesses procedimentos que prendiam o operário ao patrão, pois o

inquilino, mesmo desempregado, tinha o direito de ali ficar morando (LEMOS 1989).

A partir de 1914 houve um declínio das construções em função da grande

guerra, quer pela crise financeira, quer pela falta de materiais de construção, que na

sua grande maioria era importado: “De repente tudo aquilo deixou de chegar. E nossa

indústria evidentemente não estava apta a fabricar esse vasto rol de mercadorias”

(LEMOS 1989). Nesse momento a arquitetura, de modo geral, ficou estagnada e as

moradias que já eram precárias sofreram uma baixa na qualidade.

Em meados do século XX, no período do pós-guerra, a indústria nacional

começava a se reerguer, principalmente pela chegada de novos investimentos de

capital externo, não dependendo exclusivamente de produtos importados na

construção civil, momento em que a área urbana das grandes cidades sofre um maior

adensamento populacional. Inicia-se, portanto, um processo de êxodo rural de

trabalhadores que buscavam melhores condições de vida nas grandes metrópoles,

impulsionados pela nova condição de trabalho proporcionados pelas leis trabalhistas

da “Era Vargas”.

Nesse momento a residência do operário sofre mudanças não somente de

cunho estético, mas principalmente espacial. Diferente da moradia apertada com

áreas comuns e promíscuas do cortiço, o operário passa a ter o direito, sobretudo, à

possibilidade de adquirir seu imóvel, em alguns casos adquirindo o terreno e sendo o

próprio construtor.

É nesse momento que surge a casinha térrea posicionada no meio do lote com

varanda e jardim frontal; arremates do beiral e os acabamentos do forro em estuque;

venezianas e guilhotinas de madeira. Enfim, a moradia do operário ou do trabalhador

passa a ter uma configuração mais digna, daquilo que convencionou-se classificar

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92

atualmente como classe média. Importante ressaltar que no período correlato a

moradia operária sofreu poucas alterações estéticas quanto ao partido arquitetônico

das primeiras décadas do século XX, as mudanças observadas aconteceram

principalmente na compartimentação da residência.

É claro que a moradia possibilitada pelas melhores condições de trabalho não

foi um privilégio de todos os trabalhadores, tanto que as questões de moradia ainda

hoje constituem um problema social, que provavelmente se estenderá por muito tempo

ainda. Uma rápida analogia demonstra que a moradia operária pouco se difere da

chamada “casa popular” dos dias atuais, praticamente em termos de habitabilidade,

pouco ou nada tendo sido alterado.

A arquitetura da área se insere, portanto, na ampla história regional de

formação do bairro, trazendo exemplares que não trazem excepcionalidade em

relação aos demais partidos arquitetônico/construtivos que ocorrem extensivamente

pelos bairros.

Ramal Ferroviário

Na Rua Presidente Wilson, caracterizada pela intensa atividade industrial

desenvolvida desde o início do século XX, foi verificado um ramal da linha férrea

passando aos fundos dos galpões que abrigam as indústrias ali existentes.

A linha férrea da cidade de São Paulo foi construída no final do século XIX para

ligar o interior do Estado ao litoral. Em 1860 o governo da província dispôs de uma

área do tradicional Jardim da Luz para aí instalar a primeira estação da São Paulo

Railway, ferrovia pioneira de São Paulo criada para ligar Santos a Jundiaí e escoar a

riqueza da produção agrícola da região, sobretudo o café (COSTA, 2001).

Inaugurada a 16 de fevereiro de 1867, a companhia desenvolveu-se

rapidamente, tornando-se importante rede de comunicação de fator de progresso

(COSTA, 2001). A ferrovia foi a grande força motriz no processo de modernização das

cidades, imprimindo-lhe novas fisionomias urbanísticas propiciadas pelos núcleos

urbanísticos que se formavam na área envoltória das estações.

No caso de São Paulo, muitos bairros foram-se desenvolvendo em função das

pequenas estações. No início do século XX a indústria aderiu ao meio de transporte

ferroviário que, até então, escoava a produção de produtos agrícolas. Somente em

meados do século XX, com o surgimento de algumas rodovias e, principalmente, com

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93

a pavimentação de outras, ocorreu uma melhora no transporte rodoviário e, por

consequência, a ferrovia seria relegada ao esquecimento.

Os galpões industriais da Avenida Presidente Wilson, implantados na área nas

primeiras décadas do século XX, apresentam uma posição geográfica estratégica às

margens da ferrovia, propiciando a utilização de um ramal exclusivo das indústrias ali

existentes.

A configuração estética dos fundos dos galpões apresenta características

semelhantes às áreas de embarque e desembarque da ferrovia. Observam-se grandes

alpendres sobre plataformas com patamar de aproximadamente 90 cm de altura

(altura média das portas do trem).

Embora se trate de uma área bastante antropizada, pode-se observar que o

ramal percorria todo o trecho aos fundos dos galpões, havendo ali resquícios de

trilhos, dormentes, chapas e pinos de travamento.

É importante ressaltar que a bitola dos trilhos encontrada no ramal aos fundos

dos galpões corresponde à mesma dimensão dos atuais trilhos da linha férrea (bitola

com largura de 1,60 m). Trata-se, portanto, da mesma bitola instalada no final do

século XIX como atesta Cacilda Teixeira da Costa: “Em 16 de fevereiro de 1867, o

tráfego foi solenemente inaugurado em toda a estrada, numa linha única, com bitola

de 1,60 m na extensão de 139 km, ligando o interior da província de São Paulo ao

Porto de Santos (COSTA, 2001)”.

Figura 31 – Avenida Presidente Wilson.

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Figura 32 – Ramal de acesso aos galpões

Figura 33 – Alpendres aos fundos dos galpões

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Figura 34– Evidência de plataforma, seguindo o alinhamento dos galpões.

Figura 35 – Detalhe de dormentes

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CAPÍTULO 4 – PESQUISAS NA LINHA 04/ AMARELA

As pesquisas na Linha 04/ Amarela do Metropolitano de São Paulo abrangeu o

trecho Estação da Luz / Pátio Vila Sônia, com extensão de aproximadamente 13 km,

interligando os bairros do Bom Retiro, República, Consolação, Jardim Paulista,

Pinheiros, Butantã, Morumbi e Vila Sônia. Neste trajeto foram projetadas 10 estações

de Metrô, 11 poços de ventilação (VSE) e 1 vala a céu aberto. Em todas estas 23 áreas foram realizadas atividades de prospecção preventiva

sistemática e, em alguns casos, foi identificada a presença de vestígios arqueológicos/

históricos, dos quais foram selecionados os seguintes a serem apresentados nesta

publicação:

- Estação da Luz

- Estação Higienópolis

- VSE Waldemar Ferreira

4.1 ESTAÇÃO LUZ

4.1.1 Caracterização física

A Estação Luz está localizada nas colinas tabulares de nível intermediário

identificadas por Ab’Saber (1957). Segundo o autor, trata-se de “plataformas

interfluviais secundárias esculpidas nas abas do Espigão Central e dotadas de

tabularidade local marcantes”, sendo que, os testemunhos sedimentares que

existiriam no topo deste terraço já foram removidos, restando apenas à base dos

terraços antigos, que foram remodelados ao longo dos ciclos erosivos Quaternários, o

que fez com o autor classificasse este tipo de terraço como um “strath terraces”

(AB’SABER, op. cit.).

No que se refere à drenagem do local, pode-se dizer que as extensões

interfluviais são médias, fazendo com que a densidade da drenagem também seja

média. Localizada no trecho deste patamar situado próximo aos baixos terraços

fluviais que seguem até as planícies de inundação dos rios Tietê e Tamanduateí, a

região do bairro da Luz tem a sua drenagem local voltada para a margem esquerda

dos rios Anhangabaú e Tamanduateí.

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A dinâmica erosiva do local ao longo do Quaternário até a ocupação urbana

atual e consequente impermeabilização da área (que se intensificou a partir do início

do século XX) é predominantemente de degradação. Morfologicamente, este terraço

fluvial apresenta-se como um conjunto de colinas de topos planos moderadamente

dissecadas pelos canais de drenagem locais, que acentuam a declividade dos setores

junto aos seus vales. Por estar topograficamente posicionado bem acima da várzea

atual, o terraço está a salvo das cheias periódicas1 dos rios Tietê e Anhangabaú.

O embasamento geológico desta área diz respeito aos sedimentos continentais

terciários inconsolidados da Bacia de São Paulo (IPT, 1981; EMPLASA, 1980),

relacionáveis à Formação Resende, composta basicamente de “depósitos

fanglomeráticos (leques aluviais) que gradam para depósitos relacionados à planície

aluvial de rios entrelaçados” (RICCOMINI & COIMBRA, 1992).

Vargas e Bernardo (1945 apud VARGAS, 1992), através da análise das

sondagens geológicas realizadas na região para obras de engenharia da cidade,

identificaram na região argilas rijas variegadas em superfície sobre areias sotopostas.

Portanto, os produtos de alteração das argilas compreendem onde, teoricamente, é

mais provável que ocorram camadas arqueológicas ainda preservadas, já que possui

idade mais recente (Quaternário).

A partir dos dados analisados é possível afirmar que predominam no local da

Estação Luz os processos de degradação de um terraço fluvial desde meados do

Pleistoceno, e que esta degradação variou de intensidade conforme as oscilações

climáticas ocorridas ao longo deste tempo (Holoceno incluído). Portanto, já antes do

Holoceno as colinas tabulares da região central da cidade estiveram a salvo das

cheias periódicas dos rios próximos (rios Tamanduateí e Anhangabaú) estando,

porém, próximas aos mesmos, sendo um local privilegiado para habitações e

ocupações humanas.

4.1.2 Pesquisas arqueológicas

A Estação Luz está localizada numa grande área ocupada por diversos tipos de

imóveis que foram demolidos para a sua construção. Nesta área havia imóveis

públicos, diversos hotéis e outros imóveis comerciais. Antes do uso do terreno por

estes imóveis houve outros tipos de ocupações da área. Na região há diversos bens

tombados pelos órgãos responsáveis pela proteção do patrimônio histórico (IPHAN,

1 Entende-se como cheias periódicas aquelas que ocorrem num intervalo de cerca 1,58 anos, atingindo a

área da várzea do rio (CHRISTOFOLETTI, 1976).

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98

CONDEPHAAT e CONPRESP) e, consequentemente, protegidos por lei. Isso

demonstra a sensibilidade da área com relação ao seu valor histórico.

Devido ao tamanho da área e ao maior impacto do terreno nos locais específicos

das escavações, a prospecção arqueológica foi realizada por etapas, onde se adotou

metodologias diferentes conforme o grau de impacto e potencialidade de se encontrar

vestígios arqueológicos. Os trabalhos de pesquisa foram assim posicionados:

Poço central, constituindo a primeira área de pesquisa arqueológica;

Poço Lateral Norte, constituindo a segunda área de pesquisa arqueológica,

localizada próxima ao limite do terreno com a rua Mauá;

Poço Lateral Sul, constituindo a terceira área de pesquisa arqueológica;

Demais porções do terreno.

Vale mencionar que a área localizada na esquina das ruas Mauá e Casper Líbero

é ocupada por um antigo hotel, que não estaria sendo desapropriado ou removido

pelas obras (e que, portanto, não foi objeto da presente pesquisa). Por outro lado, a

área localizada na esquina oposta (rua Mauá com Brigadeiro Tobias) é ocupada pela

antiga Estação Luz do Metro (Linha Azul), sendo que a atualmente investigada

corresponde a uma ampliação da Estação Luz, com acessos para a Linha 04 Amarela.

Ainda para a rua Casper Libero ocorrem edifícios (sobrados) geminados

antigos, à época da pesquisa semi demolidos e em análise pelo CONPRESP.

Conforme mencionado anteriormente, as pesquisas na área da futura Estação

da Luz foram iniciadas através do Poço Central, dali irradiando para os poços laterais

e, depois, para o restante do terreno. O texto que se segue traz as atividades

realizadas em cada uma destas áreas, visando facilitar sua organização e leitura.

Finalmente, cabe dizer que no caso da Estação Luz as primeiras intervenções

realizadas no terreno já indicaram a presença de um patrimônio arqueológico positivo,

assim, todas as atividades já ocorreram na forma combinada de prospecção/ resgate,

ao contrário do que ocorreu nas demais áreas de obras desta Linha 04 Amarela, onde

inicialmente eram realizadas investigações do tipo prospecção para, a partir de seus

resultados, desenvolver ações de resgate. Deste modo, o texto que se segue é único,

englobando o total de pesquisas ali desenvolvidas.

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Figura 36 - Localização da área da Estação da Luz no contexto da ocupação urbana recente.

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Poço Central

O denominado “Poço Central” abrange a parte interna da futura área de

escavação de obras. Uma vez que as atividades previstas de engenharia estariam

sendo iniciadas ali, foi a porção de terreno primeiramente pesquisada.

Como atividade inicial foi demarcada uma linha de sondagens cortando

transversalmente o poço, no sentido nordeste-sudoeste. Considerando que a área

estava recoberta por um piso de concreto de aproximadamente 50 cm de espessura,

foi necessário contar com o auxílio de maquinário para rompê-lo, atividade

desenvolvida com monitoramento arqueológico. Depois de rompido o piso, outra

máquina procedeu à retirada do entulho, permitindo finalmente o acesso da equipe ao

local.

Todavia, logo ao serem abaixados os primeiros níveis das sondagens a equipe

se deparou com grande quantidade de vestígios arqueológicos, associados a trechos

de pisos e fundações de edifícios antigos.

Por conta disto, a estratégia foi adotar imediatamente intervenções de mais

detalhe. Considerando que as estruturas estavam relacionadas a eventos construtivos,

foi demarcada uma faixa contínua de escavação, com 2 metros de largura por 40

metros de comprimento, totalizando 80 m2 de escavação .

No aprofundamento da trincheira foram identificadas e documentadas diversas

estruturas construtivas envolvendo pisos, fundações, encanamentos, caixas de água,

tudo isto com grande quantidade de material arqueológico disperso pelo sedimento.

Após concluir a abertura desta trincheira foram escavadas áreas laterais,

compreendendo a evidenciação de estruturas que continuavam para dentro do

barranco da escavação. Buscou-se especialmente acompanhar a linha de fundações,

de maneira a reconstituir uma planta das edificações antigas ali existentes.

Todavia, logo no início da abertura desta porção lateral de nossa trincheira, as

fundações terminaram (já haviam sido retiradas por outras obras que se sucederam na

área, provavelmente a melhoria da própria rua Mauá). Assim, este segundo estágio de

escavações no Poço Central foi concluído, partindo-se para os demais Poços

adjacentes, que igualmente preservavam porções menos atingidas do solo.

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Prancha 2 – Pesquisas arqueológicas no Poço Central, Estação Luz

Área da futura Estação Luz antes do início das pesquisas.

Rompimento do piso de concreto com uso de

máquina monitorada.

Início da abertura de seqüência de sondagens na área.

Arqueólogo e ajudantes em escavação de sondagens.

Peças arqueológicas identificadas logo nas primeiras camadas da escavação.

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Prancha 3 – Área de escavação arqueológica, Poço Central, Estação Luz.

Demarcação de faixa contínua de escavação, Poço Central.

Continuidade das escavações.

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Prancha 4 – Escavações arqueológicas, Poço Central, Estação da Luz.

Atividades de escavação.

Vestígios remanescentes de fundação.

Evidenciação de piso.

Detalhe de marca de tijolo.

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Prancha 5 - Escavações arqueológicas, Poço Central, Estação da Luz.

Estrutura construtiva sendo evidenciada por arqueólogo.

Sequência de encanamentos e estruturas construtivas.

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Poço Lateral Norte

Nesta etapa, visando investigar as camadas estratigráficas inferiores do terreno

foram escavadas sondagens de 1 x 1 metro controlada por níveis artificiais de 10 cm,

com profundidade média de 2 metros e distantes uma da outra aproximadamente 5

metros em alinhamento sentido Norte-Sul. Grande parte de onde será escavado o

Poço Norte se refere ao local de uma das entradas da Estação da Luz da Linha 1 –

Azul do Metrô.

Este setor não foi alvo das prospecções arqueológicas, pois a construção da

estação existente já retirou e descaracterizou as camadas superficiais e

subsuperficiais do terreno. Dois poços-teste foram escavados nesta face da área, e

comprovaram a inexistência de qualquer vestígio arqueológico, assim como o impacto

já causado nas camadas superficiais e subsuperficiais do terreno em decorrência da

obra da estação existente.

Foram então abertas 3 sondagens (denominadas Sondagem A, B e C), sendo

que uma delas (a Sondagem A) foi expandida devido à grande quantidade de

fragmentos históricos encontrados (definindo-se a Sondagem A e A1).

A descrição das características gerais e da quantidade de fragmentos

encontrados nas sondagens segue abaixo.

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Prancha 6 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Norte, Estação Luz.

Sondagem demarcada e com o piso já quebrado.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagens.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagem.

Escavações nas sondagens alinhadas.

Ajudantes iniciando escavações nas sondagens

alinhadas.

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Prancha 7 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Norte, Estação Luz.

Ajudante em sondagem.

Ajudantes em escavação.

Arqueóloga descrevendo sondagem.

Arqueólogo e ajudantes em escavação de sondagens.

Início da escavação da expansão da sondagem A. Sondagem A1.

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Figura 38 - Localização da camada escurecida repleta de fragmentos históricos identificada na prospecção arqueológica do Poço Lateral Norte.

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Sondagem A Cota altimétrica: 739,023m.

A sondagem foi escavada até 2m de profundidade. Em seu piso foi escavado

um poço-teste até 2,45m, profundidade na qual aflorou água. Os fragmentos históricos

coletados se concentraram entre 20 e 50 cm de profundidade, em meio a uma mancha

escura existente no quadrante Leste.

MATERIAL ENCONTRADO NA SONDAGEM A:

Nível 1 (0-10cm) – 6 louças; 1 grés; 42 vidros; 6 orgânicos.

Nível 2 (10-20cm) – 6 louças; 6 metais; 39 vidros; 1 cerâmica.

Nível 3 (20-30cm) – 133 vidros; 33 louças; 42 metais; 37 orgânicos; 2 cerâmicas.

Nível 4 (30-40cm) – 28 metais; 72 louças; 152 vidros; 2 grés; 26 orgânicos.

Nível 5 (40-50cm) – 49 vidros; 7 orgânicos; 81 louças; 4 metálicos; 1 cerâmica.

Nível 6 (50-60cm) – 1 louça.

Níveis 7 (60-70cm) ao 20 (190-200cm) – Nenhum vestígio.

Devido à grande quantidade de fragmentos encontrados na mancha escurecida

do quadrante Leste da sondagem A, foi escavada uma extensão nesta direção, que foi

denominada sondagem A1.

Expansão Leste da Sondagem A. Sondagem A1. Cota altimétrica: 739,082m.

A sondagem foi escavada até 1m de profundidade. Os fragmentos históricos

coletados se concentraram entre 20 e 700 cm de profundidade, em meio a uma

mancha escura contínua a da sondagem A.

MATERIAL ENCONTRADO NA SONDAGEM A1

Nível 1 (0-10cm) – Nenhum vestígio.

Nível 2 (10-20cm) – 6 louças; 1 metal; 12 vidros.

Nível 3 (20-30cm) – 32 vidros; 31 louças; 5 metais; 3 orgânicos; 1 cerâmica; 1 metal.

Nível 4 (30-40cm) – 38 metais; 18 louças; 92 vidros; 15 orgânicos.

Nível 5 (40-50cm) – 95 vidros; 25 louças; 9 metálicos; 4 cerâmica/telhas; 1 cer.vidrada.

Nível 6 (50-60cm) – 428 vidros; 118 metais; 1 chumbo; 2 mármores; 53 cerâmicas; 1

tijolo, 159 ossos; 1 garrafa bolão.

Nível 7 (60-70cm) – 100 vidros; 52 metais; 10 louças; 6 cerâmicas; 28 orgânicos.

Nível 8 (70-80cm) – 1 cano; 1 orgânico.

Níveis 9 e 10 (80-100cm) – Nenhum vestígio.

Com estas intervenções foi possível verificar a distribuição espacial desta

mancha escura que ocorre entre 30 e 80 cm de profundidade.

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Figura 39 – Croquis da Sondagem A, face leste.

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Prancha 8 – Estratigrafia e fragmentos encontrados nas sondagens do Poço Lateral

Norte.

Sondagem C. Perfil Sul.

Sondagem B.

Sondagem A. Perfil Leste.

Perfil exposto. Sondagem A e A1 ao fundo.

Estrutura de tijolos. Sondagem C.

Page 114: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

113

Prancha 9 – Estratigrafia e fragmentos encontrados nas sondagens do Poço Lateral

Norte

Fragmentos in situ. Sondagem A1, nível 6.

Fragmento ósseo in situ.

Fragmentos in situ. Sondagem A1, nível 7.

Frasco numerado de vidro. Sondagem A1, nível

6.

Tijolo com a inscrição “Olaria do Bom Retiro”. Sondagem C.

Page 115: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

114

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1.

Page 116: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

115

Sondagem B Cota altimétrica: 739,288 m.

A sondagem foi escavada até 2 m de profundidade. Em seu piso foi escavado

um poço-teste até 3,10 m, profundidade na qual aflorou água. Há bem menos

fragmentos históricos do que na sondagem A e expansão A1, sendo identificada uma

concentração entre 50 e 80 cm de profundidade, em meio a uma mancha levemente

mais escura com bastante entulho (material construtivo recente).

MATERIAL HISTÓRICO ENCONTRADO NA SONDAGEM B

Nível 1 (0-10cm) – Nenhum vestígio.

Nível 2 (10-20cm) – 1 vidro.

Nível 3 (20-30cm) – 3 louças; 1 metal.

Nível 4 (30-40cm) – 1 louça; 1 vidro; 6 orgânicos.

Nível 5 (40-50cm) – 2 vidros; 1 grés; 1 cerâmica.

Nível 6 (50-60cm) – 7 louças; 1 vidro; 3 orgânicos; 1 cerâmica.

Nível 7 (60-70cm) – 4 orgânicos; 1 vidro; 2 louças; 1 metal; 2 carvões.

Nível 8 (70-80cm) – 4 orgânicos; 1 utensílio cerâmico.

Nível 9 (90-100cm) – 1 vidro; 2 louças.

Níveis 10 ao 20 (100-200cm) – Nenhum vestígio.

Sondagem C

Cota altimétrica: 739,402 m.

A sondagem foi escavada até 2 m de profundidade. Em seu piso foi escavado

um poço-teste até 3,10 m, profundidade na qual aflorou água. Nesta sondagem foi

encontrado material histórico até o nível 8 (70-80 cm)

Há bem menos fragmentos históricos do que na sondagem A e expansão A1, e

um pouco mais em relação à sondagem B. Há uma concentração de fragmentos entre

20 e 80 cm de profundidade, em meio a muito entulho (material construtivo recente).

Uma estrutura construtiva composta por tijolos “assentados” com barro ocorre entre 20

e 40 cm de profundidade, abaixo de uma laje de concreto.

MATERIAL HISTÓRICO ENCONTRADO NA SONDAGEM C

Nível 1 (0-10cm) – 16 vidros; 2 louças.

Nível 2 (10-20cm) – 5 vidros; 2 louças; 1 metal.

Nível 3 (20-30cm) – 45 vidros; 4 orgânicos; 2 cerâmicas.

Nível 4 (30-40cm) – 2 louças; 12 vidros; 1 orgânico.

Nível 5 (40-50cm) – 6 vidros; 1 grés; 4 cerâmicas vidradas; 15 louças; 3 orgânicos.

Nível 6 (50-60cm) – 10 louças; 2 vidros; 2 orgânicos; 1 cerâmica; 2 metais.

Page 117: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

116

Nível 7 (60-70cm) – 4 orgânicos; 4 louças; 1 vidro; 4 cerâmicas.

Nível 8 (70-80cm) – 2 orgânicos; 2 louças.

Níveis 9 ao 20 (80-200cm) – Nenhum vestígio.

Resultados das prospecções no poço norte

Os fragmentos históricos, as estruturas construtivas encontradas em subsuperfície

e a estratigrafia geral da área seguiram o mesmo padrão daquela que foi encontrada

nas prospecções do Poço Central. Uma grande área deste setor já foi impactada pelas

obras da Estação da Luz da linha 1 – Azul, inaugurada na década de 70 do século

passado. Destaca-se na área a mancha escurecida próxima à sondagem A, onde foi

encontrada uma grande quantidade de fragmentos históricos.

Figura 41 – Croquis da Sondagem A1, Face leste.

Page 118: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

117

Poço Lateral Sul Visando investigar as camadas estratigráficas inferiores do terreno foram

escavadas sondagens intercaladas de 1 x 1 metro controladas por níveis artificiais de

10 cm, distantes uma da outra 10 metros em alinhamentos que cruzam a área do poço

no sentido Norte-Sul. A profundidade das sondagens variou conforme o surgimento de

fragmentos históricos. Elas foram escavadas até dois níveis além do último nível onde

foram encontrados fragmentos, sendo respeitado o mínimo de 1 m de profundidade.

Foram então abertas 8 sondagens. A descrição das características gerais e da

quantidade de fragmentos encontrados nas sondagens segue abaixo.

Sondagem 11

A sondagem foi escavada até 1m de profundidade. Em seu piso foi escavado um

poço-teste até 2,30 m, profundidade na qual aflorou água. Os fragmentos históricos

coletados se encontram entre 20 e 80 cm de profundidade. Material encontrado:

Níveis 1 e 2 (0-20cm) – Nenhum vestígio.

Nível 3 (20-30cm) – 2 vidros.

Nível 4 (30-40cm) – 1 metal; 3 louças; 3 vidros; 4 orgânicos.

Nível 5 (40-50cm) – 6 vidros; 18 orgânicos; 5 louças; 3 cerâmicas.

Níveis 6 e 7 (50-70cm) – 2 vidros; 17 orgânicos; 14 louças; 1 metal; 1 cerâmica.

Níveis 8 ao 10 (70-100cm) – Nenhum vestígio.

Sondagem 12

A sondagem foi escavada até 1,2 m de profundidade. Em seu piso foi escavado um

poço-teste até 2,50 m, profundidade na qual aflorou água. Os fragmentos históricos

coletados se concentraram entre 50 e 90 cm de profundidade, em uma camada mais

escurecida com presença de pedras e carvão. Material histórico encontrado:

Nível 1 (0-10cm) - Nenhum vestígio.

Nível 2 (10-20cm) – 2 metais.

Nível 3 (20-30cm) – 1 vidro; 1 metal.

Nível 4 (30-40cm) – 3 metais; 5 vidros.

Nível 5 (40-50cm) – 2 louças.

Nível 6 (50-60cm) – 6 orgânicos; 2 vidros; 7 louças.

Nível 7 (60-70cm) – 2 vidros; 3 louças; 3 metais.

Nível 8 (70-80cm) – 7 louças; 1 orgânico.

Nível 9 (80-90cm) – 6 louças; 1 orgânico.

Nível 10 (90-100cm) – 1 louça.

Níveis 11 e 12 (100-120cm) - Nenhum vestígio.

Page 119: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

118

Prancha10 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Ajudantes em escavação de sondagem.

Ajudantes em escavação de sondagem.

Sondagem 21.

Ajudantes em escavação de sondagens alinhadas.

Quebra do piso de sondagem. Sondagem 13.

Page 120: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

119

Prancha 11 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Ajudantes em escavação de sondagem.

Ajudante trabalhando em escavação com água aflorando no fundo da sondagem. Sondagem

24.

Arqueóloga acompanhando escavação de sondagem.

Arqueóloga descrevendo sondagem.

Page 121: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

120

Figura 42 – Croquis da Sondagem 13.

Page 122: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

121

Figura 43 – Croquis da Sondagem 31.

Page 123: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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Sondagem 13

A sondagem foi escavada até 1,2m de profundidade. Os fragmentos históricos

coletados se concentraram entre 70 e 90 cm de profundidade, logo abaixo de uma

estrutura construtiva de tijolos “assentados” com barro composto de duas fileiras

horizontais e verticais. Os tijolos possuem a inscrição “P.C.” e a estrutura está situada

entre 45 e 62 cm de profundidade. Material histórico encontrado:

Níveis 1 e 2 (0-20cm) - Nenhum vestígio.

Nível 3 (20-30cm) – 1 vidro; 1 metal; 3 cerâmicas.

Nível 4 (30-40cm) – 1 metal; 2 vidros.

Nível 5 (40-50cm) – 2 vidros.

Nível 6 (50-60cm) – Nenhum vestígio.

Nível 7 (60-70cm) – 2 vidros; 2 metais; 1 carvão.

Nível 8 (70-80cm) – 10 louças; 3 orgânicos; 11 vidros; 2 metais 1 cerâmica.

Nível 9 (80-90cm) – 3 louças; 13 vidros; 1 metal; 3 cerâmicas.

Nível 10 (90-100cm) – 3 louças.

Níveis 11 e 12 (100-120cm) - Nenhum vestígio.

Sondagem 21

A sondagem foi escavada até 1,5 m de profundidade. Esta sondagem apresentou

muitos fragmentos, principalmente de vidros. Os fragmentos históricos coletados se

concentraram entre 50 e 110 cm de profundidade, numa camada escurecida com

entulho atravessada por canos de metal e cerâmica (manilha). Um aterro com muito

entulho e com uma linha de tijolos situada em sua base ocorre entre 10 e 50 cm de

profundidade, logo abaixo do piso atual. Material histórico encontrado:

Nível 1 (0-10cm) – Nenhum vestígio.

Nível 2 (10-20cm) – 2 aulejos; 1 louça.

Nível 3 (20-30cm) – 5 vidros; 2 metais; 1 carvão.

Nível 4 (30-40cm) – 21 vidros; 8 sintéticos; 1 metal.

Nível 5 (40-50cm) – 3 vidros; 1 sintético, 1 borracha.

Nível 6 (50-60cm) – 18 vidros; 8 plásticos; 3 louças; 3 metais; 1 tela.

Nível 7 (60-70cm) – 4 orgânicos; 2 metais; 1 dente; 3 louças.

Nível 8 (70-80cm) – 12 louças; 28 vidros; 5 metais; 9 cerâmicas; 1 plástico.

Nível 9 (80-90cm) – 90 louças; 189 vidros; 1 metal; 94 orgânicos.

Nível 10 (90-100cm) – 10 louças; 90 vidros; 13 orgânicos; 1 plástico.

Nível 11 (100-110cm) – 6 vidros, 11 orgânicos; 2 louças; 1 metal.

Nível 12 (110-120cm) – 5 orgânicos; 1 vidro; 1 louça; 1 cerâmica.

Nível 13 (120-130cm) – 2 orgânicos. Abaixo disto, nenhum vestígio.

Page 124: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

123

Prancha 12 – Sondagens do Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Sondagem 11. Face Norte.

Sondagem 12. Face Norte.

Sondagem 21.

Sondagem 13.

Sondagem 31. Face Norte.

Sondagem 24.

Page 125: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

124

Prancha 13 – Fragmentos e estruturas encontradas nas sondagens do Poço Lateral

Sul, Estação Luz.

Detalhe de tijolo da estrutura da sondagem 13.

Estrutura de tijolos evidenciada. Sondagem 13,

nível 5.

Fragmentos encontrados. Sondagem 11, nível 5.

Fragmentos encontrados. Sondagem 21, nível 3.

Fragmentos vítreos encontrados. Sondagem 21, nível 9.

Page 126: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

125

Prancha 14 – Fragmentos e estruturas encontradanas sondagens do Poço Lateral

Sul, Estação Luz.

Detalhe da moeda encontrada. Sondagem 31, nível 3.

Detalhe da grande quantidade de fragmentos

vítreos. Sondagem 22, nível 7.

Estrutura de tijolos e grande cano na sondagem 23.

Estrutura e encanamento evidenciados.

Sondagem 23.

Grande quantidade de fragmentos vítreos retiradas da sondagem 22.

Page 127: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

126

Sondagem 22

A sondagem foi escavada até 1,3 m de profundidade e apresentou

características muito semelhantes às da sondagem 21, ou seja, abaixo do piso atual

há uma camada com muito entulho até cerca de 60 cm sobreposta a uma camada

bruno-escura com muitos fragmentos vítreos. As únicas diferenças desta sondagem é

que a fileira de tijolos que divide as duas camadas é mais estruturada, apresentado

duas fileiras orientadas no sentido Sudeste-Noroeste no quadrante Norte da

sondagem, e que há uma lente de cal e carvão sobre os tijolos. Devido a grande

quantidade de fragmentos, concentrados no quadrante Norte da sondagem entre os

níveis 7 e 9, a coleta nestes níveis foi amostral. No nível 7 foi encontrado mais de

trezentos fragmentos de vidro. A partir do nível 10, a quantidade de fragmentos diminui

consideravelmente, cessando completamente a partir do nível 12.

Material histórico encontrado na sondagem 22:

Níveis 1 ao 4 (0-40cm) – 17 vidros; 5 cerâmicas; 2 metais; 5 louças.

Nível 5 (40-50cm) – 21 vidros; 3 cerâmicas; 3 louças; 5 pisos.

Nível 6 (50-60cm) – 23 vidros; 2 louças; 7 pisos; 2 manilhas.

Nível 7 (60-70cm) – 4 louças; 50 vidros amostrados.

Nível 8 (70-80cm) – louças e vidros amostrados.

Nível 9 (80-90cm) – louças e vidros amostrados e 1 recipiente de metal esmaltado.

Nível 10 (90-100cm) – 3 louças; 3 vidros.

Nível 11 (100-110cm) – 4 louças.

Níveis 12 e 13 (110-130cm) - Nenhum vestígio.

Sondagem 23

A sondagem foi escavada até 1,6m de profundidade. O número de fragmentos

históricos encontrados nesta sondagem foi bem menor do que os das sondagens 21 e

22 e foram encontrados entre 30 e 130 cm de profundidade. Abaixo do piso atual,

entre 25 e 50 cm, há um grande cano de concreto protegido por concreto à base de

britas associado a pisos aterrados. Após esta camada há uma camada de entulhos em

meio a um material bruno-escuro associado à uma estrutura construtiva de tijolos

“assentados” com barro, que termina a cerca de 90cm de profundidade.

Material histórico encontrado na sondagem 23:

Níveis 1 ao 3 (0-30cm) – Nenhum vestígio.

Nível 4 (30-40cm) – 5 louças; 1 metal; 5 pisos; 9 vidros.

Nível 5 (40-50cm) – Nenhum vestígio.

Page 128: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

127

Nível 6 (50-60cm) – 14 vidros; 3 louças; 1 cerâmica; 1 metal; 2 porcelanas; 2

orgânicos.

Nível 7 (60-70cm) – 6 vidros; 2 pisos.

Nível 8 (70-80cm) – 1 louça; 1 porcelana; 3 vidros.

Nível 9 (80-90cm) – 2 orgânicos; 1 vidro; 1 louça.

Nível 10 (90-100cm) – 5 louças; 5 vidros; 3 orgânicos.

Nível 11 (100-110cm) – 9 louças; 1 vidro; 2 cerâmicas.

Nível 12 (110-120cm) – 3 vidros; 2 carvões; 2 louças.

Nível 13 (120-130cm) – 1 vidro.

Níveis 14 ao 16 (130-160cm) – Nenhum vestígio.

Sondagem 25

A sondagem foi escavada até 2,1m de profundidade e foi interrompida devido

ao afloramento da água a cerca de 195 cm de profundidade. Os fragmentos históricos

continuam a surgir no fundo da sondagem. Entre 170 e 210 cm de profundidade a

caracterização dos níveis estratigráficos da sondagem foi prejudicada, pois a alta

umidade deixou o material muito pegajoso, e desmoronamentos causados pela

desestabilização do solo descaracterizaram as camadas inferiores. Sendo assim,

somente os fragmentos coletados até o nível 14 correspondem realmente ao nível em

que foram encontrados. Abaixo do nível 14, o controle foi dificultado devido aos

motivos explicitados no parágrafo anterior. Os fragmentos históricos encontrados

estavam em meio a um material bruno-escuro com presença de entulhos. Um local

onde houve um dos desmoronamentos, entre 90 e 160 cm de profundidade,

evidenciou uma estrutura construtiva de tijolos.

Material histórico encontrado:

Níveis 1 ao 3 (0-30cm) – Nenhum vestígio.

Nível 4 (30-40cm) – 3 metais; 9 vidros; 2 cerâmicas vidradas; 3 orgânicos.

Nível 5 (40-50cm) – 14 vidros (1 frasco); 12 orgânicos; 2 louças.

Nível 6 (50-60cm) – 23 vidros; 1 azulejo; 1 orgânico.

Nível 7 (60-70cm) – 14 vidros; 12 orgânicos; 1 carvão; 1 cerâmica; 1 louça.

Nível 8 (70-80cm) – 11 louças; 10 vidros; 11 orgânicos; 3 carvões; 3 cerâmicas.

Nível 9 (80-90cm) – 38 orgânicos; 14 vidros; 5 louças; 1 metal; 1 carvão.

Nível 10 (90-100cm) – 2 louças; 7 vidros; 14 orgânicos.

Nível 11 (100-110cm) – 3 louças; 4 vidros; 17 orgânicos.

Page 129: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

128

Nível 12 (110-120cm) – 5 vidros; 3 carvões; 5 orgânicos.

Nível 13 (120-130cm) – 4 vidros; 2 cerâmicas; 2 louças; 2 orgânicos; 2 metais.

Nível 14 (130-140cm) – 3 cerâmicas; 17 vidros (1 garrafa); 2 louças; 1 carvão; 10

orgânicos.

Nível 15 (140-150cm) – Coleta prejudicada.

Nível 16 (150-160cm) – 11 orgânicos; 28 vidros; 10 cerâmicas 1 metal.

Nível 17 (160-170cm) – 18 orgânicos; 9 vidros; 7 cerâmicas; 1 porcelana.

Nível 18 (170-180cm) – 9 orgânicos; 2 vidros; 1 carvão, 3 louças, 6 cerâmicas.

Nível 19 (180-190cm) – 5 orgânicos; 12 vidros; 4 cerâmicas; 4 louças.

Níveis 20 e 21 (190-210cm) – 4 orgânicos; 3 cerâmicas; 1 louça; 4 vidros.

Sondagem 31

A sondagem foi escavada até 1,5 m de profundidade. Em seu piso foi escavado

um poço-teste até 2,60 m. Os fragmentos históricos coletados se encontram entre 0 e

130 cm de profundidade, concentrados entre 50 e 70 cm, em meio a um material

bruno-escuro com entulho. Tijolos ocorrem em meio ao entulho da camada existente

logo abaixo do piso atual, sendo que poucos deles foram encontrados de forma

estruturada. Uma lente de cal ocorre no nível 7. Material histórico encontrado:

Nível 1 (0-10cm) – 6 vidros; 6 louças; 6 metais.

Nível 2 (10-20cm) – 3 plásticos; 8 vidros; 7 metais.

Nível 3 (20-30cm) – 3 louças; 3 plásticos; 8 vidros; 16 metais.

Nível 4 (30-40cm) – 14 metais; 6 vidros.

Nível 5 (40-50cm) – 9 vidros; 2 plásticos; 5 metais.

Nível 6 (50-60cm) – 36 vidros; 6 metais.

Nível 7 (60-70cm) – 5 vidros; 1 orgânico; 20 metais; 1 porcelana.

Nível 8 (70-80cm) – 3 louças; 7 metais.

Nível 9 (80-90cm) – 3 louças; 2 metais; 1 gesso.

Nível 10 (90-100cm) – 5 louças; 6 vidros; 5 orgânicos; 7 metais.

Nível 11 (100-110cm) – 1 louça; 2 vidros; 2 orgânicos; 1 cerâmica.

Nível 12 (110-120cm) – 3 vidros; 1 carvão; 4 orgânicos, 2 cerâmicas ; 2 louças.

Nível 13 (120-130cm) – 1 cerâmica; 7 orgânicos; 1 carvão.

Níveis 14 e 15 (130-150cm) – Nenhum vestígio.

Page 130: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

129

Resultados das pesquisas no Poço Sul

Os fragmentos históricos, as estruturas construtivas encontradas em subsuperfície

e a estratigrafia geral da área seguiram o mesmo padrão daquela que foi encontrada

nas prospecções do Poço Central. As estruturas construtivas encontradas nas

sondagens 13, 21, 22, 23, 23 e 31 indicam fazer parte do mesmo complexo de

estruturas evidenciadas nas prospecções do Poço Central, pois a proximidade destas

sondagens com este Poço é grande.

Área restante da Estação Luz

No restante da área prevista para implantação da Estação Luz (ou seja, nos

locais onde não será escavado para obras de Poço) foi executada uma malha de

poços-teste distantes 5 m entre si, aumentada para 10 m nos locais onde, além da

diminuição na quantidade de fragmentos por poço-teste, foi percebido que estes

fragmentos mantinham o mesmo comportamento estratigráfico da área já escavada.

Os poços-teste foram abaixados até cerca de 2,5 m de profundidade, ou até onde

alguma interferência como vigas de concreto e tubulações impediam o

prosseguimento.

Sondagens de 1 x 1m, controladas por níveis artificiais de 10 cm e com

profundidade variada conforme o surgimento de fragmentos históricos, foram

escavadas em alguns pontos da área. Nestes pontos existia a necessidade de

caracterizar melhor a estratigrafia e os fragmentos ou estruturas construtivas

encontradas. Sondagens deste tipo também foram escavadas nos locais próximos aos

imóveis voltados para a rua Mauá.

A descrição das características gerais dos poços-teste e das sondagens segue

abaixo. A partir dos fragmentos encontrados nos poços-teste foi possível mapear a

principal área de ocorrência de fragmentos históricos e estruturas construtivas, que é a

área onde se encontram 8 sondagens próximas à Av. Cásper Líbero. Foram então

abertos mais de 130 poços-teste.

Page 131: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

130

Prancha 15 – Trabalhos de prospecção na área restante, Estação Luz.

Alinhamento de sondagens.

Arqueólogo acompanhando escavação de poço-teste.

Quebra de concreto do piso para escavação de poço-teste.

Visão da área com a malha de poços-teste executada.

Page 132: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

131

Prancha 16 – Trabalhos de prospecção na área restante, Estação Luz.

Arqueólogo descrevendo sondagem. Sondagem 630N579E.

Visão da área com a malha de poços-teste e de sondagens executada.

Arqueólogo em sondagem. Sondagem 630N579E.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagem. Sondagem 630N589E.

Arqueólogo acompanhando escavação de

sondagem. Sondagem 620N589E.

Page 133: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

132

Prancha 17 – Características gerais dos poços-teste da área restante.

Ajudante em escavação de poço-teste.

Quebra de piso para escavação de poço-teste.

Piso enterrado encontrado.

Poço-teste em local de caixa de esgoto.

Poço-teste sinalizado

Page 134: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

133

Sondagem Lava-Pé 1

A sondagem “Lava Pé 1” foi escavada exatamente no local onde foi construído

um lava pé (caixa retangular no solo com uma grade na superfície, local onde os

trabalhadores da obra limpam suas botas para entrar no vestiário ou no escritório) e

possui as dimensões do equipamento, 2 m de comprimento x 60 cm de largura x 60

cm de profundidade.

Basicamente, todos os níveis são formados por entulho (restos de construções

como tijolos, telhas, azulejos, amianto, etc.). A face Norte da sondagem apresenta as

seguintes características: O nível 1 apresentou um piso de concreto recente e

entulhos. O nível 2 é formado quase que exclusivamente por entulhos. A partir dos

últimos centímetros do nível 3, começou a ser evidenciada uma estrutura,

provavelmente não muito antiga (devido à presença de cimento entre os tijolos), no

quadrante Nordeste da sondagem. A estrutura evidenciada estende-se até o fim da

sondagem. Nos quadrantes Noroeste e Sudeste, encontrou-se um piso de cimento no

fim do último nível escavado. Foi achado um cano de metal enferrujado no centro da

face Norte até o quadrante Sudeste da face Leste, entre a camada de entulho descrita

no nível 2 e o início da estrutura de tijolos evidenciada a partir do nível 3. Não foram

encontrados vestígios histórico-arqueológicos em meio ao entulho.

Page 135: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

134

Prancha 18 – Sondagens da área restante, Estação Luz.

Sondagem 610N589E.

Sondagem 620N589E.

Sondagem 630N559E

Sondagem 630N579E

Sondagem Lava Roda 1

Sondagem 630N589E. Estrutura de concreto que impede escavação.

Sondagem 630N569E.

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135

Prancha 19 – Fragmentos e estruturas encontradas nas sondagens da área restante.

Grande quantidade de entulho retirado da sondagem 630N579E.

Arqueólogo analisando fragmentos coletados.

Bloco de concreto encontrado na sondagem

630N579E a cerca de 170 cm de profundidade.

Aspectos do material relacionado aos sedimentos da Bacia Sedimentar de São Paulo.

Fragmentos ósseos encontrados na sondagem 630N579E.

Page 137: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

136

Sondagem Lava-Roda

A sondagem “Lava Roda 1” foi escavada exatamente no local onde foi

construído o lava roda da saída do canteiro voltada para a Av. Cásper Líbero.

O controle da sondagem se iniciou a 22 cm de profundidade, pois o material

acima deste nível corresponde ao piso e contra piso do local. Os dois primeiros níveis

da sondagem apresentaram um aterro vermelho, seco e solto, com presença de

entulho. Do nível 3 ao nível 6, ocorre uma camada bruno-escura, úmida e solta, com

manchas de “terra-preta” e com presença de mais entulho do que nos níveis

anteriores. Os fragmentos históricos encontrados nesta sondagem se concentram

nestes níveis. A partir do nível 7 até o fim da sondagem (nível 10), ocorre uma camada

mais clara que a anterior, de cor bruno, úmida e argilo-arenosa. Nesta camada só

foram encontrados fragmentos históricos no nível 7. Duas grandes manilhas de

cerâmica foram evidenciadas na face Norte, uma entre 20 e 40 cm de profundidade e

outra entre 65 e 85 cm.

Sondagem 610N 589E

Os dois primeiros níveis da sondagem são formados pelo concreto do piso e

contra piso. Entre os níveis 2 e 5 há uma camada de aterro bruno-amarelado, arenoso e

úmido, com núcleos compactos de cores amarelas e róseas e com bastante entulho.

Nestes níveis não foram encontrados fragmentos históricos. Nos níveis 6 e 7 ocorre uma

camada bruno-escura, arenosa, solta e moderadamente úmido, com menos entulho em

relação à camada superior. Uma estrutura de tijolos “assentados” com saibro foi

evidenciada atravessando a sondagem no sentido Nordeste-Sudoeste, a partir do nível 7

até o nível 12. Do nível 8 ao nível 10 ocorre uma camada semelhante as anteriores,

mudando apenas a cor, que aqui se torna mais escura. A partir do nível 11 até o fim da

sondagem (nível 13), ocorre uma camada bruno-amarelada-escura, areno-argilosa, úmida

e solta. Os fragmentos históricos coletados foram encontrados entre os níveis 6 e 11.

No fundo da sondagem e próximo ao seu centro foi escavado um poço-teste

até 280 cm de profundidade (em relação ao topo da sondagem). A camada referente

aos últimos níveis da sondagem ainda ocorrem até 180 cm de profundidade. A partir

deste ponto até 280 cm, foram identificados os sedimentos inconsolidados típicos da

Bacia de São Paulo.

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137

Figura 44 – Croquis da sondagem 620N 589E

Sondagem 620N 589E Os quatro primeiros níveis são formados por concreto e tijolos. Um pequeno

cano de metal foi evidenciado no quadrante Sudeste da sondagem a 50 cm de

profundidade. Um grande cano de cimento, de aproximadamente 30 cm de diâmetro

foi evidenciado a 110 cm de profundidade no quadrante Nordeste da sondagem. Os

fragmentos históricos coletados entre os níveis 5 e 14 ocorrem em meio a uma

camada de aterro bruno-escuro, solto, moderadamente úmido e repleto de entulho que

indica ser o material de aterro do grande cano de cimento que ocorre a 110 cm de

profundidade, conforme croqui abaixo. O fato dos fragmentos históricos ficarem cada

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138

vez mais restritos ao quadrante Nordeste em profundidade, assim como o material do

aterro descrito, indica uma estreita relação entre os fragmentos e o aterro do cano. O

restante da sondagem é composta de um material bruno, areno-argiloso, onde não foi

encontrado fragmentos históricos.

Sondagem 630N 589E No local desta sondagem foi evidenciada uma caixa de concreto usinado e

tijolos de funcionalidade não identificada, mas possivelmente trata-se de algum

equipamento do sistema hidráulico de algum imóvel que existia no local. Devido à

dificuldade de se quebrar este tipo de estrutura a sondagem não foi executada, tendo

sido substituída por outra nas proximidades, conforma abaixo.

Sondagem 630N 579E Os dois primeiros níveis correspondem a uma camada de mesma ocupação,

sendo composta de piso (tipo paviflex) e concreto à base de britas. O nível 3

apresenta material de composição heterogênea, compacto, parcialmente úmido, com

presença majoritária de restos construtivos (com destaque para azulejos brancos). Os

níveis 4, 5, 6 e 7 apresentaram basicamente as mesmas condições anteriores, porém

com significativa diminuição dos azulejos brancos. O nível 8 apresenta composição

heterogênea, úmida, compacta, coloração geral bruna. O nível 9 é composto de

material bruno-amarelado parcialmente homogêneo, pouco compacto com presença

de grandes fragmentos construtivos relacionados à cimento/concreto (blocos de

concreto). Do nível 10 ao nível 15 notam-se as mesmas características do nível

anterior, mas é perceptível uma maior homogeneidade da coloração bruno-amarelada

junto à face Leste. A partir do nível 15 se inicia os sedimentos variegados típicos da

Bacia de São Paulo, constituído de sedimentos variegados argilo-arenosos com

predomínio da coloração vermelha com manchas bruno-amareladas. Os fragmentos

históricos foram encontrados entre os níveis 3 e 16.

Abaixo pode ser visualizado o croqui desta sondagem. As características

estratigráficas dela podem ser generalizadas para esta área do canteiro de obras da

Estação da Luz.

Sondagem 630N 569E Os dois primeiros níveis são compostos de concreto usinado do piso e contra

piso. Os níveis 3, 4, 5 e 6 correspondem a uma camada heterogênea de entulhos com

predomínio das cores brunas. O nível 7 é uma transição para o material mais

homogêneo bruno-amarelado com pouco entulho que ocorre entre os níveis 8 e 14. Há

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139

um bolsão com muito entulho próximo à face Oeste e fragmentos metálicos

associados a uma possível estrutura que pode ser uma caixa com alças próxima à

face Leste, ambos se situam entre 40 e 80 cm de profundidade. Entre 45 e 98 cm de

profundidade foi evidenciada uma viga de concreto. Os fragmentos históricos foram

encontrados entre os níveis 3 e 11.

Figura 45 – Croquis da sondagem 630N 579E.

Sondagem 630N 559E

Os dois primeiros níveis são compostos de entulho e restos da demolição com

muito concreto e cimento do imóvel que havia no local e que foi desapropriado pelo

Metrô. Os níveis 3 e 4 são compostos de muito entulho e tijolos (quebrados) não

estruturados em meio a um material bruno e solto. O nível 5 representa uma fina

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140

camada bruno-escura, arenosa, solta e moderadamente úmida com manchas

vermelhas, onde é perceptível a grande diminuição na quantidade de entulho em

relação às camadas superiores. O nível 6 é uma camada de transição entre o material

da camada anterior e a camada bruno-amarelada, úmida, argilo-arenosa e sem

entulhos que ocorre entre os níveis 7 e 11. Os fragmentos históricos foram

encontrados entre os níveis 3 e 8. No fundo da sondagem e próximo ao seu centro foi

escavado um poço-teste até 280 cm de profundidade (em relação ao topo da

sondagem). A camada referente aos últimos níveis da sondagem ainda ocorrem até

170 cm de profundidade. A partir deste ponto até 280 cm, foram identificados os

sedimentos inconsolidados típicos da Bacia de São Paulo.

Sondagem “Hotel” Retirada à camada superficial de material, com fragmentos de toda sorte de

material construtivo e fruto das demolições e deslocamento de entulho no local, dos 10

cm até os 50 cm de profundidade manteve-se o mesmo padrão, com material de

aterro formado por restos de tijolos, telhas, lixo plástico, vidro, metal, louça. Aos 50 cm

de profundidade surgiu uma estrutura de tijolos. As dimensões desses tijolos (23X11)

e a marca estampada nele (J.B.) indicaram a modernidade dos mesmos. No mesmo

nível foi encontrada uma série de encanamentos feitos com manilhas de cerâmica e o

início de uma tampa de concreto. Optou-se pela não retirada da estrutura e se

prosseguiu a escavação nos mesmos moldes até 1,0 m de profundidade. O material

retirado manteve as mesmas características, compondo, provavelmente, o mesmo

pacote de aterro. Em seguida, evidenciado que o conjunto de manilhas e a estrutura

de tijolos tratavam-se de uma fossa optou-se pela sua retirada. A escavação da

sondagem então indicou a 1,10 m a presença de solo de cor bruno- escura argiloso,

com algum material ainda espalhado. Este padrão se manteve até os 2,0 m de

profundidade quando optou-se pela abertura de um poço-teste no centro da

sondagem. O pacote de aterro se manteve por mais 60 cm, ou seja, a 2,60 m de

profundidade, sendo seguido então de uma camada de solo bruno-escura que

persistiu até os 4,0 m.

Sondagem “Galpão”

Até os 40 cm de profundidade a sondagem apresentou o mesmo padrão da

sondagem “Hotel”, logo, formado por um pacote de aterro composto por material

recente, lixo, etc. A partir dos 40 cm o material cultural desaparece e dá lugar a um

solo de cor bruno-clara, padrão que se mantém até 1,4 m de profundidade. Neste

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141

ponto a coloração do solo se modifica, ficando mais escura e mais argilosa. Aos 2,0 m

de profundidade decidimos abrir um poço-teste no centro da sondagem, com o qual

descemos mais 2,0 m, mantendo-se sempre o mesmo padrão de solo.

Resultado das pesquisas no restante da área

Os fragmentos históricos, as estruturas construtivas encontradas em subsuperfície

e a estratigrafia geral da área seguiram o mesmo padrão daquela que foi encontrada

nas prospecções do Poço Central. Estruturas construtivas com concreto britado ou

usinado caracterizam o alinhamento das sondagens 630N 589E, 630N 579E e 630N

569E. Estruturas construtivas de tijolos com pouca presença de cimento ocorrem no

lado oposto da linha de sondagens, nas sondagens Lava Pé 1 e 610N 589E.

Característico de toda a área foi a camada bruma-amarelada à bruma-amarelada-

escura (coloração dependente da umidade) de textura areno-argilosa à argilo-arenosa

que ocorre sobre os sedimentos inconsolidados e variegados típicos da Bacia de São

Paulo, num contato que acontece entre 150 e 180 cm de profundidade em relação ao

nível atual do piso do canteiro de obras.

Devido ao comportamento estratigráfico praticamente constante e ao contato

gradual existente entre esta camada e os sedimentos do substrato, indica-se que

pode se tratar da camada que mais guarda as condições naturais do momento da

ocupação humana pretérita na área. Esta camada frequentemente está em contato

com os diversos aterros e interferências antrópicas características de toda a área.

Page 143: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

142

4.1.3 As indústrias arqueológicas associadas

O sítio Luz apresentou grande quantidade de vestígios arqueológicos, havendo

uma predominância do material em faiança, representada por 52,85% dos

fragmentos recuperados, seguido por 13,75% de fragmentos de vidro, 10,55% de

cerâmica, 8,5% de grés, 7,0% de material ósseo e 7,35% s pelas demais categorias

de vestígios (material construtivo, metal, porcelana, lítico e diversos), conforme

tabela e gráfico abaixo.

Faiança Cerâm. Vidro Ósseo Mat. construtivo

diversos metal porcelana lítico Grés Total

1622 324 422 215* 125 18 38 42 1 262 3069

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

faiança cerâmica vidro metalósseo mat.construtivo diversos porcelanagrês metal lítico

Gráfico 1 - Categoria dos vestígios recuperados do Sítio Luz.

Page 144: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

143

Faiança

Os fragmentos de faiança representam a categoria predominante dos vestígios

arqueológicos recuperados no contexto do Sítio Luz, sendo que a maioria dos

vestígios refere-se a fragmentos de paredes de utensílios, dentre os quais 38,71%

são decorados.

Ainda no conjunto destes vestígios foram recuperadas 173 bordas e 181 bases,

na grande maioria fragmentos de pratos e canecas, além de 17 apêndices e 11

fragmentos de tampas.

Parede Borda Apêndice Base Frag.tampa Bibelô Total

1239 173 17 181 11 1 1622

77,6%

10,1%1,0%10,6%0.1%

0,6%

paredes bordas apêndice bases tampa bibelô

Gráfico 2: Tipos de fragmentos de faiança.

Dentre os vestígios em faiança, um total de 628 fragmentos apresentou algum tipo

de padrão e/ou técnica decorativa.

Assim, entre os vestígios sem decoração, 6,3% dos fragmentos apresenta a

superfície modificada por pressão de molde (moldagem impressa), predominando o

padrão trigal, produzido na Inglaterra a partir do século XIX.

Page 145: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

144

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

borrão azul shell edged willow patternfloral policromo transfer printing cut spongesup. Modificada(trigal) bandado geométrico (port.)engine tournet sponged outrospolicromo em relevo

Gráfico 3: Padrões e técnicas decorativas dos fragmentos de faiança.

Ainda em relação aos fragmentos que apresentaram a superfície modificada, insere-se

o padrão Shell-edged, constituindo um dos tipos mais comuns utilizado na decoração de

peças rasas, geralmente pratos e predominantemente em azul e produzido até cerca de

1850. Em comparação com os demais sítios pesquisados no Projeto Metrô, o Sítio Luz foi

o que apresentou uma maior quantidade de fragmentos desta tipologia, com uma

frequência de 11,62%.

Já em relação aos fragmentos que não apresentam a superfície modificada, ocorre

uma maior frequência da técnica do “azul borrão” (39,96%) baseada na aplicação de

um estampado, geralmente em azul, sobre o qual a tinta escorre intencionalmente

causando um aspecto de “nebulosidade” das imagens. Tal técnica foi introduzida na

Inglaterra a partir de 1830, sendo produzida até o início do século XX.

Sequencialmente, com 14,96% dos fragmentos decorados, observamos a

ocorrência do padrão transfer printing, baseado na impressão por transferência e

desenvolvido na Inglaterra a partir de 1750 e utilizado até o inicio do século XX. Tal

padrão é apontado na bibliografia como sendo uma das louças mais caras durante o

século XIX. Na mesma técnica decorativa foram também recuperados fragmentos com

o padrão Willow Pattern, inserido no estilo Chinoiseirie, baseado na adoção de motivos

Page 146: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

145

chineses pela indústria europeia entre 1800 e 1815, relativamente comuns em sítios

históricos do Brasil e com uma frequência de 9,7% no Sítio Luz.

Quando em comparação com os demais sítios estudados no contexto do Projeto

Metrô, registramos no sítio Luz uma frequência significativa do padrão policromo floral

pintado à mão, com 6,6% dos fragmentos recuperados. Tal padrão foi produzido entre

1820 e 1840, utilizado principalmente nos serviços de chá e café.

Fragmentos decorados com frisos e faixas, associados ao padrão bandado, já

registrados em outros sítios, também foram encontrados no Sítio Luz, com uma

ocorrência de 4,1% do total dos vestígios em faiança identificados, sendo que a maior

parte é representada pela presença de frisos monocrômicos junto à borda. Utensílios

de faiança com este padrão decorativo ocorrem desde o século XVIII até a atualidade,

quando ocorre uma produção em larga escala.

Os demais tipos encontrados, tais como cut sponge, engine tournet, sponged,

policromo em relevo e não identificados, totalizam 6.7% do material em faiança

recuperado, sendo que alguns destes padrões foram registrados somente no sítio Luz,

como é o caso do policromo em relevo e engine tournet. Este último consiste em uma

técnica baseada na aplicação de instrumento pressionado sobre a superfície da peça,

criando depressões de formas geométricas, utilizada entre 1820 e 1900.

Outro dado importante foi quanto à identificação de marcas de fabricação entre os

fragmentos recuperados, o que forneceu informações sobre o local de procedência de

alguns utensílios e o seu período de produção.

De acordo com Tocchetto (2001:42), “em outros casos, a datação pode ser feita

por um período mais amplo, dado pelo tempo de existência de uma fábrica, ou por um

intervalo mais restrito, como o momento em que determinado fabricante produziu um

modelo específico”.

Em relação ao sitio Luz foram identificadas algumas marcas, a saber:

- Copeland – A fábrica Copeland & Sons Ltd. localizada em Staffordshire,

Inglaterra, teve seu período de produção entre 1847 e 1867. Os exemplares

recuperados são representados por quatro fragmentos de bases marcados

COPELAND.

- Davenport – Foi fundada por John Davenport, localizada em Staffordshire,

Inglaterra tendo produzido faiança fina entre 1774 e 1887. Ao longo de sua

existência utilizava variações nas marcas de fabricação, sendo que as louças mais

antigas apresentam a palavra Davenport em letra minúscula.

Page 147: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

146

- J. & G. Meakin Ltd – Foi fundada em Staffordshire no ano de 1851, produzindo

louças até fins do século XX. Os fragmentos do sítio Luz apresentam a palavra

ENGLAND, indicando o período de produção entre 1891 e 1906.

- ADAMS – Foi fundada em Staffordshire no ano de 1769, funcionando até os

dias atuais. Apresenta uma grande variedade de marcas, sendo que as que

incorporam o nome do padrão decorativo indicam o período entre 1819 e 1864.

- Keramis – Louça de procedência belga, fabricada em Saint-Vaast, La

Louvière. Os irmãos Boch iniciaram a produção cerâmica em Luxemburgo, em

1767. Em 1839 vão para Bélgica, fundando a fábrica de louças Kéramis,

produzindo faiança e grès entre 1841 e 1900.

Além destes fragmentos foram encontradas outras bases com marcas não identificadas,

mas que indicam uma procedência europeia de meados do século XIX.

Com base na identificação de padrões e marcas dos fragmentos de faiança

encontrados foi possível observar que as louças utilizadas eram importadas

basicamente da Inglaterra, e que a data média de fabricação deste material se

relaciona a segunda metade do século XIX, sugerindo o período de ocupação do sítio

Luz.

Page 148: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

147

Prancha 20 – Peças de faiança no sítio Luz.

Superfície Modificada (padrão trigal).

Prato em faiança decorado no padrão Shell edged.

Padrão azul borrão.

Prato em faiança decorado no padrão Willow Pattern.

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148

Prancha 21 – Peças de faiança do sitio Luz.

Padrão policromo floral

Decoração pela técnica cut sponge.

Padrão dipped (motivo Engine-turned).

Padrão policromo em relevo.

Page 150: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

149

Prancha 22 – Peças de faiança do sitio Luz.

Prato com superfície modificada e combinação com borrão azul.

Utensílio em faiança decorados pela técnica transfer printing.

Fragmento de faiança portuguesa decorada com motivos geométricos em tom vinhoso.

Utensílio em faiança decorados pela técnica transfer printing.

Prato de faiança sem decoração.

Caneca com superfície modificada e combinação com borrão azul.

Page 151: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

150

Prancha 23 – Peças de faiança do sitio Luz.

Fragmentos de base com variações da marca Davenport.

Marca da fábrica Copeland & Sons.

Modelo “Oriental” associado a fábrica

ADAMS.

Variações da marca J. & G. Meakin Ltd.

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151

Porcelana Além da faiança foram também recuperados fragmentos de porcelana, em

geral associados a utensílios de uso domésticos tais como pires e xícaras, totalizando

42 fragmentos. Destes, 26% apresentam algum tipo de decoração, quase na

totalidade pela técnica transfer printing.

Dentre os vestígios de porcelana foram recuperados dois fragmentos

associados a objetos decorativos (bibelôs) frequentes durante o século XIX e primeira

metade do XX. Assim, como os vestígios de faiança, os utensílios de porcelana

provavelmente estão associados a meados do século XIX.

Grés

Na categoria dos vestígios em grés foram recuperados na totalidade 262

fragmentos, associados a recipientes para armazenar líquidos, sendo que 98% deles

está associado a garrafas. No conjunto dos sítios pesquisados, o sítio Luz configura-se

como o sítio onde foi registrada a maior ocorrência desta natureza de vestígios.

Em geral os fragmentos de grés estão relacionados a garrafas de formatos

variados, apresentando geralmente na superfície tonalidades que variam do areia ao

marrom avermelhado, existindo alguns exemplares “mesclados” nos tons cinza claro e

areia.

Dentre os fragmentos recuperados alguns apresentaram marcas e inscrições indicando

procedência européia e produção correlata a meados do século XIX, corroborando os dados

obtidos pelas análises efetuadas nos fragmentos de faiança.

Fragmento de xícara em porcelana decorada por transfer printing.

Fragmento de boneca de porcelana.

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152

Cerâmica

No conjunto dos vestígios em cerâmica foram recuperados 324 fragmentos

entre bordas, apliques, alças, paredes e um cachimbo, havendo uma maior ocorrência

de paredes de utensílios, predominantemente sem decoração. Em geral os vestígios

encontravam-se muito fragmentados e as bordas em geral estão associadas a

pequenos utensílios domésticos. Embora em pequena quantidade a presença de

alças, apliques e bases planas indica que os vestígios estão relacionados com o

período colonial e com uma produção de caráter regional.

73,3%

8,2%

9,4%

6,4%

0,9%

1,5%0,3%

parede simples borda vidrada apendicealça cachimbo parede decorada

Gráfico 4: Categoria dos fragmentos de cerâmica do Sítio Luz.

Fragmento de garrafa com marca indicando procedência européia.

Fragmento de garrafa em grés com marca de produção.

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153

Quanto ao tratamento dado em superfície, 73,1% dos fragmentos apresenta-se

sem decoração, 16,1% correspondem a cerâmica vidrada e 10,9% possuem

decoração plástica, dos quais 81% na decoração incisa e 19% com pintura na face

externa.

8,8%2,1%

16,1%

73,1%

simples incisa pintada vidrada

Gráfico 5: Tipos decorativos nos fragmentos de cerâmica.

Em relação aos aspectos tecnológicos da cerâmica, observamos que a maior

parte dos utensílios foi produzida pelo processo de acordelamento, apresentando

queima incompleta com antiplástico mineral. No conjunto do material cerâmico alguns

fragmentos indicam uma produção por torno mecânico e, nestes casos, os fragmentos

são associados a vasos com base plana com fins de jardinagem e/ou decorativa.

Ainda na categoria dos vestígios cerâmicos, foi recuperado um cachimbo, cuja análise

foi direcionada a partir da pasta e queima do objeto. Sendo assim, seguindo a

classificação de Schmitz (1969), o exemplar recuperado pertence ao tipo angular,

produzido pela técnica de modelagem, com porta-boquilha curta. Sua pasta é grossa e o

antiplástico contém grãos de quartzo de pequena dimensão. Seu alisamento e queima

são medianos, apresentando na superfície uma tonalidade marrom-pardo, de forma

geométrica, base e borda aplainados e sem a presença de elementos decorativos,

sendo provável que, assim como os demais utensílios cerâmicos, tenha sido produzido

regionalmente. Também associado aos populares pitos de barro foi recuperado um

utensílio cuja pasta parece indicar estar associado a um molde de produção para

cachimbos, hipótese que deverá ser analisada mediante a recuperação de outros

exemplares em sítios de contexto análogo ao Sítio Luz.

Page 155: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

154

Prancha 24 – Peças cerâmicas, sítio Luz.

Fragmentos de cerâmica do tipo simples.

Utensílio de cerâmica com decoração incisa.

Page 156: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

155

Prancha 25 – Peças cerâmicas, sítio Luz.

Fragmento com borda, decoração incisa.

Cachimbo angular de porta boquilha curta.

Provável molde para cachimbos.

Vaso produzido em torno e apêndice (alça).

Page 157: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

156

Vidro

No conjunto do material arqueológico do Sítio Luz os fragmentos de vidro se

configuram como sendo uma das categorias de vestígios com uma significativa

ocorrência, pois quando em comparação com os demais fragmentos recuperados,

apresenta uma quantidade somente inferior ao material em faiança. Dentre os

fragmentos de vidro recuperados foram identificados predominantemente garrafas

para armazenarem bebidas e frascos de medicamentos, em geral na tonalidade

marrom e verde, os quais tornam-se populares a partir do final do século XIX,

seguidos de vidros planos associados a restos construtivos e indicando a presença de

vidraças.

36%

19%

6%12%

10%

4%

6%1%

3%3%

garrafa beb. (S) garrafa beb. (MD) frasco med. (SL) frasco med.(MD)

janela toucador (MD) taça (MD) copo (MD)

tampa diversos

Gráfico 6: Categoria dos fragmentos de vidro.

Dentre as garrafas identificadas, 36% foi produzida pelo processo de Sopro

Livre, a maioria com a base irregular e com vestígios de marca de decantador. Do total

dos fragmentos de garrafas, 19% indica uma técnica de produção baseada na

utilização de molde duplo, situando a fabricação de tais recipientes e ambas as

técnicas no século XIX.

Da mesma forma que as garrafas foram recuperados fragmentos associados a

frascos de medicamentos, sendo que, do total de 54 fragmentos, 33% estão

relacionados à técnica de sopro livre e 67% a utilização de molde duplo no processo

Page 158: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

157

de fabricação. Dentre os frascos para medicamentos, alguns apresentam a tonalidade

azul cobalto e foram amplamente utilizados no século XIX para armazenar e

comercializar óleo de rícino.

Uma outra categoria de objetos de vidro recuperados diz respeito a taças e

copos que, no Sitio Luz, corresponde a 7% dos utensílios identificados, havendo uma

predominância das taças, algumas em bom estado de conservação e indicando a

produção fabril mediante a utilização de molde. Na categoria dos objetos diversos

foram recuperadas 3 (três) bolas de gude de fabricação mais recente e utilizadas

amplamente como brinquedos. De forma geral, assim como as demais categorias de

vestígios recuperados, o material em vidro está associado à segunda metade do

século XIX, corroborando os dados obtidos anteriormente.

Page 159: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

158

Prancha 26 - Peças de vidro, sítio Luz.

Garrafa produzida por sopro livre Gargalo de garrafa produzida pelo processo de sopro.em molde.

Frasco hialino produzido em molde.

Frasco de garrafa verde.

Page 160: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

159

Prancha 27 – Peças de vidro, sítio Luz.

Frascos associados ao século XIX com marca do produto e indicação do fabricante. A última é de procedência européia.

Fragmento de frasco utilizado para óleo de rícino (séc. XIX).

Taça produzida em molde.

Page 161: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

160

Metal

Assim como nos demais sítios pesquisados, a categoria de objetos metálicos é

representada por uma pequena quantidade de vestígios e especificamente no caso

do Sítio Luz, tais vestígios correspondem a apenas 1,2% de todo o material

recuperado. Dessa forma, na qualidade dos vestígios metálicos, além da tralha

construtiva (arames, pregos, canos) representando 61% da totalidade do material,

foram identificados objetos relacionados à tralha equestre, neste caso, duas

ferraduras, a tralha indumentária constituída por duas fivelas, 04 talheres (02 de

bronze e duas de metal ferroso) associadas à tralha doméstica, e 05 moedas

correlatas a tralha monetária. Cabe salientar que todas as moedas recuperadas

estão inseridas na década de 80 do século XX e foram encontradas em meio ao

material de aterro e entulho.

61%

5%

11%

5%

5%

13%

construtivo equestre domésticoindumentária ferramental monetária

Gráfico 7: Categoria dos vestígios metálicos recuperados do Sítio Luz.

Page 162: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

161

Prancha 28 – Peças em metal, sítio Luz.

Colher (objeto associado à tralha doméstica).

Estribo fragmentado (tralha eqüestre).

Page 163: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

162

Ossos Da mesma forma que nos demais sítios estudados, os vestígios ósseos do sítio Luz

são representados por fragmentos de ossos de animais relacionados a restos

alimentares, sendo constituídas por ossos de bovinos, suínos, conchas e apenas 01

vértebra de peixe.

No conjunto destes vestígios foi constatada uma predominância absoluta de

fragmentos de ossos de bovinos, em geral com evidência de corte e descarne,

constituindo amostragem da dieta alimentar dos segmentos sociais que ocuparam esta

parte do município de São Paulo no passado. De fato, a bibliografia específica aponta

o alto consumo de carne bovina e suína pela comunidade durante o limiar do século

XIX.

Lítico O material lítico recuperado durante as pesquisas no sítio Luz é representado

por um único objeto, uma pederneira em sílex, do tipo circular, com evidência de uso.

Tais utensílios eram utilizados em armas de percussão, podendo ser importados ou

produzidos regionalmente, tendo sido bastante comuns até fins do século XIX.

Outros Vestígios Além das categorias dos vestígios descritos anteriormente foram também identificados

no sítio Luz objetos relacionados a restos construtivos, tais como fragmentos de tijolos, telhas

francesas e capa e canal, azulejos, manilhas, fragmentos de pias e vasos sanitários,

elementos de gesso e plástico, na sua grande maioria associados a entulho e aterros e de

origem recente, situação análoga aos demais sítios pesquisados no contexto das obras do

Metrô de São Paulo.

Page 164: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

163

Prancha 29 – Peças em osso e lítico, sítio Luz.

Fragmentos de ossos bovinos com evidencia de corte.

Pederneira em sílex.

Page 165: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

164

4.1.4 Resultados

De acordo com as expectativas foi identificado um patrimônio arqueológico

positivo na área da futura Estação da Luz. Ali foram realizadas diferentes atividades de

pesquisa, em 4 etapas distintas de campo, envolvendo abertura de 80 m2 de área de

escavação, 97 sondagens e 130 poços-teste.

Em termos da estratigrafia, as argilas variegadas (Formação Resende) típicas

da Bacia de São Paulo se encontram abaixo dos diferentes tipos de aterros e da

camada bruno-amarelada, areno-argilosa que ocorre generalizadamente na área.

Assim as escavações arqueológicas necessitaram retirar inicialmente as camadas de

aterro para alcançar a superfície original, onde de fato ocorriam estruturas de

edificação e materiais variados.

A maior parte deste material remete ao século XIX, embora existam peças que

podem ser associadas ao século XVIII, no que se refere à faiança.

Page 166: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

165

4.2. ESTAÇÃO HIGIENÓPOLIS

4.2.1 Caracterização da paisagem

A Estação Higienópolis está localizada nos “patamares e rampas dos espigões

secundários vinculados ao Espigão Central” que, segundo Ab’saber (1957), são

“plataformas interfluviais secundárias, esculpidas a partir dos altos rebordos e esporões do

Espigão Central que decaem para os vales principais da região de São Paulo através de

uma série de patamares relativamente planos e rampas de declive ligeiro”. Estes últimos

são aproveitados pelas principais vias radiais da Av. Paulista, como a Rua da Consolação

e a Av. Brig. Luiz Antônio. A estação está localizada no setor intermediário da rampa, em

altitudes em torno de 780m (IGG-SP, 1971).

A rampa é um divisor de águas da drenagem que flui para o antigo ribeirão

Saracura Grande, canalizado atualmente sob a Av. Nove de Julho, e a drenagem que flui

para o antigo ribeirão do Arouche, atualmente canalizado sob o bairro homônimo. A

dinâmica erosiva do local ao longo do Quaternário até a ocupação urbana atual e

consequente impermeabilização da área (que se intensificou a partir do início do século

XX) é predominantemente de degradação. Por se tratar de um divisor de águas, o local

não é atingido por cheias.

O embasamento geológico desta área se refere aos sedimentos continentais

terciários inconsolidados da Bacia de São Paulo (IPT, 1981; EMPLASA, 1980),

relacionáveis às Formações Resende e São Paulo. A Formação Resende é composta

basicamente por “depósitos fanglomeráticos (leques aluviais) que gradam para depósitos

relacionados à planície aluvial de rios entrelaçados” (RICCOMINI & COIMBRA, 1992),

enquanto que a Formação São Paulo possui basicamente arenitos com ocorrências mais

restritas de conglomerados, siltitos e argilitos relacionados a depósitos de sistema fluvial

meandrante (RICCOMINI & COIMBRA, op. cit.).

A partir dos dados analisados é possível afirmar que predominam no local da

Estação Higienópolis os processos de degradação desde meados do Pleistoceno, e que

esta degradação variou de intensidade conforme as oscilações climáticas ocorridas ao

longo deste tempo (Holoceno incluído). Por ser um patamar relativamente plano que

corresponde a um divisor de águas, o local esteve a salvo das cheias periódicas dos rios

próximos sendo, portanto, um local privilegiado para habitações e ocupações humanas.

Segundo Ab’Saber (op. cit.), este compartimento geomorfológico apresentou os

“elementos preferidos” para o assentamento de antigos bairros residenciais da cidade,

como a “Liberdade, Bela Vista, Consolação, Higienópolis, Perdizes, etc.”

Page 167: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

166

Figura 46 - Localização da área da Estação Higienópolis no contexto da ocupação urbana recente.

4.2.2 Prospecções arqueológicas

A área está situada na esquina da Rua da Consolação com a Rua Piauí, em

terreno da instituição de ensino Mackenzie (área privada). Encontra-se implantado num

topo de colina e se estende até a meia vertente. A superfície do terreno está

completamente recoberta por concreto e asfalto, pois, até há pouco tempo atrás, lá

funcionava o estacionamento da instituição.

Para a delimitação vertical e horizontal da área foram inicialmente abertas 22

sondagens em todo o terreno. Estas sondagens variaram bastante em termos de área:

as primeiras, aproveitando as perfurações abertas no piso para a construção de um

muro, foram bastante reduzidas, à exceção da P6-7, com mais de 2m de comprimento;

Page 168: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

167

as subsequentes, abertas em uma área circular na porção mais alta do terreno,

passaram a ter 1m de comprimento por 60 cm de largura, esta última medida

determinada pela porção de piso previamente retirada.

Quanto à profundidade atingida, todas as sondagens realizadas na área do piso de

tijolos (P1 a P14) pararam no referido piso. Onde ele não foi encontrado, a sondagem parou

em mais ou menos 1m de profundidade. Já nas sondagens da porção mais alta do terreno

(P15 a P22), a profundidade chegou, em todas, a 2m, graças ao uso de um trado (diâmetro

de 30cm) a partir de 1,20/ 1,30m.

A partir destes procedimentos foram identificados vestígios constituídos, na

porção mais elevada do terreno (SW), por restos construtivos (final do século XIX ou

início do século XX) oriundos da demolição de uma ou mais edificações que lá

existiam. Na porção mais baixa desse mesmo terreno (E), junto ao muro contíguo ao

colégio Mackenzie, foi encontrado um piso articulado, feito com tijolo, entre 65 e 80 cm

de profundidade, provavelmente contemporâneo às edificações que lá existiam.

As sondagens P15, P16, P17, P20 e P21 estão nitidamente na parte de fora,

ou periférica, do sítio, característica inferida a partir da pouca incidência de vestígios

arqueológicos nelas. As sondagens restantes, P18, P19 e P22, apresentaram grandes

quantidades de entulho construtivo novecentista ou do início do século XX (tijolos com

mais de 7cm de espessura, telhas francesas e capa-canal, ladrilhos hidráulicos, telhas

de vidro e louça sanitária com marcas do fabricante e inscrições em inglês) até 80 cm

de profundidade, em média.

Esse entulho é constituído por materiais bastante antigos e sua concentração

está bem definida no terreno, o que leva a considerar que o mesmo é originado da

demolição de uma ou mais edificações, contemporâneas, construídas no próprio

terreno provavelmente no local onde hoje estão as concentrações de vestígios

arqueológicos. Pouquíssimos fragmentos de utensílios foram encontrados.

Apesar do piso de tijolos estar em porção mais baixa do terreno, a uma

distância de mais de 20m da principal área de concentração dos vestígios, ele

apresenta correlação com a estratificação dos vestígios da porção alta. Além de ser

constituído por tijolos com mais de 7 cm de espessura, muito semelhantes ou idênticos

aos que foram encontrados nas porções altas, o piso está coberto por uma camada de

65 a 80 cm de entulho e sedimento. Como as concentrações principais de entulho, na

porção elevada, vão, em média, até 80 cm, é possível dizer que o aterramento do piso

é contemporâneo à demolição das edificações.

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168

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170

Figura 49 – Perfil estratigráfico da Área Mackenzie (P 19).

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171

Prancha 30 – Procedimentos de campo, Estação Higienópolis.

Triagem de material da demolição do galpão.

Triagem de material com peneira. Evidenciação dos vestígios arqueológicos (piso de

tijólos).

Retirada da capa de concreto da área.

Page 173: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

172

Prancha 31 – Vestígios arqueológicos identificados na prospecção.

Louças sanitárias.

Restos construtivos (tijolos, telhas, louças).

Restos construtivos (tijolos, telhas, louças).

Restos construtivos

(tijolos, telhas, louças).

Page 174: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

173

4.2.3 Detalhamento das pesquisas

Todo o terreno estava coberto por uma capa de concreto, pois a área era

utilizada como estacionamento da faculdade, não havendo nenhuma parte com solo

exposto. Inicialmente os trabalhos arqueológicos consistiram no monitoramento da

retirada de uma caixa d’água enterrada, momento em que foi identificada, na

estratigrafia exposta do terreno, a presença de um pavimento de tijolos.

Sendo assim, e visando igualmente detalhar as pesquisas iniciadas

anteriormente, as ações de monitoramento e resgate arqueológico foram realizadas a

partir de quatro etapas de trabalho, a saber:

- Monitoramento da abertura de poços para movimentação do lençol freático e da vala

para concretagem

- Monitoramento da retirada da camada de concreto para abertura de poços teste

- Abertura dos poços teste

- Decapagem da área em que foram encontrados os vestígios

Monitoramento da abertura de poços para a movimentação do lençol frático e da vala

para concretagem:

Nesta etapa a equipe de arqueologia realizou o monitoramento da abertura de

poços para a movimentação do lençol freático. Todo o sedimento retirado dessas

intervenções foi vistoriado. Foi então aberta uma vala circular conectando os poços

abertos inicialmente abertos, o nível do piso de tijolos evidenciado no perfil.

Foi ainda realizada a abertura de uma sondagem dentro da vala menor, entre as

perfurações para verificar se alguma estrutura construtiva ou vestígio arqueológico

poderia ainda ser encontrado no local. Uma grande quantidade de vestígios

construtivos recentes e remexidos foi encontrada em todos os níveis da sondagem,

finalizada em 55 cm com a presença de parte de um piso de tijolos.

A equipe decidiu então abrir uma nova sondagem para verificar a continuidade

do pavimento. A sondagem foi aprofundada até o nível do piso, tendo sido encontrado

vestígios construtivos em todos os níveis escavados (até 60 cm), mas o piso não

continuava se prolongando no sentido norte.

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174

Prancha 32 – Início dos trabalhos na Estação Higienópolis.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Peneiramento do solo e separação dos vestígios encontrados.

Arqueólogos fazendo a seleção dos vestígios

encontrados.

Page 176: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

175

Monitoramento da retirada da capa de concreto:

O monitoramento da retirada da camada de concreto foi realizado em áreas

pontuais pré-estabelecidas pelos arqueólogos dentro da área a ser impactada pelas

obras. Desta forma a britadeira ou rompedor não interferiram no extrato natural do

piso, preservando possíveis vestígios/ estruturas presentes.

Abertura dos poços teste:

Foram demarcados 29 poços teste ao longo de toda a área do poço de

ventilação, atingindo uma profundidade média de 1,20m. A estratigrafia da área

mostrou que na maior parte do terreno diretamente impactado havia uma grande

quantidade de entulho construtivo e de refugo de objetos de uso doméstico como se

percebe na leitura estratigráfica do PT 18, descrita a seguir:

(0 – 10cm) camada de concreto do estacionamento

(10 –20cm) contrapiso de nivelamento abaixo do concreto. Muita areia misturada ao

sedimento.

(20 – 65cm) camada de sedimento marrom avermelhado com presença de entulho

construtivo (tijolos, azulejos e outros)

(65cm) presença de piso de tijolos

(65 – 130m) solo arenoso marrom avermelhado sem entulho

Em alguns dos poços teste abertos na área foi percebida a presença do que

parecia ser um piso de tijolos a aproximadamente 55 cm de profundidade na porção

noroeste do terreno. Outros poços teste revelaram a presença de um piso de cimento

seguido de um contrapiso, também de cimento, aparentemente no mesmo nível do

piso de tijolos, além de grande concentração de material construtivo como telhas,

tijolos e vidros, evidência que deveria ser melhor avaliada em campo.

Os poços teste da porção sudeste do terreno foram os que apresentaram a

estratigrafia mais bem preservada, tendo sido poucas as intervenções em que não foi

verificada a presença de materiais construtivos.

Tendo sido detalhada a área e podendo-se delimitar as zonas de abrangência

das estruturas através das escavações dos poços teste, pôde ser demarcada a área

para resgate arqueológico das estruturas construtivas encontradas no local. De um

total de 314m2 de área prospectada, foram realizadas escavações sistemáticas em

120m2, correspondendo ao total de área onde foram identificadas estruturas

arqueológicas.

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176

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177

Prancha 33 – Escavações na área da Estação Higienópolis

Poços-teste na área.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Page 179: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

178

Decapagem da área demarcada

Para que a área com vestígios arqueológicos pudesse ser escavada, era

necessário que se removesse toda a camada de concreto do local. Para tal foi

necessário o auxílio de uma retroescavadeira e os arqueólogos fizeram o

monitoramento da retirada das camadas de concreto dentro da área restrita para as

escavações arqueológicas, para que não houvesse problemas de intervenção nos

extratos abaixo dela.

Também foi feito o acompanhamento do nivelamento da terra retirada pela

retroescavadeira, depositada ao redor da área a ser trabalhada, para que não

houvesse a possibilidade do sedimento retirado escorrer para dentro da área de

resgate.

Os primeiros procedimentos de campo se referem à documentação do perfil

leste da área da caixa d’água, o primeiro a ser aberto na área, e a partir do qual foi

verificada pela primeira vez a presença do piso de tijolos.

A partir dos limites da caixa d’água iniciou-se a decapagem da área, sendo

evidenciado um muro de tijolos próximo ao perfil da caixa d’água (muro 4). A partir

deste muro foram sendo evidenciadas outras estruturas que se conectavam e, ao final

da escavação, haviam sido evidenciados 5 muros diferentes na área.

Alguns muros possuíam dimensões e revestimentos diferenciados, mas todos

se encontravam de alguma maneira articulados e estavam dentro da área de

decapagem. Com a sua evidenciação foi possível verificar a presença de cômodos,

pelo menos quatro diferentes alas de uma mesma estrutura construtiva.

Concomitantemente aos trabalhos arqueológicos estava ocorrendo a demolição

parcial do muro que dividia o terreno do Mackenzie da rua da Consolação.

Acompanhando essa remoção, os arqueólogos perceberam que na base desse muro

havia um muro mais antigo que acompanhava toda a delimitação do terreno.

Neste muro também foi realizada uma decapagem. Uma porção considerável

do muro ficou exposta, de modo que foi possível visualizar bem a sua estrutura

construtiva. Foram então escavados 6 muros na área do poço Mackenzie.

Nos trabalhos de evidenciação das bases dos muros começou-se a perceber a

presença de pisos entre os muros. Todos os pisos na área foram escavados, sendo

verificada a presença de 4 pisos de cimento queimado e dois pisos de tijolos.

Um dos pisos de tijolos, exatamente aquele que avançava para o perfil da caixa

d’água, foi completamente evidenciado e limpo, tratando-se de um piso mais antigo

que os demais encontrados na área. O tijolo utilizado na sua construção é exatamente

Page 180: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

179

o mesmo do utilizado no muro 1, o muro que divide o terreno com a rua da

Consolação.

Associado a esse piso de tijolos foi encontrada e escavada uma caixa coletora

e uma caixa de gordura (levada para laboratório) e muitos objetos foram encontrados

dentro delas como se verá adiante. Uma outra caixa coletora foi encontrada associada

ao segundo piso de tijolos, aparentemente mais recente, e também foi totalmente

escavada.

Como haviam sido evidenciados diferentes pisos numa mesma área, com um

diferencial importante em termos de técnicas construtivas e aparentemente de idade

em relação, principalmente, ao piso de cimento queimado e o de tijolos mais antigo, foi

realizada a abertura de uma vala na área SE, entre o piso de cimento e o piso de

tijolos, buscando reconhecer suas possíveis continuidades ou aproveitamento de uma

estrutura construtiva em relação à outra. Todo o material retirado dessa escavação foi

peneirado e foi feita a coleta de todo de todos os objetos presentes nesta área.

Três sondagens S3, S4 e S5, foram abertas em diferentes locais da decapagem,

visando definir a possível presença de novas camadas de ocupação humana na área,

mais antigas e profundas. Uma das sondagens foi aberta na camada intermediária

entre os pisos de cimento e de tijolo. A outra foi aberta na área do piso 1 e a última ao

lado do piso 5.

Com a abertura dessas sondagens foi possível verificar que, para baixo dos

pisos evidenciados na área, incluindo os pisos de tijolos, não havia mais nenhuma

estrutura construtiva. Já a estratigrafia para baixo de 1,30m na área se mantém com

solo areno-argiloso marrom avermelhado até pelo menos 2 metros de profundidade.

Todo o sedimento que fora escavado para evidenciação das estruturas, e o que

foi retirado de dentro das sondagens, caixas coletoras e caixas de gordura foram

peneirados nos fornecendo o seguinte quadro:

No sedimento retirado sobre as estruturas construtivas escavadas em toda a área

trabalhada foi verificada a presença de fragmentos de piso, vidro, louça, rebocos de

parede, ladrilhos, metais, telhas, tijolos, e fragmentos de manilha, principalmente. Na

área do quadrante NO (sobre o piso de tijolos), encontrou-se uma moeda italiana e

uma outra portuguesa, atualmente em processo de análise laboratorial.

Na área entre pisos, citada anteriormente, os mesmos tipos de vestígios

construtivos apresentados acima foram identificados, incluindo uma moeda de bronze.

Na caixa coletora A foram encontrados vestígios construtivos, tais quais,

fragmentos de piso, telha, azulejos, prego e vidro incolor.

Na caixa coletora B foram escavados muitos fragmentos de materiais

construtivos.

Page 181: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

180

Prancha 34 – Pesquisas na abertura de vala lateral.

Acompanhamento das obras.

Inspeção da abertura de vala.

Limpeza de perfil.

Detalhe de fundação.

Page 182: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

181

Prancha 35 – Detalhamento das escavações na área.

Vista aérea dos trabalhos.

Ampliação das escavações.

Documentação da pesquisa.

Limpeza de Perfil.

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182

A escavação na caixa de gordura revelou principalmente a presença de objetos

de uso doméstico que possam ter caído dentro dela, como bolas de gude, alfinetes

e uma faiança branca decorada, entre outros.

Estando todos os muros, pisos e outras estruturas da área evidenciadas, foi

possível a realização de uma mico-topografia de todas as estruturas construtivas,

incluindo as intervenções arqueológicas realizadas na área com o processo de

escavação, fazendo-se uso do teodolito eletrônico (Total Station).

Além da micro-topografia, todas as estruturas foram documentadas por meio de

fotos e croquis de campo antes que fossem desmontadas. Foi efetuada remoção de

parte de um dos pisos de cimento, com evidenciação mais ampla de um contrapiso, o

qual já havia sido registrada a presença, abaixo do piso 3.

Desta maneira pode ser feito o desmonte dos pisos e, por conseguinte, a remoção

das estruturas e marcações arqueológicas, com conclusão das pesquisas na área.

Page 184: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

183

Prancha 36 – Micro-topografia das estruturas e coleta de acervo.

Evidenciação de muro.

Trabalhos de escavação.

Topografia do sítio.

Limpeza de estruturas.

Page 185: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

184

Prancha 37 – Material arqueológico associado e conclusão da pesquisa.

Amostras de tijolos da área.

Acompanhamento das escavações.

Amostra de vidros.

Vista geral da retirada final de materiais

para encerramento das pesquisas.

Page 186: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

185

4.2.4 Resultados

As pesquisas desenvolvidas na área da futura Estação Higienópolis,

compreendendo um terreno na esquina das ruas da Consolação e Piauí, evidenciaram

restos construtivos de edificação que teria feito parte das construções do complexo

Mackenzie. A escola de engenharia Mackenzie propriamente dita localiza-se em área

mais afastada, tendo sido construída ainda no final do século XIX, e tombada

enquanto patrimônio histórico em 1993.

Conforme demonstra a figura anexa, que traz uma planta do complexo Mackenzie

em 1934 (o terreno então ocupado era de 45.470 m2), o local onde foram realizadas

as pesquisas compreendia uma residência de esquina e áreas funcionais de apoio.

Assim, os restos de estruturas e, também, o material associado devem estar

relacionados a este período, compreendendo o final do século XIX e início do século

XX.

Funcionários consultados do Centro Histórico Mackenzie indicaram que ali

deveria ter funcionado um dormitório feminino para as alunas do colégio. Já durante a

revolução de 1932 o lugar passaria a funcionar como enfermaria.

Quando do desenvolvimento das pesquisas a área era utilizada como

estacionamento de apoio e galpões funcionais. As estruturas antigas estavam abaixo

do piso de concreto então em uso que guardava, portanto, partes da história local.

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186

Figura 51– Planta do completo Mackenzie, 1934. Fonte: Arquivo Mackenzie.

Área de pesquisa

Page 188: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

187

4.3 VSE WALDEMAR FERREIRA

4.3.1 Caracterização da paisagem

A VSE Waldemar Ferreira está localizada na planície de inundação da margem

esquerda do rio Pinheiros, que atualmente se encontra retificado bem próximo ao local

do mesmo. Portanto, o material do substrato é caracterizado por sedimentos aluviais

Quaternários inconsolidados. A VSE está situada a cerca de 725m de altitude (IGG-

SP, 1971). Esta planície de inundação localiza-se num contexto de altas colinas de

média a alta declividade com os topos alcançando altitudes entre 790-810m

(AB’SABER, 1957), e o leito do rio Pinheiros localizado a menos de 720m.

A dinâmica erosiva do local até a ocupação urbana atual e consequente

impermeabilização e aterramento da área (que se intensificou a partir da segunda

metade do século XX) era típica das planícies de inundação, ou seja, predomínio da

acumulação fluvial intimamente dependente da dinâmica hídrica do canal do rio

Pinheiros. Portanto, o local da VSE Waldemar Ferreira esteve sujeito durante os

últimos anos às cheias anuais e periódicas2 do rio Pinheiros.

A partir dos dados analisados é possível dizer que predominam no local da

VSE os processos de agradação de planície fluvial, que foi gerada ao longo dos

últimos milhares de anos. Portanto, pelo menos a partir do início da formação da

planície de inundação até os dias atuais, a região esteve constantemente sendo

inundada pelas cheias do rio Pinheiros e pelos seus meandros conforme a dinâmica

do canal, não apresentando, condições propícias a assentamentos humanos. A

ocupação intensa das várzeas é um fenômeno mais recente na história da ocupação

humana.

Devido ao caráter de agradação sedimentar extremamente dependente da

dinâmica hídrica do rio Pinheiros, há a possibilidade da ocorrência de vestígios

arqueológicos originários de setores à montante do canal de drenagem e depositados

na planície juntamente com os sedimentos fluviais. Conforme apresentado adiante,

estes vestígios arqueológicos foram efetivamente localizados na área, levando à

realização de atividades de resgate.

2 Entende-se como cheias periódicas aquelas que ocorrem num intervalo de cerca 1,58 anos, atingindo a

área da várzea do rio (CHRISTOFOLETTI, 1976).

Page 189: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

188

Figura 52 - Localização da área do Poço de Ventilação Waldemar Ferreira no contexto da ocupação urbana recente.

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189

4.3.2 Prospecções arqueológicas

O poço de ventilação Waldemar Ferreira situa-se no canteiro central (área

pública) da Avenida Waldemar Ferreira, ao norte / nordeste da Rua Pirajussara, bem

como uma parte de calçada anexa, totalizando 13 m de diâmetro. Encontra-se

implantado numa planície inundável e assume um formato linear graças às

características do canteiro central. A vegetação que recobre o local é composta por

palmeiras ajardinadas e gramado.

Os trabalhos de subsuperfície consistiram, durante a primeira fase de

prospecção, na abertura de 3 poços-teste, com trado de 30cm de diâmetro, até a

profundidade de 2,20/ 2,30m, num eixo de 30 a 40m, tendo como ponto central o local

onde será a ventilação Waldemar Ferreira. A estratificação do solo no local pode ser

assim sintetizada:

da superfície até os 20cm foi detectado um solo orgânico, que corresponde a uma

das camadas arqueológicas;

dos 20cm até 1,15m predomina um silte avermelhado, que corresponde ao aterro

para a construção da avenida (na década de 1960);

dos 1,15m até 1,85m ocorre entulho orgânico que, em verdade, é um terreno

natural originado em ambientes pantanosos que dominavam a área antes da

retificação do rio e antes da construção da avenida.

do 1,85m até os 2,90m predomina um solo areno-argiloso.

Como resultado, foram identificados vestígios arqueológicos na primeira

camada (até 20 cm) e na terceira (dos 1,15 aos 1,85 m). Na primeira camada os

vestígios são constituídos por restos construtivos (tijolos, telhas francesas e capa &

canal, rebocos de cimento e fragmentos metálicos), fragmentos de utensílios de vidro

e de plástico contemporâneos e de fragmentos de utensílios de faiança fina,

porcelana, grés e vidro do final do século XIX até meados do século XX, podendo

remontar ao final do século XVIII. Já na terceira camada voltam a aparecer fragmentos

exclusivamente de fins do século XIX até início ou meados do XX.

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190

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191

Prancha 38– Prospecções arqueológicas, VSE Waldemar Ferreira.

Abertura de poços-

teste com triagem de sedimento com

peneira.

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192

Prancha 39 - Vestígios arqueológicos – Sítio Waldemar Ferreira.

Materiais arqueológicos diversos coletados durante as prospecções.

Metais, cerâmica vidrada, faiança, porcelana.

Vidros, ossos, metais, louças.

Page 194: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

193

4.3.3 Detalhamento das pesquisas

Durante as atividades de prospecção identificou-se na área da VSE Waldemar

Ferreira vestígios arqueológicos antigos (podendo remontar ao século XVIII) dispersos

na estratigrafia. Por conta disto foi indicada necessidade de se proceder a um

detalhamento das pesquisas, visando caracterizar a estrutura associada e recuperar

os materiais remanescentes. Por outro lado, as pesquisas se voltaram também à

prospecção da parte lateral do poço (rua) que, durante os estudos anteriores, ainda

não haviam sido retirados. Desta forma as atividades de resgate compreenderam:

Monitoramento da retirada da camada de concreto e asfalto Abertura dos poços

teste

Abertura de escavações no canteiro central

Monitoramento da retirada da capa de concreto e asfalto

Foram demarcadas 10 áreas para realização de poços-teste na porção lateral

do poço (rua), sendo 5 em cada lado. Nestas áreas foi feito acompanhamento da

retirada do asfalto, visando impedir impactos em possíveis vestígios arqueológicos

presentes. Foram ainda demarcadas outras 6 áreas na calçada (3 de cada lado) para

abertura de mais poços-teste, onde igualmente se procedeu ao monitoramento da

retirada do concreto.

Abertura dos poços teste

A profundidade dos poços-teste abertos na avenida atingiu 2,0 metros, a

exceção de um único poço, que foi encerrado a 97cm de profundidade por ter atingido

uma grande rocha de difícil remoção.

O solo evidenciado através desses poços-teste é composto por uma camada

inicial de areia e brita, resultante do processo de asfaltamento, seguida de uma

camada de 1,10m de espessura de sedimento vermelho. A terceira camada é

composta por solo preto argiloso e possui em média 70 cm de espessura, seguida de

uma camada cinza escura argilosa que se prolonga até pelo menos 2,0m de

profundidade. Não foi verificada a presença de vestígio de nenhum tipo nestes poços

da rua, apenas sedimento.

Os poços teste abertos na área da calçada atingiram 2,0m de profundidade e a

estratigrafia se manteve como a dos poços teste da avenida, havendo, no entanto uma

camada inicial de 45 cm em média de solo argiloso vermelho que foi depositada no

local aparentemente quando da construção do canteiro central. Também nesses poços

teste não foi verificada a presença de material arqueológico.

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194

Prancha 40 – Prospecções arqueológicas Poço W. Ferreira

Abertura de poços-teste na área da Ventilação Waldemar Ferreira.

Monitoramento da abertura dos poços-teste.

Demarcação de sondagem arqueológica.

Sondagem demarcada na área do canteiro centra e na parte lateral de

caçada e rual.

Page 196: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

195

Escavações no canteiro central

Foram inicialmente demarcadas no canteiro central 6 sondagens de 1m2,

distribuídas de forma intercalada para abranger toda a área prevista de obra. As

sondagens mediam 1m2 e deveriam ser aprofundadas até 2,0 m para que pudesse

ultrapassar a camada com potencial arqueológico.

Nos dois primeiros níveis, 0-10cm e 10-20cm foram encontrados vestígios

arqueológicos históricos, principalmente vidros e porcelanas. Também se encontra,

associado a este material histórico, algumas moedas e material recente.

Vestígios históricos mais antigos foram encontrados entre os níveis 20-30cm e

30-40cm, sendo que abaixo disso não foi identificado nenhum tipo de material. Todas

as sondagens foram rigorosamente escavadas e o sedimento peneirado, uma delas

atingindo a profundidade de 2,90m, cuja estratigrafia do solo é padrão e se comporta

da seguinte forma:

0 – 20 = Sedimento bruno escuro, argilo siltoso

20 – 60 = Sedimento vermelho brunado, síltico.

60 – 112 = Sedimento vermelho brunado, síltico

112 – 260 = Sedimento preto, argiloso, turfeira.

260 – 280 = Sedimento cinza escuro, argiloso.

280 – 290 = Sedimento branco, areia.

Percebe-se através das escavações das sondagens nessa área, que a camada

inicial de sedimento escuro se deve a ação de decomposição e concentração orgânica

na área ajardinada do canteiro. As duas camadas seguintes de solo avermelhado, as

mesmas em que foram encontrados vestígios históricos, não fazem parte da

estratigrafia original e foram depositadas na área para a construção da Avenida

Waldemar Ferreira. Portanto, o material proveniente dessas camadas foi transportado

para o local junto com o sedimento. Todavia, conforme analisado adiante, além deste

material conter peças históricas diagnósticas, que remetem ao cotidiano de ocupações

históricas que recuam, ato menos, até o século XIX (podendo alcançar a segunda

metade do século XVIII), suas características remetem a uma origem controlada,

permitindo análises sobre os usos e ocupações pretéritas do bairro envoltório.

As ações de resgate na área do Poço Waldemar Ferreira resultaram na coleta

de 829 peças, descritas nas páginas que se seguem.

Page 197: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

196

Figura 54 - Croqui esquemático das pesquisas arqueológicas realizadas.

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197

Prancha 41 – Abertura de sondagens no canteiro central, W. Ferreira.

Abertura de sondagem arqueológica e triagem de sedimento com peneira.

Anotações de campo para confecção

de diário.

Monitoramento da abertura das

sondagens arqueológicas.

Observação do perfil estratigráfico.

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198

Prancha 42 – Escavações na área do canteiro central.

Escavações arqueológicas na área do canteiro central.

Aprofundamento de

sondagens para averiguações estratigráficas.

Todo o sedimento retirado era peneirado, objetivando coletar peças de pequenas dimensões.

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199

4.3.4 As indústrias arqueológicas associadas

Os vestígios arqueológicos recuperados do Sítio Histórico Waldemar Ferreira

procedem dos trabalhos de salvamento arqueológico decorrentes das obras de implantação

da Linha 4 (Amarela) do Metrô de São Paulo correspondente às obras para a implantação

de um poço de ventilação na região do bairro de Butantã/SP.

Tal área, assim como a maior parte dos demais sítios pesquisados no contexto

das obras de ampliação do Metrô, caracteriza-se por um espaço intensamente

antropizado pelos constantes processos de uso e ocupação do solo promovendo uma

acentuada transformação do espaço urbano e da paisagem cultural.

Dessa maneira, em associação a restos construtivos e entulho, os trabalhos de

campo permitiram a recuperação de uma expressiva quantidade de vestígios materiais

representados por fragmentos de cerâmica, faiança, grés, metal, vidro, etc., conforme

demonstrado o gráfico abaixo:

Gráfico 8: Quantificação dos vestígios por categoria do material.

Dentre o material coletado, tem-se:

- Faiança 229

- Vidro 422

- Porcelana 61

- Cerâmica 12

- Metal 33

- Mat. Construtivo 26

- Ossos 16

- Diversos 30

TOTAL 829

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200

Assim é possível observar que no sítio Waldemar Ferreira existe uma

predominância de fragmentos de utensílios de vidro em relação às demais categorias

de vestígios arqueológicos, caracterizando inclusive um comportamento análogo com

os demais sítios estudados.

Em geral, a maior parte do material encontrado refere-se a fragmentos de faiança

e vidro, restos de utensílios basicamente relacionados à segunda metade do século XX,

momento em que a região do Butantã encontra-se completamente urbanizada resultando

em uma intensa ocupação e transformação do espaço. Todavia, em meio a estes

vestígios e aos restos construtivos associados ao entulho, foram recuperados

testemunhos arqueológicos correlatos ao final do século XIX e ao início do século XX,

(podendo recuar para o final do século XVIII), conforme análise que se segue.

Moedas Foram coletadas durante as escavações 8 moedas, a mais antiga, de 1967; a

mais recente, de 1986. Essas moedas, encontradas todas nas camadas superficiais,

denotam dois eventos distintos, de escalas diferentes.

O primeiro, destaca a nítida mudança do uso da área: um local pantanoso, um

terreno baldio próximo às edificações de uma antiga periferia de S. Paulo, ou um

quintal de uma propriedade, onde a circulação era restrita ou praticamente inexistente

(daí a ausência de moedas), torna-se um local de passagem, o canteiro central a ser

vencido para se ir de um lado ao outro da avenida. Note-se que a data da moeda mais

antiga corresponde ao período de abertura da avenida e à transferência de vários

cursos da Universidade de S. Paulo dos campi do Centro para a Cidade Universitária.

O outro evento se refere ao contexto econômico vivido no Brasil na década de

1980: a hiperinflação. O maior número de moedas datadas da década de 1980 pode

revelar o aumento da circulação na área, mas revela, sem dúvida, a falta de cuidado

das pessoas ao portá-las, pois tinham desvalorização praticamente diária.

Metais

Dentre o material resgatado temos tampas (“chapinhas” ou, em inglês, crown-

caps) de bebidas gasosas. Acharam-se ainda restos de canos, de talheres e uma boca

de caixa de cartas. Essas evidências confirmam que estamos lidando não com entulho

construtivo deslocado de alguma demolição da área: esses vestígios metálicos estão

diretamente associados com áreas externas de edificações e indicam que esse

entulho foi realmente para ser a camada onde seria plantado o jardim do canteiro

central da avenida. Também foram localizados vestígios de tubos de pomada, um

Page 202: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

201

pequeno prato de balança de precisão, um artefato não identificado em bronze,

caracterizado por um semicírculo donde se projeta uma haste que está fragmentada, e

uma torneira de máquina de café, possivelmente.

Prancha 43 – Peças metálicas (moedas), sítio Waldemar Ferreira.

Face superior de moedas coletadas nas escavações

Face inferior das mesmas moedas.

Page 203: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

202

Prancha 44 – Peças metálicas, sítio Waldemar Ferreira.

Exemplos de peças metálicas coletadas.

Outros exemplares de peças metálicas.

Page 204: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

203

Vidro

Dentre os fragmentos de vidro recuperados foram identificados,

predominantemente, recipientes de medicamentos, em geral na tonalidade marrom e

verde, os quais se tornam populares a partir do final do século XIX. Foram ainda

coletados vidros planos associados a restos construtivos correlatos aos processos

produtivos do século XX.

Da mesma forma que os vidros planos, os fragmentos de recipientes identificados

apresentam características associadas aos processos automáticos de produção, adotados

a partir da primeira metade do século XX, como é o caso de um pequeno frasco de vidro

incolor que apresenta, no corpo da peça, “estrias fantasmas” (Ghost Seams)

caracterizadas pela presença de suaves estrias longitudinais que se projetam do gargalo à

base da peça, indicando a confecção por máquinas.

Gráfico 9 – Tipologia de artefatos em vidro.

Há uma predominância maciça de frascos de panacéias, remédios e

cosméticos, transparentes ou na cor âmbar, na maioria dos casos com o corpo na

forma de prismas sextavados ou cilíndricos. Esse padrão indica a deposição de

artefatos sistematicamente produzidos até as décadas de 1950-1960, época em que a

Page 205: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

204

indústria nacional passa a investir na confecção de moldes com design mais elaborado

de brilhantina e de creme “Pond’s”.

Um dos frascos de vidro transparente continha o produto “Leite de Rosas”,

fabricado desde 1929 até hoje. Esse frasco, sextavado, foi utilizado entre 1929 e 1950,

segundo informações do próprio fabricante. Entretanto tais datações, por vezes, são

imprecisas, pois nem mesmo as fábricas têm registro dos fornecedores dos

vasilhames.

Além disso, apesar do referido frasco corroborar o período de deposição

esperado para amostra, devemos ter em mente que os vasilhames com as formas

acima descritas, a partir da década de 1950, começaram a ceder espaço a outros.

Mas, em verdade, produtos de empresas sem recursos para desenvolver moldes

próprios continuaram a utilizar esse tipo de padrão, de forma que a data máxima de

descarte e deposição desses recipientes deve ser fixada numa faixa temporal entre as

décadas de 1950 e 1960. A data mínima de descarte desses frascos também deve ser

colocada numa faixa temporal mais ou menos ampla, algo em torno de 1910-1930.

O fato de haver uma certa homogeneidade na forma dos frascos leva a atribuí-

los a uma produção industrial mecanizada, onde máquinas semi-automáticas e

automáticas substituiriam o trabalho manual e o sopro humano (ZANETTINI & BAVA

DE CAMARGO, 1999).

Essa homogeneização e mecanização da produção é cronologicamente

anterior na indústria vidreira norte-americana, por exemplo, ocorrendo em torno de

1890-1920. Entretanto, uma outra característica corrobora a periodização 1910-1930 e

não uma cronologia anterior para a data mínima de deposição: as poucas marcas de

fabricantes distinguíveis são, em sua maior parte, nacionais.

À grande quantidade de frascos se soma a presença de várias ampolas e

flaconetes. Apesar do uso de remédios injetáveis ser, ainda hoje, costume bastante

presente em unidades habitacionais, devemos lembrar que as farmácias, até poucos

anos atrás, possuíam uma espécie de enfermaria onde eram aplicadas substâncias

intravenosas. Além disso, não havia uma distinção entre “drogaria” e “farmácia de

manipulação”, divisão aplicada a partir do início da década de 1970, de forma que

todas ou a grande maioria de farmácias elaborava alguns tipos de remédios. Dessa

forma, as farmácias funcionavam como pronto-socorros informais, gerando um lixo

que hoje já não produzem mais.

Page 206: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

205

Prancha 45 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Exemplares de artefatos em vidro.

Exemplares de peças em vidro, de diferentes tonalidades.

Garrafas, ampolas e fragmentos diversos de

vidro.

Page 207: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

206

Prancha 46 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Detalhe de pequena garrafa em vidro.

Fragmentos, alguns com marcas de fabricantes, presentes nesta indústria.

Page 208: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

207

Prancha 47 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira

Detalhe de tampa de pote de vidro.

Garrafa de vidro.

Pote de vidro.

Page 209: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

208

Foram desenterrados, também, alguns frascos de tinta e os restos de uma

peça de tinteiro. Essas peças foram bastante comuns até as décadas de 1950-1960,

quando surgem as canetas esferográficas.

Poucos fragmentos de garrafas foram encontrados, o que pode ser explicado

pelo valor que elas possuíam na indústria da ciclagem. Até os anos 1980 (e um pouco

depois, nas áreas periféricas de São Paulo) era muito comum a figura do garrafeiro,

trabalhador que coletava os recipientes utilizados e os revendia para a indústria. Ainda

hoje as garrafas de cerveja de 600 ml comercializadas em bares, vendas e padarias

são retornáveis.

Apesar de poucos fragmentos de garrafas terem sido recuperados, eles

apresentam características interessantes. As peças apresentadas, salvo um gargalo

de garrafa de guaraná “Antártica”, podem ser atribuídas há um tempo anterior à

difusão maciça da produção vidreira com máquinas semi-automáticas e automáticas.

Isso fica nítido nos fundos dessas garrafas, originados a partir de recipientes de

bebidas gasosas, com formatos bastante distintos dos que vemos hoje (mais

abaulados, à moda das garrafas de vinho ou champanhe), sem marcas de confecção

e coloração profunda, denotando uma seleção pouco acurada da matéria-prima do

vidro, nesses casos muito rica em óxido de ferro, característica do tempo em que:

1) não havia muitas normas para o acondicionamento de bebidas e comestíveis;

2) havia poucos conservantes disponíveis para os produtos envasados (daí a

necessidade de mantê-los a salvo da luz);

3) além duma menor preocupação com questões de marketing visual do produto.

Ainda quanto a não mecanização no processo de confecção do vidro, o gargalo

da foto à esquerda da mesma Prancha 109 apresenta riscos horizontais que

evidenciam sua confecção manual (utilizava-se uma espécie de alicate para fazer os

gargalos antes das máquinas semi-automática e automáticas serem desenvolvidas).

Esses alicates (chamados de “ferros de marisar”) passaram a ser utilizados a partir de

1830-1840 e foram muito comuns, no Brasil, até o término (ou grande declínio) da

produção manual, algo em torno de 1920-1930 (ZANETTINI & BAVA DE CAMARGO,

1999).

Page 210: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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Prancha 48 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Peças em vidro, nível 1.

Peças em vidro, de garrafas de maior

tamanho.

Page 211: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

210

Prancha 49 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Peças em vidro, indicando a variedade presente na área do sítio.

Exemplares de vidro de diferentes tonalidades.

Fragmento e ampola, sítio Waldemar

Ferreira.

Fundos de garrafa, ampolas e fragmentos diversos.

Page 212: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

211

Prancha 50 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Gargalos e peças em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Page 213: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

212

Faiança

A maior parte dos fragmentos de faiança recuperados é de tonalidade branca

simples ou com a superfície modificada e, por não apresentarem marcas ou qualquer

outro tipo de referência, não puderam ser identificados. Por outro lado, os fragmentos de

tonalidade branca simples podem pertencer a partes não decoradas de peças bicromadas

ou policromadas.

Todavia, dentre os fragmentos sem decoração alguns apresentam a superfície

modificada por pressão de molde (moldagem impressa), predominando o padrão trigal,

produzidos pela Inglaterra a partir do século XIX e adotado pela indústria nacional a

partir do início do século XX até os dias atuais.

Além dos fragmentos de faiança simples foram recuperados alguns vestígios

que possibilitaram a identificação do padrão e técnica decorativa, conforme

demonstrado no gráfico abaixo:

Gráfico 10: Quantificação dos vestígios de faiança por padrão decorativo.

Praticamente a maioria dos fragmentos decorados apresenta superfície não

modificada pintada pela técnica de “transfer printing”, a qual consiste na impressão por

transferência desenvolvida na Inglaterra a partir de 1750.

Um dos padrões observados refere-se ao conhecido Willow Pattern, inserido no

estilo Chinoiseirie, baseado na adoção de motivos chineses pela indústria européia

entre 1800 e 1815.

Page 214: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

213

Foi produzido na Inglaterra por cerca de 54 manufaturas cerâmicas,

principalmente na cor azul até o final do século XIX, tendo sido, inclusive, adotado por

indústrias brasileiras na primeira metade do século XX. Utensílios com este padrão,

sobretudo aparelhos de jantar, foram amplamente exportados para o Brasil, sendo

comum serem encontrados fragmentos desta categoria em sítios históricos.

Na mesma técnica decorativa foi também recuperado um pequeno fragmento

de faiança fina, porém em tom rosa, possibilitando inferir se tratar de uma cena exótica

inserida no estilo Chinoiseirie, também produzido pela Inglaterra até a segunda

metade do século XIX.

Além da técnica de impressão por transferência foi identificado um fragmento de

faiança fina na cor azul com motivos florais que, embora sem referência bibliográfica, se

aproxima da técnica de “borrão” baseada na aplicação de um estampado, geralmente

em azul, sobre o qual a tinta escorre intencionalmente causando um aspecto de

“nebulosidade” das imagens. Tal técnica foi introduzida na Inglaterra a partir de 1830

sendo produzida até o início do século XX.

Ainda em faiança fina foi recuperado um fragmento de pires com decoração

moldada acanalada (superfície modificada) e bandado (frisos) junto à borda.

Provavelmente é de fabricação nacional da primeira metade do século XX, pois peças

com este padrão decorativo foram recuperados de outros sítios históricos de São

Paulo e, neste caso, produzidas pela Fábrica de Louças Santo Eugênio.

Esse tipo de cerâmica porosa, também chamada de pó de pedra ou porcelana

imperfeita, foi desenvolvido na Inglaterra no século XVIII, dentro do processo de

aumento de produção e diminuição de custos gerados pela revolução Industrial.

Utensílios confeccionados com esse tipo de material ocorrem em vários sítios

históricos arqueológicos do mundo, incluindo os brasileiros.

Esse tipo de cerâmica costuma ser um excelente marcador temporal, pois seus

padrões estilísticos e técnicas de confecção são muito conhecidos. Entretanto, para

contextos arqueológicos periféricos, ou seja, de países que não estavam no centro da

produção e das decisões capitalistas industriais, essas datas não são referenciais

absolutos. Esse relativismo temporal já começa na data de aparecimento dessa louça

no Brasil: embora ela oficialmente só possa ter aparecido depois da abertura dos

portos às nações amigas (1810), ela é encontrada em contextos mais antigos,

principalmente em áreas portuárias, onde as possibilidades de contrabando – fator

pouco contemplado na literatura arqueológica – eram maiores e possibilitavam a

comercialização de mercadorias proibidas (ZANETTINI, 1986; OGNIBENI, 1998).

Page 215: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

214

Outro aspecto do consumo desse tipo de louça em áreas periféricas é que

padrões decorativos já decadentes nos grandes centros produtores e consumidores

podem estar em pleno vigor na periferia, notadamente pela queda dos preços. Dessa

forma, informações extraídas da literatura estrangeira não são diretamente aplicadas

ao caso brasileiro.

No caso da área de ocorrência da ventilação Waldemar Ferreira não temos

propriamente problemas com o contrabando, mas com o consumo de louça. Os

utensílios de faiança fina poderiam ser:

1) importados e “fora de moda”, portanto baratos e com grande disponibilidade no

mercado, mas já dentro do “desvio padrão” das datações arqueológicas estrangeiras;

2) muito populares, fabricados por longos períodos e, portanto, maus datadores de

contextos arqueológicos se tomados isoladamente;

3) padrões “fora de moda” no exterior, mas fabricados em grande quantidade no

Brasil, demandando datações próprias, pois estariam relacionadas a um consumo

específico.

Dentro do nosso universo de pesquisa existem muitos fragmentos da faiança

fina do tipo whiteware, a qual possui uma pasta muito branca, porém, uns poucos são

decorados com técnicas e padrões muito comuns em todo o século XIX (e, talvez, até

mesmo no século XX), como a técnica de transfer printing e os padrões que

reproduzem cenas românticas, ou exóticas ou algum tipo de chinoiserie (TOCCHETTO

et al., 2001).

Outra técnica decorativa também muito comum no século XIX e no início do XX

é o banhado (dipped): a peça é pré-cozida e são aplicadas faixas em relevo, que

posteriormente são pintadas (TOCCHETTO et al., 2001).

Finalmente temos as peças com relevo moldado, sem pintura, no famosíssimo

padrão trigal, (TOCCHETTO et al., 2001).

Associando esses vestígios à história da área e aos restos vítreos já analisados

temos um período de deposição mínimo estimado em c.1890, embora as datas das

primeiras aparições desses padrões e dos seus picos de produção sejam bastante

anteriores. Ou seja, esses vestígios corresponderiam às peças de vidro mais antigas,

relativos às garrafas de gasosas de coloração escura, compondo um conjunto de

peças numericamente reduzido, mas representativo dos primeiros anos da ocupação

do Butantã.

Page 216: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

215

Prancha 51 - Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Diferentes exemplares de faiança coletados no sítio.

Novos motivos decorativos, florais e geométricos.

Motivos decorativos diversos ocorrem nesta

faiança, como exemplifica a foto

abaixo.

Page 217: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

216

Prancha 52 – Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Foto A

Foto B

Page 218: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

217

Já os outros padrões decorativos remetem ao período que vai de c.1920-1930

até a década de 1960. Se os padrões decorativos arrolados acima podem mais

facilmente ser atribuídos a uma produção importada, os outros tipos de decoração

apontam para uma produção nacional com desenhos bastante singelos, mas com

certo grau de originalidade.

Embora faltem estudos sistemáticos a respeito da indústria nacional de louças

do século XX (universo em que se destaca o estudo da fábrica da Santa Catarina, na

Lapa, pelo arqueólogo P. Zanettini, em 2003), há evidências de que, estabelecido e

consolidado o parque industrial paulista, os ateliês das fábricas tenham tentado dar

uma “cara” à produção local, inspirados pela confiança adquirida junto ao consumidor,

pelo incremento do controle do copyright e pela deflagração da Primeira Guerra

Mundial. É notório que a indústria brasileira, entre 1870 e 1920, se valeu fortemente da

cópia e adulteração de produtos. Não é à toa que as indústrias que mais se

desenvolveram, durante esse período, foram as gráficas, muitas das quais

especializadas em falsificar rótulos (DEAN, 1975; OP. CIT. IN ZANETTINI & BAVA DE

CAMARGO, 1999). Desse modo, procurar soluções inovadoras que escapassem dos

problemas com as patentes e fornecimento de produtos de países envolvidos no

conflito parece ter sido um caminho viável.

Corroborando isso temos algumas marcas de fábricas da cidade de São Paulo,

como Eramus (s. d.) e Zappi (c.1930 ) e outras de cidades próximas: Mogi das Cruzes,

São Caetano (São Caetano, 1913), Mauá (Luso), São José dos Campos (Santo

Eugênio, c.1920-c.1970) e apenas uma inscrição que indica a procedência estrangeira

de uma das peças: “Japan” .

Com base na identificação de padrões e marcas dos fragmentos de faiança

encontrados foi possível observar, assim, que as louças utilizadas eram importadas

basicamente da Inglaterra e que a data média de fabricação deste material se

relaciona ao final do século XIX e início do século XX.

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218

Prancha 53 – Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Decorações diversas

Decoração floral

Predomínio de faiança lisa.

Decoração floral

Decoração floral.

Decoração lisa e com listras.

Exemplares diversos de faiança.

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219

Prancha 54 – Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Marcas.

Marcas.

Marcas.

Marcas.

Page 221: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

220

Porcelana

Essa cerâmica não porosa tem uma estrutura muito próxima da do vidro, o que

garante grande dureza e homogeneidade na pasta. Os exemplares da área de

ocorrência da ventilação são em sua maior parte nacionais, a exemplo da faiança fina

mais contemporânea: foram encontradas marcas procedentes de Mogi das Cruzes,

Jundiaí (Pozzani, 1934), Mauá e Rio de Janeiro.

Os motivos decorativos são muito singelos, geralmente frisos, faixas e florais. A

peça mais interessante e que traz alguma informação direta sobre temporalidade, tem

nela reproduzida a casaria e parte do casco de um navio de passageiros com proa

bastante verticalizada, design naval característico de fins do século XIX até 1920-

1930.

Dentro do rol de cerâmica não porosa apontamos ainda a presença de um

fragmento de grés, pedaço da base de uma confeccionada em Aveiro, Portugal, a qual

poderia conter uma bebida destilada qualquer (ginebra, feita de gengibre, ou

bagaceira, aguardente de casca de uva). A produção desse tipo de cerâmica

encerrou-se ainda no século XIX, não sendo descartada, contudo, sua produção ainda

no início do século XX.

Deve-se ressaltar que a cerâmica não porosa, com fórmulas muito

semelhantes às da porcelana ou grés, ainda hoje são utilizadas para confeccionar

encanamentos ou louça sanitária.

Page 222: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

221

Prancha 55 – Peças em porcelana, sítio Waldemar Ferreira.

Marcas.

Marcas.

Marcas.

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222

Prancha 56 – Peças em porcelana, sítio Waldemar Ferreira.

Detalhe de asa.

Detalhe de decoração.

Motivo decorativo floral.

Page 224: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

223

Louça de barro (torneada) São poucos os fragmentos de utensílios de cerâmica torneados encontrados na

área de ocorrência, denotando que já estamos lidando com um contexto urbano e

mais próximo ao século XX. Os fragmentos são muito exíguos e não permitem a

recomposição das formas das peças. Encontrados isoladamente, sem a presença de

nenhum outro artefato, poderiam ser considerados como resultantes de rituais

religiosos de origem afro-brasileira, mas, uma vez que estão juntos com fragmentos de

vidros, porcelanas e faianças finas bem definidos, concluímos que eles formam uma

outra amostra do universo de ocorrências arqueológicas, talvez apontando para a

urbanização da área e o progressivo afastamento do “Cinturão Caipira”, onde o uso de

utensílios de barro era mais extenso.

Outros materiais Foram encontrados poucos vestígios de materiais construtivos nas sondagens

e poços-teste, indicando que o pacote formador da ocorrência arqueológica foi

intencionalmente selecionado.

Foram encontrados, também, fragmentos de ossos, geralmente de suínos e

bovinos, além de conchas de moluscos.

Artefatos confeccionados a partir de matéria óssea também foram encontrados:

um botão feito de madrepérola e uma peça de jogo, feita com um osso plano.

Finalmente e resumindo, a análise desse material permite afirmar que temos

nessa área de ocorrência arqueológica um bolsão de lixo que: 1) foi formado em

quintais de unidades comerciais ou de prestação de serviço, além de unidades

habitacionais; e/ ou 2) pertencia a algum terreno baldio onde eram acumulados rejeitos

da vizinhança.

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Prancha 57 – Louça de barro, sítio Waldemar Ferreira.

Fragmentos de artefatos em louça de barro.

Outros exemplares de louça de barro.

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225

Prancha 58 – Outros materiais, sítio Waldemar Ferreira.

Botão em madrepérola e osso.

Page 227: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

226

4.3.5 Resultado

Os vestígios arqueológicos recuperados do Sítio Histórico Waldemar Ferreira

procedem dos trabalhos de salvamento arqueológico decorrentes das obras de

implantação da Linha 4 (Amarela) do Metrô de São Paulo correspondente às obras

para a implantação de um poço de ventilação na região do bairro de Butantã/SP.

Tal área, assim como a maior parte do município de São Paulo, caracteriza-se

por um espaço intensamente antropizado pelos constantes processos de uso e

ocupação do solo promovendo uma acentuada transformação do espaço urbano e da

paisagem cultural. Estas transformações do espaço, baseadas em construções e

reconstruções de elementos urbanos, geralmente implicam em densas camadas de

aterro ou grandes remoções de solo, formando em algumas áreas espessos “pacotes”

de entulho ou “bolsões antrópicos”, os quais podem conter os mais diversos

testemunhos materiais, inclusive de distintos períodos históricos.

Sendo assim, os testemunhos materiais relacionados às mais diversas

ocupações ocorridas neste cenário são constantemente deslocados de sua posição

original e, por vezes, percorrem quilômetros dentro da malha urbana sendo

depositados em contextos diversos de sua originalidade. Mesmo assim, podem

apresentar potencial informativo sobre as formas de apropriação e adequação do

espaço por determinada comunidade em determinado contexto histórico.

Por outro lado, áreas que no passado se configuravam como espaços livres

(tais como quintais, praças, pátios, etc.) estando integradas a edifícios e que, portanto,

representavam espaços de convívio social e consequentemente símbolos das

manifestações culturais da comunidade, podem apresentar vestígios arqueológicos

relacionados a estes períodos.

O estabelecimento de pesquisas arqueológicas no Sítio Waldemar Ferreira

objetivou encarar a cidade como um sítio arqueológico, configurando-a como o lugar

das manifestações culturais dos diferentes agrupamentos humanos que nela

interagiram e interagem. A adoção destas medidas está possibilitando a recuperação

de fragmentos materiais capazes de refletir com fidelidade o comportamento

sociocultural da comunidade em determinados períodos históricos, bem como, melhor

compreender e documentar as formas de apropriação e transformação do espaço

urbano.

Neste sentido, as pesquisas empreendidas no Sítio Waldemar Ferreira

permitiram recuperar inúmeros vestígios arqueológicos que, por longo tempo, ficaram

depositados no subsolo por ocasião de construções, reformas, demolições ou aterros

e que, quando postos à luz da arqueologia e em comparação com o material oriundo

Page 228: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

227

de outros sítios do município de São Paulo, apresentam informações significativas a

respeito da cultura material produzida e/ou utilizada por alguns segmentos sociais que

ocuparam esta região no passado.

Além disso, o desenvolvimento de pesquisas arqueológicas, mesmo em locais

altamente antropizados como é o caso do Sítio Waldemar Ferreira, permite adquirir

dados que, em comparação com o material recuperado de outros sítios pesquisados

no contexto das obras da Linha Amarela do Metrô, irão possibilitar a interpretação do

design da ocupação humana em determinados espaços geográficos do município de

São Paulo.

Dessa maneira, em associação a restos construtivos e entulho os trabalhos de

campo permitiram a recuperação de uma expressiva quantidade de fragmentos de

cerâmica, faiança, grés, metal, vidro, etc..

Em geral, a maior parte do material encontrado refere-se a fragmentos de

faiança e vidro, restos de utensílios basicamente relacionados à segunda metade do

século XX, momento em que a região do Butantã encontra-se completamente

urbanizada resultando em uma intensa ocupação e transformação do espaço.

Todavia, em meio a estes vestígios e aos restos construtivos associados ao entulho

foram recuperados testemunhos arqueológicos correlatos ao final do século XIX

(podendo recuar para o século XVIII) e ao início do século XX. Temos ainda vestígios

materiais que vão desde a década de 1890, porém, existem em maiores quantidades

fragmentos de utensílios datados entre 1920 e 1960. Desde as décadas de 1920-193e

mas, principalmente, a partir do loteamento do bairro pela Cia. City (1935), é que o

bairro do Butantã passa a ser incorporado à malha urbana da cidade de São Paulo

como uma periferia próxima, deixando de lado as características de arrabalde rural.

O tipo de vestígio encontrado nesse período entre 1920-1960 se coaduna com

as características ainda apresentadas pela área: moradia de classe média citadina

com a presença de estabelecimentos de comércio e serviços voltados para a

população local, mas também para os viajantes que se dirigiam para o Morumbi,

Embu, Itapecerica, Osasco, Cotia, Carapicuíba ou até Itu, Sorocaba e mais além.

Presume-se que sua origem esteja relacionada à demolição das edificações

existentes na confluência da antiga Rua das Missões (da qual partiu, sobre o mesmo

eixo, a Avenida Waldemar Ferreira) com a Rua Pirajussara, e na consequente

utilização desse entulho, rico em matéria orgânica, para a constituição do jardim no

atual canteiro central.

Essa área, situada na confluência de diversos caminhos antigos (tanto trilhas

de pedestres quanto rodoviários), começa a assumir características tipicamente

urbanas a partir da instalação do instituto Butantã, em 1901, e da pavimentação da

Page 229: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

228

Avenida Vital Brasil (1911). Nos mapas do levantamento SARA-Brasil, realizado em

1928 (mapas impressos somente em 1930), esta área aparece com ruas definidas e

residências já consolidadas. Outro fato que reforça essa ocupação antiga é a

existência de uma residência ao lado do prédio da Aliança Francesa, edificada em

1928, segundo a data presente em sua platibanda.

A vantagem da ocorrência arqueológica da ventilação Waldemar Ferreira, em

oposição a outras áreas desta mesma Linha 04 Amarela que apresentaram vestígios

arqueológicos associados às camadas de aterro, é ser remanescente de fundos de

quintal temporalmente bem definidos, cuja ocupação se situa entre as décadas de

1890 e 1960, 170 anos que podem ser visualizados através das evidências materiais

coletadas e estudadas pela presente pesquisa.

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229

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o intuito de ampliar o campo de produção do conhecimento, o presente

trabalho teve o objetivo de divulgar as atividades e os resultados alcançados ao longo

de pesquisas arqueológicas, históricas e culturais desenvolvidas no Plano de Gestão

do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural nas Obras de Implantação da Linha

02/Verde do Metrô- Lote 08 e da Linha 04 – Amarela do Metropolitano da cidade de

São Paulo.

No que se refere às pesquisas na Linha 02/Verde, remetem a um contexto

histórico importante no que diz respeito ao início da industrialização em São Paulo,

com suas primeiras formações de bairros operários. A Vila Prudente mostrou-se um

bairro de suma importância na constituição do caráter urbano de São Paulo nos século

XIX e início do século XX. Neste contexto foi possível trabalhar com o resgate

arqueológico na área da CIPA e registros de patrimônio edificado em áreas próximas.

Foi visto também que o desenvolvimento urbano ocorrido nos bairros do Ipiranga

e Sacomã, particularmente acelerado nas últimas 3 décadas, resultou na substituição

quase completa de antigas moradias, comércios e vias de comunicação por edifícios,

grandes avenidas e indústrias. Estas mesmas transformações urbanas geraram uma

alteração paisagística profunda, com intensos cortes e aterros de terrenos necessários

para as novas demandas de engenharia.

No que tange aos trabalhos de pesquisas ocorridos na Linha 04 – Amarela, ao 3

casos apresentados visaram fornecer um panorama da diversidade de ocorrências, do

estado de conservação dos vestígios e de seu potencial ainda altamente positivo para

informar sobre o design da ocupação humana em determinados espaços do município

de São Paulo.

Em geral, a maior parte do material encontrado nas escavações refere-se a

fragmentos de faiança e vidro, restos de utensílios basicamente relacionados à

segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, momentos em que

São Paulo já presenciava um intenso processo de urbanização em comparação com

demais cidades do país resultando, assim, em uma grande transformação do espaço.

As análises empreendidas nos vestígios arqueológicos permitiram estabelecer um

período aproximado de ocupação para os sítios estudados, sendo que com exceção

do sítio Luz, os demais sítio foram ocupados, ao menos, até meados do século XX.

Em relação aos vestígios recuperados, predominam fragmentos de utensílios

correlatos a segunda metade do oitocentismo, ao século XIX e inicio do século XX,

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230

principalmente fragmentos de vidro e faiança, havendo um predomínio desta última

categoria, que em função de suas características morfológicas e decorativas indica

terem sido importados, principalmente da Inglaterra no decorrer do século XIX.

No caso dos sítios mais recuados no tempo, como é o caso do Sítio Luz,

constata-se uma frequência de utensílios de faiança, sobretudo importados da

Inglaterra. À medida que os sítios se configuram como mais recentes, ocorre uma

predominância de material relacionado à indústria nacional, obviamente em função de

menor custo e maior facilidade de aquisição.

No que se refere ao material importado, foi registrado certa predominância de

determinados padrões e/ou técnicas decorativas nos fragmentos de faiança

recuperados, como é o caso do Borrão Azul que constitui um padrão decorativo

relativamente comum em sítios históricos sendo amplamente exportado pela Inglaterra

e uma maior freqüência da técnica transfer printing, que possibilitou a diminuição de

custos e a produção em série.

Portanto, referindo-se aos dois programas de pesquisa abordados na presente

divulgação científica, pode-se assumir que os dados obtidos por intermédio dos

trabalhos de campo em associação às análises das fontes documentais e

bibliográficas e a análise do material recuperado pelas pesquisas permitiram a

obtenção de informações mais substanciais sobre o contexto arqueológico e histórico

representado pelos sítios identificados e, de certa forma, sobre os assentamentos

ocorridos no município de São Paulo.

Os trabalhos permitiram recuperar uma expressiva quantidade de vestígios

materiais que se revestem de grande importância didática, cultural e científica. A realização de tais pesquisas objetivou encarar a cidade como um espaço de

suma importância para a arqueologia, configurando-a como o lugar das manifestações

culturais dos diferentes agrupamentos humanos que nela interagem. A adoção desta

abordagem possibilitou a recuperação de fragmentos materiais capazes de refletir o

comportamento sócio-cultural da comunidade em determinados períodos históricos,

bem como melhor compreender e documentar as formas de apropriação e

transformação do espaço urbano.

Por fim, sob a ótica da Arqueologia os trabalhos permitiram obter informações

mais significativas sobre a cultura material produzida e/ou utilizada pelos segmentos

sociais que ocuparam esta região em fins do século XIX, ao mesmo tempo em que

reforçam as Políticas Públicas desenvolvidas no município no âmbito do Patrimônio

Arqueológico. Da mesma forma, os resultados subsidiam outras pesquisas a serem

realizadas no município e buscam contribuir para o estabelecimento de um quadro de

Page 232: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

231

ocupação regional e para um maior entendimento sobre as ocupações ocorridas nesta

parte do território nacional. Portanto, sem fechar as discussões a respeito destas pesquisas, o objetivo

maior foi o de ampliar os conhecimentos e contribuir na preservação da memória

nacional, além de estimular as comunidades envolvidas na revalorização de sua

história, tradição e memória.

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232

FICHA TECNICA

COORDENAÇÃO L.D. DRA. ERIKA M. ROBRAHN-GONZÁLEZ (Arqueóloga e Historiadora) L.D. DR. PAULO DE BLASIS (Arqueólogo e Historiador) MS. WAGNER GOMES BORNAL (Arqueólogo e Historiador) PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DR. ANDRÉS ZARANKIN (Arqueólogo) DRA. RAQUEL RECH (Arqueóloga e Historiadora) MS. PAULO FERNANDO BAVA DE CAMARGO (Arqueólogo e Antropólogo) MS. GERSON LEVI DA S. MENDES (Arqueólogo e Historiador) MS. CINTIA BENDAZZOLI (Arqueóloga e Historiadora) PAULO AFONSO VIEIRA (Geógrafo com especialização em Arqueologia) LEILANE PATRÍCIA LIMA (Historiadora, mestranda em Arqueologia). EDUARDO BESPALEZ (Historiador, Mestrando em Arqueologia). GILBERTO FRANCISCO SILVA (Historiador, mestrando em Arqueologia). JOÃO HENRIQUE ROSA (Historiador, mestrando em Arqueologia). RODOLFO ALVES DA LUZ (Geógrafo) CAMILA MEDINA (Graduanda em História) JOB LOBO (Graduando em Geografia) LUIS VINÍCIUS SANCHES ALVARENGA (Arqueólogo) LUIZ FRANCO (Graduando em Geografia) PATRIMÔNIO HISTÓRICO / ARQUITETÔNICO RODRIGO SILVA (Historiador) EVERALDO SILVA (Arquiteto) FABIO DE ALMEIDA (Arquiteto)

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233

TRABALHOS EM LABORATÓRIO CAMILA GUARIM MARILIA ARIZA JULIANA BATISTA PATRICIA A. NESTÓRIO TEREZINHA DIAS PROGRAMAÇÃO VISUAL E ARTE GRÁFICA JOSÉ LUIZ DE MAGALHÃES CASTRO NETO EDITORAÇÃO DA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA L.D. DRA. ERIKA M. ROBRAHN-GONZÁLEZ (Arqueóloga e Historiadora) JULIANA FIGUEIRA DA HORA DUARTE (Historiadora e mestranda em Arqueologia) KELLY CRISTINA MELO (Geógrafa) ROBSON NOBRE (Graduando em História) SÂMELA WUTZKE DE OLIVEIRA (Historiadora)

Page 235: Publicação Cinetífica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

234

CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA

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