publicacao.pdf

100
sid.inpe.br/mtc-m19/2014/01.23.18.38-TDI FILMES DE DIAMANTE ULTRANANOCRISTALINOS DOPADOS COM BORO CRESCIDOS SOBRE SILÍCIO POROSO Lilian Mieko da Silva Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelos Drs. Neidenêi Go- mes Ferreira, e Antonio Fernando Beloto, aprovada em 26 de fevereiro de 2014. URL do documento original: <http://urlib.net/8JMKD3MGP7W/3FKG32E> INPE São José dos Campos 2014

Upload: lavtol

Post on 06-Nov-2015

9 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

  • sid.inpe.br/mtc-m19/2014/01.23.18.38-TDI

    FILMES DE DIAMANTE ULTRANANOCRISTALINOS

    DOPADOS COM BORO CRESCIDOS SOBRE SILCIO

    POROSO

    Lilian Mieko da Silva

    Dissertao de Mestrado do Cursode Ps-Graduao em Engenhariae Tecnologia Espaciais/Cincia eTecnologia de Materiais e Sensores,orientada pelos Drs. Neideni Go-mes Ferreira, e Antonio FernandoBeloto, aprovada em 26 de fevereirode 2014.

    URL do documento original:

    INPESo Jos dos Campos

    2014

  • PUBLICADO POR:

    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPEGabinete do Diretor (GB)Servio de Informao e Documentao (SID)Caixa Postal 515 - CEP 12.245-970So Jos dos Campos - SP - BrasilTel.:(012) 3208-6923/6921Fax: (012) 3208-6919E-mail: [email protected]

    CONSELHO DE EDITORAO E PRESERVAO DA PRODUOINTELECTUAL DO INPE (RE/DIR-204):Presidente:Marciana Leite Ribeiro - Servio de Informao e Documentao (SID)Membros:Dr. Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado - Coordenao Engenharia eTecnologia Espacial (ETE)Dra Inez Staciarini Batista - Coordenao Cincias Espaciais e Atmosfricas (CEA)Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordenao Observao da Terra (OBT)Dr. Germano de Souza Kienbaum - Centro de Tecnologias Especiais (CTE)Dr. Manoel Alonso Gan - Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos(CPT)Dra Maria do Carmo de Andrade Nono - Conselho de Ps-GraduaoDr. Plnio Carlos Alval - Centro de Cincia do Sistema Terrestre (CST)BIBLIOTECA DIGITAL:Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordenao de Observao da Terra (OBT)REVISO E NORMALIZAO DOCUMENTRIA:Marciana Leite Ribeiro - Servio de Informao e Documentao (SID)Yolanda Ribeiro da Silva Souza - Servio de Informao e Documentao (SID)EDITORAO ELETRNICA:Maria Tereza Smith de Brito - Servio de Informao e Documentao (SID)Andr Luis Dias Fernandes - Servio de Informao e Documentao (SID)

  • sid.inpe.br/mtc-m19/2014/01.23.18.38-TDI

    FILMES DE DIAMANTE ULTRANANOCRISTALINOS

    DOPADOS COM BORO CRESCIDOS SOBRE SILCIO

    POROSO

    Lilian Mieko da Silva

    Dissertao de Mestrado do Cursode Ps-Graduao em Engenhariae Tecnologia Espaciais/Cincia eTecnologia de Materiais e Sensores,orientada pelos Drs. Neideni Go-mes Ferreira, e Antonio FernandoBeloto, aprovada em 26 de fevereirode 2014.

    URL do documento original:

    INPESo Jos dos Campos

    2014

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Silva, Lilian Mieko da.Si38f Filmes de diamante ultrananocristalinos dopados com boro

    crescidos sobre silcio poroso / Lilian Mieko da Silva. So Josdos Campos : INPE, 2014.

    xxiv + 74 p. ; (sid.inpe.br/mtc-m19/2014/01.23.18.38-TDI)

    Dissertao (Mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaci-ais/Cincia e Tecnologia de Materiais e Sensores) Instituto Na-cional de Pesquisas Espaciais, So Jos dos Campos, 2014.

    Orientadores : Drs. Neideni Gomes Ferreira, e Antonio Fer-nando Beloto.

    1. silcio poroso. 2. diamante ultrananocristalino dopado comboro. 3. HFCVD. 4. eletrodo poroso. 5. aplicaes eletroqumicas.I.Ttulo.

    CDU 679.826

    Esta obra foi licenciada sob uma Licena Creative Commons Atribuio-NoComercial 3.0 NoAdaptada.

    This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0 Unported Li-cense.

    ii

  • iv

  • v

    Nunca abra mo dos seus sonhos, pois se eles morrem, a vida se

    torna como um pssaro com asas quebradas que no pode voar.

    Langston Hughes

  • vi

  • vii

    A minha filha, Larissa.

  • viii

  • ix

    AGRADECIMENTOS

    Ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE, pela oportunidade do

    mestrado.

    Ao Laboratrio Associado de Sensores e Materiais LAS, por ter

    disponibilizado a infraestrutura necessria para o desenvolvimento deste

    trabalho.

    Aos grupos LABEMAC Laboratrio de Eletroqumica de Materiais

    Carbonosos, e CELSOL Clulas Solares, pelo suporte oferecido.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES,

    pelo apoio financeiro.

    Dra. Neideni Gomes Ferreira, pela orientao, pelo incentivo, pelos

    ensinamentos, conselhos e discusses a respeito do trabalho.

    Ao Dr. Antonio Fernando Beloto e ao Dr. Maurcio Ribeiro Baldan, pelo apoio e

    discusses sobre o trabalho.

    Marta dos Santos, pela amizade, pelos conselhos e pelo apoio tcnico no

    trabalho.

    Dra. Adriana Faria Azevedo, pelo apoio tcnico e pelas discusses a respeito

    do trabalho.

    Maria Lcia Brison de Mattos, pelas imagens de MEV.

    Dra. Tatiane Moraes Arantes, pelas medidas de raios-X e pelo apoio tcnico.

    Ao Andr Sardinha, pelo auxlio nas medidas de voltametria cclica.

    Wanderlene e ao Wanderson, pelo suporte no laboratrio.

  • x

    Ao Miguel, pelos estudos e discusses sobre o silcio poroso e, principalmente,

    pela amizade, apoio e companheirismo.

    Ao Tiago, pela amizade e pela parceria nos estudos sobre o silcio poroso.

    Patrcia, por estar comigo em todos os momentos e me dar foras.

    Lnia, pela amizade e carinho.

    Aos demais amigos e colegas do INPE, Diego, Andr Contin, Ana Claudia,

    Guilherme, Vagner, Celso, entre outros, pela troca de experincias e pelos

    bons momentos compartilhados.

    A meus pais, Ftima e Wilson, e a meu irmo, Daniel, por sempre me

    apoiarem.

    A minha filha, Larissa, pela pacincia, compreenso e carinho.

    A todos que colaboraram de alguma forma com o desenvolvimento deste

    trabalho e me apoiaram nesta importante etapa da minha vida.

  • xi

    RESUMO

    Os resultados da obteno e caracterizao de um novo material compsito formado por filme de diamante ultrananocristalino dopado com boro BDUND (Boron doped ultrananocrystalline diamond) sobre silcio poroso (PS Porous silicon) so apresentados e discutidos. A primeira parte da dissertao mostra o desafio em se obter amostras de silcio poroso com porosidade controlada para deposio dos filmes de diamante. Alm disso, apresentado o estudo do controle dos parmetros de crescimento do filme de diamante, para que os filmes preencham as cavidades dos poros, sem fech-los, mantendo a morfologia dos mesmos, visando formao de um eletrodo poroso com uma camada de diamante contnua e uniforme. Assim, a primeira etapa do trabalho consistiu no estudo dos parmetros de ataque eletroqumico para formao do PS, variando-se as condies de iluminao, assim como a densidade de corrente e o tempo de ataque. Aps caracterizao morfolgica e estrutural do PS, a morfologia mais adequada para deposio dos filmes de BDUND foi definida como sendo a dos substratos com tamanho de poro de 10 a 30 m, com poros distribudos uniformemente pela superfcie. Os filmes foram, ento, crescidos por deposio qumica via fase vapor assistida por filamento quente, utilizando uma mistura de argnio, hidrognio e metano. Estudou-se a influncia do tempo de crescimento, variando-se de 1 a 4h, assim como a influncia de duas dopagens distintas, 2.000 e 20.000 ppm B/C em soluo. As amostras foram caracterizadas por microscopia eletrnica de varredura, espectroscopia de espalhamento Raman e difratometria de raios-X. Os resultados mostraram que os filmes apresentaram morfologia e textura homognea, preenchendo os poros uniformemente. A caracterizao estrutural comprovou a presena de diamante nas amostras, assim como a presena de ligaes do tipo sp2, conforme esperado para filmes de BDUND. Os eletrodos porosos de maior dopagem mostraram-se mais apropriados para as caracterizaes eletroqumicas de janela de potencial de trabalho e de reversibilidade em par redox. Essas amostras apresentaram elevada capacitncia, como esperado para eletrodos porosos. Alm disso, em soluo de ferrocianeto de potssio, os eletrodos se mostraram reversveis apenas para baixas velocidades de varredura.

  • xii

  • xiii

    BORON DOPED ULTRANANOCRYSTALLINE DIAMOND FILMS GROWN

    ON POROUS SILICON

    ABSTRACT

    The results concerning the production and characterization of a new composite material consisting of boron doped ultrananocrystalline diamond (BDUND) film on porous silicon (PS) are presented and discussed. The first part of the dissertation shows the challenge in obtaining porous silicon with controlled porosity for diamond films deposition. Furthermore, the study of the diamond film growth parameters is presented, so that the films can fill the pore cavities without closing them, keeping their morphology, in order to obtain a porous electrode with a continuous and uniform diamond layer. Thus, the first step of the work consisted in studying the electrochemical etching parameters for the PS formation, varying lighting conditions as well as the current density and etching time. After PS morphological and structural characterization, the most suitable morphology for deposition of BDUND films was defined as the substrates with pore size from 10 to 30 m, with pores uniformly distributed over the surface. The films were then grown by hot filament chemical vapor deposition, using a mixture of argon, hydrogen and methane. The influence of growth time was studied, varying from 1 to 4h, as well as the influence of two different doping levels, 2,000 and 20,000 ppm B/C in solution. The samples were characterized by scanning electron microscopy, Raman scattering spectroscopy and X-ray diffraction. The results showed that the films presented homogeneous morphology and texture, filling the pores uniformly. Structural characterization proved the presence of diamond in the samples, as well as the presence of sp2 bonds, as expected for BDUND films. The higher doping porous electrodes were more suitable for the electrochemical characterization of the work potential window and the redox couple reversibility. These samples showed high capacitance, as expected for porous electrodes. In addition, in potassium ferrocyanide solution, the electrodes showed reversible behavior only at low scan rates.

  • xiv

  • xv

    LISTA DE FIGURAS

    Pg.

    Figura 2.1 Plano (111) de um cristal de silcio, coberto com tomos de hidrognio. ...................................................................................... 9

    Figura 2.2 (a) tomo de boro ligado a quatro tomos de carbono. (b) Lacuna preenchida por um eltron de valncia de um tomo prximo, gerando um on negativo preso estrutura cristalina. ... 14

    Figura 3.1 (a) Sistema eletroqumico utilizado. (b) Diagrama da clula eletroqumica: 1) Eletrodo de platina, 2) Clula de Teflon, 3) Oring, 4) Amostra de Si, 5) Contato de lato, 6) Lmpada........... 18

    Figura 3.2 (a) Reator HFCVD utilizado. (b) Interior do reator. ....................... 22 Figura 3.3 Clula eletroqumica de trs eletrodos. ........................................ 27 Figura 4.1 Imagens de MEV das amostras de PS obtidas com a lmpada

    LD1 em diferentes distncias em relao amostra. (a) Amostra 1: 15 cm. (b) Amostra 2: 18 cm. (c) Amostra 3: 22 cm. (d) Amostra 4: 26 cm. ................................................................... 30

    Figura 4.2 Imagens de MEV das amostras de PS obtidas com a lmpada dicrica LD2, com densidade de corrente de 11,3 mA/cm, durante (a) Amostra 5: 120 min e (b) Amostra 6: 60 min.............. 31

    Figura 4.3 Imagem de MEV da Amostra 7, obtida com a lmpada dicrica LD3, sob 56,5 mA/cm durante 120 min, apresentando possvel eletropolimento. .............................................................. 32

    Figura 4.4 Imagens de MEV das amostras preparadas com a lmpada dicrica LD3 por 15 min. (a) Amostra 8: 56,5 mA/cm. (b) Amostra 9: 28,3 mA/cm. (c) Amostra 10: 17,0 mA/cm. .............. 33

    Figura 4.5 Espectros normalizados das lmpadas dicricas. ........................ 34 Figura 4.6 Imagens de MEV das amostras preparadas com lmpadas

    LED. (a) Amostra 11: LED branco. (b) Amostra 12: LED azul. (c) Amostra 13: LED verde. (d) Amostra 14: LED vermelho. ........ 35

    Figura 4.7 Espectros normalizados das lmpadas LED utilizadas. ............... 36 Figura 4.8 Imagens de MEV das amostras preparadas com lmpadas

    LED azul, durante 60 min (a) Amostra 15: 11,3 mA/cm. (b) Amostra 16: 56,5 mA/cm. (c) Amostra 17: 2,8 mA/cm. .............. 37

    Figura 4.9 Imagens de MEV de amostras de PS utilizadas para o crescimento dos filmes de BDUND. ............................................. 38

    Figura 4.10 Espectro Raman de uma amostra de silcio poroso. .................. 39 Figura 4.11 Imagem de uma amostra de PS, obtida por perfilometria

    ptica. ......................................................................................... 40 Figura 5.1 Imagens de MEV da superfcie e da seo transversal dos

    filmes crescidos em (a,b) 1h (c,d) 2h (d,e) 3h. ............................. 42 Figura 5.2 Espectros Raman e difratogramas de raios-X dos filmes

    crescidos em (a,b) 1h (c,d) 2h (e,f) 3h.......................................... 43

  • xvi

    Figura 5.3 (a,b) Imagens de MEV de duas regies distintas (c) Espectro Raman e (d) Difratograma de raios-X, da amostra obtida com 4h de crescimento. ....................................................................... 46

    Figura 5.4 Amostra obtida com 1,0 sccm de CH4, em 4h de crescimento. (a) Imagem de MEV (b) Difratograma de raios-X (c,d) Espectros Raman de duas regies distintas da amostra.............. 47

    Figura 5.5 Imagens de MEV das amostras preparadas com (a) 1h (b) 2h (c) 3h de crescimento, com dopagem de 2.000 ppm B/C em soluo. ........................................................................................ 48

    Figura 5.6 Espectros Raman e difratogramas de raios-X dos filmes crescidos em (a,b) 1h (c,d) 2h (e,f) 3h, com dopagem de 2.000 ppm B/C em soluo. ................................................................... 49

    Figura 5.7 Amostra obtida com 4h de crescimento, dopagem de 2.000 ppm B/C em soluo. (a) Imagem de MEV (b,c) Espectros Raman de duas regies distintas da amostra. ............................. 52

    Figura 5.8 Amostra obtida em 4h de crescimento, com 1,0 sccm de CH4. (a) Imagem de MEV (b,c) Espectros Raman de regies distintas da amostra. .................................................................... 53

    Figura 5.9 Janelas de potencial de trabalho das amostras BDUND/PS preparadas em 3h e 4h de crescimento, e de uma amostra BDUND/Si. ................................................................................... 56

    Figura 5.10 Ampliao das janelas de potencial de trabalho das trs amostras..................................................................................... 56

    Figura 5.11 Valores de capacitncia para os trs eletrodos. ......................... 58 Figura 5.12 Voltamogramas do comportamento eletroqumico dos

    eletrodos BDUND/PS-3h e BDUND/PS-4h utilizando o sistema redox em soluo de ferrocianeto na velocidade de varredura 5 mV/s. ....................................................................... 60

    Figura 5.13 Voltamogramas do comportamento eletroqumico do eletrodo BDUND/PS-3h utilizando o sistema redox em soluo de

    ferrocianeto 436CNFe nas velocidades de varredura de 5, 10, 20 e 40 mV/s. ....................................................................... 61

  • xvii

    LISTA DE TABELAS

    Pg.

    Tabela 2.1 Principais propriedades e aplicaes do silcio poroso. ................ 7 Tabela 3.1 Condies utilizadas nos ataques eletroqumicos. ...................... 20 Tabela 4.1 Influncia da densidade de corrente e do tempo de ataque. ....... 37

  • xviii

  • xix

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    BDD Diamante microcristalino dopado com boro (Boron doped diamond)

    BDND Diamante nanocristalino dopado com boro (Boron doped nanocrystalline diamond)

    BDUND Diamante ultrananocristalino dopado com boro (Boron doped ultrananocrystalline diamond)

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CELSOL Clulas Solares

    CVD Deposio qumica via fase vapor (Chemical vapor deposition)

    DI Deionizada

    EB-PVD Deposio fsica via fase vapor por feixe de eltrons (Electron beam physical vapor deposition)

    GAP Diferena de energia entre banda de valncia e banda de conduo

    HFCVD Deposio qumica via fase vapor assistida por filamento quente (Hot filament chemical vapor deposition)

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    LABEMAC Laboratrio de Eletroqumica de Materiais Carbonosos

    LAS Laboratrio Associado de Sensores e Materiais

    LED Diodo emissor de luz (Light emitting diode)

    MEV Microscopia eletrnica de varredura

    NCD Diamante nanocristalino (Nanocrystalline diamond)

    OCP Potencial de circuito aberto (Open circuit potencial)

    PDDA Poli cloreto de dialildimetilamnio

    PS Silcio poroso (Porous silicon)

    Redox Reaes de reduo-oxidao ou oxirreduo

    TPA Transpoliacetileno

    UNCD Diamante ultrananocristalino (Ultrananocrystalline diamond)

    VC Voltametria cclica

  • xx

  • xxi

    LISTA DE SMBOLOS

    m

    F

    A

    Ag/AgCl

    Ar

    B2O3

    B/C

    c

    CH3OH

    CH4

    cm

    eV

    h+

    h

    H2

    H2O

    H2O2

    H2SO4

    HF

    i

    In

    IR

    J

    JPS

    K

    K4Fe(CN)6

    KCl

    Angstron

    Ohm

    Micrometro

    Microfarad

    Ampre

    Prata/Cloreto de prata

    Argnio

    xido de boro

    Boro/Carbono

    Capacitncia (F/cm2)

    Metanol

    Metano

    Centmetro

    Eltron volt

    Portador eltrico de carga positiva (lacuna)

    Hora

    Hidrognio

    gua

    Perxido de hidrognio

    cido sulfrico

    cido fluordrico

    Corrente capacitiva

    ndio

    Corrente x Resistncia

    Densidade de corrente

    Densidade de corrente crtica

    Kelvin

    Ferrocianeto de potssio

    Cloreto de potssio

  • xxii

    MeCN

    min

    mm

    Mol/L

    N2

    nm

    ppm

    sccm

    s

    Si

    SiC

    sp2

    V

    v

    W

    Acetonitrila

    Minuto

    Milmetro

    Mol/Litro

    Nitrognio

    Nanometro

    Partes por milho

    Centmetro cbico por minuto (Standard cubic per minute)

    Segundo

    Silcio

    Carbeto de silcio

    Hibridizao sp2

    Volt

    Velocidade de varredura

    Watt

  • xxiii

    SUMRIO

    Pg.

    1 INTRODUO ............................................................................................ 1

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ....................................................................... 5

    2.1. Silcio poroso ............................................................................................ 5

    2.1.1. Fatores que influenciam a formao do silcio poroso .......................... 7

    2.1.2. Influncia do aditivo no eletrlito ......................................................... 10

    2.2. Diamante nanocristalino sobre silcio poroso ......................................... 11

    2.2.1. Diamante nanocristalino dopado com boro ......................................... 13

    2.2.2. Aplicaes eletroqumicas dos eletrodos BDND/BDUND ................... 15

    3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL......................................................... 17

    3.1. Obteno do silcio poroso ..................................................................... 17

    3.2. Crescimento dos filmes de BDUND ........................................................ 21

    3.3. Tcnicas de caracterizao .................................................................... 23

    3.3.1. Anlise morfolgica ............................................................................. 23

    3.3.2. Anlise estrutural ................................................................................. 24

    3.3.3. Anlise eletroqumica .......................................................................... 26

    4 OBTENO E CARACTERIZAO DO SILCIO POROSO ................... 29

    4.1. Influncia do espectro e do comprimento de onda da iluminao: Lmpadas dicricas e do tipo LED ................................................................... 29

    4.2. Amostras selecionadas para crescimento de BDUND ........................... 38

    5 CRESCIMENTO E CARACTERIZAO DOS FILMES BDUND/PS ........ 41

    5.1. Filmes com 20.000 ppm B/C em soluo ............................................... 41

    5.2. Filmes com 2.000 ppm B/C em soluo ................................................. 48

    5.3. Caracterizao eletroqumica ................................................................. 55

    5.3.1. Janela eletroqumica ........................................................................... 55

    5.3.2. Reversibilidade eletroqumica ............................................................. 59

    6 CONCLUSO ............................................................................................ 63

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................ 65

    ANEXO A: PRODUO CIENTFICA ............................................................. 73

    A.1. Publicaes ............................................................................................... 73

    A.2. Participaes em Congressos .................................................................. 73

  • xxiv

  • 1

    1 INTRODUO

    Este trabalho foi desenvolvido no Laboratrio Associado de Sensores e

    Materiais (LAS), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), atravs

    da cooperao entre o grupo LABEMAC Laboratrio de Eletroqumica de

    Materiais Carbonosos, e o grupo CELSOL Clulas Solares. O objetivo geral

    do trabalho a obteno e caracterizao de um novo eletrodo poroso formado

    por filme de diamante ultrananocristalino dopado com boro BDUND (Boron

    doped ultrananocrystalline diamond) sobre silcio poroso (PS Porous silicon),

    para aplicao eletroqumica. Embora filmes de diamante micro e

    nanocristalinos j tenham sido crescidos sobre PS em trabalhos anteriores

    [1,2], no existe trabalho na literatura, do nosso conhecimento, sobre

    crescimento de filmes de diamante ultrananocristalinos dopados com boro

    sobre PS.

    O silcio poroso consiste em um filme superficial com poros aleatoriamente

    espaados, formado durante o ataque andico ou ataque qumico de silcio

    (Si), por soluo de cido fluordrico (HF) [3]. A descoberta de que o PS

    apresenta forte fotoluminescncia no visvel despertou grande interesse pelo

    estudo e caracterizao deste material [4]. Considerando a obteno do PS

    pelo processo de ataque eletroqumico, ele pode ser obtido por meio de

    solues de HF contendo aditivos, como etanol ou acetonitrila [5,6]. O processo

    de dissoluo do Si funo da intensidade de luz, densidade de corrente,

    concentrao de eletrlito, orientao cristalogrfica e resistividade [7,8]. O PS

    tem sido utilizado como substrato para deposio de filmes de diamante, por

    apresentar grande rea superficial, composta por defeitos bem distribudos,

    que podem promover um aumento de stios de nucleao para o crescimento

    do diamante [9,10].

    A utilizao de diamante sinttico vem crescendo expressivamente nas ltimas

    dcadas, devido ao seu vasto conjunto de propriedades fsico-qumicas [11]. A

    utilizao da tcnica CVD Deposio qumica via fase vapor (Chemical vapor

  • 2

    deposition) tem se destacado como uma importante tecnologia para

    crescimento de filmes de diamante [12]. Eletrodos de diamante dopado tem

    apresentado pequena corrente de fundo e ampla janela de potencial, alm de

    boa resposta a sistemas redox, o que tem gerado grande interesse para

    aplicaes eletroqumicas [13]. Assim, a formao de diamante nanocristalino

    dopado com boro BDND (Boron doped nanocrystalline diamond) ou de

    BDUND sobre PS pode ser um processo inovador para obteno de eletrodos

    porosos de diamante, com grande rea superficial, associada elevada

    resposta capacitiva [14].

    Dessa forma, este trabalho apresenta a obteno de filmes de BDUND sobre

    PS, assim como, as caracterizaes morfolgica, estrutural e eletroqumica dos

    mesmos. Os filmes devem apresentar textura uniforme e recobrir toda a

    superfcie, do topo ao fundo dos poros, mantendo a morfologia porosa do

    substrato, sendo os poros totalmente preenchidos por uma camada contnua

    de diamante. Portanto, esse estudo mostra, tambm, a importncia do controle

    dos parmetros de crescimento dos filmes, que garantam essa morfologia

    adequada para maximizar a rea superficial dos eletrodos, tornando-os mais

    atrativos para as aplicaes eletroqumicas. Desta forma, o PS deve apresentar

    poros superiores a 10 m, que sejam distribudos de maneira regular pela

    superfcie da amostra.

    Neste sentido, o Captulo 2 apresenta a reviso bibliogrfica necessria para

    um melhor entendimento deste estudo, consistindo nos aspectos mais

    importantes referentes ao PS e aos filmes de diamante, assim como, uma

    breve discusso sobre suas potenciais aplicaes eletroqumicas, tanto do

    diamante dopado, quanto do eletrodo diamante/PS.

    O Captulo 3 apresenta o procedimento experimental do trabalho. Na primeira

    etapa, descrito o processo de ataque eletroqumico para obteno do PS, e

    so apresentadas as variaes realizadas nos parmetros deste processo,

    como tipo e potncia da lmpada utilizada, densidade de corrente e tempo de

  • 3

    ataque. Em seguida, apresentada a tcnica HFCVD Deposio qumica via

    fase vapor assistida por filamento quente (Hot filament chemical vapor

    deposition) para crescimento dos filmes BDUND, mostrando as variaes na

    dopagem e no tempo de crescimento. Finalmente, so descritas as tcnicas de

    caracterizao utilizadas neste trabalho, sendo elas: microscopia eletrnica de

    varredura (MEV), perfilometria ptica, espectroscopia de espalhamento Raman,

    difratometria de raios-X e voltametria cclica.

    O Captulo 4 mostra os resultados e discusses referentes obteno e

    caracterizao do PS, apresentando a influncia dos parmetros de

    iluminao, como potncia e comprimento de onda do espectro das lmpadas,

    assim como, as alteraes na morfologia por variaes na densidade de

    corrente e tempo de ataque. importante destacar que este trabalho pioneiro

    em estudar a influncia do espectro das lmpadas na morfologia do PS. A

    partir desses resultados, foi possvel selecionar condies de ataque

    especificas para obteno de amostras com morfologia adequada para

    crescimento dos filmes.

    O Captulo 5 apresenta os resultados e discusses a respeito do crescimento

    dos filmes, sob duas dopagens e diferentes tempos de crescimento, assim

    como, as suas respectivas caracterizaes morfolgicas e estruturais,

    avaliando as semelhanas e diferenas obtidas pelas variaes realizadas. So

    apresentados, tambm, os resultados da caracterizao eletroqumica, por

    voltametria cclica, da janela de potencial de trabalho e reversibilidade do

    eletrodo em soluo redox.

    Finalmente, no Captulo 6, so apresentadas as concluses e perspectivas

    para trabalhos futuros.

  • 4

  • 5

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1. Silcio poroso

    O silcio poroso, que consiste em uma rede de poros aleatoriamente espaados

    no silcio [15], foi obtido pela primeira vez na dcada de 50, atravs da

    corroso andica do silcio cristalino [16,17]. Somente aps cerca de 30 anos,

    sua propriedade emissora de luz foi descoberta, estimulando o interesse da

    comunidade cientfica e da indstria eletrnica [18]. Atualmente, este material

    investigado para diversas aplicaes, como sensores qumicos e biolgicos,

    clulas solares, dispositivos eletrnicos, diagnsticos mdicos, entre outros

    [19].

    O principal mtodo de obteno do PS consiste no ataque eletroqumico de

    uma lmina de silcio monocristalino, em solues de HF, sob corrente

    controlada [15]. O PS obtido pode apresentar diversas estruturas, dependendo

    do tipo de dopante, concentrao do eletrlito e potencial de anodizao [20]. A

    porosidade e o tamanho do poro podem variar amplamente dependendo dos

    parmetros eletroqumicos, da iluminao do sistema e das condies de

    dopagem da lmina inicial de Si [21].

    O mtodo convencional para formao do PS atravs de processo de

    anodizao sob condies galvanostticas. Neste processo, o substrato de Si

    monocristalino, que pode ter diferentes dopagens e resistividades, o eletrodo

    de trabalho, que polarizado anodicamente. O contra eletrodo formado por

    um material inerte ao eletrlito, normalmente constitudo por grade ou chapa de

    platina. Estes eletrodos so inseridos em uma cuba eletroltica inerte ao

    eletrlito [22].

    Durante o processo, a corrente eltrica que flui pelo substrato uniforme.

    Genericamente, ocorre a formao de poros na superfcie quando a corrente

    eltrica flui da interface do Si para a soluo, fornecendo portadores eltricos

  • 6

    (lacunas) para a interface. A reao eletroqumica global para a dissoluo do

    Si descrita na Equao 2.1 [23].

    H2SiFHHh2HF6Si 622 (2.1)

    Quando diludo em gua, o HF se dissocia em H , F e vrias espcies

    hidrofluricas, como HF2 e (HF)2. As espcies ativas no processo de dissoluo

    so HF, (HF)2 e

    2HF . O Si reage, portanto, com estas espcies ativas e com os

    portadores de carga, formando cido fluossilcico, que 75% dissociado em

    2

    6SIF e H , e liberando

    2H [24].

    Dependendo das condies de teste, pode ocorrer formao do PS ou

    eletropolimento da superfcie [25]. Para densidades de corrente abaixo da

    densidade de corrente crtica (JPS), o PS formado e a interface eletrlito-

    eletrodo coberta por ligaes Si-H [24]. Se o potencial for aumentado, a

    densidade de corrente se torna maior que a JPS, ocasionando o

    eletropolimento, que ocorre atravs da dissoluo do filme de xido quando

    este cobre completamente a superfcie do silcio [25].

    Existem outros mtodos de obteno do PS, tais como: processo de corroso

    fotoinduzido e induzido por laser, ataque qumico, ciclos de oxidao e

    corroso e formao por fascamento. Estes mtodos tem como objetivo

    comum a obteno de camadas de PS com alto desempenho de emisso de

    luz e elevada estabilidade, sem afetar sua rigidez mecnica. Entretanto,

    problemas como reprodutibilidade fazem com que o mtodo de anodizao

    seja preferencialmente adotado, alm de possibilitar a obteno de camada de

    PS de diversas espessuras e porosidades [22].

    A Tabela 2.1 relaciona algumas propriedades do PS com suas aplicaes e as

    reas de atuao cientfica. A grande maioria das aplicaes do PS baseia-se

    nas propriedades pticas deste material. Entretanto, algumas questes bsicas

  • 7

    relativas ao PS ainda no foram completamente elucidadas, como por

    exemplo, os mecanismos que regem a emisso de luz [22].

    Tabela 2.1 Principais propriedades e aplicaes do silcio poroso.

    rea Cientfica Propriedade Aplicao

    Eletrnica Propriedades dieltricas Circuitos para microondas

    Optoeletrnica Capacidade de emisso de luz

    Displays

    Qumica analtica Porosidade Sensores

    Cincias da superfcie Alta rea superficial Catalisadores

    Medicina Capacidade de absoro Controladores bioqumicos e mdicos

    Microbiologia Biocompatibilidade Bioreatores

    Microengenharia Implantao de padres litogrficos

    Microsistemas

    ptica ndice de refrao ajustvel

    Filtros pticos

    Ultrasom Baixa condutividade trmica

    Transdutores

    Converso de energia Baixa refletividade Clulas solares

    Educao Necessidade de poucos recursos laboratoriais. Facilidade no preparo.

    Experincias para a introduo a nanotecnologia

    Fonte: Adaptado de Miranda [22]

    2.1.1. Fatores que influenciam a formao do silcio poroso

    Diversos fatores influenciam a formao do PS. O principal efeito da variao

    dos parmetros a alterao da sua porosidade e, consequentemente, a

    mudana de suas propriedades eletrnicas e pticas. Os principais fatores que

  • 8

    influenciam a obteno do PS so: densidade de corrente, concentrao do

    eletrlito, tempo de anodizao, orientao cristalogrfica, resistividade do

    substrato e iluminao sobre a amostra durante a anodizao [22].

    a) Densidade de corrente

    Poros cristalograficamente orientados geralmente so formados em baixas

    densidades de corrente, enquanto a formao de poros orientados pela direo

    da corrente ocorre em altas densidades, e estes poros tendem a ser orientados

    perpendicularmente ao plano da superfcie da lmina. A razo para isto que

    as superfcies equipotenciais tendem a ser paralelas superfcie da lmina,

    proporcionando um caminho de menor resistncia para lacunas da banda de

    valncia no sentido perpendicular. Quando o caminho de menor resistncia

    para um portador eltrico atravs da parede de um poro, ocorre ramificao.

    Poros orientados pela corrente (tanto principais quanto ramificados) so,

    muitas vezes, nucleados em poros cristalogrficos [26].

    b) Concentrao do eletrlito

    Enquanto para baixas concentraes de HF (< 1 mol/L) a limitao cintica

    dominante, no regime de altas concentraes (> 1 mol/L), a corrente passa a

    ser controlada principalmente por difuso. Como a JPS limitada pela cintica

    de reao e pelo transporte de massa, existe uma dependncia com a

    concentrao de HF. Para solues aquosas de HF com concentrao menor

    que 10%, por exemplo, uma polarizao andica de 6 a 10 V ou uma

    densidade de corrente duas vezes maior que JPS, suficiente para remover um

    filme de silcio microporoso e estabelecer uma superfcie de baixa velocidade

    de recombinao em alguns segundos. Alm disso, baixas concentraes de

    HF (< 10%) so favorveis para formao de macroporos profundos e para

    obteno de camadas de PS com maior porosidade [24].

  • 9

    c) Tempo de anodizao

    Se os parmetros de obteno do PS so mantidos constantes, a porosidade

    pode ser considerada constante para curtos perodos de anodizao. No

    entanto, para longos perodos, a dissoluo qumica na estrutura porosa no

    pode ser negligenciada, pois leva a diminuio da porosidade e aumento da

    profundidade dos poros. Este efeito mais pronunciado para camadas de

    microporos. Para meso e macroporos, ao contrrio, um aumento da porosidade

    observado com o aumento da profundidade dos poros [24]. Maiores tempos

    de anodizao resultam, tambm, em camadas com espessuras variadas, alm

    de ocasionar anisotropia na camada porosa [27].

    d) Orientao cristalogrfica

    A caracterstica morfolgica mais evidente na maioria das amostras de PS a

    tendncia dos poros se alinharem ao longo da direo . Este

    essencialmente um efeito qumico. Os chamados poros cristalogrficos so

    uma consequncia da estabilidade dos planos cristalinos em relao ao ataque

    qumico. Por exemplo, o plano de silcio (111) terminado em hidrognio o

    mais estvel, com tomos de hidrognio ligados diretamente acima de um

    tomo de Si [26], como mostra a Figura 2.1.

    Figura 2.1 Plano (111) de um cristal de silcio, coberto com tomos de hidrognio.

    Fonte: Sailor [26]

  • 10

    e) Resistividade e dopagem do substrato

    O fator mais importante na formao de poros a disponibilidade de lacunas

    da banda de valncia, que determinada principalmente pelos dopantes. No

    silcio tipo-p existe um excesso de lacunas e, portanto, o ataque no limitado

    pela sua disponibilidade. Contudo, no silcio tipo-n, a escassez de lacunas

    limita a densidade de poros [26]. A variao da dopagem dos substratos de

    silcio influencia a taxa de corroso eletroqumica, provocando variao no

    tamanho de cristalitos, espessura, porosidade e ligaes qumicas superficiais.

    Amostras de PS obtidas a partir de silcio mais resistivo apresentam maior

    fotoluminescncia do que amostras menos resistivas, independente da sua

    orientao cristalogrfica. Ataques realizados em silcio mais resistivo

    proporcionam obteno de menores cristalitos [28,29].

    f) Iluminao

    A iluminao pode afetar a morfologia das camadas porosas. Para o caso

    especfico de formao de PS a partir de substratos do tipo-n, a iluminao

    fundamental, pois gera portadores minoritrios (lacunas), necessrios no

    processo de anodizao [22]. A formao dos poros em substratos tipo-n

    limitada pela depleo de lacunas na camada porosa, o que impossibilita a

    continuidade da dissoluo. Assim, a gerao de lacunas atravs da

    iluminao permite um ataque da estrutura dos poros, a partir de dissoluo

    adicional. A iluminao durante a formao do PS envolve a fotogerao de

    portadores tanto na interface quanto em toda a camada porosa [30].

    2.1.2. Influncia do aditivo no eletrlito

    Alguns aditivos podem ser adicionados soluo de HF para otimizar a

    formao da camada porosa. Um dos aditivos mais utilizados o etanol, que

    aumenta a molhabilidade da superfcie de silcio. Contudo, a acetonitrila

    (MeCN) apresenta diversas vantagens em relao ao etanol, dentre elas, maior

    tenso superficial. Assim, as molculas de MeCN podem passivar a superfcie

  • 11

    do silcio dissolvido durante o processo de anodizao, evitando o ataque da

    superfcie e fazendo com que a camada de PS seja formada mais

    uniformemente que em amostras preparadas com etanol, evitando a formao

    de crateras [21]. A reao que descreve a participao da acetonitrila

    apresentada na Equao 2.2.

    223 CH.CNHFCH.CNF2 (2.2)

    A acetonitrila reage, portanto, com o F- (espcie no ativa no processo de

    dissoluo do Si) produzindo 2HF (espcie ativa no processo de dissoluo), o

    que aumenta a velocidade da reao [24]. Alm disso, o nitrognio da

    acetonitrila tem um par de eltrons no compartilhados e se combina, ento,

    com a molcula de gua (H2O), que tem um momento dipolo permanente,

    formando uma ponte de hidrognio. Assim, a acetonitrila evita que as

    molculas de gua participem da anodizao, diminuindo a formao de gs

    hidrognio e, portanto, a liberao de bolhas no processo [21].

    2.2. Diamante nanocristalino sobre silcio poroso

    Nos ltimos anos, tem-se realizado intensa pesquisa para desenvolver novos

    tipos de materiais porosos, visando uma vasta gama de aplicaes, tais como,

    separao molecular de gases e lquidos, purificao de gua e oxignio,

    descontaminao de leo, entre outras. Materiais porosos de cermica e

    carbono so fortes candidatos para este tipo de aplicao. Em particular,

    quando estes materiais so preparados na forma de filmes finos eles podem

    realizar separaes com menor energia quando comparados a outro mtodo de

    separao [31].

    O PS tem se mostrado um material bastante promissor para crescimento de

    filmes finos e, portanto, tem sido utilizado para o crescimento de diamante por

    apresentar maior nmero de stios de nucleao e proporcionar melhoria na

    estrutura cristalina do filme, alm de possuir grande rea superficial, sendo

  • 12

    ento, um excelente material para obteno de eletrodos porosos [14,32]. A

    utilizao de diamante sinttico vem crescendo expressivamente nas ltimas

    dcadas, devido ao seu vasto conjunto de propriedades fsico-qumicas, tais

    como alta dureza e resistncia corroso, o que permite a aplicao deste

    material em vrias reas tecnolgicas [11].

    Um dos mtodos mais utilizados para o crescimento de filmes de diamante o

    processo CVD, que envolve reaes qumicas na fase gasosa, que ocorrem

    sobre a superfcie de um substrato, resultando na deposio de um material

    slido que pode ser na forma de filmes finos ou ps [33]. Tipicamente, a

    mistura gasosa utilizada na obteno dos filmes de diamante microcristalinos

    ou nanocristalinos formada por hidrognio e metano. Entretanto, na obteno

    de nanofilmes, tem-se usado outras composies contendo um gs inerte,

    como argnio ou hlio, adicionados mistura de hidrognio e metano. Pelo

    ajuste da relao entre um gs nobre/hidrognio na mistura gasosa, uma

    transio contnua do tamanho dos gros de micro para nanocristalino pode ser

    alcanada [34].

    Apesar de o gs nobre no reagir com as espcies responsveis pelo

    crescimento dos filmes, ele modifica o ambiente de crescimento, tornando

    possvel a realizao de um controle do tamanho do gro, variando-se o seu

    percentual. A alta taxa de nucleao no crescimento dos nanofilmes conduz a

    uma superfcie uniforme, lisa, com gros muito finos e que exibem um

    coeficiente de frico menor do que o de filmes microcristalinos. Esta reduo

    do tamanho dos gros contribui, tambm, para uma diminuio do atrito e do

    desgaste entre as superfcies recobertas por estes nanofilmes [34].

    O PS influencia a nucleao, tenso e estrutura cristalina dos filmes crescidos

    em sua superfcie. A nucleao do diamante CVD ocorre preferencialmente em

    stios ativos, como defeitos da superfcie, vrtices e bordas de tomos. A

    combinao entre o pr-tratamento, realizado antes do crescimento, e o

    substrato de PS, sendo este uma superfcie com defeitos controlados,

  • 13

    promissora para influenciar a qualidade do diamante CVD [32]. Assim, a

    nucleao e crescimento do filme de diamante dependem da rugosidade e da

    porosidade do PS, alm dos parmetros termodinmicos de deposio [35].

    Existem duas grandes categorias de filmes de diamante nanomtricos,

    classificadas quanto s condies de crescimento e s propriedades,

    denominadas diamante nanocristalino (NCD Nanocrystalline diamond) e

    diamante ultrananocristalino (UNCD Ultrananocrystalline diamond) [36]. Os

    filmes de UNCD so geralmente crescidos num meio gasoso contendo alta

    concentrao de argnio e baixa concentrao de hidrognio; enquanto os

    filmes de NCD so geralmente crescidos em atmosfera com alta concentrao

    de metano e hidrognio [37].

    Suas estruturas tambm so bem distintas. Os filmes de UNCD so

    caracterizados por apresentar gros com tamanho da ordem de 2-10 nm,

    envoltos por uma camada de carbono no-diamante conectando os gros,

    enquanto os filmes de NCD possuem gros com aproximadamente 10 a 100

    nm. Com relao ao modo de crescimento destes filmes, o crescimento no-

    colunar dos UNCD reflete em uma superfcie menos rugosa e formada por

    aglomerados de gros. J os filmes de NCD apresentam maiores valores de

    rugosidade por possurem superfcies com gros bem facetados gerados pelo

    crescimento colunar [38].

    2.2.1. Diamante nanocristalino dopado com boro

    A superfcie do diamante apresenta resistividade alta, do ponto de vista de

    obteno de materiais semicondutores. Para obter caractersticas

    semicondutoras, realiza-se dopagem com boro no crescimento de diamante, a

    baixas presses. O boro atua como um dopante efetivo quando incorporado

    durante a deposio da fase gasosa, no processo CVD, possibilitando a

    determinao da resistividade eltrica como funo de sua concentrao [39].

  • 14

    As fontes de dopagem mais comumente utilizadas so o trimetilborato

    B)OCH( 33 , diborano )HB( 62 e xido brico )OB( 32 [40].

    O boro um elemento trivalente (possui trs eltrons na ltima camada para

    realizar ligaes), que quando incorporado a rede cristalina tetradrica do

    diamante, de forma substitucional, compartilha ligaes com trs carbonos,

    conforme mostra a Figura 2.2 (a). Os trs eltrons de valncia do boro so

    compartilhados com quatro tomos de carbono, porm uma das ligaes no

    completada, gerando uma lacuna. Um eltron de valncia de um tomo de

    carbono prximo move-se para a posio da lacuna, criando um on de boro

    preso na estrutura cristalina, conforme a Figura 2.2 (b). Essa lacuna se

    comporta como um portador de carga positivo quando um eltron de valncia

    de um tomo vizinho se desloca para ocupar aquela vaga [37].

    B C

    C

    C

    CC

    C

    C B-

    C

    C

    C

    CC

    C

    C

    (a) (b)

    Figura 2.2 (a) tomo de boro ligado a quatro tomos de carbono. (b) Lacuna

    preenchida por um eltron de valncia de um tomo prximo, gerando

    um on negativo preso estrutura cristalina.

    Fonte: Adaptado de Souza [37]

    Nota-se que o eltron que se desloca para preencher a lacuna no livre. Do

    ponto de vista eltrico, entende-se como se uma carga positiva de mesmo valor

    que a carga do eltron estivesse se deslocando no sentido contrrio ao

    movimento do eltron. Desta forma, inicialmente s teremos lacunas livres

  • 15

    como portadores de carga, por isso o material chamado de tipo-p e a

    impureza de aceitadora [37].

    A desordem causada na rede cristalina pelo dopante quem provoca o efeito

    de condutividade. Com o aumento do nmero de defeitos, a desordem

    introduzida tambm aumenta, havendo uma sobreposio das bandas de

    energia [37]. O diamante sem dopagem um material isolante, pois o GAP de

    energia que separa a banda de valncia da banda de conduo de

    aproximadamente 5,45 eV [41]. A dopagem com tomos de boro introduz um

    nvel aceitador de eltrons no GAP de energia localizado a aproximadamente

    0,35 eV acima da banda de valncia [42].

    2.2.2. Aplicaes eletroqumicas dos eletrodos BDND/BDUND

    O estabelecimento do mtodo de dopagem de filmes de diamante CVD

    permitiu uma ampla faixa de possibilidades de aplicao destes filmes

    semicondutores, em diferentes reas da cincia. Uma das aplicaes que mais

    despertou interesse, a partir dos anos 90, foi a fabricao de eletrodos para

    uso em aplicaes eletroqumicas. O diamante dopado tem uma resistividade

    semelhante ao carbono vtreo, mas um pouco maior que outros materiais de

    carbono usados na fabricao de eletrodos [43].

    Os eletrodos de diamante nano/ultrananocristalino dopados com boro podem

    ser usados para diferentes aplicaes devido s suas propriedades nicas, que

    em grande parte diferem dos eletrodos convencionais. Estudos mostraram que

    eletrodos altamente dopados com boro podem apresentar uma

    supercondutividade e uma magnetoresistncia positiva [44], alm de exibirem

    ampla janela de potencial e baixa corrente de fundo [45]. Alm disso, possvel

    controlar a condutividade e rugosidade dos eletrodos, tornando-os excelentes

    candidatos para diferentes aplicaes [46].

    Eletrodos de BDND tem sido utilizados para deteco de traos de alguns ons

    metlicos, por voltametria andica, pois fornecem boa sensibilidade, baixos

  • 16

    limites deteco, preciso na resposta e excelente estabilidade, alm de serem

    no txicos, quimicamente inertes e no volteis. No campo dos compostos

    orgnicos, diversos estudos tem sido realizados utilizando os eletrodos de

    BDND na investigao de compostos aromticos fenlicos. A facilidade de

    oxidao eletroqumica do fenol com diferentes eletrodos possibilita o uso de

    mtodos eletroqumicos para a determinao deste composto [47].

    Filmes de diamante dopados com boro crescidos sobre eletrodos porosos tem

    apresentado excelentes propriedades eletroqumicas, associadas rea

    superficial e concentrao de dopante [13]. Assim, diamante crescido sobre

    PS tem sido estudado, com o objetivo de aumentar o nmero de stios de

    nucleao, visando obteno de melhor estrutura cristalina [32]. Estudos

    eletroqumicos mostraram que eletrodos NCD/PS apresentam elevada corrente

    de fundo capacitiva, principalmente devido grande rea superficial, tornando-

    os, portanto, excelentes capacitores eletroqumicos [14].

    Ferreira e colaboradores [14] observaram que uma pequena variao no

    tamanho do gro se reflete na rea superficial do eletrodo. Gros de diamante

    com tamanho mdio entre 30 e 50 nm e textura superficial uniforme cresceram

    ao redor das estruturas porosas do silcio. A janela de potencial dos eletrodos

    de nanodiamante permaneceu similar ao eletrodo de diamante microcristalino

    dopado com boro (BDD Boron doped diamond), entretanto os valores de

    capacitncia variaram de 230 a 990 F/cm2, enquanto os valores para o BDD

    ficaram entre 20 e 40 F/cm2.

    Deste modo, a produo de eletrodos constitudos por filmes de diamante

    nanocristalino sobre silcio poroso pode levar a um controle da rea superficial

    apenas por meio de alteraes na taxa de crescimento do filme e,

    consequentemente, do tamanho dos gros [34]. Estas consideraes sugerem

    que filmes de BDND/BDUND sobre PS podem possibilitar a obteno de

    eletrodos de diamante poroso com grande rea superficial e alta resposta

    capacitiva [14].

  • 17

    3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

    Neste captulo ser apresentada a metodologia para obteno das amostras de

    PS, obtidas por ataque eletroqumico, assim como, os procedimentos para

    crescimento dos filmes de BDUND sobre o substrato de PS, pelo mtodo CVD.

    Sero descritas ainda, as tcnicas de caracterizao utilizadas para anlise

    das propriedades morfolgicas, estruturais e eletroqumicas.

    3.1. Obteno do silcio poroso

    Foram utilizadas lminas de silcio monocristalino tipo-n (dopado com fsforo),

    com orientao cristalogrfica e resistividade de 1 a 20 .cm, que foram

    clivadas em amostras quadradas de 2 cm x 2 cm. Estas foram dispostas em

    um suporte de Teflon para que pudessem passar por um procedimento de

    limpeza, visando remoo de eventuais partculas de poeira e gordura na

    lmina.

    Na primeira etapa do processo, as lminas so imersas em soluo de cido

    sulfrico e perxido de hidrognio (H2SO4 e H2O2) (2:1) por 10 min e depois

    so lavadas em gua deionizada (H2O DI). Em seguida, estas so imersas em

    solues de HF e H2O DI (1:10) e (1:100) alternadamente, por 30 s em cada

    uma delas. Esta ltima etapa se repete at que as lminas estejam

    completamente limpas. Para finalizar, as amostras so lavadas em H2O DI para

    retirar qualquer resduo de HF que possa restar em sua superfcie. As lminas

    so, ento, secas sob um jato de nitrognio (N2) gasoso e, acondicionadas em

    um recipiente limpo e hermeticamente fechado at o uso.

    Depois de realizada a limpeza, o verso das amostras foi recoberto com ndio

    (In) de pureza 99,99%, para promover contato hmico. Este definido como

    uma juno metal-semicondutor que possui resistncia insignificante, ou seja,

    para realizar tal contato, a resistncia da interface metal/silcio deve ser

    eliminada [26]. Este procedimento foi realizado pela tcnica de EB-PVD,

    deposio fsica via fase vapor por feixe de eltrons (Electron Beam Physical

  • 18

    Vapor Deposition). A espessura da camada de ndio depositada foi de

    aproximadamente 1 m.

    O silcio poroso foi, ento, obtido por ataque eletroqumico, utilizando-se uma

    clula de Teflon, onde colocado o eletrlito e so posicionados os eletrodos.

    O Si o eletrodo de trabalho, e uma rede de platina utilizada como contra-

    eletrodo. O eletrlito utilizado foi uma soluo contendo 2 mol/L HF (40%); 2,4

    mol/L MeCN (99,8%) e gua deionizada, na proporo 4:1:2. Este eletrlito foi

    definido a partir de trabalhos prvios realizados por Miranda [22].

    A Figura 3.1 (a) apresenta uma imagem do sistema eletroqumico utilizado e a

    Figura 3.1 (b) mostra um diagrama da clula. O substrato de Si o anodo e

    mantido na posio horizontal. A rea de contato do anodo com o eletrlito

    possui dimetro de 1,5 cm, sendo o sistema vedado por um oring. Um suporte

    de Teflon foi utilizado para manter o disco de platina fixo na posio

    horizontal. O contato eltrico no anodo realizado atravs de um flange de

    lato, que rosqueado na estrutura da cuba, pressionando o substrato de Si

    contra o anel de vedao. A fonte de luz utilizada foi posicionada acima do

    sistema, podendo-se ajustar sua distncia em relao amostra.

    Figura 3.1 (a) Sistema eletroqumico utilizado. (b) Diagrama da clula eletroqumica:

    1) Eletrodo de platina, 2) Clula de Teflon, 3) Oring, 4) Amostra de Si, 5)

    Contato de lato, 6) Lmpada.

    (a) (b)

  • 19

    Para o processo de anodizao das lminas de Si foi utilizado um

    Potenciostato Microquimica MQPG-01. Os eletrodos foram polarizados com

    diferentes densidades de corrente sob diferentes perodos de tempo, com o

    objetivo de analisar a influncia destes parmetros nas amostras obtidas.

    Variou-se tambm a lmpada utilizada, sendo estas: trs lmpadas dicricas

    de 50 W (LD1, LD2, LD3) e quatro lmpadas LED de 1,5 W, nas cores: branco,

    azul, verde e vermelho. O espectro das lmpadas foi medido por um

    Espectrmetro GetSpec modelo USB-2048, visando analisar a influncia do

    espectro na morfologia dos poros.

    No primeiro lote de amostras, variou-se a distncia da lmpada LD1 em relao

    amostra, visto que a irradincia que chega amostra, muda com essa

    distncia. As variaes utilizadas foram de 15 cm (amostra 1), 18 cm (amostra

    2), 22 cm (amostra 3) e 26 cm (amostra 4). Como ser apresentado no

    Captulo 4, essa variao de distncia no provocou mudanas significativas

    na morfologia das amostras e, portanto, a distncia foi fixada em 20 cm para os

    prximos ataques. Muitas amostras de PS foram preparadas, variando-se a

    lmpada utilizada, a densidade de corrente e o tempo de ataque. No entanto,

    um resumo dos parmetros utilizados nos principais ataques apresentado na

    Tabela 3.1, que especifica as condies de ataque para obteno das

    amostras que sero discutidas neste trabalho.

    Aps o trmino de cada processo de anodizao, o eletrlito foi removido da

    cuba eletroltica. A amostra de PS foi lavada com H2O DI antes mesmo de ser

    retirada da cuba, com o objetivo de eliminar toda soluo que ainda pudesse

    estar em contato com a amostra. Em seguida, o PS foi removido da clula

    eletroqumica, lavado novamente com H2O DI e, ento, seco com jato de

    nitrognio. O eletrlito foi descartado em recipiente adequado e uma nova

    soluo foi preparada para cada ataque eletroqumico realizado.

    As amostras de PS foram caracterizadas por MEV para investigao da

    morfologia dos poros, a fim de se determinar a amostra mais adequada para o

  • 20

    crescimento de filmes de diamante. As amostras selecionadas foram tambm

    analisadas por perfilometria ptica para verificar a rugosidade e rea

    superficial. A anlise estrutural foi realizada por espectroscopia de

    espalhamento Raman, verificando-se a qualidade das amostras.

    Tabela 3.1 Condies utilizadas nos ataques eletroqumicos.

    Amostra Lmpada J

    (mA/cm)

    Tempo

    (min)

    1 Dicrica LD1 56,5 120

    2 Dicrica LD1 56,5 120

    3 Dicrica LD1 56,5 120

    4 Dicrica LD1 56,5 120

    5 Dicrica LD2 11,3 120

    6 Dicrica LD2 11,3 60

    7 Dicrica LD3 56,5 120

    8 Dicrica LD3 56,5 15

    9 Dicrica LD3 28,3 15

    10 Dicrica LD3 17,0 15

    11 LED branco 11,3 120

    12 LED azul 11,3 120

    13 LED verde 11,3 120

    14 LED vermelho 11,3 120

    15 LED azul 11,3 60

    16 LED azul 56,5 60

    17 LED azul 2,8 60

  • 21

    3.2. Crescimento dos filmes de BDUND

    Antes do crescimento, as amostras selecionadas foram submetidas a um pr-

    tratamento denominado semeadura (seeding), que aumenta consideravelmente

    a quantidade de ncleos de diamante formados no substrato. Este

    procedimento consiste em duas etapas: Inicialmente, a amostra imersa em

    soluo de PDDA 10% (poli cloreto de dialildimetilamnio) por 30 min, sendo

    ento lavada em gua deionizada e seca em nitrognio. Em seguida,

    mergulhada por 10 min, em soluo coloidal de KCl, preparada com 0,5 g de

    diamante 4 nm, sendo novamente lavada e seca. Este procedimento foi

    realizado com base em estudos de Campos [48] e Santos [47].

    Os filmes de BDUND foram crescidos em um reator de filamento quente

    (HFCVD), apresentado na Figura 3.2. Em seu interior, h um porta-substrato

    onde fica disposta a amostra e, acima dela, esto cinco filamentos de

    tungstnio com 125 m de dimetro. Estes filamentos so sustentados por

    porta-filamentos feitos de molibdnio. Quatro hastes de cobre, duas de cada

    lado, sustentam os porta-filamentos. Nelas esto conectados dois cabos

    atravs do qual aplicada a corrente que aquece os filamentos. A entrada dos

    gases fica acima dos filamentos, e considerada a regio de ativao dos

    gases, de modo que ao passar por eles, o calor irradiado quebra as molculas

    dos gases dando origem aos radicais responsveis pelo crescimento do filme.

    Utilizou-se uma mistura de 80 sccm de argnio, 18 sccm de hidrognio e 1,5

    sccm de metano, o que equivale a 60,9% de Ar, 13,8% de H2 e 1,1% de CH4,

    sendo o restante, 24,2%, correspondente ao H2 adicional utilizado no

    borbulhador para arraste do boro no processo de dopagem. A corrente aplicada

    foi de 15 A, a temperatura de 900 K e a presso no reator de aproximadamente

    30 Torr. A distncia entre o filamento e o substrato foi de 5 mm. Foram

    realizados crescimentos com 1, 2, 3 e 4h, a fim de se determinar o melhor

    tempo de crescimento para obteno de filmes que preencham os poros do PS,

    sem cobri-los. Como ser apresentado no Captulo 5, para a amostra de 4h,

  • 22

    ocorreu grafitizao do filme e, portanto, a concentrao de metano foi

    diminuda para 1,0 sccm (0,8%) e de hidrognio aumentada para 18,5 sccm

    (14,1%), mantendo-se 80 sccm de Ar (60,9%).

    Figura 3.2 (a) Reator HFCVD utilizado. (b) Interior do reator.

    A dopagem com boro foi realizada atravs de uma linha adicional de

    hidrognio, passando por um borbulhador contendo xido de boro (B2O3)

    dissolvido em metanol (CH3OH) em duas concentraes, 2.000 e 20.000 ppm

    B/C em soluo. Quando o B2O3 dissolvido em CH3OH, trimetilborato

    (CH3O)3B produzido, sendo, provavelmente, a substncia contendo boro

    adicionado fase gasosa de crescimento. Esta dopagem foi realizada durante

    o processo de crescimento do filme de diamante.

    Os compsitos BDUND/PS obtidos foram caracterizados por MEV,

    espectroscopia de espalhamento Raman e difratometria de raios-X, para

    avaliar se os filmes preencheram os poros do substrato, e a qualidade dos

    mesmos. Foi realizada caracterizao eletroqumica dos melhores filmes

    obtidos, por meio de voltametria cclica, analisando-se a janela de potencial de

    trabalho e a reversibilidade em soluo de ferrocianeto de potssio.

    (a) (b)

  • 23

    3.3. Tcnicas de caracterizao

    A seguir sero descritas as tcnicas utilizadas na caracterizao dos filmes,

    com o objetivo de analisar a morfologia e a estrutura, assim como, as respostas

    eletroqumicas dos eletrodos.

    3.3.1. Anlise morfolgica

    A microscopia eletrnica de varredura foi utilizada para analisar a morfologia,

    tanto das amostras de PS, quanto dos filmes de BDUND crescidos. Utilizou-se

    perfilometria ptica para avaliar a rugosidade e rea superficial apenas das

    amostras de PS selecionadas para o crescimento dos filmes.

    Microscopia eletrnica de varredura (MEV)

    Os microscpios desta tcnica so sofisticados, mas simples de operar e a

    informao obtida na forma de imagens de fcil interpretao. A principal

    funo do MEV produzir uma imagem de aparncia tridimensional varrendo a

    superfcie de uma amostra com feixe de eltrons. uma tcnica muito utilizada

    na anlise da morfologia superficial e em anlise de seo de corte transversal

    da amostra, permitindo verificar a morfologia do substrato e da interface. A

    forma e o tamanho dos gros na superfcie de uma amostra podem ser

    visualizados com uma resoluo e riqueza de detalhes impossveis de serem

    alcanados em um microscpio ptico [49]. A imagem obtida pela varredura

    da superfcie de uma amostra, com um feixe de eltrons secundrios de

    energia varivel de 5 a 50 keV. As anlises de MEV foram feitas com o

    microscpico da marca JEOL, modelo JSM-5310, localizado no LAS/INPE.

    Perfilometria ptica

    Durante a ltima dcada, perfilmetros pticos tem sido desenvolvidos para

    medidas de rugosidade de superfcie. Comparado a perfilmetros mecnicos,

    dispositivos pticos tem a vantagem da varredura sem contato, evitando assim

    a deformao e possveis danos superfcie [50]. Nesta tcnica, uma fonte

  • 24

    luminosa incide sobre a amostra. A luz refletida de um espelho de referncia

    (feixe de referncia), em combinao com a luz refletida da superfcie da

    amostra (feixe de medio), produz franjas de interferncia. Esses sinais de

    intensidade de interferncia vindos da superfcie da amostra so captados por

    uma cmera quadro a quadro. Os dados de intensidade, a partir de um

    determinado pixel, formam um interferograma para os pontos da superfcie com

    resoluo vertical de 3 nm. Esta tcnica muito til para anlise de rugosidade,

    pois, mesmo tendo uma resoluo vertical e horizontal menor que a

    microscopia de fora atmica, mais simples, fornecendo dados de rugosidade

    de reas maiores (milimtricas), o que confere maior representatividade dos

    dados coletados na amostra. As anlises de perfilometria ptica foram

    realizadas em um Perfilmetro WYKO NT 1100, fabricado pela Veeco,

    localizado laboratrio de tribologia, pertencente ao LAS/INPE.

    3.3.2. Anlise estrutural

    A espectroscopia de espalhamento Raman foi utilizada para analisar as

    amostras de PS selecionadas para o crescimento dos filmes, assim como, os

    filmes crescidos. Utilizou-se difratometria de raios-X para se avaliar a estrutura

    cristalina dos filmes.

    Espectroscopia de espalhamento Raman

    Por ser uma tcnica no destrutiva, suas aplicaes variam desde anlises

    qualitativas at anlises quantitativas, sendo estratgicas para vrias reas de

    investigaes cientficas. Muitas vezes, usada simplesmente para identificar

    uma espcie qumica, em outros casos, associada ao espectro de absoro no

    infravermelho, utilizada para deduzir a simetria das espcies qumicas,

    atribuir as frequncias vibracionais obtidas dos respectivos modos de vibrao,

    obter constantes de fora, etc. Para o diamante CVD e outras formas

    alotrpicas de carbono, a tcnica tem-se constitudo num dos importantes

    recursos para a caracterizao, pois possibilita a identificao de diferentes

    formas cristalinas e amorfas que podem compor a amostra. A sensibilidade da

  • 25

    tcnica para o grafite e formas amorfas cerca de 50 vezes maior do que para

    o diamante [47]. Apesar de esta tcnica ser denominada como uma tcnica de

    superfcie, a profundidade de penetrao do laser pode ser de at 5 m, o que

    suficiente para analisar tanto o filme quanto a interface formada com o

    substrato. Os ftons incidentes so provenientes de um laser de Ar+ com

    potncia de 6 mW e comprimento de onda = 514,5 nm. O equipamento

    utilizado foi um Micro-Raman System 2000 da Renishaw, localizado no

    LAS/INPE.

    Difratometria de raios-X

    Com a difrao de raios-X, possvel obter informaes relacionadas com a

    estrutura cristalina e as propriedades do material, alm de ser uma tcnica no

    destrutiva. Por meio desta tcnica, ainda possvel identificar as fases de um

    material policristalino e determinar as quantidades relativas destas fases pelas

    intensidades dos picos de difrao. Os raios-X so produzidos quando os

    eltrons provenientes de um filamento aquecido so acelerados por uma

    diferena de potencial e atingem um alvo metlico. Os comprimentos de ondas,

    emitidos desses alvos em direo amostra a ser analisada, esto na faixa de

    0,5 a 3,0 , ou seja, da mesma ordem de grandeza dos espaamentos dos

    planos cristalinos, ocorrendo interferncia e diferentes padres de difrao.

    Para a realizao dessas medidas foi utilizado um difratmetro de raios-X de

    alta resoluo Philips X Pert MRD, localizado no LAS/INPE.

    O trecho do difratograma de raios-X aqui estudado abrange o ngulo 2 entre

    40 e 100, onde possvel identificar os planos cristalinos (111), (220) e (311)

    do diamante. Estes planos so suficientes para fornecerem importantes

    informaes sobre os filmes. Com a difrao de raios-X ainda possvel

    determinar o tamanho mdio dos gros, j que as pequenas partculas ou

    cristalitos produzem domnios de difrao extensos no espao recproco. Os

    domnios de difrao so inversamente proporcionais ao tamanho dos

    cristalitos e isso se traduz em um alargamento observvel da linha de difrao

  • 26

    de raios-X. Considerando que este alargamento seja causado pelo tamanho

    limitado dos gros, pode-se usar a frmula de Scherrer [51] para determinar o

    tamanho mdio dos gros na direo normal aos planos (hkl). A equao 3.1

    mostra a frmula utilizada para estimar o tamanho mdio dos gros.

    cos

    KL (3.1)

    Onde, a largura a meia altura do pico obtido pelo ajuste do pico, o

    comprimento de onda da radiao incidente (1,54 ) que depende do

    equipamento utilizado, e o valor de K depende do material a ser analisado, que

    para o diamante de 0,89. Em geral, o clculo do tamanho dos gros pela

    largura a meia altura do pico de difrao, superestima o valor real, pois existe

    uma distribuio de tamanhos, em que os gros maiores contribuem

    fortemente na intensidade, enquanto os gros menores apenas alargam a base

    do pico.

    3.3.3. Anlise eletroqumica

    Os melhores filmes obtidos foram caracterizados por voltametria cclica, para

    analisar sua resposta eletroqumica.

    Voltametria cclica (VC)

    A voltametria cclica uma das tcnicas mais utilizadas para se obter

    informaes sobre reaes eletroqumicas. A partir dos voltamogramas

    possvel obter informaes sobre a janela de potencial de trabalho, a corrente

    de fundo, e atividade eletroqumica do eletrodo. A capacidade desta tcnica

    resulta na habilidade de fornecer rapidamente informaes sobre a

    termodinmica dos processos redox, a cintica das reaes heterogneas de

    transferncia de eltrons e sobre processos de adsoro. O aparato

    experimental utilizado neste trabalho consiste de trs eletrodos: eletrodo de

    trabalho, contra-eletrodo de platina e Ag/AgCl como eletrodo de referncia,

  • 27

    todos imersos em um nico eletrlito, 0,5 mol/L de cido sulfrico (H2SO4). A

    Figura 3.3 mostra a clula eletroqumica com a disposio dos eletrodos. O

    eletrodo de referncia deve ter um potencial de contato desprezvel

    independente do meio em que colocado, de modo a permitir a medida do

    potencial de equilbrio do eletrodo de trabalho em circuito aberto (OCP Open

    circuit potential). As reaes eletroqumicas que esto sendo estudadas

    ocorrem no eletrodo de trabalho.

    Figura 3.3 Clula eletroqumica de trs eletrodos.

    Fonte: Adaptado de Kissnger [52]

    Os filmes de diamante so comumente testados como eletrodos em uma

    soluo aquosa de ferrocianeto de potssio em cido sulfrico (1 mmol/L

    K4Fe(CN)6 em soluo de 0,5 mol/L H2SO4), empregando-se o mtodo da

    voltametria cclica [53]. Neste trabalho, utilizou-se 10 mmol/L K4Fe(CN)6 em

    soluo de 0,5 mol/L H2SO4 para as anlises eletroqumicas. A reversibilidade

    a capacidade de um eletrodo fazer com que, na interface eletrodo/eletrlito,

    ocorram os processos de reduo e oxidao das espcies eletroativas (neste

    trabalho, o ferrocianeto) aps a aplicao de um potencial. O par redox

    (reduo e oxidao) do ferrocianeto costuma ser muito utilizado devido a sua

    sensibilidade ao carbono sp2 presente no contorno de gro [40]. Neste

    trabalho, as medidas eletroqumicas foram realizadas em um

    Potenciostato/Galvanostato AUTOLAB PGSTAT 302 instalado no LAS/INPE.

  • 28

  • 29

    4 OBTENO E CARACTERIZAO DO SILCIO POROSO

    Neste captulo sero apresentados os resultados e discusses da obteno e

    caracterizao do PS a partir do ataque eletroqumico em lminas de Si

    monocristalino, utilizando soluo de HF-acetonitrila como eletrlito. Sero

    abordadas as variaes dos parmetros experimentais, como densidade de

    corrente e tempo de anodizao e, principalmente, o tipo de lmpada utilizado,

    com o objetivo de se obter amostras de PS com a morfologia mais adequada

    para crescimento de filmes de diamante.

    4.1. Influncia do espectro e do comprimento de onda da iluminao:

    Lmpadas dicricas e do tipo LED

    O primeiro lote de amostras foi obtido com a lmpada dicrica LD1 de 50 W,

    variando-se a distncia da lmpada em relao amostra, visto que a

    irradincia que chega amostra, muda com essa distncia. As variaes

    utilizadas foram de 15, 18, 22 e 26 cm. A Figura 4.1 apresenta as imagens

    obtidas por MEV destas amostras de PS. O ataque foi realizado sob densidade

    de corrente de 56,5 mA/cm durante 120 min.

    Conforme observado na Figura 4.1, as amostras de PS obtidas apresentaram

    poros grandes, de 10 a 30 m, e bem distribudos. Foi analisada a influncia da

    irradincia da lmpada em relao amostra, variando-se a distncia. O

    experimento realizado com a lmpada mais perto da amostra, em 15 cm de

    distncia, apresentou ataque aparentemente mais intenso do que os demais;

    contudo, a diferena no foi significativa. A anlise por MEV permitiu observar

    que todas as amostras preparadas neste lote apresentaram morfologia

    adequada para o crescimento de filmes de diamante nanocristalino, conforme

    resultados obtidos por Miranda [54], ou seja, tamanho de poros grande e

    homogeneidade de distribuio dos mesmos, o que proporciona maior rea

    superficial.

  • 30

    Figura 4.1 Imagens de MEV das amostras de PS obtidas com a lmpada LD1 em

    diferentes distncias em relao amostra. (a) Amostra 1: 15 cm. (b)

    Amostra 2: 18 cm. (c) Amostra 3: 22 cm. (d) Amostra 4: 26 cm.

    A variao da distncia no provocou mudanas significativas na morfologia

    das amostras e, portanto, a distncia foi fixada em 20 cm para os prximos

    ataques. Uma morfologia semelhante foi obtida com a lmpada dicrica LD2,

    tambm de 50 W, porm com densidade de corrente de 11,3 mA/cm durante

    120 min, o que pode ser visualizado na Figura 4.2 (a). Outra amostra foi

    preparada com a mesma densidade de corrente, durante 60 min, apresentada

    na Figura 4.2 (b), para avaliar a influncia do tempo de ataque. Observa-se que

    o tempo influencia diretamente a quantidade de poros obtidos, sendo que, em

    tempo menor, os poros apresentaram-se espaados na amostra.

    (a) (b)

    (c) (d)

  • 31

    Figura 4.2 Imagens de MEV das amostras de PS obtidas com a lmpada dicrica

    LD2, com densidade de corrente de 11,3 mA/cm, durante (a) Amostra 5:

    120 min e (b) Amostra 6: 60 min.

    Estes resultados so compatveis com os obtidos por Yaakob e colaboradores

    [55], que relataram mudanas na morfologia dos poros em funo do tempo de

    ataque. Eles observaram que, para curtos perodos de tempo, os poros eram

    finos e com ramificaes laterais; com o aumento do tempo, o dimetro dos

    poros aumentou e estes no apresentaram ramificaes. Alm disso, houve

    aumento da rugosidade superficial e da porosidade, com o aumento do tempo

    de ataque. O incremento na porosidade foi causado pela melhoria na

    dissoluo do Si. Tais tendncias so semelhantes aos resultados encontrados

    por Kumar e Huber [56].

    Com a lmpada dicrica LD3 no foi possvel obter a morfologia uniforme

    desejada. Para densidade de corrente de 56,5 mA/cm, durante 120 min, no

    houve formao de poros, mas sim, um possvel eletropolimento da superfcie,

    que ocorre atravs da dissoluo da camada de xido quando a densidade de

    corrente ultrapassa um valor crtico, denominado densidade de corrente crtica

    (JPS) [25], o que pode ser observado na Figura 4.3. Mesmo para menores

    valores de densidade de corrente, no houve formao de poros, para grandes

    perodos de tempo.

    (a) (b)

  • 32

    Figura 4.3 Imagem de MEV da Amostra 7, obtida com a lmpada dicrica LD3, sob

    56,5 mA/cm durante 120 min, apresentando possvel eletropolimento.

    De acordo com Zhang e colaboradores [25], o eletropolimento do Si, em

    soluo de HF, precedido pela formao de xido de silcio, que dissolvido

    pelo HF atravs da formao de um complexo de fluoreto na soluo. Na

    regio do polimento, a corrente no mais funo do potencial, e a reao no

    mais controlada por transferncia de carga. Durante o eletropolimento, a

    reao de dissoluo do xido de silcio pelo HF o processo com taxa

    limitante.

    Para avaliar a influncia da densidade de corrente na morfologia dos poros,

    utilizou-se a lmpada LD3 para preparar amostras com densidades de corrente

    de 56,5; 28,3 e 17,0 mA/cm, durante 15 min. Os resultados so apresentados

    na Figura 4.4. Como pode ser observado, para densidade de corrente de 56,5

    mA/cm foram obtidos poros de aproximadamente 7 m, porm espaados na

    superfcie; enquanto com 28,3 mA/cm, os poros obtidos foram menores e

    tambm espaados. Utilizando densidade de corrente de 17,0 mA/cm, no

    houve ataque, ou seja, no foi formado silcio poroso. Pode-se concluir que,

    para estas condies, o tamanho de poro aumenta com a densidade de

    corrente, conforme tambm observado por Cho e colaboradores [19]. Porm,

    existe uma faixa de densidade de corrente em que h formao de silcio

    poroso, abaixo da qual, no ocorre ataque, e acima da qual, pode ocorrer

    eletropolimento [25].

  • 33

    Figura 4.4 Imagens de MEV das amostras preparadas com a lmpada dicrica LD3

    por 15 min. (a) Amostra 8: 56,5 mA/cm. (b) Amostra 9: 28,3 mA/cm. (c)

    Amostra 10: 17,0 mA/cm.

    Apesar de as trs lmpadas utilizadas serem dicricas com 50 W de potncia,

    os resultados obtidos foram distintos, o que pode ser explicado pela diferena

    no espectro das lmpadas. A lmpada LD1 possui maior irradincia espectral

    na faixa do infravermelho, enquanto a LD3 apresenta maior irradincia

    espectral na faixa do visvel, o que pode ter causado um ataque mais forte,

    provocando o possvel eletropolimento da superfcie. A lmpada LD2 possui um

    espectro intermedirio entre as outras duas. Os espectros normalizados para

    as trs lmpadas so apresentados na Figura 4.5.

    (a) (b)

    (c)

  • 34

    Figura 4.5 Espectros normalizados das lmpadas dicricas.

    Aps anlise da influncia do espectro das lmpadas dicricas, foram

    preparadas amostras utilizando-se lmpadas LED para avaliar a influncia do

    comprimento de onda no processo de ataque. As imagens obtidas por MEV do

    lote de amostras preparado utilizando-se estas lmpadas so apresentadas na

    Figura 4.6. Foi aplicada densidade de corrente de 11,3 mA/cm, por 120 min.

    As lmpadas utilizadas foram LED branco, azul, verde e vermelho, com o

    objetivo de verificar a influncia dessas lmpadas na morfologia dos poros, j

    que as mesmas apresentam picos espectrais em comprimentos de onda

    diferentes.

    Na Figura 4.6 possvel observar que as lmpadas LED verde e vermelho

    proporcionaram a formao de poros distribudos de forma homognea, porm

    muito pequenos, e no foram eficientes para promover o crescimento dos

    mesmos. J as lmpadas de LED branco e azul promoveram a formao de

    poros grandes na estrutura do silcio, com tamanho de aproximadamente 30

    m, porm espaados entre si.

  • 35

    Figura 4.6 Imagens de MEV das amostras preparadas com lmpadas LED. (a)

    Amostra 11: LED branco. (b) Amostra 12: LED azul. (c) Amostra 13: LED

    verde. (d) Amostra 14: LED vermelho.

    A semelhana dos poros obtidos com as lmpadas LED branco e azul

    provavelmente ocorreu devido aos picos coincidentes existentes nos espectros

    destas lmpadas, que ocorre entre 450 e 470 nm, o que pode ser visualizado

    na Figura 4.7, que apresenta os espectros normalizados das lmpadas LED

    utilizadas. Mais precisamente, a lmpada azul apresenta um pico em 466 nm,

    enquanto a branca apresenta uma faixa espectral de 400 a 700 nm, com um

    pico em 455 nm, bem prximo da azul. J a lmpada verde apresenta o pico

    em 514 nm e a vermelha em 636 nm, o que pode justificar a diferena da

    morfologia obtida nas amostras preparadas com essas lmpadas.

    (a) (b)

    (c) (d)

  • 36

    Figura 4.7 Espectros normalizados das lmpadas LED utilizadas.

    Para estudar a influncia da densidade de corrente, utilizando-se lmpada

    LED, foram preparadas trs amostras, durante 60 min, com a lmpada LED

    azul, que apresentou poros mais definidos, variando-se a densidade de

    corrente em 11,3, 56,5 e 2,8 mA/cm. A Figura 4.8 apresenta as imagens de

    MEV obtidas para estas amostras. Assim como observado na Figura 4.6, a

    amostra preparada com 11,3 mA/cm apresentou poros grandes, mas

    espaados na superfcie. A diferena no tempo do experimento afetou o

    tamanho do poro. Com 60 min, os poros obtidos foram de aproximadamente 15

    m. Para densidade de corrente de 56,5 mA/cm, os poros encontrados foram

    muito pequenos, apesar de distribudos uniformemente. J para densidade de

    corrente de 2,8 mA/cm, o tamanho dos poros foi tambm de aproximadamente

    15 m, porm foram formados poucos poros na superfcie. Pode-se observar

    que, para esta lmpada, quanto maior a densidade de corrente, maior a

    quantidade de poros, porm menor o tamanho dos mesmos, sendo o tamanho

    tambm influenciado pelo tempo de ataque.

  • 37

    Figura 4.8 Imagens de MEV das amostras preparadas com lmpadas LED azul,

    durante 60 min (a) Amostra 15: 11,3 mA/cm. (b) Amostra 16: 56,5

    mA/cm. (c) Amostra 17: 2,8 mA/cm.

    A Tabela 4.1 apresenta um resumo da influncia da densidade de corrente e do

    tempo de ataque para os dois tipos de lmpada estudados, dicrica e LED. As

    variaes realizadas foram testadas para todas as lmpadas, e as tendncias

    observadas foram compatveis com as apresentadas na tabela.

    Tabela 4.1 Influncia da densidade de corrente e do tempo de ataque.

    Parmetros Lmpada Dicrica Lmpada LED

    Aumento da densidade de corrente

    Aumento no tamanho dos poros

    Aumento na quantidade e diminuio no tamanho dos poros

    Aumento do tempo de ataque

    Aumento na quantidade de poros

    Aumento no tamanho e diminuio na quantidade dos poros

    (a) (b)

    (c)

  • 38

    4.2. Amostras selecionadas para crescimento de BDUND

    Aps estudo da influncia dos parmetros de iluminao, da densidade de

    corrente e do tempo de ataque durante o processo de anodizao, concluiu-se

    que a morfologia mais adequada para crescimento de filmes de diamante foi

    obtida com a lmpada dicrica LD1, sob densidade de corrente de 56,5 mA/cm

    por 120 min.

    Estas amostras apresentaram poros suficientemente grandes para permitir o

    depsito de nanocristais de diamante desde a superfcie at a profundidade

    dos poros, alm de serem uniformemente distribudos. Essa morfologia pode

    promover grande rea superficial, o que torna o PS bastante atrativo para o

    crescimento desses filmes [22]. Assim, diversas amostras foram preparadas

    nestas condies. A Figura 4.9 apresenta imagens de MEV de amostras de PS

    com aumento de 5000x.

    Figura 4.9 Imagens de MEV de amostras de PS utilizadas para o crescimento dos

    filmes de BDUND.

    As amostras possuem pequenas variaes na morfologia, mas todas

    apresentam as mesmas caractersticas que as tornam propcias para o

    crescimento dos filmes. O tamanho de poros varia de aproximadamente 10 a

    30 m, e eles se apresentam bem distribudos na superfcie. Apesar de

    morfologia semelhante ter sido obtida com a lmpada LD2, a lmpada LD1

    (a) (b)

  • 39

    possibilitou maior reprodutibilidade nos resultados. Com as demais lmpadas,

    no foi possvel observar homogeneidade na estrutura porosa, nas condies

    de teste realizadas.

    A Figura 4.10 mostra o espectro Raman de uma amostra de PS selecionada

    para o crescimento de filme, cujo espectro foi medido de 300 a 5000 cm-1. No

    Si monocristalino o pico do Si se apresenta em 520,5 cm-1. J no PS, o pico do

    Si deslocado para esquerda, em aproximadamente 518 cm-1, como pode ser

    observado na Figura 4.10. Esta caracterstica tpica do silcio poroso [57],

    assim como a presena da banda de fotoluminescncia, centralizada em

    aproximadamente 4300 cm-1 [58,59].

    Figura 4.10 Espectro Raman de uma amostra de silcio poroso.

    A rugosidade mdia e a rea superficial das amostras de PS foram medidas

    por perfilometria ptica. A Figura 4.11 apresenta uma imagem obtida por esta

    tcnica. Foram realizadas 5 medidas em 12 amostras, e calculado o valor

    mdio. A rugosidade mdia encontrada para o PS foi de 4,25 m, enquanto o

    Si monocristalino apresenta rugosidade insignificante. A rea superficial obtida

  • 40

    foi de 0,092 mm2, resultando em um aumento de 33% em relao ao Si

    monocristalino. Essas caractersticas justificam a utilizao do PS como

    substrato para crescimento de filmes de diamante, comprovando seu alto valor

    de rea superficial, o que proporciona maior nmero de stios de nucleao.

    Figura 4.11 Imagem de uma amostra de PS, obtida por perfilometria ptica.

  • 41

    5 CRESCIMENTO E CARACTERIZAO DOS FILMES BDUND/PS

    Neste captulo sero apresentados os resultados e discusses a respeito dos

    filmes de BDUND crescidos sobre substrato de PS, sob duas dopagens

    diferentes: 20.000 e 2.000 ppm B/C em soluo. As amostras de PS, aps pr-

    tratamento de seeding, foram submetidas deposio dos filmes, utilizando-se

    mistura de Ar, H2 e CH4.

    5.1. Filmes com 20.000 ppm B/C em soluo

    Os filmes foram obtidos sob diferentes tempos de crescimento, variando-se de

    1 a 4h, com o objetivo de se determinar o melhor perodo de tempo para se

    obter filmes que preencham os poros do substrato, sem cobri-los. Nesta etapa,

    a proporo dos gases consistiu em 80 sccm de Ar (60,9%), 18 sccm de H2

    (13,8%) e 1,5 sccm de CH4 (1,1%). A Figura 5.1 apresenta imagens de MEV

    das amostras obtidas com 1, 2 e 3h de crescimento, sendo do lado esquerdo,

    imagens da superfcie e, do lado direito, da seo transversal.

    possvel observar que os filmes de BDUND preencheram os poros, cobrindo

    as paredes e o topo dos mesmos, mantendo assim a geometria da superfcie

    do PS. Alm disso, as amostras apresentaram morfologia e textura uniformes.

    Resultados semelhantes foram obtidos por Ferreira [14] e Miranda [22], para

    filmes de diamante nanocristalino sobre PS, e por Baranauskas [31], para

    diamante microcristalino sobre PS; porm, todos crescidos sem dopagem.

    Sabe-se que a presena de poros na superfcie do Si aumenta a densidade de

    nucleao de materiais carbonosos. A densidade de nucleao no PS muito

    maior do que no Si monocristalino. Uma possvel explicao para isso o fato

    de o PS ser quase totalmente coberto por tomos de hidrognio [60]. O

    hidrognio atmico na superfcie do PS estabiliza a formao da ligao C-H,

    que um precursor primrio para a cristalizao do diamante e, tambm, ataca

    o carbono amorfo que bloqueia a nucleao do diamante. Alm disso, o PS

    exibe um grande nmero de defeitos superficiais, o que aumenta a formao

  • 42

    de ncleos para o crescimento do diamante [32]. Assim, foi possvel obter

    filmes homogneos de diamante sobre PS com tempos de crescimento

    inferiores a 3h, o que considerado um processo bastante rpido para filmes

    de diamante CVD.

    Figura 5.1 Imagens de MEV da superfcie e da seo transversal dos filmes

    crescidos em (a,b) 1h (c,d) 2h (d,e) 3h.

    (a) (b)

    (c) (d)

    (e) (f)

  • 43

    A Figura 5.2 apresenta os espectros Raman e os respectivos difratogramas de

    raios-X dos filmes obtidos com 1, 2 e 3h de crescimento.

    Figura 5.2 Espectros Raman e difratogramas de raios-X dos filmes crescidos em

    (a,b) 1h (c,d) 2h (e,f) 3h.

    (a) (b)

    (c) (d)

    (e) (f)

  • 44

    Como pode ser observado, todos os espectros Raman apresentaram a banda

    D (1345 cm-1), que surge devido desordem, e a banda G (1550 cm-1),

    relacionada ao carbono amorfo, caractersticas do NCD [61,62]. Alm disso, o

    pico do diamante, em 1332 cm-1, encontra-se sobreposto pela banda D,

    conforme o esperado para filmes NCD para excitaes Raman na regio do

    visvel [36]. As bandas existentes em 1150 e 1490 cm-1 so atribudas ao

    transpoliacetileno (TPA), presente no contorno de gro, o que tambm

    caracterstico de filmes NCD [63,64]. A banda em torno de 2670 cm-1

    chamada de G. Esta e demais picos restantes de menor intensidade na regio

    das altas frequncias, podem ser atribudos tanto a overtones (frequncia

    maior do que a frequncia fundamental), quanto a combinaes de modos, isto

    , a processos que envolvem dois ou mais fnons, a modos fundamentais de

    vibraes de pequena seo transversal ou a processos de dupla ressonncia

    [47]. Nos espectros das amostras de 1 e 2h, pode-se observar o pico do Si

    (~518 cm-1) e a fotoluminescncia do PS, o que indica que os filmes possuem

    espessura pequena. J na amostra de 3h, no observado o pico do Si, mas

    sim o espectro caracterstico do NCD, o que sugere maior espessura do filme.

    As medidas de raios-X confirmaram os resultados obtidos pela espectroscopia

    de espalhamento Raman. Os picos de difrao mais observados do diamante

    so 2=43,9; 75,3 e 91,5; que correspondem aos planos cristalogrficos

    (111), (220) e (311), respectivamente [65,66]. A amostra de 1h, filme com

    menor espessura, apresentou apenas o plano (220) do diamante, enquanto as

    amostras de 2h e 3h apresentaram os picos (111) e (220), mais acentuados na

    amostra de 3h, o que pode estar relacionado com a espessura do filme. Pode-

    se especular que o processo de crescimento de UNCD, que est associado a

    uma alta taxa de renucleao, poderia privilegiar a direo (220) no primeiro

    estgio de crescimento, para filmes muito finos. Para o diamante CVD, bem

    estabelecido que a taxa de crescimento do plano (110) maior quanto

    comparada aos planos (111) e (100) [67]. Para filmes nanomtricos, que

    mostram uma ausncia de cristais bem facetados, assumido que o

  • 45

    cresciment