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O ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS
QUAL A RELAÇÃO ENTRE ENSINAR E APRENDER HISTÓRIA NA ESCOLA E A HORA DO “RECREIO”?
Diva Riciolina Machado1
Lissandra Marques Martins Romagnolli2 Quitéria Aparecida Batista3
Silvana Muniz Guedes4 Thamiris Bettiol Tonholo5
Universidade Estadual de Londrina [email protected]
RESUMO
Qual a relação entre ensinar e aprender História na escola e a hora do “recreio”?
Esse foi o desafio que tivemos que enfrentar no PIBID/UEL Pedagogia (o Programa conta com o apoio financeiro da CAPES). A proposta inicial objetivava trabalhar com Patrimônio Histórico, mas o cotidiano da escola era marcado por problemas vivenciados no horário do intervalo que invadiam a sala de aula comprometendo as relações de ensino e aprendizagem em todas as áreas do conhecimento. Ao buscarmos pesquisas que tivessem esse tempo/espaço como objeto de estudo compreendemos que o mesmo apresenta uma síntese do universo cultural na qual estão inseridos alunos, professores, funcionários... Enfim, a escola. Portanto, espaço de conhecer mais aos outros e a si mesmo, o que nos remete aos objetivos da História para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O horário de intervalo pode ser considerado um termômetro para medir a sociabilidade no ambiente escolar. Assim sendo, esse artigo compõem-se por uma síntese de pesquisas sobre o horário de intervalo; sobre a importância da socialização no processo de ensino e aprendizagem (não só da História, mas nas demais áreas de conhecimento) e, por fim, sobre as ações que estamos desenvolvendo no intuito de contribuir para desafiar a imaginação dos alunos para viverem e agirem mantendo a autonomia e o respeito na relação com o outro.
Palavras chave: socialização; recreio; ensino de História; cotidiano escolar.
Introdução
O PIBIB (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência) tem como
objetivo a valorizar a docência visando o aperfeiçoamento da formação de professores 1 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES
2 Supervisora participante do sub projeto PIBID – Pedagogia/UEL
3 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES
4 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES
5 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES
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para a educação básica e melhoria de qualidade de educação pública brasileira.
Participamos do PIBID/PEDAGOGIA da Universidade Estadual de Londrina.
Inicialmente a proposta temática de trabalho para os anos de 2011 e 2012 era
trabalhar com o ensino de História nos Anos Iniciais com o tema Patrimônio Histórico.
O subprojeto elaborado denominou-se “A lente capta o que o coração sente:
permanências e transformações no patrimônio arquitetônico da cidade de Londrina”. No
entanto, ao iniciarmos nossos trabalhos em uma escola municipal da cidade de
Londrina, estado do Paraná, percebemos que a escola tinha demandas que precisavam
ser atendidas porque, direta ou indiretamente, acabavam influenciando negativamente
no processo de ensino e aprendizagem os alunos.
Por sugestão da professora supervisora (em cada escola que tem PIBID há um
professor vinculado ao programa, denominado de supervisor) e com o apoio da
professora coordenadora da área de Pedagogia assumimos o desafio de trabalhar com
uma dessas demandas: o horário de intervalo. Esse tempo que deveria ser de
“descanso” das atividades de sala de aula e de convivência entre os alunos, acabava por
ser um tempo marcado por brigas, discriminações e pequenas confusões. Partimos da
hipótese de que o horário de intervalo é desencadeador de situações (brigas e
desavenças) entre os alunos que ultrapassam o horário do mesmo, ocasionando que os
resultados posteriores em sala de aula, sejam menos potenciais do que os atingidos no
primeiro período.
Montamos um projeto para elaborar estratégias para que o momento de intervalo
das crianças fosse mais bem aproveitado por eles mesmos. No desenrolar do trabalho, e
conforme fomos conhecendo as diversas possibilidades do trabalho com a História na
escola por meio dos estudos teóricos sobre identidade e alteridade, percebemos que
havia muitas relações a serem pensadas entre o que ocorria no horário do intervalo,
nossos objetivos para modificar tal situação e o conhecimento histórico. Ao
avançarmos com nossas pesquisas sobre os significados de ensinar História nos Anos
Iniciais, encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais de História (1997) a
seguinte assertiva:
O ensino de história possui objetivos específicos, sendo um dos mais relevantes o que se relaciona à constituição da noção de
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identidades [...] individuais, sociais e coletivas [...] e tende a desempenhar um papel mais relevante na formação da cidadania, envolvendo a reflexão sobre a atuação do individuo em suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades e sua participação no coletivo (1997, p.26)
Desse modo, selecionamos alguns conceitos, como de identidade e autonomia, e
iniciamos um estudo aprofundado sobre os mesmos para que, na finalização do projeto,
previsto para Agosto de 2012, passamos apresentar os resultados finais desse trabalho
para professores da rede municipal de ensino, acadêmicos de Pedagogia e demais
interessados. Intentamos conscientizar a comunidade escolar que esse espaço/tempo que
hora recebe o nome de intervalo, hora recebe o nome de recreio, não é voltado somente
a alimentação dos alunos e precisa ser compreendido como um tempo de grande
importância na escola porque apresenta uma síntese do universo cultural da escola.
Portanto, trata-se de espaço/tempo potencial para se conhecer mais aos outros e a si
mesmo. Nosso primeiro objetivo foi planejar atividades recreativas que auxiliassem no
processo de convivência dos alunos, ou seja, na socialização também na construção da
autonomia.
Entendemos o conceito de autonomia a partir do preconizado por Lahire (1997)
que a define como atitude de uma vontade que aceita a regra, reconhecendo-a como
algo racionalmente fundado. Trata-se de desenvolver no sujeito um processo de
autodisciplina que contemple conter os desejos, portar-se bem, ficar calmo, ser
ordenado, saber fazer exercício sozinho, sem a ajuda do professor. Nada fácil para
qualquer sujeito, ainda mais para crianças. No entanto, tornar-se autônomo faz parte do
crescimento e quanto mais autônomo for o sujeito, maiores as possibilidades de agir de
forma consciente e transformadora no mundo
Ao processo de autodisciplina alia-se ao processo de auto avaliação. Um não se
concretiza sem o outro. O processo de auto avaliação é a ação na qual o educador media
as atividades com o objetivo de levar o aluno a ver a si mesmo e também a ver o outro.
Entendemos, juntamente com Lahire (1997) que tais ações podem auxiliar na
construção do respeito mútuo, indispensável a qualquer processo educativo cuja meta
seja formar sujeitos autônomos.
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Mas em se tratando de autonomia desenvolvida na escola, é preciso considerar
que nem todas as crianças interiorizam as normas de comportamento que estão na base
da socialização escolar e, ainda com Lahire (1997), a escola é um local onde a regra
deve ser impessoal “opõe-se as todas as formas de poder que repousam na vontade ou
na inspiração de uma pessoa”. Sendo assim, o educador exerce o papel de mediador e
construtor de tais relações auxiliando o aluno por meio de trabalhos específicos feitos,
repetidas vezes, com o objetivo de lembrar ou comentar a necessidade do respeito
mútuo. Não se trata de algo a ser ensinado em uma aula expositiva ou que possa ser
considerado como aprendido depois de uma roda na qual se elaboram regras que são
escritas em um papel e coladas na parede.
O processo de ensino e aprendizagem da autonomia e, consequentemente, do
respeito mútuo, é constante e educador, ao agir de forma coerente a partir de princípios
pré estabelecidos, vai auxiliando os alunos a cuidarem de si e dos outros, a ocuparem
seu tempo sozinho ou em grupo, enfim a serem mais autônomos na condução de sua
vida escolar.
Essa autonomia relaciona-se diretamente com outro objetivo da escola, a
construção de saberes científicos. Dessa maneira Lahire (1997) esclarece:
A escola, que pretende tornar os alunos autônomos os ensinado a virar-se sozinhos, diante de dispositivos de saberes objetivados, visa a produção de dispositivos cognitivos para poder apropriar-se de saberes escritos complexos, e, ao mesmo tempo, de disposições sociais a fim de poder agir nas formas particulares de exercício de poder. (Lahire, 1997, p. 64)
Nesse sentido, os dispositivos de saberes cognitivos objetivados parte das ações
que o professor seleciona para trabalhar, pois, conforme aponta Bondioli (2004):
Todo educador consciente pergunta-se que tipo de influência as atividades habitualmente propostas, as ocasiões sociais e de interação que preenchem a vida cotidiana e as situações de aprendizagem programadas e preparadas têm no desenvolvimento de cada criança e dos grupos infantis. Todo professor ou grupo de professores empenha-se em tornar a vida cotidiana nos contextos extradomiciliares de educação infantil agradável, motivadora, estimulante, significativa, do ponto de vista educativo, e vale-se, para tanto, da própria experiência profissional, da própria criatividade e dos recursos presentes no ambiente dentro dos limites organizacionais de cada escola (2004, p.19).
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Partindo desses pressupostos a supervisora do PIBID na escola verificou a
necessidade de trabalhar de forma diferenciada no horário do intervalo/recreio, devido a
situações de brigas e desrespeito entre os alunos. Sendo assim, nos foi solicitado que
inicialmente, acompanhássemos este período para que pudéssemos tomar conhecimento
dos ocorridos, analisássemos as situações e propuséssemos intervenções pedagógicas
com o objetivo de lidar com os conflitos.
Ao acompanharmos o horário do recreio nesta escola observamos muitos alunos
não respeitavam seus colegas, não respeitavam regras como, por exemplo, a regra
básica de uma fila. Havia muita agitação e gritos. As brincadeiras eram escassas e
sempre as mesmas: corda e amarelinha, esta ultima era pintada no pátio e já quase não
se via a cor das linhas. Como positivo, percebemos que as crianças tinham total
liberdade, mesmo havendo uma pessoa para cuidar de todos. Porém, os alunos não
sabiam como utilizar esse “espaço de liberdade” e acabavam envolvendo-se em
agressões, agitações e falta de respeito. A intervenção da pessoa que cuidava do horário
de intervalo acabava sendo por ser uma ação de separar as crianças para não acontecer
o “pior”. Destaca-se que por “pior” entende-se a agressão física que resulte em
machucados. Outras ações violentas como, por exemplo, a discriminação entre alunos,
acabava por passar despercebida pelo adulto.
A escola em questão situa-se em um bairro periférico na cidade de Londrina, no
qual, de acordo com o detalhamento do subprojeto de Pedagogia do PIBID, existem
sérios problemas como, por exemplo, trafico de drogas e violência doméstica, que faz
com que o cotidiano desses alunos seja permeado por diferentes questões que acabam
por interferir diretamente no trabalho dos professores e no processo de ensino-
aprendizagem dos alunos. Tal situação foi confirmada pela equipe pedagógica da escola
(gestores e professores).
Prosseguindo nosso processo de coleta de informações sobre a situação para a
qual deveríamos intervir, verificamos que a escola possui vários jogos recreativos de
tabuleiro, além de bolas, cordas, petecas, bambolês etc., que poderiam ser usados no
horário do recreio. Enfim, não se tratava de uma instituição sem recursos materiais. No
entanto, identificamos que não havia pessoas que orientassem as crianças quanto a
brincadeiras disponíveis e tais materiais não ficavam ao alcance dos alunos para que
estes pudessem utilizá-los.
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Torna-se importante registrar que, devido à forma como se organiza o tempo na
escola, o horário de intervalo é compreendido pelos professores como um tempo de
“intervalo” para eles. É fato que é nesse horário que os professores reúnem-se e
recebem recados, orientações e outras informações importantes sobre o andamento da
escola.
O que verificamos até aqui é que os professores não demonstravam interesse em
compartilhar desse período junto aos alunos, mas verbalizavam que algo tinha que ser
feito, ou seja, estavam cientes das violências, físicas e verbais que ocorriam e nas
demais consequências para o processo de ensino e aprendizagem, dentre a qual se
destaca a quase impossibilidade de um real aproveitamento do tempo de aula após o
intervalo.
Após discussões entre o grupo de estagiárias, concluímos que faltava uma
proposta e pessoas para desenvolver ações no horário de intervalo que promovessem a
socialização e o respeito entre essas crianças para que estas pudessem usufruir de seu
horário de “liberdade” das obrigações escolares sem agressões, brigas e gritarias.
Na cultura escolar, o recreio é, na maioria das vezes, pensando somente como
um “tempo livre”, sem ser visto como um relevante momento pedagógico, repleto de
detalhes e possibilitador de investigações pertinentes para a área de educação. Para
Paulo Freire “é uma pena que o caráter socializante da escola, o que há de informal na
experiência que se vive nela, de formação ou de deformação, seja negligenciado” (1996,
p.43). A partir dessa ideia de Freire, podemos refletir o quanto esses espaços informais
das escolas podem ser considerados objetos significativos de produção do conhecimento
e socialização.
Ao elaborarmos nossa proposta de intervenção, partimos do principio que o
horário do intervalo é um momento muito importante tanto para os alunos como para os
professores, pois proporciona uma oportunidade de reposição de energias e um descanso
mental, necessário para o melhor funcionamento do processo ensino-aprendizagem.
Além de ser um horário programado para a alimentação, o intervalo/recreio também
proporciona a socialização entre os alunos. Essa pausa é muito importante desde que
compreendamos este intervalo como sendo parte essencial do contexto escolar. Para
tanto, o intervalo/recreio escolar precisa ser reconhecido como um momento propulsor
de atividades e vivências culturais lúdicas, para que a criança/aluno possa usufruir desse
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espaço de tempo desenvolvendo também fora da sala de aula, algum tipo de saber, nesse
caso, o saber socializador.
Visto a importância de pesquisar a cerca desse assunto, realizamos uma
pesquisa via internet, por teses e dissertações que se dedicaram a estudar esse
tempo/espaço da escola. Foi possível constatar que o problema vivenciado pela escola
foco desse trabalho repetia-se em diversos e distintos lugares do país. Fizemos um
levantamento de propostas que vem sendo desenvolvidos em algumas escolas cujos
resultados proporcionam novos olhares e possíveis ideias para aprimorar o trabalho com
o recreio.
Optamos por montar um projeto que propiciasse aos alunos atividades que
contribuíssem para desafiar o pensamento e a imaginação dos mesmos, mas que
também levassem tais alunos, a médio e longo prazo, se conhecerem melhor como
sujeitos. Enfim, direcionamo-nos para ações que potencializassem o convívio mútuo
para efetivar uma ideia de escola que trabalhe com uma educação mais humanizada.
Nesse sentido, trabalhamos com a interpretação de que a escola é um espaço
para transmissão de uma cultura mais elaborada, sendo assim, planejar o trabalho
educativo e as formas de organização da vida das crianças na educação, é pensar e
projetar seu futuro para o desenvolvimento humano. No processo de assimilação de
experiências, as crianças foram incitadas a desenvolvem a personalidade, a inteligência,
as formas de se relacionar com outras pessoas, a imaginação, a autonomia, a autoestima
e o respeito pelo outro.
De acordo com o parecer CEB 02/200 do CNE “Inúmeras questões têm surgido
a respeito da atividade denominada “recreio” ou “intervalo” nas etapas da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental”. Ainda com o CNE, no Parecer CEB nº 05/97
contempla o recreio e os intervalos de aula como horas de efetivo trabalho escolar:
"As atividades escolares se realizam na tradicional sala de aula, do mesmo modo que em outros locais adequados a trabalhos teóricos e práticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstrações, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultural e artística, visando à plenitude da formação de cada aluno. Assim, não são apenas os limites da sala de aula propriamente dita que caracterizam com exclusividade a atividade escolar de que fala a lei. Esta se caracterizará por toda e qualquer programação
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incluída na proposta pedagógica da instituição, com frequência exigível e efetiva orientação por professores habilitados. Os 200 dias letivos e às 8:00 horas anuais englobarão todo esse conjunto." (Parecer CEB nº 05/97)
O Parecer acima contempla que as escolas, ao elaborarem a Proposta
Pedagógica, devem levar em consideração o período do recreio, pois as mesmas
possuem um enorme potencial educativo e, ao pensarem em intervalo ou recreio não se
remetam somente as crianças, pois esse período é também uma excelente oportunidade
para os educadores observarem o comportamento “livre” dos alunos, e assim exercerem
cada vez melhor sua ação educativa, inclusive fora da sala de aula.
No decorrer da pesquisa exploratória encontramos algumas experiências feitas
no horário do recreio que trouxeram bons resultados para escola na questão da violência
entre os alunos, e que contribuiu para uma socialização entre os mesmos. Essas
experiências se pautaram em jogos, atividades recreativas, oficinas diversas, dentre
outras propostas.
Uma das propostas que viabilizou uma melhora na socialização entre os alunos
foi a da Escola Estadual Wolfram Metzler, localizada no município gaúcho de Venâncio
Aires, próximo a Porto Alegre RS, conforme descreve a orientadora educacional,
Luciane da Cunha Mylius em entrevista ao Portal do Professor: “A realização de
atividades recreativas na hora do recreio, como pular corda, amarelinha, jogos com
bola e jogos de mesa, trouxeram mais calma ao período de intervalo entre as aulas”.
Outra proposta que também contribuiu para uma boa conduta do horário do
recreio foi a de uma escola de educação infantil na Zona Norte do Rio de Janeiro, na
qual a realização de um piquenique na própria escola, na hora do recreio, fez com que
este momento tivesse um sentido diferente. De acordo com a professora Janaína
Peçanha da Silveira as crianças ampliaram seus conhecimentos de higiene e manuseio
de alimentos, aprenderam a apreciar o sabor de legumes, verduras e frutas, bem como a
importância que eles têm para a saúde.
Nessas pesquisas também pudemos perceber que as oficinas de jogos também
eram uma opção de trabalho com o recreio. Pode-se perceber que os jogos estão
correlacionados com o ato de brincar e com o desenvolvimento físico, afetivo,
cognitivo, moral e social. Nessa correlação Almeida (1990) diz que o lúdico desenvolve
um papel importante no desenvolvimento integral da criança, pois:
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Brincar não significa passatempo. A criança se utiliza da brincadeira para conhecer o mundo que a cerca. Através do jogo a criança desenvolve a sua imaginação e seu pensamento abstrato. Através das brincadeiras a criança poderá ter um bom desenvolvimento psicomotor e psico-social, assim como as levará à socialização e à contribuição para a sua vida afetiva. As atividades lúdicas encorajam também o desenvolvimento intelectual, através da atenção e da imaginação, facilitando a sua expressão. (ALMEIDA, 1990).
Neste mesmo pensamento Kishimoto (1994) aponta:
Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da criança. Neste sentido, qualquer jogo empregado na escola, desde que respeite a natureza do ato lúdico, apresenta caráter educativo e pode receber também a denominação geral de jogo educativo (1994: 22).
Nesse sentido, nossa proposta, enquanto bolsistas e estagiarias na escola se
baseia em desenvolver um recreio criativo e dirigido de tal modo que as oficinas de
jogos sejam diversificadas e envolvam a socialização e o desenvolvimento da
autonomia, cultivando relacionamentos e aprendendo mais sobre relações em grupo,
melhorando assim sua a integração social o que proporcionará aos alunos um momento
de prazer trabalhando com os movimentos corporais, entre outras habilidades de forma
diferente e divertida.
O horário do recreio desta escola se constitui em média de 15 a 20 minutos,
sendo que este tempo é destinado á alimentação e ao descanso de alunos e professores.
Propomos então que após os alunos se alimentarem, utilizem o tempo restante para
jogos e atividades direcionadas, contribuindo para que os mesmo não desenvolvam
praticas de violência e mau comportamento.
Tal proposta é composta por atividades recreativas, visto que é com certeza a
hora mais aguardada pelas crianças. Cada atividade possuiu instruções de como devera
ser realizado sendo orientadas pelas estagiarias.
O projeto começou a ser desenvolvido a princípio pelo acompanhamento de
como era o horário do recreio nesta escola, com filmagens no horário do recreio para
verificar como as crianças se organizam para realizar tais brincadeiras e posteriormente
passado para os alunos assistirem, uma atividade investigativa sobre como eles viam o
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horário do recreio e como gostariam que fosse, para isso montamos um gráfico (Anexo
1) bem como um questionário para os professores responderem acerca do horário do
recreio. Em seguida fomos conhecer os materiais, brinquedos e jogos disponíveis na
escola.
A partir dessa primeira etapa realizou-se a elaboração das atividades sempre com
filmagens, sendo que no término deste projeto elaboraremos um vídeo para exibir as
crianças e proporcioná-las um momento de reflexão, pois, de acordo com Moran (2006,
apud Rossato e Rossi):
Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido [...] Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social. Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo positivo podem facilitar a aprendizagem. (2006, p. 22. apud Rossato e Rossi)
Nosso objetivo de inserir o jogo e a brincadeira no horário do recreio é o
desenvolvimento da criança enquanto indivíduo e a construção do conhecimento,
socialização e desenvolvimento da autonomia bem como o respeito, de forma
prazerosa. As brincadeiras e os jogos são instrumentos importantes no desenvolvimento
dessas potencialidades e devem ser utilizados de maneira organizada com objetivos
definidos.
Considerações finais
Visto que este projeto ainda esta em andamento, algumas considerações
podemos fazer sobre o trabalho desenvolvido até o presente momento. Esperamos que a
escola se dedique em incorporar em seu Projeto Político Pedagógico as ações propostas
e vivenciadas porque os resultados tem apontado para uma melhora geral nas relações
sociais entre alunos e alunos e alunos e professores. Ao começarmos este projeto do
recreio dirigido com atividades como basquete, no qual eram colocadas duas cestas e
duas bolas para eles se revezarem em fila, bambolês para que pudessem além de
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brincarem de rebolar outras atividades foram criadas por eles com os bambolês e com
cones, o clássico pular corda, pular elástico, tapete do jogo da velha, roda de música,
onde as crianças dançavam conforme pedia a música, a brincadeira do lençol, dentre
outras. (Anexo 2)
Notamos através da convivência entre as crianças e das filmagens que o horário
de recreio precisa de um significado para as crianças, nos relatos dos alunos sobre suas
atitudes verificamos interesses e motivações e, com o passar das semanas, o respeito
entre os alunos foi se concretizando sem a intervenção das estagiarias.
As várias atividades para esses horários proporcionaram para essas crianças um
poder de escolha sendo este o facilitador da construção da autonomia. Observamos
também que elas passaram a sentir importantes por ter alguém se dedicando em algo
especialmente para elas, algo que elas gostam e que lhes dão prazer.
Sendo assim, através do feed back positivo da escola espera-se que a mesma
desenvolva uma conscientização sobre o horário do recreio, para que este faça parte da
rotina escolar, de modo que vejam este momento como sendo propulsor de vivencias e
experiências significativas, das quais professores e toda a equipe escolar se atentem a
esse espaço de tempo tão rico em significados pedagógicos.
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Referências:
ALMEIDA, P. N. Educação lúdica técnicas e jogos pedagógicos. 8 ed. São Paulo: Loyola,1990. BONDIOLI, Anna. O tempo no cotidiano infantil: Perspectivas de pesquisa e estudo
de casos/Anna Bondioli, (org.) ; tradução de Fernanda L. Orlate e Ilse Pachoal Moreira ;
Revisão técnica de Ana Lúcia Goulart de Faria Elisandra Girardelli Godoi. – São Paulo:
Cortez, 2004.
BRASIL, MEC. Recreio como atividade escolar (referente à Indicação CNE/CEB
2/2002, de 04.11.2002CNE/CEB 02/2002.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Fundamental: Introdução aos Parâmetros
Curriculares Nacionais / Secretaria da Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF,
1997.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 34. Ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994
LAHIRE, Bernard. Sucesso Escolar nos Meios Populares. As Razões do Improvável.
Ática. São Paulo – SP. 1997
Portal do Professor, disponível em:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=1010 , acessado
em 22/03/2012 as 17:11
ROSSATO, Maíara Suertegaray. ROSSI, Dariane Raifur. Um Pouco do Brasil Através
de Ritmos e Sabores: Uma Proposta para o Ensino de Geografia.
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Anexo 1:
Grafico de como os alunos veem o horario do recreio.
Grafico de como os alunos gostariam que fosse o horario do recreio
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Anexo 2
Figura 1: Apresentação aos alunos de como era o horário do recreio deles
Acervo do PIBID Pedagogia
Figura2: Brincadeira do lençol Figura3: Brincando com bambolê
Acervo do PIBID Pedagogia Acervo do PIBID Pedagogia
Figura 4: Roda de musica
Acervo do PIBID Pedagogia