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R E L A T Ó R I O F I N A L M E S T R A D O I N T E G R A D O E M M E D I C I N A
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E S TÁ G I O P R O F I S S I O N A L I Z A N T E
Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
E digo-vos que a vida é de facto obscuridade excepto onde háarrebatamento,
E todo o arrebatamento é cego excepto onde há saber, E todo o saber é vão exceptoonde há trabalho
E todo o trabalho é vazio excepto onde há amor.
E o que é trabalhar com amor? É pôr em todas as coisasque fazeis Um sopro do vosso espírito.
Khalil Gibran
Carolina Manuel da Costa Horta de Almeida
6º ANO, 2013/2014 -TURMA 1
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
Í N D I CE
I. Introdução ...............................................................................................1
II. Corpo de Trabalho: Estágios Profissionalizantes..................................2
Medicina Geral e Familiar ................................................................. .2
Ginecologia e Obstetrícia.....................................................................3
Cirurgia……..........................................................................................5
Pediatria…………………………………………………………………......6
Saúde Pública… ..................................................................................7
Saúde Mental……................................................................................7
Medicina Interna……………………………………………………...….…8
III. Reflexão Crítica Final...........................................................................11
IV. Anexos..................................................................................................13s
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
I N T R O D U Ç Ã O
O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é considerado um estágio profissionalizante
que compreende o exercício orientado e programado da Medicina, por diversas áreas médicas e
cirúrgicas. Tem como principais objetivos:
desenvolver competências essenciais ao exercício da Medicina, tais como colheita de dados
elaboração de raciocínio clínico e tomada de decisões; desenvolver aptidões no domínio da
investigação clínica.
O presente relatório final diz respeito ao 6º ano profissionalizante tendo por base o Despacho nº
804/2011, publicado no Diário da República, 2ª série, nº7 de 11 de Janeiro e segundo o modelo
proposto e aprovado pelo Conselho Pedagógico e Científico da Faculdade de Ciências Médicas de
Lisboa( FCM).
Com o presente relatório pretendo descrever de forma sucinta, as atividades
desenvolvidas por MIM ao longo do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, estágio profissionalizante, correspondente ao ano
letivo de 2010/2011 e 2013/2014. Encontra-se organizado em 4 s ecç õ e s : A introdução, o corpo
de trabalho onde descreverei resumidamente cada um dos 7 estágios profissionalizantes realizados,
uma reflexão crítica final onde demonstrarei os aspetos que correram bem e menos bem, no que
respeita às minhas necessidades/expetativas iniciais, bem como no cumprimento dos objetivos
propostos e as metas atingidas. Por último, nos anexos apresento atividades frequentadas pela FCM-
Universidade Nova de Lisboa, que acho oportuno serem mencionadas ( Suporte básico de vida/
avançado de vida).
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
C O R P O D E T R A B A L H O
O ano letivo correspondente ao estágio profissionalizante decorreu entre 2010/2011 e a última
cadeira 2013/ 2014, sendo constituído por 7 estágios parcelares sobre os quais farei de seguida
uma breve descrição dos elementos que considero representativos do seu funcionamento.
MEDICINA GERAL E FAMILI AR: Estágio (USF S do Centro de Saúde do Seixal)
Período do estágio: 27/09/2010 a 22/10/2010 (USF do centro de saúde do Seixal ) -4 semanas
Regência: Prof. Doutora Isabel Santos
Tutor : Dr. José Manuel Feliz
Sob a regência da Prof. Doutora Isabel Santos, estagiei no centro de Saúde (CS) do Seixal
durante quatro semanas, sob orientação do Dr. José Manuel Feliz. Considerei como objetivos do
estágio:
- abordagem dos padrões de sintomas mais comuns no contexto da comunidade, desenvolvendo
competências diagnósticas, terapêuticas e preventivas, aplicar o modelo clínico centrado nas pessoas
e no seu contexto; verificar as características próprias dos cuidados de saúde prestados em Medicina
Geral e Familiar.
Assim como entender e observar as principais funções do médico de medicina geral e familiar.
Identificar os problemas de saúde com maior prevalência na comunidade conquistar autonomia
e desenvolver competências de comunicação.
Tive oportunidade de assistir a consultas de Planeamento Familiar, Saúde Infantil, Saúde
Materna, Saúde do Adulto e intersubstituição, assisti e participei na prestação de cuidados continuados
no domicilío, realizei algumas atividades da sala de injetáveis.
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
Durante as 4 semanas participei ativamente em rastreios, bem como em programas de educação para
a saúde e prevenção da doença. Apercebi-me da diversidade dos problemas observados em consulta,
da sua frequência e da variabilidade destes de acordo com o ambiente socioeconómico. Assim,
neste contexto, realizei durante este período do estágio um Diário de Exercício Orientado (DEO),
onde fiz um registo em tabela, do padrão de morbilidade observado em consulta, descrevi uma análise
de situação e apresentei um caso clínico. Julgo que foi uma mais-valia ter realizado o estágio nesta
área do Seixal, pois permitiu-me observar a importância do contexto socioeconómico e cultural
na relação médico-doente, bem como na abordagem ao doente e à sua doença. Destaco a
importância desta relação de confiança e proximidade entre o doente e o seu médico de família para o
sucesso dos nossos cuidados de saúde primários. Por fim, solidarizo-me com a possibilidade que me
foi concedida de conduzir algumas consultas autonomamente, procedendo à recolha e organização
de dados, estabelecendo os meus raciocínios clínicos, formulando hipóteses diagnósticas e
propondo um plano terapêutico, tudo isto realizado sobre supervisão. Assisti às sessões de ensino-
aprendizagem em grupo dirigida pela Drª Teresa Ventura, que teve lugar na FCM na terceira semana
do estágio.
GINECOLOGIA E O BSTET RÍCIA: Hospital de São Francisco Xavier (HSF)
Período do estágio: 25/10/2010 a 19/11/2010 ( 4 s e m ana s )
Regência: Prof. Doutor Jorge Branco
Tutores: Dra Lurdes Silva- Ginecologia, Dr. Pina Pereira-Obstetrícia
Este estágio teve lugar no Hospital São Francisco Xavier, sob regência do Prof. Doutor Jorge
Branco, tendo estagiado no serviço de ginecologia durante as duas primeiras semanas,
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
sob orientação da Dra. Lurdes Silva e no serviço de Obstetricía nas duas últimas semanas sob
orientação da Dra. Alexia Toller (Dr. Pina Pereira).
O estágio teve como principal objetivo adquirir competências individuais de forma a responder às
necessidades da mulher de um modo abrangente desde a educação para a saúde e prevenção da
doença até ao diagnóstico e tratamento da doença mais frequentes no âmbito da Ginecologia e
obstetrícia.
Observar e saber reconhecer patologia médica e cirúrgica em ginecologia e obstetrícia e praticar
o exame objectivo ginecológico e obstétrico.
Durante as 2 semanas destinadas à Obstetrícia tive a oportunidade de observar o seguimento
de grávidas com factores de risco nas consultas externas de alto risco e de referenciação, de par t i
c i p a r n as actividades inerentes à enfermaria do serviço materno-fetal (acompanhei 5 grávidas
com ameaça de parto pré-termo e um caso de ruptura prematura pré- termo de membranas),
interpretação de ECD (ecografias e cardiotocogramas), observação dos cuidados a puérperas, bem
como de cirurgias e procedimentos obstétricos no bloco operatório (Cesariana electiva e Aspiração
de restos ovulares após IVG). Nas 2 semanas de Ginecologia assisti à consulta de ginecologia (tendo
tido a possibilidade de praticar o exame objectivo ginecológico), a ecografias ginecológicas, a
procedimentos ginecológicos realizados na (Histeroscopias) e cirúrgicos, realizados no bloco
operatório (Ex: Polipectomia por Ressectoscopia). Ao longo do estágio integrei a equipa de urgência
dos meus orientadores onde pude observar diversas situações agudas (obstétricas e
ginecológicas), frequentes neste contexto, bem como visualizar ecografias urgentes. Assisti também
a vários partos, eutócicos e distócicos. Realizei 8 turnos no SU. No término do estágio, elaborei
juntamente com duas colegas, um trabalho de síntese sobre “Ameaça de Parto Pré-Termo (APPT)”
e assisti à apresentação dos seguintes seminários: “Prevenção de tromboembolismo durante a
gravidez”.
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
CIRURGI A: Hos pi tal Santo António dos Capuchos
Período do estágio: 22/11/2010 a 21/01/2011 (8 semanas)
Regência: Profª. Doutora Maria Teresa Leite de Noronha
Tutor: Drª Conceição Cardoso.
As actividades do estágio Cirúrgico foram organizadas da seguinte forma: distribuição dos alunos
pela Cirurgia Geral (CG) durante as 8 semanas, e nas especialidades de Gastrenterologia e mais uma
opcional.
Como objetivos para este estágio destaco: conseguir diagnosticar as principais patologias
cirúrgicas, a observação da evolução do doente desde o pré até ao pós-operatório, a execução de
técnicas de “pequena cirurgia” no serviço de urgência do Hospital de São Jóse bem como
observação e participação em cirurgias no bloco operatório.
Durante este período realizei atividades assistenciais na enfermaria, serviço de urgência e bloco
operatório, tendo sido 1ª e 2ª ajudante em algumas cirurgias (CG). Em todas as especialidades por
onde passei assisti a várias consultas (Ex: Consultas de cirurgia) e de gastroenterologia.
Considero a passagem pelas técnicas de Gastroenterologia de grande interesse e
relevância.
Como atividade formativa frequentei Se miná rios Teó rico s e Teó rico -P rá tico s dos quais destaco
o tema: “Colocação de acesso venoso periférico/ venopunção; Manuseamento de sistemas de soros e
seringas infusoras; Colocação de cateter venoso central (jugular, subclávia, femoral)”. Elaborei por fim
dois trabalhos de revisão sobre o temas “ Neoplasia Colo-Rectal bem como Doenças da Vesicula e
vias Biliares” (Colecistectomia) “
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
PEDIATRIA: Hospital Cuf Descobertas
Período do estágio: (24/01/11 a 18/02/2011) quatro semanas
Regência: Profª Doutora Lígia Braga
Tutor: Drª Alexandra e Drª Silvia
Dos objetivos iniciais para este estágio destaco: saber reconhecer as patologias mais
comuns no RN, criança e adolescente, saber colher uma história clínica em pediatria (tendo em conta
a sua natural especificidade) e treinar a comunicação com a criança/ adolescente.
Durante este estágio tive a oportunidade de realizar algumas tarefas relacionadas com a prática
clínica diária da enfermaria. Destaco o acompanhamento de 2 casos: lactente ♂4M com síndrome de
Treacher-Collins e criança ♂9A com Púrpura de Henoch- Schönlein. Na consulta externa de pediatria
pude observar patologia diversa (Ex: ITU associada a RVU e enurese), bem como treinar o exame
físico da criança. Assisti também as consultas de imunoalergologia. O período de estágio em que
passei pela cirurgia pediátrica foi muito interessante, pois observei em consulta, patologia menos
frequente (Ex: Pectus Excavatum/Carinatum).
Na passagem pelo B.O. observei também cirurgias bastante interessantes (Ex: Ressecção
pulmonar atípica em ♂14A por pneumotórax espontâneo recidivante). Estive também presente no
serviço de urgência de pediatria e de cirurgia pediátrica tendo-me permitido observar,
examinar e diagnosticar patologias frequentes do foro pediátrico. Destaco deste período um caso:
♂15A com alterações de comportamento de início recente, por possível exposição a substancia
adquirida numa SmartShop. Como ações formativas, assisti a teórico- práticas de imunoalergologia,
cardiologia pediátrica e a sessões clínicas do hospital. Elaborei um trabalho de revisão sobre o
tema “Convulsão Febril” apresentado no seminário dos alunos do 6ºano.
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
SAÚDE PÚBLICA:
Sob regência do prof. Jorge Torgal e orientação do Prof. Doutor Mário Cordeiro
Raposo, o estágio de Saúde pública foi realizado na FCM, o seu objetivo primordial foi a
aprendizagem e iniciação no campo da investigação clínica, mediante a realização de um
estudo científico com posterior elaboração de um artigo científico. No referido contexto e
em conjunto com 6 colegas, realizei o trabalho intitulado “O direito de Ser Esquerdinho,
cujo objetivo foi de avaliar mediante a aplicação
Do questionário de Edinburg numa amostra de conveniência da população composta
por 1.029 inquiridos, entre os quais 868(85%) foram classificados como dextros,
78(7.6%) como esquerdinos e 75 (7.3%) como ambidextros.
Este estudo foi realizado com objetivo de determinar a lateralidade, o impacto na
qualidade de vida dos esquerdinos bem como a alteração da preferência manual. Ao
longo do estágio realizamos e apresentamos o artigo, sob a forma de comunicação oral,
na faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.
O artigo foi publicado na revista Visão, no semanário Expresso e posteriormente na
Agência Lusa bem como na RTP.
Tornando-se atualmente uma cadeira opcional, tendo eu obtido equivalência
Para prática de investigação ( investigação de conhecimentos em saúde pública.
SAÚDE MENTAL: Serviço de psiquiatria do hospital Fernando da Fonseca
Período do estágio: 28/03/2011 a 29/04/2011( quatro semanas)
Regência: Prof. Doutor Miguel Xavier
Tutor: Dr. José Flores
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
O estágio iniciou-se com dois dias de seminários teórico-práticos que decorreram na Faculdade
de Ciências Médicas (FCM), sob orientação do Prof. Doutor Miguel Xavier, onde foram apresentadas
algumas situações clínicas frequentes, muito úteis no contexto do serviço de Urgência. As técnicas de
anamnese e de exame objetivo foram também brevemente abordadas. Este estágio foi realizado na
Equipa comunitária da Amadora do Serviço de psiquiatria do Hospital Prof. Fernando Fonseca E.P.E.
Os meus objetivos para este estágio prendiam-se em: conhecer e identificar as patologias
psiquiátricas mais comuns, adquirir competências na colheita da história psiquiátrica nesta população
e ganhar experiencia no reconhecimento de patologia psiquiátrica na urgência.
Durante o estágio tive a oportunidade de contatar com diversas atividades da prática clinica da
psiquiatria, assisti e participei nas Várias consultas de Psiquiatria, realizei histórias clínicas, assisti as
reuniões semanais e sessões clínicas. Assim, assisti a consultas de 1ª vez e de seguimento, onde
contatei com as patologias mais prevalentes : Esquizofrenia, Perturbação bipolar, Stress pós-
traumático Perturbações de comportamento e Perturbações afetivas, participei em reuniões
semanais do serviço e realizei uma história clínica colhida na condução autónoma de uma consulta de
1ª vez .Finalmente, frequentei também o serviço de urgência de psiquiatria do Hospital Fernando
Fonseca, onde observei situações frequentes da psiquiatria de adultos (depressão, ansiedade e um
caso de para-suicídio). Realizei também uma história clínica final que foi discutida e entregue na
FCM. Na última semana de estágio apresentei tema com os restantes colegas um trabalho intitulado
Depressão como fator de Risco em várias Doenças somáticas (Doença Coronária, Diabetes
Mellitus e HIV/SIDA).
MEDICINA INTERNA:
Período de estágio: 16/09/201408/11/201 quatro semanas
Regência: Prof. Doutor Fernando Nolasco
Tutor: Dr. Toscano Rico
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
O estágio foi realizado no serviço 04 de medicina da Unidade Funcional do Hospital de Santa
Marta, sob regência do Prof. Doutor Fernando Nolasco e orientação do Dr. Miguel Toscano Rico.
Parti para este estágio com os seguintes objetivos:
Integrar-me na equipa médica e praticar diariamente procedimentos como colheita de história
clínica, diagnóstico, prescrição de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, tudo isto por
forma adquirir uma autonomia crescente e aprimorar o raciocinío clínico.
Assisti às aulas téorico-práticas e aos seminários semanalmente sobre discussão de casos
clínicos das patologias mais frequentes e preferencialmente ligadas à Urgência/ Emergências. Ao
nível das actividades desenvolvidas durante o estágio, dou especial relevância ao internamento, não
só por ter sido aquela que mais tempo ocupou, mas também por ter sido a que mais contribuiu para o
cumprimento dos objetivos propostos. A integração de conhecimentos e raciocínio clínico hipotético-
dedutivo introduzida pelas discussões no final de cada manhã e pela visita clínica semanal foram um
contributo essencial para a consolidação da marcha envolvida no diagnóstico, tratamento e
seguimento dos doentes. Além disso, o acompanhamento diário dos doentes na enfermaria permitiu
perceber a importância de reconhecer, por vezes, súbtil variação clínica diária dos doentes, bem
como as decisões
subsequentes que essas variações acarretam. O treino da comunicação de informação
clínica durante a visita clínica foi também um ponto reconhecidamente positivo na minha formação.
Finalmente, a presença de alunos do 3º ano no serviço, fez-me deparar com uma nova realidade: a
de ter colegas mais novos e a quem podia, dentro de determinados limites, dar alguma orientação,
ensinar-lhes técnicas gasimetricas e punções venosas. Sendo o ensino da medicina altamente
dependente da transmissão de conhecimento dos mais velhos para os mais novos, considero ter
feito um esforço no sentido de integrar e informar os colegas, acreditando ter havido um benefício
para ambas as partes envolvidas.
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
Durante este período desenvolvi atividades na enfermaria, onde tive oportunidade de
acompanhar 62 doentes observando-os clinicamente diariamente.
Aprendi a redigir notas de entrada / altas e participei ativamente na reunião da equipa que
decorria diariamente.
Frequentei o serviço de Urgência do Hospital de São José onde acompanhava sempre o meu
tutor e alguns internos do meu tutor, onde observei os doentes na apresentação aguda da sua
doença, sendo que alguns destes foram internados no serviço 4 de medicina da unidade funcional
do Hospital de Santa Marta.
Considero ainda a presença no serviço de urgência um momento importante do estágio, por
mostrar uma realidade diferente da do internamento, na qual o médico é forçado a tomar decisões
importantes num período de tempo muito breve. A oportunidade de ter recebido doentes nas salas
de atendimento confrontou-me com a necessidade de avaliar, em circunstâncias diferentes daquelas
a que estava habituado até então, quais dos sintomas apresentados pelos doentes deveriam ser, ou
não, relevados.
Neste ponto, lamento que constrangimentos logísticos inerentes ao próprio funcionamento do
serviço de urgência, e relacionados com a necessidade de presença de outros alunos, tanto do 6º
como do 3º anos, não tenham permitido que passasse mais tempo no serviço de urgência.
Foi sem dúvida o estágio onde senti maior autonomia e onde consegui acompanhar os doentes
desde o SU até a alta do serviço de medicina.
Ao longo do estágio, assisti as sessões clínicas abertas, aulas teórico-práticas e seminários
Téorico-Práticos sobre variados temas, dos quais destaco :
Por fim elaborei com mais 3 colegas um trabalho de revisão e comunicação oral sobre o tema
Edema Agudo do Pulmão.
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
R ef l ex ã o C r í t i c a F i na l
Concluído o 6º Ano, considero os diversos estágios profissionalizantes realizados como
excelentes vias para sedimentar os conhecimentos teóricos adquiridos nos 5 anos anteriores,
bem como para facilitar a transição da realidade académica para a laboral. Os meus objetivos para
este ano letivo prendiam-se então com a obtenção de uma maior autonomia, num ganho de
confiança nos conhecimentos e práticas médicas, bem como num acréscimo de experiencia da
prática clínica, objetivos estes que considero ter atingido de forma bastante satisfatória.
Durante este ano pude praticar não só as minhas competências clínicas como também
académicas nos vários trabalhos de síntese e apresentações que realizei. Lidei com questões
éticas, como o sigilo médico e o consentimento informado e apercebi-me ainda da importância do
trabalho em equipa para uma assistência e tratamento adequados.
Considero que a minha postura ao longo deste ano foi de interesse e dedicação. A
integração em equipas distintas foi benéfica para a aprendizagem de novas metodologias de trabalho,
bem como para a construção de um referencial de qualidade que será útil ao longo da minha vida
profissional.
Penso ter cumprido de uma forma geral os objetivos a que me propus nos vários estágios
parcelares. Considero contudo, que poderia ter tido uma atitude mais pro-ativa no estágio de Cirurgia,
onde o meu tutor não fazia o serviço da pequena cirurgia, e teria de partir de nós alunos, a iniciativa
de por lá passar. No caso optei por permanecer mais tempo no bloco operatório ou a estudar para a
Prova Nacional de Seriação (PNS). Já no estágio de Medicina Interna penso que poderia ter estado
mais tempo no SU, no entanto, devido ao facto da minha tutora não fazer urgência e constatando que
os seus internos (do 1º e 2º ano) não tinham a experiencia necessária para tutorar, abdiquei algumas
vezes de ir, dedicando esse tempo ao estudo para a PNS.
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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano
Como menos positivo, destaco o carácter meramente observacional de metade dos
estágios ditos profissionalizantes, que deveriam servir para incentivar o aluno a uma postura mais
autónoma. Pelo contrário, nos estágios de Medicina Interna, MGF e Psiquiatria senti-me
verdadeiramente como parte integrante das equipas que me acolheram.
Atribuo uma nota extremamente positiva à frequência nas unidade curriculares (UC) de
Preparação para a Prática Clínica (PPC). Permitiu- me integrar conhecimentos através de sessões
multidisciplinares, que me obrigaram a treinar o raciocínio clínico por via da apresentação de temas e
casos clínicos transversais às várias áreas da Medicina.
Considero ser de excelência o nível formativo ministrado nesta faculdade. Isto deve-se ao
elevado nível de conhecimentos e de confiança transmitido pelos nossos tutores/orientadores e ao
favorável rácio aluno/tutor, único no país. A passagem por vários hospitais ao longo do curso permite-
nos conhecer diferentes realidades, o que exige de nós capacidade de adaptação, tornando-nos
assim mais versáteis, sendo que esta característica nos distingue pela positiva relativamente a alunos
de outras faculdades.
Finalizo com um profundo agradecimento à FCM UNL que me acolheu como aluna e a
todos os profissionais que contribuíram para a minha formação.
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FACULDADE DE C IÊNCIAS MÉDICAS
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DEPARTAMENTO UNIVERSITÁRIO DE SAÚDE PÚBLICA
COORDENAÇÃO : PROF. DOUTOR MÁRIO CORDEIRO
REGENTE : PROF. DOUTOR JORGE TORGAL
Dossier de Investigação
O DIREITO A SER ESQUERDINO
A N Á L I S E D E P E R C E P Ç Õ E S , C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S
S O B R E A Q U A L I D A D E D E V I D A D E E S Q U E R D I N O S
F R A N C I S C O A R , A L M E I D A C H , N A V A R R O D B , P I N T O J S ,
L O P E S F V , G A R R I D O P A , V I A N A P F
Lisboa, 24 de Março de 2011
M. C. Escher
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 2 DE 79
«(…)os baixos pagam os encontros dos altos, que é
justiça de canhoto ou esquerda justiça.»
D. Francisco Manuel de Melo, in Relógios Falantes
(séc. XVII)
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 3 DE 79
Agradecemos,
ao Professor Doutor Mário Cordeiro, por toda a orientação e ajuda prestada na realização do
trabalho;
à Mestre Sara Dias, docente do Departamento Universitário de Saúde Pública, pela ajuda prestado no esclarecimento de dúvidas;
à Sr.ª D. Luísa Barata, secretária do Departamento Universitário de Saúde Pública, pela sua disponibilidade;
à PaperZone.pt por ter apoiado o nosso projecto;
ao Sr. Luís Almeida, que gentilmente imprimiu os questionários;
a todos os que aceitaram colaborar, respondendo ao questionário, sem os quais este trabalho nunca teria sido possível.
A todos os que tornaram este trabalho possível, o nosso muito obrigado!
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 4 DE 79
ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 5
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................................... 7
DESCRIÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO .............................................................................................................. 9
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO .................................................................................................. 10
CRONOGRAMA PREVISTO/CONCRETIZADO .................................................................................................... 11
OBSTÁCULOS E DIFICULDADES. LIÇÕES APRENDIDAS .................................................................................. 12
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................................................................... 14
ANEXOS ................................................................................................................................................................ 15
Anexo 1 - Protocolo……………………………………………………………....………....16
Anexo 2 - Apresentação do Protocolo………………………………………………………26
Anexo 3 - Questionário……………..………………………………………………………35
Anexo 4 - Artigo Científico……………………………………………………...…………..40
Anexo 5 - Comunicação Científica……………………………………………………….….57
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 5 DE 79
INTRODUÇÃO
O estágio de Saúde Pública, sob regência do Professor Doutor Jorge Torgal e coordenação da
Professora Doutora Carlota Louro, integra o plano curricular do 6º ano do Curso de Mestrado
Integrado em Medicina, leccionado na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Teve a duração de cinco semanas, tendo decorrido entre 21 de Fevereiro e 25 de Março de 2011.
O presente dossier de investigação tem por objectivo reflectir o trabalho realizado durante este
período, sob tutela do Prof. Doutor Mário Cordeiro, e inclui uma abordagem descritiva das actividades
desenvolvidas, assim como um posicionamento crítico acerca das mesmas.
O objectivo primordial deste estágio é aprendizagem e iniciação no campo da investigação
científica. Assim, foi-nos proposto a realização de um estudo científico com posterior elaboração de um
artigo científico.
No início do estágio, e antes da distribuição pelos diversos assistentes, surgiram dentro do nosso
grupo vários temas que nos interessaram, nomeadamente, avaliação da depressão pós-parto e, avaliação
de conhecimentos e atitudes sobre a infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida em estudantes
do secundário. Contudo, a sugestão do Prof. Doutor Mário Cordeiro em realizar um estudo sobre
esquerdinos, pela sua originalidade e impacto na sociedade, imediatamente despertou a nossa
curiosidade.
Após uma breve pesquisa bibliográfica sobre o tema, observámos a existência de uma enorme
quantidade e variedade de estudos sobre o tema, em áreas tão diversas como Psicologia, Antropologia,
Arqueologia, e dentro da Medicina, especialidades como a Neurologia, Psiquiatria, Saúde Pública, entre
outras.
Desde logo elaborámos um conjunto de opções de estudo:
- Caracterizar os acidentes de trabalho em relação à lateralidade manual, numa população fabril;
- Avaliar a lateralidade da população admitida no SU, em particular nas salas de Pequena
Cirurgia;
- Caracterizar a população portuguesa em relação à sua lateralidade;
- Correlacionar a lateralidade com a incidência de algumas doenças (que já foram documentadas
em estudos anteriores), por intermédio de um questionário à população ou por comparação com uma
amostra de doentes em determinada consulta;
- Avaliar as percepções, conhecimentos e atitudes da população portuguesa em relação à
lateralidade esquerda.
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 6 DE 79
Optámos por esta última alternativa, pela pouca quantidade de estudos científicos realizados
acerca deste tema, pelo escasso período de que dispomos e pela dificuldade em obter autorizações
legais.
Os objectivos definidos foram analisar as percepções, conhecimentos e atitudes sobre
esquerdinos na população estudada. Secundariamente pretendeu-se efectuar a caracterização
demográfica da lateralidade na amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência
manual, aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e registar
eventuais dificuldades dos mesmos no quotidiano.
Ao longo do período de estágio, tivemos reuniões com o orientador do projecto, Professor
Doutor Mário Cordeiro, com quem discutimos a elaboração do protocolo e dos questionários1,
inteirando-o da evolução do trabalho de campo e a preparação do artigo científico.
O protocolo foi apresentado, discutido e aprovado2 na Faculdade de Ciências Médicas, no dia 28
de Fevereiro. Tal como estipulado, o artigo científico3 foi entregue dia 21 de Março no Departamento
de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas, tendo sido apresentado4 no dia 23 de Março, no
anfiteatro 3 da faculdade.
1 Vide Anexo 3. 2 Vide Anexos 1 e 2. 3 Vide Anexo 4. 4 Vide Anexo 5.
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
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BIBLIOGRAFIA
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30. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156. 31. Denny, K. and O’Sullivan, V. The economic consequences of being left-handed: some sinister results. J. Hum. Resour. 2007, Vol. 42, pp. 353-374. 32. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119. 33. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28. 34. Schachter, S. Side Bias: A Neuropsychological Perspective. s.l. : Kluwer Academic Publishers, 2000. pp. 155-174. 35. P Rodrigues, M Vasconcelos, J Barreiros. Desenvolvimento da Assimetria Manual. Rev Port Cie Desp. Vol. 10 (1), pp. 230-241. 36. Fernandes, D. A Mão, a Preferência Manual e a Proficiência Manual no Idoso. Faculdade de Coiências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto., 2004. 37. Oldfield, RC. The assessment and analysis of handedness: The Edinburgh inventory. Neuropsychololgia. Vol. 9, pp. 97-113. 38.http://homepage.ntlworld.com/steve.williams7/A%20major%20revision%20of%20the%20Edinburgh%20Handedness%20Inventory.pdf. [Online acedido a 18/03/2011] 39. Estatística, Instituto Nacional de. Censos 2001: XIV Recenseqmento Geral da População. 2002. 40. Pollak, RA. An Intergenerational Model OF Domestic Violence. Journal of Population Economics. 2004, Vol. 17 (2), pp. 311-329. 41. Francks, C and et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.
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DESCRIÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO
Efectuou-se um estudo descritivo e transversal, com colheita dos dados através do
preenchimento de um questionário individual e anónimo, entre os dias 4 e 13 de Março de 2011, em
locais públicos, nas cidades de Lisboa, Porto e Leiria.
O questionário anónimo, individual e de auto-preenchimento, composto por:
- Dados demográficos gerais;
- Avaliação da Lateralidade;
- Avaliação da convivência familiar com esquerdinos;
- Avaliação das percepções da população acerca dos esquerdinos, em diversos campos: Saúde,
Escola, Escrita Forçada, Trabalho, Personalidade e Quotidiano.
Foi realizado um pré-teste no dia 3 de Março a 11 pessoas, que permitiu efectuar algumas
modificações.
Recolheu-se uma amostra de conveniência, de acordo com os critérios de inclusão descritos no
protocolo, constituída por 1.029 indivíduos.
Orçamento e Recursos Humanos:
Fotocópias, encadernações, outro material 150€
Deslocações 100€
Comunicações 20€
Honorários5 3.675€
Total 3.945€
5 5€/hora, 5 horas diárias durante 21 dias para 7 pessoas.
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ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
Os dados recolhidos foram organizados segundo uma base de dados do Microsoft Office Excel
2010®. Para tratamento estatístico dos dados foi utilizado o mesmo programa, procedendo-se à análise
dos mesmos pelo lançamento de tabelas de frequências, cálculo da média e mediana, avaliação da
associação de variáveis pelo teste de χ2 (Qui-Quadrado) e teste de Fisher, com um nível de significância
estabelecido de p<0,05.
O artigo científico foi redigido tendo por base o programa informático Microsoft Office Word
2010®, e todos os gráficos e tabelas nele incluídos são originais e elaborados através do programa
Microsoft Office Excel 2010®.
Para a apresentação audiovisual do Protocolo e da Comunicação Científica utilizámos o software
Microsoft Office PowerPoint 2010®.
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CRONOGRAMA PREVISTO/CONCRETIZADO
O cronograma previsto inicialmente foi globalmente cumprido, embora não se tenham realizado
as aulas de: Formatação Epi-Info® (dada posteriormente conjuntamente com a 2ª sessão), Edição de
Artigo e Preparação das Comunicações – material referente às 3 aulas foi facultado em formato digital
por via electrónica.
Legenda:
Sessões Teórico-Práticas
Projecto de Investigação
Prazos de entrega
Aulas Canceladas
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OBSTÁCULOS E DIFICULDADES . L IÇÕES APRENDIDAS
Ao longo destas curtas 5 semanas, tivemos que aprender – e fazê-lo de facto! - a elaborar um
estudo de Saúde Pública de raiz, novidade para todos os elementos do grupo. Para tanto, foi necessário
assimilar todos as etapas a percorrer, desde a elaboração do protocolo à redacção final do artigo,
passando pela colheita e tratamento estatístico dos dados. Como era de prever, ao longo deste processo
deparámo-nos com inúmeras contrariedades, ultrapassadas pela aquisição de novas competências ou
recurso a estratégias alternativas.
Além do factor novidade, acresciam ainda o tempo escasso e o elevado número de elementos do
nosso grupo. Aquilo que à partida é uma vantagem, facilmente se pode tornar numa dificuldade pela
desorganização e dispersão de ideias de 7 intervenientes. Portanto, era essencial conseguir uma
planificação desde o primeiro momento que fosse simultaneamente rigorosa e flexível para lidar com as
alterações subsequentes. Para tal, muito nos ajudou a aula Elaboração do Protocolo. Com base nela,
conseguimos ter desde o início um plano e metodologia bem delineados. Apesar de nem sempre ter
sido fácil a adaptação a novas circunstâncias ou a divisão de tarefas para um trabalho constante nas
várias frentes, pelo menos sabíamos perfeitamente o que tínhamos que fazer em cada momento.
Em relação ao processo de colheita de dados, uma das lições que tirámos foi a necessidade de
uma cuidadosa correlação entre cada uma das perguntas do questionário e os objectivos estabelecidos
para o estudo. Só assim se chega a um questionário simples e dirigido, sem perguntas desnecessárias e
com todas as associações entre perguntas previamente definidas. Isto agiliza muito a ulterior análise dos
dados, uma vez que já estão previstos todos os testes estatísticos a calcular. Para observar tendências
gerais e ir delineando conclusões, podem mesmo fazer-se estes testes durante a colheita de dados com
uma amostra preliminar.
No campo da análise de dados, tivemos várias dificuldades. Por um lado não estabelecemos bem
todas as associações estatísticas a testar, o que originou alguma dispersão e perda de tempo. Também
na utilização do software tivemos alguns obstáculos, uma vez que optámos utilizar o Microsoft Excel
2010® com o qual nunca tínhamos trabalhado a um nível tão avançado. Por outro lado, verificámos
ainda que não dominávamos todos os conhecimentos de estatística necessários para este projecto. Foi
por isso necessário que parte dos elementos do grupo estivessem dedicados a rever esta temática,
perdendo-se recursos humanos necessários para a colheita de dados. Sentimos, por isso que teria sido
muito útil uma aula de revisão sobre este tema.
Lamentamos ainda que não pudessem ter sido dadas as aulas relativas à Elaboração do Artigo e
Comunicação Oral, uma vez que teriam sido ajudas preciosas para nos orientar nestas etapas tão
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fundamentais em qualquer projecto. Como alternativa, consultámos alguns trabalhos de colegas no
Departamento de Saúde Pública, para perceber quais as melhores estratégias a tomar.
A revisão bibliográfica do tema trouxe-nos algumas dificuldades na medida em que não é um
tema habitual no nosso currículo, nem no âmbito da Saúde Pública em particular. Talvez por isso
tenhamos demorado um pouco mais para encontrar – tanto para a fase inicial de estudo como para a
discussão dos resultados -, referências bibliográficas credíveis, tais como artigos de revisão ou meta-
análises sobre lateralidade. Por fim conseguimos, uma bibliografia teórica bastante completa, muito
embora não tenhamos encontrado estudos com desenhos similares ao nosso.
Não será desmedido realçar, para colegas que venham a realizar estudos futuros, a importância
de cuidar esta etapa do projecto. Trata-se no fundo dos alicerces em que tudo assenta. Sem ela
dificilmente se constrói um questionário sólido, coerente e aplicável na prática. Tão-pouco é possível
efectuar uma análise e discussão dos resultados conveniente se não se conhece o que já foi estudado
nessa área. É como estar a trabalhar sozinho, partindo do zero.
Em suma, apesar de todas as dificuldades, esta foi uma excelente oportunidade para aprender na
prática a elaborar um artigo científico, num tempo limitado, trabalhando em equipa, através de uma
criteriosa metodologia de programação e distribuição de tarefas.
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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
No final da realização deste trabalho, podemos dizer que obtivemos conclusões com tradução
prática, interessantes e relevantes no âmbito da Saúde Pública, respondendo assim, aos objectivos a que
nos tínhamos proposto quando apresentámos o desenho do estudo. Para além disso, fizemos algumas
sugestões de próximos trabalhos na continuação do mesmo tema.
No decorrer deste estudo surgiram algumas limitações e dificuldades que nos alertaram para a
necessidade de uma investigação mais aprofundada nalguns aspectos relacionados com a preferência
manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade de um questionário para a avaliação da
lateralidade manual validado na população portuguesa; estudar a real influência da lateralidade em
acidentes (domésticos, profissionais e rodoviários).
Sugerimos ainda a investigação, na população abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual
da preferência manual e da alteração forçada da mesma. Neste segmento etário importa também
averiguar a persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos na escola, e o que está de facto a ser
feito para as minimizar.
Com este estágio foi possível adquirir competências para a realização de um estudo científico,
melhorar a capacidade de trabalho em equipa, o espírito crítico e o rigor científico. Todos estes
conhecimentos serão certamente úteis no futuro, uma vez que a investigação médica fará
impreterivelmente parte da nossa carreira médica.
No que à organização do estágio diz respeito, achamos que alguns pontos devem ser revistos.
Para uma melhor sedimentação de conhecimentos sobre estatística, seria útil, para além da aula de
EpiInfo®, uma aula de revisão da matéria. Alertamos também, pelas dificuldades que surgiram no seio
do nosso grupo, para a necessidade de um financiamento aos estudos por parte do departamento
(porque não na forma de disponibilidade para tirar fotocópias?). Sugerimos ainda, uma interacção entre
os estágios de 4° e 6° ano, sendo permitido aos alunos mais novos estarem presentes durantes as nossas
comunicações científicas. Achamos que tal seria altamente proveitoso, porque traduz uma vertente mais
prática do estágio, e talvez mais atraente, mas também como forma de sensibilizá-los desde logo para as
limitações e dificuldades que surgem na criação de um artigo científico.
Por fim, e como recomendações para os futuros grupos, gostaríamos de reforçar a importância
de fazer uma boa revisão bibliográfica sobre o tema, que, para além de inteirar os autores do estado da
arte, facilita a posterior argumentação na discussão. Salientamos também que a discussão dos resultados
é um processo moroso, que requer dedicação de todos os elementos e cedências de parte a parte.
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FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DEPARTAMENTO UNIVERSITÁRIO DE SAÚDE PÚBLICA
O DIREITO A SER ESQUERDINO A N Á L I S E D A S P E R C E P Ç Õ E S ,
C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S S O B R E A
Q U A L I D A D E D E V I D A D O S E S Q U E R D I N O S
F R A N C I S C O A R , A L M E I D A C , N A V A R R O D B , P I N T O J S ,
L O P E S F V , G A R R I D O P A , V I A N A P F
C O O R D E N A Ç Ã O : P R O F . D O U T O R M Á R I O C O R D E I R O
R E G E N T E : P R O F . D O U T O R J O R G E T O R G A L
Lisboa, 1 de Março de 2011
M. C. Escher
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INTRODUÇÃO
«...dizei-me ora quem sois
e por que "esquerdos" fados viestes
a ser nesta escravidão meu companheiro?...»
D. Francisco Manuel de Melo, in Apólogos
Dialogais (séc. XVII)
A questão da lateralidade, em particular da preferência manual (handedness), tem sido alvo de
debate nas mais diversas áreas do conhecimento (Medicina, Antropologia, Psicologia e Sociologia,
entre outras). Mesmo dentro da Medicina, este assunto diz respeito a várias especialidades como a
Genética, Pediatria, Psiquiatria, Neurologia, Medicina do Trabalho e Saúde Pública.
Estima-se que 10% da população mundial tem preferência manual esquerda (esquerdino ou,
mais vulgarmente, canhoto) (1; 2; 3), registando-se variações geográficas. Por exemplo, no Japão, a
percentagem de esquerdinos na população é de aproximadamente 5% (1), presumivelmente devido
à alta frequência de crianças forçadas a escrever com a mão direita. Em contraste, na população
indígena Yanomamo, na Venezuela, por exemplo, a frequência de esquerdinos ronda os 23%. Neste
caso, supõe-se que o facto de ser esquerdino traz vantagens em actos de confrontação física
(bastante frequentes nesta população), pelo factor-surpresa acrescido (4).Globalmente, a
lateralidade à esquerda é mais frequente no sexo masculino, havendo um decréscimo da prevalência
de esquerdinos declarados com o aumento da idade (5; 6). Este declínio pode dever-se a uma maior
frequência de indivíduos idosos forçados a escrever com a mão direita ou a uma menor esperança
média de vida dos esquerdinos (7). A lateralidade esquerda também tem um componente
hereditário significativo. Assim, segundo um estudo de McManus & Bryden, dois progenitores
dextros têm menor probabilidade de terem um filho esquerdino (9,5%), do que se um dos pais
(19,5%) ou os dois (26,1%) forem esquerdinos. Desconhece-se, no entanto, o verdadeiro peso da
componente genética em relação à influência ambiental (por imitação ou por ensino propositado
dos pais) (8)."
Na Idade da Pedra, a escrita era feita com o apoio do escopro seguro pela mão esquerda e
batido com o martelo pela mão direita, e que levou a que os primeiros alfabetos se escrevessem da
direita para a esquerda, como ainda o são o árabe e o hebreu, línguas nas quais a escrita com a mão
esquerda está mais facilitada. Por contraste, o alfabeto Latino, escrito da esquerda para a direita, está
mais adaptado à escrita com a mão direita (9).
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Ao longo da História, os esquerdinos têm sido alvo de considerável discriminação. A
conotação negativa da “esquerda” remonta ao proto Indo-Europeu (3000 a.C.), idioma precursor
de todas as línguas latinas, que não tinha qualquer palavra para designar este lado (1). Em 1903,
Cesare Lombroso, um dos pais da Criminologia, associava a lateralidade esquerda à criminalidade,
insanidade e atraso mental (10). Em 1946, Blau definia a preferência manual esquerda como “um
sintoma neurótico (…), um dos sinais de uma psico-neurose infantil”. Em 1960, Hertz afirmava: “Um dos
sinais que distingue uma criança bem-educada é de que a sua mão esquerda se tornou incapaz de qualquer acção
independente” (3). Este sentido pejorativo de tudo o que se relaciona com o lado esquerdo está
patente na própria linguagem: no Latim, a palavra sinistra refere-se à esquerda, mas também ao
Diabo e ao azar, tendo este duplo significado permanecido nas línguas europeias derivadas do
Latim, como o Inglês ou o Português, como atestam os sinónimos de esquerdino canhoto6 e
sinistro7. Ao invés, o lado direito, está associado a correcção, rectidão, justiça e destreza (11). O
termo ambidextro (“ser dextro em ambas as mãos”) e, o menos usado, ambissinistro (“dejajeitado
nos dois lados”, mais reforçam as conotações comummente atribuídas a estas palavras. Apesar de
tudo, actualmente parece haver uma maior aceitação dos esquerdinos na maioria das sociedades (2).
Também são encontrados exemplos de conotações positivas associadas à lateralidade
esquerda, nomeadamente entre os Incas, e actualmente entre os indígenas dos Andes - onde está
associada a capacidades espirituais, incluindo a magia e a cura – e no Budismo – representando a
sabedoria.
Com o advento da Epidemiologia moderna, na segunda metade do século XX, foram
efectuados estudos que demonstraram uma associação estatisticamente significativa entre ser-se
esquerdino e ter doenças como alergias, enxaqueca, dislexia, gaguez, malformações esqueléticas,
patologia tiroideia e outras doenças auto-imunes, e ainda patologia psiquiátrica como esquizofrenia
(12). Com estes dados, Geschwind e Galaburda, em 1984, propuseram um modelo de
desenvolvimento da lateralidade esquerda, segundo o qual os níveis de algumas hormonas durante a
gravidez (nomeadamente a testosterona) influenciariam, tanto a organização dos hemisférios
cerebrais, como a génese de outros órgãos como o timo e tiróide (13). Em 1988, Halpern e Coren,
com bastante polémica, afirmaram que em média os dextros vivem mais 9 anos que os esquerdinos
(14), tendência que tem sido corroborada por outros estudos (15). Contudo, esta diferença de
longevidade não é unânime, já que alguns autores defendem que a menor prevalência de
esquerdinos nos idosos se deve a uma maior frequência de alteração forçada da preferência manual
(2).
6 Desajeitado, acanhado, demónio (“Cruzes Canhoto”) in Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (11). 7 Que pressagia desgraça, infunde receio, ameaçador, que revela malvadez, lúgubre, sombrio; desastre, prejuízo de enormes dimensões in Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (11).
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Nos últimos 5 anos, com o recurso adicional a técnicas de Biologia Molecular, foram
demonstradas algumas das associações acima citadas, nomeadamente com alguns tipos de
esquizofrenia, esclerose múltipla, dislexia e algumas neoplasias (16; 17; 18; 19; 20).
No entanto, muitos dos estudos referidos têm sido alvo de diversas críticas. A existência de
vários viezes, como a inconsistência nas formas de classificação da lateralidade, a escassa análise
acerca da frequência de “esquerdinos corrigidos” durante a infância, ou mesmo o viés de publicação
(estudos com resultados positivos são mais publicados), têm posto em causa a sua validade (2).
Certos autores, como Perelle e Ehrman, defendem a existência de vários sub-grupos de
esquerdinos: 1) esquerdinos “patológicos”, isto é, aqueles que sofreram uma lesão no hemisfério
esquerdo durante o seu desenvolvimento (daí a maior prevalência de doenças do foro
neuropsiquiátrico); 2) esquerdinos “naturais”, com dominância do hemisfério direito sem nenhum
dano prévio; 3) esquerdinos “adquiridos”, que embora tenham dominância do hemisfério esquerdo,
começaram a utilizar a mão esquerda por mero acaso (3).
Actualmente, o ambiente físico e estrutural está planeado e construído maioritariamente para
dextros, por ser o grupo mais prevalente. Assim, desde os objectos de escritório aos instrumentos
musicais, passando pelos automóveis, acessos a edifícios e sua arquitectura, bem como outras infra-
estruturas, podem implicar dificuldades quotidianas para os esquerdinos. De facto, há provas da
existência de uma maior vulnerabilidade destes, nomeadamente nos acidentes domésticos e de
trabalho (21; 22; 23). A lateralidade esquerda está associada ainda a limitações, por vezes graves, no
desempenho de algumas profissões (cirurgiões, dentistas) (23; 24).
Contudo, ser esquerdino também parece ter algumas vantagens (8). Por exemplo, no campo
profissional, aonde um estudo verificou que os homens esquerdinos auferiam rendimentos mais
elevados do que os dextros (25). Também nas artes, os esquerdinos parecem ser mais criativos do
que os dextros (26), e existem dados a favor de uma maior proporção de esquerdinos entre os
músicos do que na população em geral (27). Já no campo desportivo, naquelas modalidades como o
ténis ou a esgrima em que existe interacção com um adversário, a preferência manual esquerda
parece ser uma vantagem. No ténis, a proporção de esquerdinos nos lugares cimeiros é muito mais
elevada do que aquela da população total de jogadores ou da população em geral (28). Por último,
pensa-se ainda na preferência manual esquerda como uma vantagem na luta corpo-a-corpo, levando
a um fenómeno de selecção natural, com preservação deste fenótipo ao longo da história (29).
No que diz respeito à população portuguesa, não existem dados referentes à caracterização
demográfica da lateralidade, nem à avaliação do impacte sócio-cultural. Desconhece-se se tem
havido evolução na educação para os esquerdinos, algum programa específico para prevenção de
acidentes ou acções contra a discriminação descrita anteriormente. O presente estudo pretende
abordar alguns destes aspectos.
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OBJECTIVOS
Objectivo Principal:
Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida
(quotidiano, saúde e profissional) dos esquerdinos.
Objectivos Secundários:
Caracterização da preferência manual na amostra, incluindo diferenças de lateralidade
associadas a sexo, idade, escolaridade.
Avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência manual nos vários grupos etários.
Aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação à preferência manual
esquerda.
Registar as principais dificuldades no quotidiano dos esquerdinos.
Verificar a existência de diferenças, designadamente entre os sexos, grupos etários e graus de
escolaridade.
METODOLOGIA
Tipo de estudo: Estudo descritivo e transversal.
População em Estudo: Indivíduos com mais de 14 anos de idade
Descrição da Amostra: Amostra de Conveniência da População Alvo
Critérios de Inclusão:
Idade superior ou igual a 15 anos
Presença no local e momento do questionário
Disponibilidade para responder ao questionário
Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita
Ausência de deficiência dos membros superiores
Critérios de Exclusão:
Questionários considerados insuficientemente preenchidos pelos investigadores,
designadamente aqueles em que não seja possível aproveitar respostas de nenhum apartado de
questões.
Critérios Éticos:
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Os investigadores negam qualquer conflito de interesses em relação a este estudo.
Processo da Colheita dos Dados:
Realização de questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual, constituído por
perguntas de escolha múltipla e resposta curta.
Será realizado um pré-teste.
Descrição das Variáveis
As variáveis a estudar incidirão sobre:
Caracterização sócio-demográfica (sexo, idade, escolaridade e profissão) dos inquiridos;
Avaliação da lateralidade (Edimburgh Handedness Inventory revisto por Stephen M. Williams)
(30) e mudança forçada de mão utilizada para escrever;
Avaliação da convivência com esquerdinos;
Avaliação das percepções acerca da qualidade de vida dos esquerdinos (dificuldades em
tarefas e manuseamento de objectos em casa, na escola ou no trabalho; saúde e relações
inter-pessoais, eventuais profissões, felicidade, etc);
Satisfação com dominância manual.
CRONOGRAMA
Mês Março
Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Apresentação e aprovação do protocolo
Pesquisa bibliográfica
Planificação do questionário
Formação Epinfo
Recolha de dados
Processamento de dados e edição do artigo
Aula de formação (edição do artigo)
Entrega do artigo
Aula de preparação das comunicações
Comunicações científicas
Entrega do Dossier de Investigação
Sessão Final
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 24 DE 79
BIBLIOGRAFIA
1. Wright, Ed. Left-handed History of the World. s.l. : Murdoch Books, 2007. 2. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and
Handedness. Epidemiology. 2007, Vol. 18, pp. 191-193. 3. Perelle, IB e Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350. 4. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection.
Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272, pp. 25-28. 5. Harris, LJ. Lateralised sex differences: substrate and signifficance. Behav Brain Sci. 1980, Vol. 3,
pp. 236-7. 6. Siengthai, B, Kritz-Silverstein, D e Barrett-Connor, E. Handedness and Cognitive Function
in Older Men and Women: A Comparison of Methods. J Nutr Health Aging. 2008, Vol. 12 (9), pp. 641-7.
7. Basso, Olga, et al. Handedness and Mortality: A Follow-Up Study of Danish Twins Born between 1900 and 1910. Epidemiology. 2000, Vol. 11 (5), pp. 576-9.
8. V Llaurens, M Raymond, C Faurie. Why are some people left-handed? An Evolutionary Perspective. Phil. Trans. R. Soc. B. 2009, Vol. 364, pp. 881-894.
9. http://en.wikipedia.org/wiki/Left-handedness. [Online] 10. Kushner, Howard. The art of medicine - Cesare Lombroso and the pathology of left-
handedness. The Lancet. 2011, Vol. 377, pp. 118-9. 11. Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa. s.l. : Editorial Verbo, 2001. 12. N Geschwind, PO Behan. Left-handedness: Association with immune disease, migraine, and
developmental. Proc. Natl Acad. Sci. USA. 1982, Vol. 79, pp. 5097-5100. 13. N Geschwind, AM Galaburda. Cerebral Dominance. Cambridge : Harvard University Press,
1984. pp. 211-224. 14. DF Halpern, S Coren. Do Right-handers live longer? Nature. 1988, Vol. 333, p. 213. 15. Aggleton, John P, Kentridge, Robert W and Neave, Nicholas J. Evidence for longevity
differences between left handed and right handed men: an archival study of cricketers. J Epidemiol Community Health. 1993, Vol. 47, pp. 206-209.
16. Francks, C e et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.
17. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592.
18. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687.
19. Bryden, PJ, Bruyn, J e Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440.
20. Scerri, Thomas S e et, al. PCSK6 is associated with handedness in individuals with dyslexia. Human Molecular Genetics. 2011, Vol. 20, pp. 608-614.
21. Hassan, F O. Hand dominance and gender in forearm fractures in children. Strat Traum Limb Recon. 2008, Vol. 3, pp. 101-103.
22. Skalkidou, A, et al. Risk of upper limb injury in left handed children: a study in Greece. Injury Prevention. 1999, Vol. 5, pp. 68-71.
23. Flatt, A E. Is being left-handed a handicap? The short and useless answer is "yes and no". Proc (Bayl Univ Med Cent). 2008, Vol. 21(3), pp. 304-307.
24. Adusumilli, P S, et al. Left-handed surgeons: are they left out? Curr. Surg. 2004, Vol. 61(6), pp. 587-91.
25. Denny, K. and O’Sullivan, V. The economic consequences of being left-handed: some sinister results. J. Hum. Resour. 2007, Vol. 42, pp. 353-374.
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26. Newland, G Anthony. Differences between left- and righthanders on a measure of creativity. Percept. Motor Skills. 1981, Vol. 53, pp. 787-792.
27. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156.
28. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119.
29. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28.
30. Oldfield, R. C. The assessment and analysis of handedness: The Edinburgh inventory. Neuropsychologia. 1971, Vol. 9, pp. 97-113.
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O Direito a Ser EsquerdinoAnálise das Percepções, Conhecimentos e Atitudes
sobre a Qualidade de Vida dos Esquerdinos
Faculdade de Ciências Médicas
Departamento de Saúde Pública
Regente: Prof. Doutor Jorge Torgal
Coordenação: Prof. Doutor Mário Cordeiro
Ana Rita Francisco, Carolina Almeida, David Navarro Dias, Francisco Vilaça, João Pinto, Pedro Garrido, Pedro Viana
Turma 7
Lisboa, 1 de Março de 2011
– Sumário –
Introdução
Objectivos
Metodologia
Cronograma
Bibliografia
M. C. Escher
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– Introdução –
• 10% da População
• ♂ > ♀
• Prevalência < idosos
• Constante ao longo da História• Variações Geográficas
Japão – 5%Tribo Yanomamo – 23%
Viés Cultural?Menor Longevidade?
Esquerdino: s.m. quem tem maior habilidade com o lado esquerdo do corpo
– Introdução –
• Factores Genéticos
• Factores do Desenvolvimento• Níveis hormonais durante a gravidez• Stress peri-natal
• Factores Culturais
Etiologia
V. Laurens et al. 20118
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– Introdução –
• > prevalência de:
AlergiasEnxaquecaMalformações EsqueléticasDoenças Auto-ImunesPatologia Neuro-Psiquiátrica
• Genes ligados a lateralidade esquerda e:
Dislexia (PCSK6)Esquizofrenia (LRRTM1)
• Dificuldades Quotidianas
• Maior número de acidentes
• Limitações Profissionais
Morbi-Mortalidade Aumentada?
– Introdução –
“Um dos sinais que distingue uma criança bem-educada é de que a sua mão esquerda se tornou incapaz de qualquer acção
independente”Robert Hertz, 1907
Canhoto: Desajeitado, acanhado, demónio (fig.)Sinistro : Que pressagia desgraça, infunde receio, ameaçador, que revela malvadez…
Pressão Social - Escrita forçada com a mão direita
Discriminação ao Longo da História…
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– Introdução –
• Status Socio-Económico• Música• Desportos Interactivos• Luta
Vantagens
– Introdução –
Não existem estudos epidemiológicos realizados em Portugal
• Qual o impacte socio-cultural na sociedade Portuguesa?
• Como tem sido a evolução na educação para os esquerdinos?
• Que atitudes são tomadas na prevenção de acidentes?
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– Objectivos –
Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes da populaçãosobre a qualidade de vida (quotidiano, saúde e profissional) dosesquerdinos.
Objectivo Principal
– Objectivos –
Objectivos Secundários
Caracterização da preferência manual na amostra, incluindodiferenças de lateralidade associadas a sexo, idade, escolaridade.
Avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência manual nosvários grupos etários.
Aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação àpreferência manual esquerda.
Registar os principais problemas no quotidiano dos esquerdinos.
Verificar a existência de diferenças, designadamente entre os sexos,grupos etários e graus de escolaridade.
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– Metodologia –
Tipo de Estudo – Descritivo e TransversalPopulação em Estudo – Indivíduos com mais de 14 anos de idadeDescrição da Amostra – Amostra de Conveniência da População-Alvo
Critérios de Inclusão• Idade ≥ 15 anos• Presença no local e momento do questionário• Disponibilidade para responder ao questionário• Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita• Ausência de deficiência dos membros superiores
Critérios de Exclusão• Questionários considerados insuficientemente preenchidospelos investigadores, designadamente aqueles em que não sejapossível aproveitar respostas de nenhum apartado de questões.
– Metodologia –
Colheita de Dados
• Questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual
• Pré-teste
Descrição das Variáveis
• Caracterização sócio-demográfica dos inquiridos;
• Avaliação da lateralidade (Edimburgh Handedness Inventory revisto porStephen M. Williams) e mudança forçada de mão utilizada para escrever;
• Avaliação da convivência com esquerdinos;
• Avaliação das percepções acerca da qualidade de vida dos esquerdinos(dificuldades em tarefas, manuseamento de objectos, saúde)
• Satisfação com dominância manual.
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– Cronograma –
– Bibliografia –
1. Wright, Ed. Left-handed History of the World. Murdoch Books, 2007.2. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and Handedness. Epidemiology.
2007, Vol. 18, pp. 191-193.3. Perelle, IB e Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350.4. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005,
Vol. 272, pp. 25-28.5. Harris, LJ. Lateralised sex differences: substrate and signifficance. Behav Brain Sci. 1980, Vol. 3, pp. 236-7.6. Siengthai, B, Kritz-Silverstein, D e Barrett-Connor, E. Handedness and Cognitive Function in Older Men and
Women: A Comparison of Methods. J Nutr Health Aging. 2008, Vol. 12 (9), pp. 641-7.7. Basso, Olga, et al. Handedness and Mortality: A Follow-Up Study of Danish Twins Born between 1900 and 1910.
Epidemiology. 2000, Vol. 11 (5), pp. 576-9.8. V Llaurens, M Raymond, C Faurie. Why are some people left-handed? An Evolutionary Perspective. Phil. Trans. R.
Soc. B. 2009, Vol. 364, pp. 881-894.9. http://en.wikipedia.org/wiki/Left-handedness. [Online]10. Kushner, Howard. The art of medicine - Cesare Lombroso and the pathology of left-handedness. The Lancet. 2011,
Vol. 377, pp. 118-9.11. Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa. s.l. : Editorial Verbo, 2001.12. N Geschwind, PO Behan. Left-handedness: Association with immune disease, migraine, and developmental. Proc.
Natl Acad. Sci. USA. 1982, Vol. 79, pp. 5097-5100.13. N Geschwind, AM Galaburda. Cerebral Dominance. Cambridge : Harvard University Press, 1984. pp. 211-224.14. DF Halpern, S Coren. Do Right-handers live longer? Nature. 1988, Vol. 333, p. 213.15. Aggleton, John P, Kentridge, Robert W and Neave, Nicholas J. Evidence for longevity differences between left
handed and right handed men: an archival study of cricketers. J Epidemiol Community Health. 1993, Vol. 47, pp. 206-209.
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– Bibliografia –
16. Francks, C e et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.
17. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592.
18. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687.19. Bryden, PJ, Bruyn, J e Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different
handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440.20. Scerri, Thomas S e et, al. PCSK6 is associated with handedness in individuals with dyslexia. Human Molecular
Genetics. 2011, Vol. 20, pp. 608-614.21. Hassan, F O. Hand dominance and gender in forearm fractures in children. Strat Traum Limb Recon. 2008, Vol. 3, pp.
101-103.22. Skalkidou, A, et al. Risk of upper limb injury in left handed children: a study in Greece. Injury Prevention. 1999, Vol.
5, pp. 68-71.23. Flatt, A E. Is being left-handed a handicap? The short and useless answer is "yes and no". Proc (Bayl Univ Med Cent).
2008, Vol. 21(3), pp. 304-307.24. Adusumilli, P S, et al. Left-handed surgeons: are they left out? Curr. Surg. 2004, Vol. 61(6), pp. 587-91.25. Denny, K. and O’Sullivan, V. The economic consequences of being left-handed: some sinister results. J. Hum.
Resour. 2007, Vol. 42, pp. 353-374.26. Newland, G Anthony. Differences between left- and righthanders on a measure of creativity. Percept. Motor Skills.
1981, Vol. 53, pp. 787-792.27. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of
Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156.28. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119.29. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection.
Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28.
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Questionário sobre dextros e canhotos
Somos finalistas de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e estamos a fazer um estudo na área da Saúde Pública sobre diferenças e semelhanças entre dextros e canhotos. O preenchimento demorará cerca de 5 minutos. Este questionário é individual e anónimo. Muito obrigado pelo tempo que nos dispensou.
1) Idade _____
2) Sexo □ Masculino □ Feminino
3) Considera-se dextro ou canhoto? □ Dextro □ Canhoto □ Ambidextro
4) Qual acha ser a percentagem de canhotos na população portuguesa? _____
5) Acha que ser canhoto causa dificuldades no dia-a-dia? □ Sim □ Não
6) Qual a sua profissão? ____________________________
7) Anos de Escolaridade: □ Até à 4ª classe □ 4ª classe completa □ 6º ano completo □ 9º ano completo □ 12º ano completo □ Licenciatura □ Superior a licenciatura
8) Aprendeu a escrever em Portugal? □ Sim □ Não
9) Os seus pais/professores obrigavam-no a escrever com a mão direita? □ Sim □ Não □ Não me lembro
10) Acha que os pais/professores devem insistir com os canhotos para escreverem com a mão direita? □ Sim □ Não
11) Na sua família:
Canhoto Dextro
Não sei/Não se aplica
Pai □ □ □
Mãe □ □ □
Cônjuge □ □ □
Número total de irmãos _____ Número de irmãos canhotos _____ Número total de filhos ______ Número de filhos canhotos______
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12) Que mão utiliza para:
Sempre a
esquerda
Geralmente
a esquerda As duas
Geralmente
a direita
Sempre a
direita
Escrever □ □ □ □ □
Atirar uma bola □ □ □ □ □
Segurar a colher da sopa □ □ □ □ □
Pegar na faca para cortar o
pão □ □ □ □ □
Segurar na escova dos
dentes □ □ □ □ □
Pegar num fósforo para
acender □ □ □ □ □
Usar o rato do computador □ □ □ □ □
Cortar com uma tesoura □ □ □ □ □
13) Acha que, nas tarefas do dia-a-dia, os canhotos têm:
Mais
dificuldades Iguais Vantagens
Cortar com tesoura □ □ □
Escrever à mão □ □ □
Usar um abre-latas □ □ □
Usar máquina fotográfica □ □ □
Usar o computador □ □ □
Apagar com uma borracha □ □ □
Pregar um prego □ □ □
Ligar o micro-ondas □ □ □
Passar a ferro □ □ □
Ler os sinais de trânsito □ □ □
Mudar uma lâmpada □ □ □
Artes marciais - boxe, esgrima, capoeira □ □ □
Pagamentos na estrada - portagens □ □ □
14) Diga, pensando na população de canhotos e dextros, quem:
Canhotos Dextros Iguais
É mais organizado □ □ □
É mais desajeitado □ □ □
É mais inteligente □ □ □
É mais criativo □ □ □
Tem mais sucesso no amor □ □ □
Tem mais amigos □ □ □
É melhor líder □ □ □
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15) Na sua opinião, quem: Canhoto Dextro Igual
Vive mais tempo □ □ □
Tem mais acidentes de trabalho □ □ □
Tem mais acidentes de carro □ □ □
Tem mais cancros □ □ □
Tem mais depressões □ □ □
Tem mais ataques cardíacos □ □ □
16) Na sua opinião, quem: Canhoto Dextro Igual
Arranja trabalho com maior facilidade □ □ □
Tem mais sucesso no trabalho □ □ □
Tem maior taxa de desemprego □ □ □
Falta mais ao emprego □ □ □
Convidava para trabalhar consigo □ □ □
Pedia para tomar conta do seu bebé □ □ □
17) Nas seguintes profissões, quem, à partida, é melhor? Canhoto Dextro Igual
Mulher de limpeza □ □ □
Arquitecto □ □ □
Político □ □ □
Piloto de avião □ □ □
Jogador de ténis □ □ □
Futebolista □ □ □
Pianista □ □ □
Técnico de informática □ □ □
Militar □ □ □
Escritor □ □ □
Pedreiro □ □ □
Escultor □ □ □
Professor de matemática □ □ □
Na sua própria profissão □ □ □
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18) Preferia ser atendido por: Canhoto Dextro Igual
Médico de família □ □ □
Cirurgião □ □ □
Enfermeiro □ □ □
Técnico para tirar sangue □ □ □
Dentista □ □ □
Barbeiro / Cabeleireiro □ □ □
19) [Só para CANHOTOS]
Sim Não
Preferia ser dextro? □ □
Na escola, alguma vez sentiu
dificuldades por ser canhoto? □ □
Se sim, recebeu alguma ajuda dos
professores/colegas? □ □
20) [Só para DEXTROS]
Sim Não
Preferia ser canhoto? □ □
21) Quando pensa nas seguintes palavras, qual é que lhe sugere, em termos de
canhotos, dextros ou nenhum?
Canhotos Dextros Nenhum
Direito □ □ □
Sinistro □ □ □
Azarado □ □ □
Certo □ □ □
Correcto □ □ □
Torto □ □ □
Diabólico □ □ □
22) Acha que deveria haver um programa do Ministério da Saúde só para canhotos?
□ Sim
□ Não
□ Não sei
MUITO OBRIGADO!
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O D I R E I T O A S E R E S Q U E R D I N O
A N Á L I S E D E P E R C E P Ç Õ E S , C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S S O B R E A Q U A L I D A D E D E V I D A D E E S Q U E R D I N O S
Francisco AR*, Almeida C*, Navarro DB*, Pinto JS*, Lopes FV*, Garrido PA*, Viana PF* e Cordeiro M# *Alunos do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
#Professor Auxiliar-Convidado de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Departamento de Saúde Pública Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa, Portugal
RESUMO
Introdução: A lateralidade esquerda, estimada em 10% na população mundial, tem sido objecto de estudo em várias áreas científicas. Factores que caracterizam este grupo populacional, minoritário relativamente à população dominante, a dextra, incluem: uma maior prevalência de acidentes mortais e a associação com determinadas doenças, bem como a ocorrência de discriminação e pressões sociais para alterar a preferência manual em algumas actividades. A lateralidade esquerda associa-se também a dificuldades no dia-a-dia e no desempenho de algumas profissões (cirurgião, dentista). Reconhecem-se, no entanto, algumas vantagens em áreas artísticas e desportos interactivos. Este estudo teve como objectivo determinar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu caracterizar a lateralidade da amostra e avaliar o grau de alteração forçada da preferência manual para a escrita. Métodos: Foi realizado um questionário de auto-preenchimento, dirigido a indivíduos de idade igual ou superior a 15 anos, distribuído em Lisboa, Porto e Leiria. Foi utilizado o Questionário de Edinburgh para determinação da lateralidade. Resultados: Dos 1.029 inquiridos, 868 (85%) foram classificados como dextros, 78 (7,6%) como esquerdinos e 75 (7,3%) como ambidextros. Houve associação entre o reconhecimento de dificuldades específicas do quotidiano (utilizar uma tesoura - 501; 49,3%; um abre-latas - 465; 45,9%; e máquina fotográfica - 435; 42,7%), e o facto de ser esquerdino ou ter esquerdinos na família próxima (p<0,05). 26,5% dos inquiridos referiram que os esquerdinos tinham mais acidentes de trabalho. 16,8% e 13,8% dos inquiridos referiram o melhor desempenho dos esquerdinos nas profissões “futebolista” e “jogador de ténis”, respectivamente, enquanto 15,2% da amostra referiu que um dextro seria um melhor “piloto de avião”. 9,0% dos inquiridos prefeririam ser tratados por um cirurgião dextro (associação com a idade e escolaridade, p<0,05). 15,5% dos inquiridos referem ter sido obrigados a escrever com a mão direita. Discussão: Em geral, parece haver um baixo reconhecimento das dificuldades sentidas pelos esquerdinos no quotidiano e no trabalho. Parece também haver um grau de discriminação residual para com a lateralidade esquerda (associada a idade mais avançada). Há ainda um diminuto reconhecimento de vantagens em algumas profissões. Palavras-chave: Lateralidade, Esquerdinos, Qualidade de Vida, Alteração da preferência manual.
ABSTRACT
THE RIGHT TO BE LEFT-HANDED: EVALUATION OF PERCEPTIONS, KNOWLEDGE & ATTITUDES TOWARDS LEFT-HANDED PEOPLE IN DAILY LIFE
Introduction: Left-Handedness, which represents about 10% of the world’s population, has been a subject of study in several scientific areas. Distinguishing features associated with this particular population include: a greater prevalence of fatal accidents and the association with several diseases, as well as discrimination and social pressures in order to switch handedness in some activities. There is also a link between left-handedness and difficulties in
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everyday activities and in some professions (surgeons, dentists). Several advantages have been pointed out, however, notably regarding art and interactive sports. The aim of the present study was to determine perceptions, knowledge and attitudes of the population towards the quality of life of left-handed people. On a second level, it was our intention to classify the laterality of our sample, and evaluate the degree of forced hand switching for writing. Methods: This was a cross-sectional study. A written survey was conducted, towards individuals aged 15 or more, in the Portuguese cities of Lisboa, Porto and Leiria. The Edinburgh Handedness Inventory was used to determine laterality. Results: From the total of 1,029 respondents, 868 (85%) were classified as right-handed, 78 (7,6%) as left-handed and 75 (7,3%) as mixed-handed. The recognition of specific daily difficulties (using scissors n=501; 49,3%; using a can-opener - 465; 45,9%; using a photographic camera - 435; 42,7% ) was associated with being left-handed and with the presence of left-handedness in the close-related family (p<0,05). 26,5% of the respondents referred a greater prevalence of work-related accidents among the left-handed. 16,8% and 13,8% of the respondents associated left-handedness with better performance as a “football player” and “tennis player”, respectively, while 15,2% of the sample referred that an “aircraft pilot” would perform better if right-handed. 9,0% of the respondents said they would prefer being treated by a right-handed surgeon (association with age and level of education, p<0,05). 15,5% referred having been forced to switch hand preference regarding writing. Discussion: Overall, there appears to be a low acknowledgement of the daily and work-related difficulties of the left-handed. There is also a residual level of discrimination towards this group (mainly associated with increasing age). Finally, there is a lack of knowledge concerning some of the advantages of being left-handed in the practice of some professions. Key Words: Laterality, Left-Handedness, Quality of Life, Switching Hand Preference
INTRODUÇÃO
A lateralidade é definida como “o uso preferencial,
em actos motores voluntários, dos componentes
ipsilaterais dos principais órgãos pares do corpo
(braço, ouvido, olho e perna)”1. O componente mais
estudado é a preferência manual, sobre o qual este
estudo incide.
Estima-se que cerca de 10% da população
mundial tenha preferência manual esquerda (sendo as
pessoas designadas esquerdinas ou, mais vulgarmente,
canhotas)2-4, registando-se algumas variações
geográficas2,5,6. Globalmente, a lateralidade à esquerda
é mais frequente no sexo masculino, havendo um
decréscimo da prevalência de esquerdinos declarados
com o aumento da idade7,8. A lateralidade esquerda
também tem um componente hereditário
significativo, desconhecendo-se, contudo, o
verdadeiro peso deste quando comparado com a
influência do ambiente familiar, escolar e social9.
A relativa minoria de esquerdinos, demonstrável
no ser humano desde o Paleolítico10, bem como a
diminuição da sua incidência na população idosa,
pode dever-se a uma menor esperança média de vida
(hipótese de eliminação) ou à existência de pressões
sociais e históricas para utilizar a mão direita (hipótese
de modificação)11.
Foi demonstrada uma menor longevidade na
população dos esquerdinos12,13, eventualmente
interligada com a associação entre a lateralidade
esquerda e o aumento de incidência de diversas
doenças como alergias, malformações esqueléticas,
doenças auto-imunes, patologia neuro-psiquiátrica (p.
ex. esquizofrenia) e algumas formas de cancro 3,13-18.
Além disso, a maior vulnerabilidade dos esquerdinos
para a ocorrência de acidentes, e sendo estes uma das
maiores causas de anos de vida perdidos na
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população jovem e a maior causa de anos perdidos no
chamado Mundo Ocidental, também pode contribuir
para a hipótese de eliminação19-22.
Ao longo da História, os esquerdinos têm sido
alvo de discriminação2,4. O sentido pejorativo
associado ao lado esquerdo está patente na própria
linguagem, como atestam os sinónimos de esquerdino
(desajeitado, acanhado, demónio) e sinistro (que
pressagia desgraça, infunde receio, revela malvadez,
sombrio; desastre)11. Ao invés, o lado direito está
associado a correcção, rectidão, justiça e destreza23.
Ainda no séc. XX, psicólogos, sociólogos e médicos
associavam a lateralidade esquerda à criminalidade,
insanidade e atraso mental24. A existência dos
referidos mitos e atitudes parece contribuir para a
ocorrência de alteração forçada da lateralidade
(principalmente para a escrita), tanto no ambiente
escolar como familiar25. Este fenómeno, cuja
frequência tem vindo a diminuir em algumas
sociedades26,27, parece apoiar a hipótese de diminuição
de prevalência por modificação.
No mundo em que vivemos, em consequência da
menor representação de esquerdinos, as infra-
estruturas e os instrumentos foram planeados e
construídos visando uma utilização por dextros.
Assim, desde os objectos de escritório aos
instrumentos musicais, passando pelos automóveis,
acessos a edifícios e sua arquitectura, a concepção
facilitadora para os dextros pode implicar dificuldades
quotidianas para os esquerdinos (para além da
ocorrência de acidentes já referida)19-21. A lateralidade
esquerda está associada ainda a limitações, por vezes
graves, no desempenho de algumas profissões
(cirurgiões, dentistas)21,28.
Contudo, ser esquerdino também parece ter
vantagens9. Existe uma correlação positiva entre a
lateralidade esquerda e a criatividade29. Também há
dados a favor de uma maior proporção de
esquerdinos entre profissões artísticas como a música,
do que na população em geral 29,30. Ainda no campo
profissional, um estudo verificou que os homens
esquerdinos auferiam rendimentos mais elevados do
que os dextros31. Já no campo desportivo, nas
modalidades como o ténis ou a esgrima, em que
existe interacção com um adversário, a preferência
manual esquerda parece ser uma vantagem32. Por
último, pensa-se ainda na preferência manual
esquerda como uma vantagem na luta corpo-a-
corpo33. No entanto, muitos dos estudos referidos
têm sido alvo de diversas críticas, uma das quais é a
inconsistência na determinação e classificação da
lateralidade. A determinação baseada em
questionários (Lateralidade Auto-descrita,
Questionário de Edinburgh, Questionário de Annett)
e os testes de desempenho têm níveis de
concordância distintos3,4,16,34.
Em Portugal, desconhece-se o nível de
esclarecimento da população acerca das dificuldades
encontradas pelos esquerdinos a nível quotidiano,
profissional e escolar. Não existem dados acerca das
atitudes e das pressões sociais exercidas em Portugal.
Para lá disso, o número de estudos de caracterização
da lateralidade em Portugal são escassos35,36.
O objectivo principal deste estudo foi avaliar
percepções, conhecimentos e atitudes de uma
população em Portugal acerca da qualidade de vida
dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu-se
caracterizar a preferência manual da amostra obtida,
avaliar a prevalência da alteração forçada da
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
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preferência manual, aferir a persistência de pressões
sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e
registar eventuais dificuldades no quotidiano dos
mesmos.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo observacional, descritivo
e transversal. Seleccionou-se uma amostra de
conveniência, constituída por indivíduos com idade
igual ou superior a 15 anos. Determinou-se este limite
com vista a poder incluir inquiridos ainda em idade
escolar, mas com maturidade suficiente para
compreender o questionário.
A recolha dos dados foi realizada através de um
questionário anónimo, individual e de auto-
preenchimento, distribuído entre os dias 4 e 13 de
Março de 2011, em diversos locais públicos das
cidades de Lisboa, Porto e Leiria.
Foram incluídos indivíduos presentes e
disponíveis no local e momento do questionário, com
conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita.
Foram excluídos questionários considerados pelos
investigadores como insuficientemente preenchidos.
O questionário incidiu sobre dados sócio-
demográficos dos inquiridos (sexo, idade,
escolaridade e profissão) e sobre conhecimentos,
percepções e atitudes acerca dos esquerdinos, nos
domínios do quotidiano, trabalho, saúde, escola e
personalidade.
Para avaliação da lateralidade usou-se o
Questionário de Edinburgh37 (Edinburgh Handedness
Inventory) revisto por Stephen M. Williams38, e
traduzido para português pelos investigadores.
Para análise e tratamento estatístico dos dados
utilizou-se o Programa Microsoft Excel 2010®. Para
as variáveis ordinais foi calculada a frequência, média,
moda e mediana. Foi avaliada a associação entre
variáveis através dos testes χ2 (Qui-quadrado) e teste
de Fisher, com um nível de significância estabelecido
de p<0,05.
RESULTADOS
Recolheram-se 1.046 questionários, dos quais 17
foram excluídos por preenchimento considerado
insuficiente, de acordo com os critérios de exclusão
pré-definidos no protocolo do estudo, pelo que a
amostra final foi de 1.029 inquiridos.
I – DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS:
A amostra era constituída por 583 indivíduos do sexo
feminino (56,7%) e 445 indivíduos do sexo masculino
(43,3%).
As idades estavam compreendidas entre 15 e os 84
anos, com uma média de 33,5 anos, mediana de 29 e
moda de 23 (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição da amostra por escalões etários:
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
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A distribuição dos inquiridos de acordo com o
nível da escolaridade é apresentada no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Distribuição da amostra por escolaridade:
II – AVALIAÇÃO DA LATERALIDADE:
No que diz respeito à lateralidade auto-descrita
(LA), 870 (84,6%) inquiridos declararam-se “dextros”,
112 (10,9%) “canhotos” e 46 (4,4%) “ambidextros”
(Gráfico 3).
Gráfico 3 – Lateralidade auto-descrita:
Já na lateralidade avaliada pelo Questionário de
Edinburgh (Lateralidade Edinburgh – LE), 868 (85%)
inquiridos foram classificados como “dextros”, 78
(7,6%) como “canhotos” e 75 (7,3%) como
“ambidextros”.
Não se verificou associação estatisticamente
significativa entre LE e sexo, idade ou escolaridade.
O grau de concordância entre LA e LE foi de
90,8% (percentagem de respostas idênticas em LA e
LE). Contudo, 19 (25,3%) dos ambidextros LE
tiveram LA concordante, contra 19 (92,3%) e 835
(96,2%) dos esquerdinos e dos dextros,
respectivamente. O Gráfico 4 demonstra a relação
entre os resultados da LA e da LE.
Gráfico 4 – Relação entre a lateralidade referida e a avaliada:
Verificou-se que a lateralidade discordante (entre
LA e LE) é menor entre as pessoas que escrevem
sempre com a mão direita (por oposição às que
escrevem sempre com a esquerda), havendo uma
associação estatisticamente significativa entre
lateralidade discordante e a mão utilizada para
escrever.
Para o subsequente cruzamento de dados, foi
utilizado o resultado de LE.
Dos inquiridos, 774 (76,0%) não tinham “canhotos”
na família próxima (pais, irmãos, filhos ou cônjuge),
189 (18,5%) tinham um, 38 (3,7%) tinham dois e 18
870 (84,6%)
46 (4,4%)
112 (10,9%)
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
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(1,8%) tinham três ou mais. Dos esquerdinos, 30
(38,5%) afirmaram ter outros membros “canhotos” na
família, contra 188 (21,9%) dos dextros (Gráfico 5).
Gráfico 5 – Distribuição do número de esquerdinos na família de acordo com a LE.
Verifica-se uma associação estatisticamente
significativa entre a LE e o número de esquerdinos na
família, p<0,05.
III – PERCEPÇÕES
III.I – Quotidiano No que diz respeito à pergunta “Acha que ser
canhoto causa dificuldades no dia-a-dia?”, 335 (32,8%) dos
inquiridos responderam que sim, e 679 (67,0%)
responderam que não. Dos dextros, 297 (34,4%)
consideravam que os “canhotos” têm mais dificuldades,
contra 16 (20,8%) esquerdinos que achavam que ser
“canhoto” causa dificuldades no dia-a-dia (Gráfico 6).
Gráfico 6 – “Acha que ser canhoto causa dificuldades no dia-a-dia?”
Demonstrou-se uma associação estatisticamente
significativa entre o achar que “ser canhoto causa
dificuldades” e a lateralidade, p<0,05. Não houve
associação estatisticamente significativa entre o
número de esquerdinos na família e o achar que “ser
canhoto causa dificuldades no dia-a-dia”.
Na pergunta “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-
dia os canhotos têm mais dificuldades, mais vantagens ou é
igual?” (Gráfico 7), as actividades apontadas como
conferindo mais desvantagens foram o
manuseamento de tesouras (n=501; 49,3%), “usar
abre-latas” (n=465; 45,9%) e “usar a máquina fotográfica”
(n=435; 42,7%). No campo das vantagens, as duas
actividades que reuniram mais consenso foram
“pagamentos na estrada – portagens” (n=321; 31,6%) e
“prática de artes marciais” (boxe, esgrima e capoeira)
(n=196; 19,4%).
Gráfico 7 – “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-dia os canhotos têm mais dificuldades, mais vantagens ou é igual?”
No que diz respeito ao manuseamento da
“tesoura”, 46,8% (n=403) dos dextros achavam que
ser “canhoto” causa dificuldade, contra 68,8% (n=53)
dos esquerdinos. Em relação ao “pagamento nas
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 47 DE 79
portagens”, 30,3% (n=262) dextros e 40,8% (n=31)
esquerdinos consideraram que ser “canhoto” era uma
vantagem.
III.II – Saúde: Na pergunta “Na sua opinião quem vive mais tempo?”,
52 (5,1%) responderam ser os “dextros”, contra 8
(0,9%) que responderam ser os “canhotos”.
Dos inquiridos, 269 (26,5%) referiram que os
“canhotos” tinham mais “acidentes de trabalho” e 106
(10,5%) que estes tinham mais “acidentes de carro”
(Gráfico 8). Quando questionados sobre se achavam
que deveria haver um “programa do Ministério da Saúde
só para canhotos”, a maioria das pessoas, 670 (66,1%),
responderam “não”, enquanto 87 (8,6%) responderam
“sim”, e 256 (25,3%) a resposta “não sei”.
Gráfico 8 – Saúde: “Na sua opinião quem…?”
Responderam afirmativamente a esta pergunta 36
(7,0%) inquiridos com idades entre 15-29 anos, 23
(8,3%) entre os 30-44 anos e 28 (13,1%) acima dos 45
anos.
Verificou-se uma associação entre as respostas
afirmativas e a idade. Não se demonstrou, contudo,
associação com a lateralidade.
III.III – Profissão:
Quando questionados sobre quem julgavam que
arranjaria trabalho mais facilmente, 93 pessoas (9,2%)
responderam ser os “dextros” e 4 (0,4%) os “canhotos”.
Também um maior número de pessoas referiu que os
dextros têm mais “sucesso no trabalho”, 42 (4,2%),
contra 18 (1,8%). No que diz respeito à “taxa de
desemprego”, 12 inquiridos (1,2%) consideraram que
esta era maior nos “dextros”, e 45 pessoas (4,5%) que
era maior nos “canhotos”. Contudo, em todas as alíneas
a resposta mais frequente foi “igual” (Gráfico 9).
Gráfico 9 – A nível profissional: “Na sua opinião quem…?”
Os inquiridos foram questionados sobre quem
seria melhor numa lista de profissões, se o “canhoto”,
se o “dextro” ou se “igual” (Gráfico 10). Para cada uma
delas, a esmagadora maioria respondeu “igual”. A
diferença entre as pessoas que responderam “canhotos”
e “dextros” foi mais marcada no item “piloto de avião”,
na qual 154 pessoas (15,2%) referiram que um
“dextro” seria melhor piloto, contra 11 (1,1%) que
responderam ser o “canhoto”. O oposto verificou-se
com o item “futebolista” em que 37 inquiridos (3,7%)
referiram que os “dextros” eram melhores e 170
(16,3%) que eram os “canhotos”.
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 48 DE 79
Gráfico 10 – “Nas seguintes profissões, quem à partida é melhor?”
No que diz respeito ao “jogador de ténis”, este
foi o item que menor consenso reuniu (menor
número de respostas “igual”). Dos inquiridos, 99
(9,8%) referiram que um tenista “dextro” seria
melhor e, 140 (13,8%) referiram “canhoto”. Não se
verificou associação entre esta escolha e a lateralidade.
Na pergunta “Preferia ser atendido por…?” (Gráfico 11),
a maioria das pessoas responderam “igual”.
Exceptuando o “médico de família”, em que 10 pessoas
prefeririam ser tratadas por um “canhoto” e 9 por um
“dextro”, em todas as outras profissões o número de
respostas “dextro” mostrou-se superior às respostas
“canhoto”. A diferença de respostas foi mais evidente
no item “cirurgião”, em que 91 pessoas (9,0%)
prefeririam ser tratados por um “dextro”, enquanto 11
pessoas (1,1%) prefeririam o “canhoto”.
Gráfico 11 – “Preferia ser atendido por…?”:
Preferiam um “cirurgião dextro” 44 (8,4%) das
pessoas com idade igual ou inferior a 29 anos, 16
(5,7%) com idades compreendidas entre 30 e 44 anos
e 31 (22,8%) das pessoas com mais de 44 anos.
Verificou-se uma associação estatisticamente
significativa entre preferir um cirurgião dextro e a
idade.
III.IV – Escrita Forçada/Escola: Do número total de inquiridos, 158 (15,5%)
referiram ter sido forçados pelos pais ou professores
a escrever com a mão direita.
Verificou-se uma associação estatisticamente
significativa (p<0,05), entre a escrita forçada e a idade
dos inquiridos (Gráfico 12) e entre escrita forçada e a
discordância entre LA e LE.
De 1.015 respostas à pergunta “Acha que os pais /
professores devem insistir com os canhotos para escreverem com
a mão direita?”, 36 inquiridos (3,6%) responderam
afirmativamente. Destes, 16 (44%) foram forçados a
escrever com a mão direita. Verificou-se uma
associação estatisticamente significativa entre o ter
sido forçado e achar que se deve forçar as crianças a
escrever com a mão direita (p<0,05).
Gráfico 12 – “Os seus pais/professores obrigavam-no a escrever com a mão direita?”
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 49 DE 79
Quando se questionou o grupo dos esquerdinos
acerca da existência de “dificuldades sentidas na escola por
serem canhotos”, 54 (43,9%) responderam que “sim”,
dos quais 22 (40,7%) referiram ter sido ajudados
pelos colegas ou professores (Gráfico 13).
Gráfico 13 – “Só para canhotos:”
Não se verificou uma associação estatisticamente
significativa entre o ter tido dificuldades e a idade, e
entre o ter sido ajudado e a idade.
III.V – Personalidade: Quando se questionou a população de
esquerdinos se preferiam ser dextros, 8 (6,5%)
responderam que “sim”, contra 115 (93,5%) que
responderam que “não”. No grupo dos dextros, 37
(4,4%) responderam que preferiam ser “canhotos”, e
813 (95,6%) eram da opinião contrária (Gráfico 13).
O facto de querer mudar de lateralidade (em qualquer
um dos grupos) foi ainda associado, de modo
estatisticamente significativo, com o sexo, com uma
maior proporção de respostas afirmativas para os
homens 27 (6,1%) contra 18 (3,1%) das mulheres.
Não se verificou a existência de uma associação
entre ser esquerdino e ter tido sentido dificuldades na
escola, com o querer mudar de mão dominante.
Quando questionados acerca de uma lista de
percepções sobre características dos indivíduos
esquerdinos e dextros, a maioria das pessoas foi da
opinião que não havia diferenças (Gráfico 14). Os
adjectivos que foram atribuídos maioritariamente aos
esquerdinos foram “criativo” (21,3% “canhoto” e 1,7%
“dextro”, n=1011), “desajeitado” (17,6% “canhoto” e
4,0% “dextro”, n=1012) e “inteligente” (12,5% “canhoto”
e 1,0% “dextro”, n=1012).
Gráfico 14 – “Diga, pensando na população de canhotos e dextros quem…”:
Relativamente à opção “É melhor no desporto”, 125
(12,4%) responderam ser os “canhotos” e 64 (6,4%)
responderam ser os “dextros”.
Por outro lado, houve características mais
associadas aos dextros, como “organização” (6,9%
“canhotos” e 8,8% “dextros”, n=1011) e “liderança”
(2,8% “canhotos” e 3,6% “dextros”, n=1012).
Verificou-se uma associação estatisticamente
significativa entre as características “organização”,
“inteligência” e “criatividade” com a lateralidade.
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 50 DE 79
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
Com o presente estudo pretendemos, para a
população em estudo, analisar as percepções,
conhecimentos e atitudes sobre esquerdinos.
Secundariamente pretendemos efectuar a
caracterização demográfica da lateralidade na nossa
amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da
preferência manual, aferir a persistência de pressões
sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e
registar eventuais dificuldades no quotidiano dos
mesmos.
Os investigadores constataram uma quase total
disponibilidade da população para participar no
estudo, pelo que, não nos apercebemos de qualquer
viés de selecção dos inquiridos que possa
comprometer a análise dos resultados. As raras
recusas deveram-se a alegada falta de tempo. Tão-
pouco se registaram dificuldades na compreensão do
questionário.
Não surgiram conflitos de carácter ético ou
ideológico em nenhum dos intervenientes.
I – DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS:
O facto de a recolha de dados ter sido feita
maioritariamente em meio urbano, em locais
tipicamente frequentados por uma população jovem,
tais como centros comerciais, bibliotecas e
faculdades, pode justificar o predomínio dos grupos
etários mais jovens na nossa amostra. O mesmo se
aplica para a prevalência de indivíduos licenciados
(45,2%) e com formação superior a licenciatura
(22,2%), muito superior na nossa amostra do que na
população portuguesa (10,8%)39.
Quanto à distribuição por sexos, na nossa amostra
há uma maior prevalência de mulheres (57,0%) do
que na população portuguesa (51,7%)39. Para os
efeitos do nosso estudo, tal diferença não foi
considerada significativa.
Importa, no entanto, referir que o estudo de uma
amostra de conveniência implica sempre restrições na
interpretação dos seus resultados. Por não ser uma
amostra representativa da população portuguesa, as
conclusões, em rigor, dizem respeito apenas ao grupo
de inquiridos, não podendo ser extrapoladas para a
população em geral.
II – LATERALIDADE:
A distribuição das percentagens da Lateralidade
Auto-descrita (LA) está de acordo com dados de
estudos anteriores em relação à população mundial
(~10% de esquerdinos, <5% de ambidextros)2-4.
Contudo, na lateralidade avaliada pelo
Questionário de Edinburgh (LE), quando comparada
com a LA, a percentagem de esquerdinos foi menor,
enquanto o número de ambidextros foi maior.
Este facto pode dever-se a limitações na aplicação
do próprio Questionário na nossa amostra. A
tradução literal do inglês, bem como a sua adaptação
à cultura portuguesa (utilização do rato do
computador, por exemplo) podem ter dificultado a
interpretação correcta do mesmo pelos inquiridos.
Por outro lado, uma representação menor de
esquerdinos na nossa amostra poderá ser reflexo de
uma pressão social para a alteração da preferência
manual, eventualmente em toda a sociedade
portuguesa. Efectivamente, a diferença entre o
número de ambidextros LA (n=46) e LE (n=75)
pode traduzir a realização forçada de actividades com
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 51 DE 79
a mão direita, o que influencia a classificação pelo
Questionário.
Apesar do acima referido, a discordância entre LA
e LE está também descrita em estudos anteriores34. É
por essa razão que, em certos estudos, se
complementa a classificação da lateralidade com o
recurso a outros métodos, como testes de
desempenho.
A inexistência de associação entre a LE e a idade
(em desacordo com estudos anteriores)6,7 pode dever-
se à baixa percentagem de indivíduos idosos
inquiridos nesta amostra.
Em relação à presença de esquerdinos na família
próxima, a sua correlação positiva com a lateralidade
está de acordo com a transmissão desta característica
entre gerações, seja por factores genéticos ou por
influência ambiental (desconhecendo-se o verdadeiro
peso de cada factor)9.
III – PERCEPÇÕES
III.I – Quotidiano: Um terço da população da nossa amostra foi da
opinião de que ser esquerdino causa dificuldades no
dia-a-dia, estando esta resposta associada à
lateralidade. Isto é, foram os dextros quem mais
respondeu afirmativamente a esta pergunta. Havendo
dados bibliográficos21,32,33 que suportam a existência
de dificuldades no quotidiano dos esquerdinos, parece
haver um reconhecimento insuficiente destas na
nossa amostra. Importa também saber qual a razão
desta divergência de opinião associada à lateralidade
do inquirido. Esta pode dever-se a uma negação das
dificuldades por parte dos esquerdinos da nossa
amostra, ou ainda à sua superação, isto é, a um
fenómeno de resiliência.
Para melhor discriminar os conhecimentos sobre
dificuldades dos esquerdinos no quotidiano, pareceu-
nos relevante questionar os inquiridos em relação a
cada uma de 13 tarefas seleccionadas. Nestas
incluíram-se actividades em que os esquerdinos têm -
de acordo com a bibliografia21,32,33 – mais
dificuldades, vantagens, e ainda ausência de diferenças
em relação aos dextros.
Verificamos uma tendência geral para responder
que os esquerdinos têm mais dificuldades do que
vantagens, incluindo nas tarefas nas quais
teoricamente não há diferenças entre os dois grupos
(“pregar um prego” ou “apagar com uma borracha”).
Foram analisados os resultados para “cortar com
uma tesoura”, como um exemplo de uma actividade na
qual os esquerdinos têm mais dificuldades. Para esta
pergunta, há uma dependência estatística da resposta
seja com a lateralidade do inquirido, seja com a
existência de esquerdinos na sua família próxima.
Assim, na nossa amostra, são os dextros e as pessoas
sem esquerdinos na família quem menos responde
que “Cortar com uma tesoura” é uma tarefa na qual os
esquerdinos têm mais dificuldades. Logo, parece ser
importante o contacto próximo com esquerdinos para
conhecer as suas dificuldades quotidianas.
No que diz respeito às actividades “artes marciais” e
“pagamentos na estrada”, as respostas foram
concordantes com as vantagens dos esquerdinos,
descritas na bibliografia32,33. Importa referir que esta
resposta está associada de um modo estatisticamente
significativo com a lateralidade. Isto é, são os dextros
quem menos reconhece as vantagens dos
esquerdinos.
Em suma, embora o grupo dos dextros tenha
referido inicialmente achar que os esquerdinos tinham
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 52 DE 79
mais dificuldades no quotidiano, quando
confrontados com tarefas específicas, não
identificaram as reais dificuldades e vantagens dos
esquerdinos.
III.II – Saúde:
Das diversas áreas da Saúde analisadas no nosso
questionário, aquelas que um maior número de
inquiridos considerou desfavoráveis para os
esquerdinos foram os acidentes de trabalho e de
viação, conhecimento empírico que está em
consonância com a literatura científica22.
Verificamos, no entanto, que a maioria dos
inquiridos entendeu não haver diferenças entre
dextros e esquerdinos nos aspectos analisados. Este
facto, aliado à opinião geral de que um eventual
programa do Ministério da Saúde não é necessário,
sugere que, na nossa amostra, a lateralidade esquerda
não é vista como um problema de Saúde Pública.
III.III – Profissão:
Para analisar as opiniões relativas ao campo
profissional, perguntámos pelas diferenças entre
dextros e esquerdinos em três aspectos: a)
desemprego e sucesso no trabalho, b) melhor
desempenho em determinadas profissões e c) por
quem preferia ser atendido.
Na nossa amostra, há um pequeno grupo de
inquiridos que entende que os dextros são quem
“arranja trabalho com maior facilidade” e, que são os
esquerdinos quem “tem maior taxa de desemprego”. Há
ainda um grupo de inquiridos que acha que os dextros
são quem “tem mais sucesso no trabalho”. Estes
resultados são distintos dos encontrados na
bibliografia, onde se concluiu que os esquerdinos
tinham maior sucesso profissional, medido através
dos rendimentos auferidos31. Possivelmente este dado
está relacionado com as opiniões relativas aos
esquerdinos: 26,5% dos inquiridos entendeu que estes
têm “mais acidentes de trabalho” e 16,7% consideraram
que as pessoas com preferência manual esquerda são
mais “desajeitadas”.
Em relação a quem tem melhor desempenho
numa série de profissões, verificámos que a maioria
dos inquiridos afirmou que dextros e esquerdinos
eram iguais.
Contudo, as pessoas que consideravam haver
diferenças tenderam a referir que os esquerdinos são
melhores em profissões de carácter mais criativo,
enquanto os dextros são superiores naquelas que
exigem maior destreza manual. São exemplos de
profissões manuais as seguintes: “piloto de avião” (15,2%
dextros contra 1,1% esquerdinos), “militar” (11,2%
dextros contra 0,6% esquerdinos), “pedreiro” (6,0%
dextros contra 0,5% esquerdinos) e “mulher da
limpeza” (5,3% dextros contra 0,7% esquerdinos).
Como profissões criativas analisámos, por exemplo,
“escritor” (1,6% dextros contra 4,6% esquerdinos).
Curiosamente, as profissões criativas com um
importante componente manual foram aquelas nas
quais se observaram mais respostas simultaneamente
para dextros e esquerdinos: “escultor” (4,0% dextros e
4,0% esquerdinos) e “arquitecto” (5,9% dextros contra
6,6% esquerdinos).
As profissões desportivas “jogador de ténis” e
“futebolista” foram aquelas em que um menor número
de pessoas respondeu que dextros e esquerdinos eram
“iguais”. E, apesar de haver um número de respostas
“canhoto” superior às de “dextro”, a diferença entre
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 53 DE 79
ambas foi menor do que o esperado face já descrito
na literatura32,33.
Por último, para analisar as opiniões sobre o
desempenho profissional de esquerdinos e dextros,
escolhemos um conjunto de profissões com maior
contacto pessoal e risco potencial para o inquirido.
Optámos por perguntar directamente ao inquirido se
preferia ser atendido por um barbeiro/cabeleireiro ou
profissional de saúde esquerdino ou dextro.
Queríamos assim ter uma opinião pessoal e subjectiva
sobre a questão, mais do que uma opinião genérica e
impessoal sobre quem tem melhor desempenho.
Em todas as profissões houve um predomínio dos
dextros em relação aos esquerdinos, excepto para
“médico de família” que é aquela na qual há, no nosso
entender, menor risco de acidentes. No caso concreto
de “cirurgião”, a preferência por um profissional
dextro associa-se, com significância estatística, a
níveis de escolaridade mais baixos e idades mais
elevadas. Presumivelmente estas são pessoas com
conhecimentos inferiores, mas existem vários estudos
que suportam a existência de limitações, por vezes
relevantes, no exercício de profissões como cirurgião
ou dentista21.
III.IV – Escrita Forçada/Escola: A alta prevalência de indivíduos (15,5%) que
foram forçados a escrever com a mão direita na
amostra é um dado que consideramos de relevo.
Numa amostra com predomínio de idades mais
jovens, seria de esperar um valor mais reduzido25.
Este facto pode constituir um indicador da
persistência de discriminação contra a preferência
manual esquerda3,25.
Ainda assim, na nossa amostra, há menos
indivíduos forçados nas faixas etárias mais novas,
pelo que parece haver, actualmente, uma maior
aceitação para com os esquerdinos na sociedade
portuguesa.
Desconhece-se, no entanto, a magnitude deste
fenómeno nas gerações abaixo dos 15 anos. Apesar
da lateralidade se estabelecer nos primeiros anos de
vida, esta continua a desenvolver-se ao longo da
idade, com um período importante compreendido na
idade pré-escolar e escolar35. Sendo assim
consideramos relevante realizar-se futuramente uma
investigação neste segmento etário.
A demonstração da associação da escrita forçada
com a lateralidade discordante (entre LA e LE) pode
também estar relacionada com uma possível
subestimação da prevalência real de esquerdinos na
população.
Verificou-se uma associação positiva entre o facto
de o inquirido ter sido forçado a escrever com a mão
direita e a opinião de que “os pais/professores devem
insistir com os canhotos para escrever com a mão direita”. Este
efeito de perpetuação inter-geracional já foi
abundantemente descrito noutras áreas da psicologia,
principalmente para situações muito mais graves de
opressão, tais como a violência doméstica, abusos
sexuais e alcoolismo40.
No entanto, tal não invalida que a larga maioria
(84,5%) dos indivíduos estudados não se tenha
considerado forçado a usar uma das mãos, nem tão-
pouco ache que tal se deva fazer.
No que se refere à escola, apenas 40% dos
indivíduos que referem ter tido dificuldades foram
ajudados. O facto de na nossa amostra não ter sido
prestada a devida atenção às particularidades dos
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 54 DE 79
esquerdinos, alerta-nos para que tal também possa
ocorrer na população portuguesa.
III.V – Personalidade:
Foi relevante termos registado que os esquerdinos
revelaram, enquanto grupo, uma tendência para
atribuírem características positivas – inteligência,
criatividade - a si próprios, comportamento que não
se repetiu no grupo dos dextros. Estes responderam
maioritariamente “igual” às mesmas perguntas. Tal
diferença parece reflectir que os esquerdinos dão uma
maior importância a estas questões.
Notou-se ainda uma maior tendência dos
esquerdinos para quererem mudar de lateralidade
(6,5% contra 4,4% dos dextros), o que pode está em
concordância com a existência de dificuldades no
quotidiano dos mesmos.
RECOMENDAÇÕES
No decorrer deste estudo surgiram algumas
limitações e dificuldades que nos alertaram para a
necessidade de uma investigação mais aprofundada
nalguns aspectos relacionados com a preferência
manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade
de um questionário para a avaliação da lateralidade
manual validado na população portuguesa; estudar a
real influência da lateralidade em acidentes
(domésticos, profissionais e rodoviários).
Sugerimos ainda a investigação, na população
abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual da
preferência manual e da alteração forçada da mesma.
Neste segmento etário importa também averiguar a
persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos
na escola, e o que está de facto a ser feito para as
minimizar.
Orçamento e Recursos Humanos:
Estimámos o orçamento necessário à
realização deste estudo em 3.945€, repartidos da
seguinte forma: questionários (impressão,
canetas, bases para preenchimento): 150€;
deslocações: 100€; comunicações: 20€;
honorários: 3675€ (5€/hora, 5 horas diárias
durante 21 dias para 7 pessoas).
Contacto dos autores:
Ana Rita Francisco [email protected]
Carolina Horta de Almeida [email protected]
David Barrote Navarro [email protected]
Francisco Vilaça Lopes [email protected]
João Sebastião Pinto [email protected]
Pedro Alexandre Garrido [email protected]
Pedro Faro Viana [email protected]
Mário Cordeiro [email protected] Lisboa, 21 de Março de 2011
O DI REITO A SER ESQU ERDINO
PÁGI NA 55 DE 79
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– Introdução –
Dificuldades no dia-a-dia
Qualidade de Vida
Limitações Profissionais
Utilização de objectos
Condução automóvel
Acesso a infra-estruturas
Cirurgiões
Dentistas
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– Introdução –
Em Portugal…
Qual o nível de esclarecimento da população?
Qual o impacte socio-cultural?
Como tem sido a evolução na educação para os
esquerdinos?
Quais as principais dificuldades dos esquerdinos?
Como é distribuída a lateralidade?
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– Objectivos –
Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes de uma
população em Portugal acerca da qualidade de vida dos
esquerdinos.
Objectivo Principal
Caracterização da preferência manual da amostra
Prevalência da alteração forçada da preferência
manual
Persistência de pressões sociais e discriminação
Principais problemas no quotidiano dos esquerdinos
Objectivo Secundários
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– Métodos –
Critérios de Inclusão
• Idade ≥ 15 anos
• Presença no local e momento do questionário
• Disponibilidade para responder
• Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita
Critério de Exclusão
• Questionários considerados pelos investigadores como insuficientemente preenchidos
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Avaliação da Lateralidade
Questionário Edinburgh:
Aplicabilidade do
Questionário
Alteração Forçada
– Resultados e Discussão –
N=1021
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Turma 7:
Ana Rita Gaspar Lopes Francisco – 2005015 Carolina Manuel da Costa Horta de Almeida
David Barrote Navarro Dias – 2005180 Francisco Miguel dos Santos Ramos Vilaça Lopes – 2005062
João Sebastião Dias Pinto – 2005093 Pedro Alexandre dos Santos Garrido – 2005001
Pedro Ruas Faro Viana – 2005141
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O D I R E I T O A S E R E S Q U E R D I N O
A N Á L I S E D E P E R C E P Ç Õ E S , C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S S O B R E A Q U A L I D A D E D E V I D A D E E S Q U E R D I N O S
Francisco AR*, Almeida C*, Navarro DB*, Pinto JS*, Lopes FV*, Garrido PA*, Viana PF* e Cordeiro M#
*Alunos do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
#Professor Auxiliar-Convidado de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Departamento de Saúde Pública Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa, Portugal
RESUMO
Introdução: A lateralidade esquerda, estimada em 10% na população mundial, tem sido objecto de estudo em várias áreas científicas. Factores que caracterizam este grupo populacional, minoritário relativamente à população dominante, a dextra, incluem: uma maior prevalência de acidentes mortais e a associação com determinadas doenças, bem como a ocorrência de discriminação e pressões sociais para alterar a preferência manual em algumas actividades. A lateralidade esquerda associa-se também a dificuldades no dia-a-dia e no desempenho de algumas profissões (cirurgião, dentista). Reconhecem-se, no entanto, algumas vantagens em áreas artísticas e desportos interactivos. Este estudo teve como objectivo determinar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu caracterizar a lateralidade da amostra e avaliar o grau de alteração forçada da preferência manual para a escrita. Métodos: Foi realizado um questionário de auto-preenchimento, dirigido a indivíduos de idade igual ou superior a 15 anos, distribuído em Lisboa, Porto e Leiria. Foi utilizado o Questionário de Edinburgh para determinação da lateralidade. Resultados: Dos 1.029 inquiridos, 868 (85%) foram classificados como dextros, 78 (7,6%) como esquerdinos e 75 (7,3%) como ambidextros. Houve associação entre o reconhecimento de dificuldades específicas do quotidiano (utilizar uma tesoura - 501; 49,3%; um abre-latas - 465; 45,9%; e máquina fotográfica - 435; 42,7%), e o facto de ser esquerdino ou ter esquerdinos na família próxima (p<0,05). 26,5% dos inquiridos referiram que os esquerdinos tinham mais acidentes de trabalho. 16,8% e 13,8% dos inquiridos referiram o melhor desempenho dos esquerdinos nas profissões “futebolista” e “jogador de ténis”, respectivamente, enquanto 15,2% da amostra referiu que um dextro seria um melhor “piloto de avião”. 9,0% dos inquiridos prefeririam ser tratados por um cirurgião dextro (associação com a idade e escolaridade, p<0,05). 15,5% dos inquiridos referem ter sido obrigados a escrever com a mão direita. Discussão: Em geral, parece haver um baixo reconhecimento das dificuldades sentidas pelos esquerdinos no quotidiano e no trabalho. Parece também haver um grau de discriminação residual para com a lateralidade esquerda (associada a idade mais avançada). Há ainda um diminuto reconhecimento de vantagens em algumas profissões. Palavras-chave: Lateralidade, Esquerdinos, Qualidade de Vida, Alteração da preferência manual.
ABSTRACT
Introduction: Left-Handedness, which represents about 10% of the world’s population, has been a subject of study
in several scientific areas. Distinguishing features associated with this particular population include: a greater
prevalence of fatal accidents and the association with several diseases, as well as discrimination and social pressures
in order to switch handedness in some activities. There is also a link between left-handedness and difficulties in
everyday activities and in some professions (surgeons, dentists). Several advantages have been pointed out, however,
notably regarding art and interactive sports. The aim of the present study was to determine perceptions, knowledge
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and attitudes of the population towards the quality of life of left-handed people. On a second level, it was our
intention to classify the laterality of our sample, and evaluate the degree of forced hand switching for writing.
Methods: This was a cross-sectional study. A written survey was conducted, towards individuals aged 15 or more,
in the Portuguese cities of Lisboa, Porto and Leiria. The Edinburgh Handedness Inventory was used to determine
laterality.
Results: From the total of 1,029 respondents, 868 (85%) were classified as right-handed, 78 (7,6%) as left-handed
and 75 (7,3%) as mixed-handed. The recognition of specific daily difficulties (using scissors n=501; 49,3%; using a
can-opener - 465; 45,9%; using a photographic camera - 435; 42,7% ) was associated with being left-handed and
with the presence of left-handedness in the close-related family (p<0,05). 26,5% of the respondents referred a
greater prevalence of work-related accidents among the left-handed. 16,8% and 13,8% of the respondents associated
left-handedness with better performance as a “football player” and “tennis player”, respectively, while 15,2% of the
sample referred that an “aircraft pilot” would perform better if right-handed. 9,0% of the respondents said they
would prefer being treated by a right-handed surgeon (association with age and level of education, p<0,05). 15,5%
referred having been forced to switch hand preference regarding writing.
Discussion: Overall, there appears to be a low acknowledgement of the daily and work-related difficulties of the left-handed. There is also a residual level of discrimination towards this group (mainly associated with increasing age). Finally, there is a lack of knowledge concerning some of the advantages of being left-handed in the practice of some professions. Key Words: Laterality, Left-Handedness, Quality of Life, Switching Hand Preference
INTRODUÇÃO
A lateralidade é definida como “o uso preferencial,
em actos motores voluntários, dos componentes
ipsilaterais dos principais órgãos pares do corpo
(braço, ouvido, olho e perna)”1. O componente mais
estudado é a preferência manual, sobre o qual este
estudo incide.
Estima-se que cerca de 10% da população mundial
tenha preferência manual esquerda (sendo as pessoas
designadas esquerdinas ou, mais vulgarmente,
canhotas)2-4, registando-se algumas variações
geográficas2,5,6. Globalmente, a lateralidade à esquerda
é mais frequente no sexo masculino, havendo um
decréscimo da prevalência de esquerdinos declarados
com o aumento da idade7,8. A lateralidade esquerda
também tem um componente hereditário significativo,
desconhecendo-se, contudo, o verdadeiro peso deste
quando comparado com a influência do ambiente
familiar, escolar e social9.
A relativa minoria de esquerdinos, demonstrável no
ser humano desde o Paleolítico10, bem como a
diminuição da sua incidência na população idosa, pode
dever-se a uma menor esperança média de vida
(hipótese de eliminação) ou à existência de pressões
sociais e históricas para utilizar a mão direita (hipótese
de modificação)11.
Foi demonstrada uma menor longevidade na
população dos esquerdinos12,13, eventualmente
interligada com a associação entre a lateralidade
esquerda e o aumento de incidência de diversas
doenças como alergias, malformações esqueléticas,
doenças auto-imunes, patologia neuro-psiquiátrica (p.
ex. esquizofrenia) e algumas formas de cancro 3,13-18.
Além disso, a maior vulnerabilidade dos esquerdinos
para a ocorrência de acidentes, e sendo estes uma das
maiores causas de anos de vida perdidos na população
jovem e a maior causa de anos perdidos no chamado
Mundo Ocidental, também pode contribuir para a
hipótese de eliminação19-22.
Ao longo da História, os esquerdinos têm sido alvo
de discriminação2,4. O sentido pejorativo associado ao
lado esquerdo está patente na própria linguagem,
como atestam os sinónimos de esquerdino
(desajeitado, acanhado, demónio) e sinistro (que
pressagia desgraça, infunde receio, revela malvadez,
sombrio; desastre)11. Ao invés, o lado direito está
associado a correcção, rectidão, justiça e destreza23.
Ainda no séc. XX, psicólogos, sociólogos e médicos
associavam a lateralidade esquerda à criminalidade,
insanidade e atraso mental24. A existência dos referidos
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mitos e atitudes parece contribuir para a ocorrência de
alteração forçada da lateralidade (principalmente para a
escrita), tanto no ambiente escolar como familiar25.
Este fenómeno, cuja frequência tem vindo a diminuir
em algumas sociedades26,27, parece apoiar a hipótese de
diminuição de prevalência por modificação.
No mundo em que vivemos, em consequência da
menor representação de esquerdinos, as infra-
estruturas e os instrumentos foram planeados e
construídos visando uma utilização por dextros.
Assim, desde os objectos de escritório aos
instrumentos musicais, passando pelos automóveis,
acessos a edifícios e sua arquitectura, a concepção
facilitadora para os dextros pode implicar dificuldades
quotidianas para os esquerdinos (para além da
ocorrência de acidentes já referida)19-21. A lateralidade
esquerda está associada ainda a limitações, por vezes
graves, no desempenho de algumas profissões
(cirurgiões, dentistas)21,28.
Contudo, ser esquerdino também parece ter
vantagens9. Existe uma correlação positiva entre a
lateralidade esquerda e a criatividade29. Também há
dados a favor de uma maior proporção de esquerdinos
entre profissões artísticas como a música, do que na
população em geral 29,30. Ainda no campo profissional,
um estudo verificou que os homens esquerdinos
auferiam rendimentos mais elevados do que os
dextros31. Já no campo desportivo, nas modalidades
como o ténis ou a esgrima, em que existe interacção
com um adversário, a preferência manual esquerda
parece ser uma vantagem32. Por último, pensa-se ainda
na preferência manual esquerda como uma vantagem
na luta corpo-a-corpo33. No entanto, muitos dos
estudos referidos têm sido alvo de diversas críticas,
uma das quais é a inconsistência na determinação e
classificação da lateralidade. A determinação baseada
em questionários (Lateralidade Auto-descrita,
Questionário de Edinburgh, Questionário de Annett)
e os testes de desempenho têm níveis de concordância
distintos3,4,16,34.
Em Portugal, desconhece-se o nível de
esclarecimento da população acerca das dificuldades
encontradas pelos esquerdinos a nível quotidiano,
profissional e escolar. Não existem dados acerca das
atitudes e das pressões sociais exercidas em Portugal.
Para lá disso, o número de estudos de caracterização
da lateralidade em Portugal são escassos35,36.
O objectivo principal deste estudo foi avaliar
percepções, conhecimentos e atitudes de uma
população em Portugal acerca da qualidade de vida
dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu-se
caracterizar a preferência manual da amostra obtida,
avaliar a prevalência da alteração forçada da
preferência manual, aferir a persistência de pressões
sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e
registar eventuais dificuldades no quotidiano dos
mesmos.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo observacional, descritivo e
transversal. Seleccionou-se uma amostra de
conveniência, constituída por indivíduos com idade
igual ou superior a 15 anos. Determinou-se este limite
com vista a poder incluir inquiridos ainda em idade
escolar, mas com maturidade suficiente para
compreender o questionário.
A recolha dos dados foi realizada através de um
questionário anónimo, individual e de auto-
preenchimento, distribuído entre os dias 4 e 13 de
Março de 2011, em diversos locais públicos das
cidades de Lisboa, Porto e Leiria.
Foram incluídos indivíduos presentes e disponíveis
no local e momento do questionário, com
conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita.
Foram excluídos questionários considerados pelos
investigadores como insuficientemente preenchidos.
O questionário incidiu sobre dados sócio-
demográficos dos inquiridos (sexo, idade, escolaridade
e profissão) e sobre conhecimentos, percepções e
atitudes acerca dos esquerdinos, nos domínios do
quotidiano, trabalho, saúde, escola e personalidade.
Para avaliação da lateralidade usou-se o
Questionário de Edinburgh37 (Edinburgh Handedness
Inventory) revisto por Stephen M. Williams38, e
traduzido para português pelos investigadores.
Para análise e tratamento estatístico dos dados
utilizou-se o Programa Microsoft Excel 2010®. Para
as variáveis ordinais foi calculada a frequência, média,
moda e mediana. Foi avaliada a associação entre
variáveis através dos testes χ2 (Qui-quadrado) e teste
de Fisher, com um nível de significância estabelecido
de p<0,05.
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RESULTADOS
Recolheram-se 1.046 questionários, dos quais 17
foram excluídos por preenchimento considerado
insuficiente, de acordo com os critérios de exclusão
pré-definidos no protocolo do estudo, pelo que a
amostra final foi de 1.029 inquiridos.
I – Dados sócio-demográficos:
A amostra era constituída por 583 indivíduos do
sexo feminino (56,7%) e 445 indivíduos do sexo
masculino (43,3%).
As idades estavam compreendidas entre 15 e os 84
anos, com uma média de 33,5 anos, mediana de 29 e
moda de 23 (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição da amostra por escalões etários:
A distribuição dos inquiridos de acordo com o
nível da escolaridade é apresentada no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Distribuição da amostra por escolaridade:
II – Avaliação da Lateralidade:
No que diz respeito à lateralidade auto-descrita
(LA), 870 (84,6%) inquiridos declararam-se “dextros”,
112 (10,9%) “canhotos” e 46 (4,4%) “ambidextros”
(Gráfico 3).
Gráfico 3 – Lateralidade auto-descrita:
Já na lateralidade avaliada pelo Questionário de
Edinburgh (Lateralidade Edinburgh – LE), 868 (85%)
inquiridos foram classificados como “dextros”, 78
(7,6%) como “canhotos” e 75 (7,3%) como
“ambidextros”.
Não se verificou associação estatisticamente
significativa entre LE e sexo, idade ou escolaridade.
O grau de concordância entre LA e LE foi de
90,8% (percentagem de respostas idênticas em LA e
LE). Contudo, 19 (25,3%) dos ambidextros LE
tiveram LA concordante, contra 19 (92,3%) e 835
(96,2%) dos esquerdinos e dos dextros,
respectivamente. O Gráfico 4 demonstra a relação
entre os resultados da LA e da LE.
Gráfico 4 – Relação entre a lateralidade referida e a avaliada:
46 (4,4%)
112 (10,9%)
870 (84,6%)
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Verificou-se que a lateralidade discordante (entre
LA e LE) é menor entre as pessoas que escrevem
sempre com a mão direita (por oposição às que
escrevem sempre com a mão esquerda), havendo uma
associação estatisticamente significativa entre a
lateralidade discordante e a mão que se utiliza para
escrever.
Para o subsequente cruzamento de dados, foi
utilizado o resultado de LE.
Dos inquiridos, 774 (76,0%) não tinham “canhotos”
na família próxima (pais, irmãos, filhos ou cônjuge),
189 (18,5%) tinham um, 38 (3,7%) tinham dois e 18
(1,8%) tinham três ou mais. Dos esquerdinos, 30
(38,5%) afirmaram ter outros membros “canhotos” na
família, contra 188 (21,9%) dos dextros (Gráfico 5).
Verifica-se uma associação estatisticamente
significativa entre a LE e o número de esquerdinos na
família, p<0,05. Gráfico 5 – Distribuição do número de esquerdinos na família de acordo com a LE.
III – Percepções
III.I – Quotidiano
No que diz respeito à pergunta “Acha que ser canhoto
causa dificuldades no dia-a-dia?”, 335 (32,8%) dos
inquiridos responderam que sim, e 679 (67,0%)
responderam que não. Dos dextros, 297 (34,4%)
consideravam que os “canhotos” têm mais dificuldades,
contra 16 (20,8%) esquerdinos que achavam que ser
“canhoto” causa dificuldades no dia-a-dia (Gráfico 6).
Demonstrou-se uma associação estatisticamente
significativa entre o achar que “ser canhoto causa
dificuldades” e a lateralidade, p<0,05. Não houve
associação estatisticamente significativa entre o
número de esquerdinos na família e o achar que “ser
canhoto causa dificuldades no dia-a-dia”.
Na pergunta “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-dia
os canhotos têm mais dificuldades, mais vantagens ou é igual?”
(Gráfico 7), as actividades apontadas como conferindo
mais desvantagens foram o manuseamento de tesouras
(n=501; 49,3%), “usar abre-latas” (n=465; 45,9%) e
“usar a máquina fotográfica” (n=435; 42,7%). No campo
das vantagens, as duas actividades que reuniram mais
consenso foram “pagamentos na estrada – portagens”
(n=321; 31,6%) e “prática de artes marciais” (boxe,
esgrima e capoeira) (n=196; 19,4%).
Gráfico 6 – “Acha que ser canhoto causa dificuldades no dia-a-dia?”
No que diz respeito ao manuseamento da “tesoura”,
46,8% (n=403) dos dextros achavam que ser “canhoto”
causa dificuldade, contra 68,8% (n=53) dos
esquerdinos. Em relação ao “pagamento nas portagens”,
30,3% (n=262) dextros e 40,8% (n=31) esquerdinos
consideraram que ser “canhoto” era uma vantagem.
Gráfico 7 – “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-dia os canhotos têm
mais dificuldades, mais vantagens ou é igual?”
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Gráfico 8 – Saúde: “Na sua opinião quem…?”
III.II – Saúde:
Na pergunta “Na sua opinião quem vive mais tempo?”,
52 (5,1%) responderam ser os “dextros”, contra 8
(0,9%) que responderam ser os “canhotos”.
Dos inquiridos, 269 (26,5%) referiram que os
“canhotos” tinham mais “acidentes de trabalho” e 106
(10,5%) que estes tinham mais “acidentes de carro”
(Gráfico 8). Quando questionados sobre se achavam
que deveria haver um “programa do Ministério da Saúde só
para canhotos”, a maioria das pessoas, 670 (66,1%),
responderam “não”, enquanto 87 (8,6%) responderam
“sim”, e 256 (25,3%) seleccionaram a resposta “não
sei”.
Responderam afirmativamente a esta pergunta 36
(7,0%) inquiridos com idades entre 15-29 anos, 23
(8,3%) entre os 30-44 anos e 28 (13,1%) acima dos 45
anos.
Verificou-se uma associação entre as respostas
afirmativas e a idade. Não se demonstrou, contudo,
associação com a lateralidade.
III.III – Profissão:
Quando questionados sobre quem julgavam que
arranjaria trabalho mais facilmente, 93 pessoas (9,2%)
responderam ser os “dextros” e 4 (0,4%) os “canhotos”.
Também um maior número de pessoas referiu que os
dextros têm mais “sucesso no trabalho”, 42 (4,2%), contra
18 (1,8%). No que diz respeito à “taxa de desemprego”,
12 inquiridos (1,2%) consideraram que esta era maior
nos “dextros”, e 45 pessoas (4,5%) que era maior nos
“canhotos”. Contudo, em todas as alíneas a resposta
mais frequente foi “igual” (Gráfico 9).
Gráfico 9 – A nível profissional: “Na sua opinião quem…?”
Os inquiridos foram questionados sobre quem
seria melhor numa lista de profissões, se o “canhoto”, se
o “dextro” ou se “igual” (Gráfico 10). Para cada uma
delas, a esmagadora maioria respondeu “igual”. A
diferença entre as pessoas que responderam “canhotos”
e “dextros” foi mais marcada no item “piloto de avião”,
na qual 154 pessoas (15,2%) referiram que um “dextro”
seria melhor piloto, contra 11 (1,1%) que responderam
ser o “canhoto”. O oposto verificou-se com o item
“futebolista” em que 37 inquiridos (3,7%) referiram que
os “dextros” eram melhores e 170 (16,3%) que eram os
“canhotos”.
No que diz respeito ao “jogador de ténis”, este foi o
item que menor consenso reuniu (menor número de
respostas “igual”). Dos inquiridos, 99 (9,8%) referiram
que um tenista “dextro” seria melhor e, 140 (13,8%)
referiram ser o “canhoto”. Não se verificou associação
entre a lateralidade e esta escolha.
Na pergunta “Preferia ser atendido por…?” (Gráfico
11), a maioria das pessoas responderam “igual”.
Exceptuando o “médico de família”, em que 10 pessoas
prefeririam ser tratadas por um “canhoto” e 9 por um
“dextro”, em todas as outras profissões o número de
respostas “dextro” mostrou-se superior às respostas
“canhoto”. A diferença de respostas foi mais evidente
no item “cirurgião”, em que 91 pessoas (9,0%)
prefeririam ser tratados por um “dextro”, enquanto 11
pessoas (1,1%) prefeririam o “canhoto”.
Preferiam um “cirurgião dextro” 44 (8,4%) das
pessoas com idade igual ou inferior a 29 anos, 16
(5,7%) com idades compreendidas entre 30 e 44 anos
e 31 (22,8%) das pessoas com mais de 44 anos.
Verificou-se uma associação estatisticamente
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significativa entre preferir um cirurgião dextro e a
idade.
Gráfico 10 – “Nas seguintes profissões, quem à partida é melhor?”:
Gráfico 11 – “Preferia ser atendido por…?”:
III.IV – Escrita Forçada/Escola:
Do número total de inquiridos, 158 (15,5%)
referiram ter sido forçados pelos pais ou professores a
escrever com a mão direita.
Verificou-se uma associação estatisticamente
significativa (p<0,05), entre a escrita forçada e a idade
dos inquiridos (Gráfico 12) e entre escrita forçada e a
discordância entre LA e LE.
De 1.015 respostas à pergunta “Acha que os pais /
professores devem insistir com os canhotos para escreverem com a
mão direita?”, 36 inquiridos (3,6%) responderam
afirmativamente. Destes, 16 (44%) foram forçados a
escrever com a mão direita. Verificou-se uma
associação estatisticamente significativa entre o ter
sido forçado e achar que se deve forçar as crianças a
escrever com a mão direita (p<0,05).
Gráfico 12 – “Os seus pais/professores obrigavam-no a escrever com a mão direita?”
Quando se questionou o grupo dos esquerdinos
acerca da existência de “dificuldades sentidas na escola por
serem canhotos”, 54 (43,9%) responderam que “sim”, dos
quais 22 (40,7%) referiram ter sido ajudados pelos
colegas ou professores (Gráfico 13).
Não se verificou uma associação estatisticamente
significativa entre o ter tido dificuldades e a idade, e
entre o ter sido ajudado e a idade. Gráfico 13 – “Só para canhotos:”
III.V – Personalidade:
Quando se questionou a população de esquerdinos
se preferiam ser dextros, 8 (6,5%) responderam que
“sim”, contra 115 (93,5%) que responderam que “não”.
No grupo dos dextros, 37 (4,4%) responderam que
preferiam ser “canhotos”, e 813 (95,6%) eram da
opinião contrária (Gráfico 13). O facto de querer
mudar de lateralidade (em qualquer um dos grupos) foi
ainda associado, de modo estatisticamente
significativo, com o sexo, com uma maior proporção
de respostas afirmativas para os homens 27 (6,1%)
contra 18 (3,1%) das mulheres.
Não se verificou a existência de uma associação
entre ser esquerdino e ter tido sentido dificuldades na
escola, com o querer mudar de mão dominante.
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Quando questionados acerca de uma lista de
percepções sobre características dos indivíduos
esquerdinos e dextros, a maioria das pessoas foi da
opinião que não havia diferenças (Gráfico 14). Os
adjectivos que foram atribuídos maioritariamente aos
esquerdinos foram “criativo” (21,3% “canhoto” e 1,7%
“dextro”, n=1011), “desajeitado” (17,6% “canhoto” e 4,0%
“dextro”, n=1012) e “inteligente” (12,5% “canhoto” e
1,0% “dextro”, n=1012).
Relativamente à opção “É melhor no desporto”, 125
(12,4%) responderam ser os “canhotos” e 64 (6,4%)
responderam ser os “dextros”.
Por outro lado, houve características mais
associadas aos dextros, como “organização” (6,9%
“canhotos” e 8,8% “dextros”, n=1011) e “liderança” (2,8%
“canhotos” e 3,6% “dextros”, n=1012).
Verificou-se uma associação estatisticamente
significativa entre as características “organização”,
“inteligência” e “criatividade” com a lateralidade.
Gráfico 14 – “Diga, pensando na população de canhotos e dextros quem…”:
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
Com o presente estudo pretendemos, para a
população em estudo, analisar as percepções,
conhecimentos e atitudes sobre esquerdinos.
Secundariamente pretendemos efectuar a
caracterização demográfica da lateralidade na nossa
amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da
preferência manual, aferir a persistência de pressões
sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e
registar eventuais dificuldades no quotidiano dos
mesmos.
Os investigadores constataram uma quase total
disponibilidade da população para participar no
estudo, pelo que, não nos apercebemos de qualquer
viés de selecção dos inquiridos que possa
comprometer a análise dos resultados. As raras recusas
deveram-se a alegada falta de tempo. Tão-pouco se
registaram dificuldades na compreensão do
questionário.
Não surgiram conflitos de carácter ético ou
ideológico em nenhum dos intervenientes.
I – Dados sócio-demográficos:
O facto de a recolha de dados ter sido feita
maioritariamente em meio urbano, em locais
tipicamente frequentados por uma população jovem,
tais como centros comerciais, bibliotecas e faculdades,
pode justificar o predomínio dos grupos etários mais
jovens na nossa amostra. O mesmo se aplica para a
prevalência de indivíduos licenciados (45,2%) e com
formação superior a licenciatura (22,2%), muito
superior na nossa amostra do que na população
portuguesa (10,8%)39.
Quanto à distribuição por sexos, na nossa amostra
há uma maior prevalência de mulheres (57,0%) do que
na população portuguesa (51,7%)39. Para os efeitos do
nosso estudo, tal diferença não foi considerada
significativa.
Importa, no entanto, referir que o estudo de uma
amostra de conveniência implica sempre restrições na
interpretação dos seus resultados. Por não ser uma
amostra representativa da população portuguesa, as
conclusões, em rigor, dizem respeito apenas ao grupo
de inquiridos, não podendo ser extrapoladas para a
população em geral.
II – Lateralidade:
A distribuição das percentagens da Lateralidade
Auto-descrita (LA) está de acordo com dados de
estudos anteriores em relação à população mundial
(~10% de esquerdinos, <5% de ambidextros)2-4.
Contudo, na lateralidade avaliada pelo
Questionário de Edinburgh (LE), quando comparada
com a LA, a percentagem de esquerdinos foi menor,
enquanto o número de ambidextros foi maior.
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Este facto pode dever-se a limitações na aplicação
do próprio Questionário na nossa amostra. A tradução
literal do inglês, bem como a sua adaptação à cultura
portuguesa (utilização do rato do computador, por
exemplo) podem ter dificultado a interpretação
correcta do mesmo pelos inquiridos.
Por outro lado, uma representação menor de
esquerdinos na nossa amostra poderá ser reflexo de
uma pressão social para a alteração da preferência
manual, eventualmente em toda a sociedade
portuguesa. Efectivamente, a diferença entre o
número de ambidextros LA (n=46) e LE (n=75) pode
traduzir a realização forçada de actividades com a mão
direita, o que influencia a classificação pelo
Questionário.
Apesar do acima referido, a discordância entre LA
e LE está também descrita em estudos anteriores34. É
por essa razão que, em certos estudos, se
complementa a classificação da lateralidade com o
recurso a outros métodos, como testes de
desempenho.
A inexistência de associação entre a LE e a idade
(em desacordo com estudos anteriores)6,7 pode dever-
se à baixa percentagem de indivíduos idosos inquiridos
nesta amostra.
Em relação à presença de esquerdinos na família
próxima, a sua correlação positiva com a lateralidade
está de acordo com a transmissão desta característica
entre gerações, seja por factores genéticos ou por
influência ambiental (desconhecendo-se o verdadeiro
peso de cada factor)9.
III – Percepções
III.I – Quotidiano:
Um terço da população da nossa amostra foi da
opinião de que ser esquerdino causa dificuldades no
dia-a-dia, estando esta resposta associada à
lateralidade. Isto é, foram os dextros quem mais
respondeu afirmativamente a esta pergunta. Havendo
dados bibliográficos21,32,33 que suportam a existência de
dificuldades no quotidiano dos esquerdinos, parece
haver um reconhecimento insuficiente destas na nossa
amostra. Importa também saber qual a razão desta
divergência de opinião associada à lateralidade do
inquirido. Esta pode dever-se a uma negação das
dificuldades por parte dos esquerdinos da nossa
amostra, ou ainda à sua superação, isto é, a um
fenómeno de resiliência.
Para melhor discriminar os conhecimentos sobre
dificuldades dos esquerdinos no quotidiano, pareceu-
nos relevante questionar os inquiridos em relação a
cada uma de 13 tarefas seleccionadas. Nestas
incluíram-se actividades em que os esquerdinos têm -
de acordo com a bibliografia21,32,33 – mais dificuldades,
vantagens, e ainda ausência de diferenças em relação
aos dextros.
Verificamos uma tendência geral para responder
que os esquerdinos têm mais dificuldades do que
vantagens, incluindo nas tarefas nas quais teoricamente
não há diferenças entre os dois grupos (“pregar um
prego” ou “apagar com uma borracha”).
Foram analisados os resultados para “cortar com uma
tesoura”, como um exemplo de uma actividade na qual
os esquerdinos têm mais dificuldades. Para esta
pergunta, há uma dependência estatística da resposta
seja com a lateralidade do inquirido, seja com a
existência de esquerdinos na sua família próxima.
Assim, na nossa amostra, são os dextros e as pessoas
sem esquerdinos na família quem menos responde que
“Cortar com uma tesoura” é uma tarefa na qual os
esquerdinos têm mais dificuldades. Logo, parece ser
importante o contacto próximo com esquerdinos para
conhecer as suas dificuldades quotidianas.
No que diz respeito às actividades “artes marciais” e
“pagamentos na estrada”, as respostas foram
concordantes com as vantagens dos esquerdinos,
descritas na bibliografia32,33. Importa referir que esta
resposta está associada de um modo estatisticamente
significativo com a lateralidade. Isto é, são os dextros
quem menos reconhece as vantagens dos esquerdinos.
Em suma, embora o grupo dos dextros tenha
referido inicialmente achar que os esquerdinos tinham
mais dificuldades no quotidiano, quando confrontados
com tarefas específicas, não identificaram as reais
dificuldades e vantagens dos esquerdinos.
III.II – Saúde:
Das diversas áreas da Saúde analisadas no nosso
questionário, aquelas que um maior número de
inquiridos considerou desfavoráveis para os
esquerdinos foram os acidentes de trabalho e de
viação, conhecimento empírico que está em
consonância com a literatura científica22.
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Verificamos, no entanto, que a maioria dos
inquiridos entendeu não haver diferenças entre dextros
e esquerdinos nos aspectos analisados. Este facto,
aliado à opinião geral de que um eventual programa do
Ministério da Saúde não é necessário, sugere que, na
nossa amostra, a lateralidade esquerda não é vista
como um problema de Saúde Pública.
III.III – Profissão:
Para analisar as opiniões relativas ao campo
profissional, perguntámos pelas diferenças entre
dextros e esquerdinos em três aspectos: a) desemprego
e sucesso no trabalho, b) melhor desempenho em
determinadas profissões e c) por quem preferia ser
atendido.
Na nossa amostra, há um pequeno grupo de
inquiridos que entende que os dextros são quem
“arranja trabalho com maior facilidade” e, que são os
esquerdinos quem “tem maior taxa de desemprego”. Há
ainda um grupo de inquiridos que acha que os dextros
são quem “tem mais sucesso no trabalho”. Estes resultados
são distintos dos encontrados na bibliografia, onde se
concluiu que os esquerdinos tinham maior sucesso
profissional, medido através dos rendimentos
auferidos31. Possivelmente este dado está relacionado
com as opiniões relativas aos esquerdinos: 26,5% dos
inquiridos entendeu que estes têm “mais acidentes de
trabalho” e 16,7% consideraram que as pessoas com
preferência manual esquerda são mais “desajeitadas”.
Em relação a quem tem melhor desempenho numa
série de profissões, verificámos que a maioria dos
inquiridos afirmou que dextros e esquerdinos eram
iguais.
Contudo, as pessoas que consideravam haver
diferenças tenderam a referir que os esquerdinos são
melhores em profissões de carácter mais criativo,
enquanto os dextros são superiores naquelas que
exigem maior destreza manual. São exemplos de
profissões manuais as seguintes: “piloto de avião” (15,2%
dextros contra 1,1% esquerdinos), “militar” (11,2%
dextros contra 0,6% esquerdinos), “pedreiro” (6,0%
dextros contra 0,5% esquerdinos) e “mulher da limpeza”
(5,3% dextros contra 0,7% esquerdinos). Como
profissões criativas analisámos, por exemplo, “escritor”
(1,6% dextros contra 4,6% esquerdinos).
Curiosamente, as profissões criativas com um
importante componente manual foram aquelas nas
quais se observaram mais respostas simultaneamente
para dextros e esquerdinos: “escultor” (4,0% dextros e
4,0% esquerdinos) e “arquitecto” (5,9% dextros contra
6,6% esquerdinos).
As profissões desportivas “jogador de ténis” e
“futebolista” foram aquelas em que um menor número
de pessoas respondeu que dextros e esquerdinos eram
“iguais”. E, apesar de haver um número de respostas
“canhoto” superior às de “dextro”, a diferença entre
ambas foi menor do que o esperado face já descrito na
literatura32,33.
Por último, para analisar as opiniões sobre o
desempenho profissional de esquerdinos e dextros,
escolhemos um conjunto de profissões com maior
contacto pessoal e risco potencial para o inquirido.
Optámos por perguntar directamente ao inquirido se
preferia ser atendido por um barbeiro/cabeleireiro ou
profissional de saúde esquerdino ou dextro.
Queríamos assim ter uma opinião pessoal e subjectiva
sobre a questão, mais do que uma opinião genérica e
impessoal sobre quem tem melhor desempenho.
Em todas as profissões houve um predomínio dos
dextros em relação aos esquerdinos, excepto para
“médico de família” que é aquela na qual há, no nosso
entender, menor risco de acidentes. No caso concreto
de “cirurgião”, a preferência por um profissional dextro
associa-se, com significância estatística, a níveis de
escolaridade mais baixos e idades mais elevadas.
Presumivelmente estas são pessoas com
conhecimentos inferiores, mas existem vários estudos
que suportam a existência de limitações, por vezes
relevantes, no exercício de profissões como cirurgião
ou dentista21.
III.IV – Escrita Forçada/Escola:
A alta prevalência de indivíduos (15,5%) que foram
forçados a escrever com a mão direita na amostra é
um dado que consideramos de relevo. Numa amostra
com predomínio de idades mais jovens, seria de
esperar um valor mais reduzido25. Este facto pode
constituir um indicador da persistência de
discriminação contra a preferência manual esquerda3,25.
Ainda assim, na nossa amostra, há menos
indivíduos forçados nas faixas etárias mais novas, pelo
que parece haver, actualmente, uma maior aceitação
para com os esquerdinos na sociedade portuguesa.
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Desconhece-se, no entanto, a magnitude deste
fenómeno nas gerações abaixo dos 15 anos. Apesar da
lateralidade se estabelecer nos primeiros anos de vida,
esta continua a desenvolver-se ao longo da idade, com
um período importante compreendido na idade pré-
escolar e escolar35. Sendo assim consideramos
relevante realizar-se futuramente uma investigação
neste segmento etário.
A demonstração da associação da escrita forçada
com a lateralidade discordante (entre LA e LE) pode
também estar relacionada com uma possível
subestimação da prevalência real de esquerdinos na
população.
Verificou-se uma associação positiva entre o facto
de o inquirido ter sido forçado a escrever com a mão
direita e a opinião de que “os pais/professores devem insistir
com os canhotos para escrever com a mão direita”. Este efeito
de perpetuação inter-geracional já foi abundantemente
descrito noutras áreas da psicologia, principalmente
para situações muito mais graves de opressão, tais
como a violência doméstica, abusos sexuais e
alcoolismo40.
No entanto, tal não invalida que a larga maioria
(84,5%) dos indivíduos estudados não se tenha
considerado forçado a usar uma das mãos, nem tão-
pouco ache que tal se deva fazer.
No que se refere à escola, apenas 40% dos
indivíduos que referem ter tido dificuldades foram
ajudados. O facto de na nossa amostra não ter sido
prestada a devida atenção às particularidades dos
esquerdinos, alerta-nos para que tal também possa
ocorrer na população portuguesa.
III.V – Personalidade:
Foi relevante termos registado que os esquerdinos
revelaram, enquanto grupo, uma tendência para
atribuírem características positivas – inteligência,
criatividade - a si próprios, comportamento que não se
repetiu no grupo dos dextros. Estes responderam
maioritariamente “igual” às mesmas perguntas. Tal
diferença parece reflectir que os esquerdinos dão uma
maior importância a estas questões.
Notou-se ainda uma maior tendência dos
esquerdinos para quererem mudar de lateralidade
(6,5% contra 4,4% dos dextros), o que pode está em
concordância com a existência de dificuldades no
quotidiano dos mesmos.
RECOMENDAÇÕES
No decorrer deste estudo surgiram algumas
limitações e dificuldades que nos alertaram para a
necessidade de uma investigação mais aprofundada
nalguns aspectos relacionados com a preferência
manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade
de um questionário para a avaliação da lateralidade
manual validado na população portuguesa; estudar a
real influência da lateralidade em acidentes
(domésticos, profissionais e rodoviários).
Sugerimos ainda a investigação, na população
abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual da
preferência manual e da alteração forçada da mesma.
Neste segmento etário importa também averiguar a
persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos
na escola, e o que está de facto a ser feito para as
minimizar.
Orçamento e Recursos Humanos: Estimámos o orçamento necessário à
realização deste estudo em 3.945€, repartidos da
seguinte forma: questionários (impressão, canetas,
bases para preenchimento): 150€; deslocações:
100€; comunicações: 20€; honorários: 3675€
(5€/hora, 5 horas diárias durante 21 dias para 7
pessoas)
Contacto dos autores:
Ana Rita Francisco [email protected]
Carolina Horta de Almeida [email protected]
David Barrote Navarro [email protected]
Francisco Vilaça Lopes [email protected]
João Sebastião Pinto [email protected]
Pedro Alexandre Garrido [email protected]
Pedro Faro Viana [email protected]
Página 12 de 13
Mário Cordeiro [email protected] Lisboa, 21 de Março de 2011
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