questões de literatura

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QUESTÕES DE LITERATURA Vocês mulheres têm isso de comum com as flores, que umas são filhas da sombra e abrem com a noite, e outras são filhas da luz e carecem do Sol. Aurélia é como estas; nasceu para a riqueza. Quando admirava a sua formosura naquela salinha térrea de Santa Tereza, parecia-me que ela vivia ali exilada. Faltava o diadema, o trono, as galas, a multidão submissa; mas a rainha ali estava em todo o seu esplendor. Deus a destinara à opulência. 1. Do texto depreende-se que: (A) Romances românticos regionalistas, como Senhora, exaltam a beleza natural feminina. (B) Os romances realistas de Aluísio Azevedo denunciam o artificialismo da beleza feminina. (C) As obras modernistas têm, entre outros, o objetivo de criticar a submissão da mulher à riqueza material. (D) A linguagem descritiva dos escritores naturalistas caracteriza a sensualidade e a espiritualidade da mulher. (E) A personagem feminina foi caracterizada sob a perspectiva idealizadora típica dos autores românticos. "Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eia! chora os doIs recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens."

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Page 1: Questões de Literatura

QUESTÕES DE LITERATURA

Vocês mulheres têm isso de comum com as flores, que umas são filhas da sombra e abrem com a noite, e outras são filhas da luz e carecem do Sol. Aurélia é como estas; nasceu para a riqueza. Quando admirava a sua formosura naquela salinha térrea de Santa Tereza, parecia-me que ela vivia ali exilada. Faltava o diadema, o trono, as galas, a multidão submissa; mas a rainha ali estava em todo o seu esplendor. Deus a destinara à opulência.

1. Do texto depreende-se que:

(A) Romances românticos regionalistas, como Senhora, exaltam a beleza natural feminina.

(B) Os romances realistas de Aluísio Azevedo denunciam o artificialismo da beleza feminina.

(C) As obras modernistas têm, entre outros, o objetivo de criticar a submissão da mulher à riqueza material.

(D) A linguagem descritiva dos escritores naturalistas caracteriza a sensualidade e a espiritualidade da mulher.

(E) A personagem feminina foi caracterizada sob a perspectiva idealizadora típica dos autores românticos.

"Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eia! chora os doIs recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens."

Machado de Assis

2. Machado de Assis filia-se (e o trecho é exemplo disso) ao estilo de época do:

(A) arcadismo (B) romantismo (C) realismo (D) simbolismo (E) modernismo

Page 2: Questões de Literatura

A PEDREIRA

Daí à pedreira restavam apenas uns cinquenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal. Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folha de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante faziam paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o corpo dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado à fralda do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo.

A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia de cordas que, mesquinhamente, lhe escorriam pela ciclópica nudez com um efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra o gigante.

(AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. 25a ed. São Paulo. Ática, 1992, 48-49)

3. Com relação aos romances naturalistas, a exemplo do fragmento de texto apresentado anteriormente, classifique as sentenças como verdadeiras (V) ou falsas (F).

a) ( ) Retratam fatos que a sociedade procura ocultar.

b) ( ) O meio ambiente é preponderante e determinante no comportamento do personagem.

c) ( ) O enredo é carregado de determinismo e fatalismo.

d) ( ) O meio social, a hereditariedade, os instintos determinam os conflitos e a vida do homem.

Page 3: Questões de Literatura

e) ( ) Personagens humildes são fotografados em situações chocantes para o leitor da época.

4. Em texto sobre O primo Basílio, de Eça de Queirós, Machado de Assis afirma: “o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele é simplesmente o tom próprio”. Assinala que o escritor português já provocara admiração dos leitores com O crime do Padre Amaro e acrescenta: “Pois que havia de fazer a maioria, senão admirar a fidelidade de um autor, que não esquece nada, e não oculta nada? Porque a nova poética é isto, e só chegará à perfeição no dia em que nos disser o número exato dos fios de que se compõe um lenço de cambraia ou um esfregão de cozinha”.

Considerados o estilo de Machado e seu contexto, deve-se compreender as palavras acima destacadas como

(A) elogio a uma prática inovadora que o autor brasileiro adotou desde a obra inicial, tornando-se o maior representante do Realismo no Brasil.

(B) recusa do Realismo entendido como reprodução fotográfica, que não propicia a escolha dos detalhes mais significativos de uma situação ou perfil humano.

(C) crítica à “velha poética”, que, mais sutil, mais sugeria do que explicitava, negando-se a descrições detalhadas.

(D) negação dos procedimentos típicos dos escritores românticos, que, evitando a observação da realidade, em nada podiam contribuir para a formação da consciência da nacionalidade.

(E) elogio ao público pelo reconhecimento do valor do escritor português, fiel à descrição e avaliação da sociedade burguesa que retrata em suas obras.