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Literatura Portuguesa
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TROVADORISMO
Idade Média
• A Queda do Império Romano tem pelo menos uma conseqüência negativa : a Europa torna-se um continente militarmente desprotegido, ou seja, propício às invasões bárbaras por ele sofridas a partir de então ( a arquitetura da época confirma isso).
• A difusão da filosofia cristã foi tão intensa na Europa após a morte de Jesus Cristo que, já no início da Idade Média, o Cristianismo é a religião oficial do continente europeu; ao contrário do que aconteceu na Antigüidade, aquele que não é cristão é BÁRBARO e é inimigo religioso e político dos europeus.
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• Assim, desde o início da Idade Média (476-1453), os europeus ocupam-se com a GUERRAS DE RECONQUISTA, expulsão dos povos bárbaros - principalmente dos MOUROS (muçulmanos, adoradores de Maomé) que instalam-se em grande número na PENÍNSULA IBÉRICA.
• Nessa época, a Europa é um conjunto de REINOS. Por exemplo: no século XI, o território que atualmente faz parte de Portugal, do Rio Mondego para o Sul, ainda estava ocupado pelos sarracenos, e desse rio para o Norte havia o reino de Leão. Ainda não existia a nação portuguesa.
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O Feudalismo
• Cada feudo possui um administrador com plenos poderes: o SENHOR FEUDAL. Assim, no sistema feudal, o poder do rei é descentralizado para os feudos, para os senhores feudais.
• A atividade econômica principal na Europa medieval é a AGRICULTURA: o senhor feudal ARRENDA as terras do feudo aos agricultores - seus SERVOS ou VASSALOS - que pagam o arrendamento com produtos nela cultivados e colhidos; quase toda a produção agrícola, assim, é de propriedade do senhor feudal, ficando apenas uma pequena parte dessa produção ao servo
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• O senhor feudal, por sua vez, "presta contas" ao rei de "tudo" que diz respeito ao feudo que administra, além de ser seu cavaleiro, seu companheiro e defensor nas guerras: ele é vassalo do rei.
• Além dos servos, os feudos contam ainda com os cavaleiros do senhor feudal e com os artesãos, aqueles que elaboram manualmente as roupas, os calçados, os utensílios e todos os objetos consumidos pela sociedade.
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• O século XII é o de lutas mais intensas entre cristãos e mouros, que vão cedendo terreno pouco a pouco ante a vigorosa ofensiva dos leoneses. Afonso VI é o rei de Leão e chega para reforçar a luta contra os mouros, o nobre francês Henrique de Borgonha. Sua empreitada rendeu-lhe a mão da filha do rei e o governo de um dos seus melhores condados: o de Porto-Cale; pouco tempo depois, o Conde Henrique anexa ao seu domínio o condado de Coimbra e tem um herdeiro: o futuro rei Dom Afonso Henriques.
• Em 1114, Henrique de Borgonha morre e sua viúva assume o governo como regente, pois Afonso Henriques tem apenas 3 anos.
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• Ao completar 18 anos, D. Afonso Henriques assume o governo e entra em guerra contra os mouros e contra o então rei de Leão - Afonso VII - sagrando-se sempre vencedor; aos Condados de Porto Cale e Coimbra é anexado todo o reino de Leão: todo esse território forma a nação portuguesa, cujo fundador, D. Afonso Henriques, é reconhecido como seu rei inclusive pelo derrotado e ex-rei de Leão - Afonso VII.
• Como resultado de suas vitórias sobre os mouros que ocupavam muitas cidades portuguesas, D. Afonso Henriques recebe a alcunha de "o Conquistador". A expulsão dos mouros também torna-se preocupação dos reis portugueses que sucedem D. Afonso Henriques, como: D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III , D. Dinis ( o REI-TROVADOR), etc.
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O Trovadorismo
• É das palavras TROVA e TROVADOR ( poeta nobre que faz trovas) que deriva o nome mais comum que se dá a toda Literatura Portuguesa elaborada na Idade Média: TROVADORISMO.
• As primeiras cantigas ou trovas medievais portuguesas são inspiradas nas cantigas que há muito tempo já eram feitas em Provença, no sul da França.
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Cantigas Quanto à forma
• Cantiga de Maestria: sete versos em cada estrofe, sem refrão, mais difíceis e sofisticadas.
• Cantiga de Refrão: quatro versos em cada estrofe com repetição de um deles (refrão) no final, mais populares.
• Cantiga Paralelística: há versos encadeados que repetem a mesma estrutura, com pequenas variações, em pares consecutivos, com rimas.
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Tipos de Cantiga
• Cantiga de Amor
• Cantiga de Amigo
• Cantiga de Escárnio
• Cantiga de Maldizer
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Cantiga de Amor
• “Contém a confissão amorosa do trovador, que padece por requestar uma dama inacessível, inacessível em consequência de sua condição social privilegiada ou de ele desdenhar a sua posse, impedido pelo sentimento espiritualizam-te que o domina.” o homem revela seu amor platônico;
• a amada é sempre idealizada, divinizada e cultuada;
• a amada é tratada pelo pronome SENHORA;
• o nome da amada não é revelado
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• no relacionamento amoroso o homem finge-se inferior a ela, atitude de Vassalagem.
• As cantigas de amor, portanto, apresentam um conteúdo que expressa tristeza, solidão, amor platônico, desejos não realizados, etc, ou seja, possui "tom" triste: pertencem ao GÊNERO LÍRICO e , pelo conteúdo melancólico, se aproximam bastante com às ELEGIAS.
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“Cantiga da Ribeirinha”
• No mundo non me sei parelha,
• mentre me for como me vai,
• ca já moiro por vós – e ai!
• mia senhor branca e vermelha,
• queredes que vos retráia
• quando eu vos vi em saia!
• Mau dia me levantei,
• que vos enton non vi fea!
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• E, mia senhor, dês aquel di’, ai!
• me foi a mi mui mal,
• e vós, filha de don Paai
• Moniz, e bem vos semelha
• d’haver eu por vós guarvaia,
• pois eu, minha senhor, d’alfaia
• nunca de vós houve nen hei
• valia d’ua correa.
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Cantigas de Amigo
• “Contém a confissão amorosa da mulher, geralmente do povo (...). Sua coita nasce de entreter amores com um trovador que a abandonou, demora para chegar, ou está no serviço militar (...). A moça dirigi-se à mãe, às amigas, aos pássaros (...), mas quem compõe ainda é o trovador. Ao invés do idealismo das cantigas de amor, a de amigo respira realismo em toda a sua extensão; daí o vocábulo amigo significar namorado e amante.”
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Tipos de Cantiga de Amigo
• Romaria
• Serranilha
• Pastorela
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• Marinha ou Barcarola
• Bailada ou Bailia
• Alba ou Alvorada
Romaria
• Pois nossas madres van a San Simon • de Val de Prados candeas queimar, • nós, as meninas, punhemos de andar • con nossas madres, e eles enton • queimen candeas por nós e por si • e nós, meninas, bailaremos i.
• Nossos amigos todos iran • por nos veer, e andaremos nós • bailand' ant' eles, fremosas em cós
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• e nossas madres pois que alá van
• queimen candeas por nós e por si
• e nós, meninas, bailaremos i.
• Nossos amigos iran por cousir
• como bailamos, e podem veer
• bailar moças de bon parecer
• e nossas madres, pois lá queren ir,
• queimen candeas por nós e por si
• e nós, meninas, bailaremos i. • "Pois nossas madres vam a San Simion"
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Serranilha
• En Arouca a casa faria;
• atant’ ei gran sabor de a fazer,
• que já mais custa non recearia
• nen ar daria ren por meu aver,
• ca ei pedreiros e pedra e cal;
• e desta casa non mi míngua al
• se non madeira nova, que queria.
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• E quen mi a desse, sempr’ o serviria,
• ca mi faria i mui gran prazer
• de mi fazer madeira nova aver,
• en que lavrass’ a peça do dia,
• e pois ir logo a casa madeirar
• e telhá-la; e, pois que a telhar,
• dormir en ela de noit’ e de dia.
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• E, meus amigos, par Santa Maria,
• se madeira nova podess’ aver,
• logu’ esta casa iria fazer
• e cobri-la; e descobri-la-ia
• e revolvê-la, se fosse mester;
• e se mi a mi a abadessa der
• madeira nova, esto lhi faria.
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Pastorela
• Ai flores, ai flores do verde pino, • e sabedes novas do meu amigo! • i Deus, e u é?
• Ai flores, ai flores do verde ramo, • Se sabedes novas do meu amado! • Ai Deus, e u é?
• Se sabedes novas do meu amigo, • Aquel que mentiu do que pôs comigo! • Ai Deus, e u é?
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• Se sabedes novas do meu amado, • Aquel que mentiu do que mi á jurado! • Ai Deus, e u é?
• - Vós me perguntades polo voss' amigo, • E eu ben vos digo que é san e vivo. • Ai Deus, e u é?
• - Vós me perguntades polo voss' amado, • E eu ben vos digo que é viv' e sano. • Ai Deus, e u é?
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• E eu ben vos digo que é san' e vivo • E seerá vosc' ant' o prazo saído. • Ai Deus, e u é?
• E eu ben vos digo que é viv' e sano • E seerá voac' ant' o prazo passado. • Ai Deus, e u é?
• "Ai flores, ai flores do verde pino,"
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Marinha ou Barcarola • Ondas do mar de
vigo, • se vistes meu
amigo! • E ai Deus, se verrá
cedo!
• Ondas do mar levado,
• se vistes meu amado!
• E ai Deus, se verrá cedo! 25
Se vistes meu amigo! e por que eu sospiro! E ai Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amado! e por que el gran cuidado! e ai Deus, se verrá cedo!
"Ondas do mar de vigo"
Bailia ou Bailada
• Bailemos nós já todas tres, ai amigas, • so aquestas avelaneiras frolidas • e quem for velida como nós, velidas, • se amigo amar, • so aquestas avelaneiras frolidas • verrá bailar.
• Bailemos nós já todas tres, ai irmanas, • so aqueste rarno destas avelanas, • e quem for louçana como nós, louçanas,
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• se amigo arnar, • so aqueste rarno destas avelanas • verrá bailar.
• Por Deus, ai amigas, mentr' al non
fazemos, • so aquesto rarno frolido bailemos, • e quen ben parecer, corno nós
parecemos, • se amigo amar, • so aqueste ramo so' l que nós bailemos • verrá bailar.
• "Bailemos nós já todas três…"
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Alba ou Alvorada
• Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias;
• todalas aves do mundo d’amor dizian:
• leda m’and’eu!
• Levad’, amigo, que dormide’-las frias manhãas;
• todalas aves do mundo d’amor cantavan:
• leda m’and’eu!
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• Todalas aves do mundo d’amor dizian:
• do meu amor e do voss’em ment’avian:
• leda m’and’eu!
• Todalas aves do mundo d’amor cantavan:
• do meu amor e do voss’i enmentavan:
• leda m’and’eu!
• Do meu amor e do voss’em ment’avian:
• vós lhi tolhestes os ramos que siian:
• leda m’and’eu!
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• Do meu amor e do voss’i enmentavan:
• vós lhi secastes os ramos en que bevian:
• leda m’and’eu!
• vós lhi tolhestes os ramos que siian:
• e lhi secastes as fontes em que bevian:
• leda m’and’eu!
• vós lhi secastes os ramos en que bevian:
• e lhi secastes as fontes u se banhavan:
• leda m’and’eu! • Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias
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Cantiga de Escárnio
• “Cantiga de escárnio conteria sátira indireta, realizada por intermédio do sarcasmo, a zombaria e uma linguagem de sentido ambíguo”
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Cantiga de Escárnio
• Mort’ é Don Martins Marcos, ai Deus, se é verdade?
• Sei ca se el é morto, morta é torpidade,
• morta é baviequia e morta neiciidade,
• morta é covardia e morta é maldade.
• Se Don Martinh’ é morto, sen prez e sen bondade,
• ôi mais, maos costumes, outro senhor catade;
• mais nono achardes de Roma atá cidade;
• se tal senhor queiredes, alhu-lo demandade;
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• pero um cavaleiro sei eu, par caridade,
• que vos ajudaria a tolher d’el soidade;
• mais (queredes) que vos diga ende ben verdade?:
• non é rei nen conde, mais é-x’outra podestade,
• que non direi, que direi, que non direi...
• Mort’ é Don Martins Marcos, ai Deus, se é verdade?
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Cantiga de Maldizer
• “A cantiga de Maldizer encerraria sátira direta, agressiva contundente, e lançaria mão duma linguagem objetiva e sem disfarce algum.” (MOISÉS, 1993, p 27)
• A maior parte das cantigas satíricas eram de maldizer, no entanto costumeiramente tendemos a confundi-las por sua proximidade temática.
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Cantiga de Maldizer
• Traj’ agora Marinha Sabugal
• a velha que adusse de sa terra,
• a que quer ben, e ela lhi quer mal;
• e faz-lh’ algo, pero que muito lh’ erra;
• mais ora quer ir moiros guerreiar
• e quer consigo a velha levar,
• mais a velha non é doita da guerra.
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