ramos e o bem morar em são paulo - marina cristina wolff

Upload: pedro-beresin

Post on 21-Feb-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    1/38

    Bem morar em So Paulo

    1 880 1910:

    Ramos de Azevedo e os modelos europeus

    Maria Cristina Wolff de Carvalho

    Doutora em Arquitetura pela Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo/Universidade de So Paulo

    A difuso de modelos europeus

    Na Europa do sculo XIX comeam a ser consolidados os vrios

    padres habitacionais representativos da moderna ordem social O arquiteto

    participar ativamente do estabelecimento dos parmetros construtivos espaciais

    e formais compatveis com as classes sociais vigentes e a industrializao Tm

    desenvolvimento assim pesquisas sobre a habitao operria da classe mdia

    de aluguel e das elites burguesas Estas ltimas so o objeto de anlise do

    presente ensaio

    As vilas casas da cidade e de subrbio palacetes chals e bangals

    de moradia das famlias das camadas mais altas da burguesia europia vieram

    a compor novas paisagens nos bairros ruas e avenidas em que se instalaram ao

    longo do sculo XIX O processo de colonizao e a influncia exercida pelas

    culturas francesa inglesa italiana alem holandesa e belga principalmente

    difundiram padres de construir e fixaram marcos nos mais remotos pontos do

    mundo

    A partir da Europa portanto se espalha para todo o mundo a

    tendncia da qual far parte na cidade de So Paulo a arquitetura domstica

    de Francisco de Paula Ramos de Azevedol So habitaes unifamiliares que

    trazem cristalizados na conformao espacial os valores importantes para os

    ricos clientes que as encomendam

    Ainda sem apresentar os efeitos das pesquisas habitacionais

    empreendidas aps 1850 por arquitetos e estudiososcomo Norman Shaw Philip

    Anais do Museu Paulista. So Paulo. N. Sr. v.4 p.165-200 jan./dez. 1996

    1.Arquiteto, cons

    professor Franc

    Paula Ramos de A

    So Paulo, 185

    ruj, 1928), form

    Engenharia e Ar

    em 1878 pela E

    Engenharia Civil

    versidadede G

    Blgica Projetou

    truiu os principa

    cios pblicos,

    cionais e particu

    cidade de So Pa

    cerca de cinqen

    em que esteve

    de seu escritrio

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    2/38

    Webb, Paul Sdille, Hctor Guimard, Hermann Muthesius 1861-1927), Adolph

    Loos 1870-1933), Henry Vande Velde 1863-1957), FrankLloydWright 1867-

    1959), Charles F. A Voysey 1857-1941), Edwin Lutyens 1869-1944), para

    falar de alguns, os projetos que vigoram durante o sculo XIXso a sntese de um

    momento anterior da histria da habitao, ocasio em que os estudos

    sistemticos sobre esse tema tiveram incio. Na Frana, Viollet-Ie-Duc 1814-

    1879), nos Estados Unidos, Samuel Sloan, Andrew Jackson Downing e Calvert

    Vaux, entre outros, so arquitetos que expressam, em seus projetos, vises do ideal

    formal e programaticamente ento perseguido.

    No Brasil, a tradio de origem lusa dos solares, manses, casas de

    chcara e quintas seguia sua histria de adaptao emprica organizao

    social e econmica, aos costumes e s condies fsicas e climticas locais

    Morales de Ios RiosFilho 1941: 197-205), chegando a resultar em habitaes

    com conformao prpria. O nome de arquitetos que as tenham projetado

    raramente conhecido. Anteriormente a A-H.-V. Grandjean de Montigny 1776-

    1850), os registros de arquitetos que tratassem de difundir sistematicamente suas

    idias sobre o programa e a forma da habitao em terras brasileiras so

    bastante escassos. A arquitetura domstica , nas cidqdes, feita de sobrados em

    que a riqueza e at mesmo a opulncia esto caracterizadas no volume e

    tamanho do edifcio e no em solues formais de autores, como j foi muitas

    vezes observado. No meio rural, desde os tempos coloniais prepondera a casa

    grande , com solues que partem das formas tradicionais de origem ibrica.

    As cartas sobre a habitao brasileira do engenheiro e arquiteto

    francs L.L.Vauthier 1975: 1-94), que morou no Brasilde 1840 a 1846, so

    reveladoras pelo que mostramdas habitaes tradicionais brasileiras, em especial

    do Recife. Por meio da crtica de Vauthier, possvelestabelecer uma comparao

    entre o que se pensava naquele momento na Frana em matria de bem-morar e

    o que a arquitetura domstica brasileira apresentava de retrgrado e atrasado,

    mas tambm de original e adequado, conforme aquela viso. Em especial, os

    aspectos relacionados s condies de higiene e salubridade, aos quais os

    europeus j estavam atentos h algum tempo, so apontados como deficientes,

    enquanto as adaptaes ao clima e aos materiais disponveis, como

    criteriosamente observados. Vauthier se demora em analisar a distribuio dos

    cmodos na casa brasileira, seja ela urbana ou rural, associadamente aos hbitos

    de seus moradores. A preocupao com o zoneamento e a franca separao

    entre as reas social, ntima e de servio est na base de suas observaes. Ele

    mostra que, na casa brasileira h, ainda, sobreposio e confuso entre essas

    reas e que a ausncia de uma fronteira nitidamente demarcada entre elas

    decorrncia dos hbitos locais, em que pese a total dependncia do trabalho

    escravo. Quando da visita de um estranho, tambm conta Vauthier,as mulheres

    da casa sempre desaparecem da vista, embora segundos antes pudessem estar

    em meio a seus afazeres no cmodo em que aquele ser recepcionado.

    Comparando os projetos residenciais de arquitetos europeus, norte-

    americanos e brasileiros, as inovaes, semelhanas e diferenas ficam evidentes.

    As inovaes esto ligadas ao processo de industrializao europeu e norte-

    americano, e ao desenvolvimento tcnico e cientfico. So incorporados, na casa,

    novos equipamentos e procedimentos referidos aos hbitos de higiene

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    3/38

    salubridade recm-adquiridos. Os projetos, agora, levam em considerao a

    orientao, o zoneamento e a circulao.

    As semelhanas entre habitaes projetadas por culturas distintas so

    devidas, principalmente, rpida absoro das conquistas tcnicas e s vrias

    motivaes que propiciam o emprego de formas arquitetnicas estranhas ao

    repertrio vigente. O gosto pelo extico e singular, o desejo de sobressair ou,

    ainda, a tendncia a imitar as grandes realizaes arquitetnicas so algumas

    delas. As diferenas ocorrem pela persistncia, afirmao e explorao de

    hbitos, materiais disponveis e tormas arquitetnicas tradicionais, geralmente em

    adequao ao stio, paisagem e aos costumesexistentes, ressaltando o que

    peculiar a cada cultura. Como estes condicionantes variam, em intensidade e

    presena, de lugar para lugar, e na abordagem, de arquiteto para arquiteto, no

    possvel dizer que exista apenas um modelo que sintetize a casa abastada do

    sculo XIX.

    As habitaes tais como os castelos, na linhagem dos

    chteaux Forts

    medievais, alm dos cottages manoirs vilas e quintas, so habitaes raras,

    pertencentes nobreza e aristocracia. europias. Estudadas cautelosamente,

    elas constituram paradigmas para a definio do que viria a ser a vila ou a casa

    de campo burguesa. Por outro lado, os exemplares aristocrticos da cidade, os

    palcios, pa azzi hte s casas ou manses da cidade, tambm contriburam

    para a formao de um parmetro mais largo e completo do que viria a ser o

    preenchimento das necessidades de uma habita9 de elite. Emambos os casos,

    o programa habitacional se realizou inteiramente. Ecomo seda simplificao dos

    dois modelos, formal e programaticamente, surgissea habitao burguesa.

    O programa da casa moderna est completamente definido no sculo

    XIX.As inmeras publicaes ento existentes, dedicadas ao tema da arquitetura

    habitacional, permitiram difundir gostos, hbitos, necessidades e rituais que se

    tornaram comuns e imprescindveis cena domstica. Publicaes especficas e

    peridicos de arquitetura tais como os franceses Architecture prive au XIXeme

    siecle

    de Csar Daly 1864], o

    Habitations modernes

    de Eugene Viollet-Ie-Duc

    1875-1991 ou o

    Moniteur des architectes

    1847-1900 ; os americanos, de

    Andrew Jackson Downing

    1873/1981

    I, SamuelSloan

    1852/1980 ,

    Calvert

    Vaux 1894/1991 ou A. j. Bicknell 1878/1979], para citar apenas alguns,

    guiavam arquitetos e clientes em todas as partes, sugerindo comportamentos,

    padres sociais e estticos relativos habitad. Opes de plantas e sugestes

    de estilos so apresentados ao consulente que pretende edificar sua casa e,

    principalmente, ao arquiteto que pesquisa. Ramosde Azevedo certamente seguia

    esta prtica. A organizao de suas casas apresenta a linha mestraencontrada

    nos catlogos e tratados contemporneos, comprovando sua sintonia e

    atualizao com a maneira de projetar da poca.

    Se possvel estabelecer uma evoluo da habitao paulista, da

    colnia aos tempos da proclamao da Repblica, os anos oitenta do sculo XIX

    vo mostrar um rompimento nesta trajetria. As casas que Ramos de Azevedo

    projetou so algo novo e estranho ao padro vigente at ento. Elas quase que

    pertencem a uma outra famlia de casas que, no apenas pela mo do arquiteto

    mas de outros agentes, como o imigrante, vieram a se instalar tambm em So

    Paulodurante aqueles anos, ligando a cidade a umfenmeno bem maisamplo.

    2. As

    publicae

    ridi s de rqu

    existentesao lon

    sculo X X e p

    metade do sculo

    o tema do nmero

    Revue de l art

    no

    1990 .

    1

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    4/38

    o lado do trabalho

    arquiteto munici

    de Gante, Louis

    quet 1849-1920 foi

    essor da Universi-

    de Gante, da Escola

    So Lucas, onde teve

    el destacado, e do

    tuto de Belas Artes

    Anturpia. Cloquet

    uma produo teri-

    histricasignificativa

    , em So Paulo,

    cutiu principalmen-

    travs de seu Trait

    cuja pri-

    rd eruo de 1898,

    egado como livro-

    o no CUrso de En-

    haria e Arquitetura da

    Politcnica muito

    avelmente por ini-

    iva de Ramos de

    A

    noo de habitar que Ramos de Azevedo trouxe de sua formao

    europia, realizada na cidade flamenga de Gante, d 1875 a 1878, ligacseaos

    hbitos,necessidades,idias, aspiraese costumesburgueses,osquais, naquelefinal

    de sculo, j tinhamtido algum tempo para constituirumcorpo conceituale formalde

    contornos bastante definidos. Em seus projetos, Ramos de Azevedo utiliza o

    zoneamento, a compartimentao, as peas e a denominao que so encontrados

    nas residnciasprojetadas por seuspares na segunda metade do sculoXIXe que

    trabalhosdidticos, como osdos professoresda Eeo/edes Beaux- ytsparisiense,Julien

    Guadet

    1909

    e da Aeadmie des Beaux-Artsde Anturpiae da Eco/edu Gnie Civil

    de Gante, LouisCloquef, por ~xemplo, explicam exaustivamente.

    Guadet, em seu Elments et thorie de I Arehitecture, primeiramente

    publicado de 1901 a 1904, descreve a habitao na cultura francesa e relata

    como a organizao dos espaos vem-se modificando no tempo, conforme

    exigem as necessidades sociais e culturais. Aponta, tambm, a rede de influncias

    que se estabeleceu ao longo dos sculos, principalmente no XVIII,democratizando

    conquistas na forma de habitar, atravs do contato entre diferentes civilizaes.

    Guadet chega sntesedos vrios espaos domsticos, mostrando os cuidados e

    necessidades que devem ser observados ao projetar cada um deles.

    A

    habitao moderna, Guadet dir, naseu com o sculo XVIII,

    ocasio em que ocorreu uma verdadeira revoluo na arquitetura residencial sob

    o ponto de vista da distribuio:

    On peut dire que I habitation moderne prend naissance avec le XVllle siecle, et Blondel,

    dons son trait d orchitecture, dit, non sons fiert, que depuis peu une vritable rvolution

    s tait faite dons I orchitecture des htels et maisons, ou point de vue surtout de Ia

    distribution. Eten effet, des grands efforts on t faits alors pour substitueraux anciennes

    enfilades des distributions doubles en profondeur, avec les dgagements indispensables

    Ia libert de I habitation. On a compris que si les diverses pieces d un apportement

    doivent avoir leursacces de rception, il faut aussi assurer Ia facilit et I indpendance des

    alles et venues, celles du service, celles mme de Ia retraite discrete. L indpendance

    dons I habitation, tel a t le but poursuivi por les orchitectes du XVll le siecle, et cette

    poursuite nous devons des plans tres remorquables, dont le plus important recueiI est le

    trait d orchitecture de Blondel, si intressant consulter (Guadet 1909: 37).

    As trs reas

    bsicas

    de uma moradia, rea ntima, social e de servio,

    so agora independentes, mas integradas atravs de uma rede de cmodos;

    devem ser distribudas de acordo com um rgido ritual social e conformadas s

    regras de conforto, higiene e salubridade.

    Os quartos formam o conjunto dos apartamentos da famlia. Para

    Guadet (ib.: 45), preciso que essescmodos sejam agrupados, comunicando-

    -se facilmente, e que sigam um princpio necessrio, a separao e

    independncia recproca da parte pblica e da parte ntima da habitao:

    Entendez-moi bien que d ailleurs quand je parle de portie publique, je veux dire por l

    Ia portie ou peuvent se trouver momentanment des personnes trangeres Ia famille.

    I...) Au point de vue de Ia famille, Ia disposition d un appartement ne saurait prsenter

    d inconvnients plus graves que Ia dispersion des chambres. j ajouterai que c en est un

    galement pour le service, cor le service comporte ncessairement une foule d alles et

    venues et de transports entre les diverses chambres. 11rclame donc lui aussi cette

    indpendance que je vous signale comme Ia qualit maitresse d une bonne distribution

    d habitation (ib.: 45)

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    5/38

    Os quartos, recomenda Guadet, devem ser arejados e iluminados

    at o meio-dia, atravs de, se possvel, duas janelas. A alcova

    desaconselhada, por ser uma pea encerrada que, assim sendo, contraria os

    preceitos higienistas. A forma mais adequada aos quartos a retangular e, na

    decorao, devem ser evitadas as cortinas pesadas, baldaquinos, tapearias

    e videaux de lits.

    O ar;>artamentodever compreender tambm cabinets de toi/ette

    cabinets d aisances bains garde-robe e a lingerie. Os gabinetes de toi/ette

    abrem para os quartos mas tambm tm portas de servio para o trnsito de

    empregados domsticos. Eles sero servidos de gua corrente, se possvel

    quente, para alimentar o meuble-toi/ette ou seja, a pia.

    Quant ou meuble-toilette, il pourra tre soit de construction, soit purement mobilier; mais

    dons tous les cas, il faut que I eau arrive directement ou cabinet de toilette, et qu il s y

    trouve le vidoir ncessaire pour se dbarraser des eaux soles sons qu on soit oblig de

    les transporter travers I appartement (Ib.: 56 . .

    As salas de banho, com as quais se confundem os gabinetes de toi/ette

    quando possuem uma banheira, devero ser claras e aquecidas e esfar prximas

    dos quartos.

    Os gabinetes sanitrios so cmodos onde se localizam as bacias

    sanitrias. Para Guadet eles podem estar situados onde se queira, sem temores

    do ponto de vista higinico, uma vez que esto superados os problemas que

    exigiam seu afastamento, restando apenas bem Iocaliz-Ios e relacion-Ios com

    outras peas ib.: 63 . Nos guarda-roupas, so reunidos os conjuntos de roupas

    dos habitantes da casa. A

    lingerie

    dever ser uma pea clara, munida de

    armrios para a roupa branca, constituda dos lenis, toalhas e peas pessoais

    ntimas. Freqentemente, ela ser servida de uma femme de chambre ou de uma

    domstica para as reacomodar e repassar. A vizinhana com os quartos tambm

    ser uma condio necessria para a IIlingeriell.Enfim,1I...entreles chambres et

    tout cela, Ia communication doit tre assure et libre ib.: 46 .

    Na rea social se destaca o salo. Guadet lembra que a palavra

    salon

    relativamente moderna mas que ela teve, no passado, seu equivalente

    com as expresses: grand sal/e, parloir,sal/e d ossemble, ou simplesmente,Ia

    sal/e. Sabe-se que a denominao parloirou parlor tem origem na palavra porler

    e designava, primeiramente, nos monastrios e prises, os locais destinados

    conversao. Na habitao senhorial da Idade Mdia, designava uma vasta

    sala comum onde se fazia de tudo um pouco. Ali eram realizadas as refeies,

    jogos, reunies, conversaes e mesmo dormia-se. J a

    sal/e

    era a pea de uma

    habitao destinada a um uso particular.

    C est mesureque I existance devient plus raffine et plus lgante qu on prouve le

    besoin d avoir des pices diverses pour les diverses fonctions de Ia vie. Alors, les pices

    se spcialisent, et on voit ds lors des salles manger, des bibliothques, etc., et en

    particulier des salles d assemble ou de conversation. Ce sont nos salons (ib.: 70 .

    O salo a ltimadesignao francesa da pea j especializada na

    habitao do XIX, recepo

    das visitase sociedademundana:

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    6/38

    Jen ai pas besoin de

    vous

    dire que le salon ou les salons concentrent Ia richesseet les

    lments de Ia reprsentation de I habitation. C en est Ia partie Ia plus dcore, Ia plus

    thtrale. (...) Lse justifient les grandes enfilades et les longues perspectives. Lessalons

    s tudient avec Ia pense de Ia rception et de Ia fte, des toilettes, de Ia musique, de

    Ia danse. ( H) lei, I inverse de Ia chambre, c est I tranger, I hte, qu il faut penser

    d abord. (H ) Lessalons seront groups: les grands salons formeront un ensemble, les

    petits salons seront rejets aux extrmits. Les petits salons, en effet, abritent des

    conversations intimes, des tables de jeux, un isolement relatif au milieu du bruit: ce serait

    donc une faute de les interposer entre des grands salons: ils ne seraient plus qu un l ieu

    de passage. Au contraire un petit salon sera une transition toute naturelle entre les salons

    et Ia chambre principale ou un cabinet detravail, une bibliothque, etc. (ib.: 70).

    E tambm explica que:

    Ie salon n a pas de d

    F

    endances directes, autres que I antichambre,

    le vestiaire et I office (...). Mais i a des complments: d abord les salons se

    compltent les uns par les autres, puis par le voisinage de toutes les pices qui

    contribuent Ia reprsentation: Ia chambre principale, Ia salle manger, le

    cabinet de travail, etc. Etdans Ia grande habitation , il y a, en plus des salons, des

    salles de destinations spciales, qui font partie au premier chef de I ensemble de

    Ia rception et de Ia reprs entation;ce sont les galeries et les salles de fte ou de

    danse (ib.: 85). .

    A s lle m nger ser destinada s refeies da famlia e convidados.

    Para a determinao das dimenses da sala de refeies ressaltada a

    importncia de aspectos como a largura e comprimento da mesa, devido

    necessidade de circulao ao seu redor. Guadet lembra que o aquecimento no

    dever incomodar os comensais, e que as paredes devero ser refratrias

    penetrao dos vapores e odores, aconselhando, na habitao rica, serem

    empregados os mosaicos e mrmores e, na habitao simples, se recorrer

    pintura ou aos vernizes.

    O o ice uma pea de servio ao lado da sala de jantar:

    La salle manger a une dpendance directe: I office, du moins, dans le sensmoderne

    de ce mot, et non comme I entendait La Fontaine: L office que I on nomme autrement Ia

    dpense , ou les rats allaient aux provisions. C tait alors un garde-manger. (H ) Dans

    notre langage, I office est une petite pice de service cot de Ia salle manger. C est

    l, depuis que ce ne sont plus les maitres de maison qui dcoupent et qui servent les

    convives, que les maTtresd htel dcoupent, font les portions, prparent les entres; l

    aussi que reviennent les plats desservis, les assietes et les couverts retirs: on y prpare

    aussi les glaces et rafraTchissementspour les salons. L office est en quelque sorte les

    coulisses de Ia salle manger. IH ) Dans Ia disposition gnrale de I habitation, sa place

    sera en communication directe avec Ia salle manger, et autant que possible sur le

    parcours entre elle et Ia cuisine (ib.: 106

    O gabinete de trabalho LJmapea para receber amigos, clientes,

    fornecedores e mesmodesconhecidos. E preciso que ele se ligue diretamente com

    a antecmara para que os estranhos penetrem o menos possvel na rE1sidncia.

    Por outro lado, pode ser que se queira atender o visitante num salo. E preciso,

    ento, que a antecmara d acesso ao gabinete de trabalho e a um salo, e que

    estas duas peas estejam prximas e se comuniquem (ib.: 108

    A biblioteca, por sua vez, ser acima de tudo uma sala de trabalho

    comum para a famlia. Ela dever possuir o maior nmero possvel de paredes

    claras e ter espao para uma grande mesa de trabalho. Para Guadet, esse

    o

    progr m d bibliotec

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    7/38

    (...1 moins cependant qu'il ne s'agisse d'un de ces amateurs de livres qui ont

    I'quivalent d'une bibliotheque publique, c'est alors un progromme exceptionnel, qui ne

    peut rentrer dons le cadre de I'habitation ordinaire (ib.: 108).

    As peas para o estudo, os sales de jogos, etc., no tm prescries

    particulares. O autor argumenta que eles so, na realidade, quartos ou pequenos

    sales. Dentre eles, apenas a sala de bilhar destacada como devendo ser

    posicionada preferencialmente em uma extremidade, de maneira que lhe se

    \

    'a

    assegurada grande independncia. Assim, os convidados sero a e a

    conduzidos sem passar pela recepo. O tamanho, possibilitando a livre

    circulao ao redor da mesa de bilhar, a iluminao difusa, sem a presena de

    diferenas marcantes entre reas de sombra e luz, so aspectos que devero ser

    atentamente observados pelo arquiteto em seu projeto dessa importante pea de

    sociabilidade masculina das residncias oitocentistas (ib.:

    108-10 .

    Dentre as dependncias de servio sobressaem as cozinhas, cuja

    instalao deve estar atenta ao distanciamento das reas ntima e sociais,

    evitando, nessas ltimas, seus odores e a proximidade com dejetos. No sculo

    XIXa cozinha entra nas casas. Mas, segundo Guadet, ela ainda implantada

    margem, timidamente, em ptios sem ar e luz. Ao mesmo tempo, nos ht s - as

    casas da cidade, .

    une habitude anglaise imite chez nous introduisit ou plutt rfJandit I'usage des

    cuisines installes en sous-sol, et quelquefois dons les vraies caves. C'est ainsi qu'il y a

    des cuisines claires et ares par les soupiraux horizontaux des portiques de Ia rue de

    Rivoli (ib.:

    115-18 .

    A localizao da cozinha assim considerada por Guadet:

    Sa place dons I'appartement est souvent difficile bien choisir: elle doit tre assez pres

    de Ia salle manger, sons lui tre contige; en tous cas, elle n'en doit tre spare que

    par des dgagements faciles et non par de Iongs corridors obscurs et tourtuex comme

    on en voit trop d'exemples; elle doit tre accessible par I'escalier de service, assez

    immdiatement pour que les fournisseurs n'aient pas traverser quelque partie que ce

    soit de I'appartement; elle doit tre en communication facile avec I'antichambre pour le

    service de Ia portei enfin elle doi tre assez part pour que les odeurs de cuisine ne

    se rpandent pas dons I'appartement (ib.:

    118 .

    Guadet descrevetrs partidos bsicosde cozinhas a dependerda

    localizao no rs-do-cho no subsolo ou ainda nos stos. As primeiras

    constituem o tipo mais apreciado pelo autor pelas vantagens que oferecem na

    comunicao com as peas que Ihes devem ser contguas. Aquelas no subsolo

    apontadas como as mais freqentes complicam o fluxode servios argumenta

    ainda que este inconveniente seja reparado com o monta-cargas. Recomenda

    que neste caso elas tenham janelas e no respiros assegurando a perfeita

    aerao do ambiente.

    Guadetdestacaque a cozinha

    no subsolo uma espciede cozinha localizada

    em um rs-do-cho inferior.Finalmente comenta a

    excepcional idade das cozinhas situadas nos stos ou no andar superior as

    quais apesar de recomendveis pela aerao perfeita so inconvenientes entre

    outros motivos pela dificuldade que apresentam para o acesso de fornecedores.

    As peas de serviocompreendem alm das citadas, localizadasno

    edifcio principal, os quartosde empregadosdomsticos umgabinetede toi tt

    e a lavanderia;umacocheirae a selaria; ptiosde servio,depsitos

    e outros.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    8/38

    Emcaptulo especfico (ib.: 135 e segs.), Guadet ainda se deter nas

    peas e edificaes que abrigam atividades ou bens complementares

    habitao. Essasseriam as caves fosses cisternes caloriferes curies se/eries

    remises

    entre outras.

    Ainda no edifcio principal, o papel de peas como o vestbulo,

    antecmaras e corredores, parece muito bem explicado no texto de LouisCloquet.

    No captulo primeiro do Trait d Architecture tratando da habitao, ele dar

    destaque distribuio das reas e independncia que deve existir entre as

    peas em uma residncia:

    La distribution doit rendre ais I aees des piees commodes, leur usage et leurs

    relations mutuelles, facile le serviee, avantageux I aspeet, I clairage, ete. (...) Les

    vestibules et antiehambres peuvent seuls tre des passages obligs pour eommuniquer

    entre les diffrentes piees. Certaines piees, eomme le salon et Ia salle manger, les

    ehambres eoueher et leursannexes, ne doivent jamais se eommander; on dit qu elles

    se commandent quand I une n est aeeessible que par I intermdiaire de I autre. Pour

    obtenir I indpendanee des piees et aeeder facilement a ehaeune isolment, est

    parfois neessaire de bire .usagede eouloirs, eorridors ou dgagements. Lepropre d un

    plan bien eonu est de diminuer autant que possible le dveloppement de eeux-ci; les

    Iongs eorridors sont tristes et font perdre un temps utile, jes dgagements sont un

    expdient qui trahit toujours une eertaine gne dans Ia distribution (Cloquet 1900: 8 .

    Continuando seu exame Cloquet diz que em geral o vestbulo deve

    ocupar uma posio central no grupo de peas que serve de modo a comunicar-

    -se tacilmente com o maior nmero de peas:

    Le vestibule d entre, qui est ordinarement le seul, fait sute ou porehe sur lequel il

    s ouvre largement. La eage d esealier lui est gnralement eontige, quand elle ne fait

    pas eorps avee lui. Le porehe, le vestibule et I esealier, bien coordons ensemble,

    eontribuent beaucoup I aspeet monumental de I intrieur de Ia maison. Ces parties

    peuvent tre spares par des portes glaees; elles peuvent avoir mme style. (...)

    Quand le vestibule prend Ia forme d un hall, selon un usage en honneur ehez lesAnglais,

    il embrasse I tage; il contient parfais une ehemine, une table et des siges. (...)

    l antiehambre spare le vestibule du salon; elle est sauvent prede d un vestiaire, ear

    e est l qu an quitte san pardessus. (...) Lesantiehambres peuvent tre multiplies dons

    les grandes demeures, et servir d intermdiaires entre divers appartements (ib.: 11-2 .

    Entre as reas da habitao reservadas recepo os dois autores

    iro fazer constar o ptio de entrada o prtico o abrigo do porteiro e a

    habitao do

    concierge

    Os jardins de inverno estufas varandas e terraos o

    parque e o jardim tambm so considerados como ambientes de recepo ou

    de representao e como parte portanto dos espaos voltados s atividades

    sociais em uma residncia.

    Em seu

    Trait

    Louis Cloquet explica demoradamente as

    caractersticas programticas e formais da casa flamenga abastada do final de

    sculoXIX(ib.: 51-89). Emlinhasgerais, o programano diferedo expostopor

    Guadet em relao quele francs. Formalmente no entanto h algumas

    diferenasbastantesutisque Cloquet ir explicar.

    Para

    tanto, ele no limita seu

    estudo casa de tradio flamenga valendo-se da comparao de suas

    principais caractersticascom aquelas dos modelos francs e ingls. Tambm

    mostraas feiesdistintivasdas casas americana alpina, escandinavae russae

    o porqude certosarranjosde plantase volumesemcada uma

    dessas culturas.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    9/38

    Lidando com programas praticamente iguais, elas iro imprimir traos particulares

    em suas habitaes, tornando-as incontundveis.

    Para Cloquet, a vila moderna de Flandres guarda os traos de uma

    ligeira assimetria, seja nos seus volumes, seja na planta. As justificativas de tais

    formas estariam ligadas ao desenvolvimento desta casa na tradio dos castelos

    e fortificaes da regio, aos hbitos e costumes locais, e ao

    reviv l

    das formas

    gticas e renascentistas, no esprito dos neo-estilos do sculo XIX. Ao mesmo

    tempo, continua; ela parece se colocar a meio caminho entre as tradies

    domsticas inglesa e francesa tendo, da primeira, os traos pitorescose a planta,

    que se desenvolve com alguma liberdade e, da segunda, o compromisso com

    formas mais contidas. Confirmando os argumentos de Cloquet, ao tratar do

    arranjo da vila francesa, Guadet 1909: 65-8 analisa que a vila francesa se

    distingue, em geral, por seu modo simtrico, pela pesquisa de unidade no seu

    agenciamento e pela ponderao de suas linhas. A planta e o volume da casa

    flamenga estariam, portanto, eqidistantes do arranjo orgnico e assimtrico da

    grande casa inglesa e do arranjo preponderantemente simtrico da habitao

    trancesa (Figs.1 a 5).

    Daly

    1870:

    21-2), em sua compilao de projetos de arquitetura

    residencial de Paris e arredores tambm se manifesta sobre as formas assumidas

    pelas residncias parisienses no sculo XIX:

    Depuis vingt ou trente annes, sous I influence d tudes et d observations nouvelles, une

    raction heureuse s est faite contre cette froideur et cette pauvret, L extensiondonne

    aux recherches archologiques nousa opport des connoissances plus tendues et plus

    exoctes sur les hobitotions du moyen ge et de Ia renoissonce, sur les chteaux et les

    htels des deux derniers sicles, et Ia focilit croissonte des communicotions, en rendont

    plus frquente I hobitude de visiter les poys voisins, a largi encare le cercle de nos

    investigotions architecturoles. A ces deux ressourcesrcemment ouvertes, I une historique

    et I autre internotionole, I architecte contemporoin a pu puiser une muttitude d inspirotions

    nouvelles; il a pu introduire dons ses oeuvres des formes moins bonales, et importer des

    toutes pices chez nous des types nouveaux: les chalets d Allemogne ou de Suisse, et

    les ott ges d Angleterre, 11en est rsult, dons nos constructions rurales, infiniment plus

    de varit, et chez les architectes un sens plus vroi des charmes de ta noture et des

    ressourcesd ogrment que peut offrir une ossociotion ptus intime de I architecture ovec

    les crotions du monde vgtal. mais il rgne aussi dons I architecture des villas un peu

    plus de confusion; I architecte n o pos su encore s ossimiter si parfoitement ses emprunts

    qu il ne les laisse recannoTtresouvent dons I espce de marqueterie que prsentent un

    trop grond nombre de nos hobitotions,

    Dalyest atento para o processo de internacionalizao que, ao invs

    de condenar como algo prejudicial s formas tradicionais da arquitetura

    parisiense, admite e apoio pelas contribuies trazidos.

    A arquitetura domstica possui um significado simblico. Ela se

    apresenta representando a condio social de seusmoradores e materializando

    um cdigo de valores a serem exibidos e divulgados. Ela caracteriza uma forma

    de poder, seja ele poltico, econmico ou da tradio. O paJacete ao final do

    sculo XIXpossuir os atributos que o colocaro frente, na vanguarda do bem-

    -morar , e funcionar como uma vitrina das aspiraes civilizatrias da

    sociedade. Ele mostrar, doravante, como seu proprietrio se situa

    profissionalmente, algo de sua posio e de seus valores. Em estudo sobre as

    mudanas no espao domstico e a decorao de interiores do perodo Karen

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    10/38

    Trata-se do lbum

    ogrfico pertencente

    acervo do Conselho

    Defesa do Patrimnio

    istrico -, Arqueol-

    coe Turstico

    Estado de So Paulo -

    ONDEPHAAT -, que

    em ouroo

    Views of buildings

    signed and conslruct-

    byRamos de Azevedo,

    As 50 foto-

    afias que contm no

    o datadas ou legen-

    das. So de autoria de

    ito Rudolph Quaas e

    brem uma seleo de

    edificios pblicos e

    recm cons

    dos, projetados por

    mos de Azevedo. O

    esmo lbum com li

    iras variaes foi re

    oduzido numa verso

    gendada e em por-

    gus de que a Bi-

    ioteca Central da Es-

    a Poli tcnica da USP

    sui seL..exemplares.

    u titulo

    lhum de

    ;tmces escriptorio

    chnico do engenheiro-

    chileclo F.P Ramos

    Halttunen 1989: 157-89) analisa que uma caracterstica fundamental da casa no

    sculo XIX a sua nfase em espelhar o carter do proprietrio, diferentemente

    da casa do sculo XX,que gradualmente se afirmar como uma extenso de sua

    personalidade .

    Integrada cidade mas ao mesmo tempo contando com rea livreo

    suficiente para desfrute, na privacidade, de jardins especialmente ambientados

    para vrios estados de esprito, situaes e gostos, a casa poderia reunir as

    qualidades e benesses tanto da habitao da cidade como do campo. Ela

    poderia ter vistas e perspectivas largas e distantes alcanadas atravs de terraos,

    balces e mirantes estrategicamente colocados. A frmula de Daly 1870: 20),

    dizendo que 10vil/a, qu elle soit petite ou grande, chteou ou cho/et, a toujours

    le principe: le confortdons Ia libert, Ia vil/e Ia campogne , aqui foi

    invertida. As residncias citadinas de final de sculo so implantadas, nos bairros

    novos, principalmente em meio a amplos terrenos propiciando sua valorizao

    sob vrios aspectos. O jardim fronteiro ser como uma antecmara: ele

    distanciar o espao pblico do privado, possibilitar uma transio entre ambos

    e ao mesmo tempo permitir, de fora, apreciar a casa. Esta, muitas vezes, estar

    na parte mais alta do terreno. Noutras circunstncias os jardins sero verdadeiros

    anteparos, protegendo-o e isolando-a do mundo extrior. O muro alto ser um

    recurso corrente para a separao radical da propriedade dos espaos urbanos.

    Enfim, um amplo terreno, condio essencial da residncia burguesa, flexibiliza

    as possibilidades de disposio da casa e torna evidentes as pretenses dos

    moradores quanto preservao de sua privacidade e ao que exibir.

    Os projetosde Ramosde Azevedo

    Nos projetos residenciaisde Ramosde Azevedo possvelencontrar todo

    o repertrioda habitao burguesa europia descritopor Guadet e Cloquet. Eleest

    na composio do programa, na implantao dos editcios, nos desenhos de plantas,

    na organizao das reas social, ntimae de servio; nas volumetrias,nos desenhos

    de fachadas e nos detalhes de decorao. Est nos materiais utilizadose no modo

    do seu emprego. Est, ainda, na atmosfera, que tanto pode ser entendida como a

    marca do estrangeirismocomo a assinatura do arquiteto que os projetou.

    A partir de treze edifcios constantes de um portfliddo arquiteto, e de

    outros tantos projetos, possvel estabelecer algumas hipteses sobre a

    abordagem do tema habitacional por Ramos de Azevedo

    A situao do terreno, se no centro da cidade ou mais afastado, se de

    esquina ou em meio ao quarteiro, indica a opo de implantao do edifcio

    principal. A legislao municipal ter suas exigncias, certo, obrigando ou no

    a construo junto ao alinhamento predial. Mas j possvel verificar certa

    flexibilidade em relao s rgidas regras de implantao do edifcio junto ao

    alinhamento. A casa se afasta e surge a meio-caminho entre o espao pblico e

    o da intimidade, o jardim.

    O programa dessa residncia, com algumas variaes e eventuais

    omisses de peas no-essenciais, constitudo das reas social, ntima e de

    servio. Na cadeira Elementosde arquitetura. Estudo dos det lhes do cursode

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    11/38

    engenheiros-arquitetos da Escola Politcnica, Ramos de Azevedo 1900:148-

    54), coerentemente, ensinava a projetar as habitaes da maneira como as

    fazia. Ao ensinar quais sero as reas que as compem, na parte do curso

    intitulada Estudos das diversas sees das habitaes o arquiteto utiliza a

    nomenclatura j referida, e prope condies e caractersticas semelhantes para

    o zoneamento e distribuio do espao.

    Assim, o programa de casas senhoriais e as conseqentesplantas de

    projetos prevem sees que nada mais so que as reas bsicas da casa. Nos

    projetosestudados,as peasque compem a rea social so referidas,numa mistura

    das denominaesem portugus,francs, italiano e ingls, como entradasde honra,

    prtico, vestbulo, hall gabinetes, escritrio, sales, escadaria, toilettecom lavabo e

    water closet corredores,galerias, sala de jantar,office de servio, sala de bilhar, sala

    d armas,

    fumoi~

    sala de senhora,

    boudoi~

    biblioteca, jardim de inverno, varandas,

    terraos, balces, Ioggias parques, jardins, estufas. Para as peas ntimas h as

    antecmaras, os quartos de dormir, terraos e balces,

    boudoirs

    gabinetes de

    toilette sala de banhos, nursery lingerie ou rouparia, sala de famlia, gabinete de

    costura,

    toilette

    e

    water closet.

    As peas de servio so constitudaspela entrada e

    escada exclusivas, pelo office ou pela copa - que ter um monta-cargp quando a

    cozinha est no subsolo, pelo compartimentodenominado

    creados

    ou

    creada

    pela

    cozinha, lavadouro, despensa, frigorfico e adega. Eventualmente, em uma

    edificao separada esto o engomador e a lavanderia, que se conectam a um

    ptio de servio ligado s atividades. Nos projetostambm comparecemos viveiros

    para aves, horta e pomar. Uma edificao prpria abrigar as cocheiras, a selaria,

    depsitos, habitao de empregados e outros.

    Emseu curso, Ramosde Azevedo ensinava a amplitude e disposio

    das diversas peas , numa clara demonstrao de sua ateno ao

    dimensionamento adequado s funes e situao dos cmodos na geografia

    da casa. Para as vilas e palcios na cidade e no campo o arquiteto acrescentaria

    os sentimentos de arte e de suntuosidade que devem presidir a organizao

    destesprojetos e a magnificncia e amplitude das formas e propores gerais dos

    edifcios (ib.: 153 . Alm disso, discorreria sobre a disposio e carter dos

    elementos; a distribuio conveniente de prticos, galerias, balces e terraos e

    de grandes acessrios tais como

    F

    rticos e ptios de ingresso nobre, abrigos de

    chegada, alojamentos do pessoa de vigilncia, etc.

    Ramos de Azevedo ensinava meticulosa e exaustivamente todos os

    passos do projeto e da construo. Da localizao e orientao do edifcio

    principal, etapas de construo, projeto e construo de anexos, jardins, grades

    e portes s grimpas no alto dos telhados. Em outro ponto do curso ele iria

    mostrar os procedimentos construtivose materiais a serem utilizados, 9Scuidados

    durante a construo do edifcio e os ofcios, ou artes, envolvidos. E assim que

    emergem os aspectos a serem atendidos no projeto da grande habitao

    conforme a viso do arquiteto, do professor e de uma poca.

    o palaceteda Marquesade Itu

    A residnciados marquesesde Itufoi edificada, provavelmente,aps

    1889,

    em umloteamplo no lado direito da rua Flornciode Abreu, totalmente

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    12/38

    Tudo leva a crer que

    Marqueses de ltu ti-

    m residncia ranto em

    como em So Paulo.

    construo do palacere

    Florncio de Abreu

    de rer sido encomen-

    da logo aps a malte

    Marqus, em 1889,

    is uma srie de dados

    onta para isso. Primei-

    h a designao de

    priedade do ecfcio

    porrflio de Ramos de

    evedo como Palacere

    Exma. Marqueza de

    u . Em seguida, h a

    desta refern

    ao imvel nas crni

    s sobre a cidade. Os

    e e oito anos de viu

    z da Marquesa so

    dos sua perma

    no p l cete

    con

    idaram a denomina-

    sempre encontrada.

    destacada em meio a jardins e com a fachada principal orientada para oestes.

    No volume principal cbico, o corpo saliente da trente, em semicrculo, se

    projetava para o alto terminando em uma cpula. Uma aquarela e fotografias

    mostram um edifcio at pequeno, com ar de um pavilho , onde esto presentes

    espaos intermedirios, terraos, sacadas e loggias. Estes se voltavam para o

    entorno propiciando o acompanhamento dos acontecimentos que ali transcorriam

    no dia-a-dia: o fluxo de veculos e de transeuntes que circulavam pelas ruas

    prximas se dirigindo ao Jardim da Luz,ao Seminrio, para as estaes de trem

    ou, em sentido oposto, para o centro, alm, claro, do movimento da chegada

    e partida dos trens na estao ferroviria vizinha. A proteo visual

    proporcionada por elementos arquitetnicos tais como a loggia possibilitava a

    participao discreta nos acontecimentos da cidade, lembrando os antigos

    muxarabis, como o seu contrrio, mostrava ao mundo, tambm velada mente, um

    pouco do que acontecia nos interiores da casa.

    O porto abria-se para as carruagens que, parando no lado direito do

    edifcio, deixavam os visitantes. Uma escada de acesso ladeada por dois

    blackamoor os levaria ao vestbulo. Esta pea de distribuio e de introduo

    estava restrita funo de antecmara dos espaos sociais: o escritrio e o salo

    frente e a sala de jantar aos fundos. Nada nele permite vislumbraros espaos

    da intimidade ou dos servios da habitao. A sala de jantar caber a

    distribuio tanto para o conjunto de peas que os compem, incluindo o

    hall

    da

    escada que leva ao segundo andar e o jardim de inverno contguo.

    A planta trrea mostra um arranjo quase simtrico a partir de um eixo

    central dividindo ao meio os espaos do terrao, da

    loggia

    do salo, da sala de

    jantar e do, jardim de inverno, numa sucesso de formas diferenciadas em

    ampliao. A direita esto o escritrio, o vestbulo, o compartimento, do

    creado

    e, num corpo, em um pavimento, a copa, a despensa e a cozinha. A esquerda,

    voltados para a fachada norte, a sala da senhora, a pequena toillete a escada

    de acesso ao andar superior, as instalaes sanitrias e a sala de banho. O

    zoneamento bastante claro, resguardando no lado norte do pavimento, ao rs-

    do-cho, os compartimentos destinados privacidade dos habitantes da

    residncia e antecipando o segundo andar.

    Este seria integralmente destinado aos dormitrios, quartos de vestir,

    banheiro, water closet e terraos, dos quais se destaca aquele fronteiro ao

    dormitrio principal, protegido pela

    loggia.

    Houve, sem dvida alguma, um

    aproveitamento dos lados melhor insolados para as peas de maior permanncia.

    Associando os desenhos de plantas perspectiva em aquarela e s fotografias,

    nota-se o p-direito alto e as amplas aberturas das janelas.

    A sala de jantar se mostra como um local de intenso convvio. Ao

    mesmo tempo em que permite o acesso e integra todas as regies da casa, ela

    preservada em sua tuno primeira, em particular dos barulhos e odores da

    cozinha, da qual separada pela copa.

    Percebe-se uma hierarquia e diferenciao das funes e dos usurios

    na presena dos diferentes acessos. Emuma casa circundada por jardins, aquele

    frontal, exposto para a rua, convida entrada pelo artifcio do duplo acesso que

    envolve o terrao. Porm a mensagem -dbia pois as esc;adas parecem levar

    somente ao terrao, que se projeta como um mirante ou, no mximo, oggia A

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    13/38

    leitura contrria, do interior para o exterior da casa, permite verificar que se

    pretendeu dar continuidade aos espaos do salo, do escritrio e da sala da

    senhora em direo aos jardins.

    A escada lateral leva entrada principal da residncia. A cozinha por

    sua vez tem acesso exclusivo e independente, separanb empregados,

    fornecedores e o fluxo de servio da rea social da residncia. Equase certo que

    neste edifcio o poro alto no tenha sido utilizado para servios, tendo existido

    to-somente para cumprir seu papel de isolar o pavimento trreo do solo. O

    jardim de inverno est ligado ao jardim a cu aberto situado na parte posterior

    do terreno.

    Outras construes isoladas que abrigassem dependncias de apoio

    no esto devidamente documentadas mas deveriam existir nos fundos. Uma

    fotografia de Oito Quaas retratando o palacete mostra no lado direito parte de

    uma edificao que deve ter servido a um daqueles itens ainda no

    contemplados: habitao de empregados, cocheiras e local para guarda de

    carruagens ou lavanderia.

    Nos jardins havia, ainda, duas estufas para plantas. Como o jardim

    de inverno, eram trabalhadas em ferro e vidro. Os terrenos da propriedade eram

    vastos. Chegavam r-uaMau contornando o lote de esquina entre esta rua e a

    Florncio de Abreu. E de supor que, como de hbito, ali houvesse ainda um

    pomar, horta e galinheird.

    Existia integrao entre as organizaes do exterior e do interior do

    palacete. No havendo registros deste ltimo, apenas esboos de uma pintura

    do teto do salo e dois desenhos de detalhes - um forro em madeira e parte de

    um armrid, de se supor que apresentassem grande semelhana com outros

    interioresprojetadospor Ramosde Azevedo- ainda existentesou documentados

    - nos materiais utilizados, na sua combinao e na adequao aos cmodos. O

    mesmo pode ser dito do mobilirio e dos equipamentos necessrioss atividades

    ntimas e aos servios, principalmente daqueles ligados cozinha.

    A partir da observao e interpretao destes espaos verifica-se que

    os imperativos de pompa e aparato comunsaos palacetes convivem, na casa da

    Marquesa, com as mais recentes conquistas do conforto e com as noes da

    poca relativas privacidade Figs. 6 e 7 .

    O programa da casa, bem como sua distribuio, poderiam,

    eventualmente, sugerir algumas particularidades advindas da condio da

    Marquesa, viva sem filhos. No entanto, ao estud-Ios,nada parece indicar que

    ali vivesse uma pessoa solitria. Ao contrrio, o programa tpico de uma

    residncia familiar rica de final de sculo, com seusagenciamentos tambm dos

    mais usuais. Isso parece contradizer a premissa de um projeto voltado

    especialmente para o cliente, porm necessrio lembrar o papel da residncia

    como cenrio de representaes e como smbolo da condio social de seu

    proprietrio.

    O irmo da Marquesa, Rophael Tobias Paes de Barros, Baro de

    Piracicaba 11 ,assim como seu tio, o Brigadeiro Tobias de Aguiar, tinham

    residncia na rua Alegre, posteriormente Brigadeiro Tobias Homem

    1996:

    90 .

    A proximidade do local onde os marqueses construram sua casa mostra que a

    escolha foi intencional. A regio devia constituir uma espcie de feudo desta

    6. Clvis de At

    Jtge 0988: 111)

    que ...0 engenheir

    Eduardo de Aguiar

    drdda, nascido no

    em 1873, fIlho do

    res Aguiar D An

    adquiriu rea na

    Mau,

    antigo jardi

    palacete da marque

    tu

    Ali, projetou

    construir combina

    colonial brasileiro

    estilo vitoriano 28

    assobradadas, bem

    rentes daquelas h

    es proletrias. O

    junto ont v com

    .

    dras esportivas, coch

    ete. e foi alugad

    alemes e il lglese

    trabalhavam na

    Paulo Railway.

    trudas no perodo

    Guerm Mundal, fi

    conhecidas como

    Inglesa e represe

    um dos expres

    equipamentos arqu

    nicos do bairro (gr

    autor).

    7. Peas grficas do

    jeto da casa da Mar

    de Itu pelo Escr

    Ramos de Azevedo

    tencentes ao acer

    Biblioteca da Facu

    de Arquitetura e

    nismo da Univer

    de So Paulo.

    1

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    14/38

    . Clvis de Athayde

    ge 1988: 112),escreve

    ue ...na antiga rua da

    ituio elevou-se a

    idncia do engenheiro

    coronel Antnio Paisde

    rros, fIlho do Bacia de

    iracicaba, diretor da

    ompanhia Paulista de

    stradas de Ferro e da

    uana. Era um casaro

    arcaelas,fugindo um

    ouco do neoclssico

    partido imi-

    ado da Frana e melhor

    climatado no Rio de

    aneiro com a obra de

    andjean de Montigny e

    ros da ML

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    15/38

    ltima, invariavelmente, Ramosde Azevedo prope um terrao e, s vezes, at

    um jardim de inverno. Tambm ir projetar terraos junto aos quartos no

    segundo pavimento. O volume marcadamente simtrico ser reencontrado nos

    projetos como da residncia de Arnaldo Azevedo Villares e de LuisAnhaia, de

    1896

    Lemos

    1985: 135).

    Acasa de Olivia e Igncio Penteado

    Outra situao encontrada aquela em que o edifcio principal foi

    construdo no alinhamento predial e em uma esquina. Dos projetos do lbum,

    apenas o palacete de Igncio Penteado, de

    1899,

    mandado edificar na esquina

    das ruas Conselheiro Nbias com Duque de Caxias14se apresentava assim.

    Porm, as residncias de Raphaela Paula Souza Fig. 10), e de Antonio Paula

    Souza, de

    1889, situadas

    nas esquinas das ruas Florncio de Abreu antiga rua

    da Constituio) com Paula Souza Kossoy 1988: 52-3); de Manoel Pessoa

    Siqueira Campos Lemos 1993: 127); do Baro de Pirapitingui, de cerca de

    1892, situada nos alinhamentos das ruas Ipiranga e Visconde do Rio Branco

    Lemos 1985: 128) e de Carlos Paes de Barros 1895?)15, partilhavam da

    mesma implantao. E no apenas isso.

    Os edifcios so, geralmente, em dois pavimentos e poro alto, com

    os servios situados na extenso em um pavimento. A entrada social encontra-

    -se no no alinhamento, mas protegida no lado voltado para os jardins. Nos

    exemplos estudados apenas a residncia de Carlos Paes de Barros possui a

    entrada social em umas das fachadas principais. Estasfachadas tm tratamento

    regular enfatizado pela modenatura. O volume da esquina , quase sempre,

    destacado por um tratamento formal particular. A ele corresponder, no

    telhado, uma torre ou uma cpula. Uma decorrncia do destaque dado ao

    volume da esquina a sugesto de que existam dois outros volumes que lhe

    so contguos, dando a falsa idia de um edifcio em trs corpos. Esta

    caracterstica ir aproximar estes edifcios de outros com projeto de Ramos de

    Azevedo. Embora no tenh,am em comum a implantao, apresentam

    volumetria ou planta similar. E o que ocorre, por exemplo, com a

    casa do

    Baro de Arary, situada na rua do Triunfo e, possivelmente, de 1892 Lemos

    1993: 132-3L em que a planta e o volume lembram os da casa

    de Igncio

    Penteado. Dos edifcios do lbum, a

    casa de Almeida Netto tambm apresenta

    esta

    feio Fig.

    11 .

    Na casa

    de Igncio Penteado, a sugesto de um edifcio

    em trs

    corpos, propiciada pelo aspecto

    das fachadas, no se reflete na planta. O

    corpo principal tem a forma de um retngulo. O acesso lateral leva a um

    corredor que distribui, nos lados, para o escritrio e para o quarto de

    hspede. A frente encontra-se o vestbulo circular com p-direito duplo,

    o que

    o caracteriza como um hal e oito aberturas. Estas abrem para a rouparia,

    guarda-roupa, salo nobre,

    sala

    da senhora, sala de jantar, servios e

    water

    doset

    e para a escadaria que, iluminada por uma clarabia, conduz ao

    segundo andar. A sala de senhora, correspondendo ao trecho da esquina,

    octogonal e ligada diretamente

    ao salo

    nobre e

    sala

    de jantar. Assim,

    o

    11. o palacete d

    Paulinu compar

    ndice geral de p

    Severo Villares

    nmero 555 e

    localizado na rua

    lheiro Crispinian

    p.4 do volume

    Registrode obrasp

    lares

    do Arquivo

    rico Municipal re

    ruaConselheiro

    niano, h o pedid

    construo de u

    cheira no nQ90 d

    priedade do Sr

    PaulinoNogueira

    do por Ramos d

    vedo em 19.11.1R

    12. O palacete

    Almeida Prado

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    16/38

    do Arquivo

    rico Municipal v

    , de 1895, p.12, refe-

    te rua Consel lieiro

    bias, t raz o pedido de

    inhamento e nivela-

    emo, assinado por

    ancisco de Paula Ra-

    os de Azevedo, a 2 de

    neiro de 1895.

    . Conforme o ndice

    al de projetos Severo

    no qual est re-

    strada sob o nmero

    6, a residncia de

    rlos Paes de Barros era

    calizada na rua Santa

    ignia com lpiranga.

    infonnaes no Ar-

    ivo Municipal so

    95 e 1896, h pedidos

    sinados por Ramos de

    evedo de construes

    ra propriedades de

    rlos Paes de Barros, na

    lpiranga cf. o Regis

    de obraspatticulares

    1885/1900; v.35,

    80; 1896:v.118, p.32 .

    . Ver, a propsito, as

    straes e descrio

    s interiores deste pa-

    cete no trabalho de

    aria Ceclia Naclrio

    omem 1996: 154 e

    vestbulo , aqui, uma pea exclusivamente de trnsito, intermediria entre os

    vrios ambientesl6.

    A sala de jantar d acesso a um terrao, voltado para a rua e para a

    copa, ambos j no trecho em um pavimento. Tambmali esto localizadas a sala

    de banhocom water c/oset a sala dos empregados, a despensa, a cozinha e a

    entrada de servio. Embora no haja a planta do segundo pavimento, possvel

    imaginar sua organizao e os cmodos presentes. Da antecmara

    correspondendo ao vestbulo no trreo, se chegaria aos quartos, talvez em nmero

    de quatro. Estesestariam ligados s respectivas toilettes. a cmodo acima da

    rouparia poderia ter sido uma sala de banho. A fachada voltada para a rua

    Conselheiro Nbias, a nordeste portanto, e os trechos interiores, voltados para

    noroeste, permitiam a insolao eficiente dos ambientes de permanncia

    prolongada Figs. 12 e 13 .

    Alm destas, a residncia possua outras instalaes como a cocheira,

    uma casa para moradia dos empregados, ptios de servio, jardins, horta e

    pomar. E, mais tarde, o pavilho de Dona alvio.

    A casa do arquiteto

    Um terceiro grupo de projetos o das casas cujo cozinha e demais

    dependncias de servio foram implantadas no subsolo. A casa de Cndido de

    Moraes Figs. 14 e 15 , de 1892 Lemos 1985: 133-4 , de Manoel Pessoa

    Siqueira Campos e de Cndido Luca ib.: 100-1 possuam dependncias de

    servio no subsolo, indicando a recorrncia, ainda que em apenas trs outros

    casos, desta soluo. As quatro casas com subsolo apresentam plantas e volumes

    de formas irregulares, telhados altos, torres, frontes e beirais lambrequinados,

    resultando, muitas vezes, em construes reminiscentesdaquelas de Flandres.

    A residncia do arquiteto, a casa nmero 111 da rua Pirapitingui, est

    situada esquerda do ltimo tero da quadra nica que, partindo da rua

    Vergueiro, em suave declive, termina na rua Tagu.

    a

    lote, conseqncia da

    partilha de uma antiga chcara, a do Fagundes, demonstra a ausncia de uma

    inteno IoteadorG organizada no bairro da Liberdade, semelhante quela

    encontrada em Campos Elseosou na Cidade Nova, seja nas suas propores,

    seja na irregularidade de seu desenho.

    Aps cinco anos em So Paulo, em 1891, Ramosde Azevedo iniciou

    a construo de sua casa. A possibilidade de projetar uma casa que fosse,

    tambm, um carto de visitas deve ter contribudo em muito na definio de suas

    caractersticas formais e construtivas.a edifcio principal, concebido nas linhasdo

    neo-renascimento flamengo, foi implantado junto a um dos limites laterais do

    terreno, aquele voltado para oeste. Assim, este lado apresenta uma empena cega

    e os demais voltam-se para o lado do vale, a leste, para a rua Tagu e toda a

    regio mais baixa, de amplos horizontes. A silhueta movimentada do edifcio,

    antecipando a assimetria da planta, acentuadamente vertical, com vrios

    corpos articulados, cobertos por telhados em ponto alto. Na parte posterior foi

    feita uma ampliao em

    1904.

    a conjunto constitudo, alm da casa, pelos edifcios da antiga

    cocheira, depois garagem e residncia do caseiro, por um pavilho no centro

    do

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    17/38

    jardim, pelas cavalarias e por quatro estufas para plantas em ferro e vidro. Um

    jardim exteriar com paisagismo de gosto romntico, em que esto presentes

    espcimes exticos, caramanches, caminhos sinuosose uma horta em trs nveis,

    completa o projeto.

    O edifcio principal tem quatro pavimentos: o subsolo, o rs-do-cho,

    o primeiro andar e o sto. A construo em alvenaria de tijolos revestida com

    pintura simulando aparelho de tijolos policromados e tem os cantos e arremates

    dos vos de portas e janelas em bossagem. No subsolo foram localizadas as

    reas de servio e de armazenagem. Dele fazem parte a cozinha, a copa,

    cmodos para o estoque de suprimentos e abastecimento domsticos, como a

    despensa e a adega. Tambm ali localizada a lavanderia. A cozinha e a copa

    so ligadas ao rs-do-cho atravs de um monta-carga. Na casa de Ramosde

    Azevedo o subsolo no est semi-enterrado. Como Guadet aconselha em seu

    lments aqui ele praticamente um pavimento como os demais, ventilado

    atravs de respiros e janelas e, no trecho correspondente cozinha, iluminado

    natural e adequadamente.

    Uma escada de servio lev ao

    r

    avimento superior onde estavam

    dispostos os cmodos destinados vida socia da famlia, ao estudo e leitura,

    s refeies e ao lazer. O vestbulo distribui para a sala de visitas, sala de jantar,

    escada de acesso ao pavimento superior, water-closet e sala de bilhar. A sala de

    jantar cercada em dois lados por terraos e leva copa e sala da famlia.

    A ampliao de 9 4 rearranjou os espaos e somou no rs-do-cho um

    escritrio e a biblioteca e, no subsolo, uma marcenaria. No primeiro andar

    encontravam-se a antecmara de distribuio, os quartos de dormir e seus

    apndices, os gabinetes de vestir ou toilettes a ampla sala de banhos e a

    rouparia. Finalmente, uma escada mais modesta levaria ao sto, localizado no

    desvo dos telhados. No sabido, mas as peas do sto talvez fossem

    utilizadas para a habitao de empregados, para guardar objetos, bas e malas

    e como rea dos brinquedos das crianas Figs. 16 e 17 .

    A casa, assim como as edculas, possui uma excelente execuo em

    todos os detalhes construtivos, estruturaise decorativos, testemunhandoo capricho

    e cuidado na escolha de mo-de-obra especializada e qualificada para a

    execuo dos servios. Os materiais utilizados so sempre da mais alta

    qualidade. H dois vitrais. Q primeiro deles, mais antigo e de maiores

    propores, est no saguo. E trabalhado nas cores vermelha e branca. O

    motivo o monograma de Ramos de Azevedo, que aparece entre as palavras

    Ars e Labor e desenhos florais, em meio a um compasso e esquadros. O outro

    vitral, situado em uma das aberturas no trecho ampliado em 1904, uma

    alegoria da arte, simbolizada por uma figura de mulher tendo a seus ps os

    instrumentos do ofcio da arquitetura e, numa folha de papel, o esboo da

    fachada do Teatro Municipal de So Paulo.

    A casa da Condessa do Parnaba e a casa de lacerda Soares ou de Maria Flora

    de Souza Queiroz

    Outra situao aquela em que o edifcio principal est situado em

    meio a jardins, possui planta regular em dois pavimentos, rea de servio no

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    18/38

    . Residncia Mello de

    iveira O. Bati,ta Mello

    Oliveira : no Arquivo

    unicipal no h nada

    e confirme data ou

    alizao. Segundo o

    ice geral de projetos

    este o

    velde nmero 0456.

    ria localizado na rua

    deiro Tobias.

    apndice em um pavimento e entrada principal frontal protegida por um prtico.

    A organizao interior dos cmodos ser alterada em relao ao primeiro grupo,

    aquele exemplificado pela casa da Marquesa de Itu, em conseqncia da

    disposio da entrada principal e do vestbulo, na frente. A aparncia exterior

    variar desde as situaes em que se apresentam mais contidas como so as

    duas residncias Mello e Oliveira

    17

    e a casa do Baro de Bocaina, at casos em

    que houve a opo pelo estilo neo-medieval, exemplificado pelo palacete

    Lacerda Soares ou de Maria Flora de Souza Queiroz, de

    1892

    (d. catlogo de

    desenhos de arquitetura da Biblioteca da FAU/USP) (Fig. 18), ou pelo estilo do

    neo-renascimentoflamengo, caso da residncia Barboza de Oliveira (Fig. 19). O

    movimento da fachada ilude e esconde, primeira vista, a regularidade das

    plantas. Neste grupo esto as plantas das casas de Cndido Lacerda, Alfredo

    Ellis 1891

    (Ib.: 16) e da Condessa de Parnaba (1891 ) (Ib.: 17).

    Na casa da Condessa de Parnaba (Fig. 20), o corpo principal tem dois

    pavimentos e a forma quase que retangular.O corpo principal complementado

    pelo volume em um pavimento das dependncias de servio. A casa da Condessa

    lembra, e muito, a do prprio Ramosde Azevedo. Ela possui o mesmo tratamento

    de tijolos vista, policromados, telhado em ponto qlto, volume da escadaria

    correspondendo a um telhado em ponta com grimpas, vrios terraos e amplas

    janelas francesas.O movimentodas fachadas e a elegncia da volumetria tambm

    contribuem para esta semelhana, que aproxima as duas residncias daquelas j

    lembradas de Cndido de Moraes e de Cardoso de Almeida.

    A entrada principal, frente, leva ao vestbulo em corredor. Este

    distribui para o gabinete esquerda, e para o salo, direita. Emseguida, mais

    frente, para o

    water c/oset

    e para a escada que conduz ao pavimento superior;

    para a sala de trabalhos e para a sala de jantar. Estaltima abre para um terrao

    e para a pea que distribui para os compartimentos de servio. A rea de

    servios constituda pela copa, despensa, cozinha e

    creada

    Esta ltima pea

    devia servir originalmente para a permanncia dos empregados entre uma

    atividade e outra e ser utilizada para suas refeies, donde no estranhar o fato

    de estar ligada diretamente com a cozinha. Um quarto de hspedes situa-seao

    lado da sala de trabalhos. A escada chega, em cima, na antecmara, que

    distribui para os quatro quartos, sala de banho e

    water c/oset;

    para a rouparia,

    toilette

    e terrao. No fosse a disposio da rea de servio no rs-do-choe sim

    no subsolo, a casa da Condessa teria uma planta bastante semelhante da

    residncia de Ramosde Azevedo.

    Samuel Sloan, bem sucedido arquiteto da Filadlfia, alm de ter

    projetado inmerosedifcios pblicos e particulares, na Pensilvnia, escreveu, nos

    anos cinqenta do sculo passado, o livro intitulado

    The model architect

    Na

    introduo deste seu livro Sloan diz que:

    a man s dwelling at the present day, is not only an index of his wealth, but also of his

    character. The moment he begins to build, his tact for arrangement, his private feelings,

    the refinement of his tostesand the peculiarit ies of his judment are alllaid bare for public

    inspection and criticism. And the public makes free use of this prerrogative. It expects an

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    19/38

    effort to be made, and forms opinions upon the result. We are beginning to see intellect

    admired more than wealth or power, and the one who builds a beaultiful residence now,

    is as much respected as were the oId Barons with their massive castles and troops of

    retainers Sloan

    1852/1980: 10j.

    Os projetos de Sloan apresentados no

    The model architect

    foram

    copiados e construdos por toda a Amrica. Esse era o propsito de seu autor.

    Sloan acreditava estar contribuindo para a elevao do gosto e dos padres

    arquitetnicos de seu pas atravs de sua obra arquitetnica e da difundi Ia

    atravs deste seu livro. No movimento e esforo rumo ao refinamento e

    compreenso da histria da habitao e do surgimento dos estilos a arquitetura

    autenticamente americana que j surgia e para a qual ele mesmo dava sua

    contribuio se firmaria. Os critrios e padres de Sloan no entanto soam

    absurdos se a partir dos padres e conceitos arquitetnicos atuais se analisam

    as casas por ele projetadas. Sua proposta de casas autenticamente americanas

    so vilas italianas cottages neogticos palacetes tudor vitorianos e assim por

    diante.

    Sloan conta ao longo do livro informal e brevemente a histria da

    arquitetura italiana normanda e grega e introduzindo cada um de sE?usprojetos

    desenvolvidos em estilo e apresentados em plantas elevaes e detalhes explica

    o que a

    villa

    italiana o

    cottage

    gtico a

    villa

    no estilo

    debased Gothic

    a

    ornamental villa a Norman villa a Elizabethan vil a para citar alguns. Os estilos

    ali esto fundamentados em suas bases culturais e histricas e paradoxalmente

    so opes para a arquitetura de casas de outro tempo e cultura. Mas isso no

    intimida o arquiteto que circula muito vontade entre os vrios ambientes e

    tempos escolhendo e colhendo os frutos que tranqilamente replantar na

    Amrica.

    Esta atitude que pode parecer destituda de crtica ou assumida mente

    de imitao aos olhos atuais era ao contrrio sincera na sua busca e promoo

    de autenticidade. E no apenas como se nota do texto de Sloan ela estava

    frente de seu tempo e comandava procedimentos de bem projetar.

    Ramos de Azevedo pode ser compreendido como um arquiteto desta

    mesma orientao. Comeou a projetar cerca de vinte e cinco anos mais tarde

    em 1879 primeiro em Campinas e depois em So Paulo. So dezenas de

    casas muitas delas abastadas e nos padres to em voga da vila suburbana ou

    da casa citadina. Uma das primeiras a serem projetadas na cidade de So Paulo

    a prpria casa do arquiteto. Numa demonstrao de seu gosto e habilidade

    Ramos de Azevedo projeta como se viu uma residncia que foge ao lugar

    comum do que tinha sido realizado at ento na capital paulista.

    A variedade de estilos encontrada entre os projetos de Ramos de

    Azevedo demonstra a flexibilidade e liberdade possveis para o programa

    habitacional na viso arquitetnica que ele abraou. Analisando os projetos de

    edifcios pblicos tais como os que esto presentes no por~lio do arquiteto fica

    explcita a distncia entre o enfoque dos programas domstico e institucionalna

    arquitetura do sculo XIX e na de seu autor em particular. Na arquitetura de

    edifcios pblicos os padres e ditames de harmonia e proporo da cultura

    clssica assim como princpios a serem seguidos tais como o do carter que

    conformavam o edifcio a depender de sua funo e papel social limitam os

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    20/38

    exerccios da fantasia no proporcion ndo oportunidade para vos individuais

    mais ousados da imaginao. De certo modo possvel dizer que uma srie de

    convenes predeterminava as caractersticas do projeto para uma prefeitura

    uma escola uma secretaria. Por outro lado programas utilitrios como os de

    hospitais asilos quartis e matadouros por exemplo t inham solues

    arquitetnicas modelares. O que no acontecia ou acontecia em outro nvel no

    caso das residncias.

    Nelas o arquiteto deveria procurar transmitiralgo da personalidade de

    seusproprietrios e para isso demonstrar familiaridade domnio e conhecimento

    do que prprio aos vrios estilos buscar materializar fantasias e at sugeri Ias.

    O toque pessoal era dado pelo estilo ento escolhido ainda que este tivesse

    pouco ou nada em comum com o cliente ou com o arquiteto.

    Os palacetes projetados por Ramos de Azevedo eram confortveis

    ora simtricos a exemplo das vilas italianas ou francesas ora assimtricos e

    movimentados a exemplo da tradio dos antigos castelos ou fortalezas.

    Usufruam de possveis vistas e perspectivas uma vez que o relativo isolamento

    propiciado pelos jardins de entorno convidava e permitia tais licenas. A casa

    voltava se para o exterior e era para de l ser vista; No centro da cidade a

    exemplo dos

    hfe s

    parisienses seus edifcios so mais contidos e sofrem dos

    limites impostos pela proximidade da rua e de outros edifcios. Porm onde foi

    possvel o arquiteto os afastou para dentro do terreno aproveitando das inmeras

    vantagens oferecidas pelo trabalho em volume e muitas fachadas expostas ao

    invs de apenas uma testada. Aqui ele considerou com ateno os requisitos de

    iluminao e aerao naturais e de conforto ambiental.

    As plantas do arquiteto podem ser resumidas em dois partidos bsicos.

    Aquele em que a entrada se faz pelo lado com o vestbulo distribuindo primeiro

    para um escritrio esquerda e um quarto para criado ou hspede direita.

    Em seguida levando ao salo sala de jantar e para a escadaria de acesso ao

    pavimento superior. A sala de jantar faz a ligao com a rea de servio tendo

    o

    o ice

    ou um corredor como transio.

    Na segunda possibilidade o acesso se faz pela frente. Do terrao

    chega se ao vestbulo que ir distribuir da mesma maneira que na situao

    anterior. Aqui o

    o ice

    far ligao com a cozinha no mesmo pavimento ou

    conter um monta carga e uma escada levando a ela e demais dependncias de

    servio no subsolo.

    V se que varia a forma mas no o funcionamento das casas. As

    plantas tm os cmodos dispostos de modo semelhante e estes so nominados

    hierarquizados e distribudos da mesma maneira. A posio da entrada principal

    e do vestbulo ir comandar os posteriores desdobramentos da planta que tem o

    sistema de circulao repetido. Como os textos de um autor que podem ser

    reconhecidos por palavras e expressescontinuamente repetidas os palacetes de

    Ramos de Azevedo formam um conjunto em que possvel reconhecer um no

    outro expressando as preferncias organizacionais e formais do arquiteto.

    Nos parmetros da arquitetura domstica do sculo XIX o arquiteto

    deveria oferecer um projeto que apresentasse satisfatoriamente os espaos e

    articulaes estipulados pelas convenes e ritos sociais vigentes que

    estabeleciam tambm os limites entre os ambientes privado e pblico.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    21/38

    arquiteto tornava realidade fantasias Possuia informao conhecimento cultura

    histrica e arquitetnica suficientes para concretizar e dar forma s vagas

    aspiraes aos desejos no muito bem expressos de exteriorizao da

    individualidade respeitabilidade gosto cosmopolitismo e refinamento de seus

    clientes A casa deveria expressar algo do carter de seu proprietrio e de sua

    personalidade traduzir a posio social atingida sua educao Mas ela no

    deveria cair no ridculo do delrio de formas do mau gosto dos excessos da

    ostentao gratuita expondo seu proprietrio

    As casas de Ramosde Azevedo so bem resolvidas e trazem a marca

    de sua concepo O arquiteto no foi servil submisso ou um mero imitador de

    algum dos autores das inmeras e famosas compilaes de projetos da poca:

    ele simplesmenteprojetou como os arquitetos ento o faziam seguiu a tendncia

    dominante com coerncia e risco prprios Isso o coloca em sintonia com a

    produo arquitetnica internacional daquele final de sculo questo para a qual

    estava bastante atento

    Ramos de Azevedo parece ter buscado deliberadamente uma

    arquiteturadomstica que no apresentasseligao alguma com aquela da tradio

    brasileira e paulista Suasmotivaes para essaatitude podem ter sido muitas

    I LIOGR FI

    BICKNELL, J

    Bicknell s Victorian buildings

    floor plans and elevations for 45 houses and

    other structures. New York: Dover, 1979. (Originalmente publicado sob o ttulo Bicknell s

    village builder and supplement New York, 1878).

    CLOQUET, Louis. Trait d architecture: lments de I architecture. Hygiene, types d difices,

    esthtique, composition et pratique de l architecture. Paris/Liege: Branger, 1900.

    DALY,Csar. L architecture prive au XlXe siecle sous Napolon III: nouvelles maisons de Paris

    et des environs (L hte s privs, n. maisons loyer, m. villas suburbaines). Paris: Morei,

    1864.

    DALY,Csar. L architecture prive au XlXe siecle. Paris: Ducher, 1870.

    DOWNING, Andrew Jackson. Victorian cottage residences. New York: Dover, 1981.

    (Republicao da edio de 1873).

    GUADET, Julien. lments et thorie de l architecture: cours profess l cole Nationale et

    Spciale des Beaux-Arts. 4.ed. Paris: Librairie de Ia construction moderne, 1909. 4v.

    HALTTUNEN,Karen. From parlor to living room: domestic space, interior decoration, and the

    culture of personality. In: BRONNER,Simon J. (ed.). Consuming visions: accumulation and

    display of goods in America 1880-1920. New York: W.W.Norton, 1989.

    HOMEM,Maria Ceclia Naclrio. Palacete paulista no e outras formas urbanas de morar da elite

    cafeeira: 1867-1918. So Paulo: Martins Fontes, 1996.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    22/38

    JORGE, Clvis de Athayde. Luz: notcias e reflexes. So Paulo: Secretaria Municipal de Cultura,

    1988.

    KOSSOY, Boris. So Paulo, 1900: imagens de Guilherme Gaensly; anlise e interpretao de

    Boris Kossoy. So Paulo: Kosmos, 1988.

    LEMOS,Carlos A. C. Alvenaria burguesa. So Paulo: Nobel, 1985.

    LEMOS,Carlos A. C. Ramos de Azevedo e seu escritrio. So Paulo: Pini, 1993.

    LOBO, Pelgio A. Velhasfiguras de So Paulo. So Paulo: Academia Paulista de Letras, 1977.

    MARTINS,Antonio Egdio. So Paulo antigo (1554 a 1910 . So Paulo: Secretaria de Cultura,

    Esportes e Turismo/Imprensa Oficial do Estado, 1973.

    MORALESDE LOSRIOSFILHO,Adolfo. Grandjean de Montigny e a evoluo da arte brasileira.

    Rio de Janeiro: Empresa A'Noite , 1941.

    MOTTA,Heloisa Alves de Lima e. Uma menina paulista. So Paulo, 1992.

    MUTHESIUS,Hermann. Landhaus und Garten. Mnchen: F. Bruckmann, 1907.

    PERROT,Michelle et a . Histria da vida privada (da Revoluo Francesa primeira guerra). So

    Paulo: Companhia das Letras, 1991.

    PINHO, Wanderley. Sales e damas no segunqo reinado. So Paulo: Martins, 1970.

    RAMOSDE AZEVEDO,F.P.Elementos de Arquitetura. Estudos dos detalhes. Annurio da Escola

    Politcnica para

    o

    anno de 1900,

    So Paulo, 1900.

    SLOAN,Samuel. Sloans s. Victorian buildings. New York: Dover, 1980. (Republicao do original

    publicado por E. S.Jones & Co., Philadelphia, em 1852, sob o ttulo 1be model architect .

    UNIVERSIDADEDE SOPAU:LO.Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Catlogo de desenhos

    de arquitetura da Biblioteca da FAU-USP.So Paulo: FAU-USP/VITAE,1988.

    VAUTHIER,L. L. Casas de residncia no Brasil. In: ARQUITETURACML I. So Paulo: FAU-

    USP/MEC-IPHAN,1975.

    VAUX,Calvert.

    Villa and cottage architecture:

    the style-book of the Hudson River School. New

    York: Dover, 1991. (Republicao da 2a. edio, conforme publicada por Harper & Brothers,

    em 1864).

    VIOLLET-LE-DUC,Eugene.

    Habitations modernes.

    Paris: MoreI, 1875.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    23/38

    Peridicos:

    L ARCHITECTURE POUR TOUS. Dourdan: Bezengenet Gateuil Architectes, v.1877-82, 1889-

    1895.

    LA CONSTRUCTION MODERNE. Paris: P. Planat, 1866-1895.

    LE MONITEUR DES ARCHITECTES. Paris: 1874-1886.

    L MULATION. Brussels: Socit Centrale d Architecture de Belgique, 1874-1889.

    RVUE DE L ART. Paris: CNRS, n.89, nov./dez. 1990.

    RVUE GNRALE DE L ARCHITECTURE ET DES TRAVAUX PUBLICS. Paris: 1874-1886.

    1

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    24/38

    11

    ..

    \\J ~

    'i

    C J.

    A/Ir ., Bb :' s> i':r

    ~

    , ' ..~L

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    25/38

    -~

    ..

    ~ ~

    .~_

    -t

    \

    .

    Rti'''

    ..

    ' ~NiSS?;;:

    b

    '

    .

    ..

    .

    '

    .

    '

    ...

    '

    -- '~..

    -1 :.-.

    ~, r.1m>r,SO'..-

    '

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    26/38

    li'

    =

    FigurJs3 e 4. Fachadas e plantas de projeto de 1881 para uma casa de campo, projeto de A.

    Hanssens. In:

    L Emulation,

    1882. Fotografia da autora, 1992.

    U fu, ~~u..~

    ~HA~i:

    +

    :li

    I

    '

    i

    J

    .

    i

    1

    F

    l

    1 I'

    .j

    I

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    27/38

    Figura 5. Residncia Claeys Bouaert

    1890-92 , em Mariakerke Gante projeto de Schadde.

    Fotografia da autora 1992.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    28/38

    Frgura 6. Residncia da

    Marquesa de Itu projeto

    de Ramosde Azevedo.

    Reproduo de

    fotografia de 0110

    Quaas do lbum iews

    of buildings

    pela autor

    e por Walter Pires

    1985. Acervo

    Condephaat.

    Figura 7. Residncia da

    Marquesa de Itu plantas

    do rs-do-cho e 1Q

    pavimento.Desenhode

    Marco Carrilho 1996.

    .......

    PLAN TA. PAV. TRREO

    ~ . - ------

    ----

    Pl AN TA . P AV . S UP ER IO R

    o r s . . l . 1

    nCa~

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    29/38

    igura8. ResidnciaAguiar~deBarros

    projeto de Ramos de Azevedo.

    Reproduo de fotografia de Oito

    Quaas do lbum iews of buildings

    pela autora e por Walte rPires 1985.

    Acervo Condephaat.

    I

    I

    Figura 9. Residncia Aguiar de Barros

    planta do rs-do-cho. Desenho de

    Marco Carrilho 1996.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    30/38

    Figura 10 Residncia de Raphaela Paula

    Souza projeto de Ramosde Azevedo

    Acervo FAU/USP

    Figura 11 Residncia Almeida Neto

    projeto de Ramos de Azevedo

    Reproduo de fotografia de 0110 Quaas

    do lbum iews buildings pela autora e

    por Walter Pires 1985 Acervo

    Condephaat

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    31/38

    Figura 12. Residncia Incio

    Penteado projeto de Ramos de

    Azevedo. Reproduo de fotografia

    de 0lto Quaas do lbum

    View f

    bui dings

    pela autora e por Walter

    Pires 1985. Acervo Condephaat.

    Figura 13. Residncia Incio

    Penteado planta do rs do cho.

    Desenho de Marco Carrilho 1996.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    32/38

    Figura 12. ResidnciaIncio

    Penteado projeto de Ramos de

    Azevedo. Reproduo de fotografia

    de Oito Quaas do lbum Views ar

    bui dings pela autora e por Walter

    Pires 1985. Acervo Condephaat.

    Figura 13. Residncia Incio

    Penteado planta do rs do cho.

    Desenho de Marco Carrilho 1996.

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    33/38

    Figura T4. Residncia de

    Cndido de Moraes

    projeto de Ramosde

    Azevedo. In: Carlos lemos

    lven ri burgues

    1985:

    1331.

    Figura 15. Residncia

    Cndido de Moraes

    plantas. In: Carlos lemos

    lven ri burgues

    1985:

    134 .

    ~

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    34/38

    ..

    iII

    ;o

    =

    -

    .i

    cl. c

    . ..c:c~:i._~. _ ;>i;',: :c.c..c ~~ .~

    'Figu~ 16. esidnci Ramos de Azevedo; projeto do orquiteto~Repr~u~~eJ~t

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    35/38

    T

    o 1 2 345m

    T

    LJ

    ~ S

    Figura 17 Residncia de Ramos Je Azevedo plantas Desenho de Marco Carrilho 1996

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    36/38

    igur 18. Residncia

    lacerda Soares ou de

    Maria. Flora de Souza

    Gueirozl projeto de Ramos

    de Azevedo. Reproduo

    de fotografia de Oito

    Guaas do lbum iews af

    buildings pela autora e por

    Walter Pires 1985. Acervo

    Condephaat.

    Figura 19. Residncia

    Barbosa de Oliveira projeto

    de Ramos de Azevedo.

    Reproduo de fotografia

    de Oito Guaas do lbum

    iews of buildingspela

    autora e por Walter Pires

    1985. Acervo Condephaat

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    37/38

    =.

    11

    :;

    -.

    ..

    o;

    fjgura 2Q' ,Residnciada CQndessade F3arnaba,que se situavgn9;.Ruq

    Tamandar,qa liberdade. Projetode Ramosde Azevedo. In:,arlos

    Lemos,

    lvenariaburgves

    (1993:

    40).

    =

    -

    >

    - -

    e --:;

    $?

    =

    =

    I>

    I =r

    ..

    iiI

    '

    '

    li;

    ;;ii

  • 7/24/2019 Ramos e o Bem Morar Em So Paulo - Marina Cristina Wolff

    38/38

    Ouro Preto:from the transforming gesturesof the colonial to the construction of the modern antique

    Heliana Angotti Salgueiro

    Urban and architectural changes experienced by XIXth-centurycities allowed different sorts of co-

    habitation with the past and even the production of a historic heritage . Different variJblesand

    their specific interplay are considered, such as, on the one hand, the cosmopolitan character of

    urban interventions and betterment projects, and, on the other hand, the introduction of new

    morphological, technico-constructive appliances or the transfer of models ( both acting within a

    context of local material, pol itical and cultural conditions. Ouro Preto, the mythical city is taken as

    a case study for understanding how efforts towards the construction of a historical monument

    artificially homogenized the urban reality to the disavantage of its historicity and actual

    transformations.

    UNlTERMS:rban istory istoric heritageandJackof historicity Ouro Preto

    Anais do Museu Paulista, N.Sr. v.4, p.125-63, jan./dez.1996

    Bem-morarem So Paulo, 1886-1910: Ramosde Azevedo e os modelos europeus

    Maria Cristina Wolff de Carvalho

    A arquitetura domstica tem um grande impulso no sculo XIX. Da Europa so difundidos, para

    todo mundo, os modelos conformados nova ordem social e i11dustrializao. A residncia se

    transforma numa preocupao central dos arquitetos. Desenvolvem-se novos conceitos para a

    casa ideal para todas as camadas sociais: operrios, classe mdia, burguesia. Este artigo

    retraa, em So Paulo, a introduo de padres formais e princpios (de higiene, salubridade,

    conforto, ritos sociais e domsticos, as aparncias , a partir da atividade de F. P. Ramos de

    Azevedo 1851-1920 . Analisam-se os principais projetos que ele desenvolveu para a burguesia

    local.

    UN TERMOS:So Paulo: arquiteturd domstica Histria da Arquitetura Ramos de Azevedo

    Anais do Museu Paulista, N.Sr. v.4, p.165-200, jan./dez.1996

    The proper way of inhabiting, So Paulo 1886-1910 : Ramos de Azevedo and the European

    models

    Maria Cristina Wolff de Carvalho

    Domestic architecture achieves a great impulse in the second half of XIXth-century. From Europe

    to the whole world, models are contormed to the new social order and spread as

    industrial ization takes command. Dwell ing becomes the main concern among architects. New

    concepts are developed for the ideal house for ali social strata: working class, middle-class,

    bourgeoisie. This essay traces the introduction in So Paulo of European formal patterns and

    principies (hygiene, salubrity, comfort, social and domestic rites, social visibilityl through the

    activity of F P. Ramos de Azevedo

    1851-1928 .

    The main projects he conceived for the local

    bourgeoisie are analysed.

    UNlTERMS: So Paulo: domestic architecture History af Architecture Ramos de Azevedo

    Anais do Museu Paulista, N.Sr. v.4, p.165-200, jan./dez.1996

    So Paulo de Ramos de Azevedo: da cidade colonial cidade romntica

    Janice Theodoro

    A A. analisa, a partir da atividade de Ramosde Azevedo, os elos implcitos entre o passado colonial

    de So Paulo e o movimento modernista e o papel desempenhado pelo imaginrio europeu na