quarta testemunha · 2018-05-21 · testemunha, como acontece frequentemente aquando a...
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Universidade de Beira Interior Faculdade de Artes e Letras
Departamento de comunicação e Artes Mestrado de cinema
Quarta Testemunha Um Estudo do Ponto de Vista
Miguel Miranda nºM2018
Orientador
Luís Nogueira
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Conteúdo Introdução ..................................................................................................................................... 2
Concepção ..................................................................................................................................... 4
Concretização ................................................................................................................................ 7
Escolha da equipa técnica ......................................................................................................... 7
Escolha de actores ..................................................................................................................... 8
Escolha de cenários e adereços ................................................................................................ 9
Rodagens ................................................................................................................................. 11
Montagem ................................................................................................................................... 16
Banda Sonora: ......................................................................................................................... 23
Pós-produção e efeitos especiais ........................................................................................... 24
Correcção de cor ..................................................................................................................... 25
Ponto de vista .............................................................................................................................. 27
Ponto de Vista do Realizador .................................................................................................. 27
Ponto de Vista Narrativo ......................................................................................................... 28
Ponto de Vista Ético e Moral ................................................................................................... 29
Ponto de Escuta ....................................................................................................................... 30
Ponto de Vista Plástico ............................................................................................................ 30
Ponto de Vista Final ................................................................................................................. 31
A Quarta Testemunha – Ponto de Vista .................................................................................. 32
Linguagem e Ponto de Vista ........................................................................................................ 36
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Introdução Para a concretização do projecto final de mestrado, os alunos tinham três
opções, fazer um estágio, fazer uma tese ou fazer um projecto que consistia na
realização de uma curta-metragem. A minha escolha, embora quase imediata,
não foi leviana, pois, em certa medida, as outras opções também me
agradavam. No entanto, sabia que fazer qualquer outra coisa seria errado para
mim. Nesse sentido, a minha opção recaiu para a realização de uma curta-
metragem. E porquê essa opção? Ora, em cinema, o que mais me interessa
são as áreas associados ao guionismo e à realização, o que logo à partida
excluía qualquer uma das outras opções. Apesar disso, ainda ponderei as duas
opções.
A primeira opção, estagiar, podia ser uma opção viável, pois ter experiência na
área, antes de sair para o mercado de trabalho, seria uma excelente
oportunidade. Contudo, tendo em conta o bom hábito português de explorar
aquele que não se pode queixar, cheguei à conclusão que apenas me ia
sujeitar a ser um trabalhador gratuito e que provavelmente não iria aprender
nada de novo.
A segunda opção, redigir uma tese, não foi tão imediatamente descorada.
Embora não seja uma área que me sinta completamente à vontade, ter a
oportunidade de estudar a fundo alguma componente ligada ao cinema é, sem
dúvida, algo que apraz a qualquer cineasta com o objectivo de vingar. Apesar
de gostar dessa opção, resolvi abandoná-la, e direccionar-me mais para aquilo
que pretendo, ou seja, ver algo criado por mim ganhar vida.
Depois de tomada a decisão de realizar um filme, apenas sabia que queria
fazer uma ficção, sem, no entanto, ter uma ideia concreta sobre que ficção
queria fazer. A primeira ideia que me ocorreu foi fazer um filme em que
representasse a importância da biologia humana nas nossas vidas, e até que
ponto esta não influencia as nossas decisões e consequente liberdade.
Criei então uma historia onde um homem acordava sem qualquer memória, e
através de uma serie de acontecimentos, este percebe que não é um ser
humano, mas sim um ciborgue, que apenas obedece (a ordens), decide então
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vingar-se de quem o criou, mas no momento em que tem a oportunidade de se
vingar e voltar à sua condição de humano, chega à conclusão que não é
diferente daquilo que era, ou de qualquer outro ser humano, mesmo que volte à
sua antiga condição não vai deixar de ser vítima da sua própria natureza.
Decide então manter-se um ciborgue livre na sua própria mente.
Escrevi então o guião e comecei a avançar com o projecto. No entanto,
comecei a ter consciência da dificuldade que seria realizar esse filme. Em
termos de produção seria algo extremamente difícil, ou melhor impraticável
tendo em conta o orçamento à disposição. Comecei a tentar cortar cenas e a
modificar a forma como tinha planeado mostrar a história até que cheguei ao
ponto em que já não me reconhecia na narrativa nem a narrativa se reconhecia
a si mesma. Decidi então recuar com o projecto. Voltei à estaca zero.
Com o tempo a apertar comecei a trabalhar a um ritmo mais acelerado, deixei
de ponderar as ideias que me iam surgindo, partindo logo para o guião. Assim
fui escrevendo alguns, no entanto, apresentava-se sempre o problema da
inviabilidade da produção. Até que me surgiu a ideia de fazer um filme onde
tudo se baseia numa personagem que ninguém sabia ao certo aquilo que é, e
que de alguma formar estivesse ligada com o tema para os projectos deste
ano, o Ponto de Vista. Avancei assim com essa ideia, tendo a certeza que seria
definitiva.
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Concepção
Depois de ter decidido que tipo de historia ia contar, restava-me saber qual o
melhor método para contá-la, antes de começar a escrever o guião. A hipótese
mais comum seria construir uma narrativa um pouco semelhante ao cinema
noir, onde um jovem jornalista procurava saber quem, ou o quê, era o
responsável pelas mortes que estavam a ocorrer na cidade. Embora esta
abordagem não me desagradasse, queria abordar a história de maneira
diferente.
Não pretendia mostrar um filme em que o espectador se sentisse demasiado
confortável, queria que se sentisse como algo mais, uma testemunha, facto que
muito raramente ocorre no cinema ficcional, uma vez que, quando um
espectador vê uma ficção convencional, este já pressupõe que o que vai ver
não é real, que é algo tirado da imaginação de outro (ou outros), por esse
motivo o espectador nunca se vai sentir numa posição de testemunha. Antes,
vai procurar alguma empatia com as personagens, com situações, locais,
objectos, e com todo o filme.
A ligação que se dá, é uma ligação de momento, no sentido em que, quando o
filme acaba, quando tudo tem finalmente uma ligação, um novo filme se gera
na cabeça do espectador novas compreensões e opiniões surgem, que
divergem de espectador para espectador, e que conforme o teor reflexivo do
filme vai ter maior ou menor divergência.
Ora, o que eu pretendia era que o espectador se sentisse mais como uma
testemunha, como acontece frequentemente aquando da visualização de um
documentário. Aqui, o espectador pressupõe que tudo aquilo que vê é real, ou
pelo menos que contém demonstrações de uma dada realidade.
A empatia que o espectador pode sentir num documentário, embora se
assemelhe um pouco à de uma ficção, é, em última análise, bastante díspar,
pois este sabe que não se trata de algo tirado da imaginação, mas sim tirado
da realidade, do próprio mundo onde este habita. Por essa razão, a relação
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que o vai sentir com o que é filmado não é algo apenas de momento, nem algo
que ele possa moldar, é sim uma relação de conhecimento, que em última
instância se transforma numa espécie de testemunho. Assim, ao ver um
documentário, o espectador assemelha-se mais a uma testemunha do que a
um espectador comum de uma ficção.
Ora, foi exactamente isso que tentei alcançar no meu projecto, criar algo
intermédio, em que o espectador se sinta confuso, algo que lhe diga que aquilo
é real e algo que lhe diga que é ficcional. Para isso resolvi criar uma narrativa
que se assemelha à de um documentário, ou talvez de uma reportagem, onde
várias personagens falam directamente para a câmara sobre aquilo que acham
que está a acontecer. Pelo meio, existem também trechos onde me afasto
completamente da reportagem e do documentário, usando uma linguagem
puramente ficcional.
Este ponto intermédio entre ficção e documentário foi assim um dos meus
objectivos. E tendo também em conta o teor da minha narrativa, penso que
esse método foi o mais acertado, uma vez que toda a história se baseia na
dúvida e na incerteza, tanto dos próprios personagens como do próprio
espectador.
Este último aspecto é bastante importante, pois não pretendia que os
personagens falassem para outro personagem fictício que supostamente os
estaria a interrogar, queria que falassem directamente para a câmara,
directamente para o espectador, de maneira a que este se sinta não somente
como um mero espectador, mas mais como uma testemunha, tão baralhada e
tão incompreendida como os personagens.
O uso da câmara à mão tem também um significado. De alguma forma, é
como se essa incompreensão do espectador fosse passada para a câmara
impedindo-a de estar fixa e de ver com clareza. Para isso não fiz um uso
abusivo como é comum nos filmes de acção, mas sim um uso mais suave para
fazer crer ao espectador que não está parado, um pequeno movimento para
simular o que seria o seu movimento, caso estivesse no mesmo local que os
personagens.
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Outra das razões que me levou a fazer este tipo de filme, foi o facto de ser
bastante diferente daquilo que já tinha feito. Tendo em conta que estou ainda a
estudar, pretendia tirar o máximo de partido disso para trabalhar e estudar
métodos diferentes de forma a evoluir como cineasta.
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Concretização
Escolha da equipa técnica Com o guião terminado e com a imagem do filme já pensada restava-me
escolher a minha equipa técnica. O primeiro elemento que escolhi foi o Leandro
Silva, antigo colega de curso. O cargo que escolhi para ele foi o director de
fotografia e operador de câmara, cargos que tinha plena confiança para
entregar, uma vez que já tinha trabalhado com ele e sabia das suas
competências.
Depois de ele ter aceite os cargos, como director de fotografia e câmara,
sugeriu-me que tentasse arranjar outra câmara com melhores capacidades do
que a Sony Z1. Depois de alguma luta para tentar arranjar uma câmara que se
ajustasse no orçamento, e que tivesse as capacidades visuais que pretendia,
consegui finalmente arranjar uma Sony Ex1.
Quanto ao resto do material de iluminação, como projectores filtros, tripés,
bandeiras e zeferinos, foram fornecidos pela universidade. As barracudas e
filtros de cor vieram com o Leandro que os conseguiu trazer emprestados da
PNG Pictures, empresa onde trabalha.
Em relação ao material, o assunto estava encerrado, apenas bastava arranjar
um assistente de fotografia. A minha escolha recaiu sobre o Pedro Orvalho,
também à semelhança do que aconteceu com o Leandro, já tinha trabalhado
com ele e sabia perfeitamente que era uma pessoa capaz.
Para a captação de som, a minha primeira escolha era a de um ex-aluno que
também já tinha trabalhado, Henrique Rocha, contudo um mês antes das
rodagens disse-me que o novo emprego o inviabilizava de me ajudar, decidi
escolher a Mariana Amaro, colega de curso e de turma e para seu assistente
escolhi o também colega de turma João John.
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O cargo de assistente de realização foi para Miguel Rafael, também colega de
turma. Devido à importância deste cargo sabia que ele era uma pessoa que me
compreendia e que sabia perfeitamente aquilo que queria.
Quanto à pré-produção do filme, decidi que estava melhor ao meu encargo,
pois não tinha ninguém com plena confiança a quem entregar. Apenas ia tendo
a ajuda sempre que possível da Ana Moura e da Ana Santos.
Quando já pensava que tinha a equipa técnica de rodagens totalmente
definida, comecei a perceber as dificuldades que iria ter na produção aquando
das rodagens, decidi falar com o Nuno Roque, que foi sem dúvida umas das
escolhas mais acertadas que fiz para o meu projecto.
Escolha de actores O meu primeiro passo foi arranjar actores. Para este projecto apenas pretendia
um actor profissional, ou melhor uma cara conhecida. Para as restantes
personagens, desde inicio estipulei que seriam actores menos conhecidos,
neste caso de teatro. Como já conhecia alguns dos actores do teatro das
beiras, não me foi difícil conseguir.
Consegui encontrar actores para representar três personagens, Pedro Ribeiro,
Maria Adelaide e Jovem mal vestido. A um mês de rodagens, estes eram os
actores que possuía. Para o papel de Vasco Simão, encontrei um actor do
Fundão que gostava de desempenhar o papel e que gostou do guião. A
personagem de Andreia Guerra foi aconselhada por um colega de curso.
Nesta altura faltavam apenas duas semanas para as rodagens e ainda
necessitava arranjar quatro actores. Foi nesta altura que pedi à Ana Moura que
me estava a ajudar na produção para contactar o José Eduardo, que
praticamente de imediato aceitou desempenhar o papel de António.
Com cerca de uma semana para as rodagens, estava com extremas
dificuldades em arranjar actores, uma vez que, precisamente na semana em
que ia rodar, um desses dias, dia 27 de Março, era dia mundial do teatro, pelo
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que os actores estavam com demasiado trabalho para aceitarem participar em
algum filme. Escolhi então dois colegas de curso para representarem as
restantes personagens, de Padre e de Jovem Estudante.
Para a representação de Olavo Rafael, necessitava acima de tudo de alguém
que estivesse disponível, pois, esta era uma personagem em que, em termos
de desempenho, não apresentava muitas exigências, escolhi o Pedro Orvalho,
assistente de Fotografia, uma vez que ele também se mostrou muito receptivo
e também possuía o guarda-roupa que queria para o personagem. Em relação
ao elenco estava fechado. Tinha todas as personagens.
Escolha de cenários e adereços Para a correcta realização do filme sabia que tinha de arranjar doze locais para
filmar e cerca de vinte adereços.
O primeiro local que escolhi foi a nova ponte pedonal que construíram cá na
Covilhã. Embora soubesse que em termos logísticos poderia levantar vários
problemas, era o local mais semelhante ao que eu tinha idealizado, e que para
percalços que eventualmente viesse a ter, ia valer a pena. Nestas cenas, da
ponte, para os adereços, contei muito com a ajuda da Ana Santos e da Ana
Moura que além de me ajudarem no Guarda-roupa, fizeram o sangue falso.
O segundo local que escolhi foi a sala, uma sala grande, já com muitos
adereços, e que em termos financeiros não me iria levantar muitos problemas,
pois era a casa do Pedro Orvalho e da Ana Santos. Além disso, localiza-se na
mesma rua onde ia filmar os exteriores de Maria Adelaide, o que facilitava
muito em termos logísticos.
Ainda para as cenas de Maria Adelaide, escolhi a cozinha da Ana Moura, que
também era uma cozinha grande, já com os adereços que pretendia, e que em
termos logísticos também estava bastante facilitado, pois era perto dos locais
anteriores.
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Para a morgue tinha apenas duas opções: ou filmava no Pólo de Medicina ou,
então, optava pela morgue do Hospital da Covilhã. Como já tinha filmado
noutras ocasiões no pólo de medicina, optei por ir lá ver como era a morgue.
Depois de analisar bem, cheguei à conclusão de que estava dentro do que
tinha imaginado, além disso era num local sossegado. Arranjei também a bata
para a actriz.
A minha casa albergava as cenas de Vasco Simão na casa de Rafael, o
corredor da entrada e a casa de banho. O exterior, do personagem de Vasco
Simão, era no pólo principal da UBI, em frente aos aviões, escolhi este local
devido à sua estética. Sempre foi um local que me agradou, e embora
estivesse ligeiramente desviado da minha ideia inicial para esta cena, penso
que dentro das possibilidades que tinha, era de longe a melhor.
O gabinete, para a personagem de António, interpretada por José Eduardo,
estava localizado na UBI. Era o Gabinete, do professor Carvalhosa e do
Professor Merino. Embora, visualmente, este local me agradasse, penso que
foi o local em que mais errei ao na escolha, uma vez que o barulho era
constante, impedindo que se pudesse filmar o mais continuamente possível.
Para as cenas de exteriores da sequência inicial escolhi o Covão da Ametade.
Era um local que se enquadrava perfeitamente naquilo que pretendia. As cenas
do jovem estudante e do autocarro seriam no parque de estacionamento, em
frente aos Bombeiros da Covilhã.
As cenas de croma seriam no CREA e no Cyber Centro, sendo no primeiro o
croma verde e no segundo o croma azul.
A igreja, foi talvez o local que mais transtorno me causou. Inicialmente tinha
escolhido a igreja do jardim, contudo devido a algumas reticências do Padre a
uma semana das rodagens vi-me forçado a tentar arranjar outro local. A minha
segunda opção foi para a capela da UBI. Contudo, também não obtive
resposta, que positiva ou negativa. Então, durante as próprias rodagens, o
Nuno Roque conseguiu arranjar outra igreja, a igreja do Rodrigo.
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Rodagens O primeiro dia de rodagens foi 23 de Março de 2010. O dia arrancou para a
equipa técnica às 8h da manhã. Toda a gente se encaminhou para o primeiro
local, o Gabinete. Até por volta das 10h da manhã estivemos a montar todo o
cenário e a preparar a fotografia. Desde o início comecei a perceber que o
problema do som poderia ser mais grave do que inicialmente contava.
Quando o José Eduardo chegou, por volta das 10:15 da manhã, começámos
imediatamente a filmar. Contudo take atrás de take, existia sempre alguma
interrupção sonora; alguém alheio à equipa técnica que passava e que falava
demasiado alto; algum autocarro; outro meio de transporte. Enfim tudo parecia
interferir. Tudo parecia apontar para que, de facto, o local que escolhi não foi,
de todo, o melhor. No entanto, quanto ao desempenho do actor, nada havia a
apontar, estava confortável, sabia o que tinha que fazer, uma vez que
havíamos conversado no dia anterior sobre o que pretendia da história e do
personagem. Apesar de tudo, com muita dificuldade, conseguimos gravar a
primeira cena, que era a mais complicada. Fomos então almoçar.
Depois do almoço. Por volta das 2h da tarde, voltámos. Mais uma vez, os
mesmo problemas, o que fez com que tudo acabasse com quase duas horas
de atraso, às 5h da tarde. Rapidamente pegámos no material, deslocámo-nos
até ao parque de estacionamento, onde estão os aviões, para começar a filmar
a cena do Vasco Simão. Apenas lamento nestas cenas com o José Eduardo,
no gabinete, não ter tido tempo para filmar todos os planos que estavam na
planificação; tive de prescindir alguns planos para que pudesse ter toda a
acção filmada.
Enquanto a equipa do som e da fotografia escolhia a melhor forma para
desempenharem os respectivos cargos, eu estava a ensaiar com Ricardo Brito,
actor do teatro do Fundão. O actor ainda estava um bocado desviado daquilo
que pretendia quando começamos a filmar. Contudo sabia que era só uma
questão de ensaiar, com a equipa e com mais um apontamento ou outro,
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rapidamente se situava no ponto que pretendia. E foi precisamente isso que
aconteceu.
Após uns onze takes, finalmente senti que o actor tinha chegado onde eu
queria, sabia que aquele take tinha ficado o mais próximo daquilo que tinha
imaginado quanto possível. No entanto decidi repetir mais um take e fazer mais
três planos rápidos.
Por volta das 7h acabámos os exteriores. Ainda com atraso, corremos para
minha casa para gravar a cena da entrada da casa do Rafael. Para o som,
fotografia e cenário, foram precisos cerca de quarenta minutos até que tudo
estivesse pronto a ser filmado. Depois de filmar o dia acabou, toda a equipa foi
para casa, pois o dia que se avizinhava ia ser bastante cansativo.
No segundo dia de rodagens a equipa estava pronta a arrancar às 7h da
manhã, contudo devido à chuva intensa tivemos de esperar até que acalmasse
para se poder filmar alguma coisa. Quando finalmente a chuva começou a
abrandar eram 10h da manhã. Começámos então a preparar tudo, colocar
plásticos e guarda-chuvas, tudo que conseguimos arranjar para proteger o
material e a nós mesmos da chuva. Devido à chuva o ritmo foi muito mais
lento. O trabalho com os actores também era mais demorado.
No horário do almoço, ainda muito estava atrasado, apenas tínhamos filmado
uma cena, em vez das duas que era o que estavam planeadas. No final do
almoço, voltámos para tentar recuperar o tempo perdido, mas mais uma vez
devido ao tempo, à chuva que ia aparecendo, ou às nuvens que iam
desaparecendo e impediam a continuidade da luz, tudo avançava a um ritmo
lento.
Devido a esse facto, em praticamente toda essa sequência fui obrigado a
suprimir planos e a substituí-los por outros, o plano seguinte até foi um dos
meus planos de segurança, caso não houvesse hipóteses de fazer um
travelling com os personagens a caminhar em frente.
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Quando terminámos de rodar, tinha cerca de quatro horas de atraso, pois tinha
planeado acabar às três horas da tarde e só acabámos às sete horas da tarde.
O que se seguia era a cena na sala de dia e a cena na sala à noite. Depois de
arrumar o material e jantar, apenas chegámos ao local de rodagens cerca das
8:30 e só foi possível filmar a cena à noite, mas mesmo essa sequência não
ficou terminada, uma vez que o actor só podia estar connosco até às 22 horas
e ainda tínhamos de acabar de montar o cenário e preparar a fotografia para
mais planos. Por outras palavras, o que resultou desse atraso, causado pelo
tempo, foram três cenas em atraso, que teriam de ser reagendadas para o dia
seguinte.
Com o mapa de rodagens reorganizado, o dia seguinte começou às 7:30 da
manhã, a equipa técnica reuniu-se no local de rodagem. Em cerca de trinta
minutos estávamos prontos a filmar. A rodagem dessas duas cenas, correu
relativamente bem, tudo foi filmado dentro do tempo que tinha estipulado, e
cerca das dez horas a equipa deslocou-se para filmar a cena de Maria Adelaide
na cozinha. Um pouco à semelhança do que aconteceu na cena anterior,
também esta correu relativamente bem, tudo foi feito dentro do tempo
estipulado. Penso que aqui, o desempenho da actriz também esteve muito
próximo daquilo que inicialmente imaginei. Então por volta das 12:30, essa
cena estava filmada e toda a equipa foi almoçar.
Cerca das 14:30, já estávamos na morgue do Pólo de Medicina, para rodar
mais uma cena. Esta, foi mais uma cena em que as dores de cabeça duraram
de inicio ao fim. Quando chegou o momento de filmar, a actriz estava
extremamente nervosa, o seu desempenho estava péssimo. Tive de tentar
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acalmá-la, fazê-la sentir-se o mais à vontade possível, contudo parecia ser
impossível.
O seu desempenho, apesar de ir melhorando de take para take, continuava
ainda bastante longe daquilo que queria. Com o horário a apertar, já estávamos
com uma hora de atraso para filmar a cena seguinte, tive de me contentar com
o que tinha. Apesar de não ser o ideal, sabia que se podia montar de maneira a
que apenas aproveitasse as melhores partes.
Devido ao nosso atraso, a senhora que nos ia abrir a igreja já não estava lá. O
Nuno Roque que estava na produção, teve de contactar de novo o Padre para
que contactasse a senhora responsável para nos abrir a porta. Quando esta
chegou, às 18:30, estávamos com duas horas e meia de atraso, e apenas nos
restava duas horas para completar essa cena e filmar a próxima.
O actor que ia desempenhar o papel de padre não tinha qualquer experiência
na representação, nem sequer tinha o texto minimamente decorado. Enquanto
a fotografia, o cenário, o som e os figurantes estavam a ser encaminhados,
estive sempre com o actor, a tentar explicar o que pretendia. Contudo, parecia
que estava a tentar encher um balde sem fundo.
Assim, notando óbvias fragilidades, decidi que mais valia ter alguma coisa
filmada, do que não ter nada. Resolvi assim filmar, e por volta das 20:30 estava
acabado e à pressa, arrancámos para filmar as três cenas que ainda restavam.
Às 21:30, começamos a filmar as cenas finais, do Pedro Ribeiro e do Olavo
Rafael. Embora notasse que haviam algumas fragilidades e que não podia
filmar tudo o que tinha planeado. Uma hora depois, tive de dar por terminado,
uma vez que o actor tinha de se ir embora. Além disso, havia uma cena
agendada para as 23 horas, de Maria Adelaide e Olavo Rafael, de exteriores.
Na rodagem dessa ultima cena do dia, a equipa já estava extremamente
cansada, tudo andava a um ritmo muito lento, o que mais uma vez me
inviabilizou a filmagem de tudo o que tinha planeado. Assim, filmei o essencial
e dei por terminado o dia, para que a equipa pudesse descansar.
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Com muito cansaço da equipa, decidi apenas filmar da parte da tarde. E assim
foi: cercas das 14:30 tudo estava pronto para que se filmasse mais uma cena,
a cena do Jovem Estudante, contudo devido à chuva intensa, não podíamos
filmar. Então o Nuno Roque deu-me algumas alternativas.
Depois de reflectir sobre qual delas poderia ser a melhor, escolhi filmar no
parque de estacionamento em baixo da praça. Aqui o maior problema foi a
nível de som.
Além de existir demasiado barulho, feito pelos carros e pelas pessoas que
passavam, o eco produzido pela voz do actor, era demasiado. Então decidimos
captar o som de dentro do carro. Mudei assim aquilo que tinha planeado filmar,
de maneira a que não fosse detectável que o som estava a ser captado dentro
do carro e concluímos a rodagem dessa cena.
Enquanto estivemos a rodar a cena anterior, a Ana Moura e a Ana Santos
estavam a preparar o decór seguinte, a casa de banho. Assim, quando
chegámos ao local foi só filmar, pois não havia som nem representação dos
actores. Depois fomos jantar.
Após o jantar, começámos a preparar o croma, para podermos concluir o dia.
Contudo, como tivemos de fazer rotoscopia, iluminar todo o croma, e ainda
alinhar os planos que já tinha sido filmados, no portátil, para termos o ângulo, a
distância e a luz do personagem acertados, quando começámos a rodar já
eram 00:30. E tínhamos de acabar até às 03:00.
No último dia de rodagens, e devido ao atraso do dia anterior, apenas
começámos a filmar à tarde. Para este ultimo dia apenas faltavam os exteriores
da natureza, e os exteriores de Olavo Rafael nesse espaço. Com extremo
relaxamento, por ser o último dia, foi talvez o dia em que a equipa mais se
divertiu. E onde tudo foi filmado. Depois apenas faltava passar tudo dos cartões
de memória para o disco e estava assim concluída a semana de rodagens.
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Montagem
Quando cheguei à sala de montagem, a primeira coisa que fiz foi passar todos
os planos e alinhá-los de acordo com a cena, o plano e o take, para que
pudesse ter tudo organizado.
Depois disso comecei a escolher os planos. Nesta parte comecei a perceber
que em muitos dos planos, as coisas estavam bastantes distintas daquilo que
pretendia; não que nas rodagens não tivesse reparado, mas apenas na sala de
montagem, quando realmente se vê tudo com mais atenção, é que percebi que
certos planos estavam bem mais graves do que eu pensava. Até porque
infelizmente durante as rodagens, não tinha monitor à minha disposição.
Nas cenas de António, com José Eduardo, o som não estava muito bom,
existia bastante ruído exterior, e numa situação ou noutra existem pequenos
erros de raccord. Contudo, nessas cenas não havia problemas de maior, os
maiores problemas foram a nível de escolha. Vi-me forçado a retirar uma das
cenas com o José, pois o seu diálogo era reticente e não acrescentava nada à
história, quer em termos narrativos ou de ritmo.
A próxima cena que editei foi a cena de Maria Adelaide. Aqui não existiram
problemas, tinha filmado praticamente tudo o que precisava e o desempenho
também esteve muito próximo daquilo que pretendia. A maior dúvida que me
levantou foi relativa ao uso dos planos. Inicialmente pensei em apenas usar
três planos como em todas as
outras cenas em que os
personagens falam directamente
para a câmara. Contudo decidi
introduzir um novo plano. Achei que
este plano dava outro ritmo além de
causar uma maior proximidade com
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o espectador.
Outra das razões tem também haver com o plano seguinte. Que é de outra
cena, na cena de Maria Adelaide com Olavo Rafael. Eu pretendia que o
espectador se sentisse próximo da personagem para que quando visse a cena
seguinte ainda tivesse, mesmo que inconscientemente, o último plano da cena
anterior na cabeça.
A grande diferença entre as escalas
dos planos foi também mais um
factor a ter em conta. Precisava que
o espectador não se sentisse
perdido.
Para o plano final desta cena,
também tive algumas ponderações a
fazer, inicialmente apenas tinha um
plano subjectivo, de Maria Adelaide,
até ao momento em que o Olavo
passava ao lado dela, contudo achei que faltava um pouco de um toque meu,
dizer ao espectador que não estava a ver
o que se sucedia através da personagem
mas sim através de outro olhar. Quando
digo outro olhar, não quero dizer o meu
olhar, mas sim o olhar da câmara, que
porventura é o mesmo do espectador.
Sendo assim escolhi o plano lateral para
o último plano.
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A cena seguinte a montar seria a cena que mais me agradou, a cena em que o
ex-polícia relata o seu encontro com Olavo Rafael. Em termos de montagem,
sabia que não iria ser muito complicado, pois tinha bem presente aquilo que
pretendia. Apenas tinha de escolher o melhor take do travelling frontal, ou,
como lhe chamava, o plano principal. Para isso usei apenas três planos que
juntei intermitentemente.
Esta intermitência entre os planos permitiu-me também controlar aquilo que o
personagem dizia escolhendo apenas as partes essenciais de maneira a que
não existisse demasiada explicação do acontecimento. Assim, ao invés de ter
uma cena, com cerca de um minuto e 40 segundos, fiquei com uma cena de
um minuto e catorze segundos. Na cena seguinte, de Vasco Simão, decidi dar
em mais atenção ao estado caótico em que se encontrava a casa de banho, ao
invés de ter mais do mesmo, por outras palavras Vasco Simão a falar para a
câmara. No entanto, de alguma forma, não estava plenamente convencido,
apenas com os concelhos de colegas e também do meu orientador, Luís
Nogueira, decidi manter esta cena como
estava.
As cenas de Andreia Guerra na morgue foram talvez as que me
proporcionaram menos liberdade na edição, uma vez que a montagem foi feita
muito de acordo com o desempenho da personagem, ou seja, limitei-me a
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escolher as melhores partes de cada plano e juntei-as. A montagem teve de
ser feita desta maneira uma vez que o desempenho não estava de todo o que
pretendia, e sabia que montar como pretendia podia ficar melhor visualmente,
mas em termos de desempenho ia ficar bastante pior.
Se pensava que esta cena tinha ficado desviada daquilo que pretendia, então a
cena seguinte ficou definitivamente para “outro filme”.Bem que a mulher da
igreja podia não ter aberto as portas. Nas cenas do Padre, mesmo nada se
aproveitou, não consegui em nenhuma circunstância fazer uma montagem que
tornasse o desempenho minimamente dentro daquilo que queria e dentro
daquilo que é o aceitável. Mas, mesmo apesar disso decidi montar a cena o
melhor possível, para depois, quanto chegasse a hora de alinhar tudo numa só
sequência, ver se de facto tinha algum sentido, ou se teria mesmo de retirar
essa cena.
Para as cenas do jovem estudante, a minha ideia inicial era apenas mostrar o
jovem a relatar aquilo que achava, contudo, decidi que faltava um bocado de
ritmo e assim alinhei mais um plano do jovem a deslocar-se até ao carro.
Além disso este plano permite também verificar que a luz vem de fora, como
que se o jovem para alcançar a luz
tivesse realmente de se ir embora.
Ao contrário das outras cenas, em que
o plano frontal era o principal, aqui decidi que o plano que devia estar mais
tempo devia ser um plano que estivesse mais de acordo com o que ele diz.
Para isso, usei o plano visivelmente
com a câmara em movimento, para dar
a entender que, de facto, aquilo que ele
fala podia estar ali naquele momento.
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A seguir comecei a montar as cenas do
Jovem Mal Vestido, com Pedro e Olavo
Rafael. Aqui um dos maiores problemas
que se levantou, teve haver com o que
foi filmado, pois, como já referi
anteriormente, foi um dia em que o
tempo não ajudou, o que não permitiu
que tudo fosse filmado. Desde logo, imaginar uma cena e depois ter de montá-
la de maneira diferente foi algo difícil, pois tive de reexaminar a cena com os
planos que tinha, e formular uma nova linha de montagem e foi isso que
aconteceu. Na primeira cena entre os dois personagens, Pedro e Jovem Mal
Vestido, na ponte, decidi acabar com um fade para negro, uma vez que
pretendia a cena seguinte de Olavo Rafael a cair da ponte, também com fades.
Assim montei já essa cena seguinte, de acordo com essa minha ideia, sabendo
que a música que ia escolher ia reforçar a própria queda. Além disso, pretendia
que esta fosse a cena mais ficcional do filme, com cores bastante diferentes,
bem como ter também diferentes limites para a imagem, como que dando a
entender que é um filme dentro de um filme.
Para o primeiro plano da cena seguinte
escolhi um plano que nem sequer estava a
pensar em usar. Contudo depois de reflectir
um bocado, cheguei à conclusão que fazia
todo o sentido. Uma vez que um suicídio
deste género é sempre caótico, este plano
mostrava também um fundo de acordo com essa ideia. Além disso é um plano
rasante o que remete de alguma maneira para o chão local onde
inevitavelmente o personagem embateu.
No final da montagem dessas cenas, resolvi continuar de alguma maneira
ligado ao personagem de Pedro, decidi
montar de seguida as suas cenas. Aqui o
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maior problema foi em termos de som, pois um dos diálogos do personagem,
tinha sido captado com bastante interferência que era em termos de imagem e
desempenho o melhor plano que tinha, o que fez com que tivesse que escolher
outros planos e limitar a duração dos outros. Além disso, o desempenho não foi
sempre o melhor, o que me levou a fazer
também a montagem de acordo com o
próprio desempenho. Apesar de tudo,
ainda consegui manter mais tempo o plano
que pretendia, que era um plano contra-
picado, como que realçando o que o personagem tem para dizer e a sua
curiosidade com as coisas que ele não compreendia.
Na cena final escolhi dar mais ênfase ao plano lateral, pois era também um
plano mais próximo, e era já ao nível do olhar do personagem, como se a sua
curiosidade estivesse pronta para ser saciada. Além disso, para dar mais a
ideia de confronto decidi manter o personagem mais à direita do
enquadramento. Para no plano seguinte, quando Olavo embate contra a
câmara, vermos os pés de Rafael a serem arrastados da direita para a
esquerda. O sentido oposto aquele que se
escreve.
Como se estivesse a escrever torto por
linhas tortas.
Em termos de montagem apenas me
faltava acrescentar algumas imagens, as de Olavo Rafael no início do filme, as
imagens da natureza e as imagens do autocarro. Na primeira decidi escolher,
planos em que mostrassem Rafael mais de costas para de alguma forma
manter um certo mistério.
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Apenas no último plano, mostrei Rafael de frente, contudo ainda muito afastado
de maneira a manter esse mesmo mistério.
Para as cenas da natureza e do autocarro apenas me limitei a escolher as
melhores imagens, pois tinha imensas filmadas, apenas faltava escolher as que
melhor se contextualizavam. Devido ao voice over de António, as cenas do
autocarro foram as que me deram mais trabalho, uma vez que tinha de manter
uma certa coerência e ritmo com o que era dito.
Depois de montar separadamente cada cena, comecei a juntá-las numa só
sequência. Quando estava tudo alinhado, a primeira coisa que reparei, foi a
inutilidade da cena do Padre. Toda ela estava demasiado má, sendo o pior
lugar o desempenho do actor. Depois, vi-me obrigado como já referi
anteriormente, a retirar uma das cenas com António Simões, devido à sua
redundância e à sua quebra de ritmo. Outro dos problemas foi conjugar as
cenas do Jovem Estudante. Segundo o guião, estavam praticamente uma a
seguir à outra, contudo com as cenas do Padre fora, precisava de arranjar
alguma coisa que pudesse estar no meio e que desse para haver tempo até
que o Jovem aparecesse de novo em cena. Então desloquei duas cenas, para
se recolocarem entre essas aparições do Estudante.
Depois de ter tudo alinhado numa só sequência comecei apenas a trabalhar
alguns pormenores: retirar tempo inútil aos planos, retirar sons alheios, trocar
um ou outro plano. Até que, finalmente, tinha o filme montado, apenas faltava a
banda sonora, o som, os efeitos especiais e a correcção de cor.
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Banda Sonora: Neste aspecto da montagem, desde inicio que pretendia usar músicas sobre as
quais pudesse ter direitos. Aspecto que não foi de todo fácil. Inicialmente
comecei a procurar músicas clássicas com mais de 50 anos, contudo era difícil
achar músicas que se enquadrassem.
Quando estava já disposto a aceitar que eventualmente tivesse de usar
músicas mesmo sem direitos, encontrei um site, de um compositor, que cede
todos os seus direitos, apenas a troco da devida creditação. Assim comecei a
procurar, ouvi música atrás de música, até que aos poucos ia encontrando as
músicas para as diversas cenas que pretendia, e quando reparei já tinha toda a
banda sonora feita.
O que me deu mais trabalho foi encontrar uma música constante, ou seja, uma
que pudesse usar na maior parte do filme, apenas desaparecendo em algumas
partes em que se justificava uma mudança. Contudo, acabei por encontrar.
O trabalho da banda sonora, foi sem dúvida um dos campos em que pensava
puder vir a ter extremas dores de cabeça. Tal não se verificou, talvez pelo facto
de estar habituado a trabalhar cingido a horários (como era habitual quando ia
trabalhar para o cyber centro, que apenas estava aberto das nove horas até às
dezassete e trinta) e, para a banda sonora, não vi isso acontecer o que fez com
que durante praticamente dois dias seguidos, conseguisse encontrar toda a
Banda Sonora. Este trabalho foi um dos que me deixou mais motivado, uma
vez que em cinema o som é talvez um dos campos em que me sinto mais
frágil, e conseguir um resultado como aquele que consegui em tão pouco
tempo foi sem dúvida algo que me agradou.
Para a correcção do som, e devido à minha ignorância neste campo, sabia que
tinha de ter ajuda de alguém para conseguir ter esse problema resolvido. Para
isso contei com uma colega de curso, a Diana Teixeira. Assim, ela usando o
Nuendo 2 e o Sounde Forge 8.0, começou alinhar as vozes dos personagens,
que estavam na maior parte das cenas desalinhadas, equalizou todas as vozes
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e ajustou também os volumes. As pistas foram também duplicadas, para tornar
o som em stereo. Por fim o ruído foi reduzido com um Plug-in do Noise
Reduction.
Pós-produção e efeitos especiais Neste projecto, os efeitos especiais e pós-produção são essenciais. Em
primeiro lugar, os planos em croma, presentes em toda a sequência da queda
da ponte.
Aqui, neste plano, um dos meus maiores
medos foi o facto de o personagem estar a
usar calças de ganga azuis, a mesma cor
do croma. Contudo, devido também à
capacidade do Ivo Silva, que foi a pessoa
responsável pelos efeitos especiais e pós-
produção, não levantou muitos problemas. O croma foi resolvido bastante bem.
Nestes cromas, o facto de ter sido tudo
filmado com a câmara à mão, levou a outro
trabalho extra, a execução de sistema de
traking, para que não houvesse conflitos
de movimento entra a primeira e a
segunda imagem.
A mudança cromática, que sempre foi a
minha opção, também veio ajudar para
que o croma fosse mais eficaz, assim
como o blur usado, que serviu para
desfocar o fundo.
Os efeitos especiais usados foram para dar mais credibilidade ao filme, e
apenas foram usados nas partes em que Olavo Rafael aparece. Para esses
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planos o Ivo usou de novo sistemas de traking e mascaras, de forma a criar os
efeitos desejados.
Correcção de cor Inicialmente todo o filme foi rodado com os brancos calibrado para 3200ºC por
decisão do director de fotografia, Leandro Silva, o que resultou ter todo o filme
em tom azul. Esta decisão foi para facilitar a correcção de cor que iria ser feita,
pois ia tornar algumas cores mais vivas ao invés de outras. Contudo, as cores
ainda estavam bastante baças.
A imagem não estava de todo na sua potencialidade, principalmente em muitas
cenas em que a cor era bastante importante.
Assim como é possível observar nestas anteriores imagens, vemos cores mais
definidas, com bastante saturação. As imagens ao lado esquerdo,
correspondem às imagens em bruto sem qualquer modificação. As imagens ao
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lado direito correspondem às imagens finais, já com correcção de cor. Como já
referi anteriormente, também nas partes mais ficcionais efectuei mudanças
cromáticas aqui já bem mais drásticas.
Do lado direito, está então a imagem final, com tons bastante amarelados e
avermelhados, como que dando a entender um certo ambiente de violência.
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Ponto de vista
Em cinema muito se pode debater sobre o que é o ponto de vista, aquilo que
este representa e até que ponto este é realmente importante. A verdade é que,
por muito que se debata uma definição deste termo, vai ser sempre em
determinada medida ambíguo, uma vez que, actualmente, o próprio nome
ponto de vista remete-nos para um elevado grau de subjectividade. Quanto
comum, numa discussão, é dizer “esse é o teu ponto de vista e não o meu”,
num filme tudo ganha uma nova escala, pois na maior parte dos casos não é
apenas uma pessoa responsável por um filme, existe toda uma equipa que
batalha na mesma direcção para a obtenção de um produto final, o filme.
Embora o realizador seja o principal responsável, outros elementos da equipa
têm papeis fundamentais, por exemplo o guionista, quando este não é o
mesmo que o realizador, o director de fotografia, o produtor, o sonoplasta, o
montador, enfim, todos eles contribuem para o filme, e muito dificilmente todos
eles vêm o mesmo. Pelo que é justo dizer que nesse produto final vamos ver
um bocado do ponto de vista de cada um para o filme. Mas, então, como definir
o ponto de vista em cinema, já que ele é tão subjectivo?
Nesse sentido a única maneira de tentar definir este termo
cinematograficamente é juntá-lo por todas as vertentes de um filme. Mais
concretamente: Em primeiro lugar, o ponto de vista do realizador, o ponto de
vista narrativo do filme (que engloba todas as características apenas narrativas
do filme) o ponto de vista moral e ético, o ponto de escuta do filme, o ponto de
vista plástico do filme e o ponto de vista final, ou ponto de vista do espectador,
sendo este último o mais subjectivo, contudo e apesar disso não deixa de estar
intimamente ligado ao realizador, pois através das suas opções este pode
apresentar diferentes níveis de subjectividade.
Ponto de Vista do Realizador Como já referi anteriormente, o primeiro ponto de vista que deve ser ponderado
ao visualizar um filme é o ponto de vista do realizador, pois é ele que vê em
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primeiro lugar o filme e que se dedica a pensar como deve mostrá-lo. Vejamos
por exemplo o filme Rear Window, de Alfred Hitchcock.
A narrativa é simples, um fotógrafo que devido ao facto de estar impedido de
trabalhar fica em casa e vigia os vizinhos, até que acaba por descobrir que
numa casa em frente um dos vizinhos assassinou a mulher. Indignado com o
facto tudo tenta fazer até que esse homem seja preso. Até aqui tudo bem, uma
narrativa simples (não no sentido pejorativo da palavra). Contudo, o que torna
este filme numa grande obra é a capacidade de o realizador se manter fiel em
todo o filme à mesma narrativa. Hitchcock não cai no erro de mostrar o que não
é suposto vermos, ele escolhe aquele espaço, onde o personagem está
confinado, e não se desloca, tudo o que vemos é o mesmo que o personagem
vê. Escolheu colocar o espectador ao lado do personagem e em todo o filme
estamos com Jeff.
Este tipo de realização é um tipo de realização que eu gosto de chamar de
realização presente, que é quando o realizador não antecipa, ou não mostra
mais do que aquilo que os personagens têm acesso, ou seja, o espectador
evolui ao mesmo tempo que os personagens. Este tipo de realização é talvez o
mais envolvente pois a evolução é mutua. Um dos aspectos mais importantes
tem haver com escolhas do que é mostrado, ou seja, do tempo e do espaço,
principalmente do tempo, pois vai constituir uma maior fonte de envolvência por
parte do espectador.
Ponto de Vista Narrativo O ponto de vista narrativo do filme caracteriza-se pelas decisões em termos
narrativos, ou seja, do guionista. Por exemplo, no filme 12 Angry Men, de
Sidney Lumet, todo o filme, gira à volta de 12 juristas. Em praticamente todo o
filme vemos apenas o que acontece dentro da sala. Este filme caracteriza-se
pela força dos diálogos, ou seja, pelo trabalho narrativo do filme. Obviamente
que a realização acompanha a narrativa, contudo, estudarmos o filme a partir
da narrativa é estudarmos também o ponto de vista do guionista, ou seja, o
ponto de vista narrativo.
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Aqui não só se tem em conta os diálogos em si, mas também as motivações
interiores dos personagens, por exemplo, nesse mesmo filme, um dos jurados
mostra-se sempre contra a possível inocência do jovem, sempre agressivo e a
insistir na falta de disciplina da juventude, até que no final, percebemos que se
trata de uma projecção pessoal sobre a desilusão que teve com o seu próprio
filho. Tudo isto são abordagens do ponto de vista narrativo do filme.
Ponto de Vista Ético e Moral Ainda ligado ao ponto de vista narrativo, é possível associar também mais dois
pontos de vista, que são o ponto de vista moral e o ponto de vista ético.
Contudo, em minha opinião estes pontos de vista devem ser colocados fora,
pois também no âmbito da realização podemos enquadrá-los, o que é
mostrado e como é mostrado também constituem esses mesmos pontos de
vista.
Usando o exemplo do filme anterior, podemos estudar até que ponto cada
personagem não tinha a sua própria justificação para o que estava a acontecer,
nomeadamente, o jurado que apresentava um mau relacionamento com o seu
filho, o qual o projectava para o réu em questão, impedindo a si mesmo de ver
o óbvio. Até que ponto seria ético ele estar a cometer esse juízo de valor sobre
um jovem que nem sequer conhecia? E porquê, no final, acabou por concordar
que esse juízo de valor estava errado?
Essas são duas das possíveis questões que se podiam colocar ao analisarmos
este ponto de vista ético e moral. Mais ligado à realização, como já referi
anteriormente, podemos também analisar esses pontos de vista. Um exemplo
perfeito disso é o filme de Gaspar Noé, Irreversível. Neste filme, o realizador
não tem qualquer espécie de problema em mostrar imagens extremamente
violentas, capazes de fazer o mais forte dos espectadores voltar a cara. Até
que ponto esse ponto de vista é justificável ética e moralmente?
Estas questões, bem como as que efectuei no exemplo anterior, constituem a
riqueza do ponto de vista em questão dentro dos próprios filmes, por outras
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palavras, embora haja sempre questões éticas e morais que se podem levantar
no filme, no que toca ao ponto de vista, somente quando elas se tornam de
facto questões do filme é que se tornam realmente num ponto de vista a ser
analisado.
Ponto de Escuta Em cinema, desde o seu aparecimento ganhou extrema importância, aquilo
que se ouve ou não se ouve. O som tornou-se assim uma das peças
fundamentais de um bom filme. Em relação ao ponto de escuta num filme, este
consiste por ser as escolhas daquilo que se ouve num filme, bem como de
onde se ouve, e acima de tudo o que se pretende com o que se ouve. Por
exemplo, no filme 2001 Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, o filme
começa com o ecrã a negro, durante o qual o espectador apenas se limita a
ouvir a música. Este início de filme, em minha opinião, constitui quase como
que uma pequena viagem do espectador, sem ter acesso a imagens, apenas
para sentir como se estivesse a ser conduzido. Outro exemplo do ponto de
escuta num filme é Um Filme Falado, de Manoel de Oliveira, em que no final do
filme apenas nos limitamos a ouvir a explosão. Aqui não existe a necessidade
de ver, o espectador já está situado. Apenas é necessário ouvir para que o
espectador associe de imediato o que aconteceu.
Ponto de Vista Plástico Em cinema, a sua principal componente é a imagem, e portanto o cuidado que
esta deve possuir é o mais elevado possível. Assim sendo, o director de
fotografia, conforme as necessidades do filme e do realizador, deve escolher a
imagem que mais se enquadra para o filme em que está a participar.
A esta opção denomino de ponto de vista plástico de um filme. No filme A
Rapariga do Brinco de Pérola, em que Eduardo Serra foi director de fotografia,
é possível observar um extremo cuidado com a imagem que leva a um enorme
enriquecimento do filme. Neste filme, todas as cenas em interiores, a imagem é
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extremamente cuidada e limpa, não aparenta qualquer sujidade, ao passo que
todas as cenas exteriores se apresentam sujas e inóspitas, um pouco como
seria o ambiente daquela época.
Outro dos exemplos da importância da imagem encontra-se no filme Stalker,
de Andrey Tarkovsky, onde o filme começa a preto e branco, estende-se até
aos personagens chegarem à “zona” os primeiros, 37 minutos, e em quase
todos os momentos que estão na “zona” temos cenas a cores. No final quando
voltam da zona novamente, o espectador é invadido pelo preto e branco. Tudo
isto não passa de uma grande alegoria, uma vez que aquilo que não
conhecemos nem sempre é mau e por vezes a única maneira de nos
descobrirmos verdadeiramente, é aventurarmo-nos no desconhecido.
A cada forma diferente de abordar a imagem corresponde sempre um ponto de
vista diferente, um ponto de vista plástico de um filme.
Ponto de Vista Final Depois de um filme estar feito, e de ter a junção das várias partes, e
consequentemente dos vários pontos de vista, é necessário que tudo isto seja
reconhecido, é necessário que o filme seja visto e entendido. Ora é aqui que
reside o espectador e a componente mais subjectiva do ponto de vista, é aqui
que surge o ponto de vista final. Este ponto de vista corresponde ao
entendimento que o espectador tem acerca do filme, ou seja, depois de ver um
filme o espectador vai criar, um pouco à sua imagem, a sua própria versão do
filme, o seu próprio entendimento. Por exemplo, no filme Blow-up, de Antonioni,
depois de ver o filme cabe ao espectador entender se o que sucedeu com o
personagem foi um embuste realizado por outra pessoa, ou se foi apenas uma
alucinação do personagem.
Este ponto de vista é talvez um dos mais importantes, pois em última instância
os filmes são pensados para serem entendidos (por vezes para não o serem,
contudo mesmo isso sobrepõe que haja um entendimento), e assim sendo este
ponto de vista vai ser uma junção de todos os outros. Contudo, dentro deste
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Ponto de Vista, é possível encontrar mais dois pontos de extrema importância,
o primeiro é o ponto de vista de época, ou seja, devido à intemporalidade de
uma obra de Arte, neste caso o filme, conforme a época em que o filme é visto
vai ter entendimentos diferentes. Certamente que hoje um espectador não sai
da sala da cinema quando vê um comboio a vir na sua direcção, e certamente
que hoje em dia, a famosa cena do chuveiro em Psycho de Alfred Hitchcock,
não irá causar o mesmo pânico que causou na sua estreia.
Assim, para a compreensão deste ponto de vista é necessário ter em conta a
época em que o espectador visiona o filme. O segundo ponto a ter em conta é
o ponto de vista de circunstância. Aqui engloba todas as características do
espectador: emocionais, intelectuais, sociais, políticas e sociais. O que quero
dizer é que um cineasta não tem a mesma visão de um filme que um politico,
ou para uma pessoa desconsola, provavelmente nem a melhor das comédias
vai conseguir originar um sorriso. Ou que um apoiante de Bush certamente não
vai gostar tanto do Fahrenheit 9/11, de Michael Moore, como provavelmente
um opositor poderá ter gostado.
A Quarta Testemunha – Ponto de Vista Depois desta breve analise ao ponto de vista cinematográfico, o que é que
posso dizer do ponto de vista no meu filme?
Desde o primeiro momento em que decidi de que forma iria contar esta história,
decidi que iria ter três segmentos bem distintos mas ao mesmo tempo, com o
máximo de interligação possível. A
primeira, corresponde às entrevistas
directas com os personagens, ou seja ,
quando estes estão a falar directamente
para a câmara. Aqui, em cada uma dessas
cenas os personagens são sempre vistos
de três ângulos.
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O primeiro é o frontal, onde visivelmente estão a falar não para alguém, mas
directamente para a câmara.
O segundo, um plano contra-picado, como que em certa medida estivesse a
dar mais ênfase ao que os personagens estão a dizer, na maior parte dos
casos erradamente.
O terceiro, um plano lateral ao nível dos
olhos, como que a dar ideia de maior vantagem sobre o personagem.
Estes três planos constituíram a base neste segmento. Contudo, existem
algumas excepções. Na cena em que
António está a dizer que se trata apenas
de um vírus, e que é necessário detê-lo,
era um momento muito pessoal do
personagem. Representa uma ambição
pessoal resultante de um medo. É
necessário levar o espectador o mais próximo possível do personagem.
Outra das cenas em que usei um plano
diferente dos três habituais, foi na cena
de Andreia guerra, a personagem mais
objectiva e mais directa, e como é
habitual acontecer, talvez a mais
menosprezada, por isso de alguma
maneira resolvi fazer um pequeno picado à personagem, de modo a reduzir
aquilo que ela tinha para dizer. E em certa medida antecipando aquilo que
eventualmente o espectador pudesse pensar
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O segundo segmento constitui as partes ficcionais do filme, como as cenas de
Olavo Rafael, na ponte, com Maria Adelaide e da natureza.
Aqui a imagem é completamente diferente de todo o filme, a música está
elevada e é de acordo com o momento. Por outras palavras, nestas cenas
procurei estabelecer o contacto directo com o que seria uma ficção normal,
com que um pequeno filme dentro de outro. Dar um carácter omnisciente não
ao que a câmara vê, mas ao que é decidido que ela veja.
O terceiro segmento, é talvez a que mais goste. Esta caracteriza-se pela
deambulação da câmara, ou seja, tentei tornar a câmara uma personagem, isto
está visível em algumas cenas, como por exemplo na cena da casa de banho,
na cena do autocarro e a minha cena
preferida, a cena com Vasco Simão.
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Nesta cena vemos que o personagem está a falar para ninguém, como se a
câmara tivesse escolhido observá-lo de outra posição, com se a câmara fosse
uma personagem com vontade própria.
Assim o que pretendi, foi causar uma mistura de diferentes perspectivas
cinematográficas. Para isso tentei ao máximo manipular a linguagem
cinematográfica, de forma a obter um filme que explorasse a historia que tinha,
no máximo do seu potencial.
Isso foi conseguido através da manipulação do uso da linguagem
cinematográfica. Mas será este o termo correcto, será que se pode apelidar de
linguagem cinematográfica?
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Linguagem e Ponto de Vista A linguagem cinematográfica está directamente ligada ao ponto de vista, pois
esta apenas é uma linguagem enquanto for reconhecida como tal. Ou seja:
vamos ter em conta a linguagem de computação. Esta apenas se torna
linguagem de computação para quem de facto conhece essa mesma
linguagem, para quem não a conhece o que vê são apenas números ou
fórmulas nada mais. Outra das coisas a ter em conta é precisamente esta, o
Observador, ou seja, nós estamos a partir do pressuposto que somos quem vê
ou quem ouve, ou quem sente. Neste contexto, a linguagem cinematográfica
não pode ser levemente caracterizada ou dividida, pois esta é uma junção de
várias linguagens, vista, ouvida e sentida através de outro ou outros. Em
cinema, normalmente, temos uma linguagem verbal (auditiva), e uma
linguagem visual, contudo estas já são linguagens filtradas e pensadas à priori
de modo a que juntas formem uma só linguagem.
A linguagem cinematográfica, tal como outra linguagem, apresenta um conjunto
de signos que interligados de determinada forma servem para comunicar, criar
emoções ou sentimentos, ou meramente informar. Christian Metz definia como
unidade mínima um plano. Para ele este seria o menor componente na
formação de um linguagem cinematográfica. Contudo, neste ponto, discordo de
Metz. Para mim as unidades mínimas, são tudo o que um plano contém. Na
maior parte dos casos, mesmo outras linguagens, como a linguagem verbal,
gestual ou corporal, e a junção de todas essas unidades em vários planos vai
constituir uma linguagem nova, uma linguagem cinematográfica. Contudo, ao
pensarmos nessa junção e no próprio termo linguagem cinematográfica, é
indissociável não se pensarmos também em Ponto de Vista. O que quero dizer
é para haver linguagem, tem obrigatoriamente de haver um Ponto de Vista, e
esse Ponto de Vista, constitui uma manipulação da própria linguagem
cinematográfica.
Para rematar este relatório, gostava de referir, que a execução deste projecto
final, permitiu-me evoluir bastante na minha condição de cineasta. Em primeiro
lugar permitiu-me pensar sobre a importância do tema, Ponto de Vista, para a
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minha história, e consequentemente, pensar também na sua importância para
o cinema em geral.
Em segundo lugar este projecto obrigou-me a estar directa ou indirectamente,
envolvido em todas as partes da construção do filme, uma vez que apenas
havia uma pessoa responsável pelo projecto, eu. Em todos os seus campos
cabia apenas a uma só pessoa tomar a acção e tomar decisões. O que fez com
que, me envolvesse em áreas que de outro modo, provavelmente, nunca me
iria envolver, como por exemplo a banda sonora, a produção, ou mesmo os
efeitos especiais.
Em terceiro lugar, no geral, este projecto serviu para manter a confiança nas
minhas capacidades, pois apesar de ver muita coisa a lutar contra mim,
consegui levar avante aquilo que me tinha proposto no início do ano. Embora
tenha ficado ligeiramente a quem das minhas expectativas, no geral foi
bastante positivo.
Em quarto lugar, a montagem, este nunca foi um campo em que me sentisse
muito à vontade, embora já tivesse feito montagem por várias vezes, montar
um filme em que apenas estava à minha alçada é motivo de grande satisfação.
No entanto, este projecto não serviu só para saber as minhas potencialidades,
serviu também para conhecer as minhas limitações. Uma delas é sem dúvida a
preguiça. Pois, se comparasse a execução do projecto a uma corrida de mil
metros, diria que andei os primeiros 750 metros a passo e apenas comecei a
acelerar e dar o que realmente podia nos últimos 250 metros.
Outra é sem dúvida a minha limitação na produção, embora tenha conseguido
muita coisa, não fiz nem de perto a produção necessária para este filme.
No que toca ao resultado final, mais uma vez reitero que fiquei satisfeito, e que
acima de tudo esta experiência me permitiu evolui bastante.
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Um trabalho de Jorge Miguel Araújo Miranda nºM2018
UBI Cinema 2010 Orientador
Luís Nogueira